Contágio

Crítica – Contágio

Beth volta aos EUA depois de uma viagem a Hong Kong e começa a passar mal. Ela não sabe, mas está carregando um perigoso e mortal vírus, que a mata dois dias depois. Aos poucos, novos casos aparecem pelo mundo, dando início a uma epidemia global.

Uma coisa interessante no novo filme de Steven Soderbergh é que este é um tipo de coisa que pode acontecer a qualquer momento. Um terror real! E com direito a falência da sociedade e o caos reinando nas ruas. Mas o clima do filme não é terror, nem ação (como o semelhante Epidemia, de 1995). É um drama com núcleos de personagens que não necessariamente se encontram, semelhante a Short Cuts, de Robert Altman.

A semelhança com Altman também rola por causa do excelente elenco multi estrelado, como também acontece de vez em quando em filmes de Soderbergh. Vários bons atores estão presentes, como Gwyneth Paltrow, Matt Damon, Jude Law, Laurence Fishburne, Kate Winslet, Marion Cotillard, Elliot Gould e Jennifer Ehle.

Gostei da estrutura do filme, mostrando o dia a dia da epidemia. Gostei também do fim do filme, mas não falo aqui por causa de spoilers. E também da trilha sonora tensa, a cargo de Cliff Martinez, ajuda na dramaticidade dos acontecimentos.

No fim, podemos dizer que em pelo menos um aspecto Contágio é eficiente: um cara tossiu dentro do cinema, e heu fiquei bolado…

A previsão de estreia é no dia 28 de outubro, mas quem etiver ansioso, vai passar antes no Festival do Rio, que começa esta sexta.

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Red State

Crítica – Red State

O que? Kevin Smith dirigindo um filme sério de terror??? Para tudo, preciso ver isso!

Um grupo de jovens conhece uma mulher pela internet e, atrás de sexo, vão encontrá-la. Mas acabam caindo em uma perigosa armadilha religiosa.

Antes de falar de Red State, falemos da carreira de Kevin Smith. Taí um cara que ninguém pode chamar de acomodado. Seus seis primeiros filmes faziam parte do chamado “universo view askew”. Todos têm o mesmo estilo de humor, todos contam com a dupla Jay e Silent Bob – alter ego de Smith, que parecia estar numa posição confortável: filmes na mesma linha, plateia garantida. Aí veio Pagando Bem Que Mal Tem, comédia com estilo parecido, mas sem a dupla “assinatura”. Na época, lembro que critiquei isso – cadê Jay e Silent Bob? Mas, ok, “a fila anda”. Logo depois veio Tiras em Apuro, também comédia, mas de um estilo diferente, uma comédia policial com cara de “filmes do Eddie Murphy dos anos 80”.

Agora Smith escreveu e dirigiu este Red State. Filme sério, tenso, não rola nenhuma piada ao longo de toda a projeção. Smith saiu da sua “zona de conforto”. E não é que ele acertou mais uma vez?

Ok, o roteiro é bom, mas não é perfeito – aquele sermão do pastor é interminável (li no imdb que são 16 minutos!). Mas tem uma coisa que gostei muito na trama: o destino dos personagens é imprevisível. Não existe uma figura central.

Kevin Smith impressiona com a mão firme na cadeira de diretor, muitas vezes em sequências frenéticas com a câmera na mão. Como falei, é um filme sério, em momento nenhum parece que estamos nas mãos do gordinho engraçado Silent Bob – se me dissessem que era dirigido por um Rob Zombie (Rejeitados Pelo Diabo) da vida, heu não acharia estranho. Ah, é bom falar: o terror não tem nada de sobrenatural – o que dá ainda mais medo!

No elenco, o semi desconhecido Michael Parks brilha como o alucinado pastor. E John Goodman e Melissa Leo não estão atrás. Bom trabalho de construção de personagens e direção de atores. E os efeitos especiais são simples e discretos.

O filme é polêmico – acho que isso é a única coisa com “cara de Kevin Smith”. Li no imdb um monte de gente ligada à religião criticando o filme. Mas, na minha humilde opinião, o filme não ofende nenhuma religião, apenas os fanáticos…

Red State não é um filme de fácil digestão. Dica: esqueça os filmes anteriores de Smith. E curta o novo “diretor camaleão” – afinal, o próprio poster fala “an unlikely filme from that Kevin Smith” (“um filme improvável daquele Kevin Smith”).

p.s.: No fim dos créditos finais, há um aviso que “quase todo o elenco estará de volta em Hit Somebody“. Qual será o estilo do novo projeto de Kevin Smith?

Attack The Block

Crítica – Attack The Block

Mais um filme sobre alienígenas na Terra focado num elenco infantil. Mas não tem nada a ver com Super 8!

A trama é simples: uma gangue de marginais adolescentes do sul de Londres defende o seu bairro de uma invasão alienígena.

A primeira vez que ouvi falar de Attack The Block foi na época que vi Paul. Li em algum lugar um texto que falava desta nova produção inglesa. Pensei que era uma comédia, afinal o elenco contava com Nick Frost e tinha produção executiva de Edward Wright (ator e diretor de Todo Mundo Quase Morto e Chumbo Grosso). Que nada! Attack The Block é um filme sério, uma boa mistura de ficção científica com terror.

Ok, sério, mas, de baixo orçamento. Tem um delicioso ar vagabundo, às vezes lembra John Carpenter nos áureos tempos – terror e fc com clima de filme B. Ainda é cedo pra comparar o diretor e roteirista Joe Cornish ao genial cineasta autor de O Enigma de Outro Mundo, Fuga de Nova York e Eles Vivem, mas podemos dizer que ele está num bom caminho em seu primeiro longa para os cinemas.

Li por aí críticas negativas com relação às criaturas. Mas não me incomodaram. Pelo contrário, gostei do lance dos dentes / olhos fosforescentes. Achei uma boa opção de criaturas para filme com orçamento apertado. O mesmo digo sobre os efeitos especiais, simples e eficientes.

No elenco, o único nome conhecido é Nick Frost, em um papel pequeno. O protagonista John Boyega manda bem em seu filme de estreia, com um papel difícil, já que ele é um personagem detestável no início do filme. A “mocinha” Jodie Whittaker também está bem, assim como a molecada de um modo geral.

Conheço gente que viu Attack The Block e não gostou. Mas não compartilho desta opinião. Pra mim, foi uma das melhores surpresas do ano!

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REC

Vermelho, Branco & Azul / Red, White & Blue

Crítica – Vermelho, Branco & Azul / Red, White & Blue

Erica tem compulsão por fazer sexo com desconhecidos. O esquisitão Nate aparece em sua vida e tenta ajudá-la. E Franki é um aspirante a rock star. Suas vidas se encontrarão, e nada será como antes.

A trama de Red, White & Blue é dividida entre os três personagens principais. Os três são seres humanos desprezíveis, o que nos dificulta a simpatizar com o filme – é difícil alguém se identificar. Mas acredito que isso era proposital, o filme é daqueles que são feitos para causar desconforto. Aliás, em um festival onde teve filme censurado, este aqui foi exibido sem problemas, apesar de ter uma cena de tortura com uma criança presente Ah, sim, é bom falar, o filme tem imagens fortes!

A narrativa não muito convencional é interessante, os planos têm cortes rápidos, mas sem uma estética de videoclipe. Além disso, o roteiro “engana”, ao mudar o foco entre os personagens.

No elenco, o único nome mais conhecido é Noah Taylor, que era o empresário em Quase Famosos e o amigo da Lara Croft. Amanda Fuller está bem com o a garota com cara de “the girl next door”; achei Marc Senter um pouco forçado, mas nada que comprometa.

Só não entendi por que o nome “vermelho, branco e azul”. Deve fazer alguma alusão ao patriotismo norte-americano, mas nada fica muito claro sobre essa possível referência.

Enfim, para quem gosta de filmes com violência crua…

Paul

Crítica – Paul

Há dois anos atrás, apareceu por aí Fanboys, um road movie que parecia escrito mirando na parcela nerd do público. Heu diria que este Paul segue o mesmo caminho: um “road movie nerd”.

Dois nerds ingleses vão para os EUA para a Comic-Con e uma viagem por pontos turísticos ligados à ficção científica. No meio do caminho, encontram Paul, um inteligente e irônico alienígena, que está fugindo da Área 51 e tentando voltar para o seu planeta. Para ajudar Paul, a dupla tem que fugir da polícia, de caipiras e de fanáticos religiosos.

A primeira lembrança que vem à mente são os filmes Todo Mundo Quase Morto e Chumbo Grosso, ambos estrelados por Simon Pegg e Nick Frost, dirigidos por Edward Wright e escritos por Pegg e Wright, cada um satirizando um estilo de filme (terror e ação). A diferença é que Wright não está aqui – o roteiro foi escrito por Pegg e Frost, e a direção está nas mãos de Greg Mottola, de Superbad e Férias Frustradas de Verão. (Wright também está em Hollywood, ano passado ele lançou Scott Pilgrim Contra O Mundo.)

Mottola, que antes fazia “filmes com cara de Judd Apatow” – comédias bem escritas, mas nem sempre engraçadas, tem aqui o seu melhor momento na carreira. Paul é divertidíssimo! Algumas piadas são geniais, aliás, arrisco a dizer que esta é uma das comédias mais engraçadas que vi nos últimos anos. O roteiro escrito pela dupla protagonistas é afiado, com um timing perfeito.

Paul é um prato cheio para nerds e fãs de ficção científica. São incontáveis as referências ao universo da FC, rolam citações a Guerra nas Estrelas, Star Trek, E.T., Arquivo X, BSG… Algumas das referências são claras para o público “leigo”; outras, só quem conhece os filmes (como o tema Cantina Band tocado no bar, a briga tosca de Star Trek no deserto, ou a Torre do Diabo de Contatos Imediatos do Terceiro Grau).

Tem mais. Além das citações a outros filmes, vários dos diálogos mencionam clichês da FC – principalmente as falas de Paul. E, last but not least: o próprio Steven Spielberg faz uma participação especial pelo telefone!

Confesso que rolava um certo receio quando li que Seth Rogen seria a voz do alienígena – Rogen está entrando naquele clube do “ator de um só papel”, atores que sempre repetem uma variação do mesmo personagem de sempre (como Jack Nicholson ou Selton Mello, por exemplo). Boa notícia: Rogen não faz feio aqui. Seu sarcástico e irônico Paul é muito bem escrito – talvez o melhor dentre os vários bons personagens. E além disso, a animação em cgi é perfeita – Rogen usou a mesma técnica utilizada por Andy Serkis para fazer o Gollum e o King Kong. O alienígena Paul é impressionante!

O resto do elenco também está ótimo. Simon Pegg e Nick Frost têm excelente química, isso a gente já sabia desde a época dos seus filmes ingleses – o que a gente não sabia é como a dupla iria funcionar hoje, já que a carreira de Pegg deslanchou em Hollywood (ele estava até no elenco do recente Star Trek). O resto do elenco conta com bons nomes como Kristen Wiig, Jason Bateman, Bill Hader e uma participação especial de Sigourney Weaver.

O imdb não fala nada sobre um possível lançamento brasileiro. Se não for lançado aqui, farei o mesmo que fiz com Fanboys: comprarei o dvd importado!

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Rare Exports – A Christmas Tale

Crítica – Rare Exports – A Christmas Tale

Gostei tanto de The Troll Hunter, um filme de terror norueguês, que me empolguei pra ver Rare Exports – A Christmas Tale, um filme de terror finlandês!

Às vesperas do Natal, uma misteriosa escavação arqueológica acontece nas montanhas Korvatunturi, na Finlândia. Logo, crianças começam a desaparecer, e um estranho elfo é capturado por caçadores de renas.

Rare Exports – A Christmas Tale não é tão bom, mas tem mais acertos que erros. A atuação de Onni Tommila como Pietari, o jovem heroi, é muito boa. As paisagens na neve e a ambientação gelada – afinal, é natal na Finlândia – também são pontos positivos.

(Aliás, é curioso reparar detalhes nas diferenças entre Hollywood e o cinema europeu. Os elfos estão todos pelados!)

Por outro lado, o clima é demasiado lento, as coisas demoram a acontecer, e isso num filme de apenas uma hora e vinte! E teve uma coisa que definitivamente não gostei. Mas antes, os tradicionais avisos de spoiler…

SPOILERS!

SPOILERS!

SPOILERS!

O filme levanta um enorme suspense em torno do “Papai Noel do mal”. O jovem Pietari até cita o “Papai Noel da coca-cola” como o Papai Noel “errado”. E, na hora de mostrá-lo, não mostra nada. Fiquei imaginando como seria o filme com o Papai Noel “badmotherf$#@cker” botando pra quebrar!

FIM DOS SPOILERS!

Mesmo assim, Rare Exports – A Christmas Tale ainda vale ser assistido. Afinal, não é todo dia que podemos ver filmes de terror nórdicos por aí, né?

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The Troll Hunter / Trolljegeren

The Troll Hunter / Trolljegeren

The Troll Hunter / Trolljegeren

Uêba! Filme de terror norueguês! E dos bons!

Estudantes estão filmando um documentário sobre caça a ursos na Noruega, quando encontram um misterioso caçador, que na verdade caça trolls em vez de ursos.

Ok, na verdade, não existe nada de novo aqui, a fórmula é a mesma usada em vários exemplos recentes. O que diferencia The Troll Hunter de outros exemplos é que aqui tudo funciona perfeitamente, diferente, por exemplo de Cloverfield, outro filme-de-monstro-usando-câmera-subjetiva.

O filme é muito bem feito. Os atores fazem um bom trabalho na parte “documentário fake”, e a parte dos trolls tem excelentes efeitos especiais – os bichos parecem de verdade. E aparecem bem, alguns filmes nesse estilo, principalmente quando o orçamento é baixo, mostram poucos detalhes das criaturas – no bom filme Monstros, os bicharocos só aparecem no fim. E isso porque nem estou falando das belíssimas paisagens naturais norueguesas!

Gostei de ver uma mitologia diferente do óbvio usado em Hollywood – rola até um lance falando que trolls perseguem cristãos! Nada contra vampiros e zumbis, mas é legal ver algo novo! Mas talvez, por isso mesmo, exista um problema para a plateia “não nórdica”. Li no imdb que o filme tem muitos detalhes da mitologia escandinava dos trolls. Não tem nada essencial, que faça o espectador “leigo” ficar perdido. Mas acho que quem entende mais de trolls vai curtir mais o filme. Mais ou menos como se um cineasta brasileiro fizesse um bom filme de terror usando alguma lenda brasileira, tipo Saci, Curupira ou Boitatá – um gringo pode até curtir o filme, mas não tanto quanto alguém que lê sobre esses personagens desde a infância nos livros de Monteiro Lobato…

Vou guardar o nome do diretor André Øvredal. Mas tenho quase certeza que daqui a pouco vamos ler notícias sobre uma refilmagem hollywoodiana…

Não sei se The Troll Hunter vai ser lançado por aqui, filme norueguês, independente, sei lá, tem cara de só passar em festivais. Mas já existe pra download!

Ah, sim, fique até o fim dos créditos. Rola uma informação importante: “No trolls were harmed during the making of this movie” (“Nenhum troll foi machucado durante as filmagens”). 😀