Anora

Crítica – Anora

Sinopse (imdb): Anora, uma jovem trabalhadora sexual do Brooklyn, conhece e impulsivamente se casa com o filho de um oligarca russo. Quando a notícia chega à Rússia, seu conto de fadas é ameaçado quando os pais dele partem para Nova York para anular o casamento.

Fiquei na dúvida se valia falar sobre Anora agora. Teve uma sessão de imprensa, e no dia da sessão avisaram que a distribuidora adiou o lançamento pra janeiro do ano que vem, visando a temporada de prêmios. Ou seja, quase não tem nenhuma crítica do filme, porque quase ninguém viu, e vai demorar pra galera conseguir assistir.

Pensei em só comentar depois, mas aí me toquei que vou acabar me esquecendo de detalhes do filme. Então vamos nessa!

Escrito e dirigido por Sean Baker, Anora chega com uma grande credencial: foi o vencedor da Palma de Ouro em Cannes. Mas aí a gente lembra que o último vencedor foi Anatomia de uma Queda. E antes, foi Triângulo da Tristeza. E antes, Titane. E antes, Parasita. E, preciso dizer isso: achei Anora beeem inferior a esses todos.

(Talvez Titane esteja um degrau abaixo dos outros quatro, mas pelo menos é um filme diferentão, o que conta pontos em uma premiação como Cannes.)

Dito isso, vou falar algo polêmico. Não achei Anora grandes coisas. Pra mim, parece um American Pie melhorado.

Ok, talvez seja um exagero. American Pie é uma comédia besteirol cheia de piadas de cunho sexual, e Anora tem muito sexo, mas só o meio do filme que tem uma pegada de humor mais escrachado. Inclusive, o final do filme mira no drama.

Mas, repito, não consegui ver as qualidades que a galera está vendo. Ani é uma dançarina erótica e garota de programa que se envolve com um jovem russo, herdeiro de uma família milionária. A primeira parte mostra a relação dos dois, a segunda desenvolve problemas com capangas da família russa, e a parte final é a conclusão triste da história da jovem Ani. É ruim? Não, a trama é envolvente e a parte comédia no meio do filme tem algumas situações bem engraçadas. Mas, se a gente pensar que esse filme foi considerado o melhor de Cannes este ano, ou a competição estava bem fraca, ou tem alguma coisa errada aí. Sendo que A Substância estava concorrendo, voto na segunda opção.

Um dos problemas de Anora é que é difícil ter alguma empatia pelo casal protagonista. Ele é um milionário mimado que compra todos em sua volta; ela só está com ele por causa do dinheiro. Em momento algum o filme mostra algo mais afetivo na relação dos dois. Vejam bem: não tenho absolutamente nada contra ela ser uma trabalhadora do sexo, alguém na sua profissão pode ter um parceiro e ter uma vida em família. Mas esta realidade não é mostrada aqui.

Sobre o elenco, Mikey Madison (Pânico 5, Era Uma Vez em Hollywood) está bem em sua nova versão de Uma Linda Mulher. Pena que é uma personagem meio vazia – o filme foca nas festas, no luxo, no sexo e nas drogas e esquece de desenvolver o lado humano da personagem. Já o Ivan de Mark Eydelshteyn podia ser interpretado por qualquer um, ele passa o filme todo jogando videogame, fazendo sexo ou fugindo.

Sobram muitas cenas de nudez e sexo, e uma parte comédia que vai arrancar gargalhadas da plateia. Ou seja, nem está tão longe assim de American Pie…

Ainda Estou Aqui

Crítica – Ainda Estou Aqui

Sinopse (imdb): Baseado no livro de memórias best-seller de Marcelo Rubens Paiva, no qual sua mãe é forçada a se tornar ativista quando seu marido é capturado pelo regime militar no Brasil, em 1971.

E vamos para as reais chances de Oscar para o Brasil!

Ainda Estou Aqui é o novo filme de Walter Salles (Central do Brasil), que não lançava um longa desde 2012. O filme é baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, e conta a história real de uma família no Rio de Janeiro do início dos anos 70. Marcelo vive com seus pais e suas 4 irmãs em uma boa casa, na Vieira Souto, na praia de Ipanema. Até que seu pai, Rubens Paiva, é levado por agentes do regime militar. E nunca mais volta.

Ainda Estou Aqui está badalado para o Oscar, e realmente está um degrau acima da média da produção nacional. Começo pela parte técnica: nunca vi no cinema nacional um cgi de reconstituição de época tão perfeito. A começar pela casa onde mora a família – não existem casas residenciais na Vieira Souto! Provavelmente filmaram em uma casa em outro endereço e colocaram a casa lá. E não é só isso, vemos várias cenas nas ruas, onde vemos carros, pessoas e prédios dos anos 70. E tudo, absolutamente tudo está perfeito. Mostrar uma praia não é uma tarefa tão difícil, mas quando vemos o morro Dois Irmãos sem a favela do Vidigal, a gente leva um susto. Sério, o cgi aqui não deve nada pra super produções gringas.

Mas, mais importante que isso, precisamos falar das atuações. Queria rapidamente citar que Selton Mello não está com “cara de Selton Mello” – gosto do ator, mas ele meio que criou um personagem e repete esse mesmo personagem em diversos filmes (vários atores são assim, Christoph Waltz ganhou dois Oscars por papéis quase iguais). Mas, o nome a ser citado é Fernanda Torres, que está simplesmente sensacional. Caros leitores, anotem isso, estou falando em outubro: Fernanda Torres tem uma chance grande de ser indicada ao Oscar ano que vem, 26 anos depois da sua mãe Fernanda Montenegro (coincidência ou não, também dirigida por Walter Salles). Ah, Fernanda Montenegro aparece no final do filme, em uma cena onde ela interpreta a personagem da filha num futuro onde ela está bem mais velha.

Quase o filme todo se passa nos anos 70. No fim tem um trecho em 1996 e uma cena final em 2004. Na minha humilde opinião, o filme perde a força nesses dois “epílogos”. Não chega a estragar o resultado final, mas acho que Ainda Estou Aqui seria ainda melhor se acabasse no momento que a família deixa a casa, o resto da história podia ser uma cartela com um texto antes dos créditos.

Por fim, e o Oscar? Bem, até onde sei, cada país pode mandar um filme para a categoria “filme internacional” (que era “filme em língua estrangeira” até poucos anos atrás). Escolhem uma pré lista com 9 filmes, que depois é reduzida à lista oficial de 5 candidatos. Mas, a gente sabe que a qualidade do filme não é tudo quando se fala em Oscar. O lobby é algo muito importante. E aparentemente esta vez estão com um lobby forte pra tentar indicar o filme brasileiro. Um boato que ouvi entre amigos críticos é que querem tentar indicar Ainda Estou Aqui para o Oscar principal – nos últimos dois anos, o vencedor do prêmio de filme estrangeiro também estava indicado ao Oscar de melhor filme (Zona de Interesse em 2024, Nada de Novo no Front em 2023). Também é ventilada uma indicação ao Oscar de melhor atriz para Fernanda Torres, o que já estão falando como se fosse uma “reparação ao erro de não ter dado o Oscar para Fernanda Montenegro” (o que talvez seja um exagero, mas tem um fundo de verdade).

Enfim, aguardemos. Mas estou na torcida!

Todo Tempo que Temos

Crítica – Todo Tempo que Temos

Sinopse (imdb): Após um encontro inusitado, uma talentosa chef de cozinha e um homem recém-divorciado se apaixonam e constroem o lar e a família que sempre sonharam, até que uma verdade dolorosa põe à prova essa história de amor.

Quando vi o trailer do Todo Tempo que Temos (We Live in Time, no original), imaginei que seria um dramalhão daqueles que fazem todo o cinema se debulhar em lágrimas. Não sou muito fã do gênero (não curto filmes sobre gente doente), mas resolvi encarar. E posso dizer que me surpreendi positivamente.

Como diz no cartaz do filme dirigido por John Crowley (Brooklyn), “cada minuto conta”, ou seja, já sabemos que teremos uma história de um casal muito apaixonado, onde um dos dois descobre uma doença terminal. Ok, isso é clichê. Mas o roteiro de Todo Tempo que Temos consegue apresentar essa história fora da ordem cronológica, e assim conseguiu burlar o “clímax chororô”, e ainda deu um ótimo ritmo ao filme. Detalhe: em nenhum momento vemos indicações de tempo (tipo “um ano antes”, “dois meses depois”), e mesmo assim dá pra entender tudo.

Além do roteiro, outro trunfo de Todo Tempo que Temos é o casal principal. Andrew Garfield e Florence Pugh estão ótimos, e têm uma boa química juntos. E o filme explora bem o relacionamento dos dois, quase o filme todo é só com os dois, tanto que fiquei me perguntando quem seriam os principais coadjuvantes, e só consigo pensar na filha do casal e na assistente da Florence. (Curiosidade: ambos estão na Marvel, Garfield foi o segundo Homem Aranha; Florence é a Yelena, irmã da Viúva Negra, e estará ano que vem em Thunderbolts).

Agora, preciso dizer que este não é o meu estilo de filme. Li uns comentários no imdb de gente reclamando que as idas e vindas na linha temporal teriam atrapalhado o envolvimento emocional do espectador com os personagens. Ou seja, o que pra mim foi um ponto positivo, tem gente achando que é um defeito. Sei lá, prefiro sofrer menos. Afinal, pra mim, “cinema é a maior diversão”!

Canina

Crítica – Canina

Sinopse (imdb): Uma mulher interrompe sua carreira para se tornar uma mãe que fica em casa, mas logo sua vida doméstica dá uma guinada surreal.

A divulgação deste Canina (Dogbitch, no original) falava de um filme onde a Amy Adams virava um cachorro. Essa ideia pode gerar um bom filme de terror, algo na pegada de um filme de lobisomem. Ou podia gerar uma comédia engraçada, com todos os absurdos que surgiriam desta proposta.

Nada disso. Canina é um drama que fala da maternidade e de tudo o que a mulher abre mão para cuidar do(s) filho(s).

Baseado no livro de Rachel Yoder e dirigido por Marielle Heller, Canina até tem cenas engraçadas – em alguns momentos rolavam gargalhadas no cinema. Mas o maior foco é o drama que a protagonista passa, e o dilema que ela vive – ela deve voltar à vida que levava antes de ser mãe, ou agora o foco deve ser 100% seu filho?

O melhor de Canina é a Amy Adams, que se entrega ao papel e faz o filme valer a pena. Amy já concorreu ao Oscar seis vezes e nunca ganhou, será que ano que vem vem uma nova indicação? Scoot McNairy faz o marido, um papel bem secundário.

Mas, no geral, achei o filme meio bobo. Porque todas as agruras da maternidade apresentadas no roteiro de Canina já foram contadas outras vezes, e de formas mais criativas. Canina se vende como algo diferente, mas é mais do mesmo.

Clube dos Vândalos

Critica – Clube dos Vândalos

Sinopse (imdb): Acompanha a ascensão de um clube de motociclistas do meio-oeste americano por meio da vida de seus membros.

Clube dos Vândalos (The Bikeriders, no original) se inspira no livro “The Bikeriders”, lançado em 1967 pelo fotógrafo Danny Lyon, pra mostrar a criação do moto clube Vandals, na Chicago dos anos 60. O elenco é ótimo, a reconstituição de época é perfeita, a trilha sonora é boa. Mas…

Senti que falta história pra ser contada. Clube dos Vândalos foi escrito e dirigido por Jeff Nichols, diretor que já está por aí há algum tempo, mas heu ainda não tinha visto nada dele. Me pareceu que ele quis emular o estilo do Scorsese e criar um filme de gangsters, dentro de um moto clube. Acertou na parte da ambientação, mas faltou história. São quase duas horas acompanhado a vida daqueles caras, mas a trama não te leva pra lugar algum. Simplesmente vemos um retrato da vida daquelas pessoas.

Pelo que entendi, o livro “The Bikeriders” é um livro só de fotos, sem texto. Sendo assim, temos um caso diferente de roteiro adaptado, já que o livro base só tem imagens (durante os créditos, inclusive, rolam algumas das fotos originais). Deve ser por isso que o filme não tem exatamente uma historia a ser contada. Ou seja, temos um belo visual, boa fotografia, bons figurinos, boa reconstituição de época – mas o roteiro em si é fraco.

Outro problema é no elenco. São vários grandes atores, mas senti que alguns estão sub aproveitados. O protagonismo é bem dividido entre três personagens – Jodie Comer, Austin Butler e Tom Hardy. Heu diria que, se tem um principal, seria a Kathy da Jodie Comer, que inclusive narra parte dos acontecimentos. Jodie está bem, assim como Tom Hardy. Mas achei curioso ver que Austin Butler, que abre o filme e aparenta ser o principal, é um personagem de certa forma descartável, tanto que em determinado momento ele sai de cena e o filme segue. Caramba, o cara acabou de ser indicado ao Oscar por Elvis e foi uma das melhores coisas de Duna 2, e aqui ele é desperdiçado. O mesmo posso dizer sobre Michael Shannon, que faz um papel que qualquer ator faria. Também no elenco, Mike Faist, Boyd Holbrook e Norman Reedus.

Apesar dessas críticas, Clube dos Vândalos não é ruim. Grandes atores criam bons personagens, e como falei, a ambientação de época é ótima. mas, se tivesse um fio guiando a trama, seria um filme bem melhor.

Love Lies Bleeding – O Amor Sangra

Crítica – Love Lies Bleeding – O Amor Sangra

Sinopse (imdb): A solitária gerente de academia Lou se apaixona pela ambiciosa fisiculturista Jackie, que está de passagem em direção a Las Vegas, em busca do seu sonho. Mas essa história de amor fulminante as envolve na rede criminosa da família de Lou.

Novo filme de Rose Glass, diretora do bom (e quase desconhecido) Saint Maud, Love Lies Bleeding traz uma história meio cliché, de uma pessoa que chega numa cidade, se relaciona com uma local, e acaba que muda os rumos da vida das pessoas em volta.

Acho que o melhor aqui em Love Lies Bleeding são as interpretações. Kristen Stewart já mostrou em outras ocasiões que é uma boa atriz, apesar do passado em Crepúsculo. E Katy O’Brian, apesar de pouco conhecida, também está muito bem, e, principalmente, tem o physique du role para o papel. Mas o melhor é Ed Harris, que faz um cara esquisito com um cabelo esquisito (que inicialmente era pra ser uma piada mas a diretora gostou e decidiu manter no personagem). Também no elenco, Dave Franco, Jena Malone e Anna Baryshnikov (sim, filha do Mikhail).

Love Lies Bleeding tem uma boa ambientação nos anos 80 – acho que essa trama não funcionaria nos dias de hoje, com câmeras de segurança e celulares. E o filme traz algumas cenas de violência gráfica bem fortes. Não são muitas, mas o gore deixa muito filme de terror pra trás.

Love Lies Bleeding tem um final em aberto. Daqueles finais que não fazem sentido, é cada espectador que interprete como achar melhor. Depois da sessão conversei com dois críticos amigos, cada um de nós três teve uma interpretação diferente. Heu não tenho problemas com finais em aberto, mas acredito que isso vai repelir parte da plateia. Na minha humilde opinião, a diretora Rose Glass foi mais eficiente em Saint Maud, que constrói um final em aberto, mas, no último frame, mostra o que realmente estava acontecendo, ou seja, abre espaço para interpretações, mas depois mostra a versão dela. Love Lies Bleeding não tem isso, terminamos o filme sem saber o que a diretora queria dizer.

Rivais

Crítica – Rivais

Sinopse (imdb): Tashi, uma treinadora de sucesso, transformou seu marido em um campeão mundial. Mas para superar uma sequência de derrotas, ele precisa enfrentar o ex-melhor amigo e ex-namorado de Tashi.

Filme novo de Luca Guadagnino, que está usando como marketing um suposto “trisal” entre a badalada Zendaya e dois homens. Mas, calma que não é exatamente por aí. Vamulá.

Gostei da estrutura do filme. O roteiro do estreante Justin Kuritzkes (marido da Celine Song, diretora de Vidas Passadas) começa o filme logo na cena final, na “grande batalha”, no jogo de tênis entre os dois protagonistas. E logo depois somos levados a um flashback, 13 anos antes, pra começar a entender o que está acontecendo. Mas, provavelmente para criar um paralelo com um jogo de tênis, a trama fica indo e vindo na linha temporal. Um pedacinho do “grande jogo”, volta no tempo, mais um pedacinho, mais uma volta no tempo. A narrativa ficou bem fluida com essas idas e vindas. Ah, e gostei da maquiagem usada pra diferenciar as idades. Ok, talvez não pareça que se passaram 13 anos, mas dá pra ver que estão bem mais novos / velhos.

(Tem uma cena onde um dos personagens se acidenta. Não sei se é spoiler, já que está no trailer. Enfim, na tela, o acidente é bem gráfico. Mas nada tão forte quanto a melhor cena de Suspiria, do mesmo diretor, onde uma mulher se quebra toda…)

A câmera de Guadagnino explora bem a quadra de tênis, vemos vários ângulos inovadores. Nem todos funcionam, heu por exemplo não curti quando vemos parte do jogo em câmera “pov”, com a visão do jogador. Por outro lado, gostei quando o ponto de vista foi da bola, como se a câmera estivesse sendo rebatida pelas raquetes.

Preciso dizer que não curti a trilha sonora de Trent Reznor e Atticus Ross, que já fizeram trabalhos ótimos (e já ganharam Oscars duas vezes, por A Rede Social e Soul). Se em outros trabalhos a trilha ajudava a entrar no clima do filme, aqui senti o oposto. Em algumas cenas que eram pra ser mais sérias, as batidas eletrônicas eram altas como se estivéssemos em uma rave. Continuo curtindo a dupla, mas não nesta trilha.

O trio principal de atores está muito bem. Preciso dizer que nunca entendi o fã clube da Zendaya, ela é uma boa atriz, mas, imho, nada que justifique o frisson. Bem, pelo menos aqui ela está bem, e tem uma boa química com Mike Faist e Josh O’Connor. Aliás, é interessante notar que existe um clima de tensão sexual entre ela e cada um deles, e também existe um clima de tensão sexual entre os dois. O filme consegue trabalhar bem a química entre o trio, cada um dos personagens é bem construído, e igualmente bem construídas são as relações entre eles.

(Achei ótimo ver a Zendaya fazer uma breve citação a Homem Aranha!)

Apesar de alguns méritos, achei o resultado final de Rivais apenas mediano. Mas reconheço que gostei muito da sequência final. Na verdade não sabemos como o jogo de tênis acaba, mas o crescente até o final do filme é muito empolgante. Como já comentei antes, assim como um final ruim diminui a nota do filme, um bom final aumenta a nota. E digo que terminei o filme com um sorriso no rosto!

Por fim, uma curiosidade: já tivemos três versões do Homem Aranha nos cinemas, e as três protagonistas femininas fizeram filmes de tênis. Kirsten Dunst fez Wimbledon; Emma Stone, A Guerra dos Sexos; e agora Zedaya estrela Rivais.

Guerra Civil

Crítica – Guerra Civil

Sinopse (imdb): Em um futuro distópico, um grupo de jornalistas percorre os Estados Unidos durante um intenso conflito que envolve toda a nação.

Bora pra mais um dos filmes que estavam na minha lista de expectativas pra 2024, o grande blockbuster da A24!

Guerra Civil (Civil War, no original) é o novo filme de Alex Garland, que até agora só tinha feito filmes “menores” e mais “herméticos”: Ex Machina, Aniquilação e Men (como roteirista, Garland tem filmes mais pop, como Extermínio, Sunshine e Dredd). Guerra Civil tem os seus momentos contemplativos, mas é um filme bem mais acessível que seus três anteriores. E, na minha humilde opinião é, de longe, seu melhor filme.

Guerra Civil é cinemão. Fotografia caprichada, mostrando um país destruído, em planos abertos, com boas atuações e um perfeito uso do som.

Guerra Civil começa com os EUA devastados por uma guerra, mas não existe uma explicação sobre os detalhes dessa guerra. Algumas cenas são colocadas aqui e ali pra situar o espectador, mas sem muitos detalhes (como a cena no posto de gasolina, quando ela oferece 300 dólares por meio tanque, e o cara só aceita porque são dólares canadenses, é assim que a gente descobre que o dólar americano não vale mais nada). Mas tem um diálogo no filme que explica a postura dos personagens: eles são jornalistas, são fotógrafos de guerra, a sua função é ficarem isolados sem tomar partido.

Talvez parte do público se sinta incomodada com isso. A gente vive num mundo cada dia mais polarizado, e inclusive rolam rumores sobre uma possível guerra civil real nos EUA. Mas aqui a gente não sabe detalhes, no filme não existe uma posição entre Esquerda e Direita. Somos os fotógrafos de guerra, estamos aqui só pra registrar a história.

Se a temática pode dividir o público, a parte técnica não tem o que se discutir. O filme tem vários planos abertos mostrando cidades parcialmente destruídas pela guerra. Claro que boa parte deve ser cgi, mas não dá pra saber o que é cgi e o que estava lá durante as filmagens. Além disso, o filme traz algumas cenas plasticamente muito bonitas, como por exemplo quando passam por árvores pegando fogo e vemos pequenas brasas flutuando no ar.

Adorei a edição de som. Em algumas sequências com muitos tiros e explosões, não ouvimos nada, só a música da trilha sonora. Também temos momentos de silêncio em pontos estratégicos da narrativa. E a sequência final é sensacional. Os protagonistas são fotógrafos de guerra, acompanhando soldados. Toda a sequência é entrecortada por registros fotográficos, “ao vivo”, e isso ajuda a manter a tensão.

Tem um detalhe que me incomodou um pouco, mas não é uma falha do filme. A personagem da Cailee Spaeny usa uma câmera com filme, daqueles que a gente precisa revelar. Heu até entenderia se fosse uma fotografia artística, entenderia a opção da personagem de usar filme. Mas se ela quer ser uma fotógrafa jornalística, é esquisito ter que ficar carregando rolos de filme e tendo que revelar tudo. Mas isso não é uma falha, é uma característica da personagem, ela gosta de fazer assim e explica isso no filme.

O elenco está muito bem. O filme foca mais no quarteto Kirsten Dunst, Wagner Moura, Cailee Spaeny (Priscilla) e Stephen McKinley Henderson (Beau Tem Medo) – lembro do Wagner Moura em Elysium, lá ele parecia “um brasileiro em Hollywood”; aqui ele já está “local”. Jesse Plemons só aparece em uma cena, uma cena bem tensa (que está parcialmente no trailer). Nick Offerman abre o filme, como o presidente dos EUA, mas também aparece pouco.

Filmão. Deve voltar aqui na lista de melhores de 2024.

O Sabor da Vida

Crítica – O Sabor da Vida

Sinopse (imdb): 1885. A cozinheira Eugenie trabalha para o gourmet Dodin há 20 anos. Com o passar do tempo, a admiração mútua gerou um relacionamento amoroso. Eugenie, no entanto, nunca quis se casar com Dodin. Ele decide, então, cozinhar para ela.

Teve um “causo” que viralizou, e como sou “rato de Estação Botafogo”, várias pessoas me encaminharam o vídeo. Funcionários do Estação Net Rio, cinema de rua, fecharam a porta do cinema enquanto ainda estava rolando a última sessão. Quando acabou o filme, os espectadores se viram presos atrás de uma grade e tiveram que chamar a polícia e os bombeiros.

O Grupo Estação, como pedido de desculpas, conseguiu entrar em contato com todos os que ficaram presos naquele dia, e, como pedido de desculpas, ofereceu um passe livre de um ano pra todo o circuito Estação, e ainda uma sessão pré estreia deste O Sabor da Vida, representante francês no Oscar 2024.

Não ganhei o passe livre do Estação, mas pelo menos participei da sessão, com direito a pipoca e várias bebidas liberadas.

Dirigido pelo vietnamita Anh Hung Tran, O Sabor da Vida (La passion de Dodin Bouffant, no original) conta a história de um casal em 1885, onde ambos são excelentes cozinheiros. Eles são namorados, mas ela se recusa a casar. Mesmo assim, são uma dupla em perfeita sintonia. O filme desenvolve bem a relação entre o casal. Mas tive a impressão de que dedica mais tempo de tela com a comida. É um filme que “dá fome”!

Agora, precisamos reconhecer que pouca coisa acontece. Estamos acostumados com outro ritmo, acredito que boa parte do público vai estranhar ver um filme onde quase o tempo todo vemos pessoas cozinhando.

Uma coisa que amplifica essa sensação de estranheza é a ausência de trilha sonora. Não posso afirmar com certeza, mas tive a impressão que só ouvimos trilha não diegética nos créditos finais.

O Sabor da Vida tem vários planos longos. Não sei se podemos chamar de plano sequência, porque são planos onde a câmera fica parada, ou se move muito pouco. Mas são cenas extremamente bem filmadas.

Por fim, uma curiosidade que não entendi na hora, mas depois li a explicação no imdb. Em uma cena, um grupo de amigos se senta à mesa, e todos cobrem a cabeça para comer. Eles estavam comendo um pequeno pássaro chamado ortolan, que, segundo a tradição, quem come precisa cobrir a cabeça com um guardanapo, se debruçar sobre o prato e enfiar o pássaro inteiro na boca de uma vez só.

No fim do filme, deu fome. E curiosidade de saber o que é um “pot au feu”, prato citado no filme.

Desespero Profundo

Crítica – Desespero Profundo

Sinopse (imdb): Personagens de diferentes origens são reunidos quando o avião em que viajavam cai no Oceano Pacífico. Segue-se uma luta de pesadelo pela sobrevivência, com o suprimento de ar se esgotando e os perigos se aproximando por todos os lados.

A sinopse lembra Sharknado. Mas a proposta aqui não tem nada a ver com o trash do SciFi. Não que seja um bom filme, mas aqui pelo menos tentaram fazer um filme sério.

(Sharknado me irrita não por ser um filme trash, mas sim por ser um filme preguiçoso. Além de todo o contexto ilógico de tubarões que voam em vez de serem carregados pelo tornado, ainda tem um monte de cenas mal feitas. Num take, chove torrencialmente; no take seguinte, as calçadas estão secas. Num take, venta muito; no seguinte, não tem vento. Num take, eles estão dentro de uma casa, e a água invade o primeiro andar, água suficiente para ter um tubarão nadando; no take seguinte, eles saem de casa, e está tudo seco em volta)

Mas aqui até que podia funcionar, se tivesse um roteiro e um elenco melhores. Vamulá.

Desespero Profundo é um “drama de sobrevivência”: um avião cai no mar, afunda, e alguns sobreviventes ficam presos numa bolha de ar. E eles precisam descobrir como sair com vida. Filmes assim podem ser muito bons, lembro de A Queda, de dois anos atrás, onde duas amigas ficam presas no alto de uma torre – e todo o filme é isso. Mas em A Queda o roteiro joga elementos aqui e ali e consegue manter a tensão ao longo de toda a duração do filme, e o espectador fica angustiado na beira da poltrona. Já o roteiro de Desespero Profundo causa sono em vez de tensão.

Desespero Profundo é chato. O roteiro é preguiçoso e não traz quase nada de novidades pra incrementar a história. E, pra piorar, todos os personagens são ruins, e todos os atores são igualmente ruins. Tem um tubarão nadando dentro do avião? Que eles morram pelo tubarão ou afogados, ninguém se importa com personagens assim!

Nem tudo é ruim. O acidente do avião, quando uma parte da turbina explode e despressuriza o avião, é bem feito. Ok, não é tão bem feito quanto o de A Sociedade da Neve, mas não faz feio lembrando que este é um filme de baixo orçamento. Se fosse um curta metragem usando esse acidente de avião, seria um filme bem melhor.

Mas é um longa. Mal escrito, mal desenvolvido e mal atuado. Vale mais rever A Queda.