Os Miseráveis

Crítica – Os Miseráveis

Na França do século 19, Jean Valjean, ex prisioneiro, perseguido pelo policial Javert depois que quebrou a condicional, concorda em cuidar de Cosette, filha de sua funcionária Fantine. Esta decisão mudará sua vida para sempre.

Filme novo de Tom Hooper, elevado ao primeiro escalão pelos Oscars de O Discurso do Rei – bom filme, mas supervalorizado, não merecia as estatuetas de melhor filme e melhor diretor. Agora Hooper encarou o desafio de fazer mais uma versão do livro de Victor Hugo – são inúmeras versões por aí, acho que a mais recente para o cinema foi em 1998, dirigida por Billie August e com Liam Neeson, Geoffrey Rush, Uma Thurman e Claire Danes no elenco. Só que Hooper trouxe para os cinemas a versão musical, que funciona bem na Broadway, mas não necessariamente vai funcionar no cinema.

Este Os Miseráveis tem um problema básico: é um filme chato. São duas horas e trinta e oito minutos de música quase ininterrupta, fica cansativo demais. A parte musical aqui é diferente dos musicais convencionais, onde canções são cantadas ao longo de cenas onde acontecem diálogos. Aqui é quase tudo cantado, até quando não precisa, o ator emposta a voz e estica as sílabas, deixaaando tuuudo assiiim. Sei lá, na minha humilde opinião, acho que seria melhor ficarmos só com as canções e deixar estes diálogos falados.

Tem outro problema, pelo menos pra quem não conhece a história: tudo acontece meio sem explicação. Jean Valjean está foragido, sem dinheiro e sem documentos, e na cena seguinte, depois de um intertítulo “8 anos depois”, não só ele já é um próspero empresário, como também é o prefeito da cidade! Outro exemplo: Cosette e Marius se encontram uma única vez, por alguns minutos, mas é uma paixão tão avassaladora que os dois viram apaixonados para sempre. Bem, até aí, tudo bem, a gente já viu exageros semelhantes em outras histórias. A diferença aqui é que a paixão é tão hardcore que o pai da menina entra na guerra para proteger o garoto – sem contar pra ele quem é sua filha!

A parte musical tem outra peculiaridade, mas esta foi uma ideia interessante. Normalmente, as músicas são gravadas antes, e os atores dublam na hora de filmar. Aqui, os atores usavam pontos nos ouvidos, e a voz foi captada na hora. Se por um lado temos algumas pequenas imperfeições nas músicas, por outro lado isso ajudou a interpretação.

Apesar dos pontos negativos, Os Miseráveis tem seus bons momentos, como a cena onde Jean Valjean e Cosette fogem, e vemos quase todo o elenco cantando juntos, mas em lugares diferentes. E o “momento solo” de Fantine é belíssimo, se a Anne Hathaway ganhar o Oscar de melhor atriz coadjuvante no próximo domingo, podemos dizer que está cena ajudou muito.

O elenco está muito bem. Além de Hathaway, Hugh Jackman também concorre ao Oscar (mas não deve ganhar, dificilmente alguém tira a estatueta de Daniel Day-Lewis e seu perfeito Abraham Lincoln). Li críticas negativas relativas ao Russell Crowe, mas não achei ele ruim. Não gostei da voz de Amanda Seyfried, achei aguda demais; gostei da voz da desconhecida Samantha Barks (a Eponine adulta). E Sacha Baron Cohen e Helena Bonham-Carter estão mais uma vez juntos num musical fora dos padrões convencionais (eles fizeram Sweeney Todd), desta vez como o alívio cômico.

Enfim, mesmo com suas qualidades, ainda acho que Os Miseráveis não é pra qualquer público. Muitos vão achar cansativo. E alguns vão dormir…

O Lado Bom da Vida

Crítica – O Lado Bom da Vida

Depois de passar um tempo em um hospital para doentes mentais, o ex-professor Pat Solitano volta a morar com os pais enquanto tenta se reaproximar da ex-mulher. Mas as coisas ficam mais desafiadoras quando ele conhece Tiffany, uma misteriosa garota que também tem seus problemas.

O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook, no original) lembra muito O Vencedor, filme anterior do mesmo diretor David O. Russell. Um filme simples que conta uma história simples. Simples, mas com excelentes atuações do elenco. Jennifer Lawrence e Bradley Cooper valem o ingresso. Quem diria que os protagonistas de Jogos Vorazes e Se Beber Não Case seriam fortes candidatos ao Oscar de 2013?

Sem as atuações inspiradas, acho que O Lado Bom da Vida ia passar desapercebido. A história nem é ruim, mas é bem bobinha. A estrutura parece a de uma comédia romântica, e o filme é tão previsível quanto uma. E, pra piorar, o filme é mais longo do que deveria. Precisava de mais de duas horas?

A previsibilidade não é o único problema do roteiro, também escrito por O. Russell. Alguns personagens são muito mal construídos. Jennifer Lawrence arrebenta, mas sua Tiffany é inconsistente: é apresentada como uma mulher problemática, mas logo que começa a dançar parece que não tem mais nenhum problema. E o que podemos dizer do médico, que, do nada, vira amigo íntimo da família?

Um defeito que existia em O Vencedor se repete aqui: idade dos atores vs idade dos personagens. Se no filme anterior Christian Bale interpretava o irmão nove anos velho de Mark Wahlberg; aqui pegaram uma jovem de apenas 23 anos para fazer uma viúva. Nada contra, Jennifer está ótima, mas… Por que não uma atriz de trinta anos? Inclusive, ia ser um par mais coerente para o quase quarentão Bradley Cooper.

Mesmo assim, como disse antes, o elenco salva o filme. Jennifer Lawrence e Bradley Cooper estão excelentes com seus personagens desequilibrados. Robert De Niro também está muito bem, talvez este seja seu melhor papel em um bom tempo. Ainda no elenco, Jacki Weaver, Julia Stiles e o sumido Chris Tucker (que, nos últimos 15 anos, só fez os 3 filmes da franquia A Hora do Rush). Além disso, alguns momentos são muito bons – gostei muito do concurso de dança.

O Lado Bom da Vida está concorrendo a oito Oscars: filme, diretor, roteiro adaptado, ator, atriz, ator coadjuvante (Robert De Niro), atriz coadjuvante (Jacki Weaver) e edição. Não achei que Jacki Weaver merecia indicação ao Oscar, tudo o que ela faz é ficar de olhos arregalados o tempo todo. Mas, enfim, acho que só Jennifer tem chances, o resto deve ficar feliz com a indicação.

O Vôo / The Flight

Crítica – O Vôo / Flight

Um habilidoso piloto faz uma manobra arriscada, mas consegue para salvar um avião que estava caindo, salvando a vida de quase todos os passageiros e tripulantes. O problema é que ele estava sob efeito de álcool e drogas, o que faz com que ele vire alvo de uma investigação.

O melhor de O Vôo / Flight é o seu ator principal. Denzel Washington mais uma vez prova que é um dos melhores atores da atualidade – ele está concorrendo ao Oscar mês que vem por este filme. Seu papel é difícil, seu Whip Whitaker é um anti-heroi alcoólatra, daqueles que a gente torce ao mesmo tempo contra e a favor. E Denzel não está sozinho, todo elenco está muito bem. John Goodman pouco aparece, mas consegue roubar todas as suas cenas como uma espécie de mistura de melhor amigo com traficante. Ainda no elenco, Kelly Reilly, Don Cheadle, Melissa Leo e Nicole Velasquez.

Achei estranho que este filme seja dirigido pelo Robert Zemeckis, o mesmo cara que fez Forrest Gump, Roger Rabbit e a trilogia De Volta Para o Futuro. Digo mais: de um tempo pra cá, Zemeckis só fazia animações com captura de movimento (Expresso Polar, Beowulf, Os Fantasmas de Scrooge). Mas, mesmo em um estilo diferente, Zemeckis mostra boa mão. E tem uma vantagem do filme ser dirigido por um cara acostumado com efeitos especiais de ponta. A cena do acidente do avião é sensacional!

Só que abrir o filme com a sequência do acidente causou um problema. O filme tem um ritmo excelente até a queda do avião – desde Whip acordando e indo para o serviço, passando pela decolagem complicada e culminando na aterrissagem de emergência. Mas aí o ritmo cai, e o filme parece arrastado.

Uma coisa atrapalha: a longa duração. Precisava ter duas horas e dezoito minutos? Isso fica nítido em algumas cenas, como por exemplo a entediante cena na escada do hospital…

Mesmo com a longa duração, O Vôo / Flight ainda vale ser visto. Nem que seja pelo Denzel!

p.s.: O imdb ainda não tem título em português para este filme, por isso estou citando também pelo nome original – “O Vôo / The Filght”.

A Viagem

Crítica – A Viagem

E vamos a mais um filme polêmico!

Seis histórias, de estilos diferentes, passadas em épocas diferentes e vividas por personagens diferentes, abordando diferentes lutas vividas pelos personagens: racismo, homofobia, energia “suja”, maus tratos a idosos, capitalismo e religião.

A Viagem (Cloud Atlas, no original) é um novo projeto ambicioso que vai dar o que falar. Já prevejo que vai ter gente discutindo: de um lado, pessoas que não gostaram, criticando o filme; do outro, fãs do filme, dizendo que quem não gostou “não entendeu”. Alguém se lembra de outras polêmicas recentes como A Árvore da Vida ou Melancolia? Será que alguém pode ter entendido, e mesmo assim não gostado?

Trata-se do novo filme dos irmãos Wachowski (Matrix) em parceria com Tom Tykwer (Corra Lola Corra), um projeto ambicioso, que conta seis histórias ao mesmo tempo. Baseado no livro de David Mitchell, considerado “infilmável”. Bem, não li o livro, mas pelo filme, realmente, parece “infilmável”.

A chance de dar errado era muito grande. Lembro de rumores na época da produção do filme que falavam que os irmãos Andy e Lana Wachowski não se comunicavam com Tykwer, o outro diretor. Uma trama complexa, com seis histórias diferentes, e sem entrosamento entre os realizadores – acho que já tinha gente dando como certo o naufrágio do projeto antes mesmo da estreia.

Bem, não achei o filme tão ruim assim. Está longe de ser bom, mas algo se salva…

Na minha humilde opinião, o problema básico de A Viagem é o ritmo. Não dá pra manter o ritmo quando se mistura seis histórias diferentes em um filme de quase três horas de duração. Aí, o filme, que já é confuso, fica cansativo.

Não sei se teria outro modo de se fazer o filme sem misturar as seis histórias – existem ligações entre elas. Mas talvez se a gente ficasse um pouco mais em cada uma delas o resultado final não fosse tão cansativo – a cada cena, muda a história, às vezes muda antes de acabar a cena! São poucos segundos em cada trama antes de pularmos para a próxima, onde ficaremos por breves instantes. O espectador não tem tempo pra respirar, a mudança entre as histórias é frenética.

E aí vem outro problema: a duração. São duas horas e cinquenta e dois minutos de filme. Não dá pra segurar este ritmo de mudanças de trama por meia hora, o que dirá durante quase 3 horas!

Aí, as virtudes do filme ficam apagadas. A Viagem tem uma boa trilha sonora e uma bela fotografia. Mas quase não dá pra aproveitar…

Sobre o elenco, é complicado falar. São grandes atores, não há dúvidas. Mas acho que eles ficaram perdidos, e as atuações ficaram devendo. Assim, um excelente elenco é desperdiçado: Tom Hanks, Halle Berry, Susan Sarandon, Hugo Weaving, Hugh Grant, Jim Broadbent, Jim Sturgess, Doona Bae, Ben Whishaw, Keith David, Xun Zhou, James D´Arcy – nada se aproveita.

A maquiagem segue o problema do elenco. Como são os mesmos atores em papeis diferentes, rola muita maquiagem pra diferenciar os personagens. Algumas até funcionaram, mas a maioria ficou caricata.

No fim, fica uma sensação de boa ideia desperdiçada. No lugar de um filme épico, ficamos com um filme pretensioso e mal realizado. Parece que queriam fazer um novo 2001, mas, do jeito que ficou, A Viagem acaba lembrando A Reconquista

A Vida de David Gale

Crítica – A Vida de David Gale

David Gale é um brilhante professor universitário e ativista contra a pena de morte. Ironicamente, é condenado à pena de morte quando sua amiga e colega de trabalho é assassinada. Às vésperas de sua morte, David pede a presença de uma repórter para que ele lhe conceda uma entrevista exclusiva, onde finalmente contaria toda a verdade sobre o caso.

Só tinha visto este A Vida de David Gale (The Life of David Gale, no original) na época do lançamento em vhs, quase dez anos atrás. Não é um filme “essencial”, mas é um thriller bem escrito e que rende duas horas de diversão honesta.

Uma das melhores coisas de A Vida de David Gale é o roteiro, que traz uma reviravolta bem interessante no final do filme. Apesar disso, o filme, lançado em 2003, é meio desconhecido hoje em dia.

O diretor Alan Parker tem uma carreira eclética e repleta de bons filmes, que vão do terror (Coração Satânico) aos musicais (Pink Floyd The Wall, The Commitments), passando pelo drama (Expresso da Meia Noite, Asas da Liberdade). Cuirosamente, este é seu último filme até agora – Parker aparentemente está aposentado.

No elenco, Kevin Spacey está muito bem no papel-título, e consegue manter até o fim do filme a dúvida sobre a moral do seu personagem. E ele está bem acompanhado das sempre eficientes Kate Winslet e Laura Linney. Ainda no elenco, Rhona Mitra, Gabriel Mann e Matt Craven.

 

As Aventuras de Pi

Crítica – As Aventuras de Pi

Filme novo do Ang Lee, com cara de Oscar!

Pi Patel é filho do dono de um zoológico na Índia. Quando a família resolve se mudar para o Canadá, o cargueiro onde todos viajam acaba naufragando. Pi consegue sobreviver em um bote salva-vidas, mas precisa dividir o pouco espaço disponível com uma zebra, um orangotango, uma hiena e um tigre de bengala chamado Richard Parker. Baseado no best seller de Yann Martel.

Tem uma coisa que gostei muito em A História de Pi: o cartaz nos leva a acreditar em uma história “mágica” onde o garoto será um “amigo” do tigre dentro do barco. Nada disso: o tigre é selvagem e assim continua mesmo depois de se ver sozinho no barco. Pi tem que sobreviver ao naufrágio e ao tigre!

O ritmo do filme é um pouco lento, acho que não precisava ter mais de duas horas. Mesmo assim, não achei cansativo. E gostei da revelação da metáfora no final.

As Aventuras de Pi tem um belíssimo visual. Tanto a parte dos bichos quanto (principalmente) as cenas no mar são fantásticas. O naufrágio é impressionante, e a cena da baleia é belíssima.

Os efeitos especiais são top de linha. Li no imdb que Suraj Sharma, que interpreta Pi no barco, não interagiu nem com o mar nem com o tigre. As cenas foram todas filmadas com ele sozinho no barco, dentro de uma piscina. O mar e o tigre são cgi. Impressionante, não?

(Ah, tem o 3D. É bem feito, e tal, mas cansei de 3D, acho que não precisava disso…)

No elenco, só um nome famoso, Gerard Depardieu, num papel minúsculo. Os menos conhecidos Irfan Khan (O Espetacular Homem Aranha) e Rafe Spall (Prometheus) estão bem como os narradores da história. Mas o destaque sem dúvida é Suraj Sharma, que passa a maior parte do filme sozinho no barco.

Estreia esta semana, e já está concorrendo a três Globos de Ouro…

O Homem da Máfia

Crítica – O Homem da Máfia

Sábado à noite fui com a garotinha ruiva ao shopping, a ideia era vermos Argo – heu já tinha visto, mas ela não. Argo estava lotado, mas tinha ingresso para este O Homem da Máfia, filme com Brad Pitt, Ray Liotta, Richard Jenkins e James Gandolfini. Com um elenco desses, não deve ser ruim, né? Ledo engano…

Baseado no livro homônimo de George Higgins, O Homem da Máfia (Killing Them Softly, no original) acompanha um matador profissional contratado para investigar um assalto a um jogo de pôquer clandestino em Nova Orleans.

O problema aqui é simples: falta história. O filme dá voltas, enche linguiça com um vários personagens contando um monte de “causos” desnecessários e desinteressantes, e nada acontece.

Pra piorar, o filme fica o tempo todo mostrando noticiários políticos sobre a eleição dos EUA de 2008, aquela que colocou o Obama no poder. É um saco, toda cena tem que ter uma TV ou rádio ligados com um falatório que não significa nada para nós brasileiros.

(No fórum do imdb, um mané chama de tolos aqueles que não entenderam que O Homem da Máfia é uma “alegoria política”. Tolo é quem acha que isso interessa a alguém de fora dos EUA…)

E assim o filme segue, sem levar nada a lugar algum. Vi algumas pessoas saindo do cinema, e desta vez não foi por causa de alguma cena ofensiva (como acontece com alguns filmes polêmicos) – foi porque o filme é chato mesmo.

Não vi O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford, o filme mais conhecido do diretor e roteirista Andrew Dominik. Mas parece que ele ganhou algum prestígio com o filme, é a única explicação para tantos bons atores se envolverem em um filme tão mal escrito e mal editado como O Homem da Máfia.

O elenco nem está mal. Brad Pitt, Ray Liotta, Richard Jenkins e James Gandolfini, sempre bem, junto com os menos desconhecidos Scoot McNairy e Ben Mendelsohn. Se O Homem da Máfia tivesse história, eles até mereceriam elogios.

Pra não dizer que nada se salva, gostei muito da sequência do assassinato de um dos personagens: tiros em câmera lenta, depois um acidente de carro, também em câmera lenta. Belas imagens. Só não vale ver uma hora e meia de filme por uma cena de poucos minutos.

Dispensável…

Hick

Crítica – Hick

Filme novo da Chloe Moretz. Vamos ver qualé?

Logo após completar 13 anos, uma adolescente foge da casa dos pais bêbados e tenta ir para Las Vegas, mas encontra pessoas ao longo do caminhgo que a fazem repensar seus objetivos.

Não li nada sobre Hick antes, fui ver o filme apenas porque sou fã da Chloe Moretz (Kick-Ass, Deixe-me Entrar, Hugo Cabret, Sombras da Noite). Bem, ela não decepciona. Já o filme…

Dirigido pelo desconhecido Derick Martini, Hick não chega a ser ruim. Mas é mal desenvolvido. O roteiro cria situações desnecessárias, e alguns personagens são mal construídos e jogados na trama desordenadamente – por exemplo, me parece que Alec Baldwin só entrou no filme como uma espécie de “agradecimento”, já que Chloe Moretz fez uma participação na sua série 30 Rock

O que é curioso é saber que o roteiro foi escito pela mesma Andrea Portes, autora do livro no qual o filme foi baseado. Será que o livro tem os mesmos problemas do roteiro?

Se salvam as atuações. Chloe Moretz, que ainda tem 15 anos (tinha 14 na época do lançamento de Hick), até hoje não decepcionou. Além dela, o filme conta com Blake Lively, Juliette Lewis, Eddie Redmayne e Rory Culkin, além da já citada ponta de Alec Baldwin.

Enfim, não os fãs de Chloe Moretz vão gostar. Mas que Hick podia ser melhor, ah, isso podia.

Intocáveis

Crítica – Intocáveis

Intocáveis chega aqui com a responsabilidade de ser “uma das maiores bilheterias da história da França”. O que será a causa disso?

Tetraplégico por causa de um acidente, o aristocrata Philippe contrata o improvável e imprevisível Driss para cuidar dele.

Sobre a questão levantada no primeiro parágrafo: Intocáveis (Intoucheables no original em francês) é um filme simples, sem grandes produções ou efeitos especiais. Mas é um filme sensível e engraçado sobre uma fantástica relação de amizade.

Escrito e dirigido pela dupla Olivier Nakache e Eric Toledano, Intocáveis é baseado em uma história real. Os “personagens reais” aparecem no fim do filme.

Os dois personagens centrais de Intocáveis são muito bons. E os dois atores protagonistas estão excelentes. François Cluzet está ótimo como o aristocrata tetraplégico Philippe, e Omar Sy está ainda melhor como o malandro politicamente incorreto Driss. Sy está sensacional e não será surpresa se ganhar prêmios por sua interpretação.

(Falando em prêmios, vi no imdb que Intocáveis é o representante francês ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Nada mal para o país que ano passado levou a estatueta principal por O Artista…)

Aliás, Intocáveis está sendo vendido como um drama. Sei não, pra mim, trata-se de uma comédia politicamente incorreta de humor negro. E não estou sozinho, na minha sessão, a plateia dava gargalhadas durante toda a projeção.

Independente do gênero, o importante é que Intocáveis mostra que um filme não precisa ser uma super produção para ser um dos melhores filmes do ano. Basta uma boa história, bem contada e com bons atores.

Por fim, preciso falar que só não gostei de uma coisa: do título. Por que “Intocáveis”? Não vi nada na trama que me lembrasse algo assim. E o pior: acho que não fui o único que lembrei de Os Intocáveis do Brian de Palma, com Kevin Costner, Sean Connery e Robert De Niro…

Nós e Eu

Crítica – Nós e Eu

Filme novo do Michel Gondry!

No último dia de aula, um grupo de adolescentes, alunos de uma escola nova-iorquina do Bronx, sobem no ônibus para realizar o último trajeto juntos antes das férias de verão. Aos poucos o ônibus se esvazia e as relações lá dentro se transformam. Ao se tornarem mais íntimos, facetas ocultas da personalidade de cada um se revelam.

Michel Gondry é o autor do excepcional Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças, um dos melhores filmes dos últimos anos. Mas o problema de ter um filme desses no currículo é viver à sombra dele – quando Gondry fará algo do mesmo nível?

Em 2008, Gondry fez Rebobine Por Favor, um filme simpático, mas longe de ser genial. No mesmo ano, fez uma das três histórias de Tokyo!, um filminho na fronteira entre o simpático e o bobinho. E em 2011 dirigiu o fraco Besouro Verde, um dos piores filmes do ano. Será que agora Gondry está “de volta”?

Bem, Nós e Eu (The We And The I, no original) é muito melhor que Besouro Verde (porque ia ser difícil ser pior, né?). Mas segue um estilo completamente diferente!

Gondry deixa de lado o ar de fábula moderna que acompanha o seu filme mais famoso (também presente em Rebobine Por Favor) e faz um filme mais “pé no chão”, mostrando um grupo de adolescentes saindo da escola. Diferente dos outros filmes, Nós e Eu não tem nada de “mágico”.

O filme se passa quase todo dentro do ônibus, e em tempo real – o que acontece fora do ônibus é mostrado em flashbacks de personagens que estão dentro do ônibus. Mais: aparentemente, nenhum dos atores é profissional, os nomes dos personagens são os mesmos dos atores que os interpretam.

Com esse ar de “cinema verdade”, meio documentário, Gondry conseguiu montar um excelente microcosmo do universo adolescente de negros e latinos de Nova York. Tem de tudo dentro o ônibus: valentões, rejeitados, nerds, artistas, brigas, tentativas de namoro…

O roteiro (do próprio Gondry) é muito bem construído. A duração do filme é a mesma do trajeto do ônibus entre a escola e o último aluno a saltar. As cenas de fora do ônibus são inseridas nas doses certas. O ritmo do filme é bem interessante, o hip hop da trilha sonora ajudou a dar agilidade à narrativa.

Me lembrei de As Melhores Coisas Do Mundo, filme nacional que também usou atores amadores para fazer um retrato da nova geração. No filme nacional, tive dificuldade com o áudio, vários dos diálogos são incompreensíveis. Aqui não tive problemas, mesmo com alguns sotaques complicados, o som é bem melhor!

Nós e Eu não é um filme convencional, nem sei se vai ser lançado no circuito. Mas é um bom filme. Só não espere um novo Brilho Eterno.