Bruna Surfistinha

Crítica – Bruna Surfistinha

Raquel (Deborah Secco) é uma jovem de classe média que tem uma vida normal, apesar dos problemas de relacionamentos em casa e na escola. Até que ela resolve largar tudo e virar garota de programa. Usando o “nome artístico” Bruna Surfistinha, ela fica conhecida na casa onde trabalha, e depois fica ainda mais famosa ao criar um blog onde relata suas experiências.

Bruna Surfistinha tem uma grande virtude e um grande defeito. O melhor aqui é a atuação de Deborah Secco. Mas, por outro lado, sua personagem principal é uma pessoa difícil…

Deborah Secco tem um papel complicado, sua Bruna é complexa e, pra piorar, passa boa parte do filme sem roupa e contracenando com dezenas de homens diferentes. Mas ela manda bem, passa credibilidade em todas as nuances pelas quais a sua personagem passa. E ela não está sozinha, ela encabeça um bom elenco, com poucos nomes conhecidos (de famoso, mesmo, só Cássio Gabus Mendes e Drica Morais). As meninas que fazem as outras garotas de programa estão todas bem.

Mas a personagem em si… Olha, não tenho nada contra a profissão escolhida, o problema é que a Bruna, pelo menos no filme (não li o livro), não mostra nenhum motivo convincente para ter entrado nessa vida. E, pra piorar, ela trata mal todos que a querem bem. Fica difícil simpatizar com alguém assim, né?

(Tem outro problema, mas aí não tem jeito. Bruna começa a fazer sucesso entre as garotas de programa. Bem, Deborah Secco é muito mais bonita que as outras atrizes, então, claro que ela faria mais sucesso. Mas, se a gente olhar fotos da Bruna real, ela é bem mais parecida com as colegas… Aliás, quem tiver curiosidade de ver a Bruna real, ela faz a hostess do restaurante onde Hudson marca o encontro.)

O filme acerta na dose de assuntos polêmicos, afinal, é um filme recheado de sexo e drogas (mostra o envolvimento de Raquel / Bruna com a cocaína), mas não cai no caricato nem vira sensacionalista por causa disso. Palmas para o roteiro e para a direção do estreante Marcus Baldini!

O roteiro foi baseado no livro O Doce Veneno do Escorpião, escrito pela Bruna real a partir do seu blog. O roteiro deixa de lado algumas fases famosas da vida de Bruna, como o próprio livro e o envolvimento com o cinema pornô – sim, a Bruna Surfistinha real fez alguns filmes pornôs, depois de famosa. O filme acaba antes do livro e do cinema pornô…

No fim, Bruna Surfistinha não é ruim, mas faltou um pouquinho pra ser bom. Mas vale, nem que seja pelo talento de Deborah Secco.

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De Pernas Pro Ar

Crítica – De Pernas Pro Ar

Alice (Ingrid Guimarães) é uma executiva workaholic, daquelas que se dedica inteiramente ao trabalho. Por um azar do destino, ela perde o emprego no mesmo dia que o marido a abandona. Ela acaba se aproximando da vizinha Marcela (Maria Paula), dona de uma sex shop decadente, e ajuda a transformar a sex shop em um negócio milionário.

O filme se apoia no talento de Ingrid Guimarães. Ela é boa, mas ainda faltou um pouco pra De Pernas Pro Ar ser uma boa comédia. Talvez, se o roteiro fosse melhor, Ingrid poderia funcionar melhor. Ela tem um bom timing pra comédia, e consegue fazer rir sem cair na caricatura – o que não acontece com sua coadjuvante Maria Paula.

Mas o roteiro, apesar de tentar inovar ao usar temas ligados a sex shop, cai nos mesmos cacoetes que assolam 9 entre 10 comédias nacionais: semelhança com humor televisivo de baixa qualidade – o “complexo de Zorra Total“.

O filme tem seus bons momentos (gostei da “montanha russa”), mas a maior parte das piadas é sem graça, e o resto do elenco parece que está no piloto automático e não ajuda.

Ironicamente, o roteiro, que se propõe se “moderninho”, se mostra super moralista no fim, quando deixa claro que as mulheres só encontram a felicidade com marido e filho do lado…

De Pernas Pro Ar não é ruim. Mas tem filme nacional melhor por aí!

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Divã

Muita Calma Nessa Hora
Meu Tio Matou um Cara

1972

1972

Sabe quando a gente nutre uma enorme simpatia por um projeto, mas mesmo assim, o resultado decepciona? É o caso aqui, neste filme lançado em 2006.

Rio de Janeiro, 1972. Snoopy (Rafael Rocha) e Júlia (Dandara Guerra) se conhecem e vivem uma turbulenta paixão, pontuada pelo amor que amboes têm por rock’n’roll e tendo a ditadura militar como pano de fundo.

Pra começar, sou fã dos anos 70. Olho com bons olhos qualquer filme ambientado nesta época. E tem mais: o filme foi co-escrito pela jornalista Ana Maria Bahiana, provavelmente a melhor jornalista brasileira sobre cinema – lembro que, anos atrás, ela tinha uma coluna semanal sobre Hollywood no Segundo Caderno d’O Globo, e heu colecionava a coluna!

Alguém que entende pra caramba de cinema, fazendo um filme sobre um assunto que me interessa, esse é daqueles que viro fã antes de ver o resultado… Pena que o tal resultado ficou muito aquém do que poderia…

É o filme de estreia do também jornalista José Emílio Rondeau, marido de Ana Maria e também autor do roteiro. Sem experiência na direção, ele chamou atores também novatos para os papeis principais. E aí ficou assim: diretor inexperiente trabalhando com atores inexperientes em cima de um roteiro também inexperiente…

Os atores são fracos, só alguns coadjuvantes se salvam no elenco (como Tony Tornado e Lúcio Mauro Filho), e alguns diálogos são tão constrangedores que dá vontade de desistir e assistir um filme melhor. Acho que a inexperiência falou mais alto…

Sobre o casal principal, o único comentário que faço é que Dandara Guerra é a cara da mãe, Cláudia Ohana. Mas, pelo menos por este filme, parece que ela não herdou o talento da mãe… Ainda no elenco, os novatos Bem Gil, Fábio Azevedo e Débora Lamm, apoiados pelos experientes Tony Tornado, Lúcio Mauro Filho, Louise Cardoso e Elizângela.

O roteiro ainda falha na recriação rasa da ambientação política da ditadura. Para isso, o filme O Ano em que meus Pais Saíram de Férias, lançado no mesmo ano, funcionou muito melhor.

Em defesa do filme, podemos dizer que é uma simpática história de amor ambientada no Rio de Janeiro dos anos 70, com direito ao famoso pier de Ipanema. E a trilha sonora traz um monte de boas músicas nacionais da época. Mas é pouco, muito pouco. Infelizmente…

Muita Calma Nessa Hora

Muita Calma Nessa Hora

E, mais uma vez, vamos dar uma chance ao cinema nacional…

No novo filme de Felipe Joffily (Ódiquê?), três amigas (Andréia Horta, Fernanda Souza e Gianne Albertoni) resolvem fazer uma viagem a Búzios quando uma delas descobre que está sendo traída pelo noivo às vésperas do casamento.

Numa época de Tropa de Elite 2 e cinema nacional em alta, Muita Calma Nessa Hora se baseia na nova geração de humoristas para tentar fazer uma comédia nacional com cara nova. Mas, se todos os vícios cometidos por comédias nacionais antigas estão presentes aqui, não muda muita coisa, né?

O roteiro, escrito por João Avelino, Rosana Ferrão e Bruno Mazzeo (este último faz uma ponta como ator), lembra demais o formato de esquetes dos humorísticos televisivos. Assim, algumas cenas começam e terminam sem muita continuidade, a lógica se perde algumas vezes ao longo do filme (exemplo: pra que serviu aquela cena onde Gianne Albertoni perdea parte de cima do biquini, se nem rola uma nudez gratuita?). E o filme também traz algumas cenas desnecessárias – como a apresentação do personagem que faz o “Chez Gay”.

Tem outra coisa: o filme quer ser “jovem”, e, no início, ao mostrar pela primeira vez as três meninas, apresenta-as como “vinte e poucos anos”. Ora, as três atrizes já têm “vinte e muitos anos” – uma é de 84, outra de 83, a mais velha de 81. Se a ideia era fazer um “filme jovem”, tinha que ter feito como As Melhores Coisas do Mundo, que pegou uma galera realmente mais nova!

Outros dois problemas recorrentes no cinema nacional também estão presentes aqui. Um é o som: “pra variar”, na maioria das cenas as músicas estão muito mais altas que os diálogos, dificultando a compreensão dos mesmos. E o outro é o excesso de merchandising – uma companhia telefônica é citada diversas vezes. Ok, a gente sabe que alguém tem que pagar a conta, mas será que não podia ser mais discreto?

O elenco, cheio de nomes conhecidos na tv, tem seus altos e baixos. Das três principais, Andréia Horta e Fernanda Souza estão bem; Gianne Albertoni, que é modelo, e não atriz, funciona ok ao lado das outras. Débora Lamm, a “quarta mosqueteira”, carregando uma samambaia pra tudo quanto é lado, ficou caricata demais…

O elenco ainda traz um monte de nomes famosos em papeis minúsculos. Um dos pontos altos do filme são alguns dos personagens secundários muito bons, como o micareteiro de Lucio Mauro Filho e o paulista fã de tecnologia de Marcelo Adnet. Normalmente caricato, Sergio Mallandro não atrapalha aqui como o tatuador; Hermes e Renato e sua trupe fazem um divertido grupo de boçais; Leandro Hassum está desperdiçado numa ponta como policial.

O filme não traz nudez, acredito heu que por causa da censura. Mas traz um monte de referências à maconha, ou seja, não adiantou nada. Era melhor ter mostrado nudez gratuita, como o cinema nacional fazia muito bem décadas atrás…

O desfecho da história é previsível. Mas, como tudo se parece com um humorístico televisivo, acho que não vai incomodar a plateia…

Muita Calma Nessa Hora até diverte. Mas o cinema nacional pode fazer melhorque isso.

O Invasor

O Invasor

Por motivos diversos, não tenho acompanhado a carreira do diretor Beto Brant. Mas admito que gosto muito dos seus três primeiros filmes: Os Matadores (1998), Ação Entre Amigos (1999) e este O Invasor (2002).

Ivan (Marco Ricca) e Gilberto (Alexandre Borges) são sócios de uma construtora. Os negócios vão bem, mas existem atritos com Estevão, o sócio majoritário. Ivan e Gilberto decidem então contratar o matador de aluguel Anísio (Paulo Miklos) para assassinar Estevão e assim assumirem a construtora. Entretanto, Anísio tem seus próprios planos de ascensão social e resolve se intrometer na construtora e nas vidas de Ivan e Gilberto.

O grande trunfo de O Invasor é a atuação de Paulo Miklos, membro da banda paulista Titãs. Miklos faz um Anisio sensacional. Fiquei curioso em saber mais sobre a carreira do Miklos ator (porque o Miklos músico heu já conhecia). Pouco depois, ele fez um pequeno papel em uma minissérie da HBO e outro em uma novela – e vi que era o mesmo Anisio! Descobri que Miklos não é exatamente um bom ator, ele é um bom personagem…

Mas o elenco não tem só Miklos. Marco Ricca e Alexandre Borges estão bem, assim como Malu Mader e Mariana Ximenes, que ainda nos brindam com cenas sensuais.

A câmera é nervosa, o filme traz longos planos com a câmera na mão, seguindo os atores. Muitas imagens têm pouca iluminação, trazendo uma interessante fotografia granulada. A trilha sonora pouco convencional também funciona bem nos momentos certos.

O roteiro não é perfeito. Por exemlo, achei estranho mostrar que Ivan é casado, para depois mostrar seu envolvimento com a personagem de Malu Mader, sem explicar o que aconteceu ao casal. E o fim do filme traz uma reviravolta, na minha humilde opinião, desnecessária. Parece que Brant não sabia como terminar seu filme. Particularmente, não gostei do fim, mas nada que estrague o conjunto de um dos melhores filmes nacionais da década passada.

As Melhores Coisas do Mundo

As Melhores Coisas do Mundo

As Melhores Coisas do Mundo acompanha um mês da vida de Mano, um adolescente de 15 anos, que vive os dramas normais da sua idade: amizades, perda da virgindade, paixões não correspondidas, bullying, etc.

O filme é um excelente retrato da adolescência contemporânea brasileira – talvez o melhor já feito no cinema nacional. A diretora Laís Bodanzky (Bicho de Sete Cabeças) e o roteirista Luiz Bolognesi se basearam na série de livros Mano, de Gilberto Dimenstein e Heloísa Prieto, mas também pegaram depoimentos de adolescentes de escolas paulistanas para dar uma aprimorada no texto. E o resultado final ficou muito bom.

O elenco traz alguns atores veteranos, como Denise Fraga, Caio Blat e Paulo Vilhena, misturados com jovens com pouca ou nenhuma experiência em atuação. Francisco Miguez faz um bom trabalho como Mano, mas não podemos dizer o mesmo sobre Fiuk (o filho do Fábio Jr.), que interpreta Pedro, seu irmão mais velho.

Se o roteiro funciona bem, a parte técnica tem suas falhas. E aí a gente cai num problema que atinge boa parte do cinema nacional: o som. Por que quase todo filme nacional tem o som embolado? Por que quase todo filme nacional tem diálogos que se tornam incompreensíveis? E alguns atores, provavelmente por falta de preparação vocal, ainda pioram a situação. Metade das frases proferidas por Fiuk e pela menina novata Gabriela Rocha são incompreensíveis.

O fim do filme nem é ruim. Mas vou falar que poderia ser menos óbvio, parecia final previsível de comédia romântica…

No fim, ao colocar prós e contras na balança, As Melhores Coisas do Mundo é um bom programa, uma prova que existe inteligência no cinema jovem nacional.

Cinderela Baiana

Cinderela Baiana

Há muito que heu queria ver este famoso involuntário trash brasileiro. Tomei coragem e assisti! Sim, trata-se de um trash no nível de Plan 9 ou Manos, The Hands Of Fate!

A trama escrita e dirigida por Conrado Sanchez fala de uma menina do interior da Bahia, que, ao se mudar pra Salvador, se destaca por causa de suas habilidades como dançarina e é contratada por um grande empresário para ser a dançarina de um grupo de axé.

Ok, a gente já sabia que o filme é ruim, muito ruim. Afinal, um filme baseado no talento da “atriz” Carla Perez não rola, né? Mas o buraco é mais embaixo. O filme é REALMENTE ruim. Daqueles que, de tão ruim, se tornam obrigatórios! O roteiro é um lixo, cheio de furos, a história óbvia e clichê e as atuações são TODAS muito muito ruins, do nível de peça infantil de escola. Mas, se isso já era esperado, o filme surpreende por ser ainda muito pior!

Tem um monte de detalhes que tornam Cinderela Baiana um lixo monumental. Antes de tudo, queria perguntar por que esse título. Pelo que me lembro, a história original da Cinderela falava de uma menina que foi morar com a madrasta, era maltratada pelas irmãs “postiças”, e conseguiu ajuda da fada madrinha para conseguir ir ao baile, onde conheceu o príncipe, mas tinha que voltar antes da meia noite porque sua carruagem ia voltar a ser uma abóbora, então, na fuga, perdeu seu sapato de cristal, sapato este que o príncipe usou para encontrá-la novamente. Confere?

(Aliás, Cinderela também tem um furo enorme no roteiro, porque se a carruagem voltou a ser abóbora, o sapato também deveria voltar a ser o que era. Mas deixemos isso pra outro post!)

A Cinderela Baiana não tem NADA a ver com a Cinderela original! Por que, meu Deus, por que chamar de Cinderela???

(E, ainda falando do título, no poster a gramática está correta; mas, no filme, está escrito “bahiana”, com “H”! Será que é uma homenagem à famosa ocasião onde Carla Perez falou “I” de “Escola”? Socorro!!!)

Mas, vamos ao filme. A ideia é mostrar um filme de uma dançarina, né? Então, por que não arranjaram uma que dança bem? A srta (ou sra) Perez não dança bem, ela executa coreografias de axé e rebola. Faça uma rápida busca no youtube, você verá dezenas de pessoas que dançam melhor. E a prova está logo na cena que abre o filme. Uma banda toca num palco, e a sra (ou srta) Perez se atrapalha para tentar seguir a coreografia do colega ao lado. Céus, será que não dava nem pra ensaiar uma coreografia pra abrir o filme?

Mas isso é só o começo. O filme é repleto de cenas tão malfeitas que temos a nítida impressão de que foi de propósito. Quer um exemplo? Vários dos diálogos estão com o áudio fora de sincronia com o video, mas isso acontece muito no cinema nacinal, infelizmente. Mas, em uma das cenas na academia de dança, ela dança fora de sincronia com o áudio. Caramba, era um filme ligado à dança, será que não rolava de sincronizar direito?

E o roteiro? Olha, já vi muito roteiro ruim e cheio de furos. Mas o que explica uma menina com no máximo uns dez anos de idade se mudar pra Salvador, e, apenas três anos depois, já ser a Carla Perez adulta? Outra coisa: por que criar uma dançarina rival (aliás, mais bonita e que dança melhor), pra depois esquecer dela? E por aí vai…

Pelo menos o roteiro traz várias frases divertidíssimas. Acho que era involuntário, não queriam fazer graça. Mas, momentos como a cena final são antológicos! Carla, não se sabe por que, vestida de odalisca, fala a uma criança “Me dê isso menina, você devia estar brincando e estudando, não jogada na estrada pra ganhar uns míseros trocados pra matar a fome.” Aí pega uma gaiola de passarinho, solta o bicho e fala “Vai passarinho, você, como a criança também tem o direito a liberdade. De que adiantam essas campanhas demagógicas se estas crianças continuam aqui na estrada e com fome? Todos os pequeninos merecem proteção, alimentação, amor e paz.” E faz uma pomba da paz com as mãos. E depois todos começam a dançar o Tchan. Detalhe 1: a letra fala “pau que nasce torto nunca se endireita” – de que adianta então ela tentar consertar? Detalhe 2: até freiras seguram o tchan! Sensacional, não?

Os atores estão todos péssimos, claro. E olha que Lázaro Ramos faz um dos amigos de Carla! Mas tem um que achei o pior de todos: Perry Salles, que faz Pierre, o empresário. O cara berra o filme inteiro! E é um personagem incoerente – um cara daqueles ia tentar dar uns pegas em todas as dançarinas…

Ainda tem mais, muito mais. A cena da briga entre o cantor Alexandre Pires e dois capangas do Pierre é pateticamente ruim, talvez a pior cena de luta da história do cinema.

O filme é tão ruim que abstraí a grande quantidade de música ruim que vem “no pacote”. Porque, todos sabem, a música baiana boa não está presente. Gosto de Raul Seixas e Camisa de Vênus, respeito Caetano e Gil (apesar de não ser fã), respeito até a Pitty. Mas axé não, né? Música que precisa de coreografia pra funcionar não pode ser boa!

E por aí vai. Quem estiver na pilha de um trash legítimo, vai se divertir. Mas, por favor, que fique avisado: o filme é ruim, muito ruim!

A Vida Até Parece Uma Festa

A Vida Até Parece Uma Festa

Documentário sobre banda paulista Titãs, um dos maiores nomes do rock nacional dos anos 80, escrito e dirigido pelo vocalista Branco Mello e por Oscar Rodrigues Alves. Sem se preocupar com narração nem com ordem cronológica, o filme mostra vários momentos importantes da carreira da banda.

Como coleção de imagens, o filme é um deleite para os fãs. São inúmeras gravações de todas as fases da banda. Arquivos de tv, gravações pessoais, trechos de shows, bastidores de estúdio, descontração nas viagens… Branco Mello, Tony Bellotto, Charles Gavin, Paulo Miklos, Sérgio Britto, Nando Reis, Marcelo Fromer e Arnaldo Antunes estão bem à vontade, e em várias épocas diferentes – vale lembrar que a banda surgiu em 1981 e está aí até hoje!

Mas como documentário, é fraco. A opção de não usar uma linha narrativa enfraquece momentos importantes. Por exemplo: André Jung, primeiro baterista da banda, trocou de lugar com Charles Gavin, então no Ira!. Isso é citado rapidamente por Charles, de maneira casual. O mesmo acontece com a participação de Ciro Pessoa (o “nono Titã”), com a prisão de membros da banda por envolvimento com heroína e com a saída de Arnaldo da banda – a saída de Nando e a morte de Frommer estão mais bem documentadas. Quem conhece a história dos Titãs conhece tudo isso, mas, e os que não conhecem?

Tem outro problema, este de ordem técnica – o volume das músicas está muito mais alto que os diálogos. Poxa, as músicas a gente já conhece. Os diálogos é que são novidade!

Mesmo assim, A Vida Até Parece Uma Festa é obrigatório para os fãs do Rock BR. O filme traz algumas cenas bem interessantes, como a apresentação do seminal Trio Mamão e as Mamonetes (com Branco Mello, Marcelo Fromer e Tony Bellotto) num programa de tv, onde Wilson Simonal era jurado. Gostei também do momento embaraçoso, quando o produtor Liminha dá uma grande bronca em Charles durante uma gravação. Quer dizer, gostei de ver, mas não queria estar presente…

Nosso Lar

Nosso Lar

Fui ver o novo fenômeno de bilheteria brasileiro. Nosso Lar tem seus méritos, mas também tem seus defeitos…

Mas, antes de falar de Nosso Lar, preciso explicar uma coisa: vou falar aqui sobre o filme. Não discutirei a filosofia proposta pelo filme. Não discuto nem política nem religião aqui no blog!

André Luiz (Renato Prieto) morre, e vai parar num lugar sombrio e cheio de pessoas em sofrimento – o Umbral. Depois de passar um tempo nesta espécie de purgatório, André Luiz é resgatado e levado para a cidade Nosso Lar, onde ele aprende como é a vida em outra dimensão. O filme foi baseado no livro homônimo psicografado em 1943 por Chico Xavier, atribuído ao próprio espírito André Luiz.

O grande mérito de Nosso Lar é ser um filme tecnicamente muito bem feito. Uma equipe gringa, responsável por, dentre outros, a máscara do Roscharch de Watchmen, foi convidada para fazer os efeitos especiais, que, realmente, trazem um visual muito bem feito, melhor do que o que se vê em produções nacionais semelhantes. Vários estrangeiros trabalharam no filme. Até a trilha sonora, a cargo do minimalista Philipp Glass.

Mas, por outro lado, o didatismo do filme cansa. Tudo é muito explicado, nos mínimos detalhes. A gente vê as coisas acontecendo, e uma narração em off explica o que acabou de acontecer. E isso torna a narrativa maçante. E, pra piorar, os atores parecem mecânicos. Todos parecem estar no piloto automático, onde mais importante que representar é explicar como funciona a filosofia espírita.

E aí a gente chega no ponto delicado: o filme que se propõe a mostrar o espiritismo falha como filme. Mas esta opinião é sobre o filme, não sobre a religião!

Pelo tamanho da superprodução, Nosso Lar poderia ser um marco na história do cinema nacional. Mas ficou devendo…

Eu e Meu Guarda-Chuva


Eu e Meu Guarda-Chuva

Nova produção infanto-juvenil brasileira. Vamos ver qualé!

A sinopse: em sua última noite de férias, Eugênio, um menino de 11 anos, e seu melhor amigo, Cebola, se metem em aventuras inimagináveis para resgatar Frida, sua paixão e colega de escola, que foi sequestrada pelo fantasma do temível Barão Von Staffen.

Eu e Meu Guarda-Chuva é baseado no livro escrito por Branco Mello, Hugo Possolo e Ciro Pessoa. Sim, é o Branco Mello dos Titãs, e o Ciro Pessoa, o “quase Titã”. Tony Bellotto, autor dos livros do detetive Bellini, não é o único da banda paulista que é autor de livro que vira filme!

O filme, dirigido pelo estreante Tony Vanzolini, é curto e criativo. A história não é nada demais, é até bem simples. Mas pelo menos não insulta o espectador, como alguns filmes infantis que estão por aí.

A parte técnica funciona bem. São poucos e eficientes efeitos especiais, e a fotografia manda bem ao apresentar alguns lugares sombrios.

Falando nisso, Eu e Meu Guarda-Chuva traz boas locações. A escola onde se passa boa parte do filme é o Colégio Sion, em São Paulo, que tem ótimos cenários; e o filme ainda tem cenas gravadas na Suécia e na República Tcheca – foram usadas belas paisagens de Praga.

Ninguém se destaca no elenco. Os três garotos (Lucas Cotrim, Rafaela Victor e Victor Froiman) não atrapalham, mas também não fazem nada além do feijão com arroz. E Daniel Dantas tem o problema comum que assola dez entre dez vilões de filmes nacionais: está caricato demais. Arnaldo Antunes faz uma divertida ponta; Leandro Hassum é desperdiçado em uma ponta sem graça.

Para os pais que quiserem mostrar algo nacional para os seus filhos…