O Brutalista

Crítica – O Brutalista

Sinopse (imdb): Quando o visionário arquiteto László Toth e sua esposa Erzsébet fogem da Europa do pós-guerra em 1947 para reconstruir seu legado e testemunhar o nascimento da América moderna, suas vidas são mudadas por um misterioso e rico cliente.

Tem filmes que, quando acabam, o rascunho do meu texto está pronto dentro da minha cabeça. Vou falar disso, daquilo, comentar sobre aquele problema, fazer aquele elogio… É só colocar no papel e formatar. Agora, tem outros filmes que não tenho ideia nem por onde começar meus comentários. O Brutalista está nesta categoria.

Antes de tudo, uma informação útil, que heu não sabia. Enganado pelo título e pelo cartaz, fui ao cinema ver um “Adrien Brody brutal”. Achei que era um filme violento. Não sabia que “brutalismo” é um estilo de arquitetura. Vou copiar aqui um trecho da wikipedia:

O estilo arquitetônico Brutalismo (também chamado de arquitetura brutalista), que surgiu no início do século XX e alcançou seu auge nas décadas de 1950 a 1970, é conhecido por sua estética ousada e impiedosa, caracterizada pelo uso de concreto bruto e aparente. O nome “Brutalismo” deriva da palavra francesa “brut”, que significa “cru” ou “bruto,” e não se refere à violência, como muitas pessoas podem supor. O concreto é o material central no Brutalismo, e os arquitetos que seguem esse estilo fazem questão de deixar a textura e a superfície do concreto visíveis, muitas vezes sem revestimento ou acabamento adicional. Isso cria uma sensação de honestidade e autenticidade na construção.”

Ou seja, “não se refere à violência”. Não criei expectativas, mas achei que era outro tipo de filme!

Ah, outra informação importante: László Toth é um personagem fictício. É bom deixar isso claro, porque a construção do filme passa a impressão de que ele existiu (principalmente pelo epílogo do filme).

Vamos ao filme. O Brutalista (The Brutalist, no original) acompanha a história de László Toth, arquiteto, judeu, húngaro, que fugiu da Segunda Guerra e foi aos EUA tentar uma vida nova. Se na Europa ele tinha problemas relativos à guerra, ele encontrou outro tipo de problema no seu novo país. Seu primo largou o sobrenome húngaro e se casou com uma americana, mas László quer manter suas raízes. Depois, quando encontra um cara rico que contratá-lo, ele precisa lutar para manter sua obra do jeito que ele idealizou.

A direção é de Brady Corbet, que teve uma carreira modesta como ator (estava no elenco de Melancolia e na versão americana de Funny Games), e que de uns anos pra cá resolveu dirigir. Apesar de ser apenas seu terceiro filme como diretor, Corbet já parece um veterano – O Brutalista é um “filme de gente grande”, uma super produção de época, grandiosa, com cenários e figurinos caprichados, apesar de ter um orçamento relativamente modesto (10 milhões de dólares segundo o imdb).

Vamos falar da pausa? Sim, rola uma pausa de 15 minutos. Isso não é da sala de cinema, está dentro do filme. O Brutalista tem três horas e trinta e quatro minutos, mas são três horas e dezenove de filme. No meio da projeção, aparece uma imagem com um contador marcando o tempo em contagem regressiva. Heu sou super a favor de pausas em filmes longos, acho que todo filme de mais de duas horas deveria ter uma pausa, dá pra ir ao banheiro ou passar na bombonière, é bom pro espectador e também pro cinema, pena que isso não é uma prática comum. Mas, por outro lado, O Brutalista não precisava ter mais de três horas. O filme cansa em alguns momentos. Sou a favor da pausa, mas também sou a favor de filmes mais curtos. Um filme só deveria ser longo se ele realmente precisar!

O Brutalista é dividido em duas parte e um curto epílogo. A divisão entre as partes é nítida, tanto que a pausa acontece entre elas. Agora, achei o epílogo desnecessário. Se László Toth fosse uma pessoa real, ok, justificava mostrá-lo velhinho. Mas, para um personagem fictício, achei que não precisava.

O Brutalista ainda tem outro problema, que é o final. Acontece uma coisa com um personagem, que poderiam ter deixado o personagem pra lá e seguido com a história. Mas não, o filme foca no que aconteceu com esse personagem – pra depois não concluir. Caramba, se a gente seguiu essa história paralela, que pelo menos a gente saiba a conclusão!

O elenco está muito bem. O trio principal, Adrien Brody, Felicity Jones e Guy Pierce, merece as indicações ao Oscar (mas não achei que Brody deveria ter ganhado seu segundo Oscar…). Rolou uma polêmica ligada ao uso de IA nas vozes do casal principal, alguém me disse que era pra ajudar a criar os sotaques húngaros dos personagens, mas me parece mais lógico que seja para melhorá-los enquanto falam em húngaro – é bem mais fácil o cara falar na sua língua imitando um sotaque do que ser fluente em uma língua estrangeira. Tinha gente achando que o Oscar não iria para Brody por causa disso, mas parece que os votantes da Academia não se incomodaram.

Também queria falar dos créditos, tanto os iniciais quanto os finais. São créditos em formatos diferentes do óbvio. Nada de excepcional, mas gostei, justamente por ser algo diferente do que estamos vendo todos os dias.

Alguns amigos meus adoraram O Brutalista, dizendo que seria um dos melhores filmes do ano. E o filme ganhou o Globo de Ouro e foi indicado a dez Oscars. Mas, heu preciso dizer que o filme não me empolgou. Não é um filme ruim, longe disso, é um filme bonito, bem filmado, bem atuado, mas, pelo menos pra mim, apenas mais um filme.

Asteroid City

Crítica – Asteroid City

Sinopse (google): Asteroid City decorre numa cidade ficcional em pleno deserto americano, por volta de 1955. O itinerário de uma convenção de Observadores Cósmicos Jr./Cadetes Espaciais (organizada com o objetivo de juntar estudantes e pais de todo o país para uma competição escolar com oferta de bolsas escolares) é espetacularmente perturbado por eventos que mudarão o mundo.

Filme novo do Wes Anderson!

Já comentei aqui que Wes Anderson é um dos últimos “autores” do cinema atual. Um filme dele tem cara de filme dele. O cara é obcecado por enquadramentos perfeitos, tudo em cena está milimetricamente posicionado – o tempo todo. Cada enquadramento do seu filme é perfeito, cada movimento de câmera é perfeito. Claro que reconheço o valor de um filme assim.

Vou além: o filme traz uma metalinguagem, um “filme dentro do filme”, tem um dramaturgo contando uma história, e essa história é o Asteroid City. E Anderson usa formatos diferentes pra cada momento. O filme alterna entre uma imagem p&b meio quadrada (parece o antigo 4×3) quando está com o dramaturgo e o tradicional letterbox colorido quando conta o filme em si.

O visual é fantástico. Mas, por outro lado, quase não tem história. Tirando um evento lá pelo meio do filme, nada acontece. E assim o filme fica cansativo. Fui até checar a metragem, Asteroid City tem 1h45min, mas parece ser mais longo!

Talvez o problema seja não ter um protagonista com uma história principal. Parece que estamos o tempo todo vendo personagens secundários em tramas paralelas.

O elenco é fantástico. Raras vezes a gente vê tantos atores famosos juntos. Foi assim com Oppenheimer, é assim de novo em Asteroid City: Tom Hanks, Edward Norton, Adrien Brody, Tilda Swinton, Steve Carell, Bryan Cranston, Willem Dafoe, Matt Dillon, Jeff Goldblum, Scarlett Johansson, Margot Robbie, Jason Schwartzman, Maya Hawke, Jeffrey Wright, Hope Davis, Liev Schreiber, Sophia Lillis, Tony Revolori – entre outros. Ainda tem uma participação especial do Seu Jorge, ele está no grupo do cowboy Montana. Mas… Diferente de Oppenheimer, que tem um grande elenco e grandes atuações, aqui todas as atuações parecem propositalmente robóticas – combina com o estilo do diretor, mas torna o filme ainda mais cansativo.

Ok, reconheço que vou soar um pouco incoerente agora, porque sempre defendi que a forma vale mais que o conteúdo, sempre defendi que prefiro filmes com visuais fantásticos mesmo que as histórias fossem fracas. Mas, aqui em Asteroid City isso não funcionou. É um filme indubitavelmente bonito. Mas seria melhor se fosse um curta metragem.

Ghosted: Sem Resposta

Crítica – Ghosted: Sem Resposta

Sinopse (imdb): O corretíssimo Cole se apaixona pela enigmática Sadie, mas logo enfrenta a chocante descoberta de que ela é uma agente secreta. Antes que eles possam decidir se terão ou não um segundo encontro, Cole e Sadie são arrastados para uma aventura internacional para salvar o mundo.

Na época que heu tinha videolocadora, existiam os conceitos de “filme de ponta” e “filme de apoio”. O filme de ponta era aquele que passava no cinema, com atores conhecidos, e que, apesar de um pouco mais caro, tinha boa saída. O filme de apoio era quando o cara entrava na locadora e não tinha o filme que ele queria, então ele pega a um genérico qualquer.

Me parece que hoje em dia o filme de apoio virou “direto para o streaming”. Apesar de ter atores conhecidos, temos uma leva de filmes genéricos e esquecíveis que acho que fariam feio nas bilheterias. Filmes como Esquadrão 6 (com Ryan Reynolds), Alerta Vermelho (com Dwayne Johnson, Ryan Reynolds e Gal Gadot), A Guerra do Amanhã (com Chris Pratt), e O Agente Oculto (com Ryan Gosling, Ana de Armas e Chris Evans).

(Não podemos generalizar, afinal alguns grandes filmes vão direto para o streaming, tipo o Pinóquio do Del Toro, melhor filme de 2022 aqui no heuvi. Alguns filmes muito bons são do streaming, como O Irlandês, Roma, Mank, Não Olhe Para Cima, Os 7 de Chicago… Mas, vamulá, esses bons são minoria.)

Voltando… Ghosted: Sem Resposta (Ghosted, no original) me lembrou outros filmes genéricos do streaming, principalmente O Agente Oculto (pelo casal protagonista). Filme raso e genérico, mas com bom elenco, boas locações, “muita correria e muita confusão!”

Aliás, falando em genérico, a trívia do imdb me lembrou de Encontro Explosivo, filme de 2010 com Tom Cruise e Cameron Diaz que tinha basicamente a mesma história, mas invertendo os gêneros (o homem era o agente secreto). Os filmes são tão parecidos que vou copiar um parágrafo do que escrevi sobre aquele filme: “Encontro Explosivo é uma eficiente mistura de comédia com ação exagerada. A ação tem um ritmo frenético, deve ser pra gente não reparar nas várias inconsistências do roteiro – muita coisa lá é absurda! Mas, relevando o lado impossível, dá pra se divertir.

Aliás, falando nessa inversão de gêneros, quero elogiar Ghosted: Sem Resposta. A melhor cena do último 007 foi quando Ana de Armas entrou em ação ao lado do James Bond. Vê-la como protagonista de um filme de ação girl power e muito bom! Aguardo ansiosamente pelo Ballerina, spin off de John Wick que ela vai estrelar.

Mas, vamos ao filme. Genérico sim, esquecível também, mas se a gente relevar isso, Ghosted: Sem Resposta é um filme divertido. A direção e de Dexter Fletcher, que era ator (lembro dele em Jogos Trapaças e Dois Canos Fumegantes), mas que também virou diretor, e dirigiu Rocketman, além de ter terminado Bohemian Rhapsody. O elenco é muito bom, tanto o principal quanto as várias participações especiais. A trilha sonora com músicas pop bem colocadas também é boa.

Claro, nem tudo funciona. Tem uma coisa que me incomodou bastante que rola logo no início do filme (espero que não seja spoiler). O cara conhece a garota, eles se dão bem e passam a noite juntos. Aí depois ele fica obcecado por ela a ponto de descobrir que ela viajou pra Inglaterra e vai atrás dela. Amigo, ela não tem nenhum compromisso com você! Ela pode ter um outro cara, e você não tem nada a ver com isso! Pare de ser stalker!

(Pra piorar, ele vai até a Inglaterra atrás de uma bombinha de asma que não e citada pelo roteiro no resto do filme. Se a bombinha era algo tão sem importância, pra que colocar um gps?)

Algumas sequências de ação são bem filmadas, mas não fazem muito sentido. O personagem de Chris Evans é um fazendeiro, ele não saberia brigar e atirar tão bem como aparece no filme. Ou seja, as cenas são boas, mas precisa desligar o cérebro.

Sobre o elenco: Ana de Armas e Chris Evans têm boa química – já e o terceiro filme onde eles atuam juntos (além de O Agente Oculto, teve Entre Facas e Segredos). Adrien Brody está bem como o vilão caricato. E as participações especiais são ótimas! Anthony Mackie, Sebastian Stan, John Cho e Ryan Reynolds aparecem por poucos segundos, mas cada um tem um bom momento. Tim Blake Nelson e Burn Gorman têm um pouco mais de tempo de tela (pouca coisa), e também são cenas divertidas.

Quem conseguir relevar os problemas vai ter uma boa diversão por quase duas horas. Mas provavelmente vai esquecer do filme depois de alguns dias.

Clean

Crítica – Clean

Sinopse (imdb): Assombrado pelo seu passado, um homem sujo chamado Clean tenta uma vida calma de redenção. Mas logo se vê obrigado a aceitar a violência do seu passado.

Clean é um filme difícil de classificar. É muito violento para um drama, e ao mesmo tempo muito lento para um filme de ação. Me lembrei dos filmes do Nicolas Winding Refn (Drive, Apenas Deus Perdoa) – com o agravante de não ter o visual elaborado dos filmes do diretor dinamarquês (não curto os filmes dele, mas reconheço que são filmes com visual caprichado).

Conheço pouco da obra do diretor Paul Solet (só vi O Mistério de Grace), mas Clean me pareceu ser um projeto do ator Adrian Brody, que além de protagonizar, produziu, escreveu o roteiro e ainda colaborou com a trilha sonora. A sensação que fica é que Brody queria fazer o seu John Wick. Pena que o resultado final ficou devendo.

Revendo minhas anotações de mais de dez anos atrás sobre O Mistério de Grace, constatei um problema semelhante: um filme lento, com pouca história para contar. E Clean ainda tem outro problema; o roteiro usa uma fórmula extremamente previsível. A gente já sabe como vai ser o desfecho do filme.

Se salvam a atuação de Brody e algumas coreografias de luta. Mas é pouco.

O Grande Hotel Budapeste

0-grandehotel budapesteCrítica – O Grande Hotel Budapeste

Outro dia falei que o cinema contemporâneo tem poucos “autores”, e citei como exemplos o Tim Burton e o Terry Gilliam. Olha, a gente precisa incluir o Wes Anderson (Moonrise Kingdom) neste seleto clubinho.

O Grande Hotel Budapeste conta as aventuras de Gustave H, um lendário concierge de um famoso hotel europeu entre as as duas grandes guerras; e Zero Moustafa, o lobby boy que vira o seu melhor amigo.

O Grande Hotel Budapeste (The Grand Budapest Hotel, no original) parece uma fábula. Wes Anderson tem um estilo de filmar onde todas suas cenas parecem mágicas. Parece que estamos lendo um livro de contos infantis!

A fotografia de seus filmes chama a atenção. Arrisco a dizer que o diretor deve ter TOC, cada plano é bem cuidado, tudo simétrico, sempre com o objeto centralizado no meio da tela. Isso, somado a cenários meticulosamente escolhidos e à boa trilha sonora de Alexandre Desplat, torna O Grande Hotel Budapeste um espetáculo visual belíssimo de se ver.

E não é só o visual que chama a atenção. O filme é repleto de personagens exóticos – e, detalhe importante: todos têm sua importância na trama, nenhum parece forçado. E o elenco é impressionante, sugiro checar os nomes no poster – é tanta gente que fica até difícil reconhecer todos ao longo do filme: F. Murray Abraham, Mathieu Almaric, Adrien Brody, Willem Dafoe, Jeff Goldblum, Harvey Keitel, Jude Law, Bill Murray, Edward Norton, Saoirse Ronan, Jason Schwartzman, Léa Seydoux, Tilda Swinton, Tom Wilkinson e Owen Wilson. Curiosamente, o protagonista é interpretado pelo desconhecido Tony Revolori. Bem, o filme é centrado em dois personagens, não sei exatamente qual do dois seria o principal. Mas sendo que o outro é o Ralph Fiennes, claro que Revolori será chamado de coadjuvante…

Pelo estilo visual de Wes Anderson, talvez O Grande Hotel Budapeste não agrade a todos. Outro problema é que o filme está sendo vendido como uma comédia, e o humor do filme é um humor peculiar, porque diverte mas não causa risadas.

Mas quem entrar no espírito da fábula vai se divertir com a aventura!

Detenção

Crítica – Detenção

Um grupo de homens comuns se oferece como voluntários em uma experiência científica, onde, confinados em uma prisão abandonada, serão divididos em dois grupos, um de prisioneiros e outro de guardas.

Paul Scheuring, roteirista da série Prison Break, dirige aqui uma refilmagem do filme alemão A Experiência (Das Experiment, de 2001), que, por sua vez, foi inspirado em uma experiência real ocorrida em 1971 na prisão Stanford.

Detenção é uma produção simples. Às vezes parece até uma peça teatral filmada – poucos cenários, poucos efeitos especiais, quase tudo baseado em diálogos e ações entre os atores. O que realmente vale a pena aqui é a interpretação dos dois atores principais, Adrien Brody e Forest Whitaker, ambos ganhadores de Oscar (por O Pianista e O Último Rei da Escócia, respectivamente). Suas interpretações principalmente Whitaker – trazem a profundidade necessária para tornar o filme interessante do início ao fim.

Isso porque o roteiro, escrito pelo diretor Scheuring, acerta no crescente da tensão, mas falha em certos aspectos de desenvolvimento da trama e de alguns personagens, o que torna o filme uma boa ideia mal desenvolvida – fica aquela velha sensação de “poderia ter sido melhor”…

Enfim, pelo menos Brody e Whitaker salvam o filme.

Meia Noite em Paris

Crítica – Meia Noite em Paris

Filme novo do Woody Allen!

Gil é um roteirista de relativo sucesso em Hollywood, mas quer largar essa vida, se mudar para Paris e escrever romances – decisão não apoiada por sua noiva. Apaixonado por Paris e pela década de 20, de repente Gil volta no tempo e passa a ter contato com personagens históricos, como Cole Porter, Ernest Hemingway, F Scott Fitzgerald, Gertrude Stein, Pablo Picasso, Salvador Dalí e Luis Buñuel, entre outros.

Tem gente por aí dizendo que este é o melhor Woody Allen em muito tempo, mas não sei se sou a pessoa certa para falar sobre isso, já que, sei lá por qual motivo, não vi nenhum dos filmes que ele fez entre 98 e 2007 (mas tô em dia desde Vicky Cristina Barcelona!). Pelo menos posso afirmar que é o melhor entre os quatro últimos.  As situações geradas pelos encontros de Gil com as figuras históricas são deliciosas! Não conheço ninguém que saiu do cinema sem se imaginar em outra época, acho que esse culto ao passado é algo natural do ser humano.

Paris foi uma escolha perfeita para o cenário de Meia Noite em Paris. Que outra cidade conjugaria um passado tão rico em cultura com cenários atuais que não precisam de muitas adaptações? É um filme de viagem no tempo sem efeitos especiais aparentes!

No elenco, Owen Wilson surpreende. Normalmente associado a comédias dirigidas a um público mais, digamos, hollywoodiano, ele está perfeito aqui como o alter-ego de Allen. Se heu não o conhecesse  de filmes como Uma Noite no Museu, Marley & Eu ou a série Bater ou Correr, diria que é um ator sério… Ainda no elenco, Rachel McAdams, Michael Sheen, Marion Cotillard, Kathy Bates e um Adrien Brody hilário como Salvador Dalí. E, para os fãs de quadrinhos: Tom Hiddleston, o Loki de Thor, interpreta F Scott Fitzgerald aqui.

Meia Noite em Paris é divertidíssimo, mas tem um problema: pra curtir melhor as piadas, tem que conhecer as figuras históricas. Digo isso porque fui um dos únicos no cinema a rir da genial piada com o Buñuel e seu Anjo Exterminador – provavelmente rolaram outras piadas que não entendi porque não conhecia os personagens…

Enfim, vá ao cinema. E depois se imagine na sua própria Belle Époque!

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Se você gostou de Meia Noite em Paris, Blog do Heu recomenda:
Todos Dizem Eu Te Amo
Tudo Pode Dar Certo
Te Amarei Para Sempre

Cadillac Records

Cadillac Records

Uma cinebiografia da Chess Records, a gravadora que lançou nomes como Muddy Waters, Chuck Berry, Etta James e Howlin’ Wolf? Tem tudo pra dar certo!

Em 1947, Leonard Chess (Adrien Brody) abre um estúdio de gravação só para artistas negros, como Muddy Waters (Jeffrey Wright) e Little Walter (Columbus Short), e cuida deles como se fossem uma grande família. Pouco depois, Chuck Berry (Mos Def) praticamente inventa o rock’n’roll dentro de seu estúdio.

Infelizmente, o desenvolvimento do filme não flui bem. Os eventos são jogados na trama, senti falta de uma linha temporal mais bem definida. Por exemplo, os Rolling Stones aparecem do nada e desaparecem da mesma forma. E o mesmo acontece várias outras vezes ao longo do filme.

Depois descobri outro problema, que não tem a ver exatamente com o filme em si, mas com a História. Li pela internet que vários dos fatos estão incorretos. Leonard não estava sozinho, a gravadora foi fundada ao lado de seu irmão; Muddy Waters já tinha gravado antes da Chess Records; Leonard nunca se envolveu romanticamente com Etta James; etc. Isso sem contar com alguns nomes importantes deixados de lado, como Bo Didley!

Apesar dissol gostei muito das atuações. Adrien Brody, como sempre, manda bem. Jeffrey Wright, eterno coadjuvante, brilha como protagonista no papel de Muddy Waters. Beyoncé Knowles não só interpreta Etta James como ainda regravou suas músicas. Mos Def rouba a cenacom um Chuck Berry perfeito. E Columbus Short também está ótimo como o explosivo Little Walter. E ainda tem Cedric the Entertainer como Willie Dixon e Eamonn Walker como Howlin’ Wolf. O elenco realmente estava inspirado!

Apesar dos problemas, Cadillac Records é um bom programa para os apreciadores de música negra dos anos 50.

Splice

Splice

Um casal de cientistas trabalha num laboratório genético, tentando sintetizar uma proteína baseada em entrelaçamento de DNAs de espécies diferentes. Enquanto eles lidam com a pressão dos chefes, ignoram limites éticos ao desenvolverem uma experiência secreta – e perigosa.

Escrito e dirigido por Vicenzo Natali (o mesmo do esquisito Cubo), Splice está sendo vendido como um novo Alien, um novo A Experiência. Mas não acho que seja por aí. Splice está mais focado no drama que no suspense. Para falar a verdade, Splice tem um ritmo bem lento, pelo menos até chegarmos à parte final – quando enfim temos um filme de terror na tela.

Lento, mas nunca enfadonho. A história da criatura Dren é fantástica! Um misto de atriz com efeitos especiais, Dren cativa e assusta ao mesmo tempo.

Me questiono se este filme teria a mesma credibilidade se feito em outras épocas pré-cgi. Quando Dren é pequena, seria uma animação tosca em stop motion, e, adulta, seria uma atriz com máscara ou maquiagem. Em vez disso, temos uma Dren “real” – tanto criança quanto adulta. E a criatura é tão bem feita, que fica difícil dizer onde termina a atriz e começa o efeito especial. Acompanhamos vários estágios de seu desenvolvimento, e Dren é sempre convincente.

No elenco, queria poder falar de Delphine Chanéac, que interpreta Dren, mas, como falei, não sei o quanto era ela e o quanto eram os efeitos especiais. Mas podemos falar bem do casal principal, Clive e Elsa, solidamente interpretados por Adrien Brody e Sarah Polley. Ambos estão bem como o casal que testa os limites da ética na ciência genética.

(Curiosidade: os nomes Clive e Elsa são uma homenagem ao filme A Filha de Frankenstein, de 1935, interpretado por Colin Clive e Elsa Lanchester. Ambos os filmes têm semelhanças nos seus argumentos.)

Tem uma coisinha no roteiro que me incomodou, mas, antes, vamos aos tradicionais avisos de spoiler…

SPOILERS!

SPOILERS!

SPOILERS!

A cena de sexo foi totalmente incoerente! Não era melhor ter usado outro personagem para isso? Por que não Gavin, o irmão de Clive? Acredito que a reação de Elsa ia ser parecida…

FIM DOS SPOILERS!

Mas isso não torna Splice um filme ruim, longe disso. Aliás, gostei do fim do filme, aberto para uma continuação…

Predadores

Predadores

Um grupo de soldados de elite, estranhos entre si, vindos de lugares diferentes, se encontra numa floresta desconhecida e precisa lutar contra um misterioso inimigo.

Todos aqui conhecem a franquia Predador, certo? Tivemos Predador em 1987 e sua continuação em 90; recentemente, dois Alien Vs Predador (2004 e 07). Pra quem não sabe do que se trata: o predador é um caçador, vindo de outro planeta. Usa uma avançada tática de camuflagem e poderosas armas. E caça por esporte.

Aí vem a pergunta: precisa de mais um, já que os dois AVP foram fraquinhos? O que mais me chamou a atenção nesta nova produção com cara de caça níqueis vagabundo foi o nome Robert Rodriguez na produção. Sou fã do cara, se ele assina, merece um crédito… Porque admito que nunca tinha ouvido falar do diretor Nimrod Antal.

O roteiro traz uma surpresa logo de cara, que diz respeito a onde eles estão. E, lá pro meio, traz outra surpresa legal. Mais não digo por causa dos spoilers. Mas posso dizer que tudo está coerente com o conceito da franquia.

Quando li quem liderava o elenco, me questionei o que diabos Adrien Brody estava fazendo aqui. Caramba! O cara ganhou o Oscar de melhor ator há sete anos, e agora faz uma continuação de um filme de ação descerebrado? Mas, reconheço que ele até que funciona… Brody está fortão, com cara de mau e voz gutural de Batman. Coerente com o papel.

O elenco é acima da média, em se considerando que o segundo filme, de 1990, tinha Danny Glover como nome mais famoso. Além de Brody, temos Topher Grace (o eterno Forman de That 70’s Show), Danny Trejo (esse cara deve ser amigo do Robert Rodriguez…), Laurence Fishburne, Walton Goggins, Oleg Taktarov e Alice Braga.

(Aliás, Alice Braga está mandando bem em sua carreira internacional de filmes de ação / ficção científica. Depois de Eu Sou a Lenda e Repo Men, aqui ela é, mais uma vez, o principal papel feminino!)

O ponto fraco do elenco foi Laurence Fishburne. Gosto dele, é um bom ator, mas achei seu personagem completamente inconsistente – além de estar acima do peso exigido pelo papel!

O roteiro ainda tem alguns furos (como é que o médico saiu no meio da explosão, se ele estava bem distante dos outros?). Mas, para o que o filme se propõe, funciona. E os efeitos especiais e cenários são muito legais.

Boa diversão descerebrada!