Arca de Noé

Crítica – Arca de Noé

Sinopse (imdb): Tom e Vini são dois ratinhos boêmios que embarcam na Arca de Noé de forma clandestina. Eles precisam usar seus talentos musicais para participar de um concurso e ajudar a manter a paz entre os animais.

Talvez um pouco atrasado, mas finalmente adaptaram os discos Arca de Noé, baseados na obra de Vinicius de Moraes!

Antes de falar do desenho, vamos a uma breve contextualização, afinal esses discos são tão antigos que já existe uma geração de adultos que não os conhece. Em 1980 foi lançado um disco infantil chamado Arca de Noé, baseado num livro de Vinícius de Moraes. Apesar do nome citar algo bíblico, na verdade o vinil trazia músicas infantis, a maioria relacionadas a bichos (mas tinham outras músicas que não tinham nada a ver com animais). Teve um segundo disco lançado em 81 ou 82, e os dois discos fizeram muito sucesso, tanto que músicas como “Lá vem o pato pataqui patacolá” entraram no cancioneiro popular infantil.

(Me falaram que teve uma coletiva onde jornalistas teriam perguntado como é adaptar uma história bíblica. Galera, façam seu dever de casa antes da entrevista!)

Comentei no início do texto que esse desenho está atrasado. Digo isso porque a minha geração foi marcada por essas canções. Mas, já se passaram 44 anos! Meus filhos já não têm mais idade pra curtir! Se a animação fosse feita 30 anos depois, acho que pegaria o público certo: os filhos das pessoas que cresceram ouvindo esses vinis. Só pra dar um exemplo: depois da sessão de imprensa, conversei com dois amigos críticos, mais novos, que sabiam pouco sobre esses discos.

Enfim, vamos ao filme. Dirigido por Alois Di Leo e Sergio Machado, Arca de Noé é a adaptação da obra de Vinícius de Moraes – li em algum lugar que seria uma adaptação do livro, mas me parece que o filme todo se baseia nas músicas. Temos novas versões de músicas conhecidas como O Pato (que antes foi gravada por MPB4), A Casa (Boca Livre), O Leão (Fagner), A Galinha D’Angola (Ney Matogrosso) e O Relógio (Walter Franco), dentre outras. Algumas foram adaptadas, como São Francisco, que virou instrumental (porque não tem como encaixar a letra neste roteiro); ou Os Bichinhos e o Homem, onde cortaram o trecho da música que fala sobre a morte: “E o homem que pensa tudo saber / Não sabe o jantar que os bichinhos vão ter / Quando o seu dia chegar”. E, claro, não tem músicas que hoje em dia seriam “canceladas”, como O Porquinho (que fala de variadas maneiras de se comer carne de porco) e Aula de Piano (que mostra uma relação muito errada entre um professor de piano e uma menininha). (Curioso que aparece um peru pegando uma partitura pro concurso, mas não toca a música O Peru, que no disco foi interpretada por Elba Ramalho).

A parte musical é muito boa, e estendo o elogio pra parte técnica (a animação não vai fazer feio frente aos grande estúdios como Disney, Pixar e Dreamworks), e também para o elenco, cheio de nomes importantes, mas vou focar nos principais. Rodrigo Santoro, Marcelo Adnet e Alice Braga fazem os ratinhos protagonistas, e Lázaro Ramos faz um leão bem divertido. E também queria destacar Gregório Duvivier, engraçadíssimo como a barata. Ah, Seu Jorge faz a voz de Deus, só em uma cena, mas também ficou bem engraçado. Também no elenco, Bruno Gagliasso, Giovanna Ewbank, Eduardo Sterblitch e Marcelo Serrado, entre outros.

(Curiosidade que li nos créditos: Rodrigo Santoro e Marcelo Adnet cantam as músicas dos seus personagens, mas Alice Braga não canta. Vi que Mariana de Moraes (neta do Vinícius) cantou no lugar dela. Mas isso foi o que li nos créditos subindo rapidamente, ainda não tenho mais informações sobre isso).

Se a parte técnica e a parte musical são muito boas, por outro lado o roteiro dá suas escorregadas. A competição musical demora muito a acontecer, e o filme enrola em algumas coisas sem graça, tipo a sidequest da baleia (nem tem música de baleia pra justificar!). E ainda tem umas piadas de “tio do pavê” que fiquei na dúvida se funcionaram ou não. Por sorte, o filme é curto (pouco mais de uma hora e meia) e esses problemas quase são apagados pela riqueza da trilha sonora.

A previsão de estreia é essa semana. Boa opção para levar os pequenos!

Meu Malvado Favorito 4

Crítica – Meu Malvado Favorito 4

Sinopse (imdb): Gru, Lucy, Margo, Edith e Agnes dão as boas-vindas a um novo membro da família, Gru Jr., que tem a intenção de atormentar seu pai. Gru enfrenta um novo nêmesis, Maxime Le Mal e sua namorada Valentina, e a família é forçada a fugir.

Reconheço que não tenho tido muita vontade de ver animações. Mas admito que gosto do Gru, e gosto ainda mais dos minions. Então bora pro novo filme da franquia, o sexto se a gente contar com os dois filmes dos minions.

Comentei aqui outro dia sobre MaXXXine e a trilogia X. São três filmes bem diferentes entre si, o que mostra uma certa coragem do diretor Ti West, que não quis procurar o caminho fácil das repetições de fórmula. Já Meu Malvado Favorito 4 (Despicable Me 4, no original) segue o caminho oposto: “se deu certo, vamos repetir a fórmula”. Por um lado, é seguro, porque o filme é muito divertido e muito engraçado. Mas, por outro lado, precisamos reconhecer que estamos vendo ideias recicladas.

(E agora fico pensando quem mais é maluco igual a mim e vê filmes tão distintos quanto MaXXXine e Meu Malvado Favorito 4…)

Para o bem ou para o mal, Meu Malvado Favorito 4 é igual aos outros. Gru encontra um novo inimigo, e ao mesmo tempo rola uma trama paralela que o faz ficar entre ser bonzinho ou voltar a ser malvado. E, claro, os minions trazem piadas ótimas.

Heu adoro o humor anárquico dos minions. Só pra dar um exemplo: tem um momento onde acontece uma explosão e um minion começa a pegar fogo – e logo tem outro minion com um espetinho assando uma linguiça no coleguinha em chamas!

Rola uma novidade, alguns minions viram super minions (lembram heróis já conhecidos, tipo Superman, Ciclope (do X-Men), Hulk, Senhor Fantástico e Coisa (do Quarteto Fantástico)). Mas esse sub plot é meio bobo.

Agora, tenho uma reclamação. Inventaram um novo filho pro Gru, um bebê. Mas, por que diabos as meninas não crescem?

Sobre a dublagem brasileira, Meu Malvado Favorito é um dos raros casos onde defendo a dublagem. O Gru brasileiro do Leandro Hassum é é tão bom que a gente nem sente vontade de conhecer o original do Steve Carrell.

Meu Malvado Favorito 4 é reciclado. Mas vai agradar os fãs da franquia.

Divertida Mente 2

Crítica – Divertida Mente 2

Sinopse (imdb): Acompanhe Riley, em sua adolescência, encontrando novas emoções.

Divertida Mente, de 2015, é um dos melhores longas da Pixar. É uma ideia simples e genial: como nossas emoções funcionam dentro da nossa cabeça. O filme era tecnicamente exuberante, e fazia o espectador rir e chorar.

Nove anos depois, uma continuação. Como continuar um filme desses sem perder qualidade? E uma coisa me acendeu o sinal de alerta: mudaram o diretor – o primeiro é dirigido por Pete Docter, responsável por alguns dos melhores Pixar até hoje (ele dirigiu Monstros S.A. Up e Soul, além de ser um dos roteiristas de Wall-E)

Bem, dirigido por Kelsey Mann, Divertida Mente 2 (Inside Out 2, no original) pode não ser tão bom quanto o primeiro, mas não vai decepcionar ninguém.

O filme se passa dois anos depois do primeiro, e agora Riley está entrando na adolescência, e por isso surgem novas emoções. Conhecemos a Ansiedade (a grande protagonista do filme), a Inveja, o Tédio e o Vergonha.

O fato de termos muitos personagens dificulta o equilíbrio. Ansiedade rouba o protagonismo que era da Alegria, e é um personagem ótimo. Tédio aparece pouco, mas são participações pontuais e geniais, todas são muito boas. Algo parecido acontece com Vergonha, aparece menos mas são boas aparições. Por outro lado, Inveja não é um bom personagem. Parece apenas uma “escada” para Ansiedade.

“Ah, Helvecio, por que você acha este segundo filme inferior ao primeiro?” Bem, são dois motivos. O primeiro é que repetem a fórmula. Alguma coisa acontece que tira as emoções do centro de controle, e elas precisam descobrir como voltar, enquanto problemas vão acontecendo na sua ausência, Exatamente o mesmo plot. É ruim? Não. Mas precisamos reconhecer que é uma trama reciclada.

O outro motivo é que parece que a Pixar está segurando a mão nas emoções (olha a ironia!). O primeiro filme tinha momentos fortes que faziam todos chorarem, como a morte do Bing Bong (spoiler de nove anos atrás!), e conseguia equilibrar bem os momentos muito engraçados com esses momentos “para fazer o espectador chorar”. Este novo é muito engraçado, mas não me lembro de nenhum momento que causaria choro…

Mas, o fato de ser um degrau abaixo de um dos melhores filmes da Pixar não faz de Divertida Mente 2 um filme ruim! É um filme bem escrito, bem conduzido e muito divertido. Achei o melhor Pixar desde Soul, na minha humilde opinião é melhor que Luca, Red, Lightyear e Elementos.

Falemos da parte técnica. Hoje, 2024, não espero menos do que perfeição nos gráficos de um novo longa da Pixar. Os grandes estúdios de animação alcançaram uma excelência onde fica até difícil comentar, porque é tudo muito perfeito. Mas, tem dois detalhes aqui que merecem ser ressaltados. Um deles já acontecia no filme anterior: a textura das emoções é impressionante, porque não são exatamente figuras sólidas. Além disso, gostei da mistura de estilos de animação em uma determinada cena em particular. Ficou bem legal.

Momento “velho rabugento”: legal vermos novas emoções e como elas interagem com as anteriores. Mas isso traz um problema ao primeiro filme. Nove anos atrás os adultos não tinham ansiedade, tédio, inveja e vergonha? (Segundo o imdb, rascunhos iniciais do roteiro ainda traziam outras emoções, como liberdade, amor, paixão e força).

Queria falar sobre o elenco, mas a sessão foi dublada. Maya Hawke, a filha da Uma Thurman com o Ethan Hawke (e que estava em Stranger Things) faz a Ansiedade no som original, queria ver (ouvir?) como ficou. Bem, pelo menos reconheço que a dublagem da Tatá Werneck fucnionou bem na personagem.

Por fim, fiquem até o final. Tem uma cena pós créditos que amarra uma ponta solta que tinha sido deixada no meio do filme.

Mad God

Crítica – Mad God

Sinopse (imdb): Um campanário de mergulho corroído desce no meio de uma cidade em ruínas e o Assassino emerge dela para explorar um labirinto de paisagens estranhas habitadas por habitantes monstruosos.

Quando soube que Phil Tippett tinha dirigido um longa metragem em animação stop motion, corri pra ver. Pra quem não ligou o nome à pessoa, Tippett é um técnico de efeitos especiais que tem um currículo invejável. Ele trabalhou no stop motion de filmes como Guerra nas Estrelas, O Império Contra Ataca e Howard O Super Herói, é o criador do robô Ed 209, de Robocop, e chegou a ganhar o Oscar pelos efeitos de Jurassic Park. Gosto de stop motion, gosto do trabalho do cara, claro que quero ver o filme.

Tippett demorou mais de 30 anos pra terminar o filme – nos créditos diz que ele filmou entre 1987 e 2020, ele juntava alunos que queriam experiência pra trabalhar aos sábados. Só pra citar um exemplo que está no imdb: a montanha de soldados mortos foi feita derretendo milhares de soldados de brinquedo, e seis pessoas levaram três anos para completar a cena.

(Ainda segundo o imdb, ele começou a trabalhar no projeto no fim dos anos 80, mas chegou a desistir depois de Jurassic Park, em 1993, porque achou que o CGI ia substituir o stop motion. Mas ele voltou atrás, fez uma campanha no Kickstarter e retomou o projeto.)

Heu queria gostar de Mad God. Realmente queria. Mas…

O visual é impressionante! Muitas cenas enchem os olhos! Mas, o filme vai rolando, e nada acontece! Quer dizer, muita coisa acontece, mas tudo deve ter algum significado simbólico que não fica explícito. Ou seja, é daqueles filmes pra se ver com “manual de instruções” ao lado, pra explicar cada uma daquelas loucuras que vemos em tela. E o fato de não ter diálogos não ajuda em nada.

Como não consegui entender nada, com meia hora de filme, me cansei. E como Mad God tem uma hora e vinte e três, virou uma experiência torturante chegar ao fim.

(Ainda tem um problema, pelo menos pra mim. Mad God é de 2021, mas só vi agora, depois de ter visto o Pinóquio do Del Toro, lançado um ano depois, mas com um alcance muito maior. E Pinóquio é muito melhor em todos os sentidos, porque além de ter um visual ainda mais embasbacante, traz uma história linda!)

Pena, porque o trabalho é belíssimo. Vemos um personagem (que não entendi muito bem o que é) descendo a um submundo onde vemos monstros bizarros em cenários bizarros, mas tudo muito bem feito. Ainda tem muita violência (muitos bonecos morrem!) e muito gore (incluindo algumas cenas nojentas com fluidos corporais). E quase tudo é em stop motion, tirando algumas poucas sequências com atores humanos no meio do filme (o ator principal é Alex Cox, diretor dos cultuados Repo Man (84) e Sid & Nancy (86)).

Mas o resultado, infelizmente, ficou muito chato. Reconheço o trabalho de Tippett, mas é difícil aguentar Mad God até o fim. Do jeito que ficou, o filme mais parece um catálogo de efeitos especiais. Talvez fosse melhor relançar com uma narração ao fundo situando o espectador.

Kung Fu Panda 4

Critica – Kung Fu Panda 4

Sinopse (imdb): Após ser escolhido para se tornar o Líder Espiritual do Vale da Paz, Po precisa encontrar e treinar um novo Dragão Guerreiro, enquanto uma feiticeira perversa busca trazer todos os vilões-mestres já derrotados por Po do reino espiritual.

Heu não ia ver este quarto filme do Kung Fu Panda. Pra ser sincero, não me lembro do primeiro, e, pior, nem me lembro se vi o segundo e o terceiro. E, como comentei aqui num post ano passado, agora que meus filhos estão um pouco mais velho, tenho visto menos filmes infantis. Mas aí lembrei de Gato de Botas 2, que foi uma bela surpresa, e resolvi ir à sessão. Mas, vou fazer meus comentários aqui como um espectador leigo: não trarei nada de head canon relativo aos outros filmes!

O panda Po precisa treinar seu sucessor. Ele escolhe uma ladra e os dois saem “em grandes aventuras”. Claro, tem uma nova e perigosa vilã, mas não achei nada demais, não tem nada de memorável nela. (Li críticas sobre a história não usar os “Cinco Furiosos”, que estavam nos outros filmes. Como falei, me lembro pouco dos outros filmes, então isso não me incomodou.)

Se Gato de Botas 2 trouxe uma textura diferenciada nas imagens (influência de Aranhaverso), aqui a animação não traz muitas novidades técnicas. Algumas cenas de ação ficam com a tela dividida, o que traz um bom efeito visual, e tem uma luta num “contra luz”, onde vemos apenas as silhuetas. Ok, tecnicamente bem feito, mas alguns degraus abaixo dos outros dois filmes citados neste parágrafo.

Claro, o filme é engraçado – as vozes originais são de Jack Black e Awkwafina, ninguém vai esperar algo diferente da comédia. Mas preciso dizer que o que achei mais engraçado foram aqueles coelhinhos “do mal”. Não tem como não lembrar de Monty Python!

Sobre a trilha sonora, preciso dizer que gostei muito de uma versão instrumental de Crazy Train, do Ozzy Osbourne, num daqueles “momento videoclipe”. Se a sequência é clichê, pelo menos criaram uma nova versão da música. O resto da trilha é apenas competente.

Parece que Kung Fu Panda decepcionou os fãs da franquia. Mas, se você for ao cinema apenas atrás de uma hora e meia de uma animação divertida, pode até curtir.

Nimona

Crítica – Nimona

Sinopse (imdb): Nimona é a única pessoa que pode ajudar o cavaleiro Ballister Blackheart a provar sua inocência quando ele é acusado de um crime que não cometeu.

Nimona era um projeto da Blue Sky. Quando a Disney comprou a Blue Sky, Nimona foi um dos vários projetos cancelados – segundo o imdb, já tinha 70% finalizado! O motivo do cancelamento não foi divulgado, pode ter sido apenas um “não queremos esse projeto”. Mas, como o protagonista é gay, claro que todos desconfiam ser este o motivo.

E aí que está a genialidade de Nimona. A orientação sexual do personagem tem zero importância para a trama. Por outro lado, o filme usa a personagem título pra falar de preconceito e aceitação. Mas, a sociedade rejeita a personagem porque ela é diferente – no caso, é um monstro, não tem nada de orientação sexual no conflito apresentado no filme. Me lembrei de A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas, outro filme que levanta a discussão mas sem levantar a bandeira.

Polêmicas à parte, o que mais gostei em Nimona foi da personagem título, agitada, anarquista, engraçada, irônica, maluquinha e muito, muito carismática. A personagem é sensacional! Um amigo comentou que ela é meio punk, no sentido literal: ela é contra o sistema e contra tudo o que está por aí!

A Nimona é uma metamorfa, e com isso ela é responsável por várias sequências excelentes. Tem uma cena onde ela vira um dragão e imita uma propaganda de cereal que é genial em mais de uma camada: a trilha sonora ao fundo é Tra La La Song, do seriado Banana Split – mesma música usada em uma sequência parecida em Kick Ass, estrelado por Chloe-Grace Moretz (que faz a voz da Nimona).

Outra coisa bem legal é o visual. Antes do filme rola um prólogo que se passa num passado distante. Aí, mil anos depois, continua tudo meio medieval, mas, ao mesmo tempo, tudo tecnológico, com smartphones e carros voadores. Taí, não me lembro de outro filme ou desenho que conseguiu misturar tudo assim e criar uma sociedade ao mesmo tempo medieval e tecnológica.

Vi o filme com meu filho, ele preferiu ver dublado. Ok, a dublagem é boa, mas deu pena de não ouvir as vozes de Chloe-Grace Moretz e Riz Ahmed, que dublam os principais no original.

Tive um certo problema com a cena final, acho que não deveria acontecer daquele jeito, mas não apaga a boa experiência que o filme proporcionou. Deve ter continuação. Que mantenham a qualidade!

Atiraram no Pianista

Critica – Atiraram no Pianista

Sinopse (Festival do Rio): Um jornalista musical de Nova York embarca em uma missão para desvendar a verdade por trás do desaparecimento do jovem pianista prodígio Tenório Jr. Uma história comemorativa sobre a origem do icônico movimento musical da Bossa Nova, Atiraram no Pianista captura um tempo fugaz repleto de liberdade criativa em um ponto de virada da história latino-americana nas décadas de 60 e 70, pouco antes do continente ser engolido por regimes totalitários.

E vai começar o Festival do Rio 2023! Heu acompanho o Festival do Rio desde sempre, desde antes de chamar Festival do Rio, desde a época que era Mostra Banco Nacional (antes disso era o Festrio, mas esse só peguei uma edição). É uma época que gosto muito porque tem muitos filmes diferentes e heu gosto de ver filmes diferentes. Então é pra gente ficar de olho na programação e escolher alguns filmes no risco – já vi muitos filmes muito legais no Festival que depois nunca mais teria oportunidade de ver; mas também já vi muito filme ruim – faz parte da proposta.

Nos últimos anos, minha relação com o Festival do Rio não foi boa por vários motivos que não interessam no momento, então vi pouca coisa. Mas parece que esse ano vou conseguir ver alguns filmes. Então vamos começar hoje falando de Atiraram no Pianista (They Shot the Piano Player, título internacional), filme de abertura do Festival do Rio, que é uma animação espanhola, dirigida por Fernando Trueba e Javier Mariscal (Chico & Rita), com as vozes principais de Jeff Goldblum e Tony Ramos, e que conta a história de um pianista de bossa nova.

O filme traz um jornalista americano (voz do Jeff Goldblum) que está pesquisando sobre música brasileira, sobre o início da bossa nova e o samba jazz. Ao ouvir um solo de piano, ele resolve procurar quem é o músico, e descobre que o pianista é o Tenório Jr, um cara que sumiu. Ele então vem para o Rio de Janeiro para pesquisar sobre o pianista, e acaba descobrindo que ele foi uma provável vítima da ditadura argentina.

Antes de tudo, é bom avisar que, tecnicamente falando, a qualidade da animação não é lá grandes coisas. O objetivo aqui não é ter uma animação realista. Então quem for ao cinema esperando alguma coisa tipo os Pixar, Disney e Dreamworks da vida, ou quem for ao cinema esperando alguma animação revolucionária, como o Aranhaverso ou Tartarugas Ninja, vai se decepcionar. A animação aqui é bem simples.

Por outro lado, o filme traz depoimentos de vários ícones da música brasileira, como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Toquinho, João Gilberto, etc (além de pessoas ligadas ao Tenório Jr) – tem até um depoimento do Vinicius de Moraes, retirado de um documentário. E é curioso porque a voz original da pessoa está lá, mas a pessoa é desenhada, o filme continua sendo desenho animado. Ou seja, é um desenho animado que mistura uma história fictícia com um documentário.

Heu sou músico e heu sou chato, então eu vou fazer uma reclamação, mas que sei que não é nada importante, sei que é uma bobagem. Tem um momento do filme que o jornalista acha uma partitura que seria uma música do Tenório Jr, e ele leva a um pianista cubano pra ele tocar. O problema é que dá pra ver claramente que nessa partitura não tem nenhuma melodia, só tem os acordes. O pianista não conseguiria tocar a melodia composta pelo Tenório Jr, só conseguiria tocar a sequência de acordes que ele escreveu. Mas ok, eu aceito, porque isso não é uma animação realista. Quando você vê o cara tocando piano, não é um piano de verdade, não é que nem Soul, onde você via as teclas e os dedos do cara. Não, Atiraram no Pianista não quer ser realista. Mas, sou chato e preciso falar que aquela folha que ele entregou pro pianista cubano, não, ele não conseguiria ler a melodia com aquilo.

Por outro lado, é um filme gringo, mas que respeita a geografia do Rio de Janeiro. Provavelmente filmaram ou fotografaram as paisagens e desenharam os cenários baseados nesses registros. Por exemplo, o Beco das Garrafas que aparece no filme é exatamente igual ao Beco das Garrafas da vida real. Gosto disso, quando um filme estrangeiro faz a pesquisa da maneira correta.

Além disso, a parte musical é muito bem feita. Reconheço que não sou um grande apreciador de bossa nova e samba jazz, mas reconheço a qualidade das músicas. E a seleção musical é muito boa.

Atiraram no Pianista ainda aproveita para denunciar barbaridades que aconteceram nas ditaduras sul americanas entre nos anos 60 e 70. Temos depoimentos de pessoas que até hoje não tiveram uma conclusão para um familiar desaparecido na época. Curioso um filme estrangeiro vir cutucar essa nossa ferida.

Atiraram no Pianista tem previsão de estrear no circuito no fim do mês.

Tartarugas Ninja: Caos Mutante

Crítica – Tartarugas Ninja: Caos Mutante

Sinopse (imdb): Os irmãos Tartaruga trabalham para conquistar o amor da cidade de Nova York enquanto enfrentam um exército de mutantes.

Antes de tudo, preciso falar que não sou fã das Tartaruga Ninja. Vi os filmes dos anos 90, vi os filmes dos anos 2010, mas nunca li nenhum quadrinho nem nunca vi nenhum desenho animado. Quando soube que este novo longa seria uma animação, quase decidi não ver. Mas um amigo que trabalhou na dublagem do filme comentou que o visual lembrava os longas do Aranhaverso. “You had my curiosity, now you have my atention!”

A gente se acostumou a animações cada vez mais realistas, evoluindo a cada ano – lembro quando vi Soul, que tem cenários que parecem filmados em vez de desenhados. Aí chegou o Homem Aranha no Aranhaverso, que trazia outra proposta: em vez de realismo, parece que estamos vendo páginas de quadrinhos na tela do cinema. Essa proposta foi tão revolucionária que ganhou o Oscar de melhor animação e começou a influenciar grandes estúdios – Gato de Botas 2 usou essas técnicas “low fi” em algumas sequências.

Tartarugas Ninja: Caos Mutante (Teenage Mutant Ninja Turtles: Mutant Mayhem, no original) foi dirigido por Jeff Rowe e Kyler Spears, que antes tinha trabalhado em A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas (outro exemplo bem-sucedido de animação que usa um visual diferente do padrão). O longa segue o estilo de “animação não realista”, mas não tenta se parecer com o Aranhaverso. O traço da animação lembra pinturas à mão, e o visual ficou impressionante. E o filme tem algumas cenas muito boas, como uma sequência de ação onde eles atacam mais de um lugar, e a edição corta trechos de cada ataque para mostrá-los em ação.

Mas o filme não é bom só por causa disso, a história também é boa. Como comentei antes, não conheço muito do universo das Tartarugas Ninja. Não sei o vilão já existia ou se foi criado para o filme. Independente disso, achei o vilão ótimo, gostei dele ter a mesma origem dos heróis, e como isso causou uma confusão no entendimento deles. Não sei se fui o único a pensar assim, mas senti uma vibe meio X-Men, com mutantes sendo rejeitados pela população, e dois grupos com perspectivas diferentes, um querendo apenas ser aceito, o outro querendo oposição aos “normais”.

O filme tem muitas piadas boas (logo no início tem uma piada de humor negro envolvendo uma barata que ri tanto que quase perdi a cena seguinte). E são muitas referências à cultura pop: falam de Marvel, de DC, de cantores, etc.

Tartarugas Ninja: Caos Mutante ainda traz outra novidade. Normalmente, cada ator grava suas falas isoladamente, e depois as frases soltas são editadas para parecerem diálogos. Aqui, foram colocados quatro atores adolescentes no mesmo estúdio, falando ao mesmo tempo, e permitindo improvisações. Isso gerou um ótimo entrosamento entre os personagens.

(Um breve comentário sobre a idade dos quatro protagonistas. Fui catar as idades dos atores Nicolas Cantu, Shamon Brown Jr., Micah Abbey e Brady Noon, mas não achei de todos. Um deles é de setembro de 2003, ou seja, mês que vem faz 20 anos. Lá nos EUA ele ainda é “teenager”, mas, aqui no Brasil, não podemos chamá-lo de “adolescente”…)

A dublagem é boa, mas quando vemos o elenco original, dá pena. Dá vontade de rever, pra ouvir as vozes de Jackie Chan, Seth Rogen, John Cena, Rose Byrne, Ice Cube, Post Malone, Paul Rudd e Maya Rudolph.

Temos uma cena pós créditos com um gancho pra continuação, que deve acontecer. Que mantenham a qualidade!

Ruby Marinho, Monstro Adolescente

Crítica – Ruby Marinho, Monstro Adolescente

Sinopse (imdb): A doce e desajeitada Ruby Marinho, de 16 anos, descobre que é descendente direta das rainhas guerreiras Kraken e precisará se esforçar para proteger aqueles que ela mais ama contra sereias vaidosas e famintas por poder.

Talvez seja um problema você colocar no pôster do filme os dizeres “da DreamWorks, que criou Shrek e Como Treinar seu Dragão“. Porque isso vai elevar as expectativas, e às vezes o novo filme é bem bobinho. Como é o caso aqui de Ruby Marinho, Monstro Adolescente.

Dirigido por Kirk DeMicco e Faryn Pearl, Ruby Marinho, Monstro Adolescente (Ruby Gillman, Teenage Kraken, no original) traz uma história que já foi contada um monte de vezes, com uma adolescente vivendo mudanças no seu corpo e com problemas de relacionamento com a mãe, ao mesmo tempo que tem os problemas de sempre na escola, como o medo de convidar seu crush para a festa de fim de ano. Parece uma receita de bolo, tem até os momentos musicais quando ela está nadando no fundo do mar.

Ok, a gente sabe que a Dreamworks tem um histórico de copiar a Disney (Monstros S.A. / Shrek, Vida de Inseto / Formiguinhaz, Procurando Nemo / O Espanta Tubarões). Achei que isso tinha ficado no passado mas Ruby Marinho parece uma cópia de Luca (monstro marinho adolescente que vive entre humanos), com toques de Red (menina adolescente que precisa controlar mudanças no corpo).

(Em Luca o monstro marinho fica igual a um humano. Aqui os krakens são azuis e não têm ossos. Mesmo assim, vivem entre os humanos, e dizem que são diferentes porque são canadenses. Ok, entendi a piada, mas achei forçada.)

Ainda falando em plágios, aqui tem uma sereia que é IGUAL à Ariel. Mas, nesse ponto em particular, achei divertido você colocar uma Ariel como a antagonista. Foi uma boa sacada.

A sessão de imprensa foi dublada. A dublagem brasileira é muito boa, não tenho queixas quanto a isso. Mas, dá pena de ver que perdemos as vozes de Toni Collette como a mãe e Jane Fonda como a avó.

Como falei, Ruby Marinho, Monstro Adolescente não é ruim, mas é tão bobinho que decepciona – assim como aconteceu com o recente Elementos da Pixar, lançado duas semanas atrás. Nessa briga entre Dreamworks e Pixar, quem está se dando bem em 2023 é a Illumination com o seu Super Mario Bros.*

*Não esqueci do Aranhaverso 2, é que considero ele feito para outro público alvo

Elementos

Crítica – Elementos

Sinopse (imdb): Em uma cidade onde cidadãos de fogo, água, terra e ar vivem juntos, Faísca, uma jovem impetuosa, e Gota, um cara que segue o fluxo da vida, irão descobrir algo elementar: o quanto eles têm em comum.

Às vezes, o rótulo “o novo filme da Pixar” pode atrapalhar. Porque a gente se lembra de Toy Story, Monstros S.A., Wall E, Divertida Mente, Os Incríveis, Up, Soul, e às vezes o novo filme é um filme bem bobinho, como é o caso deste Elementos (Elemental, no original).

A direção é de Peter Sohn, que fez O Bom Dinossauro, filme que IMHO é um dos piores do catálogo da Pixar. Não só é um filme besta, que parece uma versão de Procurando Nemo com sequências tiradas de O Rei Leão, como tem algumas cenas meio bizarras se a gente pensar que é um desenho pra crianças (tem um animal sendo decepado, e tem uma cena onde os personagens experimentam efeitos alucinógenos que funcionam como drogas).

Elementos não é tão ruim quanto O Bom Dinossauro. Mas ainda falta muito pra ser um grande filme. O grande problema aqui é o roteiro. Pra começar, a divulgação do filme tenta forçar uma barra pra falar dos quatro elementos, mas o filme só foca em dois (fogo e água). Aí na porta do cinema tem quatro cartazes, dois deles com os personagens principais, os outros dois com personagens bem secundários (tem um poster do Turrão (acho que e esse o nome), personagem que acho que só aparece umas três vezes, durante poucos segundos cada vez.)

Mas calma que piora. Os dois protagonistas não têm nenhum carisma. O Gota é um cara bobão, que só se envolveu com a Faísca porque a prejudicou intencionalmente. A Faísca também não é uma boa personagem, se irrita por qualquer bobagem, mas é menos ruim que o Gota. Mas o ponto é: são personagens que não cativam o espectador.

Ok, entendo que existe um paralelo sobre racismo / xenofobia. Me pareceu que o povo do Fogo era um paralelo com povos árabes, pelo som do dialeto deles e pelo visual de sua terra natal. Mas, lendo no imdb, o diretor Peter Sohn disse que se inspirou na sua família, que veio da Coreia sem saber falar inglês, se estabeleceu no Bronx e abriu um mercado com o nome da família. Até aí, ok. A gente vê que o povo do Fogo sofre preconceito – em uma cena, vemos que eles são proibidos de entrar em certos lugares. Mas… Se era pra ser um povo que sofre com o preconceito, como é que a Faísca é tão bem recebida pela família do Gota, vários seres de Água que são extremamente simpáticos com a pessoa do Fogo. Se era pra mostrar preconceito, pelo menos um dos personagens de Água deveria tratá-la mal.

Além disso, a trama é extremamente previsível. Cada coisa que aparece na tela já telegrafa para um momento futuro. Zero surpresa. E o fato da trama não ter um antagonista também é ruim. Se a gente parar pra pensar, o vilão do filme é a falta de manutenção do encanamento da cidade. Sim, o vilão é a Cedae.

Dito tudo isso, precisamos admitir que o visual do filme é fantástico. Procurando Nemo, de 2003, tinha 923 cores. Agora, vinte anos depois, Elementos tem 151 mil cores. E a gente vê isso na tela, o visual da cidade dos Elementos é de encher os olhos. Várias cenas você pode pausar e criar um quadro pra pendurar na parede. Nesta parte técnica, o filme realmente é impressionante.

(Um amigo comentou, depois da sessão, que não gostou dos personagens do Fogo, porque é um visual meio 2D em um filme onde tudo tem profundidade. Mas isso não me incomodou, já que o fogo não tem exatamente uma forma.)

Outra coisa divertida são pequenos detalhes ao longo da projeção fazendo piadinhas sobre os elementos, como por exemplo um dirigível zepelin que transporta personagens de Ar que esvazia quando os passageiros saem, mas infla novamente com os novos passageiros.

Mas é pouco. No fim, fica a sensação de um produto bonito, mas vazio.

Por fim, não cheguem atrasados na sessão. Antes do filme, tem um divertido curta com o Carl, de Up.