Crítica – O Clube das Mulheres de Negócios
Sinopse (Filme B): Jongo, um fotógrafo renomado, e Candinho, um jovem e inexperiente jornalista, chegam em um clube de campo decadente da alta sociedade de São Paulo comandado por mulheres de negócios envolvidas com a Justiça.
Escrito e dirigido por Anna Muylaert, O Clube das Mulheres de Negócios claramente quer mostrar uma inversão de papéis numa crítica ao patriarcado. O filme mostra uma sociedade distópica onde todas as mulheres são ricas e poderosas, e todos os homens são objetificados e diminuídos. Ok, essa ideia pode gerar um bom filme. Mas… Aqui tudo é superficial. Quase todos os personagens são caricatos, quase todas as situações apresentadas soam forçadas. Algumas das mulheres estão tão exageradas que algumas cenas chegam a ficar toscas.
Podemos fazer uma comparação com A Substância, filme que aborda o tema de maneira inteligente. Por exemplo, o personagem do Dennis Quaid é o estereótipo do “macho escroto”. Ele é caricato, mas a gente consegue ver um cara desses num cargo de executivo de uma grande empresa. Agora vamos ao O Clube das Mulheres de Negócios. A personagem da Katiuscia Canoro, que passa o filme todo gritando e falando palavrão, é só tosca. Pode existir alguém assim? Certamente. Mas seria uma caricatura.
Façam um exercício de imaginação: pensem neste filme, exatamente como ele é, mas com os gêneros trocados. Os homens ricos e poderosos e as mulheres frágeis e objetificadas. E pense neste filme hoje, em 2024. Alguém levaria este filme a sério?
(Provavelmente vai ter alguém pensando que “fiquei incomodado porque sou homem branco hétero”. Nada a ver. Não tenho nada contra críticas sociais, desde que bem feitas. Fiquei incomodado por ser uma ideia rasa mal desenvolvida.)
O roteiro ainda traz alguns outros problemas que não tem nada a ver com isso. São muitos personagens, e alguns são muito mal desenvolvidos – fiquei imaginando pra que ter o André Abujamra num papel onde acho que ele só tem um diálogo (provavelmente ele só estava lá porque é o autor da trilha sonora). Além disso, alguns pontos são levantados e esquecidos depois, tipo uma cena onde mostra umas pessoas saindo de onde ficam as onças. A gente não precisa saber se alguém soltou as onças ou por que alguém soltou as onças. Mas se o filme mostra pessoas por lá, não seria melhor desenvolver quem são essas pessoas e quais os seus objetivos?
(E isso porque não estou falando de cenas que se estendem demais e ficam chatas, como aquele momento musical pouco antes da dupla principal visitar o “onçário”.)
Ainda preciso falar dos efeitos especiais de computador que mostram as onças. Mas aqui vou enxergar um “copo meio cheio”. Sim, as onças ficaram muito artificiais. Filmes hollywoodianos de 20 anos atrás apresentam efeitos melhores. Mas, a gente lembra que é Brasil, e que aqui não existe essa tradição de cgi pra criar animais, então aceito as onças, apesar de reconhecer que não ficaram muito boas.
O filme já não estava bem, mas a cena final é péssima. É a diretora dizendo que seu público é burro. Preciso comentar isso, então vamos aos avisos de spoilers.
SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!
Todo mundo entendeu a inversão de papéis. Os dois homens principais, um usa saia, o outro usa uma blusa curta pra deixar o umbigo de fora. O filme é bem explícito com relação a isso. Mas a diretora deve achar que seu público é burro, então resolveu trocar os atores por atrizes na cena final. No fim, três homens conseguem fugir, de bicicleta. Mas aí rola um movimento de câmera onde trocam os três atores por três atrizes, com as mesmas características físicas. Se já estava ruim antes, conseguiu piorar com essa cena final.
FIM DOS SPOILERS!
Enfim, infelizmente O Clube das Mulheres de Negócios falha como comédia e também falha como crítica social. A ideia era boa, mas precisava de um desenvolvimento melhor.