Mesmo Se Nada Der Certo

Mesmo se nada der certo

Crítica – Mesmo se nada der certo

Um encontro ao acaso entre um executivo de gravadora desempregado e com problemas com bebida e uma jovem compositora que acabou de levar um fora do namorado que ficou famoso se torna uma promissora colaboração entre os dois talentos.

A princípio parece que Mesmo se Nada Der Certo (Begin Again, no original) é mais uma comédia romântica. Mas, em primeiro lugar, não é uma comédia, apenas um filme romântico. Em segundo lugar, a estrutura do filme não segue o “padrão comédia romântica mocinho não se dá bem com mocinha até o fim do filme quando ficam juntos”. Felizmente!

Mesmo se Nada Der Certo é muito legal, mas tem um problema: é parecido demais com Apenas Uma Vez (Once), filme anterior do mesmo diretor John Carney. Toda a estrutura do filme é a mesma – um casal ligado à música se conhece e ele ajuda ela a gravar, usando artistas de rua.

Mas, mesmo usando uma ideia reciclada, Mesmo se Nada Der Certo não parece uma “refilmagem com atores famosos” (o primeiro filme era estrelado pelos desconhecidos Glen Hansard e Markéta Irglova, enquanto este tem Keira Knightley e Mark Ruffalo como protagonistas). Mesmo se Nada Der Certo funciona muito bem por conta própria, é um filme simpático e cativante.

O roteiro escrito pelo próprio John Carney acerta ao contar a história do executivo de gravadora desempregado e da compositora avessa ao mainstream através de uma narrativa não linear e diálogos bem construídos. Mas preciso dizer que esse papo de gravação na rua, tecnicamente falando, é uma grande furada. Aquilo NUNCA funcionaria no mundo real! Mas… É um filme! Dentro do filme, ficou bem legal.

Por outro lado, a cena que mostra como funcionam os arranjos musicais dentro da cabeça do produtor ficou sensacional. Ver os instrumentos criando vida própria e entrando na música foi uma ideia excelente!

O elenco é outro dos destaques. Keira Knightley e Mark Ruffalo mostram boa química e estão muito à vontade nos seus papeis. Adam Levine, vocalista do Maroon 5, está perfeito como o projeto de estrela pop – não sei se o cantor é igual ao personagem, ou se ele é um bom ator. Também no elenco, Hailee Steinfeld, Catherine Keener, James Corden, Ceelo Green e Mos Def, creditado como Yasiin Bey.

Não gostei muito do fim do filme – além de não ter explicado o que aconteceu com a protagonista, ainda teve uma certa semelhança com o fim de Apenas Uma Vez. Mais não conto por causa de spoilers… Mesmo assim, Mesmo Se Nada Der Certo ainda foi uma agradável surpresa.

Homens, Mulheres e Filhos

0-Homens Mulheres e FilhosCrítica – Homens, Mulheres e Filhos

Um grupo de adolescentes do ensino médio e seus pais tentam lidar com as mudanças sociais que a internet impôs a seus relacionamentos, sua comunicação, autoimagem e vidas amorosas. Um olhar sobre a anorexia, a infidelidade, a busca pela fama e a proliferação de material não autorizado na internet, revelando que ninguém está imune às armadilhas criadas por nossos smartphones, tablets e computadores.

Baseado no livro homônimo de Chad Kultgen, o novo filme de Jason Reitman (Juno, Amor Sem Escalas), Homens, Mulheres e Filhos (Men, Women & Children, no original) é um bom retrato das relações interpessoais através do uso da internet na sociedade atual.

Às vezes Homens, Mulheres e Filhos parece um Picardias Estudantis contemporâneo – assim como o filme de 1982, Homens, Mulheres e Filhos parece uma comédia, mas na verdade é um drama que mostra um retrato de uma sociedade e seus personagens comuns, e como eles se relacionam entre si. Inclusive, alguns temas aparecem nos dois filmes, como o garoto com postura de pegador mas com problemas sexuais ou a menina que tem uma experiência frustrante com a primeira vez (e acaba engravidando sem querer).

A grande diferença, além das três décadas que separam os filmes (e de toda a tecnologia conectada à internet), é que Homens, Mulheres e Filhos também mostra o lado dos pais, ignorados no filme dos anos 80.

A narrativa de Homens, Mulheres e Filhos vai seguindo estes personagens (não temos um personagem principal) em seus dramas pessoais, e Reitman consegue envolver a audiência, consegue trazer o espectador para dentro daquele mundo.

O elenco está muito bem. Adam Sandler surpreende em uma atuação contida, bem diferente do seu caricato habitual. Jennifer Garner é outro destaque, fazendo a mãe paranoica – que nos ensina “o que não fazer”. Ainda no elenco dos adultos, Judy Greer, Rosemarie DeWitt, Dean Norris, Dennis Haysbert, J.K. Simmons e a voz de Emma Thompson como narradora. No elenco “jovem”, acho que o único conhecido é Ansel Elgort, de A Culpa é das Estrelas. Será que em breve ouviremos falar mais de nomes como Olivia Crocicchia, Elena Kampouris e Kaitlyn Dever? (Lembrem-se que Picardias Estudantis tinha, entre outros, Forest Whitaker num papel pequeno e Nicolas Cage numa ponta, sem falas…)

Por fim, preciso falar que gostei muito dos efeitos especiais usados para demonstrar o mundo virtual paralelo ao mundo real. Realmente criativos, os efeitos serviram pra ilustrar como o mundo atual funciona.

Bem Vindo Aos 40

0-BemVindoAos40Crítica – Bem Vindo Aos 40

Filme novo do Judd Appatow.

Pete e Debbie estão prestes a completar 40 anos, e enfrentam várias crises: suas filhas se odeiam, seus negócios estão à beira da falência, eles estão quase perdendo a sua casa, e sua relação está aos pedaços.

Reconheço qualidade na obra de Judd Apatow, mas admito que não sou muito fã do seu estilo de “dramédia” – seus filmes nunca são muito engraçados. Além disso, seu humor muitas vezes apela para a escatologia, não gosto muito disso.

Novo projeto de Apatow, Bem Vindo Aos 40 (This is 40, no original) é uma “continuação” (assim mesmo, entre aspas) de Ligeiramente Grávidos – os personagens principais aqui, Pete e Debbie, eram coadjuvantes daquele filme.

O filme acerta em alguns dos problemas da “crise dos 40” – tenho 43 anos, já vivi algumas daquelas situações. Mas, por outro lado, a narrativa é inchada com vários personagens inúteis. Por exemplo, a Megan Fox só está no filme para vermos uma gostosona na tela – não estou reclamando disso, mas temos que reconhecer que sua personagem não tem nenhuma importância na trama. Resultado: o filme é longo (e chato) demais – são 134 min!

Além do excesso de personagens desnecessários, a trama insiste em alguns temas que não interessam ninguém, como a sub-trama do cantor Graham Parker (que deve ser um amigo do diretor, é a única explicação para um cara desconhecido ganhar tanto destaque). Outra coisa: os personagens tentam vender uma ideia de que o fim de Lost foi bom – e todo mundo sabe que foi um dos piores fins de série de todos os tempos.

De ponto positivo, podemos citar o casal protagonista – Leslie Mann e Paul Rudd são bons atores e têm boa química juntos. O resto do elenco tem vários bons nomes, mas quase todos estão mal aproveitados em sub-tramas bobas: John Lithgow, Albert Brooks, Jason Segel, Megan Fox, Chris O’Dowd, Melissa McCarthy, e as meninas Maude e Iris Apatow, filhas do casal Judd Apatow e Leslie Mann.

Resumindo: se Bem Vindo Aos 40 tivesse uma hora a menos, seria um filme melhor. Do jeito que ficou, só os fãs de Apatow vão gostar.

p.s.: Parece que a nudez de Leslie Mann é fake…

Boyhood – Da Infância à Juventude

boyhoodCrítica – Boyhood – Da Infância à Juventude

Que tal um filme cujas filmagens demoraram 12 anos?

Boyhood é simples: conta a história de Mason, desde os 5 anos até os 18 anos de idade.

Boyhood – Da Infância à Juventude vai entrar pra história, acho difícil outro diretor repetir tal feito: foram apenas 45 dias de filmagem, mas espalhados ao longo de 12 anos – 3 ou 4 dias por ano! Nunca antes na história do cinema acompanhamos o desenvolvimento de um personagem de maneira tão perfeita!

Claro, existe todo um marketing em torno disso – “o filme que demorou 12 anos para ser completado”. Mas, se não fosse o talento de Richard Linklater (Escola de Rock), Boyhood não chamaria a atenção. Seria apenas um filme experimental, que poucos cinéfilos iam conhecer. Nada disso, Linklater nos apresenta um dos melhores filmes do ano.

Na verdade, não há muita história a ser contada. Linklater sabe fazer filmes simples, baseados em pessoas e em diálogos – vide a trilogia Antes do Amanhecer, Antes do Por do Sol e Antes da Meia Noite, onde apenas acompanhamos Ethan Hawke e Julie Delpy, muitas vezes em diálogos improvisados na hora.

Linklater, também autor do roteiro, deve ter usado um esquema parecido aqui. Não vemos grandes eventos da vida de Mason, e sim situações do cotidiano. Pontuando aqui e ali, temos músicas de cada época e citações à cultura pop, como Harry Potter e Lady Gaga. Simples, não? E apenas isso, filmado com talento, ficou ótimo!

Claro, o filme não é perfeito. São quase três horas, e não precisava de tanto…

Sobre o elenco, Richard Linklater deu sorte com o ator Ellar Coltrane, o protagonista, que se revelou um bom ator. Pena que Lorelei Linklater (a filha do diretor) não é tão talentosa, em algumas cenas ela deixa a desejar (inclusive a menina chegou a desistir do projeto lá pelo terceiro ou quarto ano de filmnagem, e pediu para seu pai matar o seu personagem – mas Linklater a convenceu a ficar). Completam a família Patricia Arquette, e, claro, Ethan Hawke (acho que este é a sexta parceria entre o ator e o diretor).

Por fim, um fato curioso. Lá pelo meio do filme, numa cena filmada em 2008, Mason e seu pai conversam sobre um possível Star Wars 7. E eles acertaram: ano que vem teremos o sétimo Star Wars!

p.s.: Com Boyhood, encerro minha participação no Festival do Rio 2014. Por problemas pessoais, vi pouca coisa, apenas 11 filmes… Ano que vem compenso!

Primavera / Spring

spring-posterCrítica – Primavera / Spring

Depois que sua mãe morre, um jovem de vinte e poucos anos decide realizar o sonho de fazer uma viagem pela Europa com destino incerto. Chegando à Itália, descobre uma pequena cidade no sul do país onde conhece uma linda habitante local. Os dois iniciam um romance delicado que é ameaçado por um sinistro e avassalador segredo dela.

Dirigido pela dupla Justin Benson e Aaron Moorhead, Primavera (Spring, no original) traz um novo conceito de “monstro” – mas não vou entrar em detalhes pra não dar spoilers. Só digo que é um conceito interessante, apesar de me parecer meio furado (Ela usa injeções para controlar, mas como fazia antes de inventarem a seringa? E como ela aprendeu sobre as células tronco no passado?). Mesmo assim, gostei da nova criatura.

Mas o problema é que o filme parece que quer focar mais no relacionamento amoroso do casal do que na criatura fantástica. Aí, em vez de filme de terror, Spring vira um romance ensolarado, aproveitando belas paisagens italianas… Nada contra, mas, poxa, heu preferia ver mais a criatura e menos “DR” turística. Parecia um filme do Richard Linklater, uma espécie de “Before the Twilight Zone”…

O casal principal (Lou Taylor Pucci e Nadia Hilker) está ok, e os efeitos especiais são discretos e funcionam bem. Pena que tudo é muito lento, pouca coisa acontece ao longo do filme.

Por fim, um comentário parecido com o de Deus Local: mais uma vez a música brasileira atrapalha o clima. Sempre que leio o título brasileiro, começo a ouvir, na minha cabeça, os versos da música do Cassiano – “É primavera / Te amo / É primavera…”

O Dia Seguinte (1983)

O Dia SeguinteCrítica – O Dia Seguinte

Há muito tempo heu queria rever O Dia Seguinte, só tinha visto uma vez, no cinema, lá nos anos 80. Aproveitei o podcast de filmes catástrofe e catei o dvd.

Anos 1980, auge da guerra fria. Em meio à vida cotidiana e normal, são apresentados ao espectador os fatos que culminam na tão temida guerra nuclear, que acontece depois de uma crise diplomática que se agrava entre os EUA e a URSS após esta ter invadido a parte ocidental de Berlim, Alemanha.

Hoje, em 2014, é difícil de se visualizar o tamanho do impacto que O Dia Seguinte teve na época do lançamento. O mundo vivia o auge da guerra fria – que tinha, de um lado, os EUA com várias armas nucleares apontadas para a URSS, e, do outro, a URSS com o mesmo potencial bélico apontado para os EUA. A gente sabia que se um dos lados “apertasse o botão”, ia ser lançada uma quantidade de bombas suficientes para detonar várias vezes todo o planeta.

O Dia Seguinte (The Day After, no original) foi dirigido por Nicholas Meyer, que foi um nome importante no universo trekker. Um ano antes Meyer dirigira aquele que é considerado por trekkers o melhor dos filmes de Star Trek, o Star Trek 2 – A Ira de Khan; depois, Meyer também escreveria o roteiro de Star Trek IV e dirigiria Star Trek VI. Mas aqui ele ficou só no drama, o filme, apesar dos efeitos especiais, é um drama, não tem nada de ficção científica.

Com pouco mais de duas horas de duração, o ritmo do filme não é bom, principalmente na primeira parte. Somos apresentados aos personagens, enquanto ouvimos trechos de noticiários que falam da tensão entre os países e a iminente guerra. E tudo é muito arrastado, são 45 minutos intermináveis!

Sobre o momento chave, a parte das explosões atômicas: alguns efeitos especiais “perderam a validade”, mas no geral, o filme continua impactante. E a terceira parte do filme, com o que acontece nos meses depois das bombas (e não apenas no “dia seguinte”, como sugerido pelo título), continua desoladora e pessimista. No fim do filme, lemos uma mensagem que um ataque nuclear provavelmente seria ainda pior do que o que foi mostrado no filme.

O Dia Seguinte foi originalmente uma produção para a tv, feita pelo estúdio ABC. Mas aqui no Brasil, foi lançado nos cinemas. Me lembro perfeitamente de sair do cinema Petrópolis e estranhar que o mundo ainda estava inteiro lá fora, ainda estava de dia, ainda tinham árvores nas ruas… Sim, o filme foi muito impactante na época!

Paixão Inocente

breathe_inCrítica – Paixão Inocente

Uma estudante de intercâmbio vai para uma cidade no subúrbio de Nova York e acaba mudando a dinâmica dos relacionamentos da família que a acolhe.

Sabe quando um filme é “correto”, mas está longe de ser bom? Co-escrito e dirigido por Drake Doremus, Paixão Inocente (Breathe In, no original) é assim. A história é simples e previsível (quem não previu o acidente de carro?). A gente já viu esse enredo um monte de vezes…

O elenco também está apenas ok. Guy Pearce é um bom ator, mas o papel não ajuda. Felicity Jones é bonitinha, mas seu papel é bobinho. Completam a família Amy Ryan e Mackenzie Davis. E ainda rola uma participação especial não creditada de Kyle MacLachlan em uma cena.

Se salva a parte musical. A cena que Sophie toca piano é a única cena do filme que me surpreendeu. Mas surpreendeu apenas pela técnica da atriz (ou dublê), porque todo mundo já sabia que a personagem ia revelar que tocava piano.

Enfim, quem for pouco exigente pode gostar. Mas quem quiser algo com mais “substância” pode procurar outra coisa.

 

A Vida Secreta de Walter Mitty

walter mittyCrítica – A Vida Secreta de Walter Mitty

Filme novo dirigido pelo Ben Stiller. Seu último foi o bom Trovão Tropical, será que ele manteve o nível?

Walter Mitty é um sonhador, que vive perdido em aventuras dentro da sua cabeça, sempre cheias de ação, heroísmo e romantismo. Quando seu emprego está ameaçado, ele acaba embarcando em uma viagem real por paisagens exóticas que se revelará mais extraordinária do que os seus sonhos.

Dirigido e estrelado por Ben Stiller, A Vida Secreta de Walter Mitty (The Secret Life of Walter Mitty, no original) começa muito bem. Mas infelizmente não segura a onda.

A melhor coisa de Walter Mitty são as viagens internas do protagonista, que só acontecem no início do filme. Quando ele parte para a viagem real, o filme muda de tom – em vez da divertida farsa, o filme fica com cara de livro de auto-ajuda.

A segunda parte não é ruim, visitamos belas locações na Islândia (Walter Mitty também vai para a Groenlândia e o Afeganistão, mas tudo foi filmado na Islândia), e temos um bom uso da trilha sonora (gostei do “momento Space Oddity”, usando a música do David Bowie, parcialmente cantada pela Kristen Wiig). Mas é bem menos interessante do que a primeira parte.

A parte final força um pouco a barra, dificilmente o carinha da barba ia usar aquela foto na primeira página. Mas isso é a minha opinião.

O elenco está bem. Ben Stiller não é um grande ator, mas funciona perfeitamente para o que o papel pede. Kristen Wiig mais uma vez mostra que deveria ganhar papeis de destaque nas comédias contemporâneas (assim como tínhamos visto em Paul). Sean Penn pouco aparece, e está ótimo como o excêntrico fotógrafo Sean O’Connel. Ainda no elenco, Shirley MacLaine e Adam Scott

Stiller não pode não ter feito um filme tão bom quanto Trovão Tropical, mas este A Vida Secreta de Walter Mittyh vai agradar boa parte do público.

 

Crítica – 12 Anos de Escravidão

12_anos_de_escravidaoCrítica – 12 Anos de Escravidão

Um pouco atrasado, vi o ganhador do Oscar de melhor filme de 2014.

EUA pré Guerra Civil. Solomon Northup, um negro livre, morador de Nova York, é sequestrado, levado para o sul e vendido como escravo.

12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave, no original), é tudo aquilo que parece ser. Um excelente elenco em um filme apenas correto, e com uma história previsível, filmada de modo tão lento que beira o tédio. E, pra piorar, o título do filme já entrega um grande spoiler: já sabemos que ele será escravo por um bom período de tempo.

Muita gente incensou este filme porque ele se baseia numa história real, e realmente é uma história forte – um cara livre forçado a viver como escravo. Mas o desenvolvimento ficou tão didático que parece que o filme será adotado em escolas… Isso sem falar no “maniqueísmo de botequim”, onde querem que o homem branco se sinta culpado por erros históricos que nada têm a ver com ele.

Acho que uma das coisas que atrapalhou foi o azar de vir pouco depois do Django Livre do Quentin Tarantino, filme que também aborda o tema da escravatura, mas sob outro ângulo, mais ácido e irônico. Steve McQueen (o diretor contemporâneo, não o ator famoso nos anos 70) não é Tarantino, em todas as fotos de divulgação ele passa a impressão de ser um cara sisudo. Um sujeito sério, falando sobre um assunto sério. E parece que McQueen filmou tudo com o objetivo de ganhar prêmios, tudo é muito contemplativo, um monte de câmera parada filmando o nada, pro espectador “pensar”. Objetivo alcançado, levou o Oscar de melhor filme. Pena que o resultado, enquanto cinema, ficou devendo.

Apesar dos defeitos, 12 Anos de Escravidão não chega a ser ruim. Além de uma fotografia caprichada e um ou outro plano-sequência aqui e acolá, o filme tem um elenco inspirado. Michael Fassbender, em sua terceira contribuição com o diretor, mostra (mais uma vez) que é um dos maiores atores do cinema contemporâneo. Chiwetel Ejiofor também está muito bem, passa segurança no papel principal. Curiosamente, a única pessoa do elenco que ganhou o Oscar foi a Lupita Nyong’o, que não está mal mas tem um papel apenas burocrático. Ainda no bom elenco, Paul Giamati, Benedict Cumberbatch, Paul Dano, Sarah Paulson, Alfre Woodard, Garret Dilahunt e uma ponta de Brad Pitt, também produtor (ganhou seu primeiro Oscar este ano por isso!).

Pena que, no fim do filme, em vez de uma reflexão sobre a escravatura, a mensagem que fica é “por que Solomon esperou 12 anos para falar com alguém sobre o seu problema?”

Tudo Por Justiça

0-Tudo-Por-JustiçaCrítica – Tudo Por Justiça

Dá uma sacada no elenco desse filme: Christian Bale, Zoe Saldana, Forest Whitaker, Woody Harrelson, Willem Dafoe e Casey Affleck. Nada mal, hein?

Quando Rodney Baze misteriosamente desaparece e a lei se mostra incompetente, Russell, seu irmão mais velho, resolve procurar justiça com as próprias mãos.

Trata-se do segundo filme de Scott Cooper, que, quatro anos antes, com seu filme de estreia, Coração Louco, deu o Oscar a Jeff Bridges. Tudo Por Justiça (Out Of The Furnace, no original) tem um elenco excelente e inspirado, mas tem dois problemas básicos: previsibilidade e falta de ritmo.

Vamos ao que funciona: o elenco está quase todo muito bem. Disse quase todo, porque Zoe Saldana tem muito pouco tempo de tela, e o personagem de Forest Whitaker parece perdido – não me pareceu culpa do ator, e sim da (falta de) construção do personagem (tire Whitaker e coloque um extra qualquer, não muda nada na trama). Por outro lado Bale, Affleck, Dafoe e, principalmente, Harrelson, estão muito bem. O filme não fica cansativo, apesar de longo, por causa das inspiradas atuações.

A violência física também está muito bem retratada. Tudo Por Justiça é um filme muito violento, os golpes soam secos e parecem doer mais do que os socos estilizados que estamos acostumados a ver.

Mas… O roteiro é tão previsível… Só de ler a sinopse e ver 10 minutos de filme, a gente já adivinha todo o caminho até a cena final. E o ritmo lento e arrastado não ajuda.

Enfim, os fãs do Christian Bale vão curtir, mais uma vez ele mostra que é muito mais do que “o Batman”. Mas ele já fez coisa melhor.