Moana 2

Crítica – Moana 2

Sinopse (imdb): Após receber um chamado de seus ancestrais, Moana parte em uma jornada nos mares distantes da Oceania, desbravando águas perigosas, rumo a uma aventura diferente de todas as que já viveu.

Pelo menos pra mim foi uma surpresa saber que estava para estrear um segundo Moana em desenho animado, porque recentemente têm circulado imagens dos bastidores do live action, com o Dwayne Johnson repetindo o papel que ele dublou na animação. Não entendo de marketing de grandes estúdios, mas diria que não foi a melhor época pra se lançar Moana 2. Principalmente porque o filme é fraco.

Antes de tudo, farei o elogio óbvio: a parte técnica enche os olhos. A gente vê os poros das peles dos personagens, a gente vê os grãos de areia na praia. É tudo muito perfeito. Mas… Perfeição era o mínimo que se esperava de um estúdio do porte da Disney. Acho que ninguém vai se espantar ao ver uma animação onde a parte técnica é perfeita.

(Um breve parênteses pra falar da evolução da qualidade das animações. Os grandes estúdios chegaram a um estágio de excelência onde fica difícil de imaginar para onde poderia evoluir. Até que veio Homem Aranha no Aranhaverso e mudou o paradigma: agora o legal não é mais buscar a perfeição, e sim as pequenas imperfeições. A graça era explorar supostas falhas. Isso funcionou tão bem que criou uma nova tendência, seguida por títulos como Tartarugas Ninja, Gato de Botas 2 e Robô Selvagem. Mas a Disney se manteve no tradicional.)

Agora, se o visual é bem cuidado, o mesmo não podemos dizer sobre o roteiro. Só pra dar um exemplo: são muitos personagens secundários inúteis. A Moana sai numa jornada onde poderia estar acompanhada apenas do frango, do porco e de um coquinho pirata (todos estavam no primeiro filme). Mas resolveram criar uma “entourage” e colocaram mais três pessoas no barco. Resultado? Piadas repetidas e personagens que ninguém se importa.

Mas teve outra coisa que me incomodou ainda mais. Existe uma personagem, aparentemente uma vilã, aquela dos morcegos, que sequestra o Maui, que parecia ser uma boa personagem, daquelas que não sabemos exatamente se é do bem ou do mal. E no meio do filme a personagem some! A princípio achei que era uma falha gigante no roteiro, mas Moana 2 tem uma cena pós créditos onde ela volta. Ou seja, plantaram uma personagem, deixaram sua história incompleta, só pra criar um gancho pra um terceiro filme. Achei isso péssimo!

Existe outro problema, que é sobre as músicas. O primeiro Moana tem músicas muito boas, pelo menos duas delas podem constar em qualquer coletânea de melhores músicas da Disney. Este segundo é bem mais fraco neste aspecto. Gostei da música da vilã dos morcegos, mas já tinha esquecido da música ao fim do filme.

No fim, Moana 2 nem é tão ruim. Mas é tão inferior ao primeiro que fica a sensação de que deveria ter ido direto pro Disney+. Ou, ainda, pro Disney Channel.

Não se Mexa

Crítica – Não se Mexa

Sinopse (imdb): Uma mulher em luto é injetada com uma substância paralisante. Agora, ela precisará escapar de um assassino impiedoso antes de perder completamente os movimentos.

Existem filmes bons, daqueles que dão vontade de recomendar a todos. Existem filmes ruins, que dão vontade de avisar a todos que evitem. E existem algumas categorias no meio do caminho. Não se Mexa (Don’t Move, no original) é um filme apenas “competente”.

Dirigido pela dupla Brian Netto e Adam Schindler, Não se Mexa é um suspense com uma trama básica: uma mulher é sequestrada e drogada por um assassino serial. Sim, previsível e cheio de conveniências de roteiro, mas, quem estiver com expectativa baixa vai se divertir.

(Sam Raimi está na produção, mas deve ser daquele tipo de contrato onde ele recebeu um trocado pra ceder o nome pra ajudar a vender o filme.)

Com poucos personagens, poucas locações, Não se Mexa é um filme curtinho e tem um bom ritmo. Reconheço que comecei a ver com pretensão de pausar e terminar no dia seguinte, mas estava curtindo e fui até o fim.

Agora, a gente precisa meio que deixar o cérebro de lado e não pensar muito, porque tem algumas coisas bem forçadas. Um exemplo simples: a droga paralisa a protagonista. Então tem um momento onde a droga está começando o efeito, então ela está parcialmente paralisada, e, mais pro fim do filme, outro momento onde está perdendo o efeito, e ela começa a recuperar os movimentos. Na primeira vez, ela cai num rio, e mesmo sem conseguir nadar, flutua tranquilamente através de corredeiras. Já na segunda vez, num lago com água parada, ela afunda. Ué, por que ela agora não flutuou?

(Isso porque não vou falar da cena do policial, que parece querer o cargo de policial mais incompetente da história do cinema.)

No elenco, quase o filme todos é em cima dos pouco conhecidos Kelsey Asbille e Finn Wittrock, que servem para o que o filme precisa.

Não se Mexa está em cartaz na Netflix. Veja sem pensar muito.

La Mesita del Comedor / The Coffee Table

Crítica – La Mesita del Comedor

Sinopse (imdb): Jesus e Maria, um casal em dificuldades, tornam-se pais e decidem comprar uma mesa de centro, alterando suas vidas.

E vamos ao provável filme mais desconfortável do ano.

No halloween, rolou um especial do canal Super 8, onde quatro youtubers que acompanho falavam sobre os melhores filmes de terror do ano. Otavio Ugá, Nerd Rabugento, Getro e Lucas Maia comentaram durante 4 horas sobre 19 filmes de terror. Já tinha visto 13. Ok, vamos procurar os outros 6.

O primeiro da minha lista era o espanhol La Mesita del Comedor (ou The Coffee Table, em inglês), dirigido por Caye Casas. Um filme que vejo seus méritos, mas ao mesmo tempo me deixou tão desconfortável que quase desisti de comentar aqui. Reconheço a qualidade do filme, mas não tenho coragem de recomendá-lo pra ninguém.

Jesus e Maria são um casal onde ambos já têm uma certa idade, mas que só tiveram um filho agora. E acontece uma coisa – que não vou falar o que é – que abala totalmente a estrutura emocional de Jesus. O desconforto ainda piora pelas circunstâncias: a visita de seu irmão e a namorada muito mais nova, e uma vizinha adolescente obcecada por ele. A interpretação do ator David Pareja é impressionante!

(Os nomes “Jesus” e “Maria” me fizeram achar que teria algo ligado à Bíblia, mas não interpretei nada religioso na história.)

A cena inicial, quando o casal está comprando a tal mesinha de centro que dá título ao filme, dá a entender que veremos uma comédia. Mas não se deixe enganar: La Mesita del Comedor traz uma história pesada e traumatizante. Acho difícil alguém rir num filme desses.

A cena final é tão desconfortável que é daquelas que gruda na memória por dias depois do filme. Lembrei de Speak no Evil, outro filme que deixa uma sensação igualmente desconfortável. Speak no Evil teve uma refilmagem hollywoodiana com final mais palatável, será que um dia existirá uma versão deste com um final melhor?

La Mesita del Comedor ganhou prêmios de melhor roteiro e melhor ator no Fantaspoa do ano passado. Mais uma vez, reconheço os méritos. Mas não recomendo. Veja por sua conta e risco!

Lobos

Crítica – Lobos

Sinopse (imbd): Dois solucionadores rivais se cruzam quando ambos são chamados para encobrir o erro de uma importante figura pública de Nova York. Durante uma noite conturbada, eles terão que deixar de lado suas diferenças e egos para concluir o serviço.

Pulp Fiction é um filme genial em vários aspectos. Um dos vários méritos do filme é sua rica galeria de personagens. Harvey Keitel faz um papel pequeno: o mr. Wolf, uma pessoa para chamada para “resolver problemas”.

Agora, 30 anos depois, aparece um filme onde os dois personagens principais têm a mesma profissão do personagem de Pulp Fiction. E se alguém tiver dúvida se foi coincidência ou não, é só ver as placas dos carros, o carro do Harvey Keitel tem a placa 3ABM581; o do George Clooney, 3ABM582.

A melhor coisa de Lobos (Wolfs, no original) é a química entre seus dois protagonistas, Brad Pitt e George Clooney, que além de amigos na vida real, já trabalharam juntos em cinco outros filmes (a trilogia Onze Homens e um Segredo, Queime Depois de Ler, e uma breve aparição de Pitt em Confissões de uma Mente Perigosa, dirigido por Clooney). Tanto Pitt quanto Clooney estão ótimos individualmente, como um está perfeito ao lado do outro. Comentei recentemente sobre Operação Natal, um filme onde a dupla principal, Dwayne Johnson e Chris Evans, não está bem; aqui em Lobos é o oposto. A gente sente a química em cada troca de olhares entre os dois protagonistas

O roteiro e a direção são de Jon Watts, mais famoso por ter dirigido os três filmes recentes do Homem Aranha, De Volta ao Lar, Longe de Casa e Sem Volta para Casa (expulso de casa, fique em casa, etc). Gostei de como Watts conduz seu filme, vou procurar filmes anteriores dele. Alguns detalhes são muito bem sacados, como por exemplo a cena onde os dois protagonistas descobrem ao mesmo tempo que precisam de óculos pra ler o menu. E tem uma cena de atropelamento que é genial, uma cena que poderia constar em listas de melhores cenas do ano! Além disso, gostei da trilha sonora.

Depois de publicar meu texto sobre Anora, li algumas críticas comparando com Depois de Horas. Discordo. Na verdade, achei que Lobos lembra mais Depois de Horas: o filme todo se passa em uma noite, e os personagens vão se metendo em uma escalada de problemas que vai ficando pior a cada novo passo.

No elenco, claro que o destaque é da dupla principal. Mas Austin Abrams, o terceiro nome do elenco, também está bem. Ah, a voz ao telefone é de Frances McDormand, que também estava em Queime Depois de Ler com os dois protagonistas.

Talvez tenha gente reclamando que Lobos tem muitos clichês. Verdade, tem sim. Mas achei todos muito bem utilizados. Achei o filme divertidíssimo!

Herege

Crítica – Herege

Sinopse (imdb): Duas jovens missionárias tentam converter um homem, mas a situação se revela muito mais perigosa do que elas poderiam imaginar.

Confesso que fui ver Herege (Heretic, no original) com um pé atrás. Vi o trailer, gostei, aí fui no imdb ver quem tinha feito. Herege é escrito e dirigido por Scott Beck e Bryan Woods, mesma dupla que ano passado fez 65 Ameaça Pré Histórica, filme que errou em quase tudo.

Felizmente, trago boas noticias: em Herege, a dupla de roteiristas e diretores acertou em quase tudo!

Conhecemos duas jovens missionárias mórmons que estão visitando casas para divulgar sua religião. Até que visitam o personagem de Hugh Grant, um cara simpático, carismático e muito inteligente, que primeiro as coloca numa armadilha mental, pra depois evoluir para uma armadilha real.

Herege tem dois grandes trunfos. Um deles é o clima criado pelos cenários da casa velha e pelos excelentes diálogos que questionam vários dogmas de várias religiões. É um filme com muitos diálogos (na verdade, alguns são monólogos), e todos são bem escritos e bem conduzidos. E quase todo o filme se passa dentro da casa, o que cria um ótimo clima claustrofóbico.

Mas o melhor mesmo é a atuação de Hugh Grant. Ele sempre é lembrado pelas várias comédias românticas que fez (como Quatro Casamentos e um Funeral, Um Lugar Chamado Notting Hill ou O Diário de Bridget Jones), mas de uns anos pra cá tem feito papeis diferentes. Gostei dele em Magnatas do Crime e em Wonka. Mas aqui ele está ainda melhor. É um cara simpático e sedutor, seus diálogos são cativantes e conduzem o filme de uma maneira quase hipnotizante. E isso tudo sendo o vilão do filme! Pena que pequenos filmes de terror raramente entram no radar de grandes premiações, porque este papel poderia lhe render um prêmio!

As outras duas atrizes, Sophie Thatcher e Chloe East, também estão bem, mas o destaque sem dúvidas fica para Hugh Grant. E, curiosidade, o outro mórmon que aparece pouco é Topher Grace, de That 70s Show.

Falei lá no início que Herege acerta em quase tudo. O “quase” é porque o terço final muda um pouco o rumo do filme e rola uma quebra de ritmo. Não que fique ruim, mas preferi o clima anterior.

Um comentário sem spoilers sobre o fim: interpretei de um modo, quando acabou a sessão fui conversar com alguns amigos, e ouvi outras duas suposições sobre o final. Ainda acho que a minha é a “certa”, mas foi legal ver que é um final que te faz pensar.

Herege estreia semana que vem, e já quero rever!

Megalopolis

Crítica – Megalopolis

Sinopse (imdb): A cidade de Nova Roma é palco de um conflito entre Cesar Catilina, um artista genial a favor de um futuro utópico, e o ganancioso prefeito Franklyn Cicero. Entre os dois está Julia Cicero, com a lealdade dividida entre o pai e o amado.

Poucos filmes realmente merecem o rótulo de “aguardado”. Megalopolis, novo filme de Francis Ford Coppola, é um desses. Não sei exatamente há quanto tempo, mas o projeto de Megalopolis já existe há décadas. E Coppola resolveu vender um vinhedo e bancar o custo de 120 milhões de dólares do próprio bolso!

E o resultado? Olha, não gostei do filme, mas gostei que ele foi feito. Já explico.

Vamulá. Francis Ford Coppola é um nome gigante na história do cinema. Ele dirigiu O Poderoso Chefão 1 e 2, presentes em qualquer lista de melhores filmes da história (ele também dirigiu o 3, mas este passa longe de listas de melhores). Ele arriscou tudo num projeto pessoal, Apocalypse Now, e ganhou muitos frutos com isso (incluindo dois Oscars e a Palma de Ouro em Cannes). Dois anos depois, arriscou de novo em outro projeto pessoal, O Fundo do Coração, mas desta vez foi um grande flop. Mesmo assim continuou, e nos anos 90 ainda fez o excelente Drácula de Bram Stoker, um dos melhores filmes de vampiro de todos os tempos.

Um cara talentosíssimo, com um currículo gigante, mas que me fazia pensar naquela frase do Tarantino, que disse que pretendia se aposentar depois do décimo filme. Porque os últimos Coppola que vi foram bem decepcionantes.

(Essa frase do Tarantino serve pra alguns diretores. John Carpenter, autor de vários clássicos, encerrou a carreira com Aterrorizada, um filme com cara de Supercine.)

Coppola estava no mesmo barco. Vi Tetro, com a presença do próprio, numa sessão lotada em Botafogo, mas o filme parece uma novela mexicana. Dois anos depois vi Twixt num Festival do Rio, outra decepção. Nem tive ânimo de ver Distant Vision, que ele fez em 2015 que nem sei se foi lançado no Brasil (no imdb não tem nem poster do filme!).

Pensando por este ângulo, foi uma agradável surpresa ver Megalopolis. É um filme confuso, muita coisa não funciona, mas… É um grande filme, com um grande elenco, e várias cenas memoráveis. Ou seja, se a gente for pensar em um último filme de um diretor octogenário (Coppola está com 85 anos!), Megalopolis é bem melhor que Tetro ou Twixt.

Depois dessa longa introdução, vamos ao filme? Em Nova Roma, uma cidade fictícia (segundo o que li, baseada em Nova York), rola uma briga política entre o prefeito e um arquiteto visionário que quer construir uma nova cidade baseada em um novo elemento criado por ele, o Megalon.

Tudo é contado em tom de fábula (assumido em uma frase de introdução ao filme), tudo é meio onírico, tem muitos simbolismos e muita coisa exagerada.

Mas achei o roteiro muito bagunçado. Por exemplo, a filha do prefeito se envolve com o arquiteto que é seu inimigo, e às vezes ela está com um, outras vezes com o outro, e o filme não deixa claro qual é a dela. Tem cenas que se estendem demais, como aquela cena do coliseu, tão longa que chega a cansar. Tem um narrador, vivido pelo Laurence Fishburne, que de repente some e não volta mais. Tem uma trama paralela de uma cantora que era valorizada por ser jovem e virgem, aí descobrem que ela não é jovem nem virgem, aí ela muda de estilo mas o filme esquece dela. E por aí vai…

Mas por outro lado, o elenco é repleto de grandes estrelas, e algumas sequências são belíssimas. É um filme grandioso, digno da carreira de um nome como Francis Ford Coppola.

Diferente dos últimos filmes do Coppola, Megalopolis conta com um grande elenco: Adam Driver, Giancarlo Esposito, Nathalie Emmanuel, Aubrey Plaza, Shia LaBeouf, Jon Voight, Laurence Fishburne, Talia Shire e Jason Schwartzman, entre outros. As atuações são exageradas, entendi que fazia parte da proposta de fábula onírica.

Quando acabou a sessão (sessão normal, não teve sessão pra imprensa), fiquei dividido. Não, não gostei do filme. Mas gostei de ver que Coppola continua grande.

Gladiador 2

Crítica – Gladiador 2

Sinopse (imdb): Após ter seu lar conquistado pelos imperadores tirânicos que agora comandam Roma, Lucius é forçado a entrar no Coliseu e deve olhar para o seu passado para encontrar força para devolver a glória de Roma ao seu povo.

O primeiro Gladiador, de 2000, é um filmaço, tanto na parte técnica quanto na história: um general do exército acaba virando escravo e depois vira gladiador, enquanto busca vingança contra quem lhe fez mal. E tem um final fechado, porque – spoiler de um filme de 24 anos atrás – tanto o protagonista quanto o antagonista morrem no fim do filme. Como fazer uma continuação?

(O imdb fala de uma proposta de continuação que seria escrita pelo músico Nick Cave, onde Maximus chegaria no pós vida, onde encontraria Jupiter, que o mandaria de volta pra Terra como um imortal, e ele participaria das Cruzadas, da Segunda Guerra Mundial, da Guerra do Vietnã, e terminaria trabalhando no Pentágono, em Washington. Acho que seria um filme muito ruim, mas heu queria ver esse filme!)

Bem, este Gladiador 2 usa alguns artifícios pra ser chamado de “continuação”. Primeiro, traz de volta um personagem secundário que era criança no primeiro filme. Depois, utiliza exatamente o mesmo formato: homem bom de briga vira escravo e depois gladiador, em busca de vingança. É algo criativo? Não, mas pelo menos não engana o espectador.

Mais uma vez dirigido por Ridley Scott (que faz 87 anos no fim do mês e está cheio de novos projetos para os próximos anos!), Gladiador 2 tem seus altos e baixos. Claramente é inferior ao primeiro, mas o “espectador de multiplex” (aquele que vai ao cinema no fim de semana apenas pra se distrair) não vai se decepcionar. Mas, preciso falar sobre uns problemas…

A comparação com o primeiro filme é inevitável. Lá, o protagonista Maximus Decimus tinha um objetivo claro de vingança, e persegue ela até o fim do filme. Aqui, o novo protagonista também tem um objetivo inicial de vingança, mas no meio do caminho o filme muda de antagonista e a vingança é deixada de lado. Aliás, a mudança do protagonista é muito brusca, ele odeia o personagem do Pedro Pascal, e depois de um breve diálogo, muda de ideia e o que era vilão passa a ser um coitado. Essa virada de chave ficou muito mal construída.

Outra coisa que achei forçada foi a ligação do protagonista com um passado que ele não viveu. Ele era criança no primeiro filme e não tinha vivido as coisas que colocaram aqui pra ligá-lo ao filme anterior. Bem, é forçado, mas é cinema, então é uma crítica mas a gente deixa pra lá.

Tenho elogios e críticas à parte técnica. Por um lado, a tecnologia de efeitos pelo computador evoluiu, e aqui conseguimos ter coisas bem mais difíceis de se recriar vinte anos atrás. O filme começa com uma boa sequência de uma cidade sendo atacada por navios, tem uma cena no Coliseu onde enchem de água pra recriar uma batalha naval, e ainda tem uma outra cena no Coliseu onde vemos um rinoceronte! Todas essas sequências ficaram bem legais. Mas, por outro lado, tem uma batalha de gladiadores contra babuínos onde os babuínos ficaram bem toscos. O efeito especial não funcionou. A piada que rolou depois da sessão de imprensa é que esses babuínos seriam xenomorfos e este filme seria conectado à franquia Alien.

Sobre o elenco, preciso dizer que Paul Mescal não me convenceu – principalmente quando a gente lembra que é uma continuação e ele acaba sendo comparado com o Russell Crowe no primeiro filme. Por outro lado, Denzel Washington está muito bem. Sua interpretação é uma das melhores coisas de Gladiador 2. Não gostei do personagem do Pedro Pascal, achei inconsistente, ele começa sendo o antagonista, mas o roteiro resolve criar uma redenção que, na minha humilde opinião, falhou. Connie Nielsen volta ao mesmo papel, mas achei a personagem fraca. Derek Jacobi também repete o papel do primeiro filme, mas era um papel pequeno lá, e aqui também é bem secundário. Por fim, um dos imperadores é interpretado por Joseph Quinn, o Eddie de Stranger Things, que parece que está com a carreira decolando.

No fim, Gladiador 2 está sendo anunciado como “o épico do ano”, mas será apenas mais um filme ok, que será esquecido em breve.

Operação Natal

Crítica – Operação Natal

Sinopse (imdb): Após um sequestro chocante no Polo Norte, o Comandante da Força-Tarefa E.L.F. faz uma parceria com o caçador de recompensas mais infame do mundo para salvar o Natal.

Às vezes penso em fazer uma seção de “críticas curtas”. Este Operação Natal funcionaria neste formato: “Filme genérico de Natal estrelado por Dwayne Johnson e Chris Evans. Era melhor ter ido direto pro streaming”.

Só isso. Porque não tem muito mais o que falar sobre Operação Natal (Red One, no original). Mas, vamos tentar nos aprofundar.

Dirigido por Jake Kasdan, filho de Lawrence Kasdan (roteirista de O Império Contra Ataca e Caçadores da Arca Perdida) e diretor dos dois Jumanji recentes, Operação Natal traz uma história natalina genérica, bobinha e cheia de clichês. Não se transformará num novo “clássico natalino”, tampouco ganhará haters. Apenas mais um filme descartável.

Operação Natal se baseia no carisma das suas estrelas. O problema é que nenhum parece inspirado. Assim como em outros filmes recentes, igualmente esquecíveis, como Alerta Vermelho (Johnson) e Agente Oculto (Evans) – coincidência ou não filmes para o streaming – a dupla de astros aqui só cumpre tabela. J.K. Simmons está bem como um Papai Noel fortão, mas aparece pouco. Completam o elenco principal Lucy Liu e Kiernan Shipka.

O roteiro não é ruim, mas tem umas forçadas. Por exemplo, depois de Aruba, não existe nenhuma justificativa pra manter Chris Evans no rolê. E alguns efeitos especiais têm cara de que vão perder a validade logo logo.

Em defesa do filme, gostei do universo criado, misturando mágica com tecnologia, e abrindo espaço pra uma franquia usando seres mitológicos. Mas é pouco. Não sei se quero ver outro filme se for tão genérico quanto este.

Por fim, uma coisa que achei curiosa e não entendi o motivo. Por duas vezes, em cenas na oficina do Papai Noel, a gente ouve vozes ao fundo em português. Uma frase é nítida, o resto tem que prestar atenção. E isso na versão original, não vi a versão dublada. (Na sequência em Aruba também parece outra língua nas vozes ao fundo, mas não consegui identificar.) O que acho que aconteceu? De repente alguém da equipe técnica pegou alguns diálogos em uma “língua exótica”, algo que a maior parte do mundo não conseguiria identificar. Será que foi isso?

Anora

Crítica – Anora

Sinopse (imdb): Anora, uma jovem trabalhadora sexual do Brooklyn, conhece e impulsivamente se casa com o filho de um oligarca russo. Quando a notícia chega à Rússia, seu conto de fadas é ameaçado quando os pais dele partem para Nova York para anular o casamento.

Fiquei na dúvida se valia falar sobre Anora agora. Teve uma sessão de imprensa, e no dia da sessão avisaram que a distribuidora adiou o lançamento pra janeiro do ano que vem, visando a temporada de prêmios. Ou seja, quase não tem nenhuma crítica do filme, porque quase ninguém viu, e vai demorar pra galera conseguir assistir.

Pensei em só comentar depois, mas aí me toquei que vou acabar me esquecendo de detalhes do filme. Então vamos nessa!

Escrito e dirigido por Sean Baker, Anora chega com uma grande credencial: foi o vencedor da Palma de Ouro em Cannes. Mas aí a gente lembra que o último vencedor foi Anatomia de uma Queda. E antes, foi Triângulo da Tristeza. E antes, Titane. E antes, Parasita. E, preciso dizer isso: achei Anora beeem inferior a esses todos.

(Talvez Titane esteja um degrau abaixo dos outros quatro, mas pelo menos é um filme diferentão, o que conta pontos em uma premiação como Cannes.)

Dito isso, vou falar algo polêmico. Não achei Anora grandes coisas. Pra mim, parece um American Pie melhorado.

Ok, talvez seja um exagero. American Pie é uma comédia besteirol cheia de piadas de cunho sexual, e Anora tem muito sexo, mas só o meio do filme que tem uma pegada de humor mais escrachado. Inclusive, o final do filme mira no drama.

Mas, repito, não consegui ver as qualidades que a galera está vendo. Ani é uma dançarina erótica e garota de programa que se envolve com um jovem russo, herdeiro de uma família milionária. A primeira parte mostra a relação dos dois, a segunda desenvolve problemas com capangas da família russa, e a parte final é a conclusão triste da história da jovem Ani. É ruim? Não, a trama é envolvente e a parte comédia no meio do filme tem algumas situações bem engraçadas. Mas, se a gente pensar que esse filme foi considerado o melhor de Cannes este ano, ou a competição estava bem fraca, ou tem alguma coisa errada aí. Sendo que A Substância estava concorrendo, voto na segunda opção.

Um dos problemas de Anora é que é difícil ter alguma empatia pelo casal protagonista. Ele é um milionário mimado que compra todos em sua volta; ela só está com ele por causa do dinheiro. Em momento algum o filme mostra algo mais afetivo na relação dos dois. Vejam bem: não tenho absolutamente nada contra ela ser uma trabalhadora do sexo, alguém na sua profissão pode ter um parceiro e ter uma vida em família. Mas esta realidade não é mostrada aqui.

Sobre o elenco, Mikey Madison (Pânico 5, Era Uma Vez em Hollywood) está bem em sua nova versão de Uma Linda Mulher. Pena que é uma personagem meio vazia – o filme foca nas festas, no luxo, no sexo e nas drogas e esquece de desenvolver o lado humano da personagem. Já o Ivan de Mark Eydelshteyn podia ser interpretado por qualquer um, ele passa o filme todo jogando videogame, fazendo sexo ou fugindo.

Sobram muitas cenas de nudez e sexo, e uma parte comédia que vai arrancar gargalhadas da plateia. Ou seja, nem está tão longe assim de American Pie…

Arca de Noé

Crítica – Arca de Noé

Sinopse (imdb): Tom e Vini são dois ratinhos boêmios que embarcam na Arca de Noé de forma clandestina. Eles precisam usar seus talentos musicais para participar de um concurso e ajudar a manter a paz entre os animais.

Talvez um pouco atrasado, mas finalmente adaptaram os discos Arca de Noé, baseados na obra de Vinicius de Moraes!

Antes de falar do desenho, vamos a uma breve contextualização, afinal esses discos são tão antigos que já existe uma geração de adultos que não os conhece. Em 1980 foi lançado um disco infantil chamado Arca de Noé, baseado num livro de Vinícius de Moraes. Apesar do nome citar algo bíblico, na verdade o vinil trazia músicas infantis, a maioria relacionadas a bichos (mas tinham outras músicas que não tinham nada a ver com animais). Teve um segundo disco lançado em 81 ou 82, e os dois discos fizeram muito sucesso, tanto que músicas como “Lá vem o pato pataqui patacolá” entraram no cancioneiro popular infantil.

(Me falaram que teve uma coletiva onde jornalistas teriam perguntado como é adaptar uma história bíblica. Galera, façam seu dever de casa antes da entrevista!)

Comentei no início do texto que esse desenho está atrasado. Digo isso porque a minha geração foi marcada por essas canções. Mas, já se passaram 44 anos! Meus filhos já não têm mais idade pra curtir! Se a animação fosse feita 30 anos depois, acho que pegaria o público certo: os filhos das pessoas que cresceram ouvindo esses vinis. Só pra dar um exemplo: depois da sessão de imprensa, conversei com dois amigos críticos, mais novos, que sabiam pouco sobre esses discos.

Enfim, vamos ao filme. Dirigido por Alois Di Leo e Sergio Machado, Arca de Noé é a adaptação da obra de Vinícius de Moraes – li em algum lugar que seria uma adaptação do livro, mas me parece que o filme todo se baseia nas músicas. Temos novas versões de músicas conhecidas como O Pato (que antes foi gravada por MPB4), A Casa (Boca Livre), O Leão (Fagner), A Galinha D’Angola (Ney Matogrosso) e O Relógio (Walter Franco), dentre outras. Algumas foram adaptadas, como São Francisco, que virou instrumental (porque não tem como encaixar a letra neste roteiro); ou Os Bichinhos e o Homem, onde cortaram o trecho da música que fala sobre a morte: “E o homem que pensa tudo saber / Não sabe o jantar que os bichinhos vão ter / Quando o seu dia chegar”. E, claro, não tem músicas que hoje em dia seriam “canceladas”, como O Porquinho (que fala de variadas maneiras de se comer carne de porco) e Aula de Piano (que mostra uma relação muito errada entre um professor de piano e uma menininha). (Curioso que aparece um peru pegando uma partitura pro concurso, mas não toca a música O Peru, que no disco foi interpretada por Elba Ramalho).

A parte musical é muito boa, e estendo o elogio pra parte técnica (a animação não vai fazer feio frente aos grande estúdios como Disney, Pixar e Dreamworks), e também para o elenco, cheio de nomes importantes, mas vou focar nos principais. Rodrigo Santoro, Marcelo Adnet e Alice Braga fazem os ratinhos protagonistas, e Lázaro Ramos faz um leão bem divertido. E também queria destacar Gregório Duvivier, engraçadíssimo como a barata. Ah, Seu Jorge faz a voz de Deus, só em uma cena, mas também ficou bem engraçado. Também no elenco, Bruno Gagliasso, Giovanna Ewbank, Eduardo Sterblitch e Marcelo Serrado, entre outros.

(Curiosidade que li nos créditos: Rodrigo Santoro e Marcelo Adnet cantam as músicas dos seus personagens, mas Alice Braga não canta. Vi que Mariana de Moraes (neta do Vinícius) cantou no lugar dela. Mas isso foi o que li nos créditos subindo rapidamente, ainda não tenho mais informações sobre isso).

Se a parte técnica e a parte musical são muito boas, por outro lado o roteiro dá suas escorregadas. A competição musical demora muito a acontecer, e o filme enrola em algumas coisas sem graça, tipo a sidequest da baleia (nem tem música de baleia pra justificar!). E ainda tem umas piadas de “tio do pavê” que fiquei na dúvida se funcionaram ou não. Por sorte, o filme é curto (pouco mais de uma hora e meia) e esses problemas quase são apagados pela riqueza da trilha sonora.

A previsão de estreia é essa semana. Boa opção para levar os pequenos!