Crimes do Futuro

Crítica – Crimes do Futuro

Sinopse (imdb): Os humanos se adaptam a um ambiente sintético, com novas transformações e mutações. Com a ajuda de Caprice, Saul Tenser, artista performático, mostra publicamente a metamorfose de seus órgãos em atuações de vanguarda.

Sempre falo aqui que a gente tem que olhar o diretor do filme. Crimes do Futuro (Crimes of the Future, no original) é o novo filme de David Cronenberg. Bora falar um pouco sobre o diretor antes de entrar no filme.

Cronenberg sempre foi um cara ligado ao body horror. Lembro de uma matéria sobre ele numa revista Set ou Cinemin que o nome era “Cronenbleargh”. Ele ficou conhecido no fim dos anos 70 e início dos 80 com filmes como Shivers, Enraivecida na Fúria do Sexo, Scanners e Videodrome, e em 1986 lançou talvez seu filme mais famoso, A Mosca (pelo menos aqui no Brasil fez um grande sucesso). Além de imagens fortes e muito gore, Cronenberg também usava temas pesados, muitas vezes ligadas ao sexo, como em Crash Estranhos Prazeres, que trazia pessoas que se excitavam em acidentes de carro. Nos anos 2000, Cronenberg mudou um pouco o estilo e foi pro drama, com filmes como Marcas da Violência, Senhores do Crime, Um Método Perigoso e Mapas para as Estrelas. Heu prefiro os filmes anteriores, mas, ele agora estava tendo filmes elogiados pela crítica e concorrendo a Oscars (Marcas da Violência concorreu a melhor roteiro adaptado e ator coadjuvante; Senhores do Crime, a melhor ator), achei que era uma espécie de “amadurecimento”…

(Pelo imdb, vi que Cronenberg dirigiu um filme homônimo em 1970, Crimes of the Future, justamente o seu primeiro longa. Nunca tinha ouvido falar deste filme de 1970, li no imdb que apesar dos títulos iguais, a trama é diferente.)

Agora, oito anos depois de seu último longa, Cronenberg lança um novo filme, e de volta ao body horror. Crimes do Futuro tem bastante gore, traz uma certa semelhança com Crash pela perversão sexual, e algo de Exiztenz pela mistura de tecnologia com partes humanas.

O clima do filme é bem legal, a gente começa vendo um menino que come plástico e depois a gente descobre que é uma sociedade onde ninguém mais sente dor, e as cirurgias viram eventos artísticos. Com diz uma personagem, “cirurgias são o novo sexo”. E uma coisa legal é que Cronenberg não explica nada. O espectador que se vire pra entender.

Gostei bastante dessa premissa e de toda a ambientação, mas a história parece que não se desenvolve direito. Algumas subtramas não levam nada. E senti falta de um melhor desenvolvimento de alguns personagens, como a Timlin da Kristen Stewart, que parece que vai chegar em algum lugar mas some do nada. E até agora estou tentando entender qual era a função na trama do policial / detetive que aparece de vez em quando.

Pra piorar, o ritmo é bem lento. Ou seja, o filme tem menos de duas horas, falta coisa pra contar, e mesmo assim é cansativo.

Claro que tem gore. Vemos algumas cenas com corpos sendo cortados e órgãos à mostra. Mas, comparado com outros filmes do diretor, não foi tanta coisa assim.

Sobre as atuações, gostei do Viggo Mortensen e da Kristen Stewart e seus personagens esquisitões, mas eles estão tão esquisitos que acredito que muita gente não vai gostar. Léa Seydoux faz um papel mais dentro da normalidade.

Por fim, queria falar que não entendo este filme estar classificado como terror. Crimes do Futuro não é nada assustador, não tem um vilão / monstro / entidade, o único desconforto que o filme causa é pelo body horror. Será que foi a classificação certa? Fico mais entre ficção científica e drama.

Crimes do Futuro não vai agradar a todos. Arrisco dizer que vai agradar a poucos. Mas, como apreciador da obra do Cronenberg, posso dizer que gostei do resultado.

 

As 6 tosqueiras mais toscas de Obi Wan Kenobi

As 6 tosqueiras mais toscas de Obi Wan Kenobi

Não escondo de ninguém que sou fã de Guerra nas Estrelas. Pra mim, qualquer filme ou série ligado a Star Wars será bem vindo, e vou falar bem. Reconheço que passo pano.

Mas… Essa série do Obi Wan tem tanta coisa tosca… É uma boa série, me diverti, tem alguns momentos excelentes, mas, talvez, se dessem uma enxugada e transformassem num longa metragem, talvez o resultado fosse bem melhor (são 6 episódios entre 40 e 50 min cada, vamos arredondar, seriam 4 horas e meia no total, corta a metade, tem um filme de 2 horas e 15 minutos).

Vejam bem, não estou falando de head canon. Conheço gente que não gostou porque pelo trailer a série seria com o jovem Luke, e na verdade foi foi com a jovem Leia. Gosto de ser surpreendido, não trouxe nenhum head canon para a série.

Também não estou falando de decisões burras dos personagens, como por exemplo o Bail Organa mandar uma mensagem que poderia facilmente ser interceptada. Boa parte do cinema como conhecemos hoje é baseada em decisões burras de personagens.

Meu problema foram detalhes toscos. Gostei da série, gostei de vários momentos, todas as cenas com o Darth Vader nos dois últimos episódios são muito boas. Mas ao lado tinham vários detalhes que a gente pensava “seriously?”.

Vou listar os seis que achei mais toscos. Claro, spoilers liberados.

6- A gente vê uns 50, talvez 100 Stormtroopers, esperando pra entrar na caverna. Tem um canhão lá fora, o ideal seria dar uns tiros de canhão antes, pra dar uma limpada, mas, deixa pra lá. O problema é depois. Ok, a gente sabe que stormtroopers não são bons de mira, a gente sempre viu isso. Mas, é um corredor estreito e eles estão muito perto. Essa cena, pra funcionar, teria que ser num espaço mais amplo, ou com menos gente. Colocar esse monte de gente aglomerada atirando ficou muito ruim. Será que não tinha um estúdio maior?

5- Essas naves menores parecem os snow speeders do Império Contra Ataca. Ok, elas chegam atirando. Mas… Saem atirando de qualquer maneira, acertaram vários stormtroopers, poderiam ter acertado Obi Wan e Leia! E outra coisa: pela velocidade que chegam, não teriam como manobrar e fazer a volta.

4- Os caras têm uma porteira laser. Isso faz sentido para a estrada, para impedir veículos. Por que o Obi Wan precisava atirar e interromper a barreira? Não era só dar a volta?

3- A perseguição na floresta que acontece no primeiro episódio tem que ser citada aqui. Os sequestradores são os mais incompetentes da história, parece até que estávamos vendo um filme dos Trapalhões.

2- A cena do fogo é intrigante. Darth Vader resolve queimar Obi Wan, para se vingar. Aí ele mostra que facilmente pode apagar o fogo. Mas, logo depois, não pode mais? Pra piorar: essa “parede” de fogo tem uns 50 metros. Por que os stormtroopers não deram a volta?

1- Em primeiro lugar, não tem como não ser a fuga da base imperial com a Leia escondida debaixo do roupão. Sim, debaixo do roupão. Sem precisar de muito esforço, qualquer um consegue pensar em vários jeitos melhores dessa fuga acontecer.

Pra terminar, não é exatamente um detalhe, mas achei que a Reva não deveria estar no último episódio. Ela levou um golpe de sabre de luz na barriga – por que Quin Gon Jin morreu, se aqui dois personagens levaram exatamente o mesmo golpe e estão serelepes pela série? Mas, ok, ela sobreviveu. Não estou reclamando disso, estou reclamando dela ir pra Tatooine sem motivo – pra que ela queria o Luke? E aquela redenção dela ficou ruim, muito ruim. Tire a Reva do sexto episódio, o episódio cresce em qualidade.

Obi-Wan Kenobi

Crítica – Obi Wan Kenobi (episódios 1 e 2)

Sinopse (imdb): Spin-off da saga Guerra das Estrelas, centrada em Obi-Wan Kenobi.

Diferente de Mandalorian e Boba Fett, que tinham como protagonistas personagens novos ou secundários, Obi Wan Kenobi traz alguns dos personagens centrais da saga: é o momento entre os episódios 3 e 4, onde Obi Wan vai para Tatooine para proteger Luke Skywalker criança (pra quem não se lembra de detalhes dos filmes, tem um resumo antes do primeiro episódio). E um dos trunfos da série é a volta de Ewan McGregor ao papel de Obi Wan (ok, a gente já sabe que também vai ter Hayden Christensen, mas esse nunca teve outro filme ou papel marcante além de Star Wars, enquanto McGregor tem uma carreira cheia de filmes marcantes).

Um ponto positivo aqui é que todos os seis episódios têm a mesma diretora, Deborah Chow. Sei que ela dirigiu dois episódios de Mandalorian, mas não conheço o trabalho dela. Mas acho positivo toda a série ser dirigida por apenas uma pessoa.

Como fã de Star Wars, uma coisa que acho muito legal (e que também tinha em Mandalorian e Boba Fett) é ver rotinas que aconteciam muito tempo atrás em uma galáxia muito muito distante. Vemos Obi Wan trabalhando numa espécie de açougue, vemos que existe um comércio clandestino de drogas, vemos um ex clone trooper que virou mendigo (interpretado pelo mesmo Temuera Morrison, afinal, eram clones!).

A primeira cena do primeiro episódio mostra jovens jedis sendo atacados pela Ordem 66, numa sequência bem emocionante. E logo depois temos uma cena que lembra Bastardos Inglórios, onde um inquisidor à procura de um jedi fugitivo interroga um comerciante. A série começa excelente!

Quero comentar sobre o meio e sobre o fim, mas vamos aos avisos de spoilers:

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

Pela sinopse e pelo trailer, a gente achava que a série seria sobre o Obi Wan protegendo o pequeno Luke Skywalker. Luke até aparece, mas de longe, numa cena muito rápida, que até está no trailer. Mas, surpresa! Temos a pequena Leia Organa! Somos apresentados a uma Leia de dez anos de idade, uma menina esperta, inteligente e desafiadora. A personagem é ótima, e a atriz Vivien Lyra Blair está muito bem!

Gostei do personagem Haja Estree, do Kumail Nanjiani – Star Wars sempre teve muito maniqueísmo, o bem é 100% bem e o mal é 100% mal, gosto quando vemos personagens de moral duvidosa.

A princípio não gostei da Third Sister, achei que ela, com aquela insubordinação, seria punida pelo Inquisidor. Mas no fim descobrimos que existe algo por trás, que liga ela ao Darth Vader, então passei a aceitar a sua postura.

Sobre a cena final do segundo episódio, conversando com amigos, ouvi duas interpretações. A Third Sister fala para Obi Wan que Anakin ainda está vivo. Amigos meus acharam que Obi Wan se surpreendeu ao saber que Anakin virara Vader, mas, se não me engano, ele já sabia disso desde o ep. 3. A minha interpretação foi outra: Obi Wan já sabia que Anakin era Vader, sua surpresa foi por saber que ele ainda estava vivo – a última vez que ele tinha visto Anakin foi em Mustafar, quando Anakin estava queimado, à beira da morte.

Por fim, sei que está rolando uma discussão sobre o Inquisidor, porque o personagem aparece em Rebels, e vemos sua morte neste episódio. Mas, como não lembro de Rebels, não sei se é o mesmo personagem ou um parecido – e não podemos esquecer que em Star Wars, alguns personagens morrem e voltam depois.

FIM DOS SPOILERS!

Alguns comentários sobre o elenco. Ewan McGregor está excelente, talvez esta seja uma de suas melhores interpretações. Me surpreendi com Vivien Lyra Blair, ela estava em Pequenos Grandes Heróis, num papel importante, mas numa interpretação fuén. Também gostei do já citado Kumail Nanjiani, tomara que seu papel tenha mais importância. Hayden Christensen vai voltar, mas ainda não podemos julgar sua participação. Outro que volta é Jimmy Smits, que estava na trilogia prequel como Bail Organa. Achei curioso ver que os inquisidores são atores relativamente conhecidos, tem o Rupert Friend (o Assassino 47), o Sung Kang (o Han de Velozes e Furiosos) e Rya Kihlstedt (que já vi em alguns filmes mas sempre em papeis secundários). Joel Edgerton está bem como o tio Owen, não sabemos se ele terá uma participação maior. Não gostei de Moses Ingram, que faz a vilã Reva, achei caricata demais, mas pode melhorar com o decorrer da série. E achei uma surpresa divertida ver Flea, do Red Hot Chili Peppers, como o sequestrador.

Serão seis episódios, quarta que vem tem mais um, já estou ansioso!

O Projeto Adam

Crítica – O Projeto Adam

Sinopse (imdb): Um piloto que viaja no tempo junta-se a seu eu mais jovem e a seu falecido pai para chegar a um acordo com seu passado e salvar o futuro.

Ano passado a parceria entre Ryan Reynolds e o diretor Shawn Levy gerou um bom filme, Free Guy. Resolveram repetir a parceira no novo lançamento da Netflix.

O Projeto Adam (The Adam Project, no original) é um bom filme família, uma aventura com toques de ficção científica e cara de filmes dos anos 80. Claro, tem suas inconsistências, mas quem embarcar na proposta vai se divertir.

O melhor de O Projeto Adam é a interação entre os dois Adams. Ryan Reynolds faz o de sempre, o engraçadinho irônico que ele se especializou de um tempo pra cá. Se por um lado não tem nada de novo, por outro lado ele faz isso muito bem. E o garoto Walker Scobell é ótimo, e a dupla funciona muito bem junta.

No resto do elenco, ninguém chama a atenção, mas são atores carismáticos, que agradam mesmo fazendo o feijão com arroz – como Zoe Saldana e Jennifer Garner, que são muito secundárias e infelizmente pouco aparecem. Já Mark Ruffalo tem um pouco mais de tempo de tela. Catherine Keener faz a vilã, e o que chama a atenção é que temos duas versões dela uma delas rejuvenescida digitalmente. O que era novidade poucos anos atrás já é algo corriqueiro.

Assim como Free Guy, O Projeto Adam tem referências à cultura pop. Algumas são discretas, como a perseguição na floresta que lembra muito O Retorno do Jedi, outras são explícitas, como a arma que parece um sabre de luz (o pequeno Adam inclusive chama de sabre de luz). Ah, a caixa onde o Mark Ruffalo guarda as bolas e luvas tem um adesivo do Hulk e outro do Deadpool. E a minha cena favorita é quando o garoto pega e usa o “sabre de luz”, cena que inclusive cita o “super hero landing” de Deadpool.

Li críticas sobre os efeitos especiais, mas não teve nenhum que me incomodou.

Claro, nem tudo é perfeito. O roteiro é cheio de conveniências e algumas coisas sem lógica – tipo se o guarda fica invisível até se aproximar, por que não ficar invisível por mais um ou dois segundos? Só pra dar tempo de reação? Além disso, por duas vezes o protagonista está em uma situação sem saída e ele é ajudado por uma solução deus ex machina.

Mas, como falei, quem embarcar na proposta vai se divertir.

Immanence

Crítica – Immanence

Sinopse (imdb): Radioastrônomos descobrem um sinal misterioso no mar profundo que pode ser um contato alienígena. Após várias manifestações aterradoras ameaçarem suas crenças, a equipe deve lutar para sobreviver ao mal supremo.

Gosto de filmes que misturam terror e ficção científica – fiz um top 10 sobre o assunto. Mas confesso que, por não ter ninguém conhecido no elenco nem na produção, fui ver Immanence com o pé atrás.

A palavra “imanência” existe na língua portuguesa, fui catar na wikipedia a definição: “Na teologia e metafísica, sustenta que o divino ou Absoluto abrange ou se manifesta no mundo material, e imanentismo é o termo usado para se referir à noção de que Deus ou uma mente ou espírito abstrato pervade o mundo. É sustentado por algumas teorias filosóficas e metafísicas da presença divina e providência. A imanência é geralmente aplicada nas crenças religiosas (…) para sugerir que o mundo espiritual permeia o mundano, sendo frequentemente contrastada com as teorias da transcendência divina, nas quais o divino é visto como estando fora do mundo material.”

Preciso admitir, Immanence começa bem. Produção pequena, quase o filme inteiro se passa dentro de um barco com meia dúzia de atores, mas alguns dos pontos levantados até geram curiosidade, ao confrontar ciência vs religião. E o filme começa a desenvolver subtramas individuais sobre casos particulares de cada um dos personagens.

Uma parte do filme me lembrou Coherence, outro filme alternativo com pouco elenco e locação reduzida. O grupo encontra um outro barco, como se fosse uma realidade paralela. Essa foi uma boa sacada. Pena que o desenvolvimento dessa ideia não funcionou. Porque o final… Caramba, que final tosco… Sem entrar em muitos spoilers, mas aparece um grande antagonista, e o plano dele não faz o menor sentido! Cada vez que a gente pensa mais, vê que a parada não tem lógica. E, pra piorar, aquelas subtramas são abandonadas, e a discussão religiosa desanda e vira uma lenga-lenga chata.

No elenco, ninguém conhecido, e se for depender deste filme, continuarão desconhecidos – as atuações vão de maomeno para péssimo.

Enfim, mais um exemplo de “filme de Schrodinger”. É melhor não ver a parte final e imaginar que talvez termine bem.

Boba Fett e o mimimi nerd

Boba Fett e o mimimi nerd

Heu estava esperando o fim da série The Book Of Boba Fett pra fazer um texto sobre toda a temporada. Mas essa semana os nerds chatos estão tão chatos que resolvi antecipar e fazer um post só pra falar do mimimi nerd.

Está rolando um hate geral pela série, e não consigo entender por que. Parece que é hate só pelo prazer de hate – tipo o que rolou com o filme do Han Solo, uma divertida aventura espacial, cheia de fan services, mas que tem muito fã que gosta de dizer que é ruim só pelo prazer de ser chato.

Me mandaram um link de um cara que escreveu pro uol – não é um blog pessoal, é o uol! O cara escreveu falando mal, mas parece que o cara não viu a série. Por exemplo, ele fala que determinado momento do episódio tem uma luta onde duas pessoas estão cercadas por seis oponentes, e que os oponentes “começam a cair no chão”. Caramba, chegaram reforços, dois gamorreanos entraram na luta! Amigo, larga o celular e presta atenção no que tá na tela!

O carinha do uol reclama que uma série do Boba Fett já começa errado porque o personagem morreu. Ué, a gente vê logo no início do primeiro episódio como ele se salvou. Por outro lado, o Imperador Palpatine morreu no Retorno do Jedi e volta no episódio 9, e ninguém falou nada. Pior ainda: Darth Maul morreu, a gente viu o cara cortado no meio, e ele volta  em Clone Wars e em Han Solo. E em nenhum desses dois casos explicaram como é que os personagens voltaram à vida.

Cheguei a ler o absurdo de gente criticando The Book of Boba Fett porque alguns personagens têm motos coloridas. Seriously? Se as motos power rangers forem a pior crítica que vocês conseguem achar, a média tá boa.

Até o episódio quatro, estava rolando um mandela effect sobre a direção dos episódios. Recebi comentários vindo de três fontes diferentes a informação de que Robert Rodriguez seria o diretor de todos os episódios. Galera, vocês não leem os créditos? O nome do Robert Rodriguez aparece no primeiro e no terceiro episódios. O segundo foi dirigido por Steph Green, e o quarto, por Kevin Tancharoen. Rodriguez ainda vai dirigir pelo menos mais um, mas não é tudo dele!

O quinto episódio (dirigido pela Bryce Dallas Howard) é bem diferente dos anteriores (e concordo que é bem melhor). Os haters aproveitaram pra dizer “é melhor porque tem o Mandaloriano em vez do Boba Fett!”. Gente, vocês precisam entender que o Mandaloriano existe POR CAUSA do Boba Fett. Fett foi um personagem secundário que apareceu no fim de Império Contra Ataca e início de Retorno do Jedi, e que caiu na graça dos fãs. Os fãs começaram a criar um culto ao personagem – tanto que ele ganhou importância na trilogia prequel. Se a gente teve a excelente série The Mandalorian, precisamos agradecer à existência do Boba Fett. Sem ele, não teria Baby Yoda!

(E, lembrando que a primeira aparição do Boba Fett foi no Star Wars Holiday Special, a gente chega à conclusão que quem gosta do Grogu precisa respeitar o Holiday Special!)

Alguns haters sob o efeito do mandela effect disseram que o quinto episódio foi melhor porque a Bruce Dallas Howard dirigiu episódios de The Mandalorian. Verdade. Mas Robert Rodriguez também dirigiu! Galera, se esforcem mais nos argumentos hater!

Detesto usar o argumento do “nerd velho”, que é quando uma pessoa argumenta que é mais fã porque viu a trilogia clássica no cinema. Acho que todo mundo tem direito de ser fã, seja o cara que estava lá no cinema em 1978, seja o cara que só conheceu tudo depois do streaming. Todo mundo é fã, ponto. Dito isso… Preciso usar a carta do nerd velho. Heu vi O Retorno do Jedi no cinema em 1983, e esperei 16 anos por um novo filme da saga. A gente viu Caravana da Coragem no cinema achando que era continuação do Retorno do Jedi! E, depois de esperar 16 anos, a gente viu um filme com o Jar Jar Binks! E viu mais de uma vez, e depois comprou o DVD!!! O “nerd novo” tá mal acostumado, desde que a Disney comprou Star Wars em 2012, foram cinco filmes nos cinemas e três temporadas de séries – e não estou contando as animações. Pô, galera, tem material pra caramba, dá pra todo mundo ser feliz, se você não quiser ver um deles, é só não ver.

Quem não quiser gostar de The Book of Boba Fett, não goste. Gosto é pessoal, goste do que você quiser.
Mas não encha o saco!

Matrix: Ressurrections

Crítica – Matrix: Ressurrections

Sinopse (imdb): Regresse a um mundo de duas realidades: uma, a vida quotidiana; a outra, o que fica para trás. Para descobrir se a sua realidade é uma construção, para se conhecer a si próprio, o Sr. Anderson terá que seguir o coelho branco.

Alguns amigos estavam com expectativa alta para este novo Matrix, mas preciso dizer que minha expectativa era zero. O primeiro é realmente muito muito bom, mas suas continuações são bem fracas.

A gente tem que reconhecer que o Matrix de 1999 é um marco na história do cinema. O filme levantava questões filosóficas ao mesmo tempo que explodia cabeças com efeitos especiais nunca vistos anteriormente. Mas, as Wachowski parecem ser diretoras de um filme só, seu currículo é repleto de filmes ruins (além dos Matrix 2 e 3, elas fizeram Ligadas Pelo Desejo, Speed Racer, Destino de Júpiter e Cloud Atlas – ou seja, nenhum filme relevante).

Com expectativa lá embaixo, fui ao cinema ver o novo, Matrix Ressurrections, agora dirigido só por Lana Wachowski (primeiro longa sem a irmã Lilly Wachowski). E, olha, gostei da primeira parte do filme!

O filme começa numa boa sacada de metalinguagem. Os anos se passaram, e a gente vê um Thomas Anderson que criou uma trilogia de videogames Matrix e ganhou vários prêmios em 1999, e hoje vive com a sombra do passado brilhante enquanto vive um presente medíocre, ao mesmo tempo que sofre pressão para voltar à franquia e criar o Matrix 4. Não li sobre bastidores da produção, mas provavelmente deve ser um reflexo do que a diretora Lana Wachowski vive hoje.

Enquanto o filme está nessa onda de metalinguagem, rolam várias sacadas muito boas. Tem uma sequência excelente alternando reuniões de brainstorm e um Thomas Anderson desnorteado, tudo isso ao som de White Rabbit do Jefferson Airplane.
Mas aí Thomas Anderson resolve tomar a pílula vermelha e o filme resolve voltar a ser igual ao Matrix de 99…

(Sei não, mas nos últimos 20 anos o significado de “pílula azul” mudou, mas deixa pra lá).

Não sei se é correto dizer que a segunda parte de Matrix Ressurrections é ruim. Mas é uma cópia barata do primeiro Matrix – assim como os outros dois, Matrix Reloaded e Matrix Revolutions.

E aí a gente lembra que o primeiro filme foi 22 anos atrás, e que muita coisa tecnológica evoluiu de lá pra cá. Se Matrix falava de máquinas controlando homens, o novo filme poderia atualizar esse tema entrando nas Inteligências Artificiais que tanto se intrometem na nossa vida atual. Que nada, o filme nem entra nesse assunto.

E a gente fica se perguntando pra que ver mais um filme da franquia, se não traz nada de novo. E ainda tem uma parte no fim onde tem um plano tão enrolado e tão explicado que me senti num filme do Christopher Nolan.

Pelo menos o filme é tecnicamente bem feito. A parte técnica dos filmes das Wachovski sempre foi muito bem cuidada, e, se aqui o filme não traz nada de novo como o efeito bullet time de 1999, pelo menos os efeitos são bons (teve um detalhe que aparece no início que achei bem legal, mas não voltaram a isso, que são portais que não estão no mesmo eixo). Agora, teve uma cena que me pareceu fora do “estilo Matrix”. A cena do trem é confusa e as lutas são mal coreografadas. Achei uma cena fora da curva – no mau sentido.

Outra coisa me incomodou: o Keanu Reeves com visual de John Wick. Sei que às vezes um ator precisa manter um visual por um personagem, mas não acredito que uma super produção como Matrix tenha problemas em pedir para um ator mudar o visual. Ficou muito estranho.

Reeves está ok, ele não é um grande ator, mas sempre funciona. Gostei da volta da Carrie-Anne Moss, ela está muito bem. Por outro lado, não gostei da substituição do ator do Morpheus, Laurence Fishburne não voltou, sei lá por qual motivo, e ele foi substituído por Yahya Abdul-Mateen II. Até aí, ok, atores são substituídos desde sempre na história do cinema. O problema é que o tempo todo aparecem imagens do Morpheus do Laurence Fishburne – tem até uma estátua dele! Se é pra trocar o ator, que se troque de uma vez, ficar mostrando os dois foi esquisito. Também voltam ao elenco Jada Pinkett Smith, e Lambert Wilson aparece numa divertida participação pequena. De novidade, temos Neil Patrick Harris, Jonathan Groff, Jessica Henwick e Priyanka Chopra Jonas, e uma rápida aparição da Christina Ricci.

No fim, fica sensação de oportunidade perdida. Pena. Fiquem com o primeiro.

Finch

Crítica – Finch

Sinopse (imdb): Finch, o único sobrevivente do apocalipse em St. Louis, constrói um robô para seu cão. Eles viajam para o oeste para escapar do tempo severo. O robô aprende com Finch.

Quando a gente lê sobre este Finch, a gente logo lembra de um dos papéis mais famosos do Tom Hanks, o náufrago que passa quase o filme inteiro sozinho. Só que Finch lembra mais filmes como Moon ou Ex Machina, onde há uma grande interação com um robô / inteligência artificial.

Digo isso porque o robô Jeff é uma das melhores coisas do filme dirigido por Miguel Sapochnik (Repo Men). Tanto pela parte técnica quanto pelo personagem em si. Não vi nenhum making of, não sei o que é animatronic e o que é cgi (desconfio que devia ter um boneco no set para interagir com o ator, e que toda a movimentação seja cgi). Mas, não importa. O que interessa é o resultado que ficou perfeito.

E não é só a parte técnica. Ingênuo, curioso e colaborativo, o robô tem mais carisma que muito ator de pele e osso. Em sua jornada para entender como um humano pensa, ele conquista o espectador.

Agora, o roteiro é fraco. A jornada de Finch, seu cachorro e seu robô é muito simplificada. A gente não tem nenhum aprofundamento sobre o que aconteceu com o mundo, ou sobre outras pessoas neste mundo pós apocalíptico. Determinado momento do filme, parece que a trama vai seguir esse caminho do confronto com outros sobreviventes, mas logo abandonam esse plot. Aliás, toda essa sequência ficou jogada de qualquer maneira, se tirassem esse trecho, não mudava nada no filme.

Vale pelo robô. Mas tem coisa melhor por aí.

Oats Studios

Crítica – Oats Studios

Wikipedia: Oats Studios é um estúdio de cinema independente fundado em 2017 pelo cineasta sul-africano indicado ao Oscar Neill Blomkamp. O estúdio foi criado com o objetivo de distribuir curtas experimentais via YouTube e Steam, a fim de avaliar o interesse da comunidade e feedback sobre quais deles são viáveis para expansão em longas-metragens. Os atores apresentados nos filmes incluem Sigourney Weaver, Carly Pope, Sharlto Copley, Kellan Lutz e Dakota Fanning.

Quando fiz o texto sobre Demonic, pesquisei a página do imdb do Neill Blomkamp e vi que tinham vários curtas feitos nos últimos anos. Foi uma agradável surpresa ver que os curtas estão disponíveis na Netflix, como se fosse uma temporada de série, este Oats Studios.

São dez curtas, entre 4 e 26 minutos de duração. Nove foram dirigidos por Neill Blomkamp: Rakka, Base, Cozinhando com Bill, Deus: Serengeti / Chicago, Zigoto, Adam ep 2, Adam ep 3, Gdansk e Kapture: Gafanhotos. Presidente Ruim é o único que não sei se é dirigido por ele – no imdb não tem créditos de diretor!

De um modo geral, achei que todos têm um ponto positivo e um ponto negativo. O positivo é que o visual, a ambientação e os efeitos especiais são excelentes. Por outro lado, o ponto negativo é que quase todos parecem boas ideias, mas sem nenhum desenvolvimento. É uma introdução, quando parece que a história vai começar, o filme acaba. É meio frustrante, queria ver mais de algumas das histórias.

Na minha humilde opinião, três dos curtas não têm muito a ver com os outros, Deus: Serengeti / Chicago, Cozinhando com Bill e Presidente Ruim – aliás este Presidente Ruim é muito bom, principalmente nos dias de hoje. Curiosamente, os dois últimos têm o mesmo elenco, Alec Gillis e Carly Pope. Esses três fogem um pouco da proposta de futuros distópicos e invasões alienígenas que os outros trazem.

Um breve comentário sobre cada um:

Rakka – A Terra foi invadida e os alienígenas estão transformando o planeta e exterminando humanos. Um grupo de resistência se prepara para reagir.
Base – Vietnã, 1970, a CIA investiga o deus do rio e os eventos sobrenaturais que ele evoca.
Cozinhando com Bill – São 4 historinhas satirizando programas de culinária, mas com receitas e equipamentos bizarros. Engraçado, mas bobinho, e não tem muito a ver com os outros.
Deus: Serengeti / Chicago – Dois curtas onde Deus controla as pessoas em uma maquete. Esse é bem sem graça.
Zigoto – Duas pessoas estão em uma base isolada, com quase tudo destruído em volta, e estão fugindo de um ser assustador.
Adam ep 2 – Animação com robôs. História besta, animação excelente.
Adam ep 3 – Uma mulher procura abrigo num mundo pós apocalíptico
Gdansk – Animação curtinha que mistura idade média com ficção científica.
Kapture: Gafanhotos – Duas animações curtinhas com experiências bélicas.
Presidente Ruim – Um presidente americano caricato, vai agradar muita gente, só achei que não tem a ver com os outros curtas.

Alguns curtas são de alguns anos atrás, lembro de ter visto Zigoto no youtube em 2017.

Não é nenhuma novidade, mas é legal ter isso organizado pela Netflix. E foi legal ter visto algo do Neill Blomkamp depois da catástrofe que foi. Demonic.

Duna (2021)

Crítica – Duna Parte 1 (2021)

Sinopse (imdb): Adaptação do romance de ficção científica de Frank Herbert, sobre o filho de uma família nobre encarregada de proteger o bem mais valioso e o elemento mais vital da galáxia.

É curioso ver um novo filme logo depois de ver uma versão anterior. Na verdade, este filme não tem nada a ver com aquele, mas como os dois são baseados no mesmo livro, várias cenas são bem parecidas. Aliás, diria que quem está com a outra versão fresca na cabeça vai saber mais ou menos dois terços do que acontece aqui.

Mas, em defesa da nova versão, aqui tudo é mais bem feito. Este novo Duna acerta em quase tudo o que o outro errou.

Mas, começarei o meu comentário com uma crítica. Logo no início, vemos o título “Duna Parte 1”. Ou seja, já começamos sabendo que é um filme sem fim.

Claro que O Senhor dos Anéis vem à lembrança. São dois clássicos da literatura fantástica (um de fantasia, outro de ficção científica), duas obras com fama de serem difíceis de adaptar, e duas obras que já tiveram uma adaptação cinematográfica que não deu muito certo (o sucesso do Senhor dos Anéis do Peter Jackson foi tanto que muita gente esqueceu da versão em animação feita por Ralph Bakshi em 1978). A diferença é que Peter Jackson bateu o pé para que se filmassem logo os três filmes da trilogia Senhor dos Anéis – coisa que o estúdio não queria (porque se o primeiro flopasse, o que fazer com as continuações?). Duna só tem a primeira parte filmada; a continuação ainda não foi confirmada pelo estúdio…

Enfim, a gente tem que trabalhar com o que tem nas mãos. Não sabemos se o filme terá fim, mas, pelo menos esta metade que está pronta trouxe um resultado muito positivo.

Dirigido por Denis Villeneuve (Blade Runner 2049 e A Chegada), Duna é um filmão. A fotografia é um espetáculo. Tudo é grandioso, os cenários (digitais ou não, não sei) são gigantescos, os diferentes planetas são mostrados em planos abertos, tem um monte de  personagens com armaduras e trajes diferentes (quem coleciona action figures vai ter um prejuízo com esse filme). Tudo passa a sensação de que estamos diante de um “filme evento”.

(De vez em quando falam coisas como “o streaming vai matar o cinema”. Olha, a não ser que você seja muito rico e tenha uma sala de cinema especialmente construída na sua casa, não tem como barrar a experiência de ver um filme desses numa sala de cinema, com uma tela grande e um som equilibrado em volta. Duna é filme pra se ver no cinema!)

Não curti muito a trilha sonora do Hans Zimmer. Reconheço que é uma trilha épica, coerente com a proposta do filme. Mas achei a pegada muito parecida com o tema da Mulher Maravilha no Snydercut – composta pelo mesmo Hans Zimmer.

O elenco é cheio de estrelas. Assim como na versão de 84, este formato não cabe grandes atuações, mas podemos dizer que Timothée Chalamet é perfeito para o papel – ele tem cara de novo e seu tipo físico aparenta fragilidade, mesmo assim tem agilidade para as cenas de ação, e, principalmente, tem carisma para carregar o protagonismo de um filme desse porte. Se tiver que escolher um destaque para o resto do elenco, fico com Jason Momoa, seu personagem aqui tem muito mais relevância que no filme de 84. Também no elenco, Rebecca Ferguson, Zendaya, Oscar Isaac, Stellan Skarsgård, Josh Brolin, Javier Bardem, Dave Bautista, Charlotte Rampling e David Dastmalchian. A Zendaya tem muito pouco tempo de tela, mas sua personagem deve ter destaque no próximo filme.

Teve um detalhe que achei bem legal, um cuidado com as legendas. Não li o livro, mas sei que existem termos criados pelo autor, e que estão num glossário dentro do livro. O tradutor teve o cuidado de procurar palavras como trajestilador, dagacris e ornitoptero e incluir nas legendas.

Nem todo mundo vai curtir. É um filme longo – pouco mais de duas horas e meia – e lento. Várias cenas contemplativas. E, pela divulgação, sei que tem gente que vai ao cinema atrás de um novo Star Wars. Esses vão sair do cinema decepcionados. Cometi o mesmo erro quando adolescente, quando fui ver Blade Runner querendo ver uma aventura espacial e me decepcionei com o que vi (anos depois revi e virei fã de Blade Runner).

Agora é torcer pro estúdio bancar a segunda parte!