Moonrise Kingdom

Crítica – Moonrise Kingdom

Não sei por que, mas heu nunca tinha visto nenhum filme do Wes Anderson. Aproveitei o Festival pra consertar esta “falha”!

Verão de 1965. Em uma pequena ilha na costa da Nova Inglaterra, Sam e Suzy, que se conheceram um ano antes, combinam de fugir juntos – ela, da casa dos pais; ele, do acampamento escoteiro.

Gostei muito do estilo do diretor. Como disse, este foi o meu primeiro Wes Anderson, mas pelo que li, o estilo dele é sempre assim – Anderson é um daqueles raros casos da Hollywood contemporânea que mantém um estilo próprio (assim como Tim Burton ou Terry Gilliam). Os enquadramentos são sempre bem cuidados – existe uma simetria impressionante em quase todos os planos – e os movimentos de câmera são pensados milimetricamente. Essas características, combinadas com uma trilha sonora fora do lugar comum, uma bela fotografia e personagens muito bem construídos, dão a Moonrise Kingdom um ar delicioso.

O clima deste mezzo drama mezzo comédia é meio fantástico, às vezes parece que estamos vendo um filme de fantasia infanto-juvenil. Aliás, diria que poucas vezes vi no cinema um romance entre adolescentes de uma maneira tão bonita e delicada. Acho que vai ter muito marmanjo saindo do cinema com inveja de uma experiência adolescente dessas.

Claro que o elenco ajuda. Dois adolescentes estreantes fazem o casal principal, Kara Hayward e Jared Gilman – ambos estão ótimos. E eles tem um excelente time de coadjuvantes: Bruce Willis, Edward Norton, Bill Murray, Frances McDormand, Tilda Swinton, Harvey Keitel e Jason Schwartzman.

Como disse, gostei do filme, assim como gostei do estilo do diretor. Em breve vou procurar os seus outros filmes.

O Livro do Apocalipse – Nryu Myeongmang Bogoseo

Crítica – O Livro do Apocalipse – Nryu Myeongmang Bogoseo

Filme apocalíptico coreano… Ok, vamos ver qualé.

Três pequenas histórias, mostrando três diferentes cenários apocalípticos: um vírus que transforma as pessoas em um misto de zumbi com vampiro; um robô de um templo budista alcança a iluminação espiritual e é visto como uma ameaça; e um meteoro em rota de colisão com a Terra.

Como quase todo filme em episódios, O Livro do Apocalipse é irregular. A primeira história, Brave New World, tem seus bons momentos, mas é bobinha; a segunda, Heavenly Creature, traz uma premissa interessante, mas é chaaata; a terceira, Happy Birthday, é a melhor, com uma boa dose de humor nonsense.

A primeira e a última história foram escritas e dirigidas por Yim Pil-Sung (autor do filme original que virou a refilmagem O Mistério das Duas Irmãs). Por terem o mesmo autor, ambas têm o mesmo tom de comédia – Brave New World tem alguns momentos engraçadíssimos, como o debate na TV; Happy Birthday é nonsense desde a premissa de uma gigantesca bola de sinuca alienígena que virou um asteroide. Heavenly Creature, a história “cabeça”, foi escrita e dirigida por Kim Jee-Woon (o mesmo do faroeste O Bom, o Mau e o Bizarro, que passou no Festival uns anos atrás). Curiosamente, os outros filmes que conheço de cada diretor são de estilos diferentes…

A parte técnica é muito bem feita – o robô da segunda história parece saído de uma produção hollywoodiana. E o asteroide também não deixa a desejar, assim como a maquiagem da primeira história.

Conheço pouco do cinema coreano, mas reconheci um nome do elenco: Joon-ho Bong, o diretor de O Hospedeiro, trabalha como ator aqui, ele está no debate na TV em Brave New World. Ainda no elenco, Doona Bae e Ji-hee Jin.

O Livro do Apocalipse é a cara do Festival do Rio. Não deve ser lançado no circuito, mas deve aparecer nas locadoras daqui a um ano ou mais, possivelmente com outro título…

Coração de Tinta

Crítica – Coração de Tinta

Mo (Brendan Fraser)tem um raro talento: quando lê um livro em voz alta, tem o poder de trazer do livro o personagem que está sendo lido. Mas como não sabe controlar seu poder, nem sempre as coisas funcionam como deveriam.

Simpática fantasia dirigida por Ian Softley, diretor de estilos variados (o quase musical Backbeat, o terror A Chave Mestra, a ficção científica K-Pax…), Coração de Tinta (Inkheart, no original) foi baseado no livro homônimo de Cornelia Funke, que parte de uma premissa muito interessante e empolgante para incentivar a leitura: e se pudéssemos transformar em reais os personagens dos livros?

Pena que o roteiro não sabe aproveitar bem esta premissa – poderiam explorar bem mais o poder de Mo. No máximo vemos algumas referências a outras histórias, como a Excalibur do Rei Arthur, os sapatinhos de cristal da Cinderela e o Totó e os macacos voadores do Mágico de Oz. Muito pouco, pela quantidade de opções possíveis.

Pra piorar, o roteiro dá uma pirada na parte final e o fim do filme não faz o menor sentido. Não vou falar por causa dos spoilers, mas posso dizer que não foi legal mudarem as “regras do jogo” aos 45 do segundo tempo.

Sobre o elenco: acho que sou o único crítico no Brasil que gosta do Brendan Fraser. Leio sempre um monte de coisas contra ele, mas acho que vou com a cara dele. Na minha humilde opinião, ele funciona bem aqui. Mas o destaque é Paul Bettany – talvez porque o seu Dustfinger é de longe o personagem melhor construído de todo o filme. Ainda no elenco, Andy Serkis, Hellen Mirren, Sienna Guillory, Eliza Bennet, Jim Broadbent, e, numa ponta bem pequenininha, Jeniffer Connelly, a esposa de Betany na vida real, como a esposa do seu personagem Dustfinger.

Ainda podemos citar como destaques os belos cenários na Itália e na Inglaterra e os efeitos especiais discretos e eficientes.

Como falei lá no segundo parágrafo, Coração de Tinta é um filme simpático. Só não espere muito mais do que isso.

Stardust – O Mistério da Estrela

Crítica – Stardust – O Mistério da Estrela

Quem me conhece sabe que quando gosto de um diretor, costumo procurar os outros filmes que o cara fez. Depois de ter visto Kick-Ass e X-Men: Primeira Classe, fui catar mais filmes do Matthew Vaugn. Gostei de Nem Tudo É O Que Parece. E faltava este Stardust – O Mistério da Estreia, seu segundo filme, lançado em 2007.

Num mundo mágico paralelo ao nosso, um jovem promete uma estrela cadente de presente para a sua amada. Mas essa estrela se transforma numa bela mulher, que também está sendo perseguida por uma bruxa e pelos herdeiros do reino de Stormhold.

Stardust – O Mistério da Estrela nem parece ser do mesmo diretor dos outros filmes citados no primeiro parágrafo. Trata-se de uma fantasia, a la O Senhor dos Aneis ou Crônicas de Nárnia, com direito a terras místicas e personagens fantásticos. E o melhor de tudo: com qualidade!

O filme foi baseado no livro de Neil Gaiman (também autor da história que deu origem ao bom Coraline). Não li o livro, não conheço a história original. Mas podemos afirmar que Gaiman foi feliz na criação do universo de Stormhold e seus interessantes personagens.

Stardust – O Mistério da Estrela tem pouco mais de duas horas, mas acontece tanta coisa na trama que nem parece tão longo – aliás, poderia ser mais de um filme, como acontece com tantos filmes de fantasia (Senhor dos Aneis foram três filmes; Harry Potter teve oito; Nárnia está no terceiro; Percy Jackson tem previsão de lançar o segundo ano que vem). Na minha humilde opinião, foi uma boa escolha, a história tem início, meio e fim e um bom ritmo ao longo de toda a projeção.

No elenco, achei curioso o protagonista ser justamente o ator menos conhecido, Charlie Cox. Claire Danes está bem como a principal personagem feminina, mas o melhor do elenco são o capitão pirata e a bruxa feitos por Robert De Niro e Michelle Pfeiffer, cada um melhor que o outro. Ainda no elenco, Ian McKellen, Sienna Miller, Peter O’Toole, Mark Strong, Jason Flemyng, Rupert Everett e Ricky Gervais. E, curiosidade: Henry Cavill, o próximo Superman, num papel minúsculo.

Outros dois destaques são as belíssimas locações na Inglaterra e na Islândia, e os excelentes efeitos especiais, apesar de discretos – o filme não brilha por causa dos efeitos, mas eles estão na dose exata para tornar tudo isso crível.

O lançamento de Stardust – O Mistério da Estrela foi muito mal feito. Sei lá por que nem me lembro quando foi lançado por aqui (segundo o imdb, em outubro de 2007). E mesmo hoje em dia, ouço pouca gente falando do filme. O que é uma grande injustiça, o filme tem qualidade para ser lembrando como um grande épico da fantasia. Se tiver oportunidade de ver, fica aqui a minha recomendação!

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Ladrão de Sonhos

Crítica – Ladrão de Sonhos

De vez em quando cito este Ladrão de Sonhos aqui no blog. Achei que era hora de revê-lo.

Krank, que não consegue sonhar, sequestra crianças para roubar os seus sonhos. One, ex caçador de baleias forte como um cavalo, vai até a Cidade das Crianças Perdidas tentar encontrar seu sobrinho, raptado pelos homens de Krank.

Lançado em 1995, Ladrão de Sonhos é o segundo filme da parceria Jean Pierre Jeunet e Marc Caro, que quatro anos fizeram o genial Delicatessen. O clima aqui é tão bizarro quanto no filme anterior!

Lembro na época do lançamento, cinéfilos celebraram mais um filme da parceria – mal sabíamos que este seria o segundo e último filme da dupla. Logo depois deste filme, Jeunet foi sozinho para Hollywood, onde fez o quarto filme da série Alien, e pouco depois conseguiu seu maior sucesso comercial com O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (que tem um pé no bizarro, mas é bem mais mainstream que seus outros filmes). Jeunet voltaria ao universo de filmes estranhos com Micmacs à Tire-Larigot, de 2009, mas sempre trabalhando sozinho. Já Caro, não sei o que houve com ele, ficou anos sem filmar nada, até que em 2008 lançou o fraco Dante 01

Costumo usar Ladrão de Sonhos ao lado de O Grande Lebowski como exemplos de filmes onde a forma é mais importante que o conteúdo. A trama é boba – mas, além de uma direção de arte impressionante, o filme traz uma galeria de personagens sensacionais! Temos um personagem que é um cérebro dentro de um aquário, outro que são seis clones, duas velhinhas siamesas, uma anã e um fortão, além de um exército de “cíclopes” e várias crianças.

A direção de arte merece um parágrafo à parte. Se o visual em Delicatessen já era bem cuidado, aqui Jeunet e Caro conseguiram um resultado muito interessante. Cada detalhe do cenário, cada figurino (desenhados por Jean-Paul Gaultier), cada cor usada, tudo é feito para compor um visual de sonho / pesadelo poucas vezes visto no cinema. Ângulos pouco comuns usados pelas câmeras de Jeunet e Caro ajudam o clima onírico. De quebra, alguns efeitos especiais mostrando pulgas são extremamente bem feitos (lembrem-se que estávamos no meio dos anos 90, bem antes da enxurrada de cgi). Outro destaque é a música de Angelo Badalamenti, que lembra um velho realejo.

No elenco, só dois nomes conhecidos: Ron Perlman, antes da fama de Hellboy e Sons of Anarchy; e Dominique Pinon, o baixinho esquisito que sempre trabalha com Jeunet (e com Caro, ele também estava em Dante 01). Uma coisa curiosa: existe uma aproximação entre o grandalhão de Perlman e a menina Judith Vittet, de 11 anos, e a leveza da narrativa não faz isso parecer “errado”.

Ladrão de Sonhos é um belo espetáculo. Recomendado àqueles que curtem um visual bem elaborado. E também aos que gostam de uma bizarrice…

Espelho, Espelho Meu

Crítica – Espelho, Espelho Meu

Depois de Branca de Neve e o Caçador, vamos ao outro filme sobre a Branca de Neve…

A história é a de sempre: órfã, Branca de Neve mora com sua madrasta, a Rainha Má. Quando Branca completa 18 anos, a Rainha tem planos para matá-la, e ser a mais bela do reino.

Espelho, Espelho Meu (Mirror, Mirror, no original) foi dirigido por Tarsem Singh, o mesmo de A Cela e Imortais. Por aí, a gente já consegue antecipar como será a sua versão do conto da Branca de Neve. Cenários grandiosos e estilizados, tudo muito cheio de pompa, tudo meio… carnavalesco. Singh é uma espécie de Joãosinho Trinta hollywoodiano.

Pra quem gosta do estilo, Espelho, Espelho Meu nem é ruim. Heu, particularmente, achei tudo muito plástico, muito artificial. Esse visual estilizado e farsesco até combina com alguns tipos de filmes, mas não gostei muito do resultado aqui.

A comparação com Branca de Neve e o Caçador é inevitável, né? Afinal, foram dois filmes simultâneos trazendo versões para o mesmo conto dos Irmãos Grimm… Bem, Branca de Neve e o Caçador foi lançado um pouco depois, mas é bem melhor que este Espelho, Espelho Meu – apesar da Kristen Stewart ser uma péssima Branca de Neve.

Sobre o elenco: Julia Roberts está bem como a Rainha, ela tem umas boas tiradas irônicas. Mas preferi a Rainha da Charlize Theron – enquanto Julia é má e ao mesmo tempo engraçada, Charlize é má “de verdade”. Já Lily Collins está melhor que Kristen Stewart. Mas aí também é covardia, qualquer uma seria melhor que Kristen… Ainda no elenco, Nathan Lane, Armie Hammer (o gêmeo Winklevoss de A Rede Social), Mare Winningham e uma ponta de Sean Bean. Todos estão no limite da caricatura, mas pelo estilo do filme, até que funciona.

Novo parágrafo para falar dos anões. Se em Branca de Neve e o Caçador os anões eram interpretados por atores “normais” alterados digitalmente, aqui são sete atores anões, quase todos desconhecidos (acho que só reconheci Martin Klebba, da série Piratas do Caribe). E eles têm boa química juntos, fazem um bom time. Ponto positivo!

Ainda preciso falar do número musical bollywoodiano que encerra o filme. Sei lá, achei que não teve nada a ver. Achei meio fora de propósito.

Ainda me falaram de outra versão, mais antiga, com a Sigourney Weaver como Rainha Má. Vou procurar…

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Branca de Neve e o Caçador

Crítica – Branca de Neve e o Caçador

Versão dark da história dos Irmãos Grimm!

Branca de Neve é a única pessoa no reino mais bonita que a Rainha Má. Por inveja, a Rainha manda um caçador encontrá-la na Floresta Negra e matá-la.

A ideia de mostrar o conto clássico sob uma ótica sombria era muito boa – originalmente, as histórias eram mais pesadas, mas estamos acostumados com a amenizada “visão Disney” dos contos de fada. Mas Branca de Neve e o Caçador, dirigido pelo estreante Rupert Sanders, caiu num sério problema de escolha de elenco. Kristen Stewart como Branca de Neve foi um erro grande. Não tenho nada contra Kristen, até falei bem dela na crítica de Runaways. Ela é até bonitinha – o problema é que nunca, repito, NUNCA ela será mais bonita que a Charlize Theron.

E isso porque estamos falando só de beleza física. Porque, se talento para atuar contar, aí é covardia. Charlize engole Kristen. E isso fica claro ao longo da projeção: Kristen passa o tempo todo inexpressiva, enquanto Charlize rouba cada cena onde aparece. Me vi torcendo por uma improvável vitória da vilã na cena final – a superioridade da rainha má me lembrou O Império Contra Ataca, quando um inexperiente Luke Skywalker ataca sem sucesso um Darth Vader que se defende apenas com uma mão.

Se a gente conseguir desligar este “pequeno” detalhe, Branca de Neve e o Caçador é até legal. O visual do filme é muito bom. Fotografia bem cuidada, belos cenários e figurinos, além de efeitos especiais muito bem feitos – gostei da cena da Floresta Negra “atacando” a Branca de Neve, lembrou o desenho animado.

No elenco, o grande nome é Charlize Theron, que, sozinha, já vale o ingresso. Kristen Stewart está inexpressiva como sempre, e Chris Hemsworth faz um replay do seu Thor. Ainda tem um outro personagem, interpretado pelo desconhecido Sam Claflin, não sei se estava no conto original ou se foi colocado pra criar um triângulo amoroso (tentativa de aproximação com Crepúsculo?). Mas, enfim, não rola química entre Kristen e nenhum dois dois candidatos a mocinho.

Uma coisa interessante foi a concepção dos anões – só não entendi por que oito em vez de sete. Atores de tamanho “normal”, alterados digitalmente, interpretam os oito anões: Ian McShane (Piratas do Caribe 4), Bob Hoskins (Uma Cilada Para Roger Rabbit), Nick Frost (Todo Mundo Quase Morto), Toby Jones (O Espião que Sabia Demais), Ray Winstone (A Invenção de Hugo Cabret), Eddie Marsan (Sherlock Holmes), Johnny Harris e Brian Gleeson. Fiquei imaginando como seria O Senhor dos Aneis com a tecnologia atual. Acho que prefiro o modo como Peter Jackson fez…

Branca de Neve e o Caçador é um pouco mais longo do que deveria. Não chega a cansar, mas poderia ter meia hora a menos sem prejudicar a história.

Agora vou procurar Espelho, Espelho Meu, outro filme da Branca de Neve lançado este ano…

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O Senhor Dos Anéis – As Duas Torres

Crítica – O Senhor Dos Anéis – As Duas Torres

Hora de falar do segundo filme da saga!

A trama segue exatamente de onde acabou o primeiro filme. Frodo precisa levar o Um Anel até Mordor, mas a Sociedade do Anel acaba se desfazendo em três núcleos, que seguem caminhos diferentes.

As Duas Torres é uma continuação diferente da maioria. O padrão em Hollywood é só pensarem na sequência depois do sucesso do primeiro filme – por isso tantas continuações são inferiores aos originais. Mas O Senhor dos Anéis foi pensado desde o início como um filme só, dividido em três partes. Por isso, heu arriscaria dizer que As Duas Torres é ainda melhor que A Sociedade do Anel – o primeiro filme tem que nos apresentar a trama e os personagens e por isso é um pouco lento; este segundo filme vai direto ao assunto.

O grupo se separa, e a trama se divide em caminhos paralelos: temos Frodo, Sam e Gollum a caminho de Mordor; Merry e Pippin fugindo de orcs; e Aragorn, Legolas e Gimli com os cavaleiros de Rohan, entre outras sub-tramas. Sim, são quase quatro horas; sim, o ritmo é quase o tempo todo tenso. E o clímax no Abismo de Helm é sensacional. Mesmo vista hoje, dez anos depois, a batalha que coloca homens e elfos enfrentando milhares de orcs ainda é excelente. Não dá pra saber o que era ator maquiado ou o que era computação gráfica – e também, quem se importa em saber? Só sei que a pancadaria rola solta, em cenas de altíssima qualidade – a sequência é ainda hoje uma das melhores batalhas da história do cinema.

Ainda sobre os efeitos especiais: é hora de falar do Gollum. Em 1999, George Lucas resolveu colocar um personagem digital no seu Star Wars ep I – A Ameaça Fantasma: o controverso Jar Jar Binks. Foi um marco na história dos efeitos especiais, mas a concepção do personagem ficou capenga – Jar Jar era um alívio cômico caricato e insuportavelmente chato. Peter Jackson foi mais feliz: Gollum não só é um personagem mais bem construído, como tecnicamente muito superior a Jar Jar – em Star Wars, um ator com uma máscara interagiu com o resto do elenco, e depois foi substituído pelo personagem digital; aqui, o ator Andy Serkis usou uma roupa com sensores de captura de movimentos – o personagem digital inserido tinha movimentos muito melhores, assim como interagia muito melhor com o resto do elenco.

E como está o Gollum hoje, dez anos depois, agora que já estamos mais acostumados a ver filmes quase inteiros em cgi? Olha, em algumas cenas, conseguimos ver claramente que ele não está no mesmo plano que o resto do filme. Mas essas cenas são minoria, o Gollum de dez anos atrás é melhor que muito cgi atual.

Alguns novo personagens são apresentados, para acompanhar o bom elenco do primeiro filme, como Brad Dourif como Grima Língua de Cobra, Miranda Otto como Eowyn, David Wenham como Faramir e Karl Urban como Eomer. Curiosidade: John Rhys-Davies, o Gimli, faz a voz do Barbárvore!

O ritmo do filme é muito bom, mas nem tudo é perfeito. Os livros davam pouca importância à Arwen e ao seu romance com Aragorn. Já os filmes dedicam muito tempo a esse romance. Essas partes são arrastaaadas… Me pareceu ser uma imposição dos produtores, ter uma “mocinha” e um “mocinho” para ajudar a vender o filme. Não gostei, podia ser como acontece no livro: o romance está lá, mas em segundo plano.

O Oscar não foi muito generoso com esta segunda parte, da trilogia este é o filme com menos prêmios e indicações. Concorreu a seis estatuetas: ganhou efeitos especiais (merecidíssimo) e edição de som; não levou melhor filme, edição, direção de arte e som.

Em breve vou rever o terceiro filme e falo dele aqui!

O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel

Crítica –  O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel

É hora de encarar (mais uma vez) a trilogia estendida d’O Senhor dos Anéis!

Antes de falar do filme em si, vamos a algumas informações interessantes. Os três livros O Senhor dos Anéis, escritos por J. R. R. Tolkien entre 1937 e 1949, e lançados pela primeira vez em 1954 e 55, eram considerados “infilmáveis”. O diretor neo-zelandês Peter Jackson já tinha cinco filmes no currículo, mas nada que enchesse os olhos dos estúdios – eram três trash (Bad Taste – Náusea Total, Fome Animal e Meet The Feebles), um cult (Almas Gêmeas) e uma comédia de terror feita em Hollywood (Os Espíritos). Mesmo assim, ele conseguiu convencer o estúdio New Line Cinema a bancar um projeto ambicioso: Jackson iria com toda a equipe para a Nova Zelândia (por causa das locações naturais e da mão de obra barata), ficaria lá por 13 meses e filmaria os três filmes de uma vez. Claro que o estúdio preferia fazer só o primeiro filme, afinal, se fosse um fracasso de público, o que fariam com as continuações? Mas Jackson bateu o pé e conseguiu carregar a galera para o seu país natal – e assim foi criada uma das melhores sagas da história do cinema!

Quando os três filmes foram lançados em 2001, 2002 e 2003 nos cinemas, cada um tinha cerca de três horas de duração. As versões estendidas, onde cada filme tem cerca de quatro horas, só passaram aqui no Brasil em sessões especiais, não entraram no circuito. E acho que não foram lançadas em dvd aqui no Brasil. Só recentemente tivemos versões oficiais, já em blu-ray. Mas não comprei o blu-ray nacional, já que o box importado, com 15 discos, tem legendas e dublagem em português – comprei o meu pela Amazon.

Vamos ao filme? Quando o “Um Anel”, um anel mágico de poder dado como desaparecido há muito tempo, é encontrado, o pequeno hobbit Frodo tem a tarefa de levá-lo para ser destruído. Ele não está sozinho na sua jornada: é acompanhado por Aragorn, Boromir, o mago Gandalf, o elfo Legolas, o anão Gimli e seus amigos hobbits Sam, Merry e Pippin.

O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel é um daqueles raros e felizes casos onde tudo dá certo. Adaptação literária bem feita, bom elenco, excelentes efeitos especiais, tudo isso numa trama simples (o bem contra o mal), mas contada de uma maneira excepcional.

A adaptação, que era uma grande incógnita, foi muito bem feita. Os fãs mais xiitas do livro reclamaram de algumas ausências, como por exemplo os trechos envolvendo o personagem Tom Bombadil (ignorado pelo filme), mas, afinal, era uma “adaptação”, não tinha como entrar tudo em um filme para cinema (talvez em uma mini série).

Acho que uma das coisas mais difíceis era mostrar personagens de tamanhos diferentes. Temos homens, elfos e orcs, mas todos têm tamanhos semelhantes. Já os hobbits, personagens importantíssimos na saga, são seres da altura de uma criança. E ainda tem um anão – interpretado por John Rhys-Davies, um ator de 1,85. E esses seres de tamanhos diferentes aparecem juntos vááárias vezes, e em nenhuma delas parece falso. Digo mais: hoje em dia seria tudo cgi, mas naquela época o cgi ainda não era o que é hoje (vou falar mais do cgi no texto sobre o próximo filme, As Duas Torres). Jackson usou truques de câmera e dublês nas cenas em close. O resultado ficou irretocável!

O elenco misturava atores desconhecidos com alguns de fama intermediária, como Ian McKellen, Liv Tyler, Cate Blanchett, Ian Holm e Christopher Lee. Boa parte do elenco soube capitalizar em cima do sucesso dos filmes e hoje são nomes bem conhecidos, mas antes eram nomes “lado B” – também, quem estava disposto a se mandar pra Nova Zelândia por um projeto arriscado e com mais de um ano de duração? Mas mesmo assim, a escolha do elenco foi perfeita, cada ator “vestiu” perfeitamente o seu personagem.

Lembro de Viggo Mortensen como coadjuvante de Demi Moore em GI Jane e num pequeno papel em O Pagamento Final – hoje o cara é protagonista de grandes produções como A Estrada e Um Método Perigoso – e chegou a concorrer ao Oscar de melhor ator por Senhores do Crime. Antes desconhecido, Orlando Bloom depois esteve nos três primeiros Piratas do Caribe e em Os Três Mosqueteiros. Elijah Wood participou de bons filmes como Brilho Eterno De Uma Mente Sem Lembranças e Sin City. Dominic Monaghan teve papéis importantes em séries badaladas como Lost e Flash Forward; Sean Bean foi o personagem central da primeira temporada da elogiada série Game of Thrones. Hugo Weaving antes era mais lembrado por Priscilla, a Rainha do Deserto; hoje o currículo dele é bem extenso, com filmes do porte de Matrix, Capitão América, O Lobisomem, V de Vingança e a franquia Transformers.

Outros atores ainda estão por aí, mas não são tão famosos hoje. John Rhys-Davies já tinha uma extensa carreira, mesmo não sendo um rosto muito conhecido – acho que o seu papel mais famoso era o Sallah de Os Caçadores da Arca Perdida (1981) e Indiana Jones e a Última Cruzada (1989). Sean Astin é outro que também já tinha currículo, ele foi o ator principal de Os Goonies quando tinha 14 anos. E acho que o único do elenco principal que era desconhecido e continua assim até hoje é Billy Boyd, o hobbit Pippin…

Os efeitos especiais também são sensacionais. Tudo bem que o que a trilogia traz de mais impressionante (o Gollum) só aparece no segundo filme. Mas mesmo assim, tudo aqui é extremamente bem feito – a começar pelo tamanho dos personagens que falei alguns parágrafos acima. Um universo onde a magia faz parte do dia-a-dia é mostrado e, hoje, uma década depois, os efeitos ainda não “perderam a validade”.

Ainda preciso falar das locações. Jackson estava certo quando quis fazer seu filme na Nova Zelândia – florestas, montanhas, planícies, rios, neve, tem todas as paisagens que o livro pedia. Boa escolha!

O filme concorreu a 13 Oscars, incluindo melhor filme, melhor diretor, melhor roteiro adaptado e melhor ator coadjuvante para Ian McKellen. Não ganhou nenhum desses, mas levou quatro estatuetas: trilha sonora, fotografia, efeitos especiais e maquiagem.

Heu poderia continuar falando do filme, mas – caramba, o post já tá gigantesco! Só preciso falar mais uma coisa: a versão que passou nos cinemas é boa, mas, se você é fã, procure a versão estendida. É um total de 12 horas de filme, mas vale a pena!

Em breve, falo do segundo filme aqui!

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A Invenção de Hugo Cabret

Crítica – A Invenção de Hugo Cabret

Tinha uma coisa me encucando desde que vi o primeiro trailer deste filme. Como assim, uma fábula infanto-juvenil em 3D, dirigida pelo Martin Scorsese? Scorsese nunca fez um filme infantil, até onde sei… Enfim, fui ao cinema ver, incentivado também pelos 11 Oscars que está concorrendo (a  premiação é amanhã!). E posso dizer: A Invenção de Hugo Cabret é um filmaço!

Paris, anos 30. Hugo é um órfão que vive escondido pelos engrenagens dos relógios da estação de trem. Seu pai lhe deixou um autômato, que ele tenta consertar – até descobrir que o autômato pertencia a George Méliès, diretor de cinema, o grande precursor do cinema de ficção.

A primeira dúvida que heu tive era como seria o estilo do Scorsese em um filme direcionado aos pequenos. O cara é o autor de vários fimes excelentes, mas sempre com temas adultos, e muitas vezes violentos –  como Taxi Driver, Os Bons Companheiros, Cabo do Medo, Gangues de Nova York e Ilha do Medo. Neste aspecto, A Invenção de Hugo Cabret difere de sua filmografia, e pode ser classificado como um novo clássico infanto-juvenil.

Mas que ninguém pense que A Invenção de Hugo Cabret é só para os pequenos. Adultos também vão apreciar o filme, principalmente aqueles que são fãs de cinema. Poucas vezes a magia do cinema esteve tão bem representada nas telas. E em alguns momentos, parece que estamos vendo making offs dos filmes de George Méliès!

Outra coisa que chama a a tenção aqui é o 3D. Quem me lê sempre, sabe que não sou um fã dessa “febre 3D”. Um filme não precisa de 3D para ser bom, a não ser que seja um filme do estilo “circense”, tipo Dia dos Namorados Macabro, Fúria Sobre Rodas ou Piranha, onde o 3D faz parte da diversão (e você tem que se abaixar pra desviar das coisas atiradas na direção da câmera). E ainda é pior quando um filme é feito usando os meios convencionais e posteriormente convertido para 3D, aí a gente vê como o efeito é artificial e desnecessário. Pois bem, o 3D de Hugo Cabret é um dos melhores já feitos até hoje. Em algumas cenas, a gente realmente sente a profundidade, como nos flocos de neve, ou na cena do aquário usado por Méliès (quando ele filma através do aquário). E Scorsese mostra que está em plena forma, quase aos 70 anos (que ele completa em novembro deste ano) – alguns travellings em 3D pela estação são belíssimos!

O elenco é outro destaque. O pouco conhecido Asa Butterfield interpreta o personagem título; Sacha Baron Cohen (o Borat!) está excelente como o inspetor da estação; Chloë Grace Moretz, minha atriz mirim contemporânea favorita, também está ótima, como sempre (como em Kick-Ass e Deixe-me Entrar). Ainda no elenco, Ben Kingsley, Christopher Lee, Jude Law, Ray Winstone, Emily Mortimer e Michael Stuhlbarg.

A Invenção de Hugo Cabret é o grande favorito para o Oscar amanhã, está concorrendo a 11 estatuetas, incluindo melhor filme e melhor diretor (Scorsese já foi indicado sete vezes para melhor diretor e duas vezes para melhor roteirista, mas só ganhou uma vez, como diretor, por Os Infiltrados). A concorrência este ano está boa, se Hugo Cabret ganhar, será legal; mas se perder para O Artista, não será injusto.

Por fim, preciso falar mais uma vez do título nacional. O filme foi baseado no livro homônimo, escrito por Brian Selznick , então o erro desta vez não é do tradutor brasileiro. E parece que o livro originalmente se chama “The Invention of Hugo Cabret”, ou seja, o erro vem de mais longe ainda. Mas, será que alguém pode me explicar que “invenção” é essa? Hugo Cabret não inventou nada, a invenção é de George Méliès… O nome original do filme é mais correto: “Hugo“.

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