O Artista

Crítica – O Artista

O que? Um filme mudo e preto e branco concorrendo a vários Oscar em pelo 2012? Sim! E não é que o filme é bom?

Hollywood, 1927. A estrela do cinema mudo George Valentin testemunha o início do som no cinema, e começa a cair no ostracismo, enquanto assiste a ascenção da jovem estrela Peppy Miller, ajudada por ele no início da carreira.

Quando apareceu o cinema falado, muitas das estrelas do cinema tiveram problemas e não conseguiram se adaptar – uns tinham a voz feia, outros tinham sotaques fortes… O Artista fala sobre esta transição – George Valentin não se adapta ao “novo cinema” e fica para trás.

Confesso que fiquei com o pé atrás quando li sobre O Artista. Como seria um filme mudo hoje em dia? O único filme mudo que me lembro nas últimas décadas é A Última Loucura de Mel Brooks, de 1976, que é mudo mas não tem cara de filme velho – a ausência de diálogos é usada como parte da piada no filme.

Escrito e dirigido pelo francês Michel Hazanavicius, O Artista não é comédia. E foi feito para parecer um filme da época do cinema mudo – a fotografia do filme, figurinos e maquiagem dos atores, intertítulos com os diálogos… Na verdade, acho que só duas cenas têm som (o pesadelo e a cena final), o resto filme poderia ter sido feito nos anos 20.

Neste aspecto, o roteiro e, principalmente a trilha sonora, fazem um excelente trabalho. O filme não tem falas – ação e tensão, drama e comédia, tudo é guiado pela música. E tudo flui normalmente. Os atores usam gestos exagerados – os intertítulos só aparecem em diálogos importantes, muita coisa fica subentendida pelos gestos e expressões faciais do elenco.

Nisso, achei importante os dois protagonistas serem rostos menos conhecidos do grande público. O francês Jean Dujardin e a argentina Bérénice Bejo parecem saídos diretamente dos tempos do cinema mudo. Têm papeis coadjuvantes atores mais famosos, como John Goodman, Penelope Ann Miller, James Cromwell, Missi Pyle e Malcom McDowell numa rápida ponta.

(Um papel importantíssimo é interpretado pelo cachorrinho Uggy, mas não sei se entra como “elenco”. De qualquer maneira, o cão é sensacional!)

Não entendo muito de cinema clássico, então não reparei em citações a filmes antigos. Mas acredito que elas devem estar lá. Já li que o casal protagonista foi inspirado em atores reais, assim como a trilha sonora também tem citações a filmes clássicos.

O Artista está concorrendo a 10 Oscars: filme, diretor, ator, atriz coadjuvante (por que coadjuvante?), roteiro original, trilha sonora, direção de arte, figurino, edição e fotografia. Ainda não vi os outros pra saber como está a concorrência. Mas digo que se ganhar, não será surpresa. Aliás, será surpresa sim: O Artista tem a chance de ser o primeiro filme francês a ganhar o Oscar principal, de melhor filme!

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A Última Sessão

Crítica – A Última Sessão

Ver filmes em festivais traz um grande risco. Como muitas vezes o filme ainda não foi lançado, existem boas chances deste filme ser ruim. Infelizmente é o caso aqui, com este suposto terror francês.

A Última Sessão mostra Sylvain, o único funcionário de um cinema decadente de uma cidade do interior, que acumula as funções de gerente, programador, caixa e projecionista. Solitário, ele vive no porão do local e saúda os mesmos frequentadores de sempre do cinema. E, todas as noites, após as sessões, ele sai às ruas para matar mulheres – e roubar orelhas.

O problema é que o filme, escrito e dirigido por Laurent Achard, é leeento… Muito pouca coisa acontece, e sempre devagar quase parando. Muitas cenas contemplativas, com câmera parada. E olha que era pra ser um filme de terror.

A trama também não traz nada de novo. Maluquinho vai lá, mata e traz a orelha. Dia seguinte normal no cinema, à noite vai lá de novo, mata de novo e traz outra orelha. Chaaato. E a falta de carisma do protagonista Pascal Cervo é outro fator que atrapalha.

Enfim, dispensável. Nem precisa ser lançado por aqui.

A Fronteira

Crítica – A Fronteira

Mais um filme francês ultra-violento!

Durante violentos protestos políticos em Paris, um grupo de jovens ladrões foge em direção à Holanda. Ao pararem em um hotel perto da fronteira, a família que cuida do local traz sérios problemas para o grupo.

Na verdade, já tem um tempo que esse filme foi lançado. A Fronteira (Frontière(s) no original) é de 2007. É que nessa época heu não conhecia essa faceta do cinema francês. Mas hoje já posso comparar com outros títulos como Haute Tension, A L’Interieur, Martyrs e O Segredo da Rua Ormes. E aí vemos um problema: A Fronteira não é ruim, mas perde na comparação com os outros.

O roteiro tem alguns bons momentos de tensão. Mas também tem seus defeitos. Pra começar, a trama é bem parecida com outros filmes por aí, como por exemplo a refilmagem de Viagem Maldita, dirigida pelo francês Alexandre Aja um ano antes (isso porque não estou falando da família de The Texas Chainsaw Massacre!). Além disso, rolam algumas falhas – pra que falar dos filhos de Eva se asubtrama não vai ser desenvolvida? Mais: a primeira parte do filme é demasiado longa.

Mesmo assim, acredito que A Fronteira não vai decepcionar os fãs do gênero. O que mais assusta nesses filmes franceses (também incluo aqui os quatro citados no terceiro parágrafo) é que não existe nada de sobrenatural. O filme é generoso na violência e no gore, e podemos imagunar aquilo tudo como algo real, algo que pode acontecer com qualquer um. Pra melhorar, alguns dos personagens freaks daqui são bem interessantes.

(E os teóricos de plantão também podem usar o lado sócio-político do filme, todo o papo de revoltas populares e extrema direita. E ainda podem usar o termo “fronteira” para se referir à fronteira entre a sanidade e a selvageria experimentada pela protagonista…)

Enfim, nada demais. Mas pode ser uma opção para os apreciadores do recente cinema francês ultra-violento.

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Mamute

Crítica – Mamute

Serge Pilardosse (Gérard Depardieu), apelidado de Mamute, ao se aposentar, descobre que precisa reunir comprovantes de trabalho passados. Ele sai com sua velha moto para procurar seus antigos empregadores, para conseguir os papeis que ainda faltam. Nesta viagem, Mamute acaba descobrindo coisas sobre ele mesmo.

Escrito e dirigido pela dupla Gustave de Kervern e Benoît Delépine, Mamute está sendo vendido como comédia, mas, sei lá, considero um drama com alguns momentos engraçados. Algumas cenas são realmente engraçadas, como aquela do restaurante onde o sujeito fala ao telefone. Mas outras trazem um humor de gosto duvidoso – a cena do reencontro com o primo é deprimente.

O que vale a pena aqui é Gérard Depardieu, grande, gordo, de cabelos compridos, realmente um grande ator, que carrega o filme nas costas e faz a gente sentir simpatia por um sujeito bobalhão.

Sobre o resto do elenco, preciso falar de dois nomes. Um é Isabelle Adjani, que faz uma fantasmagórica participação especial. Ela aparece pouco, continua lindíssima, com seus 55 anos. O outro nome é da esquisitinha Miss Ming – nunca tinha ouvido falar dela, o que me chamou a atenção foi uma cena onde ela fala algo como “meu nome é Solange Pilardosse, mas pode me chamar de Miss Ming” – imaginei o 007 se apresentando: “My name is Bond, James Bond – mas pode me chamar de Sean Connery também…”

Mas, talvez heu esteja acostumado com cinema hollywoodiano, porque fiquei esperando alguma reação mais enfática do Mamute contra todos que tanto fizeram mal a ele. Nada, o filme passa, e muito pouco acontece…

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As Múmias do Faraó

As Múmias do Faraó

Oba! Filme novo do Luc Besson em cartaz nos cinemas brasileiros!

Paris, 1911. A jovem Adèle Blanc-Sec (Louise Bourgoin) é uma jornalista que vai até o Egito em busca da cura da doença de sua irmã, que pode estar na tumba secreta de um faraó. Ao retornar para casa, descobre que um pterodáctilo está aterrorizando a cidade.

As Múmias do Faraó é baseado nos quadrinhos do franco-belga Tardi. É uma divertida mistura de Indiana Jones com Tintin!

Aliás, essa semelhança com Indiana Jones não é muito boa para o filme como um todo. Toda a parte inicial no Egito é uma aventura bem no estilo do nosso arqueólogo favorito. E isso faz o que vem depois ser um pouco sem graça… O pterodátilo, apesar de muito bem feito, não é traz sequências tão divertidas quanto a primeira parte…

Os desavisados podem achar que o filme é a volta de Luc Besson à cadeira de diretor. Claro, afinal, depois de Joana D’Arc, de 1999, ele deu um tempo na direção e se dedicou a escrever e produzir um monte de filmes (como Taxi, Carga Explosiva e B13). Mas a sua volta aconteceu mesmo em 2005, com o intimista Angel-A. E ele ainda fez os filmes infantis Arthur e os Minimoys (2006 e 2009).

O certo aqui é falar que é a volta de Luc Besson ao posto de maior diretor de blockbusters fora dos EUA. As Múmias do Faraó é uma super-produção, bem ao estilo do que ele fazia nos bons tempos, como Nikita, O Profissional e O Quinto Elemento. Os efeitos especiais são excelentes! E as múmias são mostradas como nunca antes no cinema.

O humor às vezes é meio caricato, alguns personagens são meio bobos. Mas, ora, trata-se de uma adaptação de quadrinhos! E, no papel principal, uma nova estrela: Louise Bourgoin – rola até uma breve nudez! Quem lê o blog vai se lembrar, falei dela aqui no post sobre Buraco Negro, filme cabeça que passou no Festival do Rio.

Para finalizar, heu gostaria de fazer umas perguntas ao distribuidor brasileiro: por que só cópias dubladas? E por que o filme não entrou em cartaz na Zona Sul? E isso porque não estou falando do nome do filme – as múmias são uma parte importante da trama,mas só aparecem no fim. Por que não chamar de “As Extraordinárias Aventuras de Adèle Blanc-Sec”? Falta de respeito com o espectador…

O fim do filme traz um interessante gancho para uma continuação. Que venha logo!

Copacabana

Copacabana

Babou (Isabelle Huppert) passou a vida ignorando as convenções sociais. Sua filha Esmeralda se envergonha da mãe e não pretende convidá-la para seu casamento. Sem o amor da filha e sem emprego, Babou aceita um trabalho em outra cidade, vendendo apartamentos no litoral em pleno inverno.

Copacabana é daquelas comédias leves e agradáveis, que não têm a pretensão de ser grandes filmes, apenas querem divertir.

Isabelle Huppert está ótima como a maluquinha Babou. Aliás, arrisco a dizer que ela é a melhor coisa do filme. O resto do elenco está ok, Huppert é que faz a diferença.

Ah, sim, o Brasil só é mencionado porque Babou gosta de música brasileira e quer viajar para cá. Não aparece nada do Brasil no filme, só umas fotos em agência de viagem e um grupo brega de demonstração de samba em cassinos. E a palavra “Copacabana” só aparece no título do filme… 😛

Buraco Negro / Black Heaven / L’Autre Monde

Buraco Negro

Gaspard encontra um celular perdido. Seguindo o dono, acaba o encontrando morto em uma estranha cerimônia de suicídio. Ao lado dele está, desacordada, a bela e sedutora Audrey, que acaba atraindo Gaspard, levando-o a conhecer um jogo virtual chamado Black Hole, onde ela vive uma vida paralela.

O ritmo do filme dirigido por Gilles Marchand é lento. Mas acredito que foi proposital, para mostrar um certo marasmo que acontecia com a vida de Gaspard. Encontrar Audrey e o jogo virtual foi a grande virada na sua vida.

O clima do jogo virtual é bem interessante. O jogo Black Hole é a melhor coisa do filme. Tudo escuro, contrastando com as ensolaradas locações. Aliás, belas locações, tem uma pequena praia incrustada em rochedos tão linda que dá vontade de tirar férias e ir pra lá. E olha que não gosto de praia!

O elenco não traz nenhum nome conhecido por aqui, mas acho que a gente pode apostar em Louise Bourgoin, protagonista de Les aventures extraordinaires d’Adèle Blanc-Sec, próximo filme de Luc Besson.

Buraco Negro esteve no Festival de Cannes deste ano, e agora, no Festival do Rio.

O Pequeno Nicolau


O Pequeno Nicolau

Anos 50. Nicolau é um menino feliz. Amado pelos pais, tem um monte de amigos na escola. Até que alguns acontecimentos o levam a acreditar que seus pais lhe darão um irmãozinho, e que isso atrapalhará a sua vida.

Simpático filme francês em cartaz nos cinemas cariocas, O Pequeno Nicolau é baseado numa obra de 1959, do ilustrador Jean-Jacques Sempé e do escritor René Goscinny – sim, ele mesmo, co-criador do Asterix (ao lado de Albert Uderzo).

Não conheço o original. Mas o roteiro baseado nele, escrito por Laurent Tirard (também diretor), Grégoire Vigneron e Alain Chabat, é muito bom. É uma comédia leve, cheia de personagens bem construídos e cenas bem escritas, com várias sacadas bem legais. As peripécias do menino Nicolau e seus colegas da escola são muito divertidas!

O elenco é um dos trunfos do filme. Principamente o elenco infantil. São vários garotos, cada um com sua personalidade distinta, e todos estão muito bem.

Outra coisa que muito legal são os créditos iniciais do filme, imitando um livro infantil. Simples e bem feitos, como, aliás, o filme em si.

O Pequeno Nicolau não é um filme essencial, não vai mudar a vida de ninguém. Mas a sua leveza e sua simplicidade o tornam uma opção melhor do que boa parte dos filmes em cartaz.

O Segredo da Rua Ormes

O Segredo da Rua Ormes / 5150 Rue des Ormes / 5150 Elm Street

Uêba! Mais um filme francês ultra-violento!

Yannick, um jovem estudante de cinema, se acidenta de bicicleta, e vai procurar ajuda. No lugar errado, na hora errada…

Depois de Haute Tension, A L’Interieur e Martyrs, um filme como 5150 Rue des Ormes não é surpresa para ninguém. O diretor Éric Tessier traz mais um eficiente e tenso filme francês.

Este não tem tanto gore quanto os outros que citei no parágrafo anterior. Mesmo assim, a violência é grande. Yannick presencia o que não deveria, e então é mantido prisioneiro por uma das melhores famílias de desequilibrados da história do cinema!

Jacques Beaulieu, o pai da família, é um ótimo personagem. Completamente pirado, usa um código de ética distorcido, inventado por ele mesmo. E usa o xadrez como catalisador da sua insanidade.

O elenco é desconhecido por aqui. Nenhum nome se destaca, mas todos estão bem.

Boa opção pra quem gosta do estilo! Infelizmente, acho que só através de download – este tipo de filme nunca chega aqui, né?

23/09 Atualização – este filme está na programação do Festival do Rio!

Verão Assassino

Verão Assassino

Mais uma vez, a internet me ajudou a rever um filme que quase ninguém se lembrava que existia!

Em 1976, Elle, uma linda jovem de 19 anos, se muda para uma pequena cidade e, com seu jeito provocante, chama a atenção de todos. Pin-Pon (Alain Souchon), um bombeiro local, se apaixona por ela e eles acabam juntos. Mal sabe ele que ela tem outros planos para depois do casamento…

ViVerão Assassino (L’Été Meurtrier no original, ou One Deadly Summer em inglês) no Estação Botafogo, na segunda metade dos anos 80 (o filme é de 1983). Na época, não existia internet nem dvd, e os títulos em vhs eram poucos. Então, o Estação exibia muitas reprises. Foi assim que vi vários filmes da Isabelle Adjani, como este, Possessão e Nosferatu.

Visto hoje, em 2010, Verão Assassino me pareceu um pouco longo demais. Acostumado que estou com narrativas hollywoodianas, achei que o ritmo do filme poderia ser diferente, para o filme tomar um rumo mais com cara de suspense. Mesmo assim, o resultado é muito interessante. Aliás, vale ressaltar que não me lembro de outro filme com vários personagens se alternando na narração em off, como acontece aqui.

No elenco, só um nome chama a atenção: Isabelle Adjani, novinha, e linda, linda, linda. E desinibida, também, ela tira a roupa diversas vezes! (Ok, vendo com os olhos de hoje em dia, Adjani continua linda, mas… que corte de cabelo feio, hein?)

Adjani alcançou algo que poucas mulheres em Hollywood conseguiram: não só é muito bonita como também é uma excelente atriz. E aqui ela arrebenta. Sua personagem é complexa, multi-facetada, e Adjani a interpreta com maestria.

Verão Assassino nunca foi lançado em dvd por aqui. Como disse no primeiro parágrafo, que bom que hoje existe o download de filmes!