Samaritano

Crítica – Samaritano

Sinopse (imdb): Um menino descobre que um super-herói que se pensava estar desaparecido pode ainda estar por aí.

A ideia era boa. Um ex super-herói aposentado, interpretado por um Stallone septuagenário – casting perfeito, um super herói velho teria um porte físico desses. Mas Samaritano (Samaritan, no original), dirigido por Julius Avery (Operação Overlord), tem problemas. Vou primeiro falar deles, depois falo sobre o que funcionou.

Pra começar, essa história é batida. Todo mundo já viu outros filmes sobre um cara que foi importante, aí aconteceu um problema e ele passou a viver uma vida reclusa, até que um jovem vizinho descobre quem ele é, e aí o filme mostra a relação entre os dois, até que fatores externos forçam a volta do aposentado à ação.

Mas até aí, por mim ok, não me incomodo de ver histórias recicladas. Já o roteiro…

O roteiro tem umas coisas que me incomodaram. Por exemplo, vou falar do vilão interpretado por Pilou Asbæk (o Euron Greyjoy de Game of Thrones). Ele ser caricato e unidimensional é de menos. O problema é que ele é um cara normal que encontra uma arma super poderosa. Mas ele enfrenta um cara com super poderes! A super arma lhe daria pontos extras numa luta, mas, no mano a mano, não tem como encarar um super. Além disso, a ascensão dele foi muito rápida, de repente o cara tem um exército à disposição?

São várias cenas de ação, mas nenhuma chama muito a atenção. Acho que fiquei mal acostumado pelos filmes da 87Eleven. Pelo menos não são cenas ruins. Como Stallone passa quase o filme todo de capuz, facilita a troca por um dublê.

E os efeitos especiais? Já comentei antes, costumo relevar efeitos ruins, mas tem alguns aqui onde o cgi simplesmente não desce. Tem uma cena onde uma metralhadora atirando parece efeito de aplicativo de celular!

Agora, por outro lado, Samaritano tem acertos. Como falei no início, Sylvester Stallone é o cara certo para um filme desses. Depois de uma ponta em Guardiões da Galáxia e um papel onde só usa a voz em Esquadrão Suicida, Stallone ganha o seu super herói protagonista, e ele tem carisma e também porte físico para trazer audiência. Quem curtiu o último Rambo deve gostar de Samaritano: mais uma vez, um coroa badass fazendo “badassices”.

Outra coisa boa é um plot twist que tem na parte final, que inclusive explica certas inconsistências no roteiro. E o final passa longe do politicamente correto, coerente com o que o público de um filme do “velho Rambo” espera.

Ah, gostei da sequência inicial, parece uma animação em rotoscopia com cores fortes, que traz um flashback explicando a história dos personagens. Ficou bonito, mas é curtinho.

Enfim, Samaritano não é um grande filme, mas deve agradar os fãs do Stallone.

Dupla Jornada

Crítica – Jornada Dupla

Sinopse (imdb): Um caçador de vampiros tem uma semana para conseguir dinheiro para pagar as despesas da filha. E ele vai lutar com unhas e dentes para garantir o sustento da família.

Novo filme de vampiros da Netflix, Jornada Dupla (Day Shift, no original) é o filme de estreia do diretor J.J. Perry. Estreia como diretor, mas Perry tem uma longa carreira como dublê. E aí a gente vê que Jornada Dupla foi produzido pela 87Eleven / 87 North, produtora fundada por David Leitch, e que esteve por trás de filmes como todos os John Wick, além de Atômica, Anônimo, Trem Bala, Kate… Ou seja, estamos diante de uma galera que sabe fazer boas cenas de ação.

O filme tem pelo menos três sequências de ação muito boas: a perseguição de carros, o momento quando invadem o covil dos vilões na parte final, e quando se unem a outros caçadores de vampiros para invadir a casa onde tem uma “colmeia” – essa, na minha humilde opinião, é a melhor parte do filme.

Agora, se as cenas de ação são boas, o roteiro deixa a desejar.

O roteiro é cheio de problemas. Mas antes, vou deixar um elogio. É filme de vampiros, né? Tem várias citações a outros filmes de vampiros. Citam a saga Crepúsculo; falam do Brad Pitt em Entrevista com o Vampiro; citam a “rave de sangue” de Blade; e a frase “That’s what I love about LA: all the damn vampires” é uma referência à cena final de Garotos Perdidos, quando o Grandpa fala “One thing about living in Santa Carla I never could stomach is all the damn vampires.”

Feito o elogio, vamos aos problemas. Vou citar pelo menos três. Primeiro, algumas coisas não fazem sentido, tipo um vampiro perder a cabeça mas continuar “vivo”. Em outras cenas, vampiros morrem quando são decapitados, por que esse não morreu?
Além disso, o roteiro entra em assuntos que não são concluídos, tipo quando entram na casa e o personagem do Dave Franco fala que são vampiros de estilos diferentes que nunca estariam juntos. Pra que serve saber que existem vampiros diferentes se o filme não usa isso?

Por fim, toda a sequência final é cheia de clichês. Faça uma lista de clichês de filmes de ação, e pode ir ticando a cada um: tem o personagem que estava sumido que reaparece como uma solução deus ex machina, tem um personagem que fica pra trás e se sacrifica pelos outros, tem um vilão que manda o chefe dos capangas para pegar personagens importantes, tem um vilão que tem tudo em mãos e mesmo assim não executa o planejado…

No elenco, Jamie Foxx e Dave Franco funcionam bem na dinâmica da dupla improvável (outro clichê…). Também no elenco, Snoop Dogg, Natasha Liu Bordizzo, Meagan Goog, Karla Souza, Scott Adkins e Peter Stormare.

Achei bem divertido. Mas, precisa de paciência pra relevar o fim.

 

O Predador – A Caçada

Crítica – O Predador – A Caçada

Sinopse (imdb): A origem do Predador no mundo da Nação Comanche, há 300 anos. Naru, uma guerreira hábil, luta para proteger a sua tribo contra um dos primeiros predadores altamente evoluídos a aterrar na Terra.

E vamos ao quinto (ou sétimo) filme da franquia Predador!

Um pequeno resumo pra quem estava num tanque de bacta nas últimas décadas: o primeiro Predador foi lançado em 1987, e foi um grande sucesso de Arnold Schwarzenegger, um dos maiores astros do cinema de ação da época. Três anos depois fizeram uma continuação meia boca. Aí em 2004 investiram numa ideia que, no papel, era ótima: um crossover Alien vs Predador. Mas o resultado foi ruim muito ruim. E pra piorar, em 2007 fizeram uma continuação, Aliens vs Predador, que foi ainda pior. Em 2010 foi a vez de Predadores, que pega o conceito e muda um pouco, gostei desse mais do que das outras continuações. E em 2018, um dos atores do primeiro filme dirigiu mais uma continuação, puxando pra galhofa, que teve gente que falou muito mal, mas heu me diverti.

Agora é a hora de mais um. Esqueçam a galhofa, esse pega o mesmo clima do primeirão: um grupo de pessoas treinadas enfrentando um inimigo misterioso. E o resultado ficou bom!

O Predador é um bom personagem, apesar de ter um nome ruim. Ele não é um predador, é um caçador, que viaja por diferentes planetas para enfrentar adversários o mais forte possível. É uma caça por esporte, uma espécie de safári. A gente que já viu vários filmes sabe disso, e é legal ver um “predador” de 300 anos atrás, com algumas armas diferentes, respeitando a evolução da tecnologia deles. E mesmo quem não conhece a franquia conseguirá entender tudo, afinal, como se passa 300 anos atrás, não tem nenhuma ligação com nenhum dos filmes anteriores.

A direção ficou nas mãos de Dan Trachtenberg (Rua Cloverfield 10), que faz um filme com provavelmente o visual mais bonito de toda a franquia. A fotografia aproveita muito bem imagens abertas da natureza antes da ação da civilização – pena que esse filme foi direto pro streaming, ia ser legal ver numa tela de cinema. Já os efeitos especiais dão uma escorregada aqui e ali, principalmente quando vemos animais selvagens, mas nada que estrague a experiência. Ah, é bom avisar, o filme é bem violento.

Um detalhe curioso: O Predador – A Caçada foi filmado em inglês, mas os personagens são quase todos índios. Então a produção teve o cuidado de lançar uma segunda versão, dublada em comanche. Vi um trecho da versão dublada, mas a dublagem me soou estranha, então preferi o áudio original. Nesses casos faz falta um maluco que nem o Mel Gibson, que colocou seu elenco pra falar a língua iucateque quando filmou Apocalypto.

Sobre o elenco, são todos desconhecidos do grande público, mas já comentei que minha memória pra guardar informações inúteis de cinema é impressionante. Lembro de Amber Midthunder em um dos papéis principais de The Ice Road, filme meia boca do Liam Neeson. E lembro que ela tinha feito um papel pequeno no filme anterior do mesmo Neeson, o igualmente meia boca Na Mira do Perigo. Por que guardei o nome dela? Sei lá. Pelo menos ela agora é protagonista, e manda bem. Ela é pequena e de aparência frágil, mas consegue convencer nas suas lutas, tanto nas lutas físicas quanto nas sociais.

(Na verdade, me incomodou mais os índios homens serem magrelos, acho que podiam pegar uns caras mais fortes.)

Falando nisso, parece que tem uma galera revoltada por aí nas internetes, porque “a menina nunca ia ter força para derrotar um oponente muito maior e mais forte”, ou porque “nessa época, 300 anos atrás, nunca uma mulher teria iniciativa para virar caçadora”. Galera, é um filme. E justamente por isso é legal. E digo mais: sempre defendi filmes com mulheres fortes, desde a Ripley do primeiro Alien. Naru, a protagonista aqui, mandou muito bem!

Curti o filme, mas entendo que algumas coisas ficaram forçadas. Vou citar dois exemplos, tomando cuidado pra não entrar em spoilers. Um deles é quando a protagonista Naru é encurralada, com uma lâmina quase no pescoço, e consegue atingir o rosto do oponente. Seus braços não tinham como alcançar aquele golpe, não naquela posição. A gente aceita, mas foi bem forçado. Ou quando Naru resolve baixar a temperatura do corpo para não ser vista pelo Predador. Não entendo de medicina indígena, mas, baixando a temperatura do corpo, ela conseguiria lutar normalmente?

Mesmo assim, achei o resultado bem positivo. Que venham mais filmes com a Naru!

Trem Bala

Crítica – Trem Bala

Sinopse (imdb): Joaninha (Brad Pitt) é um assassino azarado determinado a fazer seu trabalho pacificamente depois de muitos outros saírem dos trilhos. O destino, no entanto, pode ter outros planos, pois a última missão de Joaninha o coloca em rota de colisão com adversários letais de todo o mundo – todos com objetivos conectados, mas conflitantes – no trem mais rápido do mundo. O fim da linha é apenas o começo nesta emocionante viagem sem parar pelo Japão moderno.

Tem gente que se empolga com filme novo de determinados super heróis. Heu me empolgo com filme novo de determinados diretores, como é o caso de David Leitch (não confundir com David Lynch!). Trem Bala (Bullet Train no original) estava no topo da minha lista de expectativas para 2022!

David Leitch era dublê, e virou diretor ao lado de Chad Stahelski com John Wick. Sozinho, fez Atômica, o melhor dos filmes de ação girl power que vi nos últimos anos. Leitch também fez Deadpool 2 e Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw, divertidos (mas inferiores a Atômica).

Se Atômica tinha um tom mais sério, Trem Bala está mais próximo de Deadpool e Hobbes & Shaw e abraça a comédia sem medo de ser feliz. Algumas cenas são engraçadíssimas. E mesmo assim o filme é bem violento. Humor negro rola solto aqui.

O clima às vezes lembra os filmes do Tarantino, com violência e bom humor. Mas acho que ficou mais próximo do trabalho do Guy Ritchie, que sabe trabalhar bem com personagens marginais e descolados, e isso tudo envolto numa edição estilosa.

Quando li a sinopse e a duração, rolou uma preocupação, porque um filme de mais de duas horas todo dentro de um trem com uma trama aparentemente simples podia ficar cansativo. Mas o roteiro é bem construído, com bons diálogos, temos flashbacks aqui e ali apresentando elementos extras, e temos uma excelente galeria de personagens. Ah, o desenho Thomas o Trem tem uma grande importância na trama!

Já que falei dos personagens, estes merecem um parágrafo à parte. Não tem nenhum personagem “normal” – talvez só o japonês atrás de vingança. Todos são esquisitos, todos são excêntricos. E o filme ainda usa uns letreiros para apresentá-los. E a dinâmica entre eles é muito boa, porque são objetivos diferentes, mas todos entrelaçados.

Aproveito pra falar do elenco. Brad Pitt é ótimo, sempre foi, sou fã do cara desde 12 Macacos e Clube da Luta, e aqui ele está sensacional. A gente lê a premissa e imagina um personagem sério tipo um John Wick, mas o seu Joaninha é um assassino profissional em busca da paz interior, então ele passa boa parte do filme em diálogos contra a violência. Aaron Taylor-Johnson (Kick-Ass) e Brian Tyree Henry (Eternos) são Limão e Tangerina, irmãos gêmeos (???), e têm uma ótima dinâmica juntos. Sandra Bullock aparece pouco, mas está ao telefone durante todo o filme, falando com o Joaninha; Michael Shannon também aparece pouco, mas é um personagem central. Joey King (A Princesa) convence com sua aparente fragilidade; Logan Lerman (Percy Jackson) tem um papel importante mas passa quase o filme todo morto; Zazie Beetz (Deadpool) aparece pouco mas é uma peça essencial para o quebra cabeça. Também no elenco, Andrew Koji, Hiroyuki Sanada e Bad Bunny. Ah, prestem atenção no condutor, é o Masi Oka de Heroes; e a atendente que interrompe a luta entre o Joaninha e o Tangerina é Karen Fukuhara, a Kimiko de The Boys.

(Tem duas participações especiais não creditadas, não sei se posso citar aqui, pode ser um spoiler. Bem, um deles esteve recentemente nas telas com Brad Pitt e Sandra Bullock; o outro já estrelou um filme do mesmo diretor.)

(Uma curiosidade: o diretor David Leitch era dublê e já tinha trabalhado como duble do Brad Pitt algumas vezes, em filmes como Clube da Luta, Onze Homens e um Segredo, Troia e Sr e Sra Smith).

Entendo que é um filme exagerado. Tem muita coisa forçada. Tem lutas no trem, tem gente andando armada e suja de sangue, e o trem tem passageiros que não estão na trama. E determinado momento o trem fica vazio – pra onde foram as pessoas que trabalham no trem, como o condutor? Quem se importar com isso, vai se incomodar.

Uma coisa que gostei e que admiro é que Trem Bala não é franquia, não é continuação e traz uma história fechada – acho difícil virar franquia. Por mais que tenha gostado de todo esse universo criado para o filme, sei que uma franquia pode estragar o universo. Por isso fico feliz com a proposta!

 

O Agente Oculto

Crítica – O Agente Oculto

Sinopse (imdb): O agente mais habilidoso da CIA, cuja verdadeira identidade é desconhecida, descobre os segredos obscuros da agência e um ex-colega insano coloca uma recompensa por sua cabeça ao recrutar assassinos internacionais para caçá-lo.

Novo grande lançamento da Netflix, O Agente Oculto (The Gray Man, no original) é mais um daqueles filmes que poderiam estar na minha lista de “críticas curtas”: “O Agente Oculto – filme genérico de ação com nomes grandes no elenco e direção”. Porque é basicamente isso. Mas… Vamulá.

Com orçamento de 200 milhões de dólares, O Agente Oculto está sendo vendido como “o filme mais caro da história Netflix”, ao lado de Alerta Vermelho – outro filme que também deixou a desejar.

O Agente Oculto é baseado no livro homônimo escrito por Mark Greaney. A ideia de se adaptar já existia desde 2011, com o Brad Pitt no papel principal; depois Charlize Theron esteve ligada ao projeto, que teria produção da Sony e direção de Christopher McQuarrie. Até que chegou às mãos da Netflix, que chamaram os irmãos Russo para a direção.

Lembrando: Anthony e Joe Russo dirigiram quatro dos filmes mais conceituados de todo o MCU: Capitão América Soldado Invernal, Capitão América Guerra Civil, Vingadores Guerra Infinita e Vingadores Ultimato. Atualmente, eles simplesmente são os responsáveis pela maior bilheteria da história do cinema. Recentemente fizeram o drama Cherry, que tem seus pontos positivos mas não é um grande filme. E uma coisa me intrigava na carreira dos irmãos, mas que agora foi respondida: o sucesso deles tem muito mais a ver com a Marvel do que com o talento da dupla.

Vejam bem, O Agente Oculto não é ruim. Bom elenco, belas locações, boas cenas de ação… Só é tudo muito genérico. Muita explosão e pouca história. Em certas cenas parece que a gente está vendo um filme do Michael Bay – tem até umas cenas com uma câmera drone, cenas parecidas com as do filme Ambulância, último filme do Bay.

Produção grandiosa, o filme se passa em vários países. Tem uma cena em Praga que é um exemplo disso que falei. A cena é boa, é empolgante, mas é tanto tiro e explosão que chega a cansar.

O elenco é muito bom. Ryan Gosling parece fazer o Ryan Gosling de sempre, mas o vilão exagerado e caricato do Chris Evans está exagerado e caricato no ponto certo. Ana de Armas está excelente, como sempre, mas tem menos tempo de tela – ei, Hollywood, tá na hora de um filme de ação girl power estrelado por ela! E uma surpresa agradável foi ver uma cena com Wagner Moura, que está muito bem. Parece que a Netflix resolveu agradar dois grandes mercados consumidores, o Brasil e a Índia, trazendo uma estrela de cada país para um papel menor mas importante – o indiano Dhanush tem um papel chave, já tinha ouvido falar dele mas nunca tinha visto nenhum filme com ele. Também no elenco, Billy Bob Thornton, Jessica Henwick, Alfre Woodard e Julia Butters.

Existe uma série de livros “O Agente Oculto”. A história deste filme se fecha, mas deixa espaço para continuações. Será que veremos mais uma franquia de filmes de ação?

The Boys – Terceira Temporada

Crítica – The Boys – Terceira Temporada

Sinopse (imdb): Um grupo de vigilantes são dados o trabalho de deter super heróis que abusam da seus poderes.

Pra quem não conhece The Boys, é uma série que fala de super heróis mau caráter. Mas o que chama mais a atenção é a violência gráfica. Parece que desenharam uma linha limite do que seria aceitável, e a série vive desafiando essa linha. Algumas cenas parece que foram colocadas especificamente para chocar.

(A série é baseada numa HQ, não li, deve ser bem violenta. Mas, uma coisa é uma HQ violenta; outra coisa é um filme ou série mostrando sangue e pedaços de corpos.)

Além disso, é uma série muito bem escrita, bons personagens, bons atores, e o roteiro dá umas boas cutucadas na atual sociedade, tanto em termos comportamentais quanto na política.

O elenco é bem legal. Gosto do Karl Urban desde O Senhor dos Anéis, o cara fez Star Trek, RED, Dredd, Thor – mas, apesar do bom currículo, o melhor papel da sua carreira é o Billy Butcher de The Boys. Outro destaque é Anthony Starr, ator que heu não conhecia antes, e que é ótimo como o Homelander, um vilão sensacional e ao mesmo tempo odiável. Outro dos principais é Jack Quaid, que, pra quem não sabe, é o filho do Dennis Quaid e da Meg Ryan.

Mas, não queria falar do elenco que já estava nas outras temporadas. Queria comentar dois nomes novos, um com um papel grande; outro como uma ponta. Um deles é um dos principais nomes dessa terceira temporada, o Soldier Boy, vivido por Jensen Ackles – que foi o Dean Winchester em 15 temporadas de Supernatural (e preciso admitir que não reconheci de primeira!). A série é do Eric Kripke, também criador de Supernatural… O outro é Paul Reiser, que está sensacional como um velho ex-empresário marrento e só aparece em dois episódios (tinha acabado de vê-lo em Stranger Things, num papel burocrático; aqui ele está muito melhor!)

The Boys é uma série muito bem filmada, tecnicamente falando. E mesmo assim, ainda tiveram alguns detalhes aqui e ali que fizeram o produto ficar ainda melhor. Um exemplo é o raccord, que é quando duas cenas diferentes são conectadas por movimentos dos personagens, que acontece algumas vezes no pesadelo do Butcher.

Outra coisa que achei bem legal foram dois momentos da Kimiko ligados a músicas. Um deles é quando ela coloca Maniac, do filme Flashdance, como trilha sonora de uma briga – só não foi uma ideia melhor aproveitada porque a cena é entrecortada por outras lutas simultâneas. Mas o melhor momento da Kimiko foi quando ela acho que tinha recuperado a voz e começa a cantar, e a série vira um musical.

Outro momento completamente inesperado foi quando vemos bichinhos animados representando o que se passa dentro da cabeça do Black Noir – pelo que me disseram, isso não está nas HQs, foi criação da série.

Por fim, um comentário besta, que parece que já tinha nas outras temporadas, mas heu nunca tinha reparado: o Hughie tem várias camisas legais de tema rock’n’roll. Nesta temporada, vi camisas do Daryl Hall & John Oates, Kenny Loggins, Foreigner, Doobie Brothers – The Boys é da Amazon, devia ter um link para comprar essas camisas!

Teve gente que não gostou do fim e do gancho para a próxima temporada. Acho que foi headcanon da galera, achei o final bom. Que venha a quarta!

A Princesa

Crítica – A Princesa

Sinopse (imdb): Quando uma princesa obstinada se recusa a se casar com um cruel sociopata, ela é sequestrada e trancada em uma torre remota do castelo. Com seu pretendente tentando tomar o trono de seu pai, a princesa deve salvar o reino.

Quem me acompanha sabe que heu curto filmes de ação girl power. Quando li que este filme seria uma mistura de Rapunzel com The Raid, claro que chamou a minha atenção.

A direção é do vietnamita Le-Van Kiet, diretor da maior bilheteria da história do Vietnã. Não conhecia o cara, vou catar outros títulos dele.

A história é simples. Um rei sem um herdeiro homem tem um pretendente à sua filha e por consequência ao reino. Só que a filha não quer e quando o pretendente parte para a violência, a princesa reage. E aí temos um desfile de boas cenas de ação.

As cenas de luta são criativas, temos diversas coreografias, com várias armas diferentes. Às vezes fica um pouco forçado, mas qual filme de ação neste estilo não tem cenas forçadas? E a trama é entrecortada por flashbacks que mostram o treinamento da princesa – ou seja, tem uma justificativa pra ela lutar bem.

Além da criatividade nas coreografias de luta, também gostei de como foram filmadas, em planos abertos e com poucos cortes. Nem sabia que a protagonista Joey King sabia lutar – segundo o imdb, ela fez de 85 a 90% das cenas de luta!

Aproveito pra falar do elenco. Me surpreendi positivamente com Joey King, ela é famosa pelos filmes Barraca do Beijo, mas não vi nenhum deles (e me desindicaram, então nem pretendo ver). Lembro dela no fraco Slenderman, e sei que ela, adolescente, estava no primeiro Invocação do Mal. Seu trabalho aqui é muito mais memorável, agora sim temos um filme para nos lembrarmos dela. Os outros dois nomes “grandes” do elenco são Olga Kurylenko e Dominic Cooper, ambos em papeis caricatos, mas que servem para o propósito.

De negativo, a gente precisa reconhecer que o filme inteiro é basicamente uma colagem de sequências de luta. Ok, as lutas são diferentes, mas, não tem muita coisa além disso. Quem estiver atrás de algo com mais substância é melhor procurar outro título.

A Princesa tem previsão de chegar dia 22 de julho ao streaming Star+, da Disney

Vingança a Sangue Frio

Crítica – Vingança a Sangue Frio

Sinopse (imdb): Um motorista de removedor de neve procura vingança contra os traficantes que mataram seu filho.

Vingança a Sangue Frio (Cold Pursuit, no original) é refilmagem do norueguês O Cidadão do Ano (Kraftidioten), curiosamente dirigido pelo mesmo diretor Hans Petter Moland (o mais comum é ter a versão hollywoodiana feita por um americano). Hans Petter Moland fez igual ao francês George Sluizer (O Silêncio do Lago, de 1988 e 1993); ao alemão Michael Haneke (Funny Games – Violência Gratuita de 1997 e 2007); ao dinamarquês Ole Bornedal (Nightwatch, de 1994 e 1997); ao japonês Takashi Shimizu (O Grito, de 2002 e 2004, O Grito 2, de 2003 e 2006); e ao francês Jean-Marie Poiré (Os Visitantes, de 1993 e Os Viajantes do Tempo, de 2001 – inclusive repetindo os dois atores principais, Jean Reno e Christian Clavier). Deve ter outros, mas o mais comum quando o gringo vai pra Hollywood é filmar algo diferente.

Não vi O Cidadão do Ano, então não posso comparar. Mas posso comparar com o que Liam Neeson fez de lá pra cá. Vingança a Sangue Frio não é um grande filme, mas é melhor que Legado Explosivo, Na Mira do Perigo, The Ice Road, Agente das Sombras e Assassino Sem Rastro.

Vingança a Sangue Frio começa como um filme normal de vingança. Um homem mais velho descobre que seu filho foi assassinado, e resolve sair à caça dos responsáveis. Mas o grande lance é que um outro elemento é incluído na trama e começa a acontecer uma briga de gangues paralela à caça aos assassinos. Essa triangulação fez bem ao roteiro, porque a gente já viu várias vezes esse filme do cara sozinho em busca de vingança pessoal.

O roteiro ainda traz alguns pequenos detalhes para sair do óbvio, como alguns diálogos que falam de coisas aleatórias. Outra coisa curiosa é colocar uma tela em “homenagem” a cada morto no filme. E tem muita gente morrendo… O visual do filme também é bem legal, as paisagens na neve foram bem aproveitadas.

No imdb o filme está classificado como “Ação / Policial / Comédia”. Não sei onde está a comédia. Acho que só achei graça na última morte, que foi a única acidental no filme.

Sobre o elenco, Liam Neeson faz o de sempre, mas ele é bom nisso, não reclamo. Achei um desperdício trazer a Laura Dern para um papel tão pequeno. Tom Bateman faz um vilão caricato, mas gostei do personagem. Ah, o ator que faz o filho do protagonista é Micheál Richard, filho de Liam Neeson na vida real.

No fim, fica a pergunta: será que Neeson voltará a fazer filmes bons?

Top Gun – Ases Indomáveis

Crítica – Top Gun – Ases Indomáveis (1986)

Sinopse (google): A escola naval de pilotos é onde os melhores dos melhores treinam para refinar suas habilidades de voo de elite. Quando o piloto Maverick é enviado para a escola, sua atitude irresponsável e comportamento arrogante o colocam em desacordo com os outros pilotos, especialmente Iceman. Porém Maverick não está apenas competindo para ser o piloto superior de caça, ele também está lutando pela atenção de sua bonita instrutora de voo, Charlotte Blackwood.

Maior bilheteria de 1986, desbancando Jornada Nas Estrelas IV: A Volta Para A Terra , Platoon e Curtindo A Vida Adoidado. Foi um dos primeiros grandes sucessos de Tom Cruise, um dos maiores star power de Hollywood nas últimas décadas. E ainda tem uma das trilhas sonoras mais marcantes da história. Este é Top Gun – Ases Indomáveis.

Top Gun talvez seja o filme mais famoso do diretor Tony Scott. Lembro que na época rolava uma piadinha que Tony Scott era o “irmão menos talentoso do Ridley Scott”. Maldade. Tony é talentoso, só pegou um caminho mais pop naquela época – a gente não pode esquecer de Dias de Trovão, um “sub Top Gun lançado poucos anos depois. Mas, Tony Scott foi um grande diretor e tem um currículo com alguns grandes filmes (como Fome de Viver e Amor À Queima Roupa). Pena que faleceu cedo, aos 68 anos, em 2012.

Ok, a gente precisa reconhecer que várias sequências de Top Gun parecem videoclipes de propaganda militar norte americana. Mas, também precisamos reconhecer que as cenas aéreas são muito boas – apesar de hoje, em 2022, ficar claro que as cenas filmadas dentro do cockpit foram feitas em estúdio (mas, caramba, estávamos em 1986!).

E, já que falamos em videoclipe, a trilha sonora do filme é excelente, foi um disco que vendeu muito, e que as músicas imediatamente remetiam ao filme (como Footloose ou Dirty Dancing). Além disso, o tema Top Gun Anthem, de Harold Faltermeyer, é excelente!

Já comentei aqui no canal sobre filmar em ruas e calçadas molhadas – prática aliás bastante utilizada por Ridley Scott. Aqui em Top Gun tem uma certa variação: vemos pessoas suadas, muitas pessoas suadas. Não estou falando da famosa cena do vôlei de praia, estou falando de cenas de tensão, como acontece na sala de comando quando todos estão acompanhando pelo rádio as manobras aéreas. Para acentuar a tensão, todos estão com gotículas de suor espalhadas pelo rosto. E isso acontece várias vezes ao longo do filme.

Já que falei do vôlei de praia, bora falar da “teoria Tarantino”. No filme Vem Dormir Comigo, de 1994, Tarantino faz uma ponta, aparece numa festa dizendo que Top Gun seria um filme gay. Maverick seria um gay no armário, e que Iceman e seus amigos seriam os gays que estariam tentando trazer Maverick para o lado deles. Charlie estaria tentando trazer Maverick de volta para a heterossexualidade, por isso só ela coloca uma jaqueta e um boné escondendo o cabelo para “parecer um homem” e chamar a atenção de Maverick, na cena do elevador. Anos depois, em entrevistas, o produtor Jerry Bruckheimer e o roteirista Jack Epps Jr. disseram que o filme não foi feito pensando neste aspecto, mas que o público tem a liberdade de interpretá-lo como quiser.

Na minha humilde opinião, isso sempre foi uma piada (assim como outras teorias do Tarantino, como a da música Like a Virgin da Madonna). Mas é uma piada bem bolada, e que ganhou força com o passar do tempo. E sim, se a gente tiver isso em mente, Top Gun funciona bem como um filme gay, podemos sentir o clima que rola entre Maverick e Iceman.

(Curioso a gente pensar que Vem Dormir Comigo é de 1994, e que um ano antes Tony Scott lançou Amor À Queima Roupa, com roteiro do Tarantino. Provavelmente eles tiveram essa conversa ao vivo…)

No elenco, esse deve ter sido o primeiro grande sucesso de Tom Cruise – antes disso ele tinha feito A Lenda, Negócio Arriscado, uma ponta em Vidas sem Rumo e mais um ou outro filme irrelevante. Mas a partir daqui, sua carreira decolou e hoje ele é um dos maiores nomes de Hollywood. Também no elenco, Val Kilmer, Kelly McGillis, Anthony Edwards, Tom Skerritt, Michael Ironside, Tim Robbins, Rick Rossovich e Meg Ryan. O elenco de um modo geral funciona bem, mas preciso dizer que a relação entre o casal principal não me convenceu, faltou química.

Datado, mas ainda diverte.

Jurassic World Domínio

Crítica – Jurassic World Domínio

Sinopse (imdb): Quatro anos após a destruição da Ilha Nublar, os dinossauros coexistem com os humanos. Esse equilíbrio determinará se os humanos continuarão sendo os predadores dominantes em um mundo com as criaturas mais temíveis de todos os tempos.

Preciso confessar que não me lembro de muita coisa do filme Jurassic World: Reino Ameaçado, de 4 anos atrás, junho de 2018. Pra minha sorte, na época escrevi aqui no heuvi, então vou copiar um trecho:

Jurassic World: Reino Ameaçado tem seus momentos, mas o resultado final deixa a desejar.
A parte técnica é impressionante. Se o primeiro Jurassic Park já tinha dinossauros convincentes, hoje, quando o cgi é ainda mais evoluído, a produção não economizou. Mais uma vez, temos vários dinossauros, todos muito bem feitos.
Por outro lado, o roteiro exagera nas forçações de barra. (…) Pra piorar, tudo é muito previsível. Isso porque não tô falando de ideias repetidas dos outros filmes – de novo um dinossauro aprimorado geneticamente.
Claro que teremos mais uma continuação se este filme tiver retorno. E claro que a gente vai ver. E se não tiverem novas ideias, claro que vão repetir tudo. De novo.”

Dirigido pelo mesmo Colin Trevorrow do primeiro Jurassic World, este novo filme, Jurassic World Domínio (Jurassic World Dominion, no original) é isso aí. Tem até esses dinossauros modificados geneticamente.

E preciso confessar que foi uma grande decepção. Não só para mim, mas também para as pessoas que estavam por perto na sessão de imprensa onde vi.

Muita gente se decepcionou porque o final do filme anterior apontava para uma continuação com dinossauros espalhados por áreas urbanas. Realmente, ia ser um filme bem legal – como sobreviver num planeta onde pode aparecer um dinossauro a qualquer momento perto de você?

Mas, Jurassic World Domínio não é esse filme. E não acho certo reclamar de um filme que apenas não foi o que estava na nossa cabeça, isso é um head canon. Vou reclamar de outra coisa. O que me mais incomodou foram as falhas grotescas no roteiro.

Antes preciso falar que aceito conveniências de roteiro, tipo uma cena onde um carro capota e cai ao lado de onde estavam os outros personagens. Qual é a chance disso acontecer? Bem pequena, mas faz parte! É um filme de ficção, pô!

O que reclamo são coisas que não fazem lógica. Tipo alguém cortar a energia elétrica e um trem parar do nada – o trem era rota de fuga, teria um gerador separado para o caso de dar problema.

Vamulá. Existe uma sequência em Malta que é toda errada. Pra começar, é uma sequência que é desnecessária, tire essa sequência e a história do filme não perde nada. E, dentro da sequência, são vários os momentos sem lógica. Exemplo: qual é a  velocidade de um raptor? Uma pessoa a pé consegue fugir, mas logo depois o mesmo raptor está mais rápido que uma moto que está alcançando um avião que vai decolar! Outro exemplo: os raptors são modificados pra seguirem uma pessoa que alguém marcou com um laser. Oi? Como você vai mirar o laser antes de marcar a pessoa? E aquela cena naquele submundo onde existe rinha de dinossauros não faz o menor sentido. Um dinossauro vem e come o vilão, mas todos em volta estão tranquilos por que? Por fim, aquela pilota NUNCA ia oferecer aquela carona.

Mas, vamos em frente. Tem uma cena mais pro fim onde tem duas coisas ilógicas juntas, é quando a Laura Dern e a Bryce Dallas Howard vão desligar a energia elétrica. Ora, se elas não sabiam como fazer, e quem sabia não estava machucado, por que elas foram? E tem outro erro ainda pior: são dezenas de gafanhotos mortos no chão. Quando a energia volta, eles “acordam” e começam a atacar. Quando a energia é derrubada de novo, eles “morrem” de novo. Vem cá, são gafanhotos elétricos?

Mas o pior erro não foi esse. Tem um erro de continuidade que é o erro mais grosseiro que vi em muito tempo. O personagem Ramsey discute com o vilão, e sai da sala dele. E na cena seguinte ele está junto com os mocinhos – que estavam a quilômetros de distância!

Heu podia continuar, mas já deve ter dado pra ver que o roteiro é um lixo. Então vou parar. Mas tem mais, ah, tem.

De ponto positivo: os dinossauros são perfeitos. Os efeitos especiais são perfeitos. Ok, nenhuma surpresa, Jurassic Park sempre teve efeitos bons (o primeiro filme tem quase 30 anos que foi lançado e ainda é impressionante). Mas, é sempre legal ver dinossauros bem feitos.

Sobre o elenco, a série Jurassic Park teve um reboot em 2015 com elenco novo, estrelado por Chris Pratt e Bryce Dallas Howard. Este é o terceiro filme desde o reboot, e este filme trouxe de volta os três principais do primeiro filme, lá de 1993: Sam Neill, Laura Dern e Jeff Goldblum. Foi legal ver todos juntos, mas acabou que são muitos personagens “principais” (porque ainda tem alguns novos). Mas, ok, isso ficou bom. Também no elenco, Isabella Sermon, DeWanda Wise, Mamoudou Athie, Campbell Scott, BD Wong e Omar Sy.

Mas no fim fica a decepção. Disseram que este seria o último filme da saga. Se for só pra focar em efeitos especiais e deixar o roteiro pra lá, tomara que seja o último mesmo.