A Vingança do Popeye – Popeye’s Revenge

Crítica – A Vingança do Popeye – Popeye’s Revenge

Sinopse (imdb): A lenda do Popeye assombra um grupo de amigos que pretendem abrir um acampamento de verão.

Antes de tudo, preciso confessar que assisti o filme errado. Ouvi falar que este ano teria um filme de terror do Popeye, e gostei do título, porque fizeram um bom trocadilho: em vez de “Popeye the Saylor Man”, o filme se chama “Popeye the Slayer Man”. Ok, tinha tudo pra ser um filme ruim, mas pelo menos era um título criativo.

Mas peguei o filme errado. Em vez de Popeye the Slayer Man, vi Popeye’s Revenge, ou, A Vingança do Popeye. Bem, deve ser a mesma coisa.

Vamos a uma contextualização. Alguns anos atrás descobriram que os diretos do ursinho Puff iam entrar em domínio público, então fizeram um filme de terror com o personagem. Achei a ideia muito boa, gosto de imaginar histórias que a gente conhecia quando criança sendo revisitadas sob outro ponto de vista – meu primeiro curta metragem foi com o boitatá, e um dia ainda hei de voltar a filmar terror com folclore nacional.

O problema é que o filme do Puff é péssimo. É apenas um terror vagabundo, mal escrito e mal filmado, onde um cara coloca uma máscara tosca comprada na shopee e sai matando o resto do elenco. Não tem nada a ver com o ursinho Puff. (E o filme ainda tem a pachorra de ter uma cena onde um personagem fala “não parecem humanos!” Caramba, parecem sim, parecem humanos que compraram máscaras de halloween no Mercadão de Madureira!)

Mas, produção barata, proporcionalmente rendeu bem. Aí abriu a porteira pra outras produções seguindo a mesma ideia (e infelizmente com a mesma indigência artística). O filme do Mickey sofre do mesmo problema: é um slasher vagabundo que não tem nada a ver com o Mickey, só um cara que usa uma máscara do personagem. O resultado chega a ser pior que o do Puff!

Então, claro que as minhas expectativas pra este A Vingança do Popeye eram bem baixas. E olha, posso dizer que me surpreendeu positivamente. Não, não é bom, longe disso. Mas é bem menos ruim do que os dois citados anteriormente.

A Vingança do Popeye começa bem. Tem uma animaçãozinha de uns três minutos contando a história de uma criança que nasceu com problemas: tinha antebraços muito grandes e era muito forte. Na escola, brigou com um coleguinha e acabou esmagando a cabeça do oponente, fazendo os olhos saltarem – “pop eye”, olha que boa sacada! Por causa disso, ele é deixado de castigo no porão da casa. Mas a população local, com raiva, coloca fogo na casa dele, o que acaba matando seus pais. Ele não morre porque estava no porão, mas quando aparece em público, jogam ele no lago e ele morre afogado.

Ok, temos um bom começo. Sei que o primeiro filme do Puff também abre com uma animaçãozinha, mas a historinha contada lá não fazia nenhum sentido, essa daqui foi melhor. Mas sabe aquele desenho do cavalo que começa bem mas vai ficando cada vez mais mal desenhado? A Vingança do Popeye é assim: uma boa introdução, um desenvolvimento capenga e um final bem ruim.

Vamulá. O Popeye morreu criança, e volta pra se vingar depois de anos. Até aí ok. Mas, se ele morreu criança, por que é um adulto que aparece agora? Digo mais: por que ele usa roupa de marinheiro e uma âncora? E de onde veio o cachimbo? Por que o roteiro não desenvolveu algo no personagem pra ligá-lo às características do Popeye original?

Calma que tem uma revelação no final que ainda piora tudo isso. Sim, é um spoiler, mas pra um filme desses acho que ninguém se importa. Quando ele era criança e estava no porão, uma pessoa misteriosa se comunicava com ele com cartas por debaixo da porta. No fim do filme a gente descobre que a pessoa misteriosa é a irmã do Popeye. Seu nome? Olive. Sim, Olívia Palito aqui é irmã do Popeye. Oi???

Ainda tem um momento onde uma lata de espinafre rola pelo chão. Podiam usar isso pra mostrar que o Popeye ficava mais forte, saída muito fácil que o roteiro podia usar. Mas não, só aparece a lata rolando. Pra que?

O roteiro também tem suas tosqueiras, mas isso infelizmente é normal no estilo. Tipo, tem um personagem, morador local, que entra na trama só pra avisar que todos devem tomar cuidado com a névoa. Ele mora lá, conhece a área. Por que diabos ele fica dando mole quando aparece a névoa? Isso porque não vou falar da passagem dos dias, porque tem cenas de dia e cenas à noite que parecem estar misturadas.

Ah, ainda no roteiro, tem um detalhe que queria mencionar. Uma das mortes acontece na piscina. E logo na cena seguinte, a galera já está na mesma piscina. Quem tirou o corpo e limpou o local? Mais uma da mesma cena: prestem atenção, quando o Popeye mata, ele está de costas pra vítima e corta o pescoço. De onde vem aquele esguicho de sangue na cara dele? Não há ângulo pra ele levar aquele jato no rosto!

Sobre o elenco, ninguém merece ser mencionado. Só queria comentar que a atriz Karolina Ugrenyuk aparece com uma camisa do Brasil. Mas procurei pela internet pra saber o motivo e não achei nada. Deve ser uma coincidência, alguém deve ter achado que ela fica bem com aquela camisa.

Dito tudo isso, como falei, achei A Vingança do Popeye menos ruim que os filmes do Mickey e do Puff. Porque aqui é um slasher vagabundo, mas pelo menos tem um vilão coerente com a proposta (mesmo que só parcialmente), e tem algumas mortes graficamente aceitáveis. Não é um filme pra ser recomendado, mas, se visto no espírito certo, pelo menos não dá raiva.

Por fim, só queria lembrar que existe um plano de se fazer um “Poohniverse”, juntando filmes de terror do ursinho Puff, Peter Pan, Bambi e Pinóquio. Mas até onde sei, este filme do Popeye não fará parte desse rolê, apesar de ser da mesma produtora.

Adolescência

Crítica – Adolescência

Sinopse (imdb): Um garoto de 13 anos é acusado de assassinar uma colega de escola, levando a família, a terapeuta e o investigador do caso a se perguntarem o que realmente aconteceu.

Um amigo que sabe que curto plano sequência tinha me indicado essa série. Aí de repente ouvi várias pessoas comentando, mas não falavam sobre o lado técnico, e sim sobre o conteúdo da série. Resolvi encarar logo.

É uma série de quatro episódios, entre cinquenta e um minutos e uma hora e cinco minutos. E cada um deles é um grande plano sequência. Acompanhamos um garoto de treze anos que está sendo preso, acusado de um assassinato de uma menina da mesma idade.

(Tem gente por aí espalhando imagens de um suposto assassino real, mas os roteiristas garantiram que não se inspiraram em um caso específico. Cuidado com fake news!)

Vou começar pela parte técnica. Pra quem não sabe, um plano sequência é quando a câmera começa a gravar, e várias coisas acontecem sem nenhum corte. É uma tarefa complicada e desafiadora, porque exige que os atores saibam de cor todos os diálogos e marcações de cena, e também exige que a equipe técnica planeje bem os posicionamentos, pra ninguém “vazar” na câmera. Tudo exige uma complexa coreografia entre elenco e equipe, que tem que ser seguida até o final do plano – porque se alguém errar, tem que recomeçar tudo do zero. Claro que nos dias de hoje existem opções de se dividir o plano em planos menores e depois fazer emendas digitais (por exemplo, fazer um corte estratégico a cada dez minutos, tipo quando a câmera passa por alguma pessoa ou parede, e depois emendar como se fosse tudo um único take). Mas a produção de Adolescência afirmou que foi realmente um único, sem cortes. Será? Bem, pra mim isso pouco importa, também valorizo os planos sequência que têm cortes, não é fácil você planejar algo deste porte, mesmo com emendas.

O primeiro plano sequência mostra a prisão do garoto e sua entrada na delegacia; o segundo, traz os policiais pela escola tentando conseguir pistas; o terceiro, uma sessão entre o jovem acusado e uma psicóloga; o quarto, o dia a dia da família do garoto sem ele. Na minha humilde opinião, os mais impressionantes são o segundo e o terceiro. O segundo é o mais complexo, a câmera passeia por vários ambientes do colégio, e dezenas de personagens passam pela câmera. E ainda tem uma parte onde a câmera atravessa uma janela e outra parte onde a câmera voa, pendurada num drone. O terceiro é tecnicamente menos complexo, quase o tempo todo fica em um único ambiente, com apenas dois personagens. Mas por outro lado, exige muito mais dos atores, os diálogos são longos e cheios de diferentes camadas.

(Se posso fazer um mimimi, tem uma cena onde um aluno sai correndo e o policial corre atrás dele que me pareceu que ambos estavam correndo meio devagar. Não passou a impressão de uma corrida real. Mas, olhando isso em volta de tudo o que eles conseguiram nos quatro planos sequência, é uma reclamação bem besta.)

Segundo o imdb, cada episódio teve três semanas de produção, com a última semana sendo para filmagem. Assim, cinco dias eram para filmar o produto final, dois por dia. O episódio 1 foi concluído no segundo take; os outros três foram concluídos no último. Inicialmente, eles filmariam cada episódio na íntegra dez vezes, uma vez pela manhã e outra à tarde, ao longo dos cinco dias – mas na realidade algumas tentativas tiveram que ser abandonadas e reiniciadas, então alguns episódios tiveram muito mais do que dez tomadas.

Adolescência foi criada e escrita por Stephen Graham e Jack Thorne – Graham interpreta o pai (e me lembro dele em Snatch, do Guy Ritchie). A direção dos quatro episódios foi de Philip Barantini, diretor com um currículo pequeno – mas que certamente vou ficar de olho daqui pra frente. Ah, tem um tal de Brad Pitt na produção executiva – cargo que normalmente não está ligado a nada íntimo da produção.

O elenco todo está bem. Mas heu queria citar o garoto Owen Cooper, que faz o adolescente acusado do assassinato. É um garoto estreante, e ele está excelente! Digo mais: o primeiro episódio a ser filmado foi o terceiro, ou seja, aquela atuação que o jovem entrega na cena com a psicóloga era sua estreia num set de filmagens! Esse menino vai longe! Por causa de sua atuação, ele já está escalado para o novo filme de Emerald Fennell (Oscar de melhor roteiro em 2021 por Bela Vingança), pra trabalhar ao lado de Margot Robie e Jacob Elordi.

(Uma curiosidade: determinado momento da cena com a psicóloga, o garoto boceja. Isso não estava no script, ele estava realmente cansado. Mas a atriz que faz a psicóloga improvisou e, com naturalidade, perguntou se ela estava deixando ele entediado. Ele responde que não e dá um leve sorriso. Não era pra ser assim, mas ficou ainda melhor do que o previsto!)

Até agora só falei da parte técnica, mas Adolescência também chama a atenção pelo lado comportamental, porque aborda a dificuldade dos pais de entenderem o universo dos adolescentes de hoje em dia, além de entrar em temas como incels e red pills. Ou seja, vai ter um monte de vídeos e textos analisando a parte sociológica. Mas como não entendo muito dessa parte, vou deixar meu texto mais focado na parte cinematográfica.

O fato de serem planos sequência traz algumas características que nem sempre são positivas. Um exemplo: no primeiro episódio, quando o garoto é levado para a delegacia, determinado momento ele precisa tirar a roupa pra ser revistado. Numa narrativa convencional, haveria um corte e a história seguiria. Aqui a câmera foca no pai enquanto a gente ouve o que está acontecendo com o garoto, durante todo o desconfortável tempo da revista (a propósito, grande atuação do pai!)

Mas, pra mim, o pior não foi isso. Não gostei da conclusão da série, porque algumas dúvidas são levantadas no segundo e terceiro episódio, e essas dúvidas não são concluídas. A gente segue o plano sequência com a família, e o estilo de narrativa escolhido não tem espaço pra voltar para aquelas dúvidas. Afinal, o objetivo da série não é investigar o assassinato em si, e sim algo mais profundo e complexo que é a relação familiar e todo o contexto que abrange. Faz seus pais questionarem onde erraram e junto com o detetive, tentar compreender o que motivou tamanha violência cometida pelo filho. Como tudo isso pode gerar tantas camadas e afetar completamente toda a família.

Mas confesso que heu estava esperando uma conclusão sobre as pontas soltas. Ou seja, na minha humilde opinião, o quarto episódio mantém a excelência técnica, mas falha na narrativa. Resumindo: quem estiver esperando por grandes revelações ao final da trama vai se decepcionar. O foco principal da série não é esse.

Mesmo assim, recomendo Adolescência. Tecnicamente impecável, atuações incríveis, além de abordar um tema muito atual. Está em cartaz na Netflix.

Novocaine – À Prova de Dor

Crítica – Novocaine – À Prova de Dor

Sinopse (imdb): Quando a garota dos seus sonhos é sequestrada, um homem incapaz de sentir dor física transforma sua condição rara em uma vantagem inesperada na luta para resgatá-la.

Já falei aqui mais de uma vez: gosto muito do lema da rede Luiz Severiano Ribeiro, “Cinema é a maior diversão”. Se entro na sala de cinema e me divirto, o filme ganha pontos pra mim. E isso aconteceu com este Novocaine – À Prova de Dor (Novocaine, no original).

Em Novocaine, a gente conhece Nate, que tem uma doença rara, e por causa disso não sente dor, nem calor, nem frio. Por causa de sua doença, ele é extremamente cuidadoso em tudo, porque, se ele se acidentar, não vai nem sentir. Aí quando sequestram sua colega de trabalho por quem ele se sente atraído, ele resolve, pela primeira vez na vida, usar seus “super poderes” e vai atrás dela.

Dirigido pela dupla Dan Berk e Robert Olsen, Novocaine tem duas coisas que, pelo menos pra mim, foram essenciais pra trazer alguma veracidade à trama. A primeira é que, diferente de um filme como Anônimo, onde o protagonista tinha um passado ligado a lutas, Nate nunca brigou. Ou seja, claro que ele vai apanhar quando enfrentar os vilões. E a outra coisa é que ele não sente dor, mas os machucados são reais, e trazem consequências ao personagem, consequências que vão escalando ao longo do filme. Uma das coisas que o time de dublês se preocupou era de dar poucos golpes no rosto, sempre que possível o golpe era transferido para o corpo – porque o rosto ia ficar inchado! Seria bem ruim se, do nada, ele virasse um grande lutador e nunca se machucasse. Ia virar um filme tosco de super herói.

Lendo isso, parece que é um filme sério e super violento, né? Bem, é um filme super violento, mas não é exatamente sério. Novocaine tem sequências muito engraçadas. Em várias cenas o filme apresentava situações inusitadas e exageradas que faziam o cinema inteiro dar gargalhadas. Não diria que é um filme de comédia, mas você certamente vai rir!

O protagonista é Jack Quaid, filho do Dennis Quaid e da Meg Ryan (falei dele há pouco em Acompanhante Perfeita) mas que é mais conhecido pelo papel de Hughie na série The Boys. Ele está muito bem aqui, mas preciso reconhecer que o elogio é mais pelo carisma do ator do que pela atuação, porque se a gente parar pra analisar, o Nate é muito parecido com o Hughie. O principal papel feminino é de Amber Midthunder, de O Predador – A Caçada, enquanto o vilão é outro “nepobaby”, Ray Nicholson (Sorria 2), filho do Jack Nicholson. Jacob Batalon, dos filmes recentes do Homem Aranha, faz um papel menor mas bem divertido.

Novocaine – À Prova de Dor estreia nos cinemas quinta da semana que vem!

Consertando Branca de Neve

Consertando Branca de Neve

(COM SPOILERS!)

1- Em primeiro lugar, a história original fala que a personagem tem “a pele branca como a neve, os lábios vermelhos como o sangue e os cabelos pretos como o ébano.” Não sou contra mudar personagens, desde que seja uma mudança bem feita. Mas tem casos onde não dá. Branca de Neve é um desses casos, não dá pra ser uma latina! Solução: Troque a protagonista!

2- Resolveram tirar o príncipe que salva a Branca de Neve. Acho um erro, porque quem gosta da história original, gosta deste detalhe. Mas, ok, adaptaram pros dias de hoje, o personagem existe mas é um “ladrão do bem”. Aí inventaram um grupo que o acompanha, grupo que não estava na história clássica, e tem várias representatividades. Já é uma grande forçação isso, mas calma que piora. O problema é que, tirando um (o anão), essas pessoas do grupo são meros figurantes. Não têm nomes, não têm diálogos, não têm nenhuma importância para a trama. Caramba, se você vai incluir diversidade no seu filme, dê alguma relevância pra esses personagens! Solução: crie uma sequência deles tentando tirar o amigo da prisão!

3- A Rainha manda o caçador levar a Branca de Neve pra floresta e matá-la, e diz pra trazer seu coração numa caixa. No desenho, o caçador diz pra Branca de Neve fugir e leva um coração de um animal. No filme, tem uma maçã dentro da caixa! Como assim a Rainha não abriu a caixa pra conferir? Solução: não altere a história original!

4- A Rainha manda guardas atrás da Branca de Neve, que está com os bandidos. Os guardas os cercam, com bestas apontadas. O mocinho levanta as mãos e se rende, e pede pra não atirarem, e o bando faz o mesmo. Mas, de repente, eles sacam espadas e atacam os guardas. Caramba! Os guardas estavam armados com bestas! Era só atirarem! Solução: tire as bestas e coloque guardas com espadas, cercando os bandidos.

5- Algumas coisas foram atualizadas para os dias de hoje, ok, a gente entende que se passaram quase 90 anos. Mas não entendo como não adaptaram o beijo do príncipe / ladrão no final. O cara encontra a Branca de Neve morta, e dá um beijo na boca dela? Quem beijaria a boca de um cadáver??? Solução: um beijo na cabeça ou na testa, ia ser menos “creepy”.

Branca de Neve

Crítica – Branca de Neve

Sinopse (imdb): Adaptação em live-action do filme de animação da Disney de 1937 “Branca de Neve e os Sete Anões”.

Estreou o filme mais polêmico de todos os tempos da última semana!

Não tem como não falar desta nova versão de Branca de Neve (Snow White, no original) sem lembrar das diversas polêmicas. Teve a escalação de uma atriz latina para um papel que deveria ser “branca como a neve”; teve esta mesma protagonista dando entrevistas falando mal da história original; teve a polêmica entre as duas atrizes principais, uma apoiando Israel e outra apoiando a Palestina; teve o Peter Dinklage reclamando da história desvalorizar os anões, e por isso supostamente os atores foram trocados por cgi… Muitas polêmicas, mas hoje vou falar do filme. (Sobre as polêmicas, procurem outros sites.)

Dirigido por Marc Webb (que fez os filmes do Homem Aranha com o Andrew Garfield), Branca de Neve se propõe a atualizar a história contada no desenho lançado em 1937. Algumas alterações até funcionaram, mas outras não. Mas, no fim, nem é um filme tão ruim. É apenas mais um live action desnecessário – como aliás, quase todos os live actions da Disney (na minha humilde opinião, o único live action bom é Cruella, que não é uma adaptação, é um spin off com uma história independente do desenho original). Ou seja, a gente esperava um grande lixo, mas é apenas mais um filme esquecível. E, claro, inferior à obra original.

Rachel Zegler foi uma escolha errada, porque na história original, a rainha fala “Como eu queria ter uma filha com a pele branca como a neve, lábios vermelhos como sangue e cabelos negros como ébano.” Tiveram que alterar a origem dela, no filme ela se chama Branca de Neve porque nasceu num dia que estava nevando – uma grande forçação de barra. Além disso, ela deu a entender através de entrevistas que não gosta do desenho. Pra que escalar uma atriz assim? Mas, pelo menos ela canta bem. Pena que Branca de Neve não tem nenhuma música empolgante – a única música que fica na cabeça quando acaba o filme é a dos anões, que todo mundo já conhece há décadas: “Eu vou, eu vou, pra casa agora eu vou…”

Escalar Rachel Zegler e Gal Gadot trazia outro problema, semelhante ao filme de 2012, Branca de Neve e o Caçador, quando Kristen Stewart era a Branca de Neve e Charlize Theron era a Rainha Má. Uma das falas mais famosas da história original é “Espelho, espelho meu, existe alguém mais bela do que eu?” – e, assim como Kristen Stewart nunca vai ser mais bela que Charlize Theron, Rachel Zegler nunca vai ser mais bela que Gal Gadot. Mas, reclamei disso em 2012, não sei se vale reclamar igual agora, treze anos depois. O que posso dizer sobre a Gal Gadot: ela está caricata, talvez um pouco acima do que deveria estar, mas não chega a atrapalhar. E ela canta, até canta bem, mas, nos dias de hoje, não sei se é a voz dela ou não.

Sobre os anões: eles viraram criaturas mágicas que vivem na floresta há centenas de anos, e todos são em cgi. Achei que ficou bom. O cgi dos anões é muito bem feito – assim como o cgi dos animais da floresta. Não sei muito sobre os bastidores da polêmica com o Peter Dinklage, se os anões em cgi foi por causa disso, mas sei que o resultado final, pelo menos pra mim, foi satisfatório.

Agora, o que foi bem ruim foi um núcleo de personagens que acompanha o “mocinho” – agora não pode ser mais príncipe, porque a Branca de Neve, empoderada, não pode ser salva por um príncipe (decisão que a produção tomou, que questiono se foi correta ou não). Enfim, em vez de príncipe, é um ladrão, e esse ladrão tem um bando, que não estava na história clássica, e que tem várias representatividades – e que parece saído de uma faculdade de Humanas na UFRJ. Já é uma grande forçação isso, mas calma que piora. O problema é que, tirando um (logo o anão!), essas pessoas do grupo são meros figurantes. Não têm nomes, não têm diálogos, não têm nenhuma importância para a trama. Caramba, se você vai incluir diversidade no seu filme, dê alguma relevância pra esses personagens!

Algumas coisas foram atualizadas para os dias de hoje, ok, a gente entende que se passaram quase 90 anos. Mas não entendo como não adaptaram o beijo do príncipe / ladrão no final. O cara encontra a Branca de Neve morta, e dá um beijo na boca dela? Quem beijaria a boca de um cadáver??? Não seria melhor um beijo na cabeça?

Enfim, Branca de Neve nem é tão ruim quanto esperado, mas é esquecível. O desenho ainda é muito melhor.

A Grande Arte

Crítica – A Grande Arte

Sinopse (imdb): Um fotógrafo americano no Rio de Janeiro se envolve no mundo da “cultura da faca” quando decide encontrar o assassino de uma de suas modelos.

Empolgado com o Oscar para Ainda Estou Aqui, fui catar o primeiro longa de ficção dirigido por Walter Salles. Vi na época que passou no cinema, em 1991 ou 92, não sei ao certo, mas nunca tinha revisto.

Baseado em Rubem Fonseca, A Grande Arte (que teve o nome Exposure lá fora) nem parece um filme nacional. Não só é um filme tecnicamente superior à média do que era feito na época, como os três principais nomes no elenco são gringos: Peter Coyote, Tchéky Karyo e Amanda Pays.

Nenhum dos três nomes é muito grande, mas eram nomes com alguma carreira. Peter Coyote talvez seja o maior deles, afinal ele estava num dos filmes mais vistos de dez anos antes, um tal de E.T. – O Extraterrestre. Tchéky Karyo é um daqueles coadjuvantes que a gente já viu em dezenas de filmes, mas não consegue se lembrar dele como protagonista – lembrava dele de Nikita, do Luc Besson, lançado pouco antes (1990). Amanda Pays é menos conhecida, mas lembro de vê-la no trash Criação Monstruosa, que assisti no finado cinema Studio Catete. O elenco nacional conta com Raul Cortez, Giulia Gam, Cassia Kiss, Paulo José, Eduardo Conde, Tonico Pereira e Tony Tornado.

No filme, conhecemos Peter Mandrake, fotógrafo gringo que está passando um tempo no Rio. Ele resolve investigar o assassinato de uma das suas modelos, e acaba se metendo com gente perigosa e poderosa. Quando vê outro gringo se defendendo de um assalto usando uma faca, ele o procura pra aprender a usar a faca como arma. (Não sou um especialista em Rubem Fonseca, não sei se ele usa o nome Mandrake de maneira recorrente. Sei que vinte anos atrás tinha uma série homônima na HBO, também baseada em Rubem Fonseca, com o Marcos Palmeira interpretando um advogado chamado Paulo Mandrake. Mas não sei se seria o mesmo Mandrake. Pena que não sei onde ver esta série hoje em dia.)

Walter Salles estava estreando na ficção, mas já tinha dirigido quatro documentários – três filmes e uma série. Mas ele já mostrava que manjava dos paranauês, tecnicamente o filme é muito bom. Digo mais: tem uma cena logo no início que deve ter sido muito difícil de filmar e “explodiu a cabeça” de muita gente: a câmera está dentro do quarto, sai pela janela e faz um voo pela cidade. Hoje seria moleza, drones comprados na AliExpress filmam isso. Mas, naquela época? Provavelmente uma câmera com zoom, de dentro de um helicóptero…

(Tem outra cena parecida, se afastando de um trem em movimento.)

Ainda na parte técnica: um elogio e uma crítica. O elogio é sobre o treinamento de facas entre Mandrake e Hermes. Tem uma sequência com a câmera rodando enquanto os dois fazem a coreografia que não deixa nada a desejar perante ao cinema hollywoodiano da época. Por outro lado, tem uma cena de briga dentro do trem (logo a cena da Cassia Kiss!) que é bem tosca. Nem parece fazer parte do mesmo filme.

Quase todo o filme é falado em inglês, com algumas cenas em português e outras em espanhol. Talvez pela dificuldade da língua estrangeira, mas achei algumas atuações bem ruins. Aquele anão é péssimo!

A Grande Arte é um filme bonito, mas no geral achei meio besta. Walter Salles fez coisa melhor depois – tanto que seu último filme ganhou o Oscar de melhor filme internacional. Mas foi uma boa estreia!

The Electric State

The Electric State

Sinopse (imdb): Uma adolescente órfã atravessa o oeste americano com um robô doce, mas misterioso, e um excêntrico vagabundo, em busca de seu irmão mais novo.

Os irmãos Joe e Anthony Russo eram ilustres desconhecidos, até que dirigiram quatro dos melhores filmes do MCU: Capitão América O Soldado Invernal, Capitão América Guerra Civil, Vingadores Guerra Infinita e Vingadores Ultimato – detalhe que este último é a segunda maior bilheteria da história do cinema. Mas, depois de Ultimato, lançaram dois filmes bem fuén: Cherry e Agente Oculto. Não são filmes ruins, mas são filmes bobos e genéricos.

The Electric State segue a mesma onda. Não é ruim, mas é bobo e genérico.

O filme se passa nos anos 90, mas é uma realidade paralela onde vivemos com robôs inteligentes (o que me faz questionar por que situar a trama nos anos 90, porque, se é uma realidade paralela, podia ser hoje em dia). Os robôs se rebelam, rola uma guerra entre humanos e robôs, e humanos ganham a guerra usando robôs controlados remotamente (ou seja, é tudo robô). Ter um robô passa a ser “crime de traição”. A protagonista, uma “adolescente” de vinte anos de idade, recebe a visita de um robô, que acredita ser controlado pelo seu irmão que foi declarado morto, e resolve acompanhá-lo numa aventura dentro do mundo dos robôs.

Vamulá. Tecnicamente falando, The Electric State é muito bom. É uma superprodução de 320 milhões de dólares onde boa parte deve ter ido pras equipes de efeitos especiais. São muitas cenas de atores interagindo com robôs – a maior parte deve ser cgi, mas nenhuma cena passa a sensação de ser fake. Realmente parece que os robôs são reais. Nesta parte, nenhuma queixa.

Agora, o roteiro é tão mal escrito que deu vontade de fazer uma lista de tosqueiras mais toscas… Então vou fazer mais alguns comentários, depois vou soltar um aviso de spoilers, e listar dez tosqueiras.

Tenho sensações dúbias quanto à trilha sonora. Porque é daquele tipo de filme que usa músicas pop pra despertar a nostalgia dentro do espectador, e neste aspecto as músicas são muito bem usadas. Sim, sei que é um truque sujo, mas é legal ouvir Journey, Danzig, Judas Priest, Oasis, The Clash e Marky Mark – inclusive esta última ainda traz uma boa piada. Aliás, a melhor piada do filme envolve a Cavalgada das Valquírias, de Wagner. Agora, por outro lado, é triste ler nos créditos que a trilha original é do Alan Silvestri, e tentar lembrar da trilha e não conseguir. Sim, a trilha original é tão genérica quanto o resto do filme, não tem nenhum tema marcante.

Sobre o elenco: Millie Bobby Brown e Chris Pratt interpretam Millie Bobby Brown e Chris Pratt. Ambos fazem o de sempre, o que pode ser bom dependendo da proposta do espectador, mas, não é nenhum trabalho de atuação que mereça destaque. Stanley Tucci faz o vilãozão genérico; e, lembram que comentei que Giancarlo Esposito estava desperdiçado em Capitão América 4? Aqui ele está mais desperdiçado ainda! Alguém precisa avisá-lo urgentemente que ele precisa largar esse estereótipo, já cansou! Ke Huy Quan tem um bom papel, pena que é tão clichê que adivinhei o que ia acontecer assim que ele apareceu. Jason Alexander tem um papel pequeno e engraçado. Além disso The Electric State tem robôs com as vozes de Woody Harrelson, Anthony Mackie, Brian Cox, Jenny Slate, Hank Azaria, Colman Domingo e Alan Tudik – e preciso dizer que não reconheci Anthony Mackie, mesmo lendo seu nome nos créditos (talvez seja o único elogio que faço ao elenco).

E aí a gente volta pro assunto do início do texto: The Electric State é ruim? Não. O cara que ligar a Netflix atrás de uma diversão efêmera e despretensiosa vai curtir. O problema é você lembrar dos currículos das pessoas envolvidas e pensar que podia ser muito melhor…

Vitória

Crítica – Vitória

Sinopse (imdb): Baseado em uma história real, o filme conta a história de uma senhora de 80 anos que, sozinha, desmantelou um esquema de tráfico de drogas em Copacabana.

Lembro de quando gravamos o Podcrastinadores de Expectativas pra 2025, e o host, GG, trouxe este filme. A curiosidade era em dois aspectos. O primeiro era porque era uma história real, e uma história real muito boa. O outro era porque era o novo filme da Fernanda Montenegro – em tempos de overdose de Fernandinha, é legal ver que a Fernandona ainda está em forma.

Mas, infelizmente, temos pouca coisa a mais pra se comentar sobre Vitória

Pra quem não conhece ou não se lembra: em 2005, uma senhorinha, moradora de Copacabana, resolveu denunciar à polícia sobre o tráfico que tomou conta do morro ao lado da janela do seu apartamento. Como é ignorada pela polícia, ela resolve comprar uma filmadora e registra várias irregularidades, incluindo tráfico de drogas, assassinato e corrupção policial. Ela quer tornar públicas suas gravações, mas não quer sair do seu apartamento. Mas, eventualmente, acaba cedendo e entrando no sistema de proteção à testemunha.

Vitória teve um problema grave durante a produção, que não sei ao certo o quanto afetou o resultado. O filme seria dirigido por Breno Silveira (criador da série Dom), mas ele morreu de ataque cardíaco fulminante durante o período de filmagens. Andrucha Waddington, parceiro de longa data, assumiu a direção. E não sei o que foi filmado por cada um – procurei saber, mas ouvi várias versões – desde que Breno só filmou a primeira cena, até que ele teria filmado quase tudo e Andrucha só teria finalizado. Gosto muito do trabalho do Andrucha (Sob Pressão, O Juízo), e ele assina Vitória, mas não sei o quanto do filme é realmente dele.

(Ah, e pra quem não sabe, Andrucha é casado com a Fernanda Torres. Sim, virou um projeto em família, quem assumiu a direção foi o genro da atriz principal.)

Sobre as locações: fui morador de Copacabana por 16 anos, e não sei qual morro é aquele que aparece no filme. As cenas do calçadão foram filmadas no Leme, a rua onde a protagonista mora é no Catete, e existe um morro com o mesmo nome do morro do filme, mas no Centro em vez de Copacabana. Me parece que criaram um local fictício no Rio.

Como falei lá em cima, um dos maiores méritos é a protagonista Fernanda Montenegro. Ela hoje está com 95 anos, não sei que idade tinha quando foi filmado. Mas é impressionante ver uma nonagenária “carregando” um filme. Praticamente todo Vitória é em cima da sua personagem, que passa a impressão de estar muito bem fisicamente! Conheço pessoas com muito menos idade que estão muito mais fragilizadas!

No resto do elenco, queria destacar o menino Thawan Lucas, que faz o Marcinho, garoto que ajuda a protagonista. Ele está muito bem, guardemos este nome para o futuro!

Agora, fora isso, não tem muito mais o que se falar sobre Vitória. Não é ruim, tecnicamente é um filme correto. Mas não é empolgante. A impressão que fica é que se tirasse a Fernanda Montenegro, seria um filme besta.

(Ah, se tem gente pensando na Fernandona pro Oscar ano que vem, calma, galera. Acho muito difícil um filme como Vitória chamar a atenção da Academia.)

Por fim, queria falar de uma polêmica meio vazia. Tem gente reclamando que a “Vitória” original era negra, então seria errado ela ser interpretada pela Fernanda Montenegro, uma branca. Mas, a Vitória original estava escondida, no sistema de proteção à testemunha. Ninguém sabia como ela era fisicamente! Só foi divulgada sua imagem depois que ela faleceu, e o filme já estava sendo feito. Ou seja, não foi “white washing”. E, convenhamos, acho que se ela estivesse viva, duvido que reclamasse de ser interpretada por uma das maiores atrizes do Brasil!

Mickey 17

Crítica – Mickey 17

Sinopse (imdb): Segue Mickey 17, um “dispensável”, que é um funcionário descartável em uma expedição humana enviada para colonizar o mundo gelado de Niflheim. Depois que uma iteração morre, um novo corpo é regenerado com a maioria de suas memórias.

Finalmente foi lançado o aguardado novo filme de Bong Joon-Ho, depois que ele surpreendeu o mundo cinematográfico em 2020 ao levar 4 Oscars para Parasita, incluindo o de melhor filme – a primeira (e até agora única) vez que um filme não falado em inglês ganhou o Oscar principal. (Além de melhor filme, Parasita ganhou melhor diretor, melhor roteiro original e melhor filme internacional).

(A previsão era lançar ano passado, tanto que o filme estava na minha lista de expectativas para 2024…)

Mickey 17 é a adaptação do livro Mickey 7, de Edward Ashton. Soube que teve sessões de imprensa em outras cidades no Brasil onde críticos ganharam o livro, mas aqui no Rio não deram nada. Mas li no imdb o motivo de ser um número diferente: Bong falou que queria alterar pra poder matar o Mickey mais dez vezes.

O filme traz uma ideia boa. Mickey está endividado, então resolve se juntar a uma equipe que está saindo da Terra para colonizar um planeta distante. Como não tem muitas habilidades, resolve optar pelo cargo que lhe parecia mais fácil de ser contratado: o “dispensável”. Sempre que tem alguma tarefa perigosa, com risco de vida, ele vai executar. E quando morre, imprimem uma nova cópia, igual ao que acabou de falecer, inclusive com as mesmas memórias.

Aliás, tem uma coisa curiosa: várias vezes no filme perguntam ao Mickey “como é morrer?” Ora, se ele está sendo reimpresso com a memória até aquele dia, não tem como ele saber como é morrer! Não tem como recuperar a memória da morte!

(Achei estranho ter cópias com personalidades diferentes. Acho que se é pra ser igual, seria igual em tudo. Mas, impressão de corpo humano não existe na vida real, então, como estamos falando de ficção científica, vou aceitar que altere a personalidade.)

A parte técnica é muito boa. Robert Pattinson faz dois Mickeys, o 17 e o 18, e eles interagem boa parte do filme. Ok, não é a primeira vez que vemos um ator interpretando “gêmeos”, mas reconheço que o resultado aqui ficou perfeito.

Além disso tem as criaturas habitantes do planeta Niflheim (o nome do planeta é uma referência à mitologia nórdica, é um reino em estado permanente de inverno, a vida após a morte para aqueles que não morrem de forma heroica). Bong Joon-Ho já filmou monstros antes, o primeiro filme que vi dele foi O Hospedeiro, de 2006. Mas aqui são vários monstrinhos, e, que nem acontece com os “gêmeos”, o resultado é perfeito.

Assim como em outros filmes do diretor, os teóricos de plantão podem encontrar camadas para alimentar discussões sociológicas. Um amigo meu falou que seria uma crítica ao capitalismo, “onde você vai trabalhar até morrer”. Também podemos enxergar o personagem do Mark Ruffalo como um líder que mistura política com religião. Ou seja, é “filme de monstro e nave espacial”, mas também tem seu lado cabeça.

Sobre o elenco, é impressionante como, a cada filme, Robert Pattinson se mostra um ator melhor. Já tinha comentado isso em filmes tão díspares como O Farol e Batman, e aqui mais uma vez ele está muito bem, e ainda tem a oportunidade de fazer dois papéis completamente diferentes – Mickey 17 e Mickey 18 só são parecidos fisicamente, pois têm personalidades bem distintas. Por outro lado, achei Mark Ruffalo além do ponto. Entendo a opção de colocá-lo como um líder caricato, mas ficou over. Toni Collette, sua parceira, está melhor. Também no elenco, Naomi Ackie (Pisque Duas Vezes), Anamaria Vartolomei (O Império) e Steven Yeun (Não Não Olhe).

Mickey 17 pode não ser tão bom quanto Parasita. Mas mesmo sendo um filme menor, gostei, achei tão bom quanto O Hospedeiro ou O Expresso do Amanhã.

O Macaco

Crítica – O Macaco

Sinopse (imdb): Quando os gêmeos Bill e Hal encontram no sótão um velho macaco de brinquedo do pai, começa uma série de mortes terríveis. Os irmãos decidem jogar o brinquedo fora e seguir em frente com suas vidas, distanciando-se com o passar dos anos.

O Macaco (The Monkey, no original) estava na minha lista de expectativas para 2025, por ser uma história do Stephen King, e dirigida por Osgood Perkins, que ano passado apresentou o bom Longlegs.

Gostei de Longlegs e gostei ainda mais de O Macaco. Se o primeiro era um terror sério, o segundo traz várias cenas de humor negro que fizeram o cinema dar gargalhadas várias vezes ao longo da projeção. São muitas cenas de mortes, e com muito gore. E ao mesmo tempo são cenas engraçadíssimas! Às vezes lembra o clima da franquia Premonição, onde a gente fica esperando mortes cada vez mais absurdas.

O humor negro não está só nas mortes. Vários diálogos também são neste estilo. E preciso dizer que adorei o tom do humor. Olha, há muito tempo heu não ria tanto numa sessão. Lembro que há pouco vi a comédia Bridget Jones Louca Pelo Garoto, e não ri quase nada…

Não li o conto original do Stephen King. Não sei se já era engraçado, ou se o humor negro foi uma adição do diretor e roteirista Oz Perkins (que é filho do Anthony Perkins, pra quem não sabe). Independente de quem é o autor, achei perfeito, este é o meu estilo de humor!

(Alguns amigos meus estão chamando O Macaco de “terrir”. Sei lá, pra mim, “terrir” está mais ligado ao estilo do Ivan Cardoso, filmes tipo As Sete Vampiras ou O Escorpião Escarlate, que eram filmes de terror, mas meio trash. O Macaco não é nada trash!)

O Macaco apresenta um brinquedo que, quando dão corda e ele bate no tambor, uma morte aleatória vai acontecer. O irmãos gêmeos Bill e Hal herdam esse brinquedo, mas tentam se afastar depois que descobrem os efeitos desagradáveis e imprevisíveis.

Curiosidade sobre o brinquedo: segundo o imdb, Oz Perkins resolveu fazer o macaco bater em um tambor em vez de pratos porque os direitos da versão com pratos são de propriedade da The Walt Disney Company, já que o brinquedo apareceu como personagem em Toy Story 3. O que é irônico, porque o macaco com pratos estava em Toy Story 3 porque seu diretor Lee Unkrich é fã de Stephen King.

Oz Perkins, na minha humilde opinião, está num bom momento da carreira. Lembro de quando vi Maria e João, o Conto das Bruxas, que achei bem filmado, mas entediante. Longlegs foi bem melhor, parecia uma uma mistura de Silêncio dos Inocentes com Zodíaco, mas em versão terror. O cara sabe filmar, sabe posicionar sua câmera, seus filmes fogem do óbvio. E agora, com O Macaco, Perkins acertou em cheio. E ainda tem um filme novo dele, Keeper, com previsão de lançar em outubro deste ano!

Os gêmeos Bill e Hal são interpretados pelo mesmo ator: Christian Convery quando adolescentes; Theo James quando adultos. Eles estão bem: achei que eram dois atores diferentes interpretando os adolescentes. Tatiana Maslany interpreta a mãe durante a primeira parte do filme. O Macaco ainda tem participações especiais de Elijah Wood e Adam Scott, cada um faz uma cena. E o diretor Oz Perkins tem um papel bem divertido, o tio dos meninos.

Alguns amigos meus falaram mal de O Macaco quando acabou a sessão. Mas te garanto que a sala inteira do cinema estava gargalhando alto. Acho que esses amigos esperavam um filme sério…