O Homem do Saco

Crítica – O Homem do Saco

Sinopse (imdb): Quando uma ameaça sinistra de sua infância volta a assombrá-lo, um pai luta desesperadamente contra seu medo mais profundo. Só que, desta vez, a luta não é por ele mesmo; é por sua família.

Falei aqui outro dia sobre Blindado, filme ruim muito ruim. O Homem do Saco está longe de ser bom, mas é bem menos ruim que Blindado. Vamulá.

Dirigido pelo pouco conhecido Colm McCarthy, O Homem do Saco (Bagman, no original) é mais um terror genérico vagabundo, igual a dezenas de outros lançados a cada ano. Previsível e clichê, mas tem o seu público.

A ideia aqui é explorar a lenda urbana do homem do saco, aquele que leva crianças mal comportadas. O protagonista, adulto, teve um trauma na infância ligado à lenda, e agora, por motivos financeiros, precisa voltar a morar perto de onde morava quando criança, e coisas estranhas começam a acontecer.

O filme podia ter explorado melhor a dúvida que o protagonista vive: aquilo é real, ou é um trauma de infância? Mas infelizmente tudo aqui é muito raso. Inclusive tem algumas coisas que não fazem muito sentido, como uma psicóloga falando pra outra pessoa sobre os problemas de um paciente – na verdade, é um motivo pra ter diálogos expositivos, pra explicar tudo mastigadinho para o espectador preguiçoso.

Heu sei que quase todos os filmes de terror são baseados em cima de decisões burras de personagens. E na maior parte dos casos aceito isso. Mas algumas decisões são tão burras que dão raiva. Em O Homem do Saco, determinado momento do filme acontece um evento traumático que afeta toda a família, inclusive a irmã da protagonista. Na noite seguinte, a irmã vai dormir na mesma cama que o casal, tão grave foi o trauma. Mas… A criança continua dormindo no quarto ao lado! Caramba, se chegaram ao ponto de colocar três adultos numa cama, por que diabos isolar a criança???

Se tem uma coisa positiva em O Homem do Saco, gostei do visual da entidade, o tal Homem do Saco – principalmente antes de tirar o capuz e mostrar toda a cabeça (quando tira o capuz, criaram um visual mais grotesco do que assustador, prefiro com capuz). Também gostei da movimentação da criatura pelas paredes, pena que o filme mostrou pouco disso. Por outro lado, achei que o filme deu um mole grande quando não explorou mais a caverna onde a criatura mora. Aquilo podia ter dado um “up” na reta final do filme. Ah, a trilha sonora também é boa.

No elenco, deu pena do Sam Claflin, que tem um currículo razoável, fez Jogos Vorazes, Como Eu Era Antes de Você, Enola Holmes, protagonizou a série Daisy Jones and the Six… Por que ele está fazendo terror vagabundo?

Claro que O Homem do Saco tem um final que deixa espaço pra uma continuação. E claro que a gente torce pra essa continuação nunca acontecer.

Daisy Jones & The Six

Crítica – Daisy Jones & The Six

Sinopse (imdb): Siga o sucesso da banda de rock Daisy Jones e The Six através da cena musical de Los Angeles da década de 1970 em sua busca para se tornar um ícone global.

Há umas semanas, atrás me indicaram lá no grupo de apoiadores do Podcrastinadores uma nova série musical: Daisy Jones and The Six, da Amazon Prime, que mostra uma banda fictícia dos anos 70 que estava no auge do sucesso, quando algo aconteceu durante uma turnê e a banda se separou e nunca mais fizeram nada. Anos depois, eles estão sendo entrevistados (separadamente), para contar o que aconteceu. A série alterna momentos dessa entrevista com flashbacks, num formato que parece uma mistura de This is Spinal Tap com Quase Famosos.

A reconstituição de época está perfeita, e a parte musical é muito boa. A banda é inspirada no Fleetwood Mac, banda que conheço pouco. Tenho um grande elogio e um mimimi pra fazer sobre a parte musical. O elogio é que poucas vezes vi um filme ou série com músicos tão bem representados. Sou chato e presto atenção no ator interpretando um músico – ele não precisa tocar, mas precisa fingir bem que toca (caso do De Volta para o Futuro) (um ator interpretando um cirurgião não precisa fazer a cirurgia, apenas precisa convencer no seu fingimento). E, tirando um detalhe aqui, outro detalhe ali, aqui os atores estão excelentes! Inclusive, segundo o imdb, eles chegaram a fazer um show como se fossem uma banda de verdade, como laboratório! Digo mais: em mais de um momento ao longo da série, a gente vê uma música sendo executada num estúdio ou num palco, e o volume dos instrumentos varia conforme a câmera anda – o que aconteceria na vida real.

Agora, posso fazer um mimimi? Todos os atores convencem (inclusive Riley Keough quando toca violão meio sem jeito enquanto compõe – ela não domina o violão, mas toca os acordes pra apresentar a música para os companheiros de banda), menos a Suki Waterhouse como tecladista. Ok, um tecladista ou pianista pode interpretar bem sem mostrar as mãos, mas, teve uma cena em particular onde parece que ela está usando pick up de DJ, enquanto mexe em drawbars de um órgão Hammond!

A série é baseada no livro “Daisy Jones and The Six, Uma história de amor e música”, da escritora Taylor Jenkins Reid. Não li o livro, não sei se a série é fiel, mas tenho algumas críticas. A história da banda é muito boa, mas tem uma história paralela sobre a Simone, amiga da protagonista Daisy Jones, que tenta carreira como cantora disco. E essa história paralela é bem mais fraca que a história principal. Digo mais: o episódio onde Daisy vai pra Grécia e se casa é completamente dispensável. Podia ter um episódio a menos, e quando ela aparecesse com o marido, era só apresentá-lo.

Sobre o elenco, tem um problema recorrente em Hollywood, que é a idade dos atores. Sam Claffin tem 36 anos, e precisa convencer como um jovem recém saído da escola no início da banda. E como temos todo o elenco em diferentes épocas, esse problema acontece com todos. Mas, se a gente relevar esse detalhe, o elenco está bem.

Riley Keough é filha de Lisa Marie Presley e neta de Elvis Presley, e nunca tinha interpretado uma cantora (ela estava no filme The Runaways, mas interpretava a irmã da vocalista). Ela convence aqui como um dos dois principais nomes, e ela funciona bem ao lado de Sam Claffin, que também está bem. Sobre o resto da banda, tive um problema com Will Harrison e Josh Whitehouse, que fazem o guitarrista e o baixista, porque achei os personagens muito parecidos (só consegui diferenciar um do outro no décimo episódio!). Completam a banda Suki Waterhouse e Sebastian Chacon, o baterista, que é um dos melhores personagens. Um nome relativamente conhecido num papel menor é Timothy Olyphant, como um empresário que ajuda a banda. Ainda no elenco, Camila Morrone, Tom Wright e Nabiyah Be.

O último episódio traz um plot twist que achei bem legal, mas não contarei por aqui porque não gosto de spoilers.

Enola Holmes

Crítica – Enola Holmes

Sinopse (imdb): Quando Enola Holmes – a irmã adolescente de Sherlock – descobre que sua mãe está desaparecida, ela sai para encontrá-la, tornando-se uma super-detetive por conta própria enquanto supera seu famoso irmão e desvenda uma perigosa conspiração em torno de um misterioso jovem lorde.

Produção da Netflix, Enola Holmes (idem no original) é a adaptação do livro Os Mistérios de Enola Holmes – O Caso do Marquês Desaparecido, primeiro volume de uma série de seis livros (até agora), escritos por Nancy Springer. Com a Millie Bobby Brown (a Eleven de Stranger Things) no papel título (e também na produção), a Netflix tenta emplacar uma nova franquia infanto juvenil.

Vamos primeiro ao que funcionou no filme dirigido por Harry Bradbeer, que tem um monte de séries de TV mas poucos filmes no currículo. Enola Holmes tem um bom ritmo, e cumpre o que se propõe: é um filme divertido. A reconstituição de época também está boa (mesmo abusando dos efeitos digitais), e o filme traz questões sociais importantes sem soar didático.

E precisamos falar de Millie Bobby Brown: ela é jovem, bonita, talentosa e carismática. É agradável vê-la na tela, e ela aparenta estar bem à vontade com a personagem. Henry Cavill, um dos dois maiores nomes do elenco, aparece bem como um Sherlock coadjuvante. Não gostei muito do outro grande nome, Helena Bonham Carter, mas não pela atriz e sim pela personagem – as motivações para o sumiço dela não me convenceram. Sam Claflin e Louis Partridge também estão bem.

Mas, vamos ao que me incomodou. O filme é da Enola “Holmes”, que é irmã do Sherlock. Quem vai ver uma história do Sherlock quer ver mais dedução. Tive a impressão que, se a protagonista tivesse outro sobrenome, o filme poderia ser o mesmo.

Outra coisa: o recurso da quebra da quarta parede me cansou. Ok, isso ajuda a aproximar a personagem do público, e cai bem numa produção infanto-juvenil. Mas aqui é o tempo todo! Na minha humilde opinião, podiam ter cortado algumas dessas cenas.

Mas o pior de tudo é que Enola Holmes é um filme esquecível. Conversei com amigos que tiveram a mesma impressão. Acaba o filme, e a gente esqueceu do que viu. Ok, existe espaço para diversões leves, mas o filme poderia ser mais memorável.

Mas parece que a recepção geral está boa. Então aguardem, devemos ter em breve mais um filme da Holmes adolescente.

Jogos Vorazes

Crítica – Jogos Vorazes

Mais uma franquia baseada em sucesso literário…

No futuro, meninos e meninas entre 12 e 18 anos são sorteados para participarem de um reality show mortal onde o objetivo é ser o único sobrevivente. Quando sua irmã pequena é sorteada, Katniss Everdeen se voluntaria para ir no lugar dela.

Jogos Vorazes (The Hunger Games, no original) está sendo vendido para o mesmo público da série Crepúsculo. Mas a única coisa que eles têm em comum é o fato de serem franquias baseadas em séries de livros direcionados ao público jovem. Porque os filmes nada têm a ver um com o outro!

Se Jogos Vorazes nada tem a ver com Crepúsculo, o mesmo não pode se dizer sobre Battle Royale. Suzanne Collins, autora do livro (e que também trabalhou no roteiro) declarou que não conhecia o filme japonês – que também é uma adaptação. Mas a premissa de ambos filmes é bem parecida: uma sociedade totalitária no futuro onde jovens são colocados em um jogo de onde só pode sair um vivo. Tem até um antagonista que entrou de propósito no jogo! O sistema de contagem também é bem parecido.

A premissa é parecida, mas o roteiro não chega a ser um plágio. Além disso, o formato é diferente: Battle Royale era quase um trash; Jogos Vorazes é uma superprodução com bons atores e parte técnica bem cuidada – um blockbuster como manda a cartilha hollywoodiana.

O diretor Gary Ross não é um nome muito conhecido, este é apenas seu terceiro filme (ele também fez A Vida em Preto E Branco e Seabiscuit – Alma de Herói). E ele faz um bom trabalho, ajudado pelo bom elenco. O grande nome é a protagonista Jennifer Lawrence, que já tinha mostrado talento mandando bem no X-Men Primeira Classe, além da indicação ao Oscar de melhor atriz por Inverno na Alma. Josh Hutcherson (Minhas Mães e Meu Pai, Viagem 2) é um bom coadjuvante e não atrapalha. Alguns dos atores mais velhos estão com a mesma cara de sempre, como Woody Harrelson e Donald Sutherland; outros estão mais difíceis de reconhecer, como Elizabeth Banks e sua maquiagem que parece saída de Alice no País das Maravilhas, ou Wes Bentley e sua barba “divertida”, ou ainda Stanley Tucci e seu cabelo azul. E não podemos nos esquecer de reparar em Lenny Kravitz, num papel que nada tem a ver com música. Ah, e pra quem gostou de A Órfã, reparem que a menina Isabelle Fuhrman cresceu, ela é a vilã Clove.

Jogos Vorazes é bom, mas nem tudo funciona. O jogo em si é mal explorado, algumas mortes acontecem rápido demais. O mesmo digo sobre o vilão Cato, que ficou sub-aproveitado. E definitivamente não gostei do modo como os bichos foram inseridos na parte final do jogo, ficou parecendo algo “mágico”, incoerente num mundo essencialmente tecnológico – funcionaria num universo mais “harrypotteriano”… Mas mesmo assim o saldo final é positivo. Jogos Vorazes é um filme empolgante, com mais pontos positivos do que negativos. Um bom começo de franquia!

Li algumas críticas sobre a violência presente no filme. Na verdade, as mortes mostram pouca coisa – o problema é que vemos crianças morrendo, e isso nunca é legal. Bem, como isso faz parte da trama do livro, era algo necessário na adaptação. Na minha humilde opinião, o maior problema não está na violência, e sim no público alvo. Jogos Vorazes é vendido como um filme infanto-juvenil. Juvenil tudo bem, mas esse “infanto” ficou estranho…

O fim traz uma agradável surpresa (sem spoilers!): a história é fechada! Todo mundo sabe que são três livros, então devemos ter mais duas continuações. Mas, em vez de ganchos e situações deixadas em aberto, a história termina de forma satisfatória. Existe espaço para seguir com a saga, claro, mas se terminasse assim, não seria ruim – mais ou menos como o primeiro Guerra nas Estrelas.

Happy Hunger Games, and  may the odds be ever in your favor!

.

.

Se você gostou de Jogos Vorazes, o Blog do Heu recomenda:
Battle Royale
O Show de Truman
O Sobrevivente