Último Alvo

Crítica – Último Alvo

Sinopse (imdb): Um gângster idoso tenta se reaproximar de seus filhos e corrigir os erros de seu passado, mas o submundo do crime não está disposto a abrir mão de sua influência.

Já comentei aqui outras vezes sobre a atual fase da carreira do Liam Neeson. Grande ator, teve papéis importantes em grandes filmes, como A Lista de Schindler, Star Wars ep 1 e Batman Begins, mas que depois de Busca Implacável (que é um bom filme) entrou uma onda de fazer filmes genéricos de ação onde ele é o “coroa badass”. Nada contra, o cara achou um nicho, é um trabalho honesto. Mas quase todos os filmes desta fase são ruins.

(Lembro sempre do Adam Sandler, que descobriu uma fórmula ótima: tira férias com amigos, inventa um fiapo de história, filma, e vende como o seu novo filme. São filmes péssimos, mas têm seu público. Aí de vez em quando ele se junta com um bom diretor, faz um bom filme, as pessoas comentam “e não é que ele é bom ator?”, mas logo volta pros filmes “fast food”. Tem como reclamar? Claro que não. Queria ganhar dinheiro assim!)

Bem, depois desta longa introdução, vamos ao seu novo filme, Último Alvo (Absolution, no original), que é um filme um pouco melhor do que os últimos, mas é um filme que está sendo muito mal vendido. Porque o trailer dá a impressão de que veremos mais um filme de ação, enquanto na verdade Último Alvo é um drama!

Repito: Último Alvo é um drama! Informação importante, não vá ao cinema procurando um filme de ação!

(O título nacional também é ruim. “Último Alvo” sugere um filme de vingança. O título original é “Absolution”, ou “Absolvição”, tem muito mais a ver com o que vemos em tela.)

Aviso dado! Último Alvo é um drama sobre um capanga de um chefão criminoso, já com uma certa idade, mas mesmo assim ainda em forma, que começa a sentir problemas de falta de memória, provavelmente porque pratica boxe e com isso sempre levou muitas pancadas na cabeça. Quando descobre que não tem mais muito tempo de vida, ele resolve corrigir alguns erros do seu passado.

“Ué, se é um drama, de onde tiraram as cenas que estão no trailer?” Último Alvo tem apenas duas cenas de ação. E a primeira só acontece com aproximadamente uma hora de projeção. Aliás, essa primeira cena de ação deve estar toda no trailer, picotaram em vários trechinhos e espalharam pelo trailer. O foco é o personagem, mais velho, tendo que encarar sua triste realidade. E, olha, podemos dizer que Liam Neeson continua mandando bem – neste aspecto o filme até funciona bem.

Mas, mesmo com um bom protagonista, o filme é fraco. A trama se arrasta. E o roteiro tem algumas decisões meio estranhas, me parece que o filme passou por cortes. Vou citar dois exemplos: na primeira cena que vemos a filha do protagonista, vemos que ela tem uma filha pequena e um filho um pouco mais velho. E ao longo do resto do filme a menina é ignorada, só vemos o filho! Outro exemplo é um personagem que aparece pela primeira vez no fim do filme em um momento importante, e é um personagem que não tinha sido apresentado antes. Será que não era melhor uma cena curta no início do filme só pro espectador saber quem é aquele cara?

A direção é de Hans Petter Moland, norueguês que já tinha trabalhado com Neeson em Vingança a Sangue Frio, filme de 2019 que está na leva de “filmes ruins de coroa badass”, mas que é um pouco menos ruim que a maioria dos outros. Aliás, achei curioso ver vários nomes nórdicos nos créditos (sim, heu fico lendo créditos). Último Alvo foi filmado nos EUA mas finalizado na Noruega.

Último Alvo estreia semana que vem, e recomendo, mais uma vez: não é pra quem quer ver filme de ação!

Conclave

Crítica – Conclave

Sinopse (imdb): O Cardeal Lawrence é encarregado de liderar um dos eventos mais secretos e antigos do mundo, a seleção de um novo Papa, onde ele se encontra no centro de uma conspiração que pode abalar os próprios alicerces da Igreja.

Dirigido por Edward Berger, mesmo diretor do também bom Nada de Novo no Front (que ganhou 4 Oscars em 2023, incluindo melhor filme internacional), Conclave traz uma boa história, numa trama fluida, grandes atuações e todos os personagens são bem construídos. Isso tudo com uma fotografia belíssima.

O conclave é quando morre o Papa, então cardeais se isolam do mundo para escolherem o novo Papa. Segundo a “mitologia” da igreja católica, todos rezam e são “tocados por Deus”, então escolhem o novo líder. Mas claro que deve rolar muita politicagem por debaixo dos panos.

Um dos vários méritos de Conclave está nos personagens. Ao longo da projeção vemos pelo menos seis candidatos que teriam reais chances, e o roteiro consegue equilibrar perfeitamente essa dúvida. Claro que tem um que é retratado como um “vilão”, um cara retrógrado e racista, que quer que a Igreja católica volte ao que era décadas atrás, inclusive quer um Papa italiano. Mas o filme não é maniqueísta, mostra várias facetas de vários personagens. E a parte final ainda traz um plot twist que vai pegar quase todos os espectadores de surpresa (mais tarde comento sobre o final).

Aproveito pra falar do elenco. Ralph Fiennes está ótimo, ele precisa organizar o conclave, está no meio de um turbilhão porque a Igreja está dividida e ele sente que precisa unir as diferentes correntes, ele não quer ser Papa mas muitos discordam… Sua indicação ao Oscar de Melhor Ator não é um exagero. Stanley Tucci e John Lithgow também estão bem – heu tive um problema com Lithgow, mas reconheço que o problema meu e não do filme: gosto muito do seriado 3rd Rock From the Sun, e de vez em quando ele falava e heu me lembrava do Dick Solomon. Outros nomes menos conhecidos também se destacam, como Sergio Castellitto (Tedesco) e Carlos Diehz (Benitez). Por fim, Isabella Rossellini tem um papel bem pequeno, mas protagoniza um dos melhores momentos do filme.

Um parágrafo à parte pra falar da trilha sonora de Volker Bertelmann. Tirado da wikipedia: “Em busca de um instrumento acústico que “soasse como um sintetizador ou algo eletrônico”, Bertelmann escolheu o Cristal Baschet , um cristalofone tocado com as mãos molhadas, como o som predominante para a trilha sonora do filme. O instrumento era tematicamente adequado para a trilha sonora do filme, pois produz uma sensação de um “espaço sobrenatural” e sua execução artesanal o ajudou a produzir sons “estranhos e divinos”.

Nem todo o filme é perfeito. Determinada cena acontece uma explosão, e essa explosão não agrega nada à história que o filme está contando. Não que seja uma cena ruim, mas é bem desnecessária, se tirar essa cena o filme não perde nada.

Vou comentar o final, mas não vou entrar em detalhes por causa de spoilers. O final traz um plot twist que talvez possa ofender algum católico. Mas… Meus pais são muito católicos, vão à missa mais de uma vez por semana, participam ativamente da sua paróquia. Vi o filme, recomendei a eles, com medo de não gostarem do fim. Mas, para a minha surpresa, não falaram nada negativo sobre este plot twist. Ou seja, se as pessoas mais católicas que heu conheço não se ofenderam, acho que Conclave pode ser curtido por qualquer um.

Conclave está concorrendo a oito Oscars: Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator (Ralph Fiennes), melhor Atriz Coadjuvante (Isabella Rossellini), Melhor Edição, Melhor Trilha Sonora, Melhor Figurino e Melhor Design de Produção. Claro que estou torcendo pra Ainda Estou Aqui – mas sei que dificilmente vai ganhar; e claro que prefiro A Substância – mas sei que dificilmente um filme de terror com gore ganha. Dentre os “filmes com cara de Oscar”, achei Conclave o melhor até agora (vi 9 dos 10 principais).

Sing Sing

Crítica – ing Sing

Sinopse (imdb): Divine G, preso em Sing Sing por um crime que não cometeu, encontra um propósito ao atuar em um grupo de teatro ao lado de outros homens encarcerados nesta história de resiliência, humanidade e o poder transformador da arte.

Tenho o hábito de me informar pouco sobre os filmes antes de assisti-los. Prefiro entrar numa sala de cinema sabendo muito pouco ou quase nada sobre o filme. Quase sempre é uma experiência melhor, porque muitas vezes sou surpreendido. Mas preciso reconhecer que em alguns casos seria melhor saber um pouco mais sobre o contexto. Este é o caso de Sing Sing.

(Mas fiquem tranquilos que não vou dar nenhum spoiler!)

Sing Sing (idem, no original) mostra um grupo de teatro formado dentro de um presídio, um programa criado pra ligar presidiários à arte. Quase todo o filme se passa dentro do presídio, mas, diferente de outros filmes que abordam o mesmo tema, Sing Sing não foca nos crimes que levaram cada um à prisão, nem em rixas internas, nem em tentativas de fuga, ou coisas parecidas. O foco aqui é só a montagem da peça de teatro.

Fiquei acompanhando aquela história, tentando entender pra onde o filme ia me levar. Confesso que em certo ponto até achei meio chato. Mas, quando acaba, li nos créditos que não só o filme conta uma história real, como quase todos os atores interpretam eles mesmos – boa parte do elenco é de prisioneiros (ou ex prisioneiros, não vi se foi filmado enquanto eles ainda estavam presos), e todos participaram deste mesmo programa de grupo de teatro. Acreditem, isso me deixou com vontade de voltar e rever, agora com novos olhos. Aqueles personagens passaram a ter um novo sentido pra mim.

Sing Sing segue o grupo de atores enquanto montam uma peça bem diferente do óbvio – resolveram fazer um brainstorm e o organizador do grupo escreveu uma peça usando todas as ideias surgidas, que vão de Shakespeare até Freddy Krueger, passando por viagens no tempo. A gente sabe pouco sobre a vida de cada um fora da cadeia, o grande lance do filme é mostrar como eles encaram o grupo teatral. Inclusive, no fim do filme vemos algumas imagens caseiras de peças reais encenadas por grupos semelhantes.

Sing Sing está concorrendo a três Oscars. Uma das indicações, para melhor ator, é merecidíssima: Colman Domingo (um dos poucos “atores” do elenco) está excelente. Tem até uma cena que serve como “clipe de Oscar”. Mas ele não é o único que está bem. Clarence Maclin (que também é um dos roteiristas) também está muito bem, inicialmente achei que seria um personagem com redenção forçada, mas consegui “comprar” a trajetória do personagem. Alguns secundários também estão bem, como Sean San Jose e Sean Dino Johnson. Ah, o presidiário que pede um autógrafo para o protagonista é o autor do livro que deu origem à história.

(Nada a ver com o filme, mas adoro a voz grave do Colman Domingo!)

Além da indicação a melhor ator, Sing Sing está concorrendo a Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Canção. Achei estranha esta última indicação, porque quando saí da sala de cinema fiquei tentando me lembrar se tinha alguma canção no filme. É, parece que este ano estamos fracos de concorrentes a melhor canção.

Sing Sing estreia quinta agora no circuito.

 

Aqui

Crítica – Aqui

Sinopse (imdb): Situado em um único quarto, ele acompanha as muitas pessoas que o habitam ao longo dos anos, do passado ao futuro.

Quando anunciaram o filme como “nova reunião de Tom Hanks com Robert Zemeckis”, admito que lembrei de Pinóquio, que foi um dos piores filmes de 2022. Ou seja não era exatamente um motivo para empolgação.

Mas aí vi que Aqui (Here, no original) reunia oito membros do elenco e da equipe de Forrest Gump: O Contador de Histórias (1994) – Tom Hanks, Robin Wright, Robert Zemeckis, o roteirista Eric Roth, o compositor Alan Silvestri, o diretor de fotografia Don Burgess, o designer de som Randy Thom e a figurinista Joana Johnston.

Ok, você tinha a minha curiosidade, agora você tem a minha atenção!

Aqui apresenta um conceito curioso: o filme inteiro mostra apenas um posicionamento de câmera, ao longo muito tempo (na verdade, desde a época dos dinossauros). Vemos índios nativos americanos, vemos Benjamin Franklin, depois vemos a casa sendo construída e várias famílias morando lá ao longo de algumas décadas. Tudo isso com a câmera parada. A história vai e volta no tempo, e a câmera sempre mostrando o mesmo ângulo.

Aqui é adaptação da HQ homônima de Richard McGuire. Não li a HQ, mas vi algumas imagens. A edição do filme copia os recortes espalhados pela tela nas idas e vindas da linha temporal. Talvez fique um pouco confuso à primeira vista, mas achei o resultado bem legal.

Não é a primeira vez que Robert Zemeckis inova, e sempre vou valorizar quando um cineasta segue caminhos diferentes. O já citado Forrest Gump foi um marco nos efeitos especiais quando usou o cgi pra não mostrar – até então, os efeitos eram sempre aparentes, em Forrest Gump os efeitos escondiam detalhes, como as pernas do personagem do Gary Sinise. Zemeckis também inovou com Uma Cilada Para Roger Rabbit, quando criou personagens em desenho animado, mas que tinham volume (até então, todas as misturas de atores com animações eram com a câmera parada, em 2D). Ou com a técnica de captura de movimento usada em O Expresso Polar. E isso porque não estou falando de sua obra mais famosa: a trilogia De Volta Para o Futuro.

Mas, se como “inovação” Aqui funciona, como “cinema”, deixa a desejar. A trama ir e voltar no tempo não é um problema, mas não ter uma história a ser contada é. Personagens entram e saem da tela, sem nenhum contexto. E ao fim a gente descobre que boa parte desses personagens era irrelevante na trama. Na minha humilde opinião, se o filme focasse na família principal (Tom Hanks, Robin Wright, Paul Bettany e Kelly Reilly), Aqui seria um filme bem melhor.

(A gente vê a história indo e vindo o tempo todo, mas acho que a única vez que reparei alguma conexão entre as diferentes linhas temporais foi quando vemos um enterro de uma nativa americana, e depois vemos que acharam seu colar numa escavação. Ou seja, temos várias linhas temporais que só serviram pra encher linguiça.)

Ainda preciso falar dos efeitos especiais. Pelo que li, Zemeckis usou uma nova tecnologia que rejuvenesce ou envelhece o ator na hora que está sendo filmado, através de IA, dispensando uma pós produção. Ok, mais uma vez, respeito a inovação, mas essa tecnologia me pareceu um pouco “crua”, em alguns momentos a cara dos personagens parece artificial demais.

No fim, só recomendo Aqui como uma nova experiência cinematográfica. Porque como filme, podia ter sido bem melhor.

Maria Callas

Crítica – Maria Callas

Sinopse (imdb): Maria Callas, a maior cantora de ópera do mundo, vive os últimos dias de sua vida na Paris dos anos 1970, enquanto se confronta com a sua identidade e vida.

Terceiro filme da trilogia “Lady with Heels”, do diretor chileno Pablo Larraín. Em 2016 ele fez Jackie, com Natalie Portman interpretando Jacqueline Kennedy; em 2021 fez Spencer, com Kristen Stewart interpretando a Lady Di. Agora é a vez de vermos Angelina Jolie fazendo Maria Callas.

Maria Callas (Maria, no original – não sei por que o título nacional não seguiu o padrão dos outros dois filmes de deixar apenas um nome) é um filme bonito, uma produção bem cuidada, com uma reconstituição de época perfeita, figurinos exuberantes, além de ter uma grande atuação da Angelina Jolie. Mas…

Tive dois problemas com este filme. Em primeiro lugar, preciso falar que não gosto de ópera. Respeito, reconheço qualidades, mas acho feio. Sim, o som me incomoda. Prefiro ouvir theremin do que ouvir alguém cantando ópera.

Some a isso o fato da Maria Callas ser uma pessoa insuportável, e temos um filme que, pra mim, foi difícil chegar ao fim. Não conhecia nada da vida da Maria Callas, só sabia que tinha sido uma grande cantora, um dos maiores nomes da história da ópera. Mas não sabia que ela era tão “estrela” no mau sentido – chega a ter uma cena onde ela verbaliza que quer ir a um restaurante e ficar visível para ser bajulada por fãs. Passa a impressão de ser uma mulher rica, fútil e vazia, que se sente superior a todos em volta. Isso fica claro no modo como ela  trata seus dois funcionários. Já vi em outros filmes escravos sendo mais bem tratados.

O roteiro ainda tem um problema. Na verdade não é uma falha do filme, é uma opção escolhida pelo roteirista, mas acho que o filme ganharia pontos se não pegasse este caminho. Durante boa parte do filme, Maria Callas está sendo entrevistada. E o filme joga com a ideia de “será que este entrevistador é real, ou será que é imaginação da personagem?”. Mas, no início do filme, ela toma um remédio chamado Mandrax, e logo na cena seguinte o apresentador aparece e se apresenta como “Mandrax”. Ou seja, o filme já explicita logo de cara que aquele personagem não é real. Na minha humilde opinião, Maria Callas seria um filme melhor se guardasse essa revelação para o final.

Se o roteiro traz esse problema de “plot twist revelado”, pelo menos posso dizer que gostei da  estrutura dos flashbacks. Não só pela parte técnica, que altera texturas de imagem, alternando cor e pb e diferentes formatos de tela; como pela narrativa, que usa os flashbacks pra mostrar Maria Callas no seu auge.

No elenco, Angelina Jolie está realmente muito bem (mas ainda achei que Fernanda Torres está melhor). A personagem é insuportável, mas a atriz está bem – apesar de algumas cenas onde ela falha no “lip sinc” da dublagem. Também no elenco, Pierfrancesco Favino, Alba Rohrwacher, Kodi Smit-McPhee, Haluk Bilginer, e Valeria Golino (em apenas uma cena, interpretando a irmã da protagonista).

Sobre a voz, fiquei vendo os créditos. Aparentemente todas as músicas são cantadas pela Maria Callas, Angelina Jolie só dublou. Mas, li no imdb que Angelina queria cantar por conta própria, então teve sete meses de aulas de ópera para se preparar para seu papel, e que na parte final, a voz seria a da atriz. Só não sei se acredito nisso. Se Angelina cantou, por que não está creditada?

Maria Callas estreia esta semana nos cinemas.

Jurado Nº2

Crítica – Jurado Nº 2

Sinopse (imdb): Enquanto atua como jurado em um julgamento por assassinato, um homem se vê em um dilema moral, podendo influenciar o veredito do júri.

Uma coisa que acho muito legal é quando vejo pessoas idosas trabalhando no que gostam, por prazer. Sim, sei que tem muita gente com condições financeiras precárias, que precisa continuar trabalhando, mas alguns trabalham porque gostam do que fazem. Lembro do show do Deep Purple, ano passado, no Rock in Rio. Quatro membros da banda com mais de 75 anos!

Aí a gente vê que chegou no streaming o novo filme dirigido por Clint Eastwood – que está com 94 anos! Quando crescer, quero ser que nem esses caras!

(Antes de entrar no filme, uma coisa que descobri pesquisando sobre o que ia falar aqui: Clint Eastwood tem fama de ser um diretor muito responsável com prazos e orçamentos. Seus filmes sempre custam menos do que o estimado e sempre são entregues antes do prazo. Legal!)

E vamos ao filme. Vi Jurado Nº 2 (Juror # 2, no original) no finzinho do ano passado, lembro que alguns amigos colocaram o filme em suas listas de melhores do ano, queria ver logo pra ver se ia mudar o meu top 10. Reconheço todos os méritos de Jurado Nº 2, é um filmão, mas não mudou minha lista.

A ideia é muito boa. Um cara é convocado pra fazer parte de um júri. Durante o julgamento, ele descobre que pode ter um envolvimento pessoal com o caso. Aí entra o dilema moral: será que ele deve assumir a sua responsabilidade, ou é melhor deixa outra pessoa pagar por um erro seu?

(Nunca entendi esse sistema que acontece nos EUA onde pessoas são convocadas pra participarem de um júri. O que acontece se a pessoa não pode? Se tem um trabalho que não a deixa sair? Se tem algum problema de saúde? Acho que isso não funcionaria no Brasil…)

Um dos destaques de Jurado Nº 2 é o roteiro, que consegue explorar bem vários tons de cinza no meio do julgamento, e consegue equilibrar um elenco com vários bons personagens. Ok, não tem como aprofundar todos os personagens em um filme de uma hora e cinquenta e quatro minutos, são uns vinte personagens participando da trama. Mas conseguimos ver nuances de vários deles.

Outro destaque é o elenco. Nicholas Hoult (segundo filme que comento este ano, segundo filme com o Nicholas Hoult) está excelente com seus dilemas – ele tem uma esposa em gravidez de risco, ele tem um histórico de alcoolismo, e está vendo um homem que pode ser inocente ser condenado. E Toni Collette, como a promotora, também tem seus dilemas, porque está vendo que talvez precise prejudicar terceiros por motivos pessoais. Duas grandes atuações! E ainda tem outros dois grandes atores em papéis bem menores, J.K. Simmons e Kiefer Sutherland. Papéis importantes, mas com pouco tempo de tela. Também no elenco, Zoey Deutch, Chris Messina e Leslie Bibb. Ah, a vítima do assassinato é Francesca Eastwood, filha do Clint.

Jurado Nº 2 foi muito mal lançado. Um filme desses merecia ir pros cinemas. Mas foi direto pro streaming, e sem nenhuma divulgação. Nosso diretor nonagenário merecia um tratamento melhor!

Anora

Crítica – Anora

Sinopse (imdb): Anora, uma jovem trabalhadora sexual do Brooklyn, conhece e impulsivamente se casa com o filho de um oligarca russo. Quando a notícia chega à Rússia, seu conto de fadas é ameaçado quando os pais dele partem para Nova York para anular o casamento.

Fiquei na dúvida se valia falar sobre Anora agora. Teve uma sessão de imprensa, e no dia da sessão avisaram que a distribuidora adiou o lançamento pra janeiro do ano que vem, visando a temporada de prêmios. Ou seja, quase não tem nenhuma crítica do filme, porque quase ninguém viu, e vai demorar pra galera conseguir assistir.

Pensei em só comentar depois, mas aí me toquei que vou acabar me esquecendo de detalhes do filme. Então vamos nessa!

Escrito e dirigido por Sean Baker, Anora chega com uma grande credencial: foi o vencedor da Palma de Ouro em Cannes. Mas aí a gente lembra que o último vencedor foi Anatomia de uma Queda. E antes, foi Triângulo da Tristeza. E antes, Titane. E antes, Parasita. E, preciso dizer isso: achei Anora beeem inferior a esses todos.

(Talvez Titane esteja um degrau abaixo dos outros quatro, mas pelo menos é um filme diferentão, o que conta pontos em uma premiação como Cannes.)

Dito isso, vou falar algo polêmico. Não achei Anora grandes coisas. Pra mim, parece um American Pie melhorado.

Ok, talvez seja um exagero. American Pie é uma comédia besteirol cheia de piadas de cunho sexual, e Anora tem muito sexo, mas só o meio do filme que tem uma pegada de humor mais escrachado. Inclusive, o final do filme mira no drama.

Mas, repito, não consegui ver as qualidades que a galera está vendo. Ani é uma dançarina erótica e garota de programa que se envolve com um jovem russo, herdeiro de uma família milionária. A primeira parte mostra a relação dos dois, a segunda desenvolve problemas com capangas da família russa, e a parte final é a conclusão triste da história da jovem Ani. É ruim? Não, a trama é envolvente e a parte comédia no meio do filme tem algumas situações bem engraçadas. Mas, se a gente pensar que esse filme foi considerado o melhor de Cannes este ano, ou a competição estava bem fraca, ou tem alguma coisa errada aí. Sendo que A Substância estava concorrendo, voto na segunda opção.

Um dos problemas de Anora é que é difícil ter alguma empatia pelo casal protagonista. Ele é um milionário mimado que compra todos em sua volta; ela só está com ele por causa do dinheiro. Em momento algum o filme mostra algo mais afetivo na relação dos dois. Vejam bem: não tenho absolutamente nada contra ela ser uma trabalhadora do sexo, alguém na sua profissão pode ter um parceiro e ter uma vida em família. Mas esta realidade não é mostrada aqui.

Sobre o elenco, Mikey Madison (Pânico 5, Era Uma Vez em Hollywood) está bem em sua nova versão de Uma Linda Mulher. Pena que é uma personagem meio vazia – o filme foca nas festas, no luxo, no sexo e nas drogas e esquece de desenvolver o lado humano da personagem. Já o Ivan de Mark Eydelshteyn podia ser interpretado por qualquer um, ele passa o filme todo jogando videogame, fazendo sexo ou fugindo.

Sobram muitas cenas de nudez e sexo, e uma parte comédia que vai arrancar gargalhadas da plateia. Ou seja, nem está tão longe assim de American Pie…

Ainda Estou Aqui

Crítica – Ainda Estou Aqui

Sinopse (imdb): Baseado no livro de memórias best-seller de Marcelo Rubens Paiva, no qual sua mãe é forçada a se tornar ativista quando seu marido é capturado pelo regime militar no Brasil, em 1971.

E vamos para as reais chances de Oscar para o Brasil!

Ainda Estou Aqui é o novo filme de Walter Salles (Central do Brasil), que não lançava um longa desde 2012. O filme é baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, e conta a história real de uma família no Rio de Janeiro do início dos anos 70. Marcelo vive com seus pais e suas 4 irmãs em uma boa casa, na Vieira Souto, na praia de Ipanema. Até que seu pai, Rubens Paiva, é levado por agentes do regime militar. E nunca mais volta.

Ainda Estou Aqui está badalado para o Oscar, e realmente está um degrau acima da média da produção nacional. Começo pela parte técnica: nunca vi no cinema nacional um cgi de reconstituição de época tão perfeito. A começar pela casa onde mora a família – não existem casas residenciais na Vieira Souto! Provavelmente filmaram em uma casa em outro endereço e colocaram a casa lá. E não é só isso, vemos várias cenas nas ruas, onde vemos carros, pessoas e prédios dos anos 70. E tudo, absolutamente tudo está perfeito. Mostrar uma praia não é uma tarefa tão difícil, mas quando vemos o morro Dois Irmãos sem a favela do Vidigal, a gente leva um susto. Sério, o cgi aqui não deve nada pra super produções gringas.

Mas, mais importante que isso, precisamos falar das atuações. Queria rapidamente citar que Selton Mello não está com “cara de Selton Mello” – gosto do ator, mas ele meio que criou um personagem e repete esse mesmo personagem em diversos filmes (vários atores são assim, Christoph Waltz ganhou dois Oscars por papéis quase iguais). Mas, o nome a ser citado é Fernanda Torres, que está simplesmente sensacional. Caros leitores, anotem isso, estou falando em outubro: Fernanda Torres tem uma chance grande de ser indicada ao Oscar ano que vem, 26 anos depois da sua mãe Fernanda Montenegro (coincidência ou não, também dirigida por Walter Salles). Ah, Fernanda Montenegro aparece no final do filme, em uma cena onde ela interpreta a personagem da filha num futuro onde ela está bem mais velha.

Quase o filme todo se passa nos anos 70. No fim tem um trecho em 1996 e uma cena final em 2004. Na minha humilde opinião, o filme perde a força nesses dois “epílogos”. Não chega a estragar o resultado final, mas acho que Ainda Estou Aqui seria ainda melhor se acabasse no momento que a família deixa a casa, o resto da história podia ser uma cartela com um texto antes dos créditos.

Por fim, e o Oscar? Bem, até onde sei, cada país pode mandar um filme para a categoria “filme internacional” (que era “filme em língua estrangeira” até poucos anos atrás). Escolhem uma pré lista com 9 filmes, que depois é reduzida à lista oficial de 5 candidatos. Mas, a gente sabe que a qualidade do filme não é tudo quando se fala em Oscar. O lobby é algo muito importante. E aparentemente esta vez estão com um lobby forte pra tentar indicar o filme brasileiro. Um boato que ouvi entre amigos críticos é que querem tentar indicar Ainda Estou Aqui para o Oscar principal – nos últimos dois anos, o vencedor do prêmio de filme estrangeiro também estava indicado ao Oscar de melhor filme (Zona de Interesse em 2024, Nada de Novo no Front em 2023). Também é ventilada uma indicação ao Oscar de melhor atriz para Fernanda Torres, o que já estão falando como se fosse uma “reparação ao erro de não ter dado o Oscar para Fernanda Montenegro” (o que talvez seja um exagero, mas tem um fundo de verdade).

Enfim, aguardemos. Mas estou na torcida!

Todo Tempo que Temos

Crítica – Todo Tempo que Temos

Sinopse (imdb): Após um encontro inusitado, uma talentosa chef de cozinha e um homem recém-divorciado se apaixonam e constroem o lar e a família que sempre sonharam, até que uma verdade dolorosa põe à prova essa história de amor.

Quando vi o trailer do Todo Tempo que Temos (We Live in Time, no original), imaginei que seria um dramalhão daqueles que fazem todo o cinema se debulhar em lágrimas. Não sou muito fã do gênero (não curto filmes sobre gente doente), mas resolvi encarar. E posso dizer que me surpreendi positivamente.

Como diz no cartaz do filme dirigido por John Crowley (Brooklyn), “cada minuto conta”, ou seja, já sabemos que teremos uma história de um casal muito apaixonado, onde um dos dois descobre uma doença terminal. Ok, isso é clichê. Mas o roteiro de Todo Tempo que Temos consegue apresentar essa história fora da ordem cronológica, e assim conseguiu burlar o “clímax chororô”, e ainda deu um ótimo ritmo ao filme. Detalhe: em nenhum momento vemos indicações de tempo (tipo “um ano antes”, “dois meses depois”), e mesmo assim dá pra entender tudo.

Além do roteiro, outro trunfo de Todo Tempo que Temos é o casal principal. Andrew Garfield e Florence Pugh estão ótimos, e têm uma boa química juntos. E o filme explora bem o relacionamento dos dois, quase o filme todo é só com os dois, tanto que fiquei me perguntando quem seriam os principais coadjuvantes, e só consigo pensar na filha do casal e na assistente da Florence. (Curiosidade: ambos estão na Marvel, Garfield foi o segundo Homem Aranha; Florence é a Yelena, irmã da Viúva Negra, e estará ano que vem em Thunderbolts).

Agora, preciso dizer que este não é o meu estilo de filme. Li uns comentários no imdb de gente reclamando que as idas e vindas na linha temporal teriam atrapalhado o envolvimento emocional do espectador com os personagens. Ou seja, o que pra mim foi um ponto positivo, tem gente achando que é um defeito. Sei lá, prefiro sofrer menos. Afinal, pra mim, “cinema é a maior diversão”!

Canina

Crítica – Canina

Sinopse (imdb): Uma mulher interrompe sua carreira para se tornar uma mãe que fica em casa, mas logo sua vida doméstica dá uma guinada surreal.

A divulgação deste Canina (Dogbitch, no original) falava de um filme onde a Amy Adams virava um cachorro. Essa ideia pode gerar um bom filme de terror, algo na pegada de um filme de lobisomem. Ou podia gerar uma comédia engraçada, com todos os absurdos que surgiriam desta proposta.

Nada disso. Canina é um drama que fala da maternidade e de tudo o que a mulher abre mão para cuidar do(s) filho(s).

Baseado no livro de Rachel Yoder e dirigido por Marielle Heller, Canina até tem cenas engraçadas – em alguns momentos rolavam gargalhadas no cinema. Mas o maior foco é o drama que a protagonista passa, e o dilema que ela vive – ela deve voltar à vida que levava antes de ser mãe, ou agora o foco deve ser 100% seu filho?

O melhor de Canina é a Amy Adams, que se entrega ao papel e faz o filme valer a pena. Amy já concorreu ao Oscar seis vezes e nunca ganhou, será que ano que vem vem uma nova indicação? Scoot McNairy faz o marido, um papel bem secundário.

Mas, no geral, achei o filme meio bobo. Porque todas as agruras da maternidade apresentadas no roteiro de Canina já foram contadas outras vezes, e de formas mais criativas. Canina se vende como algo diferente, mas é mais do mesmo.