A Noite do Chupacabras

Crítica – A Noite do Chupacabras

Ficou pronto o aguardado novo filme de Rodrigo Aragão, diretor do cult trash Mangue Negro!

O filme fala de uma velha briga por terras entre duas famílias rivais. Enquanto isso, um misterioso monstro espreita no meio do mato.

Rodrigo Aragão falou antes com a plateia. Explicou que esta versão ainda não é a definitiva, que ele estava trabalhando numa versão quatro minutos mais curta, e com o som melhorado.

O filme é muito divertido, um legítimo trash. Quem gosta do estilo não se decepcionará. Muito gore, muita gosma, de várias cores diferentes, de várias origens diferentes. Muito bom! 😀

Claro, nem tudo é perfeito. O som ambiente tem falhas claras (tomara que isso seja uma das coisas consertadas na nova edição). O elenco tem atores caricatos, mas isso já era esperado, pelo estilo do filme.

Por outro lado, um nome em particular está tão caricato que ficou genial: um dos papeis principais é de Peter Baiestorf, um dos maiores realizadores do underground brasileiro, autor de dezenas filmes trash (segundo o wikipedia, são 17 longas, mais alguns curtas e médias). Na época de Mangue Negro, li uma comparação entre Rodrigo Aragão e Sam Raimi da época do primeiro Evil Dead; Baiestorf seria o seu Bruce Campbell. Baiestorf perde um olho, alguns dedos, se suja de vários tipos de gosma e não para de gritar palavrões! Vou procurar um dos seus filmes, depois comento aqui – já tenho baixado “Vadias do Sexo Sangrento“!

(Aliás, falando em Baiestorf, sei que um de seus filmes de chama “Vou Mijar na P#@rra do Seu Túmulo” – determinado momento do filme, seu personagem, ensandecido, grita exatamente isso!)

Ah, sim, falei em gosma, né? Nisso, o filme é de primeira linha. Tanto a maquiagem quanto os efeitos de gore são muito bem feitos. Nisso, a equipe é tão eficiente que houve uma oficina de maquiagem durante o Rio Fan – e a oficina estava lotada.

Além disso, a trilha sonora, com vários temas instrumentais feitos apenas com percussão, é muito legal, mostra um lado legal da música brasileira, sem precisar cair nas obviedades do samba e da mpb. Bola dentro!

Também é importante notarmos a evolução técnica que Aragão conseguiu desde Mangue Negro. A qualidade da imagem era um dos pontos fracos do outro filme, agora melhorou muito. Outra coisa é o elenco mais heterogêneo, nada de atores novos sob forte maquiagem para interpretar personagens velhos.

O que dá pena ao ver um filme desses é saber que ele nunca será lançado nos cinemas convencionais. Torço para que um dia heu consiga uma edição em dvd tão legal como a edição de Mangue Negro que comprei das mãos de Aragão: um dvd duplo, cheio de cartões dentro do encarte, e com uma caixinha de papel em volta. Edição de luxo! 😉

Acredito que o filme ainda não exista para baixar. E espero ainda rever numa tela grande. Mas, enquanto nenhuma das opções é viável, fiquem com o trailer:

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Agora, um adendo: uma foto minha, entre o ator principal Joel Caetano e o diretor Rodrigo Aragão, tirada logo após a exibição do filme. Agradecimentos a Rodrigo Giane, que tinha uma câmera com flash (a minha câmera não tinha…).
(Rodrigo Aragão é o de barba!)

Malu de Bicicleta

Crítica – Malu de Bicicleta

Conquistador, o empresário paulistano Luiz Mario está de férias no Rio de Janeiro, quando é atropelado pela bicicleta da carioca Malu. Eles se apaixonam e se casam. Mas Luiz Mario se revela mais ciumento do que deveria ser.

Dirigido por Flavio Tambellini, Malu de Bicicleta tem como roteirista o próprio Marcelo Rubens Paiva, autor do livro onde o filme se baseou. Não li o livro, mas, na minha humilde opinião, o roteiro ficou devendo.

Todo mundo conhece pessoas como o protagonista Luiz Mario: o cara mulherengo que, quando se apaixona, vira ciumento e possessivo de maneira doentia. O roteiro pincela alguns momentos de loucura, mas fica só na superfície de uma ideia que poderia fazer de Malu de Bicicleta um filme bem mais interessante. Do jeito que ficou, temos um filme bobo, com uma história linear, comum e sem graça.

Outra coisa que não ajuda é o protagonista. Marcelo Serrado não é mau ator, mas, pelo que o filme indica, teria que ser um cara bem mais “pintoso”. A Gianne Albertoni dá uma cantada, ele recusa, e ela fica com raiva – essa cena não rola com um cara “normal” como o Marcelo Serrado… Já Fernanda de Freitas não decepciona.

Tecnicamente, o filme é bem feito e aproveita bons cenários, tanto no Rio quanto em São Paulo. Vai agradar os fãs de cinema nacional. Mas que poderia ser melhor, ah, isso poderia…

Cilada.com

Crítica – Cilada.com

Cilada.com é uma série do Multishow, escrita e dirigida por Bruno Mazzeo. O desafio era transformar a série em um longa metragem. Funcionou?

Bruno (Bruno Mazzeo) trai a namorada na frente de todos em uma festa de casamento. Como vingança, ela coloca na internet um video de uma performance sexual fracassada. Enquanto tenta recuperar a sua imagem, ele se mete em várias ciladas.

Não sei se este era o objetivo dos realizadores, mas o filme dirigido por José Alvarenga Jr (Os Normais, Divã) parece uma comédia romântica hollywoodiana padrão. Segue direitinho a “receita de bolo”: o casal se separa, mas descobre que ainda se gosta. Vários incidentes os impedem de ficarem juntos, até o fim previsível.

Não que isso seja ruim, o cinema brasileiro tem amadurecido, e este tipo de filme tem espaço no mercado: um filme que não tem a pretensão de ser um grande filme, tampouco agride o espectador pela má qualidade. Um produto mediano, descartável, que serve para o objetivo proposto: distrair o espectador por uma hora e meia.

Bruno Mazzeo lidera um elenco ok, que conta com Fernanda Paes Leme, Carol Castro, Sérjão Loroza, Augusto Madeira, Fulvio Stefanini e Fabiula Nascimento. Achei Loroza um pouco acima do tom, mas nada que estrague o filme.

Na minha humilde opinião, o pior pecado de Cilada.com é a irregularidade das piadas. Algumas são boas, mas outras são de péssimo gosto – aquela cena do “grupo de apoio” foi completamente desnecessária. E não, a bunda de Serjão Loroza não é engraçada, não precisava desta apelação.

No geral, apesar de uma baixaria aqui e outra ali, e de vários momentos previsíveis, o filme vai agradar os menos exigentes.

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Divã
500 Dias Com Ela
A Mulher Invisível

Tudo Novo de Novo

Crítica – Tudo Novo de Novo

No início, este blog era só sobre filmes. Mas depois comecei a falar também de séries. Será que tem espaço pra série nacional?

A arquiteta Clara (Julia Lemmertz), recém separada, com dois filhos, um de cada ex-casamento, começa a se relacionar com o engenheiro Miguel (Marco Ricca), separado e com uma filha. Eles tentam formar uma nova família, incluindo todas as confusas ramificações de ex-cônjuges e meio-irmãos.

(Lembrei da excelente música “Kit-Homem“, do Nervoso e Seus Calmantes, que fala justamente desta atual situação da família brasileira. O cara que se separa e começa uma nova relação traz consigo um “kit”…)

Antes de falar de uma série da Globo, preciso avisar que não vejo novelas, nunca. Não saco NADA de novelas, então aqui não vai rolar nenhuma comparação com estilos e técnicas usadas pelos folhetins diários tão adorados pela população brasileira!

Tudo Novo de Novo foi uma minissérie de 12 capítulos, de aproximadamente meia hora cada, feita pela rede Globo em 2009. Não sei se todo mundo vai achar o tema interessante, mas heu, que vivo com filhos de dois casamentos diferentes, gostei da ideia.

Tudo Novo de Novo tem seus bons momentos, apesar de às vezes o roteiro cair nos clichês de comédias românticas – rola muita “tempestade em copo d’água”, muitos dos conflitos apresentados seriam facilmente resolvidos com simples diálogos. Mas, no geral, o roteiro funciona bem, a trama não cansa e deixa a gente com vontade de ver logo o próximo capítulo.

O elenco foi bem escolhido. Julia Lemmertz e Marco Ricca estão bem como o casal cheio de “bagagem”. No elenco de apoio, ainda tem Guilherme Fontes, Vivianne Pasmanter, Irene Ravache, Arieta Corrêa e Marcelo Szpektor, e as crianças Poliana Aleixo, Daniela Piepszyk e Felipe Santos. Aliás, o elenco infantil é um dos pontos fracos da série – o menino Léo tem alguns diálogos ótimos, mas o ator é tão fraquinho…

Heu também tenho uma crítica sobre os sotaques. Atores cariocas com sotaque do Rio, paulistas com sotaque de São Paulo. A menina tem sotaque paulista, e mora com o irmão, com sotaque carioca. Por que é tão difícil aqui no Brasil as pessoas se preocuparem com algo tão simples?

Por outro lado, a série abusa (no bom sentido) das belas paisagens cariocas. Um dos cenários é uma obra no início da Barra, rolam várias cenas panorâmicas aproveitando a alvorada ou o por do sol. Outra coisa legal: em tomadas internas, frequentemente a fotografia colocava algum objeto perto da câmera e deixava a ação em segundo plano – maneira interessante de colocar o espectador sob um ponto de vista voyeurístico.

Não sei se a Globo pretende reprisar a série. Mas já existe em dvd.

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Divã
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Vips

Vips

Marcelo (Wagner Moura) é um mitômano – um cara que mente, e realmente acredita naquela mentira. Com suas mentiras, primeiro ele vira um piloto de avião, e depois aplica um golpe no carnaval de Recife, se passando pelo filho do dono de uma companhia aérea.

Assim como falei que o melhor de Bruna Surfistinha é o talento de Deborah Secco, o melhor aqui é a inspirada atuação de Wagner Moura, que brilha no papel que todo bom ator almeja: um personagem camaleônico – são pelo menos quatro personagens distintos em um só!

Wagner Moura está em alta. Depois do capitão / coronel Nascimento, seu star power cresceu tanto que ele foi escalado para viver o principal vilão de Elysium, nova ficção científica de Neil Blomkamp (Distrito 9), com previsão de estreia em 2013, onde ele vai contracenar com Matt Damon, Jodie Foster e William Fichtner. Vips, que foi filmado antes disso, agradece a exposição…

Vips pelo menos é um bom filme, coisa que infelizmente não é muito comum no cinema nacional – seria bem pior se depois de “virar internacional” aparecesse algo como Ó Pai Ó no currículo… A produção do filme dirigido por Toniko Melo é bem cuidada, a parte técnica funciona redondinha. E o ritmo do filme é leve e ágil, Vips não é exatamente uma comédia, mas tem seus momentos engraçados.

Vips não é um filme essencial, mas é uma boa diversão.

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Meu Nome Não é Johnny
Tropa de Elite 2
O Primeiro Mentiroso

Bruna Surfistinha

Crítica – Bruna Surfistinha

Raquel (Deborah Secco) é uma jovem de classe média que tem uma vida normal, apesar dos problemas de relacionamentos em casa e na escola. Até que ela resolve largar tudo e virar garota de programa. Usando o “nome artístico” Bruna Surfistinha, ela fica conhecida na casa onde trabalha, e depois fica ainda mais famosa ao criar um blog onde relata suas experiências.

Bruna Surfistinha tem uma grande virtude e um grande defeito. O melhor aqui é a atuação de Deborah Secco. Mas, por outro lado, sua personagem principal é uma pessoa difícil…

Deborah Secco tem um papel complicado, sua Bruna é complexa e, pra piorar, passa boa parte do filme sem roupa e contracenando com dezenas de homens diferentes. Mas ela manda bem, passa credibilidade em todas as nuances pelas quais a sua personagem passa. E ela não está sozinha, ela encabeça um bom elenco, com poucos nomes conhecidos (de famoso, mesmo, só Cássio Gabus Mendes e Drica Morais). As meninas que fazem as outras garotas de programa estão todas bem.

Mas a personagem em si… Olha, não tenho nada contra a profissão escolhida, o problema é que a Bruna, pelo menos no filme (não li o livro), não mostra nenhum motivo convincente para ter entrado nessa vida. E, pra piorar, ela trata mal todos que a querem bem. Fica difícil simpatizar com alguém assim, né?

(Tem outro problema, mas aí não tem jeito. Bruna começa a fazer sucesso entre as garotas de programa. Bem, Deborah Secco é muito mais bonita que as outras atrizes, então, claro que ela faria mais sucesso. Mas, se a gente olhar fotos da Bruna real, ela é bem mais parecida com as colegas… Aliás, quem tiver curiosidade de ver a Bruna real, ela faz a hostess do restaurante onde Hudson marca o encontro.)

O filme acerta na dose de assuntos polêmicos, afinal, é um filme recheado de sexo e drogas (mostra o envolvimento de Raquel / Bruna com a cocaína), mas não cai no caricato nem vira sensacionalista por causa disso. Palmas para o roteiro e para a direção do estreante Marcus Baldini!

O roteiro foi baseado no livro O Doce Veneno do Escorpião, escrito pela Bruna real a partir do seu blog. O roteiro deixa de lado algumas fases famosas da vida de Bruna, como o próprio livro e o envolvimento com o cinema pornô – sim, a Bruna Surfistinha real fez alguns filmes pornôs, depois de famosa. O filme acaba antes do livro e do cinema pornô…

No fim, Bruna Surfistinha não é ruim, mas faltou um pouquinho pra ser bom. Mas vale, nem que seja pelo talento de Deborah Secco.

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Nome Próprio
Meu Tio Matou um Cara

De Pernas Pro Ar

Crítica – De Pernas Pro Ar

Alice (Ingrid Guimarães) é uma executiva workaholic, daquelas que se dedica inteiramente ao trabalho. Por um azar do destino, ela perde o emprego no mesmo dia que o marido a abandona. Ela acaba se aproximando da vizinha Marcela (Maria Paula), dona de uma sex shop decadente, e ajuda a transformar a sex shop em um negócio milionário.

O filme se apoia no talento de Ingrid Guimarães. Ela é boa, mas ainda faltou um pouco pra De Pernas Pro Ar ser uma boa comédia. Talvez, se o roteiro fosse melhor, Ingrid poderia funcionar melhor. Ela tem um bom timing pra comédia, e consegue fazer rir sem cair na caricatura – o que não acontece com sua coadjuvante Maria Paula.

Mas o roteiro, apesar de tentar inovar ao usar temas ligados a sex shop, cai nos mesmos cacoetes que assolam 9 entre 10 comédias nacionais: semelhança com humor televisivo de baixa qualidade – o “complexo de Zorra Total“.

O filme tem seus bons momentos (gostei da “montanha russa”), mas a maior parte das piadas é sem graça, e o resto do elenco parece que está no piloto automático e não ajuda.

Ironicamente, o roteiro, que se propõe se “moderninho”, se mostra super moralista no fim, quando deixa claro que as mulheres só encontram a felicidade com marido e filho do lado…

De Pernas Pro Ar não é ruim. Mas tem filme nacional melhor por aí!

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Divã

Muita Calma Nessa Hora
Meu Tio Matou um Cara

1972

1972

Sabe quando a gente nutre uma enorme simpatia por um projeto, mas mesmo assim, o resultado decepciona? É o caso aqui, neste filme lançado em 2006.

Rio de Janeiro, 1972. Snoopy (Rafael Rocha) e Júlia (Dandara Guerra) se conhecem e vivem uma turbulenta paixão, pontuada pelo amor que amboes têm por rock’n’roll e tendo a ditadura militar como pano de fundo.

Pra começar, sou fã dos anos 70. Olho com bons olhos qualquer filme ambientado nesta época. E tem mais: o filme foi co-escrito pela jornalista Ana Maria Bahiana, provavelmente a melhor jornalista brasileira sobre cinema – lembro que, anos atrás, ela tinha uma coluna semanal sobre Hollywood no Segundo Caderno d’O Globo, e heu colecionava a coluna!

Alguém que entende pra caramba de cinema, fazendo um filme sobre um assunto que me interessa, esse é daqueles que viro fã antes de ver o resultado… Pena que o tal resultado ficou muito aquém do que poderia…

É o filme de estreia do também jornalista José Emílio Rondeau, marido de Ana Maria e também autor do roteiro. Sem experiência na direção, ele chamou atores também novatos para os papeis principais. E aí ficou assim: diretor inexperiente trabalhando com atores inexperientes em cima de um roteiro também inexperiente…

Os atores são fracos, só alguns coadjuvantes se salvam no elenco (como Tony Tornado e Lúcio Mauro Filho), e alguns diálogos são tão constrangedores que dá vontade de desistir e assistir um filme melhor. Acho que a inexperiência falou mais alto…

Sobre o casal principal, o único comentário que faço é que Dandara Guerra é a cara da mãe, Cláudia Ohana. Mas, pelo menos por este filme, parece que ela não herdou o talento da mãe… Ainda no elenco, os novatos Bem Gil, Fábio Azevedo e Débora Lamm, apoiados pelos experientes Tony Tornado, Lúcio Mauro Filho, Louise Cardoso e Elizângela.

O roteiro ainda falha na recriação rasa da ambientação política da ditadura. Para isso, o filme O Ano em que meus Pais Saíram de Férias, lançado no mesmo ano, funcionou muito melhor.

Em defesa do filme, podemos dizer que é uma simpática história de amor ambientada no Rio de Janeiro dos anos 70, com direito ao famoso pier de Ipanema. E a trilha sonora traz um monte de boas músicas nacionais da época. Mas é pouco, muito pouco. Infelizmente…

Muita Calma Nessa Hora

Muita Calma Nessa Hora

E, mais uma vez, vamos dar uma chance ao cinema nacional…

No novo filme de Felipe Joffily (Ódiquê?), três amigas (Andréia Horta, Fernanda Souza e Gianne Albertoni) resolvem fazer uma viagem a Búzios quando uma delas descobre que está sendo traída pelo noivo às vésperas do casamento.

Numa época de Tropa de Elite 2 e cinema nacional em alta, Muita Calma Nessa Hora se baseia na nova geração de humoristas para tentar fazer uma comédia nacional com cara nova. Mas, se todos os vícios cometidos por comédias nacionais antigas estão presentes aqui, não muda muita coisa, né?

O roteiro, escrito por João Avelino, Rosana Ferrão e Bruno Mazzeo (este último faz uma ponta como ator), lembra demais o formato de esquetes dos humorísticos televisivos. Assim, algumas cenas começam e terminam sem muita continuidade, a lógica se perde algumas vezes ao longo do filme (exemplo: pra que serviu aquela cena onde Gianne Albertoni perdea parte de cima do biquini, se nem rola uma nudez gratuita?). E o filme também traz algumas cenas desnecessárias – como a apresentação do personagem que faz o “Chez Gay”.

Tem outra coisa: o filme quer ser “jovem”, e, no início, ao mostrar pela primeira vez as três meninas, apresenta-as como “vinte e poucos anos”. Ora, as três atrizes já têm “vinte e muitos anos” – uma é de 84, outra de 83, a mais velha de 81. Se a ideia era fazer um “filme jovem”, tinha que ter feito como As Melhores Coisas do Mundo, que pegou uma galera realmente mais nova!

Outros dois problemas recorrentes no cinema nacional também estão presentes aqui. Um é o som: “pra variar”, na maioria das cenas as músicas estão muito mais altas que os diálogos, dificultando a compreensão dos mesmos. E o outro é o excesso de merchandising – uma companhia telefônica é citada diversas vezes. Ok, a gente sabe que alguém tem que pagar a conta, mas será que não podia ser mais discreto?

O elenco, cheio de nomes conhecidos na tv, tem seus altos e baixos. Das três principais, Andréia Horta e Fernanda Souza estão bem; Gianne Albertoni, que é modelo, e não atriz, funciona ok ao lado das outras. Débora Lamm, a “quarta mosqueteira”, carregando uma samambaia pra tudo quanto é lado, ficou caricata demais…

O elenco ainda traz um monte de nomes famosos em papeis minúsculos. Um dos pontos altos do filme são alguns dos personagens secundários muito bons, como o micareteiro de Lucio Mauro Filho e o paulista fã de tecnologia de Marcelo Adnet. Normalmente caricato, Sergio Mallandro não atrapalha aqui como o tatuador; Hermes e Renato e sua trupe fazem um divertido grupo de boçais; Leandro Hassum está desperdiçado numa ponta como policial.

O filme não traz nudez, acredito heu que por causa da censura. Mas traz um monte de referências à maconha, ou seja, não adiantou nada. Era melhor ter mostrado nudez gratuita, como o cinema nacional fazia muito bem décadas atrás…

O desfecho da história é previsível. Mas, como tudo se parece com um humorístico televisivo, acho que não vai incomodar a plateia…

Muita Calma Nessa Hora até diverte. Mas o cinema nacional pode fazer melhorque isso.

O Invasor

O Invasor

Por motivos diversos, não tenho acompanhado a carreira do diretor Beto Brant. Mas admito que gosto muito dos seus três primeiros filmes: Os Matadores (1998), Ação Entre Amigos (1999) e este O Invasor (2002).

Ivan (Marco Ricca) e Gilberto (Alexandre Borges) são sócios de uma construtora. Os negócios vão bem, mas existem atritos com Estevão, o sócio majoritário. Ivan e Gilberto decidem então contratar o matador de aluguel Anísio (Paulo Miklos) para assassinar Estevão e assim assumirem a construtora. Entretanto, Anísio tem seus próprios planos de ascensão social e resolve se intrometer na construtora e nas vidas de Ivan e Gilberto.

O grande trunfo de O Invasor é a atuação de Paulo Miklos, membro da banda paulista Titãs. Miklos faz um Anisio sensacional. Fiquei curioso em saber mais sobre a carreira do Miklos ator (porque o Miklos músico heu já conhecia). Pouco depois, ele fez um pequeno papel em uma minissérie da HBO e outro em uma novela – e vi que era o mesmo Anisio! Descobri que Miklos não é exatamente um bom ator, ele é um bom personagem…

Mas o elenco não tem só Miklos. Marco Ricca e Alexandre Borges estão bem, assim como Malu Mader e Mariana Ximenes, que ainda nos brindam com cenas sensuais.

A câmera é nervosa, o filme traz longos planos com a câmera na mão, seguindo os atores. Muitas imagens têm pouca iluminação, trazendo uma interessante fotografia granulada. A trilha sonora pouco convencional também funciona bem nos momentos certos.

O roteiro não é perfeito. Por exemlo, achei estranho mostrar que Ivan é casado, para depois mostrar seu envolvimento com a personagem de Malu Mader, sem explicar o que aconteceu ao casal. E o fim do filme traz uma reviravolta, na minha humilde opinião, desnecessária. Parece que Brant não sabia como terminar seu filme. Particularmente, não gostei do fim, mas nada que estrague o conjunto de um dos melhores filmes nacionais da década passada.