The Outfit

Crítica – The Outfit

Sinopse (imdb): Um alfaiate especializado deve vencer um perigoso grupo de gângsteres para sobreviver a uma noite fatídica.

A sinopse e o cartaz me sugeriram algo na linha de Kingsman, mas a única semelhança é na ambientação. Kingsman tem muita ação e muito humor, e aqui não tem nada disso. Na verdade The Outfit parece mais um teatro filmado, afinal quase tudo as passa dentro de um único cenário, e quase tudo se passa no mesmo dia.

Estreia na direção de Graham Moore, que ganhou o Oscar de melhor roteiro adaptado por O Jogo da Imitação, The Outfit não é um grande filme, mas tem pelo menos dois trunfos: um ator principal inspirado; e um roteiro cheio de plot twists.

Mark Rylance (Ponte dos Espiões, Jogador Nº 1) está muito bem conduzindo o filme. Ok, seu personagem lembra o de Ponte dos Espiões (que inclusive lhe deu um Oscar) – um cara misterioso, de poucas palavras. Mas isso funciona perfeitamente no formato proposto, porque nem tudo é o que parece ser. Também no elenco, Zoey Deutch, Dylan O’Brien, Johnny Flynn, Simon Russell Beale e Nikki Amuka-Bird.

Aproveito para falar do roteiro. Quase tudo se passa em um único dia (ou noite, não sabemos). Eventos acontecem fora do atelier, mas toda a ação é interna. E tudo é baseado nos diálogos e no entra e sai de personagens. Quem espera muita ação talvez não goste, mas quem gostar de bons diálogos vai ser recompensado com alguns plot twists bem encaixados.

The Outfit ainda tem uma boa ambientação no atelier do alfaiate e uma boa trilha sonora de Alexandre Desplat. Um bom filme “pequeno”.

No Ritmo do Coração

Crítica – No Ritmo do Coração

Sinopse (imdb): Ruby é a única pessoa ouvinte em sua família surda. Quando o negócio de pesca da família é ameaçado, Ruby fica dividida entre o amor pela música e o medo de abandonar seus pais.

Não me lembro por que, mas perdi esse No Ritmo do Coração quando passou nos cinemas. Pra minha sorte, o filme está indicado ao Oscar de melhor filme, então procurei pra ver. E preciso dizer: que filme gostoso!

Escrito e dirigido por Sian Heder, No Ritmo do Coração é a refilmagem do francês A Família Bélier – que ainda não vi, então não posso comparar. Mas pelo que li, a história é semelhante.

O nome original do filme é “Coda”, que é um símbolo musical colocado em partituras, que é para marcar o fim da música – e também um disco coletânea do Led Zeppelin. Mas descobri que tem outro significado, mais a ver com o tema do filme: “Child of Deaf Adults”, ou “Filho de Adultos Surdos” – esse significado tem tudo a ver com o filme.

Li no imdb que o original francês teve problemas com a comunidade dos surdos por usar atores não surdos. Isso não acontece aqui, em No Ritmo do Coração os três personagens são realmente surdos na vida real. Inclusive a mãe é interpretada por Marlee Matlin, que ganhou o Oscar de melhor atriz em 1987 por Os Filhos do Silêncio.

Já que falamos do elenco, precisamos citar a protagonista Emilia Jones, que está ótima. Ela passou 9 meses tendo aulas de sinais de linguagem, de canto, e de pesca. E ela realmente convence. O resto do elenco era de desconhecidos para mim, com uma única exceção: Ferdia Walsh-Peelo, que era o protagonista de outro “feel good movie”: Sing Street.

No Ritmo do Coração é daquele tipo de filme que a gente vê com um sorriso no rosto e sai feliz da sessão. É um filme leve, divertido e agradável. Os personagens são ótimos, e a família dos surdos tem algumas tiradas engraçadíssimas.

Não é um musical, é um “filme de música” – a música faz parte da trama, mas não tem personagens que de repente começam a cantar e dançar no meio de um diálogo. E o filme tem pelo menos dois momentos musicais muito bons. Um deles é quando a protagonista finalmente vai cantar a música que ela passa boa parte do filme ensaiando, e de repente vemos a cena pelo ponto de vista da sua família: sem som! E a música da parte final é deliciosa! Quando ela canta e faz os sinais de linguagem ao mesmo tempo, essa cena arrepia!

No Ritmo do Coração está concorrendo a 3 Oscars: melhor filme, melhor roteiro adaptado e melhor ator coadjuvante para Troy Kotsur (o pai). Não sei se tem o perfil de ganhar Oscars, mas achei bem legal o filme ser lembrado pela academia!

Clean

Crítica – Clean

Sinopse (imdb): Assombrado pelo seu passado, um homem sujo chamado Clean tenta uma vida calma de redenção. Mas logo se vê obrigado a aceitar a violência do seu passado.

Clean é um filme difícil de classificar. É muito violento para um drama, e ao mesmo tempo muito lento para um filme de ação. Me lembrei dos filmes do Nicolas Winding Refn (Drive, Apenas Deus Perdoa) – com o agravante de não ter o visual elaborado dos filmes do diretor dinamarquês (não curto os filmes dele, mas reconheço que são filmes com visual caprichado).

Conheço pouco da obra do diretor Paul Solet (só vi O Mistério de Grace), mas Clean me pareceu ser um projeto do ator Adrian Brody, que além de protagonizar, produziu, escreveu o roteiro e ainda colaborou com a trilha sonora. A sensação que fica é que Brody queria fazer o seu John Wick. Pena que o resultado final ficou devendo.

Revendo minhas anotações de mais de dez anos atrás sobre O Mistério de Grace, constatei um problema semelhante: um filme lento, com pouca história para contar. E Clean ainda tem outro problema; o roteiro usa uma fórmula extremamente previsível. A gente já sabe como vai ser o desfecho do filme.

Se salvam a atuação de Brody e algumas coreografias de luta. Mas é pouco.

A Última Noite

Crítica – A Última Noite

Sinopse (imdb): Nell, Simon e o seu filho Art estão prontos a acolher amigos e familiares para o que promete ser uma reunião de Natal perfeita. Perfeito exceto por uma coisa: todos vão morrer.

Fiquei na dúvida se valia fazer um texto sobre esse filme. Mas fiquei tão bolado com o fim dele que preciso botar pra fora. Vamulá.

Em primeiro lugar, preciso falar que achei que veria um filme completamente diferente. A gente lê a sinopse e vê o poster, e lê no imdb que é terror – achei que iria ver um filme na onda de Ready or Not, uma família rica com hábitos estranhos e mortais. Que nada. A Última Noite passa longe do terror, é um drama pesado. O único terror aqui é o da morte de pessoas próximas.

(Li algumas críticas que falam sobre comédia. Outra coisa errada. A Última Noite tem alguns diálogos engraçados, mas passa longe da comédia.)

Escrito e dirigido pela estreante Camille Griffin, A Última Noite (Silent Night, no original) é um drama sobre amizades e despedidas. Olhando sob este ângulo, é um bom filme, que se baseia basicamente nas interações entre os personagens, suas amizades e suas rixas, tudo dentro do mesmo cenário que é a casa

O elenco é muito bom. Keira Knightley (Piratas do Caribe) e Matthew Goode (Watchmen) fazem os pais e anfitriões da festa, e Roman Griffin Davis, o Jojo Rabbit, é Art, o garoto principal. Também no elenco, Annabelle Wallis, Lily-Rose Depp, Sope Dirisu, Lucy Punch, Rufus Jones e Kirby Howell-Baptiste. O roteiro consegue construir bons personagens e equilibrar bem as cenas entre eles.

(Curiosidade: a diretora Camille Griffin é mãe do protagonista Roman Griffin Davis e de seu irmãos gêmeos, Hardy e Gilby Griffin Davis.)

Preciso falar do fim, mas antes, os avisos de spoilers:

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

Ao longo do filme a gente descobre que existe uma nuvem tóxica se espalhando pelo planeta, e que vai matar todo mundo, de maneira lenta e dolorosa. E o governo distribuiu “pílulas de suicídio”, para que as pessoas possam morrer rapidamente e sem dor.
Perto do fim do filme, o garoto Art foge e encontra um carro com pessoas mortas. Ele se desespera com a situação, e neste momento, tem uma nuvem de poeira tóxica, e ele acaba respirando. O pai o encontra, e acha que o problema é o nervosismo por ter visto o carro com as pessoas mortas. O pai traz o garoto de volta pra casa, e, juntos no quarto, a mãe descobre que o filho está doente porque seus olhos e nariz estão sangrando. O pai e a mãe se desesperam, achando que o filho já morreu, e todos tomam a pílula da eutanásia para morrerem abraçados. E aí você pensa que o filme acabou. Um final triste mas coerente, a família morta abraçada. Mas, no último take do filme, o garoto abre os olhos!

Essa cena mexeu comigo. O garoto está vivo! São duas as opções, segundo a minha interpretação. Uma delas é que ele está doente, e agora vai morrer lentamente, sozinho, porque toda a sua família morreu. A segunda opção é que era uma mentira do governo, e que a fumaça não é tão tóxica assim, então todos morreram à toa.

Independente de qual opção, o futuro do menino será terrível. E desde que acabei o filme não consigo tirar isso da cabeça!

FIM DOS SPOILERS!

A minha ideia inicial era ter visto A Última Noite a tempo de escrever este texto para um post de Natal. Que bom que me enrolei e deixei pra ver o filme depois. Não ia querer um filme tão pesado para o Natal.

Casa Gucci

Crítica – Casa Gucci

Sinopse (imdb): Quando Patrizia Reggiani, uma mulher humilde, casa-se com um membro da família Gucci, a sua ambição desenfreada começa a desvendar o seu legado e desencadeia uma espiral de traição, decadência, vingança e finalmente homicídio.

Mês passado falei aqui de O Último Duelo, filme novo do octogenário Ridley Scott. E, olha só, mais um filme do Ridley Scott em cartaz nos cinemas!

Pena que, na minha humilde opinião, o resultado aqui ficou bem abaixo daquele. Vamulá.

Casa Gucci (House of Gucci, no original) segue o livro The House of Gucci: A Sensational Story of Murder, Madness, Glamour, and Greed, de Sara Gay Forden. Preciso admitir que não só não li o livro, como nem sabia do caso. Assim, não tenho ideia de quanto do que vemos na tela é história real e o quanto foi romantizado.

Casa Gucci é um belo filme. Boas locações, belos figurinos, boa reconstituição de época, atuações inspiradas. Mas… Não empolga. Digo mais: com duas horas e trinta e sete minutos de duração, o filme cansa.

O grande destaque são as atuações. O elenco é ótimo, e todos estão bem – acho que o único que está apenas ok é o protagonista Adam Driver. Lady Gaga, Al Pacino e Jeremy Irons estão ótimos. E Jared Leto consegue estar um degrau acima.

Jared Leto está irreconhecível. Não vi o trailer antes, não tinha visto nada sobre o filme, vou confessar que não o reconheci durante o filme. Quando começaram os créditos, a surpresa: como assim Leto é o Paolo Gucci? Quase deu vontade de rever o filme só pelas suas cenas. Uma indicação ao Oscar é algo quase certo.

Mas, o filme é longo e chato, a gente fica esperando, e a história não decola nunca. Além disso, algumas coisas ficaram meio abruptas, como por exemplo a separação do casal, que veio meio de repente. Me parece que o roteiro poderia ter uma lapidada melhor.

Ah, e tem uma cena que vai gerar risadas nos cinemas brasileiros, mas pelos motivos errados. Uma personagem fala que a música lhe traz recordações de Ipanema, e diz que vai dançar salsa por isso…

Tem gente reclamando dos sotaques. Todos falam inglês, com sotaque de italiano. Sim, ficou estranho, talvez fosse melhor se os atores falassem em italiano. Mas… Isso é meio padrão em filmes hollywoodianos, então não vejo muito sentido de reclamar só aqui.

No fim, fica a sensação de que esse elenco merecia um roteiro melhor.

Pig

Crítica – Pig

Sinopse (imdb): Um caçador de trufas que vive sozinho, isolado no Oregon, deve retornar ao seu passado em Portland em busca de sua amada porca depois que ela foi sequestrada.

Nos últimos anos, Nicolas Cage tem feito dezenas de filmes ruins. Parece que o cara se especializou nisso. Dá até pra pinçar um ou outro no meio de tanto lixo, mas são sempre filmes esquisitões, filmes como o lovecraftiano A Cor que Veio do Espaço, ou Mandy, filme que gosto bastante, mas que é completamente fora da curva – e que combina com a atuação over acting que virou marca registrada de Cage.

Aí apareceu esse Pig, primeiro longa dirigido por Michael Sarnoski (que também é o roteirista) . E tem um monte de gente elogiando, tem gente até dizendo que é a melhor atuação da carreira dele. Ok, bora ver.

Quase sempre prefiro comentários sem spoilers, mas acho que poucas pessoas vão ver este filme. Então vou colocar um aviso de spoilers no momento certo, pra fazer um comentário sobre o final do filme.

A sinopse lembra John Wick, que começou sua jornada de vingança porque mataram seu cachorro. Mas Pig não tem nada a ver com John Wick. Não é um filme de ação, é nem sei se podemos chamar o que acontece de vingança.

Pig é um drama, lento, quem estiver esperando correria melhor catar outro filme. Nic Cage faz um cara esquisitão, como sempre, mas, diferente do habitual, aqui ele está contido. Sua atuação é introspectiva, ele fala pouco, quase tudo está no olhar. É um personagem que nitidamente desistiu das convenções sociais, vive sujo, vive largado, dentro daquele mundinho particular que ele construiu com sua porca.

Aos poucos a gente começa a confrontar o passado do personagem, e começamos a entender o que está se passando. Mas, repito, tudo é muito lento, cenas longas e contemplativas. Provavelmente vai desagradar os fãs da fase atual da carreira do ator.

Gostei muito da resolução final, nem sei se podemos chamar de plot twist, mas digo que gostei de como o personagem encerrou a história. Mas, um detalhe me incomodou, então vamos aos avisos de spoilers:

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

Logo no início do filme, quando a porca é sequestrada, o cara se machuca, e fica sujo de sangue. E ele segue o filme inteiro sem se limpar. Ok, coerente com um personagem que não se importa com convenções sociais. Mas, ao longo do filme a gente descobre que ele foi um grande cozinheiro, um chef famoso, que largou tudo e foi pro meio do mato. E quando descobre que sua porca morreu, sua vingança é fazer um prato específico para o cara responsável pela sua morte, um prato que vai lhe trazer lembranças dolorosas, uma espécie de Ratatouille ao contrário. Ele atinge o seu oponente pela memória afetiva ligada àquele prato específico. Genial, não?

Agora, ele continua imundo e sujo de sangue. Na boa, um cozinheiro sujo de sangue foi uma coisa que me incomodou. Ele podia ter se limpado para aquele momento.

FIM DOS SPOILERS!

Tem gente apostando em uma indicação ao Oscar pro Nicolas Cage por causa deste filme. Ele está bem, mas acho que Oscar é um exagero. Também no elenco, Alex Wolff (Tempo) e mais uns rostos desconhecidos.

Recomendado pra quem curte filmes contemplativos.

Na Mira do Perigo

Crítica – Na Mira do Perigo

Falei aqui outro dia sobre Legado Explosivo, novo filme genérico do Liam Neeson. E, olha lá, já tem mais um genérico!

Sinopse (imdb): Um fazendeiro na fronteira do Arizona se torna o improvável defensor de um jovem mexicano que foge desesperadamente dos assassinos do cartel que o perseguiram até os EUA.

Muita coisa que falei naquele texto sobre Legado Explosivo pode ser repetida aqui, porque o Liam Neeson está num loop, se repetindo no mesmo estilo de coroa badass. Mas, não me canso de repetir, é um grande ator, com um currículo invejável. Antes de assumir a carreira de action hero da terceira idade, concorreu ao Oscar por A Lista de Schindler, concorreu 3 vezes ao Globo de Ouro (Schindler, Michael Collins e Kinsey), e ainda fez um monte de filmes de ação blockbuster, como Star Wars, Batman, Esquadrão Classe A e Fúria de Titãs.

Claro que o personagem Jim parece os últimos personagens do Liam Neeson. Agora, se a gente tiver um pouco de boa vontade, podemos ver alguns traços de Clint Eastwood no filme. O diretor Robert Lorenz não tem um currículo grande como diretor, esse é o seu segundo filme (e o primeiro foi estrelado pelo próprio Eastwood), mas no imdb, a gente vê que ele tem uma parceria de longa data com Eastwood. Em pelo menos dez filmes dirigidos pelo Clint Eastwood, o Robert Lorenz trabalhou como produtor ou assistente de direção. Ou seja, com um pouco de boa vontade a gente pode imaginar que esse papel cairia bem num Clint Eastwood de uns vinte anos atrás (Eastwood está com com 91 anos; Liam Neeson é 22 anos mais novo, mais coerente com o papel).

(Aliás, um parênteses rápido. O personagem se chama Jim Hanson. Sério que ninguém lembrou do Jim Henson, criador dos Muppets?)

Aproveitando que falei do elenco, acho que o único outro nome a ser citado é o de Katheryn Winnick, famosa pela série Vikings. O garoto Jacob Perez não é bom, mas também não atrapalha.

Teve uma cena que me incomodou. Mas antes, o aviso de spoiler!

SPOILERS!

SPOILERS!

SPOILERS!

O cara tá endividado, com problemas de grana, e queima o dinheiro do cartel??? Quem queimaria dinheiro, ainda mais endividado???

FIM DOS SPOILERS

O filme segue dentro do previsível. É genérico, mas não é ruim, pode agradar quem está atrás de novidades, nesses tempos tão difíceis de bons lançamentos.

Bela Vingança

Crítica – Bela Vingança

Sinopse (imdb): Uma jovem, traumatizada por um trágico acontecimento de seu passado, busca vingança contra aqueles que cruzaram seu caminho.

Preciso dizer que o nome em português me afastou desse filme. A distribuidora claramente quis linkar o filme a outros títulos onde uma mulher se vinga dos seus agressores, como Doce Vingança ou Vingança. Até curto filmes assim, mas deixei de lado, “um dia vejo”.

Aí vi Bela Vingança na lista dos 5 indicados a Globo de Ouro de melhor filme drama. Péra, deve ter algo a mais com esse filme. You had my curiosity, now you have my attention!

Realmente. Bela Vingança (Promising Young Woman, no original) não segue a linha dos filmes citados antes. Sim, tem uma mulher se vingando de homens, mas é outro tipo de vingança. No filme escrito e dirigido pela estreante Emerald Fennell, ela vai pra balada, finge que está bêbada, espera um cara abordá-la pra se aproveitar, vai pra casa com o cara, e aí ela entra em ação.

Se tem uma coisa que, pra mim, não funcionou nesse filme, é que acho que ela se arrisca muito. Vejo fácil fácil um cara desses – muito maior e mais forte – dando uns tapas nela só por ter sua masculinidade “ameaçada”.

Mesmo assim, achei a abordagem muito boa. É bem mais fácil de acreditar do que filmes que focam em “homens maus” e mulheres com vinganças cheias de pirotecnias. De repente o cara que é alvo da protagonista não é exatamente um mau caráter, mas, sabe a expressão “a ocasião faz o ladrão”? Será que ele continua assim se aparecer uma “oportunidade”? Acabou o filme e fiquei imaginando que esse tipo de coisa deve acontecer muito por aí.

(Li no imdb que o título original “Promising Young Woman” é uma referência a uma citação de um caso de um universitário de Stanford, acusado de agredir sexualmente uma mulher em 2016. Falavam na época que ele era um “promising young man” – ou seja, segundo essa lógica, se ele tem um futuro pela frente, a gente pode ignorar se ele for um cometer um crime?)

O elenco é fantástico. Carey Mulligan está perfeita – tanto que concorreu ao Globo de Ouro e agora concorre ao Oscar. Mas não só ela, outros atores conhecidos aparecem em papeis menores, e todos estão bem: Clancy Brown, Jennifer Coolidge, Laverne Cox, Alison Brie, Christopher Mintz-Plasse, Connie Britton, Molly Shannon, Adam Brody. Ouvi gente criticando o Bo Burnham, que é o par romântico, porque o filme resvala num clima de comédia romântica. Mas gostei da atuação dele, e gostei de como isso é inserido no filme e ajuda o desenvolvimento da personagem principal.

O final não é o previsível. Vai desagradar muita gente. Mas heu gostei do final assim, um final desconfortável, que te deixa pensando depois.

Bela Vingança concorreu a 4 Globos de Ouro: melhor filme drama, roteiro, atriz e direção. 4 indicações dentre as mais importantes, mas não ganhou nenhum. E ontem saíram as indicações ao Oscar, Bela Vingança está concorrendo a 5 estatuetas, filme, roteiro, atriz e direção, e também edição. Não acho que tenha o perfil de ganhar melhor filme, mas ano passado ninguém achava que Parasita tinha o perfil, então, aguardemos.

Cherry

Crítica – Cherry

Opa! Pára tudo! Filme novo dos Irmãos Russo, estrelado pelo Homem Aranha Tom Holland?

Sinopse (imdb): Cherry abandona a faculdade e se torna médico do exército no Iraque – ancorado apenas em seu verdadeiro amor, Emily. Mas depois de retornar da guerra com o Transtorno de Estresse Pós Traumático, sua vida se transforma em drogas e crime enquanto ele luta para encontrar seu lugar no mundo.

Pra quem não ligou os nomes às pessoas. Anthony e Joe Russo eram diretores de seriados pra TV, até que foram contratados pela Marvel e dirigiram quatro dos filmes mais conceituados de todo o MCU: Capitão América Soldado Invernal, Capitão América Guerra Civil, Vingadores Guerra Infinita e Vingadores Ultimato. Atualmente, eles simplesmente são os responsáveis pela maior bilheteria da história do cinema. Claro que o seu novo filme seria um projeto aguardado. “O que será que eles conseguem fazer sem as limitações de um grande estúdio?”

(Não estou criticando a Marvel, mas é um fato: o MCU é um projeto gigante, onde um diretor deve ter limitações criativas. E, ao ver o resultado do MCU, não tem como achar que isso é um erro. Tem que existir espaço pra “cinema de autor”, mas também para “cinema de produtor”.)

Cherry – Inocência Perdida (Cherry, no original) é esse projeto. Adaptação do livro homônimo de Nico Walker, que conta uma história baseada na sua vida, de como um jovem veterano de guerra se afundou nas drogas e depois virou assaltante de bancos. Detalhe: Walker escreveu o livro na prisão. Mas, pelo que li, o livro não é uma autobiografia, é apenas um personagem baseado na sua experiência de vida.

Mas, me parece que os Irmãos Russo queriam experimentar, e nem tudo funcionou. O filme passeia por estilos diferentes, mas isso nem me incomodou. O que achei ruim mesmo foi a experimentação, a narrativa às vezes parece meio bagunçada. O formato de tela muda, às vezes aparecem textos na tela, de vez em quando tem quebra de quarta parede… Além disso, o filme é longo demais (2h21min), e algumas partes são bem arrastadas, principalmente no início.

Mesmo assim, vale, nem que seja pela atuação do Tom Holland. Ele convence em todas as fases do personagem – inclusive li no imdb que ele perdeu 13 kg pra uma parte do filme.

Ah, Cherry não tem nada a ver com filmes de super heróis, mas ter diretores com experiência em filmar ação foi muito bom pra certas partes do filme. Toda a parte da guerra é extremamente bem filmada.

Outra coisa que gostei foi o humor sutil, tanto em nomes dos bancos (Shitty Bank, Capitalist One, Bank Fucks America, Credit None), quanto até em nome de personagem – um dos personagens se chama “Pills and Coke”, algo como comprimidos e cocaína.

No fim, Cherry até vale, mas fica a sensação de que os Irmãos Russo ainda estão devendo um bom trabalho fora do MCU.

A Maldição da Mansão Bly

Crítica – A Maldição da Mansão Bly

Sinopse do imdb: Após a trágica morte de uma au pair, Henry contrata uma jovem babá americana para cuidar de sua sobrinha e sobrinho órfãos que moram na Mansão Bly com o chef Owen, a zeladora Jamie e a governanta Sra. Grose.

A Maldição da Mansão Bly é a segunda temporada de uma série, mas é uma segunda temporada atípica, porque não tem nada a ver com a primeira, que é A Maldição da Residência Hill. Por isso, antes de falar de Mansão Bly, vou falar um pouco de Residência Hill. E antes de falar da Residência Hill, preciso falar do seu criador, Mike Flanagan.

Vi quase todos os filmes do Mike Flanagan (só falta Ouija a Origem do Mal, preciso consertar isso). Pra ninguém dizer que sou modinha, olhem o que escrevi no heuvi em maio de 2012, quando vi Absentia: “Mike Flanagan, o tal diretor / roteirista / editor, conseguiu um resultado impressionante com o seu Absentia. Fiquemos de olho no nome de Mike Flanagan!”.

Mike Flanagan é um cara legal, talentoso, todos os filmes dele são legais, mas nenhum é “obrigatório”. Doutor Sono, continuação d’O Iluminado, é um filme legal, mas, caramba, não dá pra comparar com o filme do Kubrik! E gosto de Jogo Perigoso, O Espelho e Hush A Morte Ouve, mas são filmes “menores” (de todos os filmes dele, acho que só não gostei de O Sono da Morte). O Mike Flanagan é tipo um aluno que nunca tira 10, mas tá sempre tirando 7 e 8 – você sabe que vai ver algo de qualidade, mas falta um pouco pro cara ser um dos “grandes”.

Até que ele fez a Residência Hill, e finalmente ele tem um “dez”.

A Maldição da Residência Hill é simplesmente fantástico. A ambientação da casa, os personagens, o elenco, a trilha sonora, tudo funciona direitinho. Foi um dos melhores filmes (minissérie?) que vi ano passado. Digo mais: sou burro velho com relação a filmes de terror, e teve um jump scare que me pegou – o do carro. Digo mais de novo – tem um episódio em plano sequência!

Claro que fiquei empolgado com a “continuação”. As aspas são porque sim, é uma nova temporada, mas é uma história completamente diferente.

Residência Hill foi baseado no livro homônimo escrito por Shirley Jackson (que teve uma adaptação meia bomba em 99, chamada A Casa Amaldiçoada, do Jan de Bont e com a Catherine Zeta Jones, Liam Neeson, Lili Taylor e Owen Wilson) (Residência Hill é baseado, mas é uma história diferente da que tá no livro). A história fechou, não tem como continuar. Então, a A Maldição da Mansão Bly é outra adaptação, de outro livro, A Volta do Parafuso, de Henry James (que curiosamente teve outra adaptação, pros cinemas, lançada no início deste ano, o filme Os Orfãos – que é beeem fraco, e tem um final péééssimo).

Mansão Bly é uma história completamente diferente, mas tem pontos em comum com Residência Hill. Não só parte do elenco está de volta, como a produção consegue ter todo um clima parecido, apesar de serem mansões diferentes. Até a trilha sonora se repete!

Assim como Residência Hill, a linha temporal não é linear. E aqui tem um detalhe que achei bem legal – tem um flashback dentro de um flashback que é colocado no ponto certo da trama, e só naquele episódio, não precisa ficar indo e voltando.

O elenco traz 5 dos 8 nomes principais da Residência Hill. Victoria Pedretti, Oliver Jackson-Cohen e Henry Thomas estão entre os personagens principais; Carla Gugino é a narradora; Kate Siegel tem um papel menor, mas importante. (Pra quem não ligou o nome à pessoa, Henry Thomas é o garotinho do ET). De novidade, gostei muito da Amelia Eve, tanto da atriz quanto da personagem. Rahul Kohli, T’Nia Miller e Tahirah Sharif também estão bem. E ainda preciso falar das duas crianças, Amelie Bea Smith e Benjamin Evan Ainsworth. Os dois são muito bons. O garoto tem mudanças na personalidade (que são explicadas no roteiro), e o ator convence. E a menininha… Olha, vou te falar que se tem uma coisa que acho assustadora em filme de terror, é garotinha com sotaque britânico. Perfectly Splendid!

Agora, o fato de Mansão Bly ser continuação de Residência Hill é um problema. Porque achei Residência Hill bem melhor. Mansão Bly tem alguns momentos sonolentos. Li uma crítica que disse que Mansão Bly perde pontos por ser “menos terror”. Não gosto de me fechar em rótulos, pode ser terror, drama, comédia, aventura, desde que seja bom. E parece que o Mike Flanagan voltou pra média 7 ou 8.

Mesmo assim, é uma boa minissérie. E agora aguardemos a terceira temporada. Qual será o livro que vai ser adaptado?