Tomboy

Crítica – Tomboy

Laure é uma menina de dez anos que acabou de se mudar com a família para um novo condomínio. Ao sair para conhecer as crianças da vizinhança, ela se apresenta como Michael, e todos acreditam que ela é um menino.

O filme francês Tomboy passou há pouco nos cinemas, e foi muito elogiado pela crítica. Mas, sinceramente, não concordo com todos os elogios.

Escrito e dirigido por Céline Sciamma, Tomboy tem uma grande virtude: aborda um tema delicado sem ser panfletário. O assunto é polêmico, mas o filme não levanta nenhuma bandeira.

O trabalho da atriz mirim Zoé Héran é realmente muito bom, de longe a melhor coisa do filme. Ela passa uma naturalidade impressionante, e merece todos os elogios que a crítica fez – mesmo para um adulto, não deve ser fácil interpretar um papel de tamanha ambivalência sexual, e estamos falando de uma criança! O resto do elenco também está bem, mas nada que chame tanto a atenção quanto Zoé.

Mas tudo é tão leeento. Quase nada acontece – e olha que o filme é curtinho, menos de uma hora e vinte. Acho que Tomboy poderia ser um curta metragem, sem prejuízo para a narrativa…

(Me pareceu que Tomboy não tem trilha sonora, apenas uma música que a menina Lisa coloca no som. Isso ajudou a sensação de que muito pouco acontece durante a projeção.)

O resultado final decepciona. Um tema difícil, mostrado de uma maneira leve e sem levantar polêmicas, mas tão mal desenvolvido que acaba rápido demais, e deixa o espectador esperando por algo a mais.

Minha Vida Sem Mim

Crítica – Minha Vida Sem Mim

Com apenas 23 anos, mas já mãe de duas meninas, Ann descobre que está com câncer terminal e só tem mais dois meses de vida. Diferente do esperado, ela não conta para ninguém sua nova situação. Mas resolve criar uma lista de coisas para fazer antes de morrer.

A premissa parecia aquele filme Antes de Partir, onde Jack Nicholson e Morgan Freeman fazem uma lista de coisas para fazer antes de “chutar o balde” (o título original é The Bucket List). Mas não, a lista de Ann é muito mais modesta, e com coisas mais reais, como “dizer mais às minhas filhas que eu as amo”. E por isso mesmo, muito mais próxima do público comum.

Pelo elenco principal – Sarah Polley, Mark Ruffalo, Scott Speedman – a gente poderia achar que se trata de um filme americano. Nada disso, é uma co-produção entre Canadá e Espanha. E, realmente, Minha Vida Sem Mim (My Life Without Me, no original, lançado em 2003) tem cara de filme europeu. Afinal, foi escrito e dirigido pela pouco conhecida espanhola Isabel Coixet. E ainda tem a El Deseo, produtora dos irmãos Agustín e Pedro Almodóvar, na produção executiva.

Aliás, o elenco é o que Minha Vida Sem Mim tem de melhor. Sarah Polley (que curiosamente fez Madrugada dos Mortos no ano seguinte) lidera o elenco de maneira espetacular como a jovem mãe que se vê num beco sem saída. Mark Ruffalo, hoje badalado como o “Hulk que deu certo” (antes dele, Eric Bana e Edward Norton não convenceram no mesmo papel) também está perfeito como o amante amargurado. E ainda tem alguns europeus, como Maria de Medeiros (a cabelereira), Leonor Watling (a vizinha) e Alfred Molina (o pai), contracenando com as americanos Deborah Harry (sim, a Debbie Harry do grupo Blondie, aqui fazendo a mãe) e Amanda Plummer (a colega de trabalho). Todos estão muito bem. Só não gostei muito do marido, interpretado por Scott Speedman – mas não sei se isso foi por causa do ator ou do personagem escrito para ele.

O filme é triste, claro – um filme onde a protagonista tem uma doença terminal não poderia ser de outro jeito. Mas não é depressivo, a gente até consegue dar algumas risadas ao longo da projeção.

Minha Vida Sem Mim não é para qualquer hora. Mas é um belo filme.

p.s.: Curiosidade para os fãs de Supernatural: o médico é interpretado por Julian Richings, que fez “A Morte” no seriado. Olhando pra cara dele, heu diria que ele tem mais cara de morte do que de médico…

Titanic

Crítica – Titanic

Hora de rever Titanic!

84 anos depois, Rose DeWitt Bukater, uma senhorinha de 101 anos, conta sua viagem no Titanic, desde o embarque até o naufrágio, e como conheceu e se relacionou com Jack Dawson, um passageiro de uma classe inferior.

O que falar hoje, 15 anos depois, de Titanic, um dos filmes mais vistos de toda a história do cinema?

Em primeiro lugar, existe a relação amor & ódio que acompanha o filme. Quase todo mundo viu este recordista de prêmios e de bilheteria – se não me engano, é dono da segunda maior arrecadação da história até hoje, quinze anos depois. E quase todo mundo encheu o saco. Daí a rejeição atual de boa parte das pessoas em volta – não sei vocês, mas a maioria dos meus amigos olhou torto quando disse que ia rever Titanic no cinema.

No fundo, essas pessoas estão erradas. Titanic é um filmaço!

Mas voltemos no tempo. Hoje a gente vê o sucesso que se tornou, mas antes da estreia, Titanic era uma grande – e cara – incógnita. Muita coisa deu errado durante a produção do filme, prazos e orçamentos foram estourados muito mais do que o aceitável, e muita gente apostava na falência iminente do diretor megalomaníaco James Cameron. Lembro de ler notícias na época, eram poucos os que acreditavam que Titanic pudesse escapar de ser um grande fracasso.

E o filme estreou, e ficou muitas semanas em primeiro lugar nas bilheterias. E depois veio a consagração com os Oscars. Na história de Hollywood, pouca gente conseguiu uma volta por cima como Cameron neste filme. Se antes tudo deu errado, depois tudo deu certo. Titanic é um épico grandioso, uma história romântica e um eletrizante filme catástrofe – tudo ao mesmo tempo.

A parte técnica é impecável. Cameron construiu um navio cenográfico quase do tamanho do Titanic original, onde foram feitas as filmagens do navio afundando – acredito que dificilmente ele conseguiria tamanho realismo em estúdio. Isso, aliado aos melhores efeitos especiais que a tecnologia de então permtia, criou um visual que continua impressionante até hoje.

Sobre o elenco, Titanic é daqueles filmes onde os atores assumem papel secundário, não tem espaço para grandes atuações. Mas pelo menos ninguém atrapalha. Muita gente fala mal do Leonardo DiCaprio, mas sou fã do cara, acho que ele é um dos grandes atores da sua geração. E Kate Winslet aqui teve sua grande porta de entrada para Hollywood, antes ela era uma atriz pouco conhecida (mas heu já era fã dela desde Almas Gêmeas!). Ainda no elenco, Billy Zane, Kathy Bates, Gloria Stuart, David Warner, Frances Fisher, Jonathan Hyde, Bill Paxton, Suzy Amis e Victor Garber.

A trilha sonora de James Horner é excelente, mas hoje sofre com o “trauma da Celine Dion”. A cantora canadense gravou uma música para o filme – que só rola nos créditos. Mas a música tocou MUITO na época do filme. A ponto de encher o saco! Aí, toda vez que toca aquele teminha na pan flute pá-rá-rááá, a gente lembra da Celine Dion e pensa NÃÃÃO…

Titanic é um dos maiores vencedores da história do Oscar. Até então, todos acreditavam que a marca de 11 estatuetas conquistadas por Ben-Hur em 1959 nunca mais seria alcançada (seis anos depois, em 2003, O Senhor dos Aneis – O Retorno do Rei seria o terceiro filme a ganhar 11 Oscars). Titanic ganhou os prêmios de melhor filme, diretor, direção de arte, fotografia, figurino, som, efeitos sonoros, efeitos especiais, edição, trilha sonora e canção (a tal música chata da Celine Dion). E ainda concorreu, mas não ganhou, a melhor atriz (Kate Winslet), melhor atriz coadjuvante (Gloria Stuart) e melhor maquiagem!

Ainda preciso falar do 3D. Existem dois tipos de filmes 3D, os que são filmados assim, e os que são filmados de maneira convencional e depois convertidos. Normalmente estes ficam mal feitos. Mas Cameron é perfeccionista, e conseguiu a melhor conversão já feita até hoje – o 3D está realmente muito bem feito. Heu é que não sou muito fã de filmes 3D…

Ainda preciso falar do Imax. Fui ver na tela gigantesca do Imax da Barra. A primeira metade do filme nem faz diferença. Mas a segunda metade – quando Titanic vira um filme catástrofe – aí sim é legal ver numa tela grande e com um som bom!

Último comentário: tinham muitos adolescentes perto de mim no cinema. Três meninos ao meu lado esquerdo estavam impacientes, me parece que estavam entediados pela longa duração do filme (mais de 3 horas). E do meu lado direito, um grupo de meninas – e uma delas passou a última meia hora do filme chorando copiosamente. Não aguentei e, numa das cenas mais tristes, soltei uma gargalhada por causa do exagero do choro… Tá, o filme é triste, mas não precisa de tanto, né?

No fim da sessão, saí do cinema confirmando o que já sabia desde 1997: Titanic é um filmaço!

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Shame

Crítica – Shame

Muito tem se falado sobre Shame. Incensado por uns, odiado por outros, qualé a desse filme polêmico?

Bem sucedido profissionalmente, Brandon cuida de sua vida particular de modo que consiga cultivar o seu vício por sexo. Até que sua problemática irmã Sissy aparece e bagunça sua rotina.

O tema de Shame é polêmico por natureza – o dia-a-dia de um cara viciado em sexo. Mas o filme é daqueles que se baseiam na polêmica para se vender, porque tirando o sexo e o impressionante trabalho dos atores principais, não sobra muita coisa.

Pra começar, o roteiro é fraquíssimo. Muito pouca coisa acontece ao longo de pouco mais de hora e meia. E o ritmo é leeento… O diretor Steve McQueen (também co-roteirista) usa planos demasiadamente longos em algumas cenas – por exemplo, pra que a câmera acompanha Brandon por mais de dois minutos enquanto ele pratica cooper? Ou então a interminável tomada no restaurante, quase seis minutos de câmera quase parada! Se a gente pegasse só história, ia ter só meia hora de filme…

Shame é lento, mas nem achei o filme muito chato – apesar das cenas mais longas do que o necessário. A sequência fora de ordem cronológica na parte final (quando ele apanha no bar) é muito boa, com a narrativa indo e vindo em diversos eventos na mesma noite.

Além disso, a atuação de Michael Fassbender merece todo e qualquer elogio. O Magneto de X-Men Primeira Classe e o Jung de Um Método Perigoso mostra aqui que é um ator do primeiro time. E Carey Mulligan não fica atrás. Prato cheio para os fãs da dupla.

E agora a parte polêmica – o sexo. Sim, tem mais do que o padrão – rola muita nudez frontal masculina, o que não é comum em Hollywood. Mas não achei nada tão chocante em termos gráficos. As cenas de sexo sugerem mais do que mostram, mesmo as duas mais faladas – o menage e a boate gay. Tem filme por aí mostrando mais…

No fim, fica aquela sensação de que Shame poderia ser um filme melhor, se se preocupasse com o roteiro. O filme tem seus méritos, mas o resultado final é vazio. Acho que o burburinho em torno do filme é mais pela polêmica do que pelas suas qualidades.

Por fim, me pergunto: heu sou o único que achei o nome do diretor estranho? Steve Mcqueen não é o ator de Papillon e Bullit, que morreu em 1980? 😉

The Divide

Crítica – The Divide

Um grupo de vizinhos se refugia no porão do prédio onde moram quando acontece um ataque nuclear. Isolados do resto do mundo, eles precisam sobreviver uns aos outros.

The Divide está classificado no imdb como terror, suspense e ficção científica, mas acho que está mais para drama. Um violento drama apocalíptico sobre a degeneração humana, mas um drama.

A trama lembra um pouco Ensaio Sobre a Cegueira – quais seriam as reações de pessoas colocadas em um ambiente descontrolado e cada vez mais hostil. Até quando aquele grupo iria funcionar como um grupo unido antes de entrar em colapso?

O diretor Xavier Gens (Hitman) já tinha demonstrado que sabia fazer dramas violentos no limite do terror com o seu A Fronteira, filme mal lançado por aqui. Aliás, os dois filmes são bem parecidos em suas essências: pessoas colocadas em situações limite.

O elenco, claro, não traz nomes de ponta. Mas temos alguns atores mais ou menos conhecidos, como Lauren German (O Albergue 2), Rosanna Arquette (Pulp Fiction), Milo Ventimiglia (Heroes), Michael Biehn (Exterminador do Futuro) e Courtney B Vance (Law & Order Criminal Intent). De um modo geral, o elenco está bem, gostei da atuação de Ventimiglia, até agora só o tinha visto em Heroes, e ele passava a impressão de ser apenas mais um galãzinho – o que não rola aqui nem de longe.

O roteiro não é perfeito – por exemplo, pra que selar a porta se a fossa era aberta? Mas a construção dos personagens e a inspirada atuação do elenco compensam essas pequenas falhas. Além disso, gostei do início acelerado e do ritmo intenso da sequência final.

Ainda rolam alguns destaques, como a boa fotografia do filme, que ajuda no clima desolado do subterrâneo. A maquiagem e a trilha sonora também são muito boas.

The Divide é aquele tipo de filme que tem cara que não vai entrar em cartaz. e mesmo sem entrar, não agradar a muita gente – rolam umas perversões bem distorcidas ao longo da projeção. Mas, para aqueles de estômago forte, recomendo!

Um Método Perigoso

Crítica – Um Método Perigoso

O filme mostra o início da psicanálise. Um jovem Carl Jung começa um tratamento inovador na histérica Sabina Spielrein, envolvendo interpretações de sonhos e associações de palavras, sob orientação de seu mestre, Sigmund Freud – que usa uma metodologia diferente.

Admito que não gostei do filme, mas não posso dizer que me decepcionei. Um Método Perigoso (A Dangerous Method, no original) é compatível com a carreira recente do diretor David Cronenberg.

Cronenberg não era um diretor “de ponta”, mas era reconhecido como um grande realizador de filmes de terror, com clássicos como Scanners, Videodrome e A Mosca no currículo. O gore era tão presente nos seus filmes quez ele tinha o “carinhoso” apelido “Cronembleargh”… Mesmo quando não estava no terror, seus filmes filmes eram coerentes, como Gêmeos – Mórbida Semelhança, Crash – Estranhos Prazeres e eXistenZ.

Aí parece que o cara resolveu “crescer”, e passou a fazer filmes “sérios”: Marcas da Violência (2005), Senhores do Crime (2007) e agora este Um Método Perigoso. Não posso dizer que ele está errado com esta nova fase na carreira, afinal, ele ganhou mais reconhecimento da crítica em geral e seus atores são indicados a prêmios importantes (Viggo Mortensen foi indicado ao Oscar por Senhores do Crime e ao Globo de Ouro por Um Método Perigoso; William Hurt concorreu ao Oscar de melhor ator coadjuvante  por Marcas da Violência). Mas posso dizer que, pelo menos na minha humilde opinião, sua carreira ficou sem graça. Heu preferia os seus filmes anteriores…

Um Método Perigoso é a adaptação da peça The Talking Cure (de Christopher Hampton, também roteirista aqui), baseada no livro A Most Dangerous Method, de John Kerr. O filme não chega a ser ruim. O problema é que é um filme chato – se baseia quase que totalmente em diálogos monótonos, um papo cabeça sobre psicologia / psiquiatria. Tem gente que curte isso, me  lembro dos meus tempos de frequentador do bar “Sujinho”, na UFRJ, campus Praia Vermelha, ao lado do Instituto de Psicologia. Naquela época, talvez heu tivesse paciência pra toda essa discussão cabeça, e a mania de Freud de dizer que tudo tem a ver com sexo. Mas confesso que hoje em dia não tenho mais saco…

Se tem algo muito bom aqui são as interpretações dos atores. Michael Fassbender e Viggo Mortensen estão bem como Jung e Freud; Vincent Cassel idem, num papel pequeno, como Otto Gross. E Keira Knightley está excelente como a desequilibrada (e depois controlada) Sabina Spielrein.

Mas no geral, é chato. Sinto que sou uma voz sozinha na multidão, mas mando o meu recado para o diretor: “Volte, Cronenberg!”

The Walking Dead – Segunda Temporada

The Walking Dead – Segunda Temporada

E chegou ao fim a segunda temporada de The Walking Dead!

Continuamos acompanhando o pequeno grupo que sobreviveu aos zumbis na primeira temporada. Eles encontram uma fazenda habitada por uma família e montam acampamento por lá.

A primeira temporada teve seus altos e baixos. O início foi muito bom, o meio foi fraco, mas terminou bem. A segunda temporada teve uma baixa significativa: Frank Darabont (Um Sonho de Liberdade, O Nevoeiro), que além de ser produtor executivo, trabalhou como roteirista e chegou a dirigir o episódio piloto, se afastou do projeto. Seu nome continua como produtor executivo, mas pelo que se lê por aí, ele não palpita mais.

Curta, com apenas 13 episódios, a temporada foi dividida em duas partes: seis episódios em outubro e novembro de 2011, sete episódios em fevereiro e março de 2012. E a estrutura das duas metades foi bem parecida: ritmo demasiado lento até o penúltimo episódio, e um último capítulo muito bom.

Os dois capítulos “finais” (o último e o antes da pausa) foram tão bons que mascararam o clima monótono que rolou ao longo da série – determinados momentos parecia que estávamos vendo a novela das oito!

Um outro problema foi a falta de carisma de certos personagens. Lori, a esposa do protagonista, era tão chata que gerou uma onda de protestos pela internet que me lembrou a revolta gerada pela filha do Jack Bauer entre os fãs de 24 Horas. Fica difícil torcer por uma série com personagens mala…

Mas como foram apenas 13 episódios de 40 minutos, a série passou “rápido”. E, como disse, terminou bem, tivemos inclusive a introdução de um novo e misterioso personagem muito elogiado por aqueles que acompanham os quadrinhos da série. Agora é torcer pra acertarem a mão na terceira temporada.

Anônimo

Crítica – Anônimo

Um filme de época, falando sobre uma teoria da conspiração envolvendo William Shakespeare. Dirigido por Roland Emmerich? Como assim???

Anônimo traz uma teoria interessante: William Shakespeare, o maior escritor da língua inglesa, não seria o autor de seus textos, e sim o Conde Edward de Vere, que precisou arranjar um “laranja” para divulgar o que escreveu – teoria defendida por gente importante como Mark Twain, Charles Dickens e Sigmund Freud.

A grande interrogação do primeiro parágrafo é porque Anônimo (Anonymous, no original) é diferente de tudo o que o diretor já fez até hoje. Emmerich se tornou “o especialista” em cinema catástrofe na Hollywood contemporânea. É só darmos uma olhada na sua carreira: Independence Day, 2012, O Dia Depois de Amanhã, Godzilla… Mesmo quando o cara não fazia filmes catástrofe, seu currículo continuava coerente, com títulos como Soldado Universal, Stargate e 10.000 AC.

Bem, não é a primeira vez que um diretor se aventura em uma área diferente da sua “zona de conforto” – me lembro logo de dois exemplos: Por Amor, um drama tendo baseball como pano de fundo, dirigido por Sam Raimi (Evil Dead, Homem Aranha); e Música do Coração, um drama sobre uma professora de violino interpretada por Meryl Streep, dirigido por Wes Craven (A Hora do Pesadelo, Pânico). O problema é constatar que o cara é melhor na área que ele está acostumado a trabalhar.

Muita gente por aí odeia o Roland Emmerich. Não é o meu caso. Me divirto com seus filmes absurdos. E isso foi um problema aqui – não achei Anônimo nada divertido. O filme não é ruim, mas também não é bom. A trama é muito confusa, principalmente no início, com atores diferentes para cada papel. Isso aliado a um desenvolvimento lento faz o filme se tornar monótono e desinteressante.

De positivo, podemos destacar a cuidadosa reconstituição de época – o filme chegou a ser indicado ao Oscar de melhor figurino!

O elenco conta com alguns nomes mais ou menos conhecidos, como Vanessa Redgrave, Joely Richardson, David Thewlis, Rhys Ifans, Rafe Spall, Jamie Campbell Bower e Derek Jacobi. Ninguém se destaca, mas pelo menos ninguém atrapalha.

No fim, fica a vontade de mandar um recado: “Sr. Emmerich, volte a destruir o mundo! É mais divertido do que ver a destruição da reputação de uma pessoa!”

A Perseguição

Crítica – A Perseguição

Um pequeno avião cai no Alasca. Sete homens têm que sobreviver ao frio e aos lobos que circulam a área.

Interessante filme que mistura ação com drama, colocando homens diferentes entre si expostos a situações extremas. A mistura entre os estilos é meio brusca – momentos contemplativos são alternados com cenas frenéticas com adrenalina a mil. Achei legal a experiência.

A Perseguição (The Grey, no original) foi escrito e dirigido por Joe Carnahan, aqui num trabalho menos pop que o seus últimos filmes, os divertidos e exagerados Esquadrão Classe A e A Última Catrada. A Perseguição é mais sério, ainda tem ação e violência, mas sob uma ótica diferente.

No elenco, o grande nome é Liam Neeson, num papel que lembra os seus personagens de Desconhecido e Busca Implacável – um cara que passa a impressão de ser apenas “mais um”, mas tira forças sabe-se lá de onde e parece ser quase um super heroi. O resto do elenco é pouco conhecido, só reconheci o Dermot Mulroney.

O trabalho técnico com os lobos é perfeito – nem dá pra saber quais lobos são reais e quais são cgi. E algumas belas paisagens geladas do Alasca ajudam a fotografia do filme.

Rola uma rápida cena depois dos créditos, que explica o fim, mesmo que de maneira subjetiva…

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O Espião Que Sabia Demais

(Hoje inauguro uma novidade aqui no blog: um texto escrito po um colunista convidado! Com vocês, Gabriel França!)

Crítica – O Espião Que Sabia Demais

Baseado no livro de espionagem escrito por John Le Carré.

“Você eu não somos tão diferentes assim. Nós fomos treinados para identificar as falhas dos sistemas um do outro. Meu lado é tão sujo quanto o seu”.

São exatamente com estas palavras que George Smiley, interpretado de forma espetacular por Gary Oldman, propõe a maior incursão filosófica de seu personagem. Somos todos sujos, corruptos, traidores, mentirosos, egocêntricos e movidos por nossas paixões. Como também somos as nossas ações e a forma como que entendemos e conhecemos a cada um. No fundo somos aqueles personagens do baile de máscaras, uma das grandes cenas do filme dirigido pelo sueco Tomas Alfredson.

Existem duas formas de compreender O Espião Que Sabia Demais (Tinker, Tailor, Soldier, Spy): 1) como um poderoso thriller de espionagem sobre a paranóia da Guerra Fria. 2) como um filme que usa tal fundo histórico e geopolítico para discutir as paixões humanas e suas maiores implicações no mundo. Ou unindo as duas concepções.

Tinker, Tailor, Soldier, Spy é uma fita absolutamente inovadora em termos técnicos neste gênero fílmico. Aqui nos é proposto um ritmo lento, gradual e constante. Onde cada parte é imprescindível para o todo. Não temos tiros, montagem frenética ou apostas em violência descabida. Por isso a fita é diferenciada, ousada em diversas cenas, de uma força simbólica que pouco vi nos últimos anos. Há de se comentar, por exemplo, a cena na Hungria entre um informante e Jim Prideaux (Mark Strong) e os olhares trocados por Prideaux e Bill Haydon (Colin Firth) numa certa cena relevante durante a trama.

Temos muito aqui do cinema de Bergman, Hitchcock e alguns breves lapsos de Operação França (The French Connection) ao longo dos 127 minutos. Tudo isso adicionado ao excelente roteiro que retira todas as gorduras do seriado produzido pela BBC nos anos 70 e do próprio livro. No entanto a grande sacada do roteiro e do próprio Tomas Alfredson é fazer um ajuste narrativo na introdução que é absolutamente genial! Desde já Alfredson, indubitavelmente, um dos grandes diretores da nova geração. Já havia mostrado potencial em seu filme de vampiros adolescentes Deixe Ela Entrar. Aqui fez o seu potencial prevalecer em terreno concreto.

Um exemplo da delicada e econômica direção do Alfredson é quando Smiley e seus dois colaboradores Peter Guillam (Benedict Cumberbatch) e Mendel (Roger Lloyd-Pack) estão em um carro e sofrem um “ataque” de uma mosca. Ao contrário de Peter incomodado com a mesma, Smiley simplesmente abre a porta do carro com um simples e leve movimento, com uma tranqüilidade e serenidade ímpares.

Não podemos nos esquecer da brilhante trilha sonora, uma realização de Alberto Iglesias, que já trabalhou com diretores do calibre de um Pedro Almodóvar. A música do desfecho (a francesa La Mer aqui interpretada pelo espanhol Julio Iglesias) é absolutamente contagiante e um grande acerto da produção. Certamente uma das melhores da temporada e bem utilizada em momentos propícios criando fortes contornos dramáticos.

Aliás, voltando ao elenco, o que falar sobre ele? Há anos não via um elenco tão rico em um único filme. Cada personagem, mesmo com poucos minutos em cena, deixa muito bem a sua marca. Mark Strong, Tom Hardy, Ciarán Hinds, Colin Firth, John Hurt, Benedict Cumberbatch, Toby Jones e Simon MCBurney.

Gary Oldman é um show à parte. Uma interpretação esplendorosa, de um dos maiores atores da face da terra. Sinceramente, são extremamente indescritíveis os seus trejeitos aqui, sua fria racionalidade em frente a um homem sutil e frágil com inúmeros conflitos internos.

As indicações ao Oscar de Melhor Ator, Roteiro Adaptado e Trilha Sonora Original foram absolutamente justas. E poderia ter sido perfeitamente indicado em categorias como Melhor Diretor, Fotografia e Filme. Tudo o que a política academia deseja em filme existe em Tinker, Tailor, Soldier Spy. Os votantes preferiram filmes burocráticos como Cavalo de Guerra (War Horse), Histórias Cruzadas (The Help) e Tão Forte e Tão Perto (Extremely Loud and Incredibly Close).

Posso afirmar que vejo como absolutamente injustas as críticas em relação ao filme. Que é inconclusivo, confuso, lento… Nada disso possui alguma razão em meu ponto de vista. Pois outra grande sacada do Alfredson, a partir roteiro escrito por Bridget O’Connor e Peter Straughan, é confiar no seu espectador, chamá-lo para o filme e não transformá-lo em algo menor (subestimando nossa inteligência), tampouco se utilizando de artifícios baratos de um episódio de série barata que passa em um canal tosco de TV Fechada.

Infelizmente, no cenário nacional, será mais uma obra-prima que não ganhará um público que merece.

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Gabriel França, 23 anos, graduado em História, professor, pós-graduado pela Universidade de Brasília, tricolor de coração e um cinéfilo maníaco.