Super/Man: A História de Christopher Reeve

Crítica – Super/Man: A História de Christopher Reeve

Sinopse (imdb): Documenta a ascensão de Christopher Reeve ao estrelato como Super-Homem, bem como sua luta para encontrar uma cura para lesões na medula espinhal depois que ele ficou tetraplégico após um acidente de cavalo.

Não sou muito fã de documentários, mas alguns amigos recomendaram este, então fui ver.

Sou um “nerd velho”, claro que fui impactado pelo Superman de 1978, e claro que me lembro do acidente que deixou o ator tetraplégico nos anos 90. Mas, vamos a uma contextualização, de repente tem alguém novo aqui que não viveu esses acontecimentos.

No fim dos anos 70, não existia o gênero “filme de super herói”. Ninguém fazia filmes assim. Digo mais: os efeitos especiais da época não permitiam mostrar de maneira convincente uma pessoa voando. Aí em 1978 estreou o filme Superman, dirigido por Richard Donner (A Profecia, Os Goonies, Máquina Mortífera, O Feitiço de Áquila), que acertou tão em cheio que até hoje está presente em listas de melhores filmes de super heróis da história.

O Superman era interpretado por um até então desconhecido, um tal de Christopher Reeve, que ficou muito marcado pelo papel – ele voltou a interpretar o Superman em três continuações, em 1980 (bom filme), 83 (filme mais ou menos) e 87 (filme péssimo!). E se por um lado o ator não teve nenhum outro filme marcante no seu currículo (talvez só Em Algum Lugar do Passado, de 1980), por outro lado nunca houve um Superman tão marcante quanto Christopher Reeve.

E, ironias do destino, ele sofreu um acidente em 1995, caindo de um cavalo, e ficou tetraplégico. Para o mundo do entretenimento, foi um choque, porque “o Superman” estava de cadeira de rodas!

Dirigido por Ian Bonhôte e Peter Ettedgui, Super/Man: A História de Christopher Reeve (Super/Man: The Christopher Reeve Story, no original) conta essa história. E conta de maneira emocionante, vai ser difícil o nerd velho segurar o choro durante a sessão! Heu me lembrava de algumas coisas, e mesmo assim, foi emocionante rever, tipo a cerimônia do Oscar onde ele aparece, pouco depois do acidente, e é aplaudido de pé por gente como Tom Hanks, Meryl Streep, Tom Cruise, Brad Pitt, Quentin Tarantino, Will Smith, Nicole Kidman, Jim Carrey, Nicolas Cage, Winona Ryder, etc. E tem coisas que heu não sabia, como por exemplo o quanto Christopher Reeve era próximo de Robin Williams (eles eram amigos desde antes da fama) – a ponto de ter um depoimento da Susan Sarandon dizendo que se Reeve não tivesse morrido, era capaz de Williams não cometer suicídio. (O filme conta com depoimentos de gente como Sarandon, Glenn Close, Jeff Daniels e Whoopi Goldberg, além de membros da família).

Mas preciso dizer que achei que Super/Man tem um problema. A segunda metade é menos interessante. Na primeira metade, vemos a ascensão da carreira de Reeve e depois detalhes sobre o acidente e sua recuperação. Depois o filme foca mais na procura de soluções para os problemas ligados a tetraplégicos e no instituto criado pelo ator. Ok, é uma coisa importante, mas, convenhamos, a história do ator que virou “o Superman mais icônico do cinema” é muito mais interessante do que as conquistas de um instituto.

O filme também entra em problemas ligados à família de Reeve. Mais uma vez, são problemas reais, é válido abordar isso no filme, mas não tem o mesmo impacto da primeira metade. O ritmo do filme cai. Talvez se a gente estivesse vendo na TV num formato de minissérie, funcionasse melhor.

Mesmo assim, vale ser visto Super/Man é um produto originalmente feito para a TV, mas estará em cartaz nos cinemas. Obrigatório para os “nerds velhos”!

Stop Making Sense

Crítica – Stop Making Sense

Sinopse (imdb): Considerado pela crítica como o maior filme-concerto de todos os tempos, a performance foi gravada ao longo de três noites no Pantages Theatre de Hollywood, em dezembro de 1983, e apresenta as canções mais memoráveis do Talking Heads.

Um amigo me convidou pra uma sessão especial de Stop Making Sense, versão remasterizada, comemorando 40 anos do lançamento, no Estação Botafogo. Já tinha visto, mas achei que seria um bom programa. Vou comentar o filme, depois comento a sessão.

Antes de começar o filme, temos um recado do próprio David Byrne comentando essa nova versão. Detalhe: ele gravou o recado para o público brasileiro!

A direção é de Jonathan Demme, que fez uns filmes simpáticos nos anos 80 (De Caso com a Máfia, Totalmente Selvagem) e em 1991 conseguiu um feito poucas vezes visto no cinema: dirigiu um filme que ganhou os cinco principais Oscar (filme, diretor, roteiro, ator e atriz): O Silêncio dos Inocentes.

Mas não vejo muito do estilo do diretor aqui. Stop Making Sense é o registro do show do Talking Heads, e a genialidade aqui está na concepção do show. Demme apenas teve que posicionar suas câmeras e registrar o que acontecia no palco.

O show começa com um palco vazio. Apenas um microfone num pedestal. David Byrne entra no palco, sozinho com um violão, e toca e canta uma música. Depois a baixista Tina Weymouth entra no palco e tocam a segunda música. Perto do fim, uma bateria é colocada no palco e a terceira música já tem Chris Frantz na bateria. Jerry Harrison, o outro guitarrista, entra na quarta música. Depois entram um percussionista e duas backing vocal. Depois um tecladista e um outro guitarrista. Depois que já temos nove músicos no palco, começam a colocar painéis e iluminação. Ao fim do show, o palco está completo.

Mesmo com toda essa movimentação, o show flui perfeitamente. E a gente ainda tem que se lembrar que era início dos anos 80, quase tudo no palco tem que ser cabeado (tem um momento que quase que uma das backing vocals tropeça no cabo do baixo da Tina Weymouth).

Jonathan Demme filmou 3 noites seguidas do show. As câmeras foram bem posicionadas, porque vemos vários closes e vários takes abertos, e não reparei em nenhum câmera! Segundo o imdb, em cada noite ele posicionava os câmeras em posições estratégicas, assim nenhum “vazava”,

Ah, Demme queria filmar alguns takes extras em estúdio, simulando o palco do teatro, mas a banda se recusou, dizendo que a resposta do público era algo essencial para a energia do palco. E que energia! David Byrne não pára em nenhum momento do show! O cara canta, toca, dança, pula, corre, é impressionante!

Pros mais novos que devem estar se perguntando “mas afinal o que é esse tal de Talking Heads?”, tem pelo menos duas coisas que acho que estão fortes na cultura pop até hoje. Uma é a música Psycho KIller, que não foi feita para o filme, mas é a música que abre o show. A outra é o terno gigante usado pelo David Byrne no fim do show, que é citado de vez em quando por aí (como no filme O Homem dos Sonhos, com Nicolas Cage).

Sobre a sessão no Estação: quando me convidaram, achei, ok, vamos lá, já vi o filme, tenho dvd, mas pode ser um programa diferente ver na tela grande. E para minha surpresa, uma boa notícia: o Estação estava lotado! Nenhuma poltrona vazia! Impressionante, um filme velho, que todo mundo já viu, numa quarta à noite, com lotação esgotada! Algumas pessoas se empolgaram e levantaram das suas cadeiras para dançar. E ao fim do filme, na última música, várias pessoas foram dançar debaixo da tela. O cinema vive!

A Noite que Mudou o Pop

Crítica – A Noite que Mudou o Pop

Sinopse (Google): Em uma noite de janeiro de 1985, as maiores estrelas da música se reuniram para gravar “We Are the World”. O documentário se aprofunda nos bastidores do evento para descobrir como tantos artistas se juntaram para fazer algo histórico.

Um documentário sobre a histórica gravação de We Are the World!

Uma contextualização pra quem não era nascido na época. No fim de 1984, um grupo de músicos ingleses se reuniu para uma gravação beneficente. A banda se chamava “Band Aid” e tinha gente como Bono, Sting, George Michael, Simon LeBon, Boy George e Phil Collins, entre outros, e a música falava do Natal: “Do They Know it’s Christmas”. Inspirados por essa gravação, um grupo de músicos americanos resolveu fazer exatamente igual (inclusive convidaram Bob Geldof, idealizador do projeto inglês, para participar da gravação), e criaram o USA For Africa, para arrecadar fundos contra a fome na África. Heu particularmente gostava mais da música inglesa (heu tinha o compacto!), mas sempre tive a impressão de que a versão americana tinha mais sucesso.

(Chegou a ter uma versão brasileira, “Chega de Mágoa”, contra a seca no Nordeste, que reuniu gente como Rita Lee, Tim Maia, Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Simone, Roger, Paula Toller e vários outros.)

A Noite que Mudou o Pop (The Greatest Night in Pop, no original) é um documentário que conta a história dessa gravação, contando com ricas imagens de arquivo e alguns depoimentos atuais de pessoas envolvidas.

(Só achei o nome nacional errado, se existiu uma “noite que mudou o pop”, deveria ser a versão inglesa, que veio antes…)

Já tinha visto esse videoclipe centenas de vezes, mas nunca tinha parado pra pensar como deve ter sido difícil pra juntar toda essa galera num estúdio, por causa de questões de ego e de agenda. O filme aborda isso, eles falam, por exemplo, que era pra ter o Van Halen, mas estavam em turnê; o filme também cita que Quincy Jones colocou um aviso na entrada do estúdio dizendo “deixem seus egos fora” – era muita gente, então os artistas tinham que entrar sozinhos, deixando assessores e auxiliares de fora.

A música foi composta por Michael Jackson e Lionel Ritchie. Era pra ter colaboração do Stevie Wonder, mas ele não respondeu as mensagens a tempo, quando respondeu a música já estava pronta. E eles aproveitaram a noite da premiação American Music Awards, que aconteceria em Los Angeles e contaria com boa parte dos músicos participantes do projeto. Pensa só: chegaram no estúdio 10 horas da noite, para só então começarem a gravação!

Uma coisa curiosa é a gente se situar na época. Era janeiro de 1985 – mesmo mês do primeiro Rock in Rio! Al Jarreau participou de ambos, mas acho que foi o único.

O documentário traz algumas histórias muito boas. Prince era pra ter participado, mas rolava uma briga de egos entre ele e o Michael Jackson. Sheila E, então namorada do Prince, foi usada pra tentar convencer o Prince a vir. Quando ela se tocou que era esse o motivo do convite, saiu fora.

Um dos momentos mais engraçados é quando vemos Bob Dylan perdido no meio da galera. Todos o reverenciavam como um nome importante na música, mas ele estava muito deslocado. Também foi divertido ver Diana Ross tietando Daryl Hall e começando uma onda de caça a autógrafos.

Stevie Wonder, um dos músicos mais completos presentes no estúdio, tem cara de ser muito boa praça, e também protagoniza alguns momentos bem divertidos. Ele é um dos primeiros a gravar o solo, e erra de propósito só pra quebrar o gelo para os menos experientes.

Vemos depoimentos atuais de gente como Lionel Ritchie, Bruce Springsteen, Huey Lewis, Cyndi Lauper, misturados com imagens da gravação naquela longa noite. Uma bela história que felizmente foi muito bem documentada.

A Noite que Mudou o Pop não é perfeito, senti falta de mostrar um pouco mais de alguns dos protagonistas, como Billy Joel e Tina Turner. Mesmo assim, achei muito bom.

Agora, A Noite que Mudou o Pop reforçou o que normalmente penso sobre documentários: um documentário só é bom se você se interessa pelo assunto abordado. Heu curti muito porque vivi aquela época, e me lembro das carreiras de cada um que aparece. Além disso, ver Kenny Loggins, Steve Perry, Daryl Hall e Huey Lewis juntos me lembra a minha banda Elemento Surpresa, a gente tocava Footloose, Don’t Stop Believin, Kiss on My List e Power of Love. Agora, será que alguém dá geração dos meus filhos vai curtir?

Deu vontade de ver um documentário parecido sobre a versão inglesa. Será que existe material de arquivo suficiente?

Atiraram no Pianista

Critica – Atiraram no Pianista

Sinopse (Festival do Rio): Um jornalista musical de Nova York embarca em uma missão para desvendar a verdade por trás do desaparecimento do jovem pianista prodígio Tenório Jr. Uma história comemorativa sobre a origem do icônico movimento musical da Bossa Nova, Atiraram no Pianista captura um tempo fugaz repleto de liberdade criativa em um ponto de virada da história latino-americana nas décadas de 60 e 70, pouco antes do continente ser engolido por regimes totalitários.

E vai começar o Festival do Rio 2023! Heu acompanho o Festival do Rio desde sempre, desde antes de chamar Festival do Rio, desde a época que era Mostra Banco Nacional (antes disso era o Festrio, mas esse só peguei uma edição). É uma época que gosto muito porque tem muitos filmes diferentes e heu gosto de ver filmes diferentes. Então é pra gente ficar de olho na programação e escolher alguns filmes no risco – já vi muitos filmes muito legais no Festival que depois nunca mais teria oportunidade de ver; mas também já vi muito filme ruim – faz parte da proposta.

Nos últimos anos, minha relação com o Festival do Rio não foi boa por vários motivos que não interessam no momento, então vi pouca coisa. Mas parece que esse ano vou conseguir ver alguns filmes. Então vamos começar hoje falando de Atiraram no Pianista (They Shot the Piano Player, título internacional), filme de abertura do Festival do Rio, que é uma animação espanhola, dirigida por Fernando Trueba e Javier Mariscal (Chico & Rita), com as vozes principais de Jeff Goldblum e Tony Ramos, e que conta a história de um pianista de bossa nova.

O filme traz um jornalista americano (voz do Jeff Goldblum) que está pesquisando sobre música brasileira, sobre o início da bossa nova e o samba jazz. Ao ouvir um solo de piano, ele resolve procurar quem é o músico, e descobre que o pianista é o Tenório Jr, um cara que sumiu. Ele então vem para o Rio de Janeiro para pesquisar sobre o pianista, e acaba descobrindo que ele foi uma provável vítima da ditadura argentina.

Antes de tudo, é bom avisar que, tecnicamente falando, a qualidade da animação não é lá grandes coisas. O objetivo aqui não é ter uma animação realista. Então quem for ao cinema esperando alguma coisa tipo os Pixar, Disney e Dreamworks da vida, ou quem for ao cinema esperando alguma animação revolucionária, como o Aranhaverso ou Tartarugas Ninja, vai se decepcionar. A animação aqui é bem simples.

Por outro lado, o filme traz depoimentos de vários ícones da música brasileira, como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Toquinho, João Gilberto, etc (além de pessoas ligadas ao Tenório Jr) – tem até um depoimento do Vinicius de Moraes, retirado de um documentário. E é curioso porque a voz original da pessoa está lá, mas a pessoa é desenhada, o filme continua sendo desenho animado. Ou seja, é um desenho animado que mistura uma história fictícia com um documentário.

Heu sou músico e heu sou chato, então eu vou fazer uma reclamação, mas que sei que não é nada importante, sei que é uma bobagem. Tem um momento do filme que o jornalista acha uma partitura que seria uma música do Tenório Jr, e ele leva a um pianista cubano pra ele tocar. O problema é que dá pra ver claramente que nessa partitura não tem nenhuma melodia, só tem os acordes. O pianista não conseguiria tocar a melodia composta pelo Tenório Jr, só conseguiria tocar a sequência de acordes que ele escreveu. Mas ok, eu aceito, porque isso não é uma animação realista. Quando você vê o cara tocando piano, não é um piano de verdade, não é que nem Soul, onde você via as teclas e os dedos do cara. Não, Atiraram no Pianista não quer ser realista. Mas, sou chato e preciso falar que aquela folha que ele entregou pro pianista cubano, não, ele não conseguiria ler a melodia com aquilo.

Por outro lado, é um filme gringo, mas que respeita a geografia do Rio de Janeiro. Provavelmente filmaram ou fotografaram as paisagens e desenharam os cenários baseados nesses registros. Por exemplo, o Beco das Garrafas que aparece no filme é exatamente igual ao Beco das Garrafas da vida real. Gosto disso, quando um filme estrangeiro faz a pesquisa da maneira correta.

Além disso, a parte musical é muito bem feita. Reconheço que não sou um grande apreciador de bossa nova e samba jazz, mas reconheço a qualidade das músicas. E a seleção musical é muito boa.

Atiraram no Pianista ainda aproveita para denunciar barbaridades que aconteceram nas ditaduras sul americanas entre nos anos 60 e 70. Temos depoimentos de pessoas que até hoje não tiveram uma conclusão para um familiar desaparecido na época. Curioso um filme estrangeiro vir cutucar essa nossa ferida.

Atiraram no Pianista tem previsão de estrear no circuito no fim do mês.

Jackass Forever

Crítica – Jackass Forever

Sinopse (imdb): Após 11 anos, a equipe Jackass retorna para sua cruzada final.

É complicado falar de Jackass. Porque quem vai ver Jackass sabe exatamente o que está vendo. Pra fazer uma análise crítica a gente precisa ter isso em mente.

Pra quem não conhece Jackass: era uma série da MTV do início dos anos 2000 onde um grupo de malucos faziam várias pegadinhas, alternando entre coisas perigosas e momentos escatológicos. E sempre se sacaneavam e se divertiam muito no processo – era nítido que entre eles era uma grande curtição. Depois da MTV, eles fizeram alguns filmes para o cinema. Falei aqui no heuvi sobre o filme Jackass 3D, de 2010, vou copiar aqui alguns trechos do que escrevi naquela ocasião:

Um grupo de insanos inconsequentes (li em algum lugar que são dublês) começou um programa na MTV, dez anos atrás, onde a ideia era, basicamente, ver eles mesmos se ferrando. Ou eles faziam algo perigoso e alguém saía machucado, ou então algo nojento. A parte da nojeira não me atrai, mas os momentos onde eles quase sempre se machucam são muito engraçados. (…) É difícil falar de um filme desses. Afinal, quem se propõe a ver, já sabe o que vai encontrar. Quem não curte, passa longe de filmes assim!

Disse isso na época, e repito aqui. A parte da nojeira realmente continua sem graça, tipo, esperma de porco? Sério? Mas, algumas das pegadinhas são realmente engraçadas. Em alguns momentos, me vi rindo alto, como no momento marching band, ou no sapateado em cima de uma plataforma de choque, ou a cena do conserto da lâmpada no poste, ou o toboágua que não caía na água.

E preciso dizer que alguns momentos foram realmente corajosos. Tem duas pegadinhas, uma envolvendo uma aranha, outra com um urso, que são momentos bem tensos. E Johnny Knoxville se machucou sério na tourada!

Uma coisa legal é que boa parte da galera das antigas está de volta – se a gente pensar que esse tipo de pegadinha envolve riscos físicos, é bem mais complicado para serem performadas por pessoas de 40 e muitos anos do que pessoas de 20 e poucos. A gente vê a volta dos cinquentões (ou quase) Johnny Knoxville, Steve-O, Wee Man, Preston Lacy, Chris Pontius e Dave England (os mais velhos são de 1969, os mais novos de 1973). Acho que do time principal antigo só faltam dois: Ryan Dunn, que faleceu num acidente de carro, e Bam Margera, que se desentendeu com a produção do filme e se desligou do projeto (ele aparece em uma das pegadinhas, filmada antes da sua saída). A direção ainda é de Jeff Tremaine, diretor desde a época da MTV. E Spike Jonze, um dos criadores, também continua com a turma. E junto deles vemos alguns novos nomes – me parece que isso seria uma saída pra continuar a franquia mesmo sem os originais.

Dito tudo isso, preciso reconhecer que Jackass é meio bobo. Mas, admito, também sou meio bobo e me diverti vendo.

Perdido em La Mancha

Crítica – Perdido em La Mancha

Sinopse (imdb): Tentativa frustrada de Terry Gilliam para fazer seu filme, O Homem que Matou Dom Quixote. Documentário de 2002.

Outro dia descobri que Terry Gilliam tinha lançado um filme novo, O Homem que Matou Dom Quixote. Ei, pára tudo! Não era esse o filme que ele tentou fazer no início da anos 2000 e deu tudo errado? Hora de rever o documentário Perdido em La Mancha!

Lembro que vi este Perdido em La Mancha (Lost in La Mancha, no original) na tv a cabo, no início dos anos 2000. Gostei tanto que comprei o dvd (importado, claro) e guardei junto com os filmes do Gilliam.

Gilliam tinha um projeto de uma adaptação da história de Dom Quixote desde o início dos anos 90. Finalmente conseguira financiamento, e as filmagens estavam prestes a começar na Espanha.

Só que o filme começou a ter muitos problemas, como uma chuva destruindo um dos cenários, ou o ator principal tendo que se ausentar por problemas de saúde. Gilliam já tivera um filme cheio de problemas na produção (As Aventuras do Barão Munchausen), mas agora a situação estava ainda pior.

Keith Fulton e Louis Pepe fariam o making of do filme, mas quando tudo começou a dar errado, eles mudaram o tom das filmagens para um documentário sobre os problemas envolvendo a produção. E chega a dar pena – se alguém escrevesse um roteiro sobre os percalços de um cineasta azarado, talvez não fosse tão cruel quanto o que o destino preparou para a produção de Gilliam.

Perdido em La Mancha acaba com o cancelamento da produção. Um final bem triste. Felizmente, agora, quase duas décadas depois, Gilliam conseguiu terminar o filme. Vamos a ele?

O diabo e o Padre Amorth

O diabo e o Padre AmorthCrítica – O diabo e o Padre Amorth

Sinopse (catálogo do Festival do Rio): Mais de 40 anos depois do lançamento de O exorcista, o diretor William Friedkin se pergunta o quão perto chegou da realidade ao realizar seu filme mais icônico. Depois de conhecer o Padre Gabriele Amorth, um senhor de 91 que é conhecido como o “Mestre dos Exorcistas”, Friedkin consegue permissão para acompanhar e filmar o mais recente exorcismo executado pelo sacerdote. A vítima de possessão é uma mulher italiana que vem sofrendo incômodas mudanças físicas e de comportamento que seu psiquiatra não consegue solucionar.

Sabe quando uma ideia parece legal no papel, mas não funciona na tela? É o caso.

O diabo e o Padre Amorth (The Devil and Father Amorth, no original) se propõe a mostrar um exorcismo real, filmado pelo diretor do maior filme de exorcismo da história. Taí, parece ser uma boa.

Só parece. O diabo e o Padre Amorth passa um bom tempo da sua curta duração (só 68 minutos) preparando o espectador para o tal exorcismo. Quando acontece, é uma cena looonga onde quase nada acontece. Depois temos um depoimento sobre a mulher exorcizada, mas sem imagens, o que nos leva a desconfiar de sua veracidade. Por fim, algumas entrevistas com médicos e padres, que pouco acrescentam.

Decepcionante. Se o exorcismo real é aquilo que aparece no filme, prefiro ficar só com o exorcismo cinematográfico…

Searching For Sugar Man

Crítica – Searching For Sugar Man

Ano passado, li sobre este Searching For Sugar Man quando passou no Festival do Rio, mas não me interessei muito. Admito que não sou fã de documentários. Acho que 90% do interesse num documentário está no objeto a ser documentado – se você gosta do assunto, vai gostar do documentário; se não gosta, nem vai ver. Mas as recomendações eram boas, então fui procurar o filme.

Sixto Rodriguez foi um cantor de folk que, nos anos 70, lançou dois discos que não fizeram sucesso, e desapareceu depois disso. Boatos indicavam que ele tinha se suicidado, mas não havia qualquer confirmação. Até que, nos anos 1990, um grupo de fãs da África do Sul resolveu desvendar a verdade por trás do paradeiro do cantor.

Searching For Sugar Man tem falhas na narrativa. Mas a história de Rodriguez, o músico documentado, é boa, e torna o filme interessante de se ver. Rodriguez gravou dois discos, não vendeu nada e desapareceu depois. Só que ele fez um sucesso absurdo na África do Sul. O problema é que ninguém na África do Sul tinha contato com o músico, e este não sabia que fazia sucesso em outro país…

Mas, se a história é interessante, o filme tem falhas. Em determinado momento, um pesquisador diz que vai “seguir o dinheiro” para tentar descobrir o paradeiro de Rodriguez. Mas, depois de conversar com um ex-produtor (que se estressou no meio da entrevista), deixam a ideia de lado e ninguém mais fala disso. Mais: se tudo aquilo que vemos aconteceu em 1998, por que todas as entrevistas são tratadas como se fossem feitas nos dias de hoje?

A sorte de Searching For Sugar Man é que o tema abordado foi bem escolhido – a história de Rodriguez é muito boa. Se você abstrair os problemas, pode até curtir o filme.

Comic-Con Episode IV – A Fan’s Hope

Crítica – Comic-Con Episode IV – A Fan’s Hope

Documentário sobre a mais famosa de todas as convenções nerds, chamado pelo Festival do Rio de “A Saga Comic-Con, O Sonho de um Fã”.

A Comic-Con em San Diego é a maior convenção de quadrinhos e cultura geek do mundo, onde centenas de sonhos e aspirações se encontram. Acompanhamos alguns anônimos que pretendem realizar seus sonhos durante a convenção.

A Comic-Con é o sonho de todo nerd – heu mesmo já pensei em viajar pra San Diego só pra visitar a convenção. O diretor Morgan Spurlock (autor de Super Size Me, aquele documentário onde ele passa o mês inteiro comendo no McDonald’s) fez um bom trabalho mostrando detalhes deste mundinho alternativo que atrai milhares de pessoas a cada ano.

Comic-Con Episode IV – A Fan’s Hope mostra dois ilustradores que desejam ser contratados por editoras de quadrinhos, uma criadora de fantasias, um comerciante de quadrinhos em busca de uma grande venda e um cara que pretende propor sua namorada em casamento, entre outros.

A dinâmica do documentário é interessante: acompanhamos os “personagens” apresentados em suas incursões durante a Comic-Con. Entremeando isso, temos depoimentos de um monte de gente famosa, como Kevin Smith, Seth Rogen, Stan Lee, Frank Miller, Joss Whedon, Keneth Branagh, Eli Roth, Seth Green e Zachary Quinto, entre vários outros.

Às vezes o filme parece um reality show. Alguns terminam o evento mais bem sucedidos que outros, o que prende a atenção até o fim – será que este vai conseguir o que pretendia? Nisso, Comic-Con Episode IV – A Fan’s Hope é bem eficiente, me vi torcendo por alguns deles.

Algumas histórias são mais interessantes que outras (um cara quer ir para a Comic-Con apenas pra comprar um determinado boneco, que está no catálogo do fabricante, não me pareceu uma tarefa muito difícil…). Isso torna o documentário irregular. Talvez Spurlock devesse focar mais nas melhores histórias.

As entrevistas com famosos são muito boas. Algumas sacadas são hilárias. Kevin Smith contou que uma vez foi cumprimentado por Stan Lee ao chegar na Comic Con. E ele se lembrou que quando tinha 11 anos de idade, se imaginava indo pra Comic Con e cumprimentando o Stan Lee. E agora ele imaginava ele com 11 anos vendo a cena, e o que ele diria? “Como você engordou!”

Não sei se o público “não nerd” vai curtir Comic-Con Episode IV – A Fan’s Hope. Mas é um programa obrigatório para nerds e geeks!

A Liar’s Autobiography – The Untrue Story of Monty Python’s Graham Chapman / Monty Python – A Autobiografia de um Mentiroso

Crítica – A Liar’s Autobiography – The Untrue Story of Monty Python’s Graham Chapman / Monty Python – A Autobiografia de um Mentiroso

Alguns filmes se tornam “obrigatórios” só pela descrição. Este A Liar’s Autobiography – The Untrue Story of Monty Python’s Graham Chapman é um deles. Vejam a sinopse oficial do Festival do Rio:

Pouco antes de sua morte, em 1989, Grahan Chapman, membro do extinto grupo britânico de humor Monty Python, teve sua voz captada durante a leitura de sua autobiografia lançada em 1980. Utilizando-se deste áudio como guia narrativo, 15 diferentes estúdios produziram 17 estilos de animação distintos para representar as memórias e mentiras deste ícone do humor inglês. Quatro sobreviventes da trupe, Terry Gilliam, John Cleese, Michael Palin e Terry Jones, se reuniram para dar voz aos personagens.

Animações em estilos variados, narração usando a própria vez de Chapman, e ainda participação de outros quatro ex Monty Python? Imperdível para fãs! A dúvida era: será que A Liar’s Autobiography – The Untrue Story of Monty Python’s Graham Chapman é só pros fãs, ou além disso é um bom filme?

Infelizmente, só pros fãs…

A Liar’s Autobiography – The Untrue Story of Monty Python’s Graham Chapman tem um problema grave: não tem humor. Sim, é um filme sobre o Monty Python, um dos grupos mais engraçados da história do cinema / televisão, mas é um filme com poucos momentos engraçados. Quase todas as piadas estão em imagens de arquivo – justamente os trechos que não são em animação.

E, para os fãs, rola um outro problema: dentre os 17 estilos de animação, não rola o “estilo Terry Gilliam”! Procurei pela internet uma explicação pra isso, segundo o que encontrei, Gilliam não quis participar do projeto, e por isso os diretores Bill Jones, Jeff Simpson e Ben Timlett proibiram as equipes de copiarem o estilo de Gilliam.

A narrativa pega trechos soltos da biografia escrita por Chapman e seu parceiro David Sherlock, e nem sempre segue uma linha lógica, deixando o filme meio confuso às vezes. Nada muito grave, por causa da opção da narrativa fragmentada. Pelo menos as mudanças de estilos de animação são bem interessantes, e algumas sequências são muito boas (gostei do trecho dentro do avião).

O que é interessante aqui é mostrar peculiaridades da vida de Chapman, como o seu problema com álcool ou a sua homossexualidade (ou seria bissexualidade?). Pena que o filme traz poucas novidades, neste aspecto o documentário Monty Python: Almost the Truth – Lawyers Cut, lançado em 2009, é bem mais completo.

No elenco, John Cleese, Michael Palin, Terry Jones e Terry Gilliam fazem vários personagens cada um, além de Carol Cleveland, antiga colaboradora. Além deles, Cameron Diaz empresta sua voz a Sigmund Freud em uma das sequências.

Enfim, só para fãs hardcore.

p.s.: Copiei e colei lá em cima a sinopse que está na programação. Mas tive que fazer uma pequena correção. A sinopse falava “os quatro sobreviventes”. Mas são cinco! Quem escreveu a sinopse esqueceu do Eric Idle! (que, se vi direito, aparece de relance na cena do velório de Chapman)