A Travessia

A Travessia-posterCrítica – A Travessia

Em 1974, o equilibrista Philippe Petit recruta um time de pessoas para ajudá-lo a realizar seu sonho: atravessar os topos das duas Torres Gêmeas do ainda em construção World Trade Center.

Robert Zemeckis sempre vai morar no meu coração por ter dirigido De Volta Para o Futuro. Mas a gente não pode esquecer que ele fez um monte de outras coisas boas, e, entre elas, ganhou o Oscar de melhor diretor em 1995 por Forrest Gump. A Travessia lembra bastante o formato de seu filme oscarizado: temos um personagem contando uma história fascinante. A diferença é que Forrest Gump era um personagem fictício, enquanto Philippe Petit é real.

Ok, a gente não sabe se tudo aquilo mostrado no filme aconteceu de verdade, mas o fato é: em 74, enquanto as Torres Gêmeas ainda não estavam prontas, Petit prendeu um cabo entre os dois prédios e protagonizou talvez o número de equilibrismo mais famoso da história – tanto que virou um documentário em 2008, que chegou a ganhar o Oscar, O Equlibrista (Man on Wire).

O filme é narrado pelo próprio Petit, interpretado por Joseph Gordon-Levitt, que começa contando seu passado de uma forma meio didática. O ritmo melhora quando Petit vai para Nova York, e a narrativa de A Travessia passa a se assemelhar com os “filmes de roubo” e seus planos mirabolantes. Falando em Joseph Gordon-Levitt, ele fala com sotaque francês, e isso me fez pensar por que nas produções nacionais nunca pensam nisso… Também no elenco, Ben Kingsley, Charlotte Le Bon e James Badge Dale.

Ah, o 3D. Quem me conhece sabe que só admiro o 3D em raríssimas ocasiões, como A Invenção de Hugo Cabret. Pois bem, A Travessia é um desses casos. Zemeckis consegue efeitos especiais ao mesmo tempo discretos e impressionantes, onde o 3D finalmente faz diferença!

Ainda sobre os efeitos: fiquei curioso pra saber mais sobre a cena da travessia. Claro que são efeitos, o World Trade Center nem existe mais. Mas queria saber o quanto daquilo é cgi, será que Gordon-Levitt aprendeu a andar na corda bamba?

Bem, o que importa é que o filme tem cenas de tirar o fôlego. Quem tem medo de altura deve pensar duas vezes antes de ir ao cinema.

Evereste

everesteCrítica – Evereste

Sabe quando um filme promete e não cumpre?

Uma expedição até o Monte Evereste é atacada por uma tempestade de neve. Baseado em uma história real.

Dirigido por Baltasar Kormákur (Dose Dupla), Evereste (Everest, no original) é uma propaganda enganosa, pelo menos sob dois aspectos:

1- O cartaz do filme fala sobre uma história inacreditável. Mas o mesmo cartaz avisa: “o lugar mais perigoso da Terra”, e logo no início do filme lemos um texto que fala que no início, a cada quatro alpinistas que subiam, um morria. Ora, alguém morrer no Everest não é algo inacreditável!

2- O filme se vende como uma história emocionante. E não é. O cara tá preso lá em cima, no meio da tempestade, mas em vez do filme focar nisso, ficamos vendo sua esposa grávida, em casa, chorando por ele. Pô, se vou ver um filme que mostra perrengues na escalada do Evereste, quero ver esses perrengues! O filme mediano Limite Vertical, de 2000, em sua cena inicial, de apenas três minutos, mostra mais tensão do que todos as duas horas de Evereste.

Pena, porque o elenco é excelente (Jason Clarke, Josh Brolin, Jake Gyllenhaal, Keira Knightley, Emily Watson, Sam Worthington, Robin Wright, Elizabeth Debicki, John Hawkes), assim como o visual do filme é belíssimo. Temos takes aéreos sensacionais – e tudo é digital, é impressionante como é alta a qualidade do cgi hoje em dia.

Mas no fim, fica a decepção. Não exatamente por ter visto um filme ruim, mas por saber que tinha potencial para ser muito melhor.

Love

Love-Poster2Crítica – Love

E vamos à “polêmica da vez”!

Um americano, estudante de cinema, morando em Paris, e sua namorada francesa, resolvem convidar a vizinha para um ménage, mas a vizinha acaba grávida.

Filme novo de Gaspar Noé, Love é o filme polêmico do ano. Afinal, não é qualquer um que tem a coragem de levar sexo explícito para Cannes!

Gaspar Noé já tinha “causado” em Cannes quando lançou Irreversível, filme que conta com duas cenas violentíssimas – uma delas é provavelmente o estupro mais incômodo da história do cinema. Irreversível tinha uma cena de sexo explícito (logo antes de Monica Belucci sair da festa, ela entra num quarto onde tem gente transando), mas era uma cena rápida e sem importância. Agora, em seu novo filme, o sexo explícito é o protagonista – tanto que existe um poster do filme onde vemos um pênis ejaculando.

Vamos ao que funciona. Noé foi eficiente ao desconstruir a linha temporal de Love – os eventos não são mostrados em ordem cronológica, mas conseguimos acompanhar o desenrolar da trama sem problemas. Outro ponto positivo é a fotografia: temos takes belíssimos durante as cenas de sexo. Não gostei do ator Karl Glusman, mas reconheço que o trio composto por ele, Aomi Muyock e Klara Kritin funciona bem para o que o filme pede. A trilha sonora também é boa.

Mas isso tudo não consegue esconder um problema básico: não existe uma história a ser contada! O próprio Noé admitiu que seu roteiro tinha apenas sete páginas. E aí vem a constatação: sem as cenas de sexo, Love não se vende.

(Um dia hei de ver um filme convencional com cenas de sexo explícito que se sustente sem essas cenas. Todos os que conheço só chamaram a atenção por causa das cenas explícitas).

E o pior é que, se como filme convencional, Love é fraco, como pornô é mais fraco ainda. Como comentou um crítico amigo meu, só serve para o cara solteiro que quiser tentar uma chance com aquela amiga cinéfila fã de filme cabeça…

Mas temos que reconhecer que Noé conseguiu de novo. Assim como IrreversívelLove conquistou seu espaço na história do cinema. Pena que foi mais pela polêmica do que pelo cinema.

p.s.: Ah, o 3D. Nem precisa falar que é desnecessário né? E parece que só rola o 3D para ter a cena óbvia, aquela que a gente imagina quando pensa em “pornô” e “3D”…

Thanatomorphose

0-ThanatomorphoseCrítica – Thanatomorphose

“Thanatomorphose” é uma palavra de origem grega, usada para descrever os sinais visíveis de decomposição de um organismo causados pela morte. Um dia, uma mulher acorda e descobre que seu corpo está apodrecendo.

Nem me lembro de onde veio a indicação para ver este Thanatomorphose, escrito e dirigido por Éric Falardeau em 2012. Acho que seu heu lembrasse, xingaria a pessoa que me indicou.

Thanatomorphose parece um portfólio para demonstrar técnicas de maquiagem. A maquiagem do gore é muito bem feita, em todas as etapas da doença da protagonista. Nisso, o espectador não tem o que reclamar. Mas um filme precisa de mais do que isso. Uma história a ser contada é algo importante…

Thanatomorphose não tem história. É basicamente a evolução de uma doença (não explicada) e seus efeitos na protagonista. O fato de se passar o tempo todo dentro do apartamento dela ajuda o ritmo arrastado.

A atriz principal, Kayden Rose, nem é muito bonita, mas deve ter ganhado um fã clube com este filme – ela aparece nua durante boa parte do filme. Seu co-protagonista Davyd Tousingnant por sorte aparece pouco – é um ator muito ruim.

O resultado final é um filme escatológico e chato. Ou seja, só recomendado para poucos.

Maggie: A Transformação

MaggieCrítica – Maggie: A Transformação

Arnold Schwarzenegger e zumbis! Será que pode dar errado?

Sim…

Uma adolescente é infectada em uma epidemia que lentamente transforma as pessoas em um zumbis comedores de carne humana. Durante sua transformação, seu pai permanece ao seu lado.

Bem, respondo logo sobre a pergunta do primeiro parágrafo: Sim, tem o Arnoldão no papel principal. E sim, tem zumbis. Mas Maggie: A Transformação é um drama, não tem nada de terror, nem nada de ação. No máximo, uma maquiagem bem feita – mas discreta, para os padrões walkindeadianos atuais.

Maggie até tem uma proposta interessante: mostrar o lado humano por trás de uma epidemia de zumbis. Imagine que aconteceu o famoso apocalipse zumbi, mas que as autoridades controlaram a “doença”. Muita gente morreu, muita gente ainda pode ser infectada, mas a sociedade não entrou em colapso. O filme foca num um pai teve sua filha infectada. Ele sabe que provavelmente ela irá morrer (médicos tentam controlar a infecção), mas ele não quer abandoná-la.

Dirigido pelo estreante Harry Hobson, Maggie tem cacoetes de cinema independente, como muita câmera na mão, muitas imagens contemplativas… O filme é leeento… Schwarzenegger está na produção do filme, provavelmente ele optou por fazer algo diferente do habitual (desde que deixou a carreira política, ele só tinha feito filmes de ação), provavelmente pensou que isso seria uma boa para a sua carreira.

Mas, na minha humilde opinião, foi um grande erro estratégico. O público que apreciaria um filme destes não vai dar bola para a combinação “Schwarzza + zumbis”. Já o público que for atraído por esta dobradinha vai sair decepcionado do cinema.

Pra piorar, Schwarzenegger nem está tão diferente do habitual. Às vezes vemos alguns atores se transformando em filmes de estilos diferentes. Não foi o caso, a única mudança é que ele está de barba. Também no elenco, Abigail Breslin e Joely Richardson.

Um recado para os fãs do Schwarzza: vale mais a pena rever O Exterminador do Futuro Gênesis

Crimes Ocultos

crimes ocultosCrítica – Crimes Ocultos

Na União Soviética pós Segunda Guerra Mundial, o policial Leo Demidov desobedece ordens superiores e investiga uma série de assassinatos de crianças.

Sabe quando um filme te atrai com um elenco legal, mas a história é tão mal conduzida que põe tudo a perder?

Dirigido por Daniel Espinosa (Protegendo o Inimigo), Crimes Ocultos (Child 44, no original) não chega a ser exatamente ruim. Mas a trama é mal construída, e os personagens, mal desenvolvidos. Ouvi um papo que o filme originalmente teria mais de cinco horas (!), e foi editado para ter “apenas” 137 minutos. Assim, várias sequências ficam sem sentido (como, por exemplo, as trocas de olhares entre os personagens de Joel Kinnaman e Noomi Rapace no início do filme), e alguns personagens são desperdiçados, como o General Nesterov de Gary Oldman. E, mesmo com os cortes, o resultado ficou cansativo.

Teve outra coisa que me incomodou, mas é um detalhe. O filme é falado em inglês. Mas como se passa na Rússia, todos os atores estão falando com sotaques. Não gostei, achei que ficou forçado. Na minha humilde opinião, ou fala em russo, ou esquece esse sotaque forçado…

Se algo se salva, é o elenco. O filme é confuso, mas é sempre legal ver gente como Tom Hardy, Gary Oldman, Noomi Rapace, Joel Kinnaman, Paddy Considine, Vincent Cassel, Jason Clarke e Charles Dance em ação.

Crimes Ocultos é baseado no livro Criança 44, de Tom Rob Smith, primeiro livro de uma trilogia com o personagem Leo Demidov. Ou seja, devemos ter outros dois filmes…

Backcountry

0-BackcountryCrítica – Backcountry

Um casal vai acampar numa floresta, fora da alta temporada, mas se perde, e vai parar no território de um urso negro.

Não tinha nenhuma expectativa por este Backcountry – diretor estreante, trama simples, elenco reduzido… E mesmo assim me decepcionei.

Escrito e dirigido pelo estreante Adam McDonald, Backcountry tem um problema básico: não tem uma história que preencha um longa-metragem. Não adianta usar a carta “baseado em fatos reais”, se esses fatos reais foram algo tão rápido. O filme tem basicamente duas cenas: o encontro com o personagem de Eric Balfour (cena longa e desnecessária, na minha humilde opinião); e o ataque do urso.

Ok, temos que reconhecer a qualidade na parte do urso. Cinematograficamente, o ataque é muito bem feito, nem parece uma produção de baixo orçamento. A maquiagem também impressiona. Mas… Isso ocupa quanto tempo do filme? E, quando acontece, o espectador já está de saco cheio…

O elenco reduzido tem dois protagonistas e dois coadjuvantes. Missy Peregrym é bonita e está bem, mas por outro lado, Jeff Roop tem carisma zero. Eric Balfour e Nicholas Campbell completam o elenco.

No fim, ficamos com a sensação que Backcountry seria um bom curta. Mas, como longa, não vale a pena.

Vício Inerente

Vicio-InerenteCrítica – Vício Inerente

Filme novo do Paul Thomas Anderson!

Califórnia, 1970. O nada convencional detetive Larry “Doc” Sportello investiga o desaparecimento de uma ex-namorada.

Paul Thomas Anderson é um cara talentoso, que sabe trabalhar bem suas imagens. Por outro lado, é um cara lento, e seus filmes às vezes são longos demais. Mas, como ele é o diretor de Boogie Nights, um dos meus filmes favoritos, ele tem crédito comigo.

Vamos aos fatos: Vício Inerente (Inherent Vice, no original) tem seus bons momentos, mas, no geral, não é um bom filme. Me parece que Paul Thomas Anderson não fez um bom trabalho ao roteirizar o livro homônimo de Thomas Pynchon. Além da trama ser rocambolesca demais, algumas cenas e personagens parecem sem propósito – por exemplo, gosto do Benicio Del Toro, mas tire o seu papel e nada muda no filme (talvez funcione no livro, mas não aqui aqui no filme). Ou seja, a adaptação é confusa, e como o filme é longo (148 minutos), o espectador já está cansado antes da metade.

Pena, porque, como falei, Vício Inerente não é ruim. De positivo, temos uma excelente ambientação de época – os figurinos e maquiagens estão perfeitos, o filme realmente parece feito nos anos 70. A fotografia de Robert Elswit é outro destaque, com um pé no cinema noir.

O elenco também está muito bem. Joaquin Phoenix está ótimo como uma espécie de Wolverine hippie; Josh Brolin idem, com o seu policial bruto e esquisitão. Ainda no elenco, Reese Witherspoon, Katherine Waterston, Jena Malone, Owen Wilson, Eric Roberts, Martin Short, Joanna Newsom, Serena Scott Thomas, Maya Rudolph, Michael Kenneth Williams e Hong Chau, além do já citado Del Toro.

Pena que o resultado final é enfadonho. Acho que é melhor rever Boogie Nights

Mapas para as Estrelas

Mapas para as estrelasCrítica – Mapas Para As Estrelas

Um tour pelo coração de alguns personagens de Hollywood, procurando a fama e fugindo dos fantasmas dos seus passados.

Pensei em começar o texto falando da carreira do diretor David Cronenberg nos anos 80, época de filmes como Scanners, Videodrome e A Mosca. Mas, caramba, o seu último filme fantástico foi eXistenZ, de 99, ele faz filmes “normais” há mais de dez anos!

(Obs: não vi Spider, de 2002, não sei dizer qual das fases ele pertence.)

Enfim, Mapas Para as Estrelas (Maps to the Stars, no original) segue o estilo atual de Cronenberg. Um filme baseado num bom e inspirado elenco, e com um roteiro que coloca personagens disfuncionais em situações de conflito.

O roteiro escrito pelo bissexto Bruce Wagner é envolvente e divide equilibradamente a trama entre alguns personagens, todos interligados, num interessante retrato da podridão que os famosos de Hollywood escondem debaixo dos seus tapetes.

O elenco é ótimo. Julianne Moore (que acabou de ganhar o Oscar por outro filme) ganhou o prêmio de melhor atriz em Cannes por este filme. Mia Wasikowska e John Cusack também estão bem. Nem o “vampiro purpurina” Robert Pattinson chega a atrapalhar. Ainda no elenco, Olivia WIlliams, Evan Bird, Sarah Gadon, e Carrie Fisher numa ponta, interpretando ela mesma.

Pena que a conclusão é fraca. Acompanhamos aquele mundinho de pessoas desequilibradas, mas, ao fim, parece que o filme não leva a lugar algum. Não só a cena final do filme é fraca, como a cena onde um personagem pega fogo é ruim – tanto na parte técnica, quanto na narrativa (ao lado da piscina? Sério?).

E aí volto ao início do texto. Não que Mapas Para as Estrelas seja ruim, mas bate uma saidade da fase fantástica de Cronenberg…

O Abutre

0-OAbutreCrítica – O Abutre

Um homem descobre que pode ganhar dinheiro filmando matérias sensacionalistas, e resolve montar uma equipe para vender material para um telejornal.

Estreia na direção do roteirista Dan Gilroy, O Abutre (Nightcrawler, no original) conta uma história sórdida sobre um anti-herói que ignora a moral e a ética, e faz tudo para vender seus vídeos. Todo mundo sabe o quanto atraente e ao mesmo tempo repugnante uma matéria sensacionalista pode ser. O Abutre é um excelente retrato disso.

Mas o nome do filme é Jake Gyllenhaal. Mais magro que o habitual (idéia do ator, que achou que o personagem seria mais sinistro se fosse cadavérico), Gyllehaal entrega uma das melhores interpretações de sua carreira, com um cara ao mesmo tempo carismático e repugnante. Também no elenco, Rene Russo, Bill Paxton e Riz Ahmed.

Ainda podemos citar a bem cuidada fotografia, que consegue excelentes takes noturnos, neste triste retrato do lado “feio” do jornalismo…