Um Dia

Crítica – Um Dia

Às vezes é difícil escrever uma crítica sem a interferência do gosto pessoal. Um Dia nem é muito ruim, mas a conclusão de sua trama é – pelo menos foi o que heu achei. Assim, fica complicado pra falar do filme de maneira isenta.

Adaptação do livro homônimo de David Nicholls (também autor do roteiro), Um Dia mostra o complicado relacionamento entre Emma (Anne Hathaway) e Dexter (Jim Sturgess), ao longo de vinte anos, apenas um dia por ano.

O problema do filme da diretora dinamarquesa Lone Scherfig não é cinematográfico, e sim a história em si – ou seja, deve estar também no livro. Acontecimentos na parte final da trama atrapalham qualquer identificação que o espectador pode ter com os personagens. E o filme ainda estica com uma desnecessária sequência em flashback, talvez com o intuito de se criar algo próximo de um final feliz.

Outra coisa que atrapalha é a construção dos personagens – mais uma vez, não sei se o problema é do filme ou do livro. Dexter é um cara mimado e arrogante, e Emma é uma personagem vazia e sem graça. Fica difícil torcer pelo casal, por mais que seja óbvio que eles estão destinados a ficarem juntos.

Pena, porque gostei da estrutura da narrativa, bem interessante – somente um dia por ano, sempre o dia 15 de julho, a partir do fim dos anos 80, incluindo aí vários detalhes da evolução da sociedade ano a ano (roupas e penteados, aparecimento de celulares, etc). Claro que algumas coisas ficam subentendidas, mas dá pra entender tudo pelo contexto – não tinha como contar tudo o que acontece mostrando apenas um dia por ano, né?

No elenco, Jim Sturgess obtem um resultado melhor, apesar de ter um personagem naturalmente antipático. Já Anne Hathaway não consegue gerar muita simpatia. Li pelo imdb críticas ao seu sotaque britânico, mas admito que o meu inglês não é tão bom assim a ponto de analisar sotaques… Ainda no elenco, Patricia Clarkson, Rafe Spall e Romola Garai.

Conclusão: o filme em si já não é grandes coisas. E, com a virada de roteiro desnecessária no final, Um Dia entra pro grupo dos filmes “não recomendados”.

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X

Crítica – X

Admito: quis ver este filme para ver a bela Viva Bianca, a Ilithyia de Spartacus, em um papel contemporâneo. O que heu não sabia é que o filme seria ruinzinho…

X sofre de um problema relativamente comum: falta história. A trama toda cabe em um parágrafo: garota de programa veterana querendo largar o ofício conhece uma adolescente novata na profissão. Depois de um trabalho juntas, elas presenciam um assassinato, e agora precisam fugir. E só.

Talvez isso funcionasse nas mãos de um bom diretor, ou se tivesse um bom roteiro. Nada. Os personagens são clichê, as situações são previsíveis. E, a cereja do bolo: alguns diálogos são constrangedores – rola um sentimento de vergonha alheia naquela cena do cara com as duas no quarto do hotel.

E tome cenas leeentas pra cá, cenas leeentas pra lá… Principalmente com a personagem de Hanna Mangan Lawrence, que vaga de um lado para o outro, quase sempre em companhia de personagens sem graça.

Ah, a nudez! Senti falta de nudez num filme com esse tema. Por que a Viva Bianca só aparece de calcinha e sutiã? Ela foi mais generosa em Spartacus

Enfim, dispensável…

Sleeping Beauty

Crítica – Sleeping Beauty

No primeiro dia do Festival do Rio, fui até o Estação Botafogo pra ver este Sleeping Beauty. Não sei por qual motivo, a sessão tinha sido cancelada. Ok, deixei pra lá. Mas, olha só, apareceu o filme pra download… Baixei, vi e constatei que dei sorte – o filme é fraco…

Lucy (Emily Browning) é uma estudante universitária que trabalha em várias coisas ao mesmo tempo. Respondendo a um anúncio de jornal, ela aceita um trabalho para servir jantares vestindo apenas lingerie. Pouco depois, lhe oferecem o emprego de “bela adormecida”, em que ela deve ser sedada para servir às fantasias eróticas de homens mais velhos.

O problema do filme escrito e dirigido pela estreante Julia Leigh é que falta história, enquanto sobra pretensão. Acompanhamos Lucy por uma hora e meia, e a única coisa interessante que vemos é a Emily Browning tirando a roupa. Pelo menos isso acontece com frequência!

O filme podia se aprofundar em várias coisas – como aquela bizarra sociedade que usa mulheres nuas como garçonetes. Mas, nada. Aliás, pior ainda, o filme nem explica coisas necessárias – caramba, Lucy tinha um emprego formal, além de ser garota de programa, e ainda fazia tarefas estranhas para ter um extra financeiro. Como é que ela não tinha dinheiro pro aluguel?

Sleeping Beauty só serve para os fãs de Emily Browning. A protagonista de Sucker Punch mostra maturidade como atriz – com e sem roupa – não vou estranhar se ela for indicada a algum prêmio. Fora isso, o filme é dispensável.

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p.s.: Aqui encerro meus comentários sobre o Festival do Rio 2011. Ano que vem tem mais!

Entre Segredos e Mentiras

Crítica – Entre Segredos e Mentiras

Um herdeiro de uma família milionária (Ryan Gosling) se apaixona e se casa com uma mulher humilde (Kirsten Dunst). Quando ela desaparece misteriosamente, ele se torna o principal suspeito. Baseado em fatos reais.

Sabe quando um filme é “correto”, mas não é bom? É o caso aqui. Entre Segredos e Mentiras (All Good Things, no original) tem um bom elenco, uma bem cuidada reconstituição de época e uma bela fotografia. Mas parece que o filme não “decola” nunca.

Não sei precisar exatamente onde está o problema do filme dirigido por Andrew Jarecki (Na Captura dos Friedmans). Talvez seja o ritmo excessivamente lento; talvez seja a história pouco interessante. O fato é: Entre Segredos e Mentiras não empolga.

Mas, como disse, o filme não é ruim. Podemos destacar um bom trabalho do elenco, principalmente o casal principal. Kirsten Dunst e Ryan Gosling (principalmente Gosling) convencem com seu casal complexo. Os coadjuvantes Frank Langella e Lily Rabe também estão bem.

Pena que isso não é suficiente. Entre Segredos e Mentiras não é ruim, mas também está longe de ser bom. Tem coisa melhor por aí.

A Pele Que Habito

Crítica – A Pele Que Habito

Pedro Almodóvar é um dos diretores mais prestigiados entre boa parte dos cinéfilos cariocas. Nada como usar o seu novo filme para abrir o Festival do Rio, hoje à noite, né?

O doutor Robert Ledgard (Antonio Banderas) passou doze anos se dedicando à criação de um novo tipo de pele, depois que sua mulher sofreu queimaduras fatais num acidente de carro. Vera, uma misteriosa paciente, é usada para testar a pele.

Vou confessar uma coisa aqui: por motivos diversos, perdi vários filmes seguidos de Almodóvar. Não tenho nada contra ele, foi apenas coincidência. Curiosamente, antes dele ser popular (fase pré Mulheres À Beira de um Ataque de Nervos), vi muita coisa da sua fase underground, como A Lei do Desejo e Pepi, Luci, Bom y Otras Chicas del Montón. Mas agora heu estava devendo, o último filme que vi dele foi Carne Trêmula, de 1997.

A expectativa era grande, já que fazia tempo que heu não via nada dele. Mas não me decepcionei, A Pele Que Habito é um bom filme, e traz algumas coisas que são a cara do diretor espanhol, apesar de ter uma temática científica, com direito a roteiro em ordem não cronológica.

A melhor coisa de A Pele Que Habito é a estrutura do seu roteiro. A trama tem uma reviravolta de roteiro sensacional, acho difícil o espectador sair ileso – conversei com algumas pessoas depois da sessão de imprensa, e o desconforto era uma sensação comum. E a fotografia também é bem cuidada, o filme tem várias imagens belíssimas.

A Pele Que Habito também traz uma coisa que é a cara de seu diretor: personagens bizarros vivendo situações bizarras. Toda a parte do Tigre é genial!

O elenco está muito bem. Antonio Banderas, que não trabalhava com o seu compatriota desde Ata-me, muitas vezes é canastrão, mas aqui acerta o tom. Elena Anaya, linda linda linda, está ótima num papel difícil. E Marisa Paredes, eterna musa de Almodóvar, também tem um papel importante.

Nem tudo é perfeito. Almodóvar quis homenagear o Brasil, então criou alguns personagens brasileiros. Mas, caramba, por que não colocar atores brasileiros? O sotaque dos gringos é horrível!

Mesmo assim, A Pele Que Habito é um bom filme e merece ser visto. Pena que a sessão de hoje é só pra convidados (heu também não tenho convite…). Mas tem sessões domingo e segunda. E a estreia nacional está prevista para 4 de novembro – a maioria dos filmes do Festival do Rio não tem exibição garantida no circuito.

Contágio

Crítica – Contágio

Beth volta aos EUA depois de uma viagem a Hong Kong e começa a passar mal. Ela não sabe, mas está carregando um perigoso e mortal vírus, que a mata dois dias depois. Aos poucos, novos casos aparecem pelo mundo, dando início a uma epidemia global.

Uma coisa interessante no novo filme de Steven Soderbergh é que este é um tipo de coisa que pode acontecer a qualquer momento. Um terror real! E com direito a falência da sociedade e o caos reinando nas ruas. Mas o clima do filme não é terror, nem ação (como o semelhante Epidemia, de 1995). É um drama com núcleos de personagens que não necessariamente se encontram, semelhante a Short Cuts, de Robert Altman.

A semelhança com Altman também rola por causa do excelente elenco multi estrelado, como também acontece de vez em quando em filmes de Soderbergh. Vários bons atores estão presentes, como Gwyneth Paltrow, Matt Damon, Jude Law, Laurence Fishburne, Kate Winslet, Marion Cotillard, Elliot Gould e Jennifer Ehle.

Gostei da estrutura do filme, mostrando o dia a dia da epidemia. Gostei também do fim do filme, mas não falo aqui por causa de spoilers. E também da trilha sonora tensa, a cargo de Cliff Martinez, ajuda na dramaticidade dos acontecimentos.

No fim, podemos dizer que em pelo menos um aspecto Contágio é eficiente: um cara tossiu dentro do cinema, e heu fiquei bolado…

A previsão de estreia é no dia 28 de outubro, mas quem etiver ansioso, vai passar antes no Festival do Rio, que começa esta sexta.

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O Escritor Fantasma

Crítica – O Escritor Fantasma

Ewan McGregor é contratado para ser o ghost writer de um livro escrito pelo ex primeiro ministro inglês – ghost writer é aquele profissional que trabalha no texto de outra pessoa, mas não assina o trabalho. Aos poucos, ele descobre que o trabalho é mais perigoso do que parecia.

Trata-se do novo filme do grande Roman Polanski, concluído na época que ele estava em prisão domiciliar na Suíça, esperando ser extraditado ou não para os Estados Unidos pelo crime de pedofilia, cometido décadas antes. Coincidência ou não, o filme tem algo de autobiográfico, com o político em casa, esperando para saber se vai ser levado para um julgamento em outro país.

O Escritor Fantasma lembra Chinatown, onde um homem também vai descobrindo aos poucos que os problemas onde está envolvido. Não só na trama, como também no ritmo – assim como em Chinatown, o ritmo aqui é lento. Mas o talento de Polanski não deixa O Escritor Fantasma cair na monotonia e ser um filme chato.

O nome traduzido é curioso. A tradução está correta, mas aqui no Brasil ninguém usa a expressão “escritor fantasma”, usa-se o original “ghost writer”. Enfim, o personagem é tão fantasma / ghost, que nem tem nome!

O elenco está ok. Além de McGregor, o filme conta com Olivia Williams, Kim Cattrall, Pierce Brosnan, Tom Wilkinson e um quase irreconhecível James Belushi em um papel pequeno.

Polanski ganhou o Urso de Prata de Melhor Diretor no Festival de Berlim por este filme, mas não sei o quanto a sua situação pessoal ajudou a decisão do júri. Mesmo assim, O Escritor Fantasma não vai decepcionar os apreciadores do estilo.

Agnosia

Crítica – Agnosia

Não é de hoje que a Espanha nos apresenta bons filmes fantásticos, principalmente por causa de diretores como Guillermo Del Toro e Álex de la Iglesia. Então, quando soube de um filme escrito por Antonio Trashorras, o mesmo roteirista de A Espinha do Diabo (dirigido por Del Toro), corri para ver.

Espanha, 1899. Joana é uma bela jovem com uma doença que atrapalha a sua percepção e a impede de reconhecer alguns sons e imagens. Quando seu pai morre, ela vira vítima de um plano para descobrir um segredo industrial.

Como heu disse, tem um monte de filmes fantásticos bons feitos na Espanha. Mas Agnosia não é um deles – principalmente porque, de fantástico, o filme não tem nada!

Mas o pior de Agnosia não é ser um drama. O problema é o roteiro, lento demais, e com algumas situações forçadas demais. Para não entregar spoilers, vou me ater à cena inicial:
1- Se o pai de Joana fabricou uma lente para vender rifles, por que ficou chocado com pessoas que estavam usando o seu rifle para matar um animal? Será que ele achava que os rifles não matariam ninguém?
2- Este evento teve algo a ver com a doença de Joana? Ou foi só uma coincidência?
Resumindo: pra que esta cena inicial? Só para nos mostrar que o cara tinha um segredo industrial? E precisava de toda a papagaiada em volta da menina?

E assim o filme segue, leeento… A parte dentro do quarto escuro é boa, mas isso acontece depois da metade do filme.

Pelo menos nem tudo é de se jogar fora. O diretor Eugenio Mira tem talento para criar belas cenas, como a cena inicial dos rifles e balões pretos, ou a cena final, na escadaria. Cinematograficamente, são cenas muito bonitas.

No elenco, só reconheci dois nomes: Eduardo Noriega, de Abra Los Ojos e A Espinha do Diabo; e Bárbara Goenaga, de Los Cronocrimenes (todos os três filmes são bons exemplos de filmes fantásticos espanhois…).

Enfim, Agnosia não é de todo ruim. Mas tem filme espanhol melhor por aí.

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Detenção

Crítica – Detenção

Um grupo de homens comuns se oferece como voluntários em uma experiência científica, onde, confinados em uma prisão abandonada, serão divididos em dois grupos, um de prisioneiros e outro de guardas.

Paul Scheuring, roteirista da série Prison Break, dirige aqui uma refilmagem do filme alemão A Experiência (Das Experiment, de 2001), que, por sua vez, foi inspirado em uma experiência real ocorrida em 1971 na prisão Stanford.

Detenção é uma produção simples. Às vezes parece até uma peça teatral filmada – poucos cenários, poucos efeitos especiais, quase tudo baseado em diálogos e ações entre os atores. O que realmente vale a pena aqui é a interpretação dos dois atores principais, Adrien Brody e Forest Whitaker, ambos ganhadores de Oscar (por O Pianista e O Último Rei da Escócia, respectivamente). Suas interpretações principalmente Whitaker – trazem a profundidade necessária para tornar o filme interessante do início ao fim.

Isso porque o roteiro, escrito pelo diretor Scheuring, acerta no crescente da tensão, mas falha em certos aspectos de desenvolvimento da trama e de alguns personagens, o que torna o filme uma boa ideia mal desenvolvida – fica aquela velha sensação de “poderia ter sido melhor”…

Enfim, pelo menos Brody e Whitaker salvam o filme.

Stake Land

Crítica – Stake Land

Filme de vampiro tem um monte por aí. Filme de futuro pós-apocalíptico também tem um monte. Mas filmes misturando os dois temas são mais raros…

Num futuro onde a sociedade foi devastada por um apocalipse de vampiros, o adolescente Martin se une ao caçador de vampiros Mister na luta pela sobrevivência.

O que é legal aqui neste filme dirigido pelo ainda desconhecido Jim Mickle é que, se a gente trocar o “vampiro” por, sei lá, um vírus, uma catástrofe natural ou algo semelhante (pode até ser os já “tradicionais” zumbis), o filme funciona direitinho – vira um drama pós-apocalíptico sério. O que não quer dizer que os vampiros sejam mal feitos – nada disso, são vampiros à moda antiga, assustadores como eram pra ser, antes da atual moda de vampiros galãs.

O elenco, liderado pelos pouco conhecidos Connor Paolo e Nick Damici, tem um nome famoso: Kelly McGillis, outrora a bonitona de Top Gun e A Testemunha, mas hoje cinquentona e sem nenhum glamour.

O roteiro, escrito pelo diretor e pelo protagonista Nick Damici, faz um bom trabalho na construção dos personagens e seus dramas. O filme prefere focar nas pessoas, mas achei que o conflito com a “Irmandade” poderia ser melhor explorado – aquele grupo de freaks podia render uma boa história.

Stake Land não se tornará um clássico, mas pode ser uma opção pra quem estiver cansado dos clichês comuns de vampiros.

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