Borderlands: O Destino do Universo Está em Jogo

Critica – Borderlands: O Destino do Universo Está em Jogo

Sinopse (imdb): Uma infame caçadora de recompensas retorna ao lugar onde cresceu, o caótico planeta Pandora, e forma uma aliança inesperada com uma equipe de desajustados para encontrar a filha desaparecida do homem mais poderoso do universo.

Confesso que rolava uma certa curiosidade sobre esse filme. Baseado em videogame, com direção de Eli Roth, e com Cate Blanchet, Jamie Lee Curtis e Jack Black no elenco. Mas, uma sessão de imprensa na véspera da estreia, com embargo até o dia da estreia, era um sinal claro de que a distribuidora não confiava no potencial do filme.

E infelizmente a distribuidora estava certa. Borderlands: O Destino do Universo Está em Jogo (Borderlands, no original) não é bom.

Me pareceu que o principal problema é que estamos diante de um trash, mas que tem medo de se reconhecer como tal. Tudo aqui é caricato. Se a produção se assumisse trash, o filme seria bem mais divertido. Abracem o trash, galera!

E tem uma coisa que sinceramente não entendi: pra que chamar uma atriz do porte da Cate Blanchett, ganhadora de dois Oscars (O Aviador e Blue Jasmine) para um filme desses? Qualquer atriz meia boca servia pro papel. Foi um grande desperdício de talento. (E nem estou falando de Jamie Lee Curtis, que ganhou Oscar ano passado por Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, mas que acho que está num momento da carreira que aceitaria um filme desses).

A direção é de Eli Roth, que ficou conhecido nos anos 2000 por ter dirigido O Albergue e por ter feito um dos principais papéis de Bastardos Inglórios. Roth tem um bom currículo no terror e no gore, e ano passado fez o bom Feriado Sangrento. Taí, Roth podia ter puxado o espírito do filme pro trash e pra galhofa. Pena que não o fez.

Borderlands parece uma mistura de Mercenários das Galáxias com Esquadrão Suicida, e é literalmente um “filme baseado em videogame”. O roteiro não segue o “formato Syd Field” com três atos, parece mais que estamos vendo seguidas fases de um videogame. Acabou uma fase, começamos a fase seguinte. Chega ao ponto de ter uma espécie de “regeneração” – vejam que em uma das fases o robô leva muitos tiros, mas num passe de mágica ele volta ao visual anterior.

Claro, como num videogame, várias coisas não fazem sentido, como por exemplo um líquido super corrosivo, que “destrói tudo, menos os cristais que já estavam na caverna” – mas que depois vemos esse líquido dentro de encanamentos. Afinal, deve correr tudo, menos os cristais e aqueles canos.

E o pior está guardado pro final, quando acontece uma espécie de plot twist e um dos personagens ganha super poderes e o Borderlands vira filme de super herói. “De longe, o final parece ruim, de perto, parece que está de longe”.

O filme se passa em uma realidade paralela à nossa, então não temos muitas músicas pop embalando as cenas, coisa que costuma ser bastante comum nos dias de hoje. Mas tem uma cena usando Ace of Spades, do Motörhead, que é uma cena muito boa, talvez a melhor do filme. Ok, clichê, música rock’n’roll rolando enquanto vemos tiro porrada e bomba. Clichê, mas funciona. Mas, ora, se tem Motörhead em uma cena, por que não usar outras músicas conhecidas? É uma cena boa, mas parece fazer parte de outro filme.

O elenco é muito bom, mas… Todos estão exagerados. Fica difícil julgar o trabalho de um ator quando o filme é tão caricato assim. Além das já citadas Cate Blanchett e Jamie Lee Curtis, Borderlands conta com Ariana Greenblatt, Kevin Hart, Florian Munteanu e Edgar Ramírez. Nenhum deles está bem. Do elenco, heu só salvo o Jack Black, que faz a voz do robô. É o alívio cômico, ele faz piada o filme inteiro, talvez esteja um pouco demais. Mas reconheço que gostei de algumas. Ri alto na cena da flor.

Enfim, Borderlands não e um total lixo. Mas fica a sensação de que podia ter sido muito melhor. Esperamos que não vire franquia!

Tár

Tár

Sinopse (imdb): Situado no mundo internacional da música clássica ocidental, o filme é centrado em Lydia Tár, amplamente considerada uma das maiores compositoras-regentes vivas e a primeira diretora musical de uma grande orquestra alemã.

Bora pra mais um filme da lista do Oscar!

Tár (idem, no original) é o novo filme escrito e dirigido Todd Field. É apenas seu terceiro filme como diretor, e, curiosamente, seus filmes anteriores são de muitos anos atrás (Pecados Íntimos, de 2006; Entre Quatro Paredes, de 2001). Mas, o cara deve ter alguma moral nos bastidores, já que Tár é um projeto ambicioso.

Tenho três destaques para citar. O primeiro é a atuação da Cate Blanchett. Ela aprendeu alemão e aprendeu a reger uma orquestra. E ela está realmente sensacional interpretando Lydia Tár, a maestrina super premiada, inteligente e arrogante. Ainda acho que o Oscar vai para Michelle Williams por Fabelmans, mas se for para Cate Blanchett, ninguém vai reclamar.

Também preciso falar da parte musical. No post sobre Missa da Meia Noite, comentei sobre música diegética e não diegética. A música diegética é quando os personagens estão ouvindo – por exemplo, quando alguém liga um rádio ou toca um instrumento. Toda a música diegética de Tár foi executada pelo elenco. Cate Blanchett realmente toca o piano e rege a orquestra. Sophie Kauer, que faz a violoncelista Olga, nunca tinha atuado, ela era uma violoncelista que aprendeu a atuar. Isso faz uma enorme diferença na tela!

Por fim, não escondo de ninguém que curto planos sequência. E tem um muito bom aqui. Nada tão mirabolante como Babilônia, que comentei semana passada, mas mesmo assim, impressionante. Se lá a proposta era um caos organizado, aqui o foco é o diálogo. Lydia Tár está numa aula e desafia um aluno, que não gosta de Bach porque ele era branco, hétero e com muitos filhos. A câmera vai e volta, os atores vão e vem, tocam piano, e é uma cena longa, pouco mais de dez minutos! Melhor cena do filme, de longe!

Dito tudo isso, preciso dizer que reconheço os méritos de Tár, mas acho um exagero tantas indicações ao Oscar. É um bom filme, mas, tirando a indicação da Cate Blanchett, na minha humilde opinião o filme não deveria ser indicado às outras cinco estatuetas: filme, direção, roteiro original, edição e cinematografia. Além disso, é longo demais, são mais de duas horas e meia, chega a cansar.

Vale pela Cate Blanchett!

Pinóquio por Guillermo Del Toro

Crítica – Pinóquio por Guillermo Del Toro

Sinopse (imdb): Uma versão mais sombria do clássico conto de fadas infantil, onde um boneco de madeira se transforma em um menino vivo de verdade.

Quem diria que poucos meses depois daquele desastroso Pinóquio da Disney a gente teria outro Pinóquio, desta vez digno de constar em uma lista de melhores do ano?

Sou muito fã de stop motion. Tenho uma teoria de que como é um estilo muito mais difícil que outras animações, só quem é muito apaixonado por cinema trabalha fazendo longas em stop motion. Sendo assim, temos muitos exemplos de bons filmes usando essa técnica, como O Estranho Mundo de Jack, Noiva Cadáver e Frankenweenie do Tim Burton, O Fantástico Sr. Raposo e Ilha dos Cachorros do Wes Anderson, os filmes da Laika como Coraline, Paranorman e Kubo, ou os filmes da Aardman como Wallace & Gromit e Shaun o Carneiro (que são mais infantis, mas mesmo assim são bem divertidos).

(Ok, admito que não gostei de Anomalisa. Chaaaato…)

Assim como vários dos filmes citados aí em cima, este Pinóquio é infantil e ao mesmo tempo não é. Temos a história do boneco que ganha vida, mas ao mesmo tempo tem uma pegada de filme de terror. Guillermo Del Toro tem uma característica não muito comum hoje em dia: ele é um dos poucos “autores” da Hollywood contemporânea. Seus filmes têm a cara do diretor: A Espinha do Diabo, Hellboy, O Labirinto do Fauno, A Forma da Água, O Beco do PesadeloPinóquio é coerente com sua filmografia.

(Ok, admito que Círculo de Fogo destoa da lista)

Mas, antes de tudo, precisamos lembrar que Del Toro não estava sozinho aqui, o filme é codirigido por Mark Gustafson. Heu procurei informações pela internet mas não achei, então vou dizer aqui o que acho que aconteceu. Del Toro anunciou que queria fazer uma versão de Pinóquio em 2008. De lá pra cá, ele dirigiu Círculo de Fogo, A Colina Escarlate, A Forma da Água e O Beco do Pesadelo – além de videogames, séries de tv, e ainda escreveu roteiro de vários filmes (incluindo a trilogia O Hobbit). O que me parece que aconteceu foi que ele deve ter combinado com Gustafson algo do tipo “você vai tocando o projeto e a gente vai se falando, estarei por perto pro filme continuar com a minha cara”. Será que foi assim?

Finalmente, vamos ao filme? Confesso que não conheço a história original, só conheço a da Disney. Muita coisa aqui é diferente, mas não sei se foi o Del Toro que mudou ou se foi a Disney na adaptação da década de 40. Independente disso, o visual aqui é bem legal: o Pinóquio é um boneco de madeira, não quer ser um menino com cara de menino. E o grilo não ganhou feições humanas, um visual antropomórfico como é o comum em produções assim, ele continua sendo um grilo.

Aliás, a gente precisa reconhecer que o visual de todo o filme é um espetáculo. Cada detalhe de cenário, cada detalhe de movimentação de bonequinho, tudo é perfeito! São planos longos, muitas vezes com a câmera em movimento! Imagina a loucura de você sincronizar o movimento da câmera junto com o movimento dos bonecos, tirando 24 fotos a cada segundo? Falei aqui semana passada de Avatar, e digo que o visual de Pinóquio é ainda mais impressionante.

(Pinóquio tem uma hora e cinquenta e sete minutos. Voltei na Netflix pra ver, o filme para mais ou menos em uma hora e cinquenta (quando já estão rolando os créditos mas o Grilo ainda está cantando e dançando). Se forem 24 fotos por segundo, ao longo de uma hora e cinquenta minutos, são 158.400 fotos!!!)

Pinóquio trata de alguns temas bem adultos. Um deles é a morte. Logo no início a gente vê que Geppetto perdeu o filho. Quem me conhece sabe, esse é um tema delicado pra mim, nesse momento quase pausei o filme. Mas segui em frente e posso dizer que esse tema é abordado de uma maneira bonita e delicada (lembrei de Festa no Céu, produção do Del Toro, que também lida com a morte).

Além de morte, o filme também fala de guerra, de preconceito e outros temas adultos – o Geppetto está bêbado quando constrói o boneco! Mas o Pinóquio, inocente, que está descobrindo tudo no mundo, é um personagem tão cativante, que traz leveza a todos os temas mais pesados.

O filme tem músicas compostas por Alexandre Desplat. Normalmente sou fã das músicas dos filmes, mas desta vez preciso admitir que nenhuma delas entrou na minha cabeça. Não são ruins, apenas não são marcantes.

O elenco é impressionante. Pinóquio e Geppetto não são dublados por nomes muito conhecidos, mas o filme conta com Ewan McGregor, Christoph Waltz, Tilda Swinton, Ron Perlman, John Turturro, Finn Wolfhard, Tim Blake Nelson e Cate Blanchett. Detalhe: Cate Blanchett trabalhou com Del Toro em Beco do Pesadelo e disse que queria participar do Pinóquio, mas todos os personagens importantes já tinham elenco escalado. Então ela entrou fazendo a voz do macaco Spazzatura! Imagina a moral do Del Toro, usar uma atriz do porte da Cate Blanchett num papel onde ela não tem diálogos!

Heu poderia continuar aqui falando, mas chega. Se você ainda não viu, Veja! Ainda este mês este filme volta aqui no heuvi na lista dos dez melhores do ano.

O Beco do Pesadelo

Crítica – O Beco do Pesadelo

Sinopse (imdb): Um jovem ambicioso com talento para manipular pessoas com algumas palavras bem escolhidas junta-se a uma psiquiatra que é ainda mais perigosa do que ele.

Apesar de ter uma carreira irregular, Guillermo del Toro sempre vai estar no meu radar. Sim, o cara fez Pacific Rim e A Colina Escarlate, mas ele também fez A Espinha do Diabo e O Labirinto do Fauno (e Blade 2, e os dois Hellboy). E não podemos nos esquecer que seu último filme, A Forma da Água, ganhou o Oscar de melhor filme e melhor diretor (além de ter entrado no top 10 de 2018 aqui no heuvi).

O Beco do Pesadelo (Nightmare Alley, no original) traz tudo o que se espera num filme do del Toro. Elementos fantásticos, monstros (mesmo sem o filme entrar no sobrenatural), um pé no bizarro e outro no grotesco, e tudo isso embalado em um requinte visual extremamente bem cuidado.

Pena que o filme é chato. Vamulá.

O visual do filme é um espetáculo. Cenários, figurinos, props, todos os detalhes mostrados em tela são cuidadosamente escolhidos. A primeira parte do filme mostra aqueles circos dos horrores que existiam décadas atrás, com pessoas “diferentes”. O filme não mostra nada de sobrenatural, mas os elementos fantásticos estão nas atrações do circo.

O Beco do Pesadelo não é exatamente terror, está mais para uma espécie de film noir (principalmente na segunda metade), e todo esse visual ajuda. Como A Forma da Água levou os principais Oscars em 2018, provavelmente a Academia vai ficar de olho em O Beco do Pesadelo e teremos indicações a Oscars nessa área – de fotografia, direção de arte, de repente até melhor cabelo e maquiagem.

Ah, falando da maquiagem, citei lá em cima “um pé no grotesco”. Normalmente quando um filme mostra gore, foca no gore justamente para chocar. Se não é pra chocar, não precisa de gore. Del Toro usa o gore de uma maneira diferente do usual. Um exemplo: em determinado momento um personagem leva um tiro na orelha, e ficam pedaços de orelha pendurados. Se fosse só pra chocar por chocar, del Toro faria closes para aumentar a exposição da orelha despedaçada. Mas não, a orelha está lá, ao fundo…

Agora, o filme é longo demais, e cansa em alguns momentos. São duas horas e meia, e a gente se pergunta se precisava de tudo isso. Existe outra versão desta mesma história, no filme O Beco das Almas Perdidas, de 1947. Este não é uma refilmagem daquele, del Toro usou o mesmo livro original, escrito por William Lindsay Gresham, e fez uma nova adaptação. Não vi o filme anterior, mas sei que ele tem 40 minutos a menos. Se esta nova versão tivesse 40 minutos a menos, provavelmente ia ser menos cansativo.

Pelo menos a parte final é boa. A última meia hora do filme é tensa e tem um ótimo ritmo. Pelo menos a gente sai do cinema empolgado.

O elenco é muito bom. Bradley Cooper está bem, e precisa estar, já que o filme é todo em cima do seu personagem. Cate Blanchett, Toni Collette e Rooney Mara dividem a tela com o protagonista, em fases diferentes do filme. Willem Dafoe está bem, mas aparece pouco. Também no elenco, Richard Jenkins, Ron Perlman, David Strathairn, e breves participações de Mary Steenburgen e Tim Blake Nelson.

Ao fim, me lembrei de A Colina Escarlate. Um belo filme, mas chato.

Não Olhe Para Cima

Crítica – Não Olhe Para Cima

Sinopse (imdb): Conta a história de dois astrônomos que participam de uma gigantesca cobertura de imprensa para alertar a humanidade sobre a aproximação de um cometa que destruirá a Terra.

Um pouco atrasado, vamos falar de Não Olhe Para Cima. Ia escrever aqui semana passada, mas resolvi fazer os posts de retrospectiva e expectativas. Bem, vamos ao filme.

Tem dois tipos de pessoas que se incomodaram com Não Olhe Para Cima – existe o lado social e o lado cinematográfico. Vamos por partes. Não Olhe Para Cima é o filme novo de Adam Mckey. Se a gente analisar os seus dois últimos filmes, podemos ver um padrão em pelo menos dois aspectos: um bom trabalho com os atores, e uma edição nada convencional. Essa parte da edição sei que vai incomodar muita gente. Pra citar um exemplo claro: em Vice, seu filme anterior, sobem os créditos finais no meio do filme! Aqui em Não Olhe Para Cima não tem nada tão radical, mas mesmo assim, estamos longe da narrativa convencional (em determinado momento do filme aparece um QR Code na tela, que direciona a um clipe da Ariana Grande).

Pra curtir Não Olhe Para Cima tem que embarcar na proposta do diretor. Conheço gente que simplesmente largou o filme no meio por causa dessas maluquices.

Além disso tem a parte ideológica. Não Olhe Para Cima foi criado para criticar o aquecimento global. Mas, pelo menos aqui no Brasil polarizado de 2021, virou uma cutucada explícita nos negacionistas da vacina. E vários aspectos são muito semelhantes a situações vividas aqui no Brasil, inclusive tem personagens que parecem inspirados em pessoas da nossa política. Mas, existem dezenas de textos analisando o filme sob este ângulo, então aqui no heuvi vou focar mais no lado cinematográfico, ok?

O destaque, claro, é o elenco. Só de ganhadores do Oscar, são cinco: Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence, Meryl Streep, Cate Blanchett e Mark Rylance; e ainda tem outros dois que já foram indicados (Jonah Hill e Timothée Chalamet). E ainda tem Rob Morgan, Ron Perlman, Tyler Perry, Ariana Grande, Himesh Patel e Melanie Lynskey. E ainda tem uma ponta do Chris Evans!

De um modo geral, todos estão bem. Se for pra escolher um destaque, seria o Leonardo DiCaprio, quem tem um personagem melhor desenvolvido e com mais camadas. E se for escolher um destaque negativo, seria Meryl Streep. Não, ela não está mal, Meryl Streep não consegue atuar mal nunca, mas ela está apenas ok. Já vi filmes fracos onde o destaque era a atuação da Meryl Streep, ela estar apenas ok não é aceitável.

(Uma pequena curiosidade: o personagem de DiCaprio é casado com Melanie Lynskey. E cada um dos dois tem um filme marcante na carreira onde o par romântico é a Kate Winslet – Titanic (97) e Almas Gêmeas (94).)

O roteiro e a direção de Adam McKay acertam o ponto exato da comédia. No início de sua carreira, McKay fez alguns filmes com Will Ferrell, filmes que até têm seus bons momentos, mas têm muitas piadas bobas. Depois McKay entrou numa fase mais “séria”, trocando o humor escrachado pela ironia, nos filmes A Grande Aposta e Vice. Na minha humilde opinião, Não Olhe Para Cima é o seu melhor trabalho, com uma edição precisa e bons efeitos especiais nos momentos do meteoro.

Teve uma coisa que não gostei. A ameaça é mundial, e quase todo o filme só mostra como se fosse um problema só nos EUA – tem uma breve cena onde falam de um plano frustrado envolvendo China, Rússia e Índia. Acho que seria melhor mostrar núcleos em outros países, a trama ia ficar mais rica.

Mesmo assim, o resultado final ficou muito bom. É uma comédia com humor ácido, que acerta o ponto exato na crítica.

Ah, são duas cenas pós créditos. Tem uma piadinha lááá no fim, coisa incomum quando se trata de Netflix – normalmente eles não deixam ver os créditos e te jogam pra ver outro filme / série.

Como Treinar Seu Dragão 3

Crítica – Como Treinar Seu Dragão 3

Sinopse (imdb): Quando Soluço descobre que Banguela não é o único Fúria da Noite, ele deve procurar “O Mundo Oculto”, uma secreta Utopia de Dragões, antes que um tirano contratado chamado Grimmel a encontre primeiro.

Depois dos filmes de 2010 e 2014, vamos à conclusão da boa trilogia.

Escrito e dirigido pelo mesmo Dean DeBlois dos dois primeiros filmes, Como Treinar seu Dragão 3 (How to Train Your Dragon: The Hidden World, no original) traz mais uma vez os habitantes de Berk, vikings que aprenderam a viver em paz com os dragões em vez de caçá-los. Agora adulto, Soluço precisa aprender a ser líder, e também aprender a deixar que Banguela siga o seu caminho.

Como Treinar seu Dragão 3 usa bom humor e personagens carismáticos para mostrar uma história de amadurecimento. Não gostei do vilão, achei que faltou um background para ele (como ele consegue dominar dragões daquele jeito? por que ele odeia os Fúrias da Noite?), mas nada que atrapalhe muito.

O visual dos filmes da saga Como Treinar seu Dragão sempre chamou a atenção, e aqui podemos falar o mesmo. A animação é de cair o queixo. Tem uma cena numa praia onde a textura da areia é tão perfeita que parece que alguém filmou. E a sequência do santuário dos dragões é digna de entrar num ranking de melhores visuais fantásticos.

O elenco gringo repete os nomes dos filmes anteriores (Gerard Butler, Cate Blanchett, Jonah Hill, Kit Harington, Kristen Wiig, Jay Baruchel, Christopher Mintz-Plasse e America Ferrera), e ainda traz F. Murray Abraham como o vilão. Mas, por aqui, acho que só dublado mesmo. Pelo menos a dublagem é boa.

Com este terceiro filme, a saga ganha uma boa conclusão. Não termina com um gancho para um quarto filme, mas os gananciosos executivos de Hollywood sempre podem inventar uma nova continuação. Tomara que não. Que a trilogia termine assim, mantendo a qualidade.

O Mistério do Relógio na Parede

Crítica – O Mistério do Relógio na Parede

Sinopse (imdb): Um jovem órfão chamado Lewis Barnavelt ajuda seu tio mágico a localizar um relógio com o poder de trazer o fim do mundo.

Filme de fantasia infanto-juvenil, escrito por Eric Kripke (criador da série Supernatural) e dirigido por Eli Roth. Será que funciona?

Baseado no livro homônimo de John Bellairs, O Mistério do Relógio na Parede (The House with a Clock in Its Walls, no original) traz uma boa ambientação e um bom elenco, numa história um pouco sem sal. E a direção de Eli Roth traz algumas cenas um pouco mais fortes na parte final, mas nada que atrapalhe a diversão da criançada.

(Eli Roth surgiu para o cinema com filmes de terror caprichados no gore, com Cabana do Inferno (2002) e O Albergue (05). Mas não sei por que, ele tem mudado de estilo. Em 2015, lançou Bata Antes de Entrar, suspense com zero gore, e este ano este é seu segundo filme, depois do policial Desejo de Matar.)

Vamos ao que funciona. Cate Blanchett está maravilhosa, como sempre, e mostra boa química com Jack Black, interpretando o mesmo Jack Black de sempre, mas que funciona para o que o filme pede. Os diálogos entre os dois são ótimos! O garoto Owen Vaccaro era pra ser o personagem principal, mas o roteiro espertamente divide o tempo de tela com Blanchett e Black (o que foi uma boa escolha). Também no elenco, Kyle MacLachlan, Renée Elise Goldsberry, Sunny Suljic e Lorenza Izzo.

Agora, O Mistério do Relógio na Parede sofre pela impressão de “já vi isso antes”. Não só tem cheiro de Harry Potter ao longo de todo o filme (garoto órfão aprendendo a ser bruxo), como parece uma versão de Desventuras em Série dirigida pelo Tim Burton.

Parece que John Bellairs escreveu uma trilogia. Ou seja, aguardem as continuações…

Oito Mulheres e um Segredo

Oito Mulheres e um SegredoCrítica – Oito Mulheres e um Segredo

Sinopse (imdb): Debbie Ocean reúne uma equipe exclusivamente feminina para tentar um assalto impossível no Met Gala anual de Nova York.

Se a gente olhar o panorama do cinema de hoje em dia, duas coisas muito comuns são mulheres no comando e ideias recicladas. Por que não juntar as duas coisas?

Oito Mulheres e um Segredo (Ocean’s Eight, no original) é um spin off da trilogia Onze Homens e um Segredo / Doze Homens e Outro Segredo / Treze Homens e um Novo Segredo (não custa lembrar, o primeiro já era uma refilmagem do filme homônimo de 1960). Os três foram dirigidos por Steven Soderbergh, que aqui fica só na produção; Gary Ross (Jogos Vorazes) assume a cadeira de diretor e faz um bom trabalho emulando o clima da franquia.

Uma das características da franquia era o grande star power do elenco – não é qualquer filme que reune George Clooney, Brad Pitt, Matt Damon e Julia Roberts. Essa característica continua presente – um dos trunfos do filme é contar com o talento e o carisma de Sandra Bullock, Cate Blanchet, Anne Hathaway e Helena Bonham Carter. O elenco ainda conta com Rihanna, Sarah Paulson, Mindy Kaling, Awkwafina, James Corden e Richard Armitage, além de pontas de Elliot Gould (pra “validar a franquia”), Dakota Fanning e Griffin Dunne, além de algumas celebridades interpretando elas mesmas no baile, como Katie Holmes e Heidi Klum.

O filme segue num ritmo ágil, embalado por uma ótima trilha sonora. Tudo é tão leve e divertido que a gente até releva os vários furos no roteiro. Sim, Oito Mulheres e um Segredo é daqueles filmes que a gente só se diverte se não levar a sério.

A história fecha no fim, mas não vai ser surpresa para ninguém se em breve tivermos uma continuação. Assim como não será surpresa se misturarem este elenco com atores da trilogia original.

p.s.: Só heu acho que o nome do filme é um spoiler?

Thor: Ragnarok

ThorCrítica – Thor: Ragnarok

Sinopse (imdb): Aprisionado, o todo-poderoso Thor encontra-se em uma disputa mortal de gladiadores contra o Hulk, seu ex-aliado. Thor deve lutar pela sobrevivência e correr contra o tempo para evitar que a poderosa Hela destrua sua casa e a civilização Asgardiana.

Hoje, em 2017, todo mundo já sabe o modus operandi do MCU (Marvel Cinematic Universe). O espectador sabe que vai encontrar um filme com ação e humor, muito bem feito tecnicamente, e com referências ao universo Marvel. Gostem ou não, a Marvel descobriu uma fórmula eficiente e vai continuar investindo neste formato.

Bem, quem costuma reclamar são os fãs da DC. Heu acho ótimo. Enquanto mantiverem a máxima luisseverianoribeira “cinema é a maior diversão”, continuarei vendo e curtindo os filmes.

Thor: Ragnarok (idem, no original) é muito bom. Parece uma continuação de Guardiões da Galáxia – uma aventura espacial divertida e colorida. Sim, este terceiro filme tem um pé fortemente fincado na comédia, bem mais que os dois primeiros.

Mais uma vez, a Marvel mostra que faz “filmes de produtor” e não “de diretor”. Se o primeiro Thor teve Kenneth Brannagh, a direção aqui coube a Taika Waititi, um neo zelandês com um currículo bem modesto. E, pelo resultado final, parece que a Marvel estava certa.

O visual do filme é muito legal. Planetas diferentes, personagens esquisitos, tudo muito colorido, o visual lembra os filmes dos anos 80 (mas com efeitos especiais de hoje). A trilha sonora de Mark Mothersbaugh (que era do Devo) ajuda a manter o clima oitentista. Detalhe: não é que nem Guardiões, que traz músicas antigas conhecidas – Mothersbaugh compôs temas instrumentais inéditos, mas com cara de anos 80. O visual só pisou na bola em alguns efeitos de maquiagem digital – talvez fosse melhor menos cgi e mais maquiagem “de verdade” em algumas cenas.

Um parágrafo pra falar do trailer spoilerento. Quem me conhece sabe que de um tempo pra cá tenho evitado trailers, mas não consegui escapar desta vez. O trailer é muito bom, super empolgante. Mas traz duas cenas que seriam muito mais empolgantes se vistas direto no filme. Mais um caso de filme que vale mais pra quem não viu o trailer…

O elenco, como sempre, é muito bom – o prestígio e o dinheiro do MCU tornam o casting uma tarefa fácil. Cate Blanchett, com seus dois Oscars, disse que queria fazer um filme da Marvel porque seus filhos são fãs – claro que ela ia mandar bem. Chris Hemsworth, Tom Hiddleston, Mark Ruffalo, Idris Elba, Anthony Hopkins e Benedict Cumberbatch voltam aos seus papeis; Tessa Thompson, Jeff Goldblum e Karl Urban são as novidades do elenco.

Como sempre, cenas pós créditos. Não saia antes do fim!

O Dom da Premonição (2000)

O Dom da PremoniçãoCrítica – O Dom da Premonição (2000)

Vamos de Sam Raimi de 15 anos atrás?

Em uma cidade pequena, uma mulher com percepção extra-sensorial pode ser a única esperança na investigação de um crime.

Sam Raimi normalmente é lembrado por suas trilogias mais famosas, Evil Dead (1981, 87 e 92) e Homem Aranha (2002, 04 e 07), mas ele fez muito mais coisas legais, como Um Plano Simples, Arraste-me Para o Inferno e este O Dom da Premonição (The Gift, no original).

Em 1998, Raimi dirigiu Billy Bob Thornton em Um Plano Simples. Thornton tinha ideia de um roteiro baseado nas experiências psíquicas de sua própria mãe, então o escreveu em parceria com Tom Epperson. Dois anos depois, Thornton trabalharia junto novamente com Raimi, mas desta vez só como roteirista.

Com um bom roteiro e um elenco acima da média, O Dom da Premonição traz personagens que parecem escritos pelos irmãos Coen (amigos de longa data do diretor) em uma trama de suspense com um que de sobrenatural – boa mistura!

O papel principal é de Cate Blanchett, que já mostrava que era uma grande atriz antes de ganhar seus Oscars (por O Aviador em 2005 e Blue Jasmine em 2014). Claro que Cate é um dos destaques, mas quem chama a atenção é Giovanni Ribisi, num papel menor, mas que impressiona sempre que aparece. Também no elenco, Keanu Reeves, Hillary Swank, Greg Kinnear, J.K. Simmons, e Katie Holmes, em sua única cena de nudez na carreira (se não me engano).

Na minha humilde opinião, O Dom da Premonição pode ser colocado facilmente entre os melhores filmes de Sam Raimi!