Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa

Crítica – Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa

Sinopse (imdb): Chico Bento e sua turma precisam se unir para salvar a goiabeira de Nhô Lau quando ela é colocada em risco pelo arrogante coronel Dotô Agripino.

E vamos ao aguardado filme do Chico Bento!

Antes, um breve histórico do universo cinematográfico do Maurício de Souza (MSCU?). Em 2019 tivemos Turma da Mônica Laços, e dois anos depois, Turma da Mônica Lições, ambos dirigidos por Daniel Rezende, e ambos muito bons (gostei do primeiro, adorei o segundo!). Ainda rolou uma minissérie de 8 capítulos com o mesmo elenco em 2022. Três bons produtos, com bons roteiros, bom elenco e boa produção. (Tem uma segunda minissérie lançada este ano, mas ainda não vi). Aí outra produtora fez um filme da turma da Mônica Jovem, que falhou em tudo o que os outros filmes acertaram. Era mais ou menos como em 2018, enquanto a Marvel “certa” lançava Vingadores Guerra Infinita, a Marvel “errada” lançava Venom; ou em 2019, uma lançava Vingadores Ultimato e a outra lançava Novos Mutantes

A cena pós créditos de Lições mostrava o Chico Bento, e a expectativa, pelo menos pra mim, era enorme. Primeiro por ser mais um filme da “Turma da Mônica certa”, mas também porque o Chico Bento era um dos meus personagens favoritos. Heu li muitos gibis da Turma da Mônica na minha infância e adolescência, e chegou um ponto onde os quatro principais me cansaram, porque os temas se repetiam sempre: histórias da Mônica quase sempre giravam em torno da força dela; do Cascão, do fato dele não tomar banho; da Magali, da sua fome insaciável. Cebolinha repetia menos, mas eram muitas histórias sobre planos infalíveis. Já o Chico Bento não tinha um tema tão repetitivo. Por isso, a partir de um ponto, passei a preferir gibis dele.

E a notícia é boa! Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa é um ótimo filme!

Dirigido por Fernando Fraiha (Daniel Rezende está na produção), Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa é simpático, divertido e, acho que posso dizer, um filme delicioso! Tanto pra crianças quanto para adultos, é daquele tipo de filme que a gente sai da sessão leve e com um sorriso no rosto.

Talvez o maior trunfo de Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa seja seu protagonista, Isaac Amendoim. Nunca tinha ouvido falar dele, e preciso dizer que o moleque é sensacional! O carisma do garoto é tão grande que é impossível ver a sequência inicial e não se apaixonar pelo personagem (sequência onde ele está se arrumando, com ajuda da galinha Giselda, da vaca Malhada e de alguns outros bichos). Logo depois ele quebra a quarta parede, conversa com o público e apresenta o filme. Nesse ponto – logo no início do filme! – heu já estava fisgado.

E não é só o protagonista. Toda a ambientação da cidade, todos os personagens secundários, tudo está perfeitamente retratado (ou quase, já chego lá). Assim como nos gibis, é uma história atemporal. Um mundinho mágico mostrando o interior do Brasil. E ainda tem espaço pra entrar em assuntos ambientais.

Falei do Isaac Amendoim como Chico Bento, mas também preciso citar Pedro Dantas como Zé Lelé. Não consigo imaginar um Zé Lelé live action melhor que este! A trilha sonora também merece elogios.

Gostei muito de Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa, mas preciso reconhecer que o filme tem dois problemas. Um deles é na sequência onde a goiabeira ganha vida (Tais Araújo) e conversa com o Chico Bento. É uma sequência que foge completamente do resto do filme, parece que estamos vendo outra coisa. Além disso é uma sequência longa demais. E pra piorar, parte da sequência é live action, mas parte é numa animação de qualidade duvidável (meu filho comparou com o Dollynho!).

O segundo problema é um assunto delicado. Quando Maurício de Souza criou a turma do Chico Bento, não tinha nenhum negro (Rosinha, Zé Lelé, Zé da Roça, Hiro). Hoje, 2024, tudo a ver incluir uma menina negra no rolê. O problema é que é uma menina urbana, com o cabelo roxo, seus pais têm perfil de cidade grande… Eles não parecem caipiras como TODO O RESTO DO FILME. O nome do filme fala da goiabeira “Maraviosa”! Depois da sessão, me disseram que é uma família que veio da cidade grande. Mas não me lembro dessa informação dentro do filme, no filme, Chico apenas fala que ela “se mudou há pouco”. Custava explicar que ela morava na capital? A personagem ficou muito diferente do resto da turma.

Mesmo com esses probleminhas, ainda gostei muito. Torço muito pra fazerem logo um segundo filme, antes do Isaac Amendoim crescer!

Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa estreia agora no início de janeiro. Quero rever!

Mufasa: O Rei Leão

Mufasa: O Rei Leão

Sinopse (imdb): Mufasa, um filhote perdido e sozinho, conhece um simpático leãozinho chamado Taka, o herdeiro de uma linhagem real. O encontro casual dá início a uma jornada transformadora de um grupo de desajustados em busca de seus destinos.

E vamos pra mais um filme desnecessário…

Lançado em 1994, O Rei Leão é um desenho muito bom e muito marcante, que traz personagens carismáticos e uma trilha sonora inspiradíssima. Aí em 2019, aproveitando a onda caça níqueis de versões live action, resolveram lançar um “live action” do Rei Leão – que não tinha absolutamente nada de live action, era apenas uma animação em outro estilo. E este filme de 2019 falhou em quase tudo, mas principalmente em dois aspectos. Primeiro porque era uma história exatamente igual à do filme de 94, e, além disso, por ter traços realistas, os bichos não tinham expressões faciais. O resultado parecia um documentário ruim do National Geographic.

Dirigido por Barry Jenkins, este Mufasa pelo menos traz uma história original, e deram uma aliviada no problema das expressões. Menos mal. Mas mesmo assim, ainda falta bastante pra ser um filme bom.

Mas, antes de tudo, um elogio à qualidade das imagens. Mufasa é colorido, traz vários cenários diferentes, tem cenas debaixo d’água, e ainda tem animais simplesmente perfeitos. Quem estiver interessado na parte técnica vai curtir.

Vamos ao filme. Em Mufasa, Rafiki aparece pra contar para Kiara, filha de Simba, a história de seu avô. Timão e Pumba estão presentes, fazendo o alívio cômico e falando bobagens a cada momento de respiro da história – coisa que incomodou algumas pessoas, mas heu reconheço que gostei de algumas das piadas, principalmente quando eles fazem referências “off filme”, tipo quando mencionam a versão musical.

Mas a história é fraca. O “plot twist” do irmão do Mufasa é tão óbvio que transformaram numa piada, quando Kiara fala “já sei quem que ele vai virar!”. E o personagem me pareceu mal construído: por que um leão que teve toda a sua família assassinada por um vilão se uniria a este mesmo vilão? (Sem contar que este vilão também não é um bom personagem.)

É um filme pra crianças, então não tem sangue, nem bichos mortos. Ok, entendo a proposta. Mas fica estranho, porque nas lutas entre leões, heu nunca conseguia saber o que estava acontecendo. E o fato do Mufasa e do Taka serem muito parecidos atrapalhava, porque quando estamos vendo dois leões quase iguais correndo, como saber qual é qual? (Lembrando que, no desenho, Mufasa e Scar são bem diferentes!)

Tem outro problema: a trilha sonora composta por Lin-Manuel Miranda. Não que seja uma trilha ruim, mas é uma trilha insossa, principalmente se comparada à trilha do desenho de 94, composta por Elton John. Assim como aconteceu em Moana 2, a trilha é esquecível e perde pontos na comparação.

Por fim, um mimimi relativo à dublagem. A dublagem não é ruim, mas, na versão original de 1994, Mufasa é dublado por James Earl Jones (o Darth Vader!), que faleceu este ano. Ok, se ele não pode dublar, vamos usar outro ator com as mesmas características na voz, tem que ser uma voz encorpada e imponente. Mas a voz do Mufasa na dublagem brasileira é uma voz “normal”. Aí fui catar quem fez a voz na versão original, é Aaron Pierre, ator que não conheço. Fui procurar a voz dele no youtube, ok, é uma voz compatível. Por que diabos o Mufasa brasileiro tem voz fina?

Mufasa é ruim? Não, garotada vai ver e vai curtir. Mas, como falei no início, é desnecessário.

Kraven, O Caçador

Crítica – Kraven, O Caçador

Sinopse (imdb): A complexa relação de Kraven com o pai, Nikolai Kravinoff, o leva a uma jornada de vingança com consequências brutais, o motivando a se tornar um dos maiores e mais temidos caçadores do mundo.

Antes de tudo, uma informação importante: nunca li os quadrinhos desse Kraven. Todo o meu texto será baseado no filme.

Ninguém esperava que Kraven, O Caçador seria bom. Afinal, é o sexto filme de um universo todo errado: “vilões do Homem Aranha sem a presença do Homem Aranha”. Pra piorar, não teve sessão de imprensa, coisa que normalmente acontece quando a distribuidora não acredita no potencial do filme. Mesmo assim fui ver. É bom? Não. Mas não é o pior do ano.

(Só pra deixar registrado: os outros filmes são Morbius, Madame Teia e os três Venom. Todos ruins.)

Dirigido por J.C. Chandor, Kraven, O Caçador (Kraven the Hunter no original) sofre do mesmo problema dos outros: como o protagonista é um vilão sem oponente, o filme força uma barra pra ele virar uma espécie de anti herói. Ou seja, é um vilão mas não pode ser “do mal”. E, como nos outros filmes, essa construção de personagem não foi muito boa.

Tem outro problema que é a grande quantidade de personagens. Por exemplo, são três vilões, um deles ficou sobrando. Podia focar só no pai e no Rino, aquele que conta até 3 e congela tudo é meio desnecessário.

(Me falaram que nos quadrinhos a Calypso também é vilã, mas isso não acontece aqui neste filme. E no finzinho do filme, o irmão, Dmitri, dá a impressão de que vai virar outro vilão, mas isso ficaria pra uma suposta continuação.)

Some-se a isso efeitos especiais que parece que a gente está vendo um filme dos anos 90. Algumas cenas de ação o herói é um boneco de cgi que não respeita as leis da física. Mas… isso me incomoda pouco. Um roteiro mal escrito me incomoda mais. Um exemplo claro está na personagem Calypso, que entra e sai da trama quando o roteiro está precisando de uma ajuda. Ela está no passado do protagonista, e volta justamente quando ele precisa de ajuda. Um pouco mais tarde no filme a gente descobre que ela sabe atirar com arco e flecha, mas logo depois que o roteiro usa suas habilidades, ela some do filme.

Agora, uma coisa boa de Kraven é que tem mais sangue e violência que o padrão dos “filmes de super herói”. Nada muito gráfico, mas pelo menos vemos sangue, coisa que costuma faltar em filmes do gênero.

Sobre o elenco, Aaron Taylor-Johnson não está mal como o protagonista. Mas não podemos dizer o mesmo de Russell Crowe, caricato demais como o mafioso russo. Ariana DeBose como Calypso também não está bem. Também no elenco, Fred Hechinger, Alessandro Nivola e Christopher Abbott.

Agora queria terminar meu texto com uma listinha curta de coisas sem sentido em Kraven, O Caçador. Vamulá?

– Sua avó lhe entrega uma poção mágica, segredo da sua família, que vai dar super poderes a quem tomá-la. Que tal dar essa poção pro primeiro desconhecido que encontrar pela frente?

– Se Kraven teve contato com o sangue de um leão e tomou uma poção mágica que lhe deu os poderes de um leão, como é que ele escala paredes e tem a visão de um elfo?

– Kraven é “O Caçador”, mas ninguém sabe o nome dele, porque ele diz que mata todos os que ouvem isso. Ok. Aí o vilãozão pega uma filmagem de câmera de segurança e descobre, por reconhecimento facial, que aquele cara é Sergei Kravinoff e também é o Caçador. Como é que ele descobre que também é chamado de Kraven?

– Ainda nesse reconhecimento facial, da primeira vez que vemos, deu 97,3% de compatibilidade. Na segunda vez, mudou pra 99,99%. O que mudou?

– Você é um vilão malvadão e manda um capanga matar o herói. O capanga diz “vou matá-lo”, mas não volta. Por que diabos você vai acreditar que seu capanga conseguiu e vai embora achando que o herói está morto?

Parece que vão acabar com esse universo de “Homem Aranha sem Homem Aranha”. É, talvez seja a melhor opção.

O Auto da Compadecida 2

Crítica – O Auto da Compadecida 2

Sinopse (imdb): Os malandros João Grilo e Chicó retornam 25 anos depois da sua última aventura.

Pensei em não fazer conteúdo sobre O Auto da Compadecida 2, porque é um filme que não tem muito o que se falar. Mas como o primeiro foi um grande sucesso, bora pra um texto curtinho.

Antes de tudo, um elogio à dupla de protagonistas. Mateus Nachtergaele e Selton Mello voltam com João Grilo e Chicó, e é uma delícia vê-los em tela. Os dois são muito bons, e, juntos, são ainda melhores. Quase que dá pra dizer que O Auto da Compadecida 2 vale pela dupla.

Mas, o filme tem problemas. O principal é que este filme é igual ao primeiro. Fiquei me perguntando qual seria o público alvo de O Auto da Compadecida 2. Porque se for o cara que gostou do primeiro filme, não seria melhor rever o primeiro filme?

Tem outra coisa que me incomodou, mas não diria que é uma falha, porque faz parte da proposta. Toda a estética é teatral, parece que estamos vendo uma peça de teatro filmada. Chega a ter uma igreja com a janela torta, emulando um cenário teatral. O Auto da Compadecida 2 foi dirigido por Guel Arraes, e lembro que esta mesma característica estilística me incomodou em Grande Sertão, filme dele lançado na primeira metade do ano. Acho isso ruim, linguagem teatral nem sempre funciona no cinema, precisa de uma adaptação…

Voltando ao elenco, queria destacar Humberto Martins e Eduardo Sterblitch como os políticos rivais. São ótimos personagens, e os atores estão muito bem – e ainda abrem espaço pra uma discussão sobre como políticos dominam a massa com motivos eleitoreiros. Infelizmente não posso dizer o mesmo sobre as duas principais personagens femininas. Clarabela (Fabiula Nascimento) está caricata e Rosinha (Virginia Cavendish) pouco aparece. Achei que o roteiro não soube valoriza-las, e ainda tem um problema: elas fazem um triângulo amoroso mal construído com o Chicó do Selton Mello – a princípio parece que Chicó gosta da Clarabela, mas em um estalo de dedos ele se mostra super apaixonado pela Rosinha. Outro problema é o personagem de Luis Miranda, que entra bem, como um malandro carioca que era parceiro de João Grilo, mas que parece que queriam esticar sua presença e inventam que ele vira um padre, e o roteiro não sabe mais o que fazer com o personagem.

Pelo menos O Auto da Compadecida 2 não é de todo ruim. Vale pelo João Grilo e pelo Chicó.

MadS

Crítica – MadS

Sinopse (imdb): Um adolescente para na casa do seu traficante para testar uma nova droga antes de ir para uma festa. No caminho, ele encontra uma mulher machucada e a noite se torna algo surreal.

Quando ouvi falar de um filme francês de zumbi, em plano sequência, lembrei de Coupez!, refilmagem do japonês One Shot of the Dead, que traz um filme trash de zumbi em um divertido plano sequência, e que tem um plot twist no meio que deixa tudo ainda mais interessante. Mas não, MadS tem outra proposta.

Não sei se MadS chega a ser um “filme de zumbi”. Vemos o início de uma infecção, mas parece mais algo na linha do filme Extermínio, onde pessoas são infectadas e passam a agir como zumbis, mas não são mortos vivos. Enfim, a história em si não tem nada demais. O grande lance é ser um filme inteiro sem cortes.

Escrito e dirigido por David Moreau, a proposta é ser um longo plano sequência de 90 minutos. Li uma entrevista do diretor num site português, ele falou que realmente não tem cortes. Ele disse que filmou tudo cinco vezes, em cinco dias seguidos, e que nos dois primeiros dias deu tudo errado, mas que depois acertaram, e que a quinta filmagem é o filme que estamos vendo.

Se é verdade ou não, não sei. Existem vários pontos onde a câmera passa por uma parede, ou pilastra, ou lugar escuro, pontos onde poderiam haver cortes – normalmente usam esses pontos pra fazer os cortes e depois emendar digitalmente. Heu particularmente não acredito que ele tenha conseguido tudo em um único take.

Mas, isso pouco importa. Valorizo mesmo quando o plano sequência tem essas emendas, porque a concepção do story board precisa pensar em um todo. Por isso, bato palmas pro resultado alcançado, tenha emendas ou não.

Digo isso porque acontece MUITA coisa durante este plano sequência. Tem câmera acompanhando carro, moto, bicicleta, tem festa com dezenas de pessoas, tem cenas com policiais, tem brigas, tiros, sangue… E em defesa da declaração do diretor, a trama começa ao entardecer e segue de noite. E filmar nesse horário é complicado por causa da continuidade.

Outra coisa que heu queria destacar são os efeitos de maquiagem “em tempo real”. Talvez tenha tido algo inserido digitalmente na pós produção, mas em alguns momentos provavelmente o ator estava com algum truque de maquiagem para usar na hora, com a câmera rolando. Independente de como foi feito, o resultado ficou bem legal.

MadS é um filme do streaming Shudder, que infelizmente não existe oficialmente no Brasil…

Alice: Subservience

Crítica – Alice: Subservience

Sinopse (prime vídeo): Com sua esposa no hospital (Madeline Zima), um pai em dificuldades (Michael Morrone) compra uma Inteligência Artificial para ajudá-lo em casa. Mas à medida que o robô (Megan Fox) se afeiçoa ao se novo dono, os limites começam a se cruzar. Logo ela está determinada a eliminar o que considera ser a verdadeira ameaça à sua felicidades: sua família.

Nos meus tempos de videolocadora, lembro que dividiam os lançamento em duas categorias: filme de ponta, que era aquele filme com atores famosos, que estava no cinema meses atrás; e o filme de apoio, que eram filmes menos conhecidos, normalmente com menor qualidade, que estavam lá pra quando o cliente não conseguia o filme de ponta e queria levar algo novo pra casa. Anos depois, esses “filmes de apoio” passaram a ir direto pra tv a cabo. Hoje, é o grosso das produções feitas pelos streamings. Com atores fracos e roteiro preguiçoso, este Alice: Subservience tem esse perfil.

Mas antes de tudo, um elogio à escolha da Megan Fox como robô. Megan Fox tem duas características muito marcantes: ela é muito bonita, e não é muito expressiva (sim, é uma atriz ruim). Escalá-la como um robô foi perfeito! Michele Morrone faz o pai que compra a robô, ele é conhecido pelos filmes 365 Dias, que não vi mas ouvi falar que são todos muito ruins, mas aqui posso dizer que ele é tão ruim quanto a Megan Fox. O outro nome importante no elenco é Madeline Zima, que me lembro de Californication, e que aqui não atrapalha, mas o filme é mais focado nos outros dois.

Comentei que parecia um filme de apoio, ou filme de tv a cabo. A produção segura a onda na nudez e violência, coisa típica daquele tipo de produção. Alice: Subservience tinha justificativa pra mostrar nudez e violência, mas segura a mão e não mostra quase nada. Vejam bem, um filme não precisa ter nudez e violência, mas se tivesse aqui, eram grandes as chances do resultado final ser melhor. A gente vê cenas de sexo, com as duas atrizes, mas nada de nudez – não me lembro da Megan Fox nua em nenhum filme, ela sempre faz o papel de mulher sexy, mas nunca mostra nada; Madeline Zima teve cenas de nudez em Californication, mas aqui me pareceu que sua nudez foi borrada digitalmente. Já pela violência, vemos a robô matando pessoas. Mostrar um pouco mais de sangue e gore agregaria valor…

O que sobra é um roteiro previsível e preguiçoso. E se a gente parar pra pensar, tem algumas falhas estranhas. Tipo, estamos em uma sociedade no futuro onde temos robôs super evoluídos, mas onde ninguém pensou em criar um coração artificial?

Ok, vamos dizer que uma tecnologia evoluiu mas a outra não. Mas então a gente pode pensar em várias coisinhas ao longo do filme que não fazem muita lógica. Tipo, trocam funcionários de uma obra por robôs. E por que os robôs precisam “descansar” em vez de trabalhar à noite? Ou ainda quando a Megan Fox quer arrancar o coração da outra mas antes precisa atirá-la longe. Pra que??? Ou um robô que não ouve humanos logo ao lado. Ou uma ala de pediatria no hospital onde não tem nenhum funcionário. Ou…

Alice: Subservience ainda tem outro problema, mas talvez seja uma espécie de head canon, porque é algo que estava na minha cabeça e não no filme. Mas é que o filme não entra na discussão filosófica sobre o uso da IA. Tinha espaço pra levantar questões sobre o quanto a IA pode entrar ou não na nossa vida, e ainda tinha espaço pra questão delicada: sexo com robô seria traição? (Lembrei de Ex Machina, quando levantam a questão de se um humano pode se apaixonar por uma IA.) Mas, nada. Nenhuma discussão. Tudo raso…

No fim, Alice: Subservience nem é ruim. Mas fica a sensação de que estamos vendo só porque o “filme de ponta” estava alugado pra outra pessoa.

O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim

Crítica – O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim

Sinopse (imdb): Em Rohan, um ataque surpresa de Wulf, um senhor Dunlendino astuto e implacável em busca de vingança pela morte de seu pai, força o rei Helm Mão-de-Martelo e seu povo a fazerem uma última resistência ousada na antiga fortaleza de Hornburg.

Depois de décadas, O Senhor dos Anéis volta para a animação!

(Pra quem não sabe ou não se lembra, em 1978, muito antes da famosa e premiada trilogia do Peter Jackson, Ralph Bahshi dirigiu uma versão animada dos livros de Tolkien!)

A novidade agora é que a animação, dirigida por Kenji Kamiyama, é em estilo anime. O visual da animação é muito bonito. É curioso ver nos cinemas uma animação “old school”, comentei aqui outro dia sobre Moana 2 e sua animação perfeita. O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim está longe dessa proposta, mas mesmo assim traz um belo visual.

O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim conta uma história que se passa 200 anos antes dos acontecimentos principais dos livros. Acompanhamos Hera, a filha do rei Helm Mão de Martelo. Li os três livros, mas não me considero um grande conhecedor de Tolkien. Me disseram que nos livros é citado que Helm tem uma filha, mas ela nem tem nome. Resolveram desenvolver então esta personagem, que ganhou o nome de Hera e virou a protagonista aqui.

Pra quem não gostou da série Anéis de Poder, a boa notícia é que aqui existe uma justificativa pra personagem feminina forte, não pareceu lacração. Afinal, ela é uma antepassada da Éowyn, que era uma personagem feminina forte nos livros e filmes. Gostei da Hera.

Aproveitando que falei dela, Miranda Otto, a Éowyn dos filmes, tem um papel aqui, narrando a história. Billy Boyd e Dominic Monaghan, Merry e Pippin nos filmes, também estão aqui, mas em outros papéis. Tem mais uma participação, numa cena curta no final, cena que parece ter sido inserida apenas por fan service.

O roteiro traz um problema. O nome do filme é “A Guerra dos Rohirrim”, e a gente lembra que no filme As Duas Torres tem uma batalha grandiosa no mesmo cenário, o Abismo de Helm. Aí a gente pensa no nome, e espera uma guerra ainda mais grandiosa. E a tal batalha do desenho é boa, mas bem inferior à do filme de 2002.

Como falei, no fim do filme rolam uns fan services. Nada importante pra trama, mas quem é fã vai curtir. Mas, talvez fosse melhor se colocassem como cenas pós créditos…

Wicked

Crítica – Wicked

Sinopse (imdb): Elphaba, uma jovem incompreendida por causa da pele verde, e Glinda, uma jovem popular, se tornam amigas na Universidade de Shiz, na Terra de Oz. Após um encontro com o Maravilhoso Mágico de Oz, a amizade delas chega a uma encruzilhada.

Sim, estou atrasado. A sessão de imprensa de Wicked foi num dia complicado pra mim, então abri mão. E pra falar a verdade, não estava empolgado, vi o trailer e parecia ser meio trash. Mas vários amigos viram e elogiaram, então resolvi ver no circuito.

Mas, preciso dizer que não gostei. Reconheço algumas coisas boas, mas no geral achei um filme excessivamente longo e cansativo.

Antes de tudo, preciso falar que nunca vi a versão teatral do musical. Até gosto de musicais, gosto de A Pequena Loja dos Horrores, Hairspray, Rent, La La Land, O Rei do Show, Hair, gosto de vários. Ou seja, meus comentários negativos não são pelo usual preconceito que pessoas têm com musicais.

Comecemos pelos pontos positivos. Achei que o visual seria trash, mas, ledo engano, o visual aqui é elaboradíssimo. Wicked é muito colorido e tem várias cenas exuberantes. Alguns dos números musicais também são muito bons, gostei do número na biblioteca – mas achei que aquela parte que roda podia ser mais explorada. Também gostei do número quando as duas chegam na cidade das esmeraldas.

É difícil comentar sobre o elenco, porque uma das principais, Ariana Grande, faz uma personagem insuportável. Mas não sei o quanto era do roteiro, pra gente odiar a personagem, ou o quanto é da atriz que não fez um bom papel. Volto a falar dela daqui a pouco. A protagonista é interpretada por Cynthia Erivo, e está bem apesar do papel clichê. Pelo menos as duas cantam bem. Também no elenco, Michelle Yeoh, Jeff Goldblum e Peter Dinklage como a voz do bode professor. Tem ainda uma participação especial da Idina Menzel e da Kristin Chenoweth, que fizeram Elphaba e Glinda no teatro.

Agora, vamos aos problemas? Em primeiro lugar, acho uma grande falta de respeito vender ingresso pra “Wicked” e quando começa o filme a gente ver que é “Wicked parte 1”. Por que diabos não avisam que a história estará incompleta? Fiz a mesma crítica com o primeiro Duna. Essas informações precisam estar na divulgação do filme!

E aí vamos para o principal problema de Wicked: são duas horas e quarenta! E só a primeira parte! (Quando passava no teatro, era quanto tempo? Mais de 5 horas?) O filme é cansativo. Tipo, ok, chega. Se tivesse uma hora a menos, seria muito melhor. A Pequena Loja dos Horrores, o meu musical favorito, tem uma hora e trinta e cinco. Fica a dica!

Duas horas e quarenta aturando uma personagem chata. G(a)linda é uma patricinha rica e mimada, sua personagem é insuportável. Ok, acredito que seja proposital, afinal o filme propõe inverter o que a gente viu no Magico de Oz, quem era do mal virou do bem e vice versa. Mas, isso precisa ser dosado. Focar meio filme numa personagem ruim enfraquece o resultado final.

Outra coisa que me incomodou foi a forçação de barra pras pessoas odiarem quem é verde. Ok, entendi o simbolismo, mas, num mundo onde tem um monte de coisas bem diferentes – como um bode professor universitário – uma pessoa de cor diferente não deveria ser algo tão estranho assim.

Enfim, acho que a produção partiu de uma boa ideia, mas se perdeu. Galera fã do musical deve curtir essa “versão estendida”, mas o público “normal” vai se cansar. E ainda vai ter uma segunda parte. Socorro!

Robô Selvagem

Crítica – Robô Selvagem

Sinopse (imdb): Após um naufrágio, um robô inteligente chamado Roz fica preso em uma ilha desabitada. Para sobreviver ao ambiente hostil, Roz se une aos animais da ilha e cuida de um ganso bebê órfão.

Um pouco atrasado, vamos comentar Robô Selvagem (The Wild Robot, no original), novo longa de animação da Dreamworks.

Escrito e dirigido por Chris Sanders (Lilo & Stitch, Como Treinar seu Dragão, Os Croods), Robô Selvagem é adaptação do livro homônimo escrito por Peter Brown, informação que só soube depois de ver o filme, e que, na minha humilde opinião, enfraquece o resultado final, porque seria um filme excelente se a história terminasse aqui. Mais tarde comento mais, na área de spoilers.

A ideia é muito boa: um robô programado pra ajudar humanos cai acidentalmente numa ilha onde não tem nenhum humano. O robô passa um bom tempo estudando toda a natureza que a cerca, e acaba mudando sua programação para ajudar os animais. Literalmente uma inteligência artificial aprendendo a se adaptar a um mundo completamente diferente do que consta em sua programação. No meio do processo, causa um acidente e vira mãe adotiva de um ovo de ganso. Ou seja, temos um início meio Wall-E, pra depois virar uma emocionante história de um robô que aprende a maternidade.

Lendo o parágrafo anterior, a gente pode pensar que Robô Selvagem pode ser um filme mais sério. Nada disso! O longa traz vários personagens carismáticos e bem divertidos, e traz várias cenas muito engraçadas. E ainda tem umas piadas de humor negro no início do filme, quando vemos bichos maiores comendo bichos menores.

(Comentário sobre os nomes em português. A robô se chama “Rozzum 7134”. Na dublagem, heu só ouvia “Roz 171″…)

Comentei aqui outro dia sobre a quebra de paradigma criada por Homem Aranha no Aranhaverso, onde, em vez da busca pela imagem perfeita, as animações passaram a focar nas pequenas imperfeições. Robô Selvagem tem isso. Os cenários não são perfeitos, parecem pinturas feitas em tinta guache, ou aquarela (não entendo de pintura, desculpa), o cenário fica meio borrado. Mais uma vez, a Dreamworks explora o “diferente” em vez do “perfeito”. Preciso dizer que deu muito certo: o resultado final é lindo!

Aliás, uma informação que peguei no imdb: o processador que os robôs usam se chama Alpha – 113. Quem acompanha easter eggs em animação da Pixar, sabe que sempre tem um “A113” escondido, que é uma referência à sala de aula de animação do Instituto de Artes da Califórnia (CalArts) onde vários animadores hoje consagrados estudaram. O grande lance é que é a primeira vez que este easter egg é usado num filme da Dreamworks!

O final do filme é bom, mas poderia ser melhor. Vou comentar isso, mas antes, os avisos de spoilers.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

No fim do filme, a robô se separa do ganso, e o filme ruma para um final triste. Triste, mas bonito. Mas, é Dreamworks, então inventaram um vilão e uma saída mágica (a robô que tinha sido apagada, ganha vida “através do amor”). Ok, filme pra criançada, vai vender mais se tiver um vilão e um final “mágico”. Mas, na minha humilde opinião, essa parte final enfraqueceu o filme. Seria um filme melhor se continuasse sem vilão e sem saídas mágicas.

FIM DOS SPOILERS!

Mesmo com o final “menos bom”, Robô Selvagem ainda é um programa belíssimo. Não me espantará se estiver entre os cinco do Oscar ano que vem.

O Conde de Monte Cristo

Crítica – O Conde de Monte Cristo

Sinopse (imdb): Alvo de uma armadilha, Edmond Dantès é preso no dia do casamento por um crime que não cometeu. Após quatorze anos na prisão, ele consegue fugir. Agora rico, ele assume a identidade do Conde de Monte Cristo e se vinga de seus traidores.

Nunca li o livro O Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas (o mesmo de Os Três Mosqueteiros), lançado originalmente como folhetim entre agosto de 1844 e janeiro de 1846. Vi duas das versões cinematográficas, a de 1975, estrelada por Richard Chamberlain; e a de 2002, estrelada por Jim Caviezel e Guy Pierce. Também teve uma minissérie em 1998, estrelada por Gérard Depardieu e Ornella Muti, e acabei de ver no imdb que mês que vem estreia uma nova série, com Sam Claflin – não vi nenhuma dessas duas versões.

Mas, preciso confessar que me lembrava de pouca coisa. O que não foi ruim, entrei no cinema para ver uma “nova história”.

Escrito e dirigido por Matthieu Delaporte e Alexandre de La Patellière (mesmos roteiristas dos dois recentes filmes d’Os Três Mosqueteiros), O Conde de Monte Cristo (Le Comte de Monte-Cristo, no original) é o filme mais caro feito na França em 2024 (custou 42,9 milhões de euros). E a gente vê isso na tela: O Conde de Monte Cristo é uma superprodução que não deixa nada a dever para o milionário cinema hollywoodiano.

(O filme francês mais caro da história é Valerian e a Cidade dos Mil Planetas, de Luc Besson, com um custo de produção de 197,47 milhões de euros. Mas, diferente de O Conde de Monte Cristo, é um filme com “cara de Hollywood”.)

O Conde de Monte Cristo é um “filmão”. Acompanhamos a saga de Edmond Dantès, preso injustamente, e que quando consegue sair da prisão tem um elaborado plano de vingança. Tudo isso em uma reconstituição de época impecável, com figurinos e cenários que enchem os olhos. A fotografia ainda usa várias vezes takes aéreos (provavelmente usando drones) e consegue captar imagens belíssimas!

O Conde de Monte Cristo é longo, são quase três horas de projeção. Mas a história é envolvente e bem contada, em nenhum momento o filme é cansativo. A trilha sonora épica de Jérôme Rebotier também é muito boa. E não posso deixar de mencionar a perfeita maquiagem usada pra envelhecer os personagens, afinal, passam-se 20 anos ao longo do filme.

Se tem uma coisa que não gostei muito foram as máscaras usadas pelo protagonista. Ele não pode ser reconhecido, então usa algumas máscaras para interagir com as pessoas. Mas, numa história que se passa no início do século 19, fiquei me questionando se aquelas máscaras seriam tão perfeitas, ou se em algum momento alguém ia desconfiar de alguma falha na sua maquiagem. Felizmente nada que atrapalhe o filme.

O elenco é bom, mas preciso reconhecer que não conhecia quase ninguém, só reconheci Anamaria Vartolomei, de O Império. Pierre Niney manda bem como Edmond Dantès, um papel complexo, tanto na parte física (ele emagrece muito na época da prisão) quanto na parte de interpretação (quando ele usa máscaras e desenvolve outras personalidades).

Por fim, uma coisa que achei curiosa: o filme quase todo é em francês, mas me parece que alguns dos diálogos entre Edmond e Haydée são em outra língua. Não sei se era outra língua, porque a personagem vem de outro país, ou se é algum sotaque forte, porque a atriz nasceu na Romênia.

Filmão.