Beau Tem Medo

Crítica – Beau Tem Medo

Sinopse (imdb): Após a morte repentina de sua mãe, um homem gentil e atormentado pela sua ansiedade enfrenta seus medos mais obscuros enquanto embarca em uma jornada épica e Kafkeana de volta para casa.

Escrevo críticas há mais de dez anos. Normalmente, quando acaba uma sessão, já começo a pensar no que vou comentar aqui. Mas, quando acabou Beau Tem Medo, travei. Não tenho ideia do que vou falar.

Beau Tem Medo (Beau is Afraid, no original), é o novo filme escrito e dirigido por Ari Aster, diretor de Hereditário e Midsommar, dois filmes que heu gosto muito – e por isso, estava na minha lista de expectativas para 2023. Terror psicológico, clima tenso, sem jump scares, mas com cenas fortes e extremamente bem filmadas, Ari Aster conquistou meu respeito e minha admiração, claro que quero ver seu(s) novo(s) projeto(s).

Mas, preciso dizer que desta vez não rolou. Não curti Beau Tem Medo. E, diferente dos dois anteriores, não tem nada de terror aqui.

Existem filmes onde tudo é explicado, e existem filmes que deixam lacunas abertas para interpretação do espectador. Um tipo não é melhor nem pior do que o outro, são apenas estilos diferentes. Gosto de Buñuel, gosto de alguns filmes do David Lynch, muitas vezes curto a experiência sem entender o que o filme queria me dizer.

Mas, na minha humilde opinião, o problema de Beau Tem Medo não é ser um filme sem explicações, e sim ser um filme chato. Tem uma parte no meio, onde entra uma animação no meio da peça de teatro, onde quase dormi. Achei chaaaato… Depois olhei no relógio, ainda tinha mais de uma hora de filme!

Pena, porque algumas partes do filme são bem instigantes. Gostei da parte inicial, que mostra a vizinhança maluca onde o Beau mora – camelô vende armas de fogo, tem cadáver apodrecendo no meio da rua, e ao mesmo tempo tem um cara dançando na esquina. Heu veria um filme inteiro nesse cenário!

Sobre a parte técnica, não há o que falar. Aster sabe o que fazer com a câmera, temos algumas boas sacadas, como por exemplo um close no olho onde vemos o que acontece através do reflexo.

No elenco, Joaquin Phoenix mais uma vez manda muito bem, não será surpresa se ganhar outra indicação ao Oscar. Não há destaques no resto do elenco, o filme é só do Joaquin Phoenix. Também no elenco, Patti LuPone, Amy Ryan, Nathan Lane, Kylie Rogers, Denis Ménochet, Parker Posey, Zoe Lister-Jones, Richard Kind e Stephen McKinley Henderson. Ah, temos os jovens Armen Nahapetian e Julia Antonelli, interpretando versões adolescentes do Joaquin Phoenix e da Parker Posey. Se o garoto Armen é parecido com Joaquin, achei a Julia IGUAL à Parker!

Com intermináveis quase 3 horas de duração (são 2 horas e 59 minutos!), acredito que Beau Tem Medo vai desagradar a maior parte do público. Vou torcer para Ari Aster voltar mais inspirado no seu próximo projeto, lembro que não gostei de O Farol, dirigido por Robert Eggers, mas gostei muito do filme seguinte do diretor, O Homem do Norte. Aguardemos.

O Homem do Norte

Crítica – O Homem do Norte

sinopse (imdb): Depois de testemunhar o assassinato do pai pelas mãos do seu tio Fjölnir, e ver sua mãe e reino tomados pelo assassino, o jovem Príncipe Amleth foge para retornar anos depois, já adulto, determinado a fazer justiça.

Estreou o aguardado épico viking O Homem do Norte (The Northman, no original), novo filme de Robert Eggers.

Como falo sempre, a gente deve seguir o nome do diretor. Este é o terceiro filme dirigido por Eggers, e heu tenho opiniões opostas com relação aos outros dois. Gosto muito de A Bruxa, mas acho O Farol muito ruim. Então, rolava uma expectativa, mas ao mesmo tempo rolava um pé atrás.

A boa notícia é que gostei muito de O Homem do Norte. Gostei mais até do que A Bruxa. Empolgante, violento e muito bem filmado.

O Homem do Norte é o filme mais palatável de Eggers. Sim, tem partes contemplativas e algumas sequências cabeça, mas bem menos que os anteriores. A Bruxa era um terror cabeça, muita gente saiu do cinema com raiva do filme pelos seus momentos “tênis verde”. E O Farol era ainda mais hermético, tipo, “não gostou do meu filme porque é cabeça, vou fazer um ainda mais cabeça”. O Homem do Norte tem seus momentos “tênis verde”, claro, mas por outro lado traz uma clássica história de vingança, num ritmo alucinante, e com muito muito sangue. O cara que for ao multiplex no shopping pode até comentar sobre alguns momentos onde não dá pra entender nada, mas vai curtir a jornada de sangue e violência do protagonista Amleth.

Falei violento? O Homem do Norte é MUITO violento, e tem algumas sequências muito boas. Tem uma (que me pareceu ser um plano sequência) onde um grupo de vikings ataca uma vila e faz um massacre violentíssimo – aliás, é desta sequência que tiraram a imagem do pôster. Vou além: algumas mortes são tão gráficas que vão agradar os fãs de gore.

O visual do filme é um espetáculo. Não li sobre os bastidores, não sei se foi tudo filmado em locações ou se teve algo em estúdio, mas o resultado ficou excelente, vários planos abertos onde dá pra pausar e colocar num quadro. A trilha sonora, que usa muitos sons de instrumentos antigos, também é muito boa.

Queria fazer dois comentários sobre o elenco. O primeiro é sobre o protagonista Alexander Skarsgård. Sou fã do cara desde a época de True Blood. Ele foi o Tarzan, mas flopou. Ele estava num filme do King Kong mas ninguém lembra. Ele aqui está sensacional, ele tem porte físico coerente com o que o personagem pede, e mostra a fúria necessária para o filme. Torço muito por ele, tomara que a partir deste filme sua carreira decole.

O outro comentário não é tão elogioso. Por opção, o filme é falado em inglês, com um sotaque que ficou muito forçado. Grandes atores (Nicole Kidman, Ethan Hawke, Anya Taylor-Joy, Willem Dafoe) , grandes atuações, atrapalhadas por um sotaque artificial.

Segundo o imdb, O Homem do Norte é o filme viking mais correto feito até hoje, historicamente falando. Eggers, junto com historiadores, fez uma pesquisa minuciosa para ter cenários, figurinos e props o mais próximos o possível da realidade.

Filmão!

The Green Knight

Crítica – The Green Knight

Sinopse (imdb): Uma fantasia que reconta a história medieval de Sir Gawain e o Cavaleiro Verde.

Quando falam em filmes da A24 que dividem opiniões, me lembro de quatro filmes que ajudaram a cunhar a polêmica expressão “pós terror”: Hereditário e Midsommar (ambos dirigidos por Ari Aster), e A Bruxa e O Farol (ambos dirigidos por Robert Eggers) – gostei dos 3 primeiros, detestei o quarto. Mas, independente de gostar ou não, vendo esses quatro títulos, a gente entende que a proposta dos filmes da A24 é bem longe do mainstream.

Ou seja, heu já sabia que The Green Knight seria um filme cabeça. Até curto alguns filmes assim, mas admito que prefiro quando um filme não precisa de “manual de instruções”. Ou seja, The Green Knight já começou contando pontos negativos pra mim.

Dirigido por David Lowery (que anos atrás fez A Ghost Story, que é outro filme que também dividiu opiniões), The Green Knight tem problemas, mas também tem seus méritos . Vamos por partes.

O visual do filme é ótimo. É um filme medieval, temos o Rei Arthur e a távola redonda, e a ambientação é muito boa, tanto nas cenas internas quanto nas externas – não sei o que era paisagem natural e o que era tela verde. O visual do cavaleiro verde é outro destaque, a cena onde ele aparece no meio da távola é muito boa (aliás, parênteses pra falar da voz do Ralph Ineson, nunca tinha prestado atenção na voz dele, e que vozeirão!).

Também precisamos falar de Dev Patel. The Green Knight é daqueles filmes centrados na jornada de um personagem, basicamente todo o filme gira em torno dele. E Dev Patel está ótimo, não será surpresa se ele for indicado ao Oscar por este papel. O resto do elenco está ok, mas sem destaques. Também no elenco, Alicia Vikander, Joel Edgerton, Sean Harris e Kate Dickie.

Gostei bastante da sequência final. Li críticas negativas, mas curti como a história se desenvolveu naquele ponto.

Agora, o filme é chato. São duas horas e dez minutos, e várias sequências desafiam a paciência do espectador.

Sobre o “lado cabeça” do filme. Não acho que um filme precise explicar tudo. Mas tem coisas que funcionam, e outras não. Vou dar dois exemplos, pra não entrar em spoilers. Por um lado, a gente tem a raposa. Ninguém explica o que é a raposa, e essa explicação não é necessária para o filme. Heu acho que significa uma coisa, mas se não for, ok. Por outro lado, tem uma sequência com mulheres gigantes. Pra que? Tire as mulheres gigantes, o filme não perde nada; tire a raposa, o filme perde.

The Green Knight vai dividir opiniões. Uns vão achar genial, outros vão achar pretensioso. Minha recomendação é:vá de cabeça aberta!

As Filhas do Fogo / Las Hijas del Fuego

Crítica – As Filhas do Fogo

Sinopse (catálogo do Festival do Rio): Bem no fim do mundo, três mulheres se encontram por acaso, começando uma jornada poliamorosa que irá transformar as suas vidas. Uma viagem ao longo de estradas e através do tempo que se transforma em pura alegria, rios de prazer e diversão. Elas lentamente exploram uma paixão irreversível e a utopia do amor monogâmico, longe dos sentimentos de posse e de dor, como o inevitável fim de um amor que não se encaixa em lei alguma. Através de suas anotações, Violeta nos conta sobre as aventuras das Filhas do Fogo: um grupo de mulheres em busca de suas próprias descobertas eróticas.

Falei do Morra Monstro Morra, que era a cara da mostra Midnight Movies. Mais um filme argentino, este As Filhas do Fogo também é. Relações lésbicas, sexo explícito e muito papo cabeça numa história que não faz muito sentido. Sim, amigos, coisas que a gente só vê em mostras assim.

Escrito e dirigido por Albertina Carri, As Filhas do Fogo (Las hijas del fuego, no original) segue a estrutura básica de filme pornô: algo acontece na história para justificar a cena de sexo que vem em seguida, e assim por diante. Acredito que foi proposital, isso inclusive é citado nos monólogos narrativos. A diferença é que as personagens têm rostos comuns – nenhuma delas estaria num filme pornô “normal”.

Claro que o objetivo é provocar. Não só pelo sexo explícito, mas também por mostrar um elenco quase todo feminino em cenas meio oníricas – a longa sequência final é uma grande viagem. Acho que o único homem no elenco é justamente um ser desprezível, que maltratava a esposa.

Vale por ser diferente. Um bom exemplo de filme que não vemos facilmente por aí.

Mãe!

MãeCrítica – Mãe

O relacionamento de um casal é colocado à prova quando visitantes que não foram convidados chegam em sua casa, interrompendo sua existência tranquila.

Falei anteontem de um filme que está sendo vendido errado pelo trailer. Este Mãe! (Mother!, no original) é outro exemplo. O trailer sugere um filme de terror, e o filme passa longe disso.

Por sorte, não vi o trailer. Mas, mesmo assim, já sabia que não seria terror, afinal, trata-se do novo filme de Darren Aronofsky, o mesmo de Pi, Requiem para um Sonho, Cisne Negro e Noé.

Ok, então esqueçamos o terror e lembremos quem é o diretor. Mãe! é coerente com o resto de sua filmografia. Um filme hermético, repleto de metáforas e simbolismos. Várias camadas de interpretação, várias coisas sem sentido ao longo da projeção. E, claro, referências bíblicas. Vai ter gente que vai adorar e colocar em listas de melhores do ano; vai ter gente que vai odiar e sair antes do final.

Independente de se gostar ou não deste tipo de filme, precisamos admitir que Aronofsky é talentoso na sua proposta. Além de tecnicamente bem feito, o filme é envolvente, e a parte final é um belo espetáculo visual.

Agora, um comentário sobre o significado. Mas antes, claro, aviso de spoilers.

SPOILERS!

SPOILERS!

SPOILERS!

Ao fim do filme, meu amigo Carlos Voltor, do canal Voltorama, falou a sua interpretação: Ele seria Deus, ela seria a natureza, a casa seria o planeta. O casal é Adão e Eva, seus filhos, Caim e Abel. Na parte final, vemos representações de guerras. Cheguei em casa, verifiquei no imdb, é isso aí. Por este ponto de vista, tudo faz mais sentido!

FIM DOS SPOILERS!

No elenco, Jennifer Lawrence, a queridinha de Hollywood, encontra mais um papel perfeito para o estilo de “over acting” dela. Não sou muito fã, mas sei que sou minoria, então ela vai continuar assim… Também no elenco, Javier Bardem, Michelle Pfeiffer, Ed Harris, Kristen Wiig, Domhnall Gleeson e Brian Gleeson.

Veja por sua conta e risco. Mas vá ao cinema de cabeça aberta!

Demônio de Neon

Demônio de NeonCrítica – Demônio de Neon

Quando a aspirante a modelo Jesse se muda para Los Angeles, sua juventude e vitalidade são devoradas por um grupo de mulheres obcecadas por beleza, que assumirão todos os meios necessários para conseguir o que ela tem.

Filme novo do Nicolas Winding Refn. Essa informação é o suficiente pra gente saber qual é a do filme. Demônio de Neon (The Neon Demon, no original) segue EXATAMENTE a fórmula dos outros filmes do diretor dinamarquês.

Alguém aí não conhece os filmes de Refn? Já escrevi sobre seus três últimos filmes, Valhala Rising, Drive e Apenas Deus Perdoa. Olha só o que falei sobre este terceiro filme: “Quem viu Drive (e também quem viu Valhala Rising) sabe o que esperar: ritmo lento, poucos diálogos e muita violência gratuita. Apenas Deus Perdoa segue exatamente a mesma fórmula. E ainda repete Ryan Gosling quase mudo com sua cara de paisagem“.

Para o bem ou para o mal, todos os filmes de Refn são iguais. Um visual muito bem cuidado, mas num ritmo leeento, com atores blasé em um fiapo de história onde quase nada acontece.

Os seus fãs vão argumentar que o visual dos seus filmes é belíssimo. Ok, concordo. Realmente, a fotografia de Demônio de Neon é de cair o queixo. Pena que não existe uma história a ser contada. Conteúdo zero, mas com um belíssimo visual.

(Me lembrei de uma discussão que tive, no início dos anos 90, sobre Peter Greenaway. Um fã defendia sua obra pelo apuro visual; meu argumento era que Greenaway seria um ótimo diretor de fotografia e deveria trabalhar para outros diretores, melhores na arte de contar histórias. Usava como exemplo o Jean Pierre Jeunet, que sabia contar histórias interessantes e tinha um visual tão bem trabalhado quanto Greenaway. Só pra ilustrar meu ponto: em 1991, Greenaway lançou A Última Tempestade, enquanto Jeunet fez Delicatessen.)

O elenco tem alguns bons nomes, mas acho que não existe nenhuma boa atuação em um filme dirigido por Refn. Assim como em seus outros filmes, todos os atores têm um ar blasé e ficam com cara de paisagem durante as longas pausas que acontecem em quase todos os diálogos. Assim, um elenco com Elle Fanning, Jena Malone, Bella Heathcote, Abbey Lee, e pontas de Keanu Reeves e Christina Hendricks é desperdiçado. Ah, também tem o Karl Glusman, o protagonista de Love, acho que o cara gosta de se envolver em projetos polêmicos.

Por fim, queria saber de onde inventaram que Demônio de Neon é um filme de terror. Tem necrofilia, tem sangue. É bizarro. Mas não tem NADA de terror.

O Homem Duplicado

OHomemDuplicadoCrítica – O Homem Duplicado

Quem gosta de filme cabeça?

Adam é um professor universitário que leva uma vida monótona. Até que vê um sósia seu em um filme, e resolve procurá-lo.

Antes de tudo, é bom avisar: O Homem Duplicado (Enemy, no original) é um filme cabeça. O diretor Denis Villeneuve (Incêndios, Os Suspeitos) resolveu achar que era um novo David Lynch e fez um filme cheio de simbolismos não explicados. Só pra dar um exemplo, existem várias aranhas no filme. Aranhas de tamanho normal e aranhas gigantescas – tem uma no poster dessas, pode olhar lá. Só que o elenco assinou um contrato de confidencialidade os proibindo de explicar qualquer coisa sobre as aranhas. Ou seja, rola uma teoria por aí que explica que seria uma metáfora feminina (acho que alguém pensou em Rock das Aranhas, do Raul Seixas) – mas esta teoria não pode ser confirmada…

Em um terreno tão arriscado, claro que tem gente que vai adorar enquanto outros vão odiar. O filme passa a ser algo subjetivo, depende de como está a cabeça do espectador durante a projeção.

Voltando ao Lynch, gostei muito de Cidade dos Sonhos (Mulholland Dr.) quando vi no cinema, mesmo sabendo que o filme não faz o menor sentido. Naquela ocasião, embarquei na “viagem”. Bem, desta vez não embarquei.

O Homem Duplicado é baseado no livro homônimo de José Saramago. Não li o livro, não sei se explica as viagens do filme. Mas, mesmo que explique, sou contra filmes que precisam de “manual de instruções”. O filme tem que ser bom por conta própria, independente de deixar questões em aberto, e isso não acontece aqui.

Além de confuso, o filme é lento demais – os noventa minutos de O Homem Duplicado parecem mais longos que os cento e cinquenta e três de Os Suspeitos. E, pra piorar, a fotografia usa cores desbotadas – é tudo amarelado, o visual do filme não é agradável.

Isso, somado ao fato de termos um filme hermético, vai afastar boa parte do público “não cabeça”. Existem várias discussões na internet sobre o sentido do filme, inclusive gente que diz que leu o livro de Saramago e que não entendeu o filme.

Mas, pra mim, o que derrubou o filme não foram as partes não explicadas. Uma das coisas mais básicas da trama não me convenceu: Adam pira porque viu, em um filme, um cara parecido com ele. Gente, onde e em que época esse sujeito vive? Já vi um monte de gente parecida comigo e nunca surtei por causa disso.

Esta é a motivação que leva Adam a confrontar o seu “duplo” – que seria uma outra faceta de sua própria personalidade. Ou seja, se a premissa básica já começa forçada, as aranhas se tornam um problema secundário…

Pena, porque Jake Gyllenhal mostra um trabalho consistente. Ainda no elenco, Melanie Laurent, Sarah Gadon e uma ponta de Isabella Rosselini.

Última recomendação: se no seu cinema faltar luz quando faltarem apenas alguns segundos para acabar, aproveite a sua sorte. O último take do filme é completamente desnecessário e sem sentido.

Sob a Pele

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Crítica – Sob a Pele

Scarlett Johansson em cenas de nu frontal! Nuff said!

A sinopse: uma alienígena seduz e captura homens pelas ruas da Escócia. Aos poucos, ela começa a ter questionamentos sobre isso.

Mais ou menos um mês atrás, vazaram na internet umas imagens da Scarlett Johansson nua, tiradas de seu novo filme. Um amigo meu comentou: “tiro no pé, muita gente vai deixar de ver o filme porque já viu as imagens”. Nada disso, foi um ótimo marketing. Porque muita gente vai querer ver o filme só pela nudez. Que, na verdade, é uma das poucas coisas boas de Sob a Pele.

O filme é lento e pretensioso. Parece que o diretor Jonathan Glazer quis imitar o Kubrick, mas errou longe. Caro sr. Glazer, não basta fazer uma ficção científica cabeça contemplativa. Precisa ter talento.

O filme é tão lento que quase procurei nos créditos se o editor tinha o sobrenome Caymmi. O filme é tão lento que, em uma cena, quando a protagonista pega uma garfo para comer bolo, cochilei quando ela estava cortando o bolo com o garfo, e acordei antes do garfo chegar à boca!

Mas o filme não é ruim só porque é lento, filmes lentos podem ser bons. Sob a Pele é ruim porque não tem ritmo, porque a história é rasa, porque as atuações são ruins, porque a trilha sonora é irritante…

O diretor teve uma ideia que podia ter um resultado interessante. Tinha uma câmera escondida no carro que Scarlett dirigia pelas ruas de Glasgow – as pessoas que ela encontra não são atores, são pessoas “normais” que estavam passando na hora. Por um lado, foi interessante ver a reação espontânea dos homens ao serem abordadas por uma mulher bonita aparentando segundas intenções. Por outro lado, o resultado parece um documentário, e só serviu para deixar o filme ainda mais chato. E o sotaque escocês fortíssimo só atrapalhou.

Tem outra coisa: o roteiro não explica quase nada. Só fui entender alguns detalhes da história quando li o fórum do imdb. Um filme que necessita de “manual de instruções” é um filme que falhou, na minha humilde opinião.

Pra não dizer que nada se salva, gostei do efeito usado para a captura das vítimas, num ambiente escuro com o chão espelhado. Apesar da trilha irritante, as cenas ficaram bem legais.

E a “Scarlett Johansson pelada”? Bem, nisso o filme não decepciona. Ela aparece sem roupa algumas vezes. Por outro lado, sua atuação está apática, ela faz olhar de peixe morto por todo o filme. Os fãs dos atributos físicos da atriz vão gostar, mas quem for esperando uma grande atuação vai quebrar a cara.

Enfim, desnecessário. A não ser para aqueles que têm insônia.

Ninfomaníaca – Vol 1

Crítica – Ninfomaníaca – Vol 1

Mais uma polêmica by Lars Von Trier!

Um homem encontra uma mulher ferida na rua, e a leva para casa. Ela começa a contar a sua vida e vários casos de sua ninfomania.

Lars Von Trier já tinha incluído cenas gratuitas de sexo explícito em dois filmes anteriores, Os IdiotasAnticristo. Agora ele prometeu algo mais ousado: rostos de atores conhecidos inseridos em cenas explícitas, protagonizadas por dublês de corpo.

Mas… Ninfomaníaca é uma “propaganda enganosa”. Na verdade, três vezes propaganda enganosa!

1- O filme não tem uma conclusão. De repente, o filme para e aparece um trailer do volume dois.

2- O tal sexo explícito só aparece uma vez, e bem rápido. Piscou o olho, perdeu.

3- Tem atores que estão no cartaz que não aparecem, como Willem Dafoe.

Von Trier declarou que seu filme terá várias versões. Supostamente, teremos uma versão completa com cinco horas e meia – esta seria a versão com sexo explícito. Mas, por enquanto, só temos meio filme, e em uma versão reduzida.

A primeira coisa que a gente lembra é de Kill Bill – outro filme dividido em dois “volumes”. Mas Kill Bill vol 1 é bem diferente do 2, Tarantino fez dois filmes distintos. Ainda é cedo pra falar, mas tudo indica que Von Trier só dividiu o filme por razões comerciais (mesmo caso do terceiro Crepúsculo). Ou seja, não precisava, pagamos um ingresso inteiro para ver meio filme.

E aí tem o agravante de ser uma versão “censurada”. Quando Anticristo passou nos cinemas, não tinha a cena de sexo explícito, esta cena foi inserida em uma versão “unrated”. Ou seja, se for verdade que o filme terá 5 horas e meia, espectador está pagando um ingresso pra ver meio filme, e ainda por cima cortado!

Dito isso, nem achei o filme tão ruim quanto os últimos filmes do diretor (as enganações Melancolia e Anticristo). A história flui bem, apesar do papo cabeça com metáforas com a pescaria e com a polifonia musical. E algumas cenas são legais – a sequência da personagem da Uma Thurman é muito boa.

No elenco, uma coisa curiosa. A protagonista era pra ser a Charlotte Gainsbourg, não? Só que ela está contando “causos” de sua juventude. Então a personagem é a mesma, mas a atriz é a estreante Stacy Martin, bem mais bonita que a feiosa Charlotte. E desinibida, a jovem passa metade do filme sem roupa.

Ainda no elenco, Uma Thurman e Christian Slater estão muito bem. Ninfomaníaca ainda conta com Shia LaBeouf, Stellan Skarsgård, Jamie Bell e Connie Nielsen. E, como falei, Willem Dafoe nem dá as caras.

Em termos de imagens fortes, sexualmente falando, Ninfomaníaca é até comportado – tirando a tal cena explícita e uma cena de sexo oral que não dá pra saber se é real ou com uma prótese. Fora isso, temos no cinema recente vários exemplos onde o sexo é mais “real” – vide o último ganhador da Palma de Ouro de Cannes, Azul é a Cor Mais Quente.

Agora resta esperar o resto do filme. Meio filme só merece meia crítica.

p.s.: Vi dois cartazes do filme por aí. Um deles, de tremendo mau gosto, mostra os rostos dos atores em atos sexuais – outra propaganda enganosa, porque nem todos os personagens fazem sexo no filme. O outro, mais discreto, é bem mais interessante. Escolhi este outro para o post.

Apenas Deus Perdoa

Crítica – Apenas Deus Perdoa

Não sei por qual motivo, este era um dos mais procurados filmes do Festival do Rio 2013. Com dois pés atrás, fui ver qualé.

Um inglês, membro de uma poderosa família de criminosos, gerencia uma academia de boxe em Bangkok, fachada para uma operação internacional de heroína. Quando seu irmão mais novo é assassinado depois de matar uma prostituta, ele recebe a visita de sua mãe, que chega com a obsessiva ideia de recolher o corpo do caçula e vingar sua morte.

Heu já estava escaldado por ser “o novo filme do diretor e protagonista de Drive“. Achei Drive pretensioso, superestimado – e fraco. Mas acredito que essa desconfiança ajudou. Com a expectativa lá embaixo, não achei Apenas Deus Perdoa (Only God Forgives, no original) tão ruim quanto esperava.

Quem viu Drive (e também quem viu Valhala Rising, filme anterior do mesmo diretor) sabe o que esperar: ritmo lento, poucos diálogos e muita violência gratuita. Apenas Deus Perdoa segue exatamente a mesma fórmula. E ainda repete Ryan Gosling quase mudo com sua cara de paisagem. (O outro nome conhecido do elenco é Kristin Scott Thomas, caricata e canastrona como nunca na carreira.)

Pelo menos Apenas Deus Perdoa tem uma coisa muito boa: uma belíssima fotografia. O diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn fez um bom trabalho na escolha das imagens. Por mais estranho que pareça, é um filme violento e ao mesmo tempo bonito. A trilha sonora também é boa.

Agora, falemos sobre a violência. Apenas Deus Perdoa é um filme violento, claro. Mas me pareceu mais discreto que os outros dois filmes que vi do mesmo diretor. Refn segurou um pouco a onda nas imagens graficamente violentas. Critiquei o excesso de violância gratuita em Drive, mas senti falta aqui…

Pelo fórum do imdb, tem muita discussão sobre Apenas Deus Perdoa – metade defendendo, metade atacando. Na minha humilde opinião, tem seu valor. Mas está longe de ser um filme bom.