Todo Tempo que Temos

Crítica – Todo Tempo que Temos

Sinopse (imdb): Após um encontro inusitado, uma talentosa chef de cozinha e um homem recém-divorciado se apaixonam e constroem o lar e a família que sempre sonharam, até que uma verdade dolorosa põe à prova essa história de amor.

Quando vi o trailer do Todo Tempo que Temos (We Live in Time, no original), imaginei que seria um dramalhão daqueles que fazem todo o cinema se debulhar em lágrimas. Não sou muito fã do gênero (não curto filmes sobre gente doente), mas resolvi encarar. E posso dizer que me surpreendi positivamente.

Como diz no cartaz do filme dirigido por John Crowley (Brooklyn), “cada minuto conta”, ou seja, já sabemos que teremos uma história de um casal muito apaixonado, onde um dos dois descobre uma doença terminal. Ok, isso é clichê. Mas o roteiro de Todo Tempo que Temos consegue apresentar essa história fora da ordem cronológica, e assim conseguiu burlar o “clímax chororô”, e ainda deu um ótimo ritmo ao filme. Detalhe: em nenhum momento vemos indicações de tempo (tipo “um ano antes”, “dois meses depois”), e mesmo assim dá pra entender tudo.

Além do roteiro, outro trunfo de Todo Tempo que Temos é o casal principal. Andrew Garfield e Florence Pugh estão ótimos, e têm uma boa química juntos. E o filme explora bem o relacionamento dos dois, quase o filme todo é só com os dois, tanto que fiquei me perguntando quem seriam os principais coadjuvantes, e só consigo pensar na filha do casal e na assistente da Florence. (Curiosidade: ambos estão na Marvel, Garfield foi o segundo Homem Aranha; Florence é a Yelena, irmã da Viúva Negra, e estará ano que vem em Thunderbolts).

Agora, preciso dizer que este não é o meu estilo de filme. Li uns comentários no imdb de gente reclamando que as idas e vindas na linha temporal teriam atrapalhado o envolvimento emocional do espectador com os personagens. Ou seja, o que pra mim foi um ponto positivo, tem gente achando que é um defeito. Sei lá, prefiro sofrer menos. Afinal, pra mim, “cinema é a maior diversão”!

Canina

Crítica – Canina

Sinopse (imdb): Uma mulher interrompe sua carreira para se tornar uma mãe que fica em casa, mas logo sua vida doméstica dá uma guinada surreal.

A divulgação deste Canina (Dogbitch, no original) falava de um filme onde a Amy Adams virava um cachorro. Essa ideia pode gerar um bom filme de terror, algo na pegada de um filme de lobisomem. Ou podia gerar uma comédia engraçada, com todos os absurdos que surgiriam desta proposta.

Nada disso. Canina é um drama que fala da maternidade e de tudo o que a mulher abre mão para cuidar do(s) filho(s).

Baseado no livro de Rachel Yoder e dirigido por Marielle Heller, Canina até tem cenas engraçadas – em alguns momentos rolavam gargalhadas no cinema. Mas o maior foco é o drama que a protagonista passa, e o dilema que ela vive – ela deve voltar à vida que levava antes de ser mãe, ou agora o foco deve ser 100% seu filho?

O melhor de Canina é a Amy Adams, que se entrega ao papel e faz o filme valer a pena. Amy já concorreu ao Oscar seis vezes e nunca ganhou, será que ano que vem vem uma nova indicação? Scoot McNairy faz o marido, um papel bem secundário.

Mas, no geral, achei o filme meio bobo. Porque todas as agruras da maternidade apresentadas no roteiro de Canina já foram contadas outras vezes, e de formas mais criativas. Canina se vende como algo diferente, mas é mais do mesmo.

Clube dos Vândalos

Critica – Clube dos Vândalos

Sinopse (imdb): Acompanha a ascensão de um clube de motociclistas do meio-oeste americano por meio da vida de seus membros.

Clube dos Vândalos (The Bikeriders, no original) se inspira no livro “The Bikeriders”, lançado em 1967 pelo fotógrafo Danny Lyon, pra mostrar a criação do moto clube Vandals, na Chicago dos anos 60. O elenco é ótimo, a reconstituição de época é perfeita, a trilha sonora é boa. Mas…

Senti que falta história pra ser contada. Clube dos Vândalos foi escrito e dirigido por Jeff Nichols, diretor que já está por aí há algum tempo, mas heu ainda não tinha visto nada dele. Me pareceu que ele quis emular o estilo do Scorsese e criar um filme de gangsters, dentro de um moto clube. Acertou na parte da ambientação, mas faltou história. São quase duas horas acompanhado a vida daqueles caras, mas a trama não te leva pra lugar algum. Simplesmente vemos um retrato da vida daquelas pessoas.

Pelo que entendi, o livro “The Bikeriders” é um livro só de fotos, sem texto. Sendo assim, temos um caso diferente de roteiro adaptado, já que o livro base só tem imagens (durante os créditos, inclusive, rolam algumas das fotos originais). Deve ser por isso que o filme não tem exatamente uma historia a ser contada. Ou seja, temos um belo visual, boa fotografia, bons figurinos, boa reconstituição de época – mas o roteiro em si é fraco.

Outro problema é no elenco. São vários grandes atores, mas senti que alguns estão sub aproveitados. O protagonismo é bem dividido entre três personagens – Jodie Comer, Austin Butler e Tom Hardy. Heu diria que, se tem um principal, seria a Kathy da Jodie Comer, que inclusive narra parte dos acontecimentos. Jodie está bem, assim como Tom Hardy. Mas achei curioso ver que Austin Butler, que abre o filme e aparenta ser o principal, é um personagem de certa forma descartável, tanto que em determinado momento ele sai de cena e o filme segue. Caramba, o cara acabou de ser indicado ao Oscar por Elvis e foi uma das melhores coisas de Duna 2, e aqui ele é desperdiçado. O mesmo posso dizer sobre Michael Shannon, que faz um papel que qualquer ator faria. Também no elenco, Mike Faist, Boyd Holbrook e Norman Reedus.

Apesar dessas críticas, Clube dos Vândalos não é ruim. Grandes atores criam bons personagens, e como falei, a ambientação de época é ótima. mas, se tivesse um fio guiando a trama, seria um filme bem melhor.

Love Lies Bleeding – O Amor Sangra

Crítica – Love Lies Bleeding – O Amor Sangra

Sinopse (imdb): A solitária gerente de academia Lou se apaixona pela ambiciosa fisiculturista Jackie, que está de passagem em direção a Las Vegas, em busca do seu sonho. Mas essa história de amor fulminante as envolve na rede criminosa da família de Lou.

Novo filme de Rose Glass, diretora do bom (e quase desconhecido) Saint Maud, Love Lies Bleeding traz uma história meio cliché, de uma pessoa que chega numa cidade, se relaciona com uma local, e acaba que muda os rumos da vida das pessoas em volta.

Acho que o melhor aqui em Love Lies Bleeding são as interpretações. Kristen Stewart já mostrou em outras ocasiões que é uma boa atriz, apesar do passado em Crepúsculo. E Katy O’Brian, apesar de pouco conhecida, também está muito bem, e, principalmente, tem o physique du role para o papel. Mas o melhor é Ed Harris, que faz um cara esquisito com um cabelo esquisito (que inicialmente era pra ser uma piada mas a diretora gostou e decidiu manter no personagem). Também no elenco, Dave Franco, Jena Malone e Anna Baryshnikov (sim, filha do Mikhail).

Love Lies Bleeding tem uma boa ambientação nos anos 80 – acho que essa trama não funcionaria nos dias de hoje, com câmeras de segurança e celulares. E o filme traz algumas cenas de violência gráfica bem fortes. Não são muitas, mas o gore deixa muito filme de terror pra trás.

Love Lies Bleeding tem um final em aberto. Daqueles finais que não fazem sentido, é cada espectador que interprete como achar melhor. Depois da sessão conversei com dois críticos amigos, cada um de nós três teve uma interpretação diferente. Heu não tenho problemas com finais em aberto, mas acredito que isso vai repelir parte da plateia. Na minha humilde opinião, a diretora Rose Glass foi mais eficiente em Saint Maud, que constrói um final em aberto, mas, no último frame, mostra o que realmente estava acontecendo, ou seja, abre espaço para interpretações, mas depois mostra a versão dela. Love Lies Bleeding não tem isso, terminamos o filme sem saber o que a diretora queria dizer.

Rivais

Crítica – Rivais

Sinopse (imdb): Tashi, uma treinadora de sucesso, transformou seu marido em um campeão mundial. Mas para superar uma sequência de derrotas, ele precisa enfrentar o ex-melhor amigo e ex-namorado de Tashi.

Filme novo de Luca Guadagnino, que está usando como marketing um suposto “trisal” entre a badalada Zendaya e dois homens. Mas, calma que não é exatamente por aí. Vamulá.

Gostei da estrutura do filme. O roteiro do estreante Justin Kuritzkes (marido da Celine Song, diretora de Vidas Passadas) começa o filme logo na cena final, na “grande batalha”, no jogo de tênis entre os dois protagonistas. E logo depois somos levados a um flashback, 13 anos antes, pra começar a entender o que está acontecendo. Mas, provavelmente para criar um paralelo com um jogo de tênis, a trama fica indo e vindo na linha temporal. Um pedacinho do “grande jogo”, volta no tempo, mais um pedacinho, mais uma volta no tempo. A narrativa ficou bem fluida com essas idas e vindas. Ah, e gostei da maquiagem usada pra diferenciar as idades. Ok, talvez não pareça que se passaram 13 anos, mas dá pra ver que estão bem mais novos / velhos.

(Tem uma cena onde um dos personagens se acidenta. Não sei se é spoiler, já que está no trailer. Enfim, na tela, o acidente é bem gráfico. Mas nada tão forte quanto a melhor cena de Suspiria, do mesmo diretor, onde uma mulher se quebra toda…)

A câmera de Guadagnino explora bem a quadra de tênis, vemos vários ângulos inovadores. Nem todos funcionam, heu por exemplo não curti quando vemos parte do jogo em câmera “pov”, com a visão do jogador. Por outro lado, gostei quando o ponto de vista foi da bola, como se a câmera estivesse sendo rebatida pelas raquetes.

Preciso dizer que não curti a trilha sonora de Trent Reznor e Atticus Ross, que já fizeram trabalhos ótimos (e já ganharam Oscars duas vezes, por A Rede Social e Soul). Se em outros trabalhos a trilha ajudava a entrar no clima do filme, aqui senti o oposto. Em algumas cenas que eram pra ser mais sérias, as batidas eletrônicas eram altas como se estivéssemos em uma rave. Continuo curtindo a dupla, mas não nesta trilha.

O trio principal de atores está muito bem. Preciso dizer que nunca entendi o fã clube da Zendaya, ela é uma boa atriz, mas, imho, nada que justifique o frisson. Bem, pelo menos aqui ela está bem, e tem uma boa química com Mike Faist e Josh O’Connor. Aliás, é interessante notar que existe um clima de tensão sexual entre ela e cada um deles, e também existe um clima de tensão sexual entre os dois. O filme consegue trabalhar bem a química entre o trio, cada um dos personagens é bem construído, e igualmente bem construídas são as relações entre eles.

(Achei ótimo ver a Zendaya fazer uma breve citação a Homem Aranha!)

Apesar de alguns méritos, achei o resultado final de Rivais apenas mediano. Mas reconheço que gostei muito da sequência final. Na verdade não sabemos como o jogo de tênis acaba, mas o crescente até o final do filme é muito empolgante. Como já comentei antes, assim como um final ruim diminui a nota do filme, um bom final aumenta a nota. E digo que terminei o filme com um sorriso no rosto!

Por fim, uma curiosidade: já tivemos três versões do Homem Aranha nos cinemas, e as três protagonistas femininas fizeram filmes de tênis. Kirsten Dunst fez Wimbledon; Emma Stone, A Guerra dos Sexos; e agora Zedaya estrela Rivais.

Guerra Civil

Crítica – Guerra Civil

Sinopse (imdb): Em um futuro distópico, um grupo de jornalistas percorre os Estados Unidos durante um intenso conflito que envolve toda a nação.

Bora pra mais um dos filmes que estavam na minha lista de expectativas pra 2024, o grande blockbuster da A24!

Guerra Civil (Civil War, no original) é o novo filme de Alex Garland, que até agora só tinha feito filmes “menores” e mais “herméticos”: Ex Machina, Aniquilação e Men (como roteirista, Garland tem filmes mais pop, como Extermínio, Sunshine e Dredd). Guerra Civil tem os seus momentos contemplativos, mas é um filme bem mais acessível que seus três anteriores. E, na minha humilde opinião é, de longe, seu melhor filme.

Guerra Civil é cinemão. Fotografia caprichada, mostrando um país destruído, em planos abertos, com boas atuações e um perfeito uso do som.

Guerra Civil começa com os EUA devastados por uma guerra, mas não existe uma explicação sobre os detalhes dessa guerra. Algumas cenas são colocadas aqui e ali pra situar o espectador, mas sem muitos detalhes (como a cena no posto de gasolina, quando ela oferece 300 dólares por meio tanque, e o cara só aceita porque são dólares canadenses, é assim que a gente descobre que o dólar americano não vale mais nada). Mas tem um diálogo no filme que explica a postura dos personagens: eles são jornalistas, são fotógrafos de guerra, a sua função é ficarem isolados sem tomar partido.

Talvez parte do público se sinta incomodada com isso. A gente vive num mundo cada dia mais polarizado, e inclusive rolam rumores sobre uma possível guerra civil real nos EUA. Mas aqui a gente não sabe detalhes, no filme não existe uma posição entre Esquerda e Direita. Somos os fotógrafos de guerra, estamos aqui só pra registrar a história.

Se a temática pode dividir o público, a parte técnica não tem o que se discutir. O filme tem vários planos abertos mostrando cidades parcialmente destruídas pela guerra. Claro que boa parte deve ser cgi, mas não dá pra saber o que é cgi e o que estava lá durante as filmagens. Além disso, o filme traz algumas cenas plasticamente muito bonitas, como por exemplo quando passam por árvores pegando fogo e vemos pequenas brasas flutuando no ar.

Adorei a edição de som. Em algumas sequências com muitos tiros e explosões, não ouvimos nada, só a música da trilha sonora. Também temos momentos de silêncio em pontos estratégicos da narrativa. E a sequência final é sensacional. Os protagonistas são fotógrafos de guerra, acompanhando soldados. Toda a sequência é entrecortada por registros fotográficos, “ao vivo”, e isso ajuda a manter a tensão.

Tem um detalhe que me incomodou um pouco, mas não é uma falha do filme. A personagem da Cailee Spaeny usa uma câmera com filme, daqueles que a gente precisa revelar. Heu até entenderia se fosse uma fotografia artística, entenderia a opção da personagem de usar filme. Mas se ela quer ser uma fotógrafa jornalística, é esquisito ter que ficar carregando rolos de filme e tendo que revelar tudo. Mas isso não é uma falha, é uma característica da personagem, ela gosta de fazer assim e explica isso no filme.

O elenco está muito bem. O filme foca mais no quarteto Kirsten Dunst, Wagner Moura, Cailee Spaeny (Priscilla) e Stephen McKinley Henderson (Beau Tem Medo) – lembro do Wagner Moura em Elysium, lá ele parecia “um brasileiro em Hollywood”; aqui ele já está “local”. Jesse Plemons só aparece em uma cena, uma cena bem tensa (que está parcialmente no trailer). Nick Offerman abre o filme, como o presidente dos EUA, mas também aparece pouco.

Filmão. Deve voltar aqui na lista de melhores de 2024.

O Sabor da Vida

Crítica – O Sabor da Vida

Sinopse (imdb): 1885. A cozinheira Eugenie trabalha para o gourmet Dodin há 20 anos. Com o passar do tempo, a admiração mútua gerou um relacionamento amoroso. Eugenie, no entanto, nunca quis se casar com Dodin. Ele decide, então, cozinhar para ela.

Teve um “causo” que viralizou, e como sou “rato de Estação Botafogo”, várias pessoas me encaminharam o vídeo. Funcionários do Estação Net Rio, cinema de rua, fecharam a porta do cinema enquanto ainda estava rolando a última sessão. Quando acabou o filme, os espectadores se viram presos atrás de uma grade e tiveram que chamar a polícia e os bombeiros.

O Grupo Estação, como pedido de desculpas, conseguiu entrar em contato com todos os que ficaram presos naquele dia, e, como pedido de desculpas, ofereceu um passe livre de um ano pra todo o circuito Estação, e ainda uma sessão pré estreia deste O Sabor da Vida, representante francês no Oscar 2024.

Não ganhei o passe livre do Estação, mas pelo menos participei da sessão, com direito a pipoca e várias bebidas liberadas.

Dirigido pelo vietnamita Anh Hung Tran, O Sabor da Vida (La passion de Dodin Bouffant, no original) conta a história de um casal em 1885, onde ambos são excelentes cozinheiros. Eles são namorados, mas ela se recusa a casar. Mesmo assim, são uma dupla em perfeita sintonia. O filme desenvolve bem a relação entre o casal. Mas tive a impressão de que dedica mais tempo de tela com a comida. É um filme que “dá fome”!

Agora, precisamos reconhecer que pouca coisa acontece. Estamos acostumados com outro ritmo, acredito que boa parte do público vai estranhar ver um filme onde quase o tempo todo vemos pessoas cozinhando.

Uma coisa que amplifica essa sensação de estranheza é a ausência de trilha sonora. Não posso afirmar com certeza, mas tive a impressão que só ouvimos trilha não diegética nos créditos finais.

O Sabor da Vida tem vários planos longos. Não sei se podemos chamar de plano sequência, porque são planos onde a câmera fica parada, ou se move muito pouco. Mas são cenas extremamente bem filmadas.

Por fim, uma curiosidade que não entendi na hora, mas depois li a explicação no imdb. Em uma cena, um grupo de amigos se senta à mesa, e todos cobrem a cabeça para comer. Eles estavam comendo um pequeno pássaro chamado ortolan, que, segundo a tradição, quem come precisa cobrir a cabeça com um guardanapo, se debruçar sobre o prato e enfiar o pássaro inteiro na boca de uma vez só.

No fim do filme, deu fome. E curiosidade de saber o que é um “pot au feu”, prato citado no filme.

Desespero Profundo

Crítica – Desespero Profundo

Sinopse (imdb): Personagens de diferentes origens são reunidos quando o avião em que viajavam cai no Oceano Pacífico. Segue-se uma luta de pesadelo pela sobrevivência, com o suprimento de ar se esgotando e os perigos se aproximando por todos os lados.

A sinopse lembra Sharknado. Mas a proposta aqui não tem nada a ver com o trash do SciFi. Não que seja um bom filme, mas aqui pelo menos tentaram fazer um filme sério.

(Sharknado me irrita não por ser um filme trash, mas sim por ser um filme preguiçoso. Além de todo o contexto ilógico de tubarões que voam em vez de serem carregados pelo tornado, ainda tem um monte de cenas mal feitas. Num take, chove torrencialmente; no take seguinte, as calçadas estão secas. Num take, venta muito; no seguinte, não tem vento. Num take, eles estão dentro de uma casa, e a água invade o primeiro andar, água suficiente para ter um tubarão nadando; no take seguinte, eles saem de casa, e está tudo seco em volta)

Mas aqui até que podia funcionar, se tivesse um roteiro e um elenco melhores. Vamulá.

Desespero Profundo é um “drama de sobrevivência”: um avião cai no mar, afunda, e alguns sobreviventes ficam presos numa bolha de ar. E eles precisam descobrir como sair com vida. Filmes assim podem ser muito bons, lembro de A Queda, de dois anos atrás, onde duas amigas ficam presas no alto de uma torre – e todo o filme é isso. Mas em A Queda o roteiro joga elementos aqui e ali e consegue manter a tensão ao longo de toda a duração do filme, e o espectador fica angustiado na beira da poltrona. Já o roteiro de Desespero Profundo causa sono em vez de tensão.

Desespero Profundo é chato. O roteiro é preguiçoso e não traz quase nada de novidades pra incrementar a história. E, pra piorar, todos os personagens são ruins, e todos os atores são igualmente ruins. Tem um tubarão nadando dentro do avião? Que eles morram pelo tubarão ou afogados, ninguém se importa com personagens assim!

Nem tudo é ruim. O acidente do avião, quando uma parte da turbina explode e despressuriza o avião, é bem feito. Ok, não é tão bem feito quanto o de A Sociedade da Neve, mas não faz feio lembrando que este é um filme de baixo orçamento. Se fosse um curta metragem usando esse acidente de avião, seria um filme bem melhor.

Mas é um longa. Mal escrito, mal desenvolvido e mal atuado. Vale mais rever A Queda.

Instinto Materno

Crítica – Instinto Materno

Sinopse (imdb): A vida aparentemente perfeita das amigas Alice e Celine desmorona após um acidente envolvendo um de seus filhos. O que começa como uma tragédia inimaginável acaba transformando a amizade entre elas em um jogo de segredos e mentiras.

O trailer vendia Instinto Materno como um suspense psicológico. Mas o resultado final ficou devendo.

Estreia na direção de Benoît Delhomme, Instinto Materno (Mothers’ Instinct, no original) é a refilmagem de Duelles, filme belga de 2018. Não vi o original, não sei se lá temos algo a mais. Normalmente, os originais europeus são melhores. Mas acredito que seja melhor, ano passado um amigo que mora na Europa tinha me recomendado esse Duelles, mas não achei onde ver aqui.

Acho que são os anos 60, tem um diálogo onde falam dos presidentes americanos, pra situar o espectador sobre qual ano o filme se passa, mas como não entendo de presidentes americanos, não sei qual ano. Enfim, duas famílias, vizinhas, muito amigas. As duas mulheres são amigas, e os filhos, de idades parecidas, são inseparáveis. Mas acontece uma fatalidade e isso abala a amizade.

A gente passa o filme todo pensando quando algo vai sacudir a trama. Um plot twist, uma grande revelação, algo bombástico. Mas nada. O filme é linear, tudo o que acontece é o que aconteceria numa vida normal. Ou seja, o filme acaba sendo chato.

Ok, temos duas grandes atrizes, Anne Hathaway e Jessica Chastain, e ambas estão bem. Mas, nenhuma atuação memorável. Filme linear com atuações lineares.

Quem foi a sessão de imprensa ganhou o livro que deu origem ao filme, e avisaram que a continuação do livro está para ser lançada em breve. Ou seja, o filme deve ter continuação. Mas, boa notícia: a história fecha, não deixa nenhuma ponta solta a ser resolvida num filme que a gente nem sabe se vai existir.

No fim, Instinto Materno não é ruim, mas é decepcionante porque tem cara de telefilme.

Garra de Ferro

Crítica – Garra de Ferro

Sinopse (imdb): Uma família de lutadores que se enfrentam no ringue precisa lidar com uma série de tragédias pessoais.

Bora pro filme do “Zac Efron feio”!

Escrito e dirigido por Sean Durkin, Garra de Ferro (The Iron Claw, no original) conta a história da família Von Erich. Heu não saco nada de luta livre, nunca tinha ouvido falar da família Von Erich. Mas reconheço que é uma história que vale o registro. O Von Erich pai, ex lutador, teve vários filhos, todos acabaram se envolvendo com a luta livre, e boa parte deles teve destinos trágicos. Não vou entrar em detalhes sobre as tragédias, porque pode ser spoiler, mas o filme fala sobre uma suposta “maldição Von Erich”.

(Pelo filme, são quatro irmãos, mais um que morreu criança. Mas, pela trivia do imdb, eram seis no total: Kevin, David, Kerry, Mike e Chris (mais o Jack Jr). Não sei por que o filme não cita o Chris, que segundo a wikipedia, era o caçula, e teria por volta de dez anos no início do filme.)

Garra de Ferro tem personagens ricos e bem construídos, os relacionamentos entre os irmão são bem arquitetados, e o pai super controlador acaba se tornando o grande vilão da história.

O ponto forte aqui são as atuações. Zac Efron surgiu para o mundo com High School Musical, e virou um símbolo para “jovem, talentoso e bonito”. Fez O Rei do Show com o Hugh Jackman, fez Hairspray com John Travolta, Christopher Walken e Michelle Pfeiffer, fez Baywatch com Dwayne Johnson, fez Vizinhos com Seth Rogen, fez 17 Outra Vez com Matthew Perry, entre outros – ele conseguiu criar uma boa carreira “pós sucesso infantil da Disney”. Aqui em Garra de Ferro talvez ele tenha a sua melhor atuação, e duas coisas chamam a atenção. Uma é que Efron está tão forte que de repente podia estar numa cinebiografia do Arnold Schwarzenegger. E a outra é que ele está muito mais feio do que em todo o resto de sua carreira – não sei o quanto é maquiagem e o quanto é resultado de algum procedimento estético que deu errado.

Mas ele não é o único que está bem. Holt McCallany, que normalmente faz coadjuvantes insossos, arrebenta aqui, ele faz o pai vilão, e é uma das melhores coisas do filme. Dois dos irmãos, Harris Dickinson (Triângulo da Tristeza) e Jeremy Allen White (que acabou de ganhar um Emmy pela série The Bear), também estão ótimos (o quarto irmão, vivido por Stanley Simons, é um pouco mais apagado que os outros três). Nos papeis femininos, Lily James está bem, mas nada demais; Maura Tierney tem pouco espaço, mas sua personagem tem alguns ótimos momentos (pena que poucos).

Além disso, a reconstituição de época também é muito boa. O filme se passa no fim dos anos 70 e início dos 80, e toda a parte de roupas e penteados é bem cuidada. A trilha sonora também é boa.

Agora, como “não consumidor de luta livre”, tenho uma crítica. Em uma cena, vemos claramente os supostos opositores combinando os resultados antes da luta. E em outra cena a personagem da Lily James pergunta como funciona um campeonato onde as lutas são combinadas. Faltou algo no filme pra explicar isso. Porque entendo como um show pode (e deve) ser combinado, mas uma competição combinada não tem como ter um campeão.

Não sei por que a produção não tentou indicações ao Oscar. Acho que Zac Efron tinha chances…