Assassino Sem Rastro

Crítica – Assassino Sem Rastro / Memory

Sinopse (imdb): Um assassino profissional descobre que se tornou um alvo após se recusar a concluir um trabalho para uma organização criminosa perigosa.

Filme novo do Liam Neeson, o que no passado era indício de filme de qualidade, mas hoje é alerta pra ficar com o pé atrás.

Mas, o início de Assassino Sem Rastro (Memory, no original) dá indícios de que teremos um filme diferente do óbvio pela frente. Logo na cena inicial, vemos que Neeson é um assassino, ou seja, desta vez ele não é o mocinho do filme. Digo mais: o final desta sequência aponta para uma confusão mental do personagem, relativa ao Alzheimer. Isso podia deixar o filme menos linear, e poderíamos ter um resultado bem diferente do óbvio (lembrei de Meu Pai, que deu o Oscar ao Anthony Hopkins, onde a confusão mental do protagonista é compartilhada com o espectador). Mas, não só o filme “esquece” de desenvolver este plot, como deixam isso de lado – acho que a confusão mental só aparece mais uma vez. Pra piorar, o Alzheimer não é importante no resto da trama.

E ainda tem um detalhe que piora. O outro ator principal é Guy Pearce. A tem momentos no filme onde o Liam Neeson escreve coisas no braço, pra não esquecer. Aí a gente pensa “péra, qual outro filme que a gente viu que tinha alguém com problemas de memória e que escrevia coisas no corpo? Ah, é Amnésia, estrelado pelo Guy Pearce!” Era melhor outro ator…

Assassino Sem Rastro é refilmagem do filme belga Alzheimer Case, que por sua vez é adaptação do livro “De Zaak Alzheimer”. Não vi o filme original nem li o livro, não sei se lá o Alzheimer é melhor desenvolvido. A direção é de Martin Campbell, falei dele aqui pouco tempo atrás, quando falei de A Profissional. Campbell tem altos e baixos na carreira. Ele é lembrado por dois 007s de gerações diferentes, Goldeneye (1995) e Cassino Royale (2006). Mas, também é lembrado por Lanterna Verde, aquele com o Ryan Reynolds. Ou seja, tem alguns bons títulos no currículo, mas não dá pra confiar.

No elenco, Neeson está no piloto automático. Guy Pearce está estranho, não sei se é maquiagem ou se ele envelheceu mal. O outro nome grande do elenco é Monica Bellucci, que está péssima.

O filme vai num ritmo morno até chegar num dos piores finais que heu vi nos últimos tempos. Sério, queria comentar aqui mas não vou dar spoilers. Mas o que me parece é que a história terminaria com a vitória do vilão, e resolveram inventar um meio de justiça do bem. Mas ficou completamente inverossímil.

Top Gun Maverick

Crítica – Top Gun Maverick

Sinopse (imdb): Após mais de trinta anos de serviço como um dos melhores aviadores da Marinha, Pete Mitchell está onde pertence, ultrapassando os limites como um piloto de teste intrépido e evitando a promoção de posto que o manteria em terra.

36 anos depois, tem um novo Top Gun nos cinemas!

No texto sobre Pânico 5 falei sobre o conceito de “requel”, mistura de reboot com sequel, que é quando temos um novo filme, com espaço para uma nova franquia, mas com elementos do original, e com um forte apelo à nostalgia (Pânico, Halloween, Caça Fantasmas, Star Wars, Cobra Kai). Dirigido por Joseph Kosinski (Oblivion), este novo Top Gun pode se enquadrar nesta categoria.

O início do filme é igual ao filme de 1986. Igual em dois aspectos diferentes. Em primeiro lugar, a sequência inicial é idêntica. Vemos várias imagens de um porta aviões, com aviões pousando e aterrissando, e as pessoas que trabalham nessa rotina, tudo isso ao som de Danger Zone, do Kenny Loggins – EXATAMENTE IGUAL ao filme anterior, nem sei se filmaram algo novo ou se pegaram os takes do filme original e repetiram. E também é igual na estrutura da primeira parte do roteiro: Maverick desafia seu superior e faz algo ousado, o que ele fez dá certo, e quando ele acha que vai ser repreendido, é mandado para o Top Gun. E depois, em um bar, calouros têm contato com uma pessoa “de fora”, que na cena seguinte descobrem que é seu novo instrutor.

Acredito que isso foi colocado desta forma pra trazer um quentinho para o coração dos fãs. O novo filme é cheio de momentos que dialogam com o filme anterior. Tem até uma cena com o pessoal jogando um esporte na praia (só trocaram o esporte, não é mais vôlei).

Mas, e quem não viu o filme de 86? Digo mais: e quem não gostou do filme de 86?

Independente de se gostar do filme original, é preciso reconhecer que as sequências de ação aérea são fantásticas. Segundo o que foi informado, não existe cgi nem tela verde nas sequências aéreas, eram aviões reais fazendo aquilo tudo. Será que podemos acreditar nisso?

Real ou não, as sequências são muito boas. Uma delas, ainda na primeira parte do filme, onde vemos Maverick tirando onda perante os mais novos, é quase um novo videoclipe de Won’t Get Fooled Again, do The Who. E a parte final é de tirar o fôlego. (Mas preciso falar que achei forçado o jeito como eles escaparam…)

Falando em trilha sonora, tem pelo menos três momentos emocionantes, todos os três ligados ao filme original. Primeiro, claro, o tema principal, Top Gun Anthem, do Harold Faltermeyer, que toca na introdução e em momentos chave do filme. Depois, o já citado Danger Zone. E também temos uma nova versão da cena do Goose cantando Great Balls of Fire ao piano (cena que traz um flashback auto explicativo com Anthony Edwards e Meg Ryan).

Sobre o elenco, esse é um “filme do Tom Cruise”. Cruise é o cara, aos sessenta anos de idade ele tem um porte invejável, tem presença e carisma, e ainda faz as cenas sem dublê – a gente vê o cara pilotando os caças, tem uma câmera dentro do cockpit do avião!

No resto do elenco, preciso falar de três nomes. Jennifer Connelly, que está com 51 anos, está linda linda linda. E faz uma “mocinha” coerente com os padrões atuais: independente e dona do seu caminho (Ah, a personagem já existia no primeiro filme, mas não aparece). Miles Teller também está ótimo como o filho do Goose, a gente entende os problemas pessoais do personagem. E por fim, Val Kilmer, que está muito doente, tratando de um câncer na garganta, mas que aparece em uma cena emocionante. Também no elenco, Jon Hamm, Ed Harris, Glen Powell e Monica Barbaro.

(Ainda nas homenagens emocionantes, quando acaba o filme vemos uma dedicatória ao Tony Scott, diretor do primeiro filme, que estava desenvolvendo uma continuação antes do seu falecimento em 2012.)

Por fim, queria falar que não entendi os comentários que inundaram a internet na última semana, acusando este Top Gun Maverick de masculinidade tóxica. Sério isso?

O Homem do Norte

Crítica – O Homem do Norte

sinopse (imdb): Depois de testemunhar o assassinato do pai pelas mãos do seu tio Fjölnir, e ver sua mãe e reino tomados pelo assassino, o jovem Príncipe Amleth foge para retornar anos depois, já adulto, determinado a fazer justiça.

Estreou o aguardado épico viking O Homem do Norte (The Northman, no original), novo filme de Robert Eggers.

Como falo sempre, a gente deve seguir o nome do diretor. Este é o terceiro filme dirigido por Eggers, e heu tenho opiniões opostas com relação aos outros dois. Gosto muito de A Bruxa, mas acho O Farol muito ruim. Então, rolava uma expectativa, mas ao mesmo tempo rolava um pé atrás.

A boa notícia é que gostei muito de O Homem do Norte. Gostei mais até do que A Bruxa. Empolgante, violento e muito bem filmado.

O Homem do Norte é o filme mais palatável de Eggers. Sim, tem partes contemplativas e algumas sequências cabeça, mas bem menos que os anteriores. A Bruxa era um terror cabeça, muita gente saiu do cinema com raiva do filme pelos seus momentos “tênis verde”. E O Farol era ainda mais hermético, tipo, “não gostou do meu filme porque é cabeça, vou fazer um ainda mais cabeça”. O Homem do Norte tem seus momentos “tênis verde”, claro, mas por outro lado traz uma clássica história de vingança, num ritmo alucinante, e com muito muito sangue. O cara que for ao multiplex no shopping pode até comentar sobre alguns momentos onde não dá pra entender nada, mas vai curtir a jornada de sangue e violência do protagonista Amleth.

Falei violento? O Homem do Norte é MUITO violento, e tem algumas sequências muito boas. Tem uma (que me pareceu ser um plano sequência) onde um grupo de vikings ataca uma vila e faz um massacre violentíssimo – aliás, é desta sequência que tiraram a imagem do pôster. Vou além: algumas mortes são tão gráficas que vão agradar os fãs de gore.

O visual do filme é um espetáculo. Não li sobre os bastidores, não sei se foi tudo filmado em locações ou se teve algo em estúdio, mas o resultado ficou excelente, vários planos abertos onde dá pra pausar e colocar num quadro. A trilha sonora, que usa muitos sons de instrumentos antigos, também é muito boa.

Queria fazer dois comentários sobre o elenco. O primeiro é sobre o protagonista Alexander Skarsgård. Sou fã do cara desde a época de True Blood. Ele foi o Tarzan, mas flopou. Ele estava num filme do King Kong mas ninguém lembra. Ele aqui está sensacional, ele tem porte físico coerente com o que o personagem pede, e mostra a fúria necessária para o filme. Torço muito por ele, tomara que a partir deste filme sua carreira decole.

O outro comentário não é tão elogioso. Por opção, o filme é falado em inglês, com um sotaque que ficou muito forçado. Grandes atores (Nicole Kidman, Ethan Hawke, Anya Taylor-Joy, Willem Dafoe) , grandes atuações, atrapalhadas por um sotaque artificial.

Segundo o imdb, O Homem do Norte é o filme viking mais correto feito até hoje, historicamente falando. Eggers, junto com historiadores, fez uma pesquisa minuciosa para ter cenários, figurinos e props o mais próximos o possível da realidade.

Filmão!

Cidade Perdida

Crítica – Cidade Perdida

Sinopse (imdb): Uma romancista solitária em uma turnê de livros com seu modelo de capa é apanhada em uma tentativa de sequestro que os leva a ambos em uma aventura feroz na selva.

Você pode ver Cidade Perdida (Lost City, no original) sob dois pontos de vista. Você pode ver que é um filme previsível e cheio de clichês, ou você pode ver um filme que apesar de previsível, usa muito bem os clichês.

Vamulá. O filme dirigido pelos irmãos Aaron e Adam Nee é completamente previsível, a gente consegue adivinhar tudo o que vai acontecer. Mas é um filme leve e divertido, que não se leva a sério em momento algum. Digo mais: os clichês são usados sempre de maneira inteligente. Um exemplo é o Brad Pitt. se você viu o trailer, sabe exatamente qual é o perfil do seu personagem. E mesmo sem nada de novidade, a gente acaba o filme querendo ver um spin off com o personagem dele.

Aliás, o elenco está muito bem. Channing Tatum veste bem o personagem de “quase galã”, e ele tem um timing muito bom para o estilo de humor presente no filme. E o melhor de tudo: a química dele com a Sandra Bullock é muito boa, algo essencial para a proposta do filme. Brad Pitt, como falei, aparece pouco mas está sensacional; e Daniel Radcliffe mostra que é bem mais do que um Harry Potter adulto.

Os quatro principais nomes estão bem, mas tenho críticas ao elenco de apoio. Da’Vine Joy Randolph, que faz a editora, tem um papel caricato; Patti Harrison faz a especialista em mídias sociais, um personagem bem ruim, que era melhor não ter. E o resto é tão secundário que nem vale ser citado, tipo aquele piloto de avião vergonha alheia.

O roteiro é previsível (e a premissa lembra Tudo por uma Esmeralda). Mas como heu estava me divertindo relevei. Agora, alguns furos incomodaram. Exemplo: os protagonistas estão fugindo dos vilões. A única saída é escalar a montanha. Como os vilões não viram?

Ouvi críticas com relação aos efeitos especiais, que algumas cenas teriam sido filmadas em tela verde e mal renderizadas depois. Mas não reparei em nada tão grave. Pra mim os efeitos são ok.

Mesmo com todos esses problemas, achei o filme bem divertido. Uma comédia / aventura leve e descompromissada, que vai agradar a quase todos que forem ao cinema ver. Estreia nos cinemas quinta feira da semana que vem!

Warriors Os Selvagens da Noite

Crítica – Warriors Os Selvagens da Noite

Sinopse (imdb): No futuro próximo, um líder carismático chama as gangues de rua de Nova York com a intenção de assumir o controle. Quando ele é morto, os Warriors / Guerreiros são falsamente acusados e devem lutar para voltar para casa.

Walter Hill viria a se tornar um nome importante no cinema de ação nos anos 80, com os dois 48 Horas, Ruas de Fogo, Inferno Vermelho e A Encruzilhada. Warriors Os Selvagens da Noite é o seu terceiro filme.

A trama é simples: o líder da maior gangue de Nova York convocou representantes de todas as gangues da cidade para uma reunião no Central Park, onde ele ia propor que as gangues tomassem conta da cidade, porque eram mais membros de gangue do que policiais. Cada gangue levaria 9 representantes, e sem armas. Mas este líder é assassinado, e os Warriors são erradamente acusados como autores do crime, e passam a ser perseguidos.

A estrutura lembra as fases de um videogame. O grupo precisa percorrer o caminho entre o Central Park e Coney Island. Não entendo de geografia de Nova York, então fui ao google: são 24 km, que dá pra fazer em aproximadamente uma hora de trem. E eles enfrentam vários desafios ao longo disso. Cada gangue poderia ser uma nova fase do videogame. Existiu um videogame inspirado no filme, mas não sei se era assim… Ah, as diferentes fases usam uma narração de uma DJ nos intervalos. Só vemos a boca da DJ, uma solução simples e esteticamente ótima.

A ambientação do filme é bem legal. O diretor de fotografia Andrew Laszlo conseguiu incluir uma cena no início do filme onde chove, o que molhou as ruas e calçadas por todo o resto do filme. E ruas e calçadas molhadas dão um visual muito melhor na tela do que ruas secas. A trilha sonora tem um pé no eletrônico, e me lembrou Fuga de Nova York. E as emendas entre as sequências são feitas usando páginas de quadrinhos, uma boa sacada.

As gangues são caricatas. Mas, o conceito visual, com cada gangue usando um uniforme, ficou bem legal. E aquela gangue do Baseball poderia gerar um spin off de terror!

No elenco, vários nomes que eram desconhecidos na época – e até hoje continuam ligados a apenas este filme, nenhum deles teve uma boa carreira depois, diferente de filmes como Vidas Sem Rumo ou Picardias Estudantis, que tinham elencos de jovens desconhecidos, mas tinham nomes como Tom Cruise, Sean Penn, Jennifer Jason Leigh, Forest Whitaker, Rob Lowe, Patrick Swayze, Matt Dillon, Ralph Macchio e Eric Stoltz. Acho que a única exceção é Mercedes Ruehl, que faz um papel pequeno como a policial isca, e que depois faria filmes como O Pescador de Ilusões, De Caso com a Máfia e Quero ser Grande. Curiosidade: este é seu segundo filme, Mercedes fez um filme antes desse: Dona Flor e Seus Dois Maridos.

Visto hoje, Warriors é muito datado. Ok, mais de 40 anos se passaram, isso é até algo normal. Mas, o filme envelheceu mal. Ainda tem muitos fãs, mas acredito que seja pela nostalgia. Não se a garotada “pós sessão da tarde” iria curtir.

Ambulância – Um Dia de Crime

Crítica – Ambulância – Um Dia de Crime

Sinopse (imdb): Dois assaltantes roubam uma ambulância depois do assalto deles ter corrido mal.

Filme novo do Michael Bay, a gente já sabe mais ou menos o que vai encontrar. Bay é um cara intenso. Muito close, muita câmera lenta, muita cena ao pôr do sol, muita música dramática. E ao mesmo tempo, muita correria e muita explosão.

Agora, goste ou não, a gente tem que reconhecer que o cara sabe filmar. São muitas cenas bem filmadas. Teve um detalhe de uma câmera aérea – provavelmente um drone – que sobe, desce, corre entre as pessoas, corre entre os carros, gostei bastante desses takes.

Sobre as cenas de perseguição – são muitas! – parte funciona, parte não funciona. Algumas são muito boas – teve uma em particular onde a câmera está vindo em velocidade perto do chão, um carro pula por cima dela e depois ela voa por cima de outro carro – se heu estivesse vendo em casa, certamente iria voltar pra rever. Mas às vezes as cenas parecem confusas e com falhas de continuidade.

Agora, o roteiro… Ah, o roteiro… Não só é cheio de coisas forçadas, como tem pelo menos três pontos que me deram raiva. Um deles vou falar agora, porque é uma das primeiras cenas do filme e uma das coisas que faz o filme acontecer: Will está precisando de dinheiro para uma cirurgia da sua esposa, então ele vai até Danny para pedir emprestado. Chegando lá, ele Danny está saindo para um grande e sofisticado assalto a banco, e precisa da participação de Will, porque está faltando uma pessoa no seu time. Ora, nunca assaltei um banco, mas já vi diversos filmes com o assunto, e os planos sempre são planejados cuidadosamente. Como assim o cara que chegou agora “entra aí que está faltando uma pessoa”?!?!? (Os outros dois pontos falo depois de um aviso de spoilers).

Além do roteiro forçado, o filme é longo demais. São duas horas e dezesseis minutos onde mais da metade é essa longa perseguição. O filme seria melhor se fosse mais enxuto, talvez devessem cortar uns quarenta minutos de perseguições.

Mesmo assim, achei o filme divertidíssimo. Alguns diálogos são bem divertidos, como toda a relação entre o chefe de polícia e sua assistente Dzaghig. E ainda temos citações a outros filmes do próprio Michael Bay, A Rocha e Bad Boys, além de uma referência a Coração Valente.

E teve uma cena em particular que achei o momento mais engraçado do ano no cinema até agora. É uma cena que envolve a música Sailing, do Christopher Cross. Não, a música não é engraçada. Mas a música foi usada de uma maneira tão imprevisível, tão esdrúxula, que a cena ficou tão engraçada quanto a piada do Michael Jordan no novo Space Jam.

Sobre o elenco, achei o trio principal ok. Não são personagens muito complexos, mas Jake Gyllenhaal, Yahya Abdul Mateen II e Eiza Gonzalez funcionam para o que o filme pede. E gostei da relação entre os irmãos. Também no elenco, Garret Dillahunt, Keir O’Donnell, Jackson White e Olivia Stambouliah.

Vamos aos problemas do roteiro?

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

Duas cenas me incomodaram muito. Entendo que boa parte do cinema é feita de decisões burras de personagens, mas duas das cenas daqui foram além da burrice normal.
– Está rolando a perseguição. Dezenas de carros de polícia atrás da ambulância. Mas precisam realizar uma cirurgia, então a ambulância reduz a velocidade pra 30 km/h. Ué, por que os carros de polícia também reduziram? Por que não aproveitaram pra abordar?
– Will dá uma ideia que é até boa, eles pedem para parceiros roubarem outras ambulâncias, e vão para debaixo de um viaduto, para saírem várias ambulâncias iguais e distraírem os policiais. Ok, boa ideia. Mas… Eles resolvem pintar a ambulância onde eles estão, para disfarçá-la. Caramba! Por que não trocar de carro??? Pra que pintar uma ambulância e continuar nela???
Este segundo ponto é necessário para a conclusão do filme, teriam que mudar o final. Mas o primeiro era só cortar esse sub-plot da cirurgia. Fácil fácil.

FIM DOS SPOILERS!

Mesmo com esses problemas, me diverti muito na sala de cinema. E, pra mim, “cinema é a maior diversão”. Entendo quem não gostar, mas, quem entrar no clima vai ter um bom entretenimento por duas horas.

Agente das Sombras

Crítica – Agente das Sombras

Sinopse (imdb): Travis Block é um agente do governo que aceita o seu passado sombrio. Quando descobre uma conspiração dirigida aos cidadãos americanos, Block encontra-se na mira do director do FBI que uma vez ajudou a proteger.

Mais um filme de ação genérico do Liam Neeson. O diretor é o mesmo Mark Williams que dirigiu Legado Explosivo. Os dois filmes são bem parecidos, então vou repetir aqui um parágrafo que escrevi naquela ocasião: “Liam Neeson é um grande ator, não há dúvidas. Concorreu ao Oscar por A Lista de Schindler, concorreu 3 vezes ao Globo de Ouro (Schindler, Michael Collins e Kinsey). E depois de “velho”, investiu nos filmes de ação blockbuster, fez Star Wars, fez Batman, Esquadrão Classe A, Fúria de Titãs, entrou numa onda de filmes de vingança, e assumiu a carreira de action hero da terceira idade. Ele faz isso muito bem, pena que a maioria dos filmes que ele faz hoje são parecidos. Agente das Sombras (Black Light, no original) segue essa onda, de filme genérico com o Liam Neeson coroa badass.”

Mas, preciso dizer que o resultado final deste Agente das Sombras é inferior ao Legado Explosivo. As cenas de ação são mal filmadas, e o vilão é péééssimo!

Agente das Sombras traz um homem ligado ao FBI, que traz mistérios misteriosos, que se vê num grande complô conspiratório. Nada de muito criativo, mas talvez rendesse um filme maomeno se tivesse mais cuidado no roteiro e direção.

São duas cenas de perseguição de carro. Uma delas é até ok, com um carro perseguindo um caminhão de lixo – o filme foi filmado na Austrália, o que justifica o caminhão com o volante “do lado errado” (mas que ficou bem estranho, porque os carros são com o volante igual ao nosso). A segunda cena me pareceu estranha, porque o carro perseguido é um carro esporte que – segundo as minhas cartas de Super Trunfo – era pra correr mais rápido que o carro que estava perseguindo.

Mas Agente das Sombras guarda o pior para a parte final. O vilão malvadão cede todos os seus segredos sem reagir, e foge dando passinhos de Pantera Cor de Rosa. A partir daí, nada se salva na sequência final.

No elenco, o único outro nome digno de nota além do Liam Neeson é Aidan Quinn, que era um protótipo de galã nos anos 80 e 90, e estava sumido. Mas ele está tão mal que era melhor ter continuado sumido.

Liam Neeson ainda não desceu ao patamar atual do Bruce Willis – que faz filmes ruins onde só aparece por alguns minutos (tanto que Willis ganhou uma categoria exclusiva na premiação Framboesa de Ouro!). Pelo menos Neeson realmente protagoniza o filme, e ele ainda tem carisma suficiente para levar espectadores ao cinema. Mas seria uma boa ele repensar a carreira, porque não sei quanto tempo vai durar a paciência do público

Batman

Crítica – Batman

Sinopse (imdb): Quando o Charada, um serial killer sádico, começa a assassinar figuras políticas importantes em Gotham, Batman é forçado a investigar a corrupção oculta da cidade e questionar o envolvimento de sua família.

Tinha uma galera reclamando “nas internetes’ sobre este novo Batman. As críticas sempre eram quase sempre relacionadas ao novo protagonista, Robert Pattinson, que parece que sempre será lembrado como o “vampiro purpurina” da saga Crepúsculo. Heu não tenho nada contra ele, sei que é um bom ator. Minha dúvida com este filme era “mas será que a gente já precisa de um novo Batman?” Afinal, “anteontem” ainda era o Ben Affleck, que, na minha humilde opinião, fez um bom trabalho como o homem morcego, e ano passado teve filme com ele no papel.

Mas, Hollywood é assim, eles vão fazer novos filmes não importa se é a hora certa ou não. Pelo menos, a boa notícia: este novo Batman é muito bom!

Ok, quase 3 horas, não precisava de tanto, podia cortar algumas gordurinhas aqui e ali e fazer um filme mais enxuto. Mas algumas cenas são tão boas que entrariam facilmente numa lista de momentos mais icônicos de todos os filmes do Batman, como a cena no corredor escuro onde só vemos alguma coisa quando os vilões atiram; ou a cena de cabeça para baixo do Batman vindo até o carro capotado, na chuva e com a explosão ao fundo.

Dirigido por Matt Reeves, que já tinha mostrado competência na franquia Planeta dos Macacos, Batman (The Batman, no original) é um belo espetáculo visual. A fotografia de Greig Fraser (que está concorrendo ao Oscar por Duna) é um espetáculo, muitas cenas escuras, muitas cenas com chuva, muito contra luz. E não é só isso, a cenografia também enche os olhos – Gotham é uma cidade suja e decadente. Também gostei de como os vilões aparecem mais reais – o Pinguim parece mais um líder mafioso do que um freak (como era o Danny De Vito do filme de 1992); e o Charada é um louco com seguidores pela internet.

Vamos ao elenco. Robert Pattinson já mostrou que é um bom ator, e ele está muito bem como o Batman. Mas… Não curti muito ele como Bruce Wayne. Enquanto o novo Batman me convenceu, o Bruce Wayne do Christian Bale vinha à minha cabeça cada vez que aquele jovem emo aparecia na tela. Zoë Kravitz está ótima como a Selina Kyle, e a relação dela com o Batman é perfeita. Paul Dano está impressionante como o Charada, e Colin Farrell, irreconhecível como o Pinguim. Também no elenco, Peter Sarsgaard, John Turturro, Andy Serkis e Jeffrey Wright.

Tem uma perseguição de carro que me causou sensações opostas. Por um lado, é uma cena plasticamente muito bonita. Muitas luzes, muita água, a cena eleva a adrenalina lá no alto. Mas, por outro lado, as imagens são muito entrecortadas. Nem consegui ver a cara do novo Batmóvel. Vão me xingar, mas deu saudade de Velozes e Furiosos

Tenho um comentário negativo sobre a trilha sonora de Michael Giacchino. O tema que fica tocando repetidamente é muito igual à marcha imperial de Guerra nas Estrelas. Ok, boa trilha, mas preferia um tema diferente.

A sessão de imprensa foi na segunda de carnaval, não fui porque estava viajando com a família, e o filme ia estrear no dia seguinte. Fui então terça em uma sessão dublada com meus filhos. Dois comentários, um geral e um pessoal. O primeiro comentário é que não só a dublagem é muito boa, como o filme tem várias coisas escritas na tela, e quase tudo estava em português – conseguiram alterar os textos! O comentário pessoal é que o Charada foi dublado pelo meu amigo Philippe Maia, que fez um trabalho excelente!
Claro que o filme tem espaço para continuações. Que mantenham a qualidade!

Ah, tem uma cena pós créditos com uma piada bem cretina. Ri alto na sala de cinema, não pela piada, e sim pela quantidade de gente que ficou esperando para ver aquilo!

Reacher

Crítica – Reacher

Sinopse (imdb): Jack Reacher foi preso por assassinato e agora a polícia precisa de sua ajuda. Baseado nos livros de Lee Child.

O personagem é o mesmo dos filmes Jack Reacher de 2012 e 2016, estrelados por Tom Cruise – o primeiro é um bom filme; o segundo é maomeno. Lembro que na época criticaram a escolha de Cruise, que seria muito mais baixo que o personagem no livro (Cruise tem 1,70m; Reacher teria 1,90m). Bem, este problema foi resolvido: agora temos Alan Ritchson, que realmente tem o porte físico que o personagem pede.

Pena que ele é um ator péssimo! Mas, vamos por partes.

Reacher tem a mesma pegada de filmes de ação de segunda linha dos anos 80 e 90. São 8 episódios de aproximadamente 50 minutos cada com algumas boas cenas de “tiro porrada e bomba”, mas com dois problemas básicos. Vamulá.

O primeiro problema é que o roteiro é bem fraco. Os personagens são rasos e unidimensionais (personagem de desenho animado com a mesma roupa), e as situações por onde eles passam são forçadas e são caricatas. Hoje, em 2022, fica difícil de aceitar cenas tipo aquela onde os vilões sequestram e prendem crianças numa fábrica, no meio de funcionários. Acredito que o cinema de ação evoluiu, esse tipo de cena ficou ultrapassada.

O outro problema é o ator Alan Ritchson. Sim, ele tem o “physique du rôle” que o papel pede. Mas ele parece que frequentou a “escola de atuação Cigano Igor”, o cara não consegue ter expressões faciais diferentes! A mesma cara para “meu irmão morreu”, “estou com fome” ou “vamos fazer sexo”. Me lembrou o Schwarzenegger, mas quando o Schwarza interpreta o Exterminador: um robô duro e sem emoções.

O resto do elenco, cheio de nomes desconhecidos, também é ruim, mas nada tão ruim quanto o protagonista.

Se você conseguir se desligar desses dois “detalhes”, pode até curtir a série. Como falei antes, a série tem a pegada de filmes de ação dos anos 80 e 90, mais pancadaria do que lógica. E o protagonista é bom nessas cenas, além de ser uma espécie de Sherlock Holmes quando investiga.

Parece que anunciaram uma segunda temporada. Será que dá pra trocar de ator?

Uncharted – Fora do Mapa

Uncharted – Fora do Mapa

Sinopse (imdb): O astuto Nathan Drake é recrutado pelo experiente caçador de tesouros Victor “Sully” Sullivan para recuperar uma fortuna acumulada por Fernão de Magalhães e perdida há 500 anos pela Casa de Moncada.

Nunca joguei, mas já ouço falar deste jogo há tempos. Lembro que, por indicação de um amigo, cheguei a procurar no youtube uns links onde colocam o jogo do início ao fim e é quase um longa metragem de animação – mas nunca vi os “filmes”. Ou seja, sei do que se trata, mas não sou nem um pouco familiarizado com o universo. Assim, fui ao cinema para ver um filme de aventura, mas tendo como referência Lara Croft e Indiana Jones em vez do videogame.

Dirigido por Ruben Fleischer (que fez o ruim Venom), Uncharted – Fora do Mapa (Uncharted, no original) é um bom filme. Temos personagens carismáticos e bons efeitos especiais em cenas de ação muito boas – esta cena que está no pôster é eletrizante! Agora, algumas coisas no roteiro me incomodaram bastante. Mas, relevando essas inconsistências do roteiro, Uncharted – Fora do Mapa é uma boa diversão.

Sei que tem um mimimi na internet porque o Nathan Drake deveria ser mais velho, mas isso não me incomodou. A galera que desligar o head canon não vai se importar com isso.

Sobre o elenco, Tom Holland e Mark Wahlberg fazem o de sempre. Pouca versatilidade (Holland parece que vai pegar o uniforme de Homem Aranha a qualquer momento), mas ambos têm carisma o suficiente para o que o filme pede. Antonio Banderas aparece menos, e também está ok. Já não digo o mesmo sobre as duas principais personagens femininas. Sophia Ali, que seria a “mocinha”, tem uma personagem apática. Mas quem está pior é Tati Gabrielle, que faz a antagonista Braddock, caricata demais. Ah, tem um cameo para quem jogava. Quando eles chegam na praia e encontram um cara que diz que já fez aquilo, é o ator que dubla o videogame.

A história fecha, mas tem uma cena pós créditos com gancho para uma nova aventura. A bilheteria dirá se veremos este novo filme ou não.