Contra o Mundo

Crítica – Contra o Mundo

Sinopse (imdb): Acompanha Boy, um surdo-mudo com uma imaginação vibrante. Quando sua família é assassinada, ele é treinado por um misterioso xamã para reprimir sua imaginação infantil e se tornar um instrumento da morte.

Sabe quando um filme é uma agradável surpresa? Heu nunca tinha ouvido falar de Contra o Mundo, até que veio o convite para a cabine e resolvi arriscar. Gostei tanto que já quero rever! Já comentei aqui em outras ocasiões: gosto muito do slogan da Luis Severiano Ribeiro, “cinema é a maior diversão”. Contra o Mundo é uma ação / comédia, com bons personagens, cenas de ação bem coreografada e bem filmadas e várias sacadas muito muito engraçadas. E, principalmente, muito divertido!

(Só um breve mimimi antes de entrar no filme: “Contra o Mundo” não é um bom nome, porque lembra “Scott Pillgrim Contra o Mundo”. Seria melhor uma tradução literal, “Garoto Mata o Mundo”.)

Contra o Mundo é o longa metragem de estreia de Moritz Mohr, e parece uma mistura de história em quadrinhos com videogame. A trama se passa num local e numa época indeterminados, o que foi uma boa sacada, pro filme se afastar um pouco do realismo. E desde o início a gente vê que não é pra levar o filme a sério. São muitas situações absurdas, além de muito humor negro.

Reconheço que a história é meio clichê: um jovem vê sua família morrendo nas mãos de um tirano e passa anos treinando para se vingar (inclusive é parecida com O Homem do Norte, estrelado pelo irmão do protagonista daqui). Outro clichê: o filme usa o “formato videogame”, onde o personagem passa por diversas “fases” até chegar ao “boss”, o vilão final. Sim, clichês – mas bem utilizados.

Semana passada vi Rebel Moon Parte 2, é um filme tão insosso que acaba o filme e não guardamos nada do que vimos. Já Contra o Mundo é o contrário, o filme tem tantas ideias criativas que a gente sai do cinema com vontade de rever. Só pra dar um exemplo: tem uma cena de luta em uma cozinha. Os oponentes pegam facas para lutar, normal, já vimos diversas boas lutas com facas. Mas o protagonista pega um ralador de metal! Sim, um ralador de queijo! Claro que ele não vão matar ninguém com o ralador, mas pensa só, deve doer pra caramba alguém ralar o seu rosto no meio de uma luta!

Preciso falar que adorei o humor do filme. Algumas cenas são graficamente bem violentas, e mesmo assim causam risos em vez de repulsa. E os momentos mais engraçados do filme estão nas falas do personagem Benny. O protagonista é surdo, ele entende as pessoas usando leitura labial. Mas ele não consegue entender o que o Benny está falando, e como estamos no ponto de vista do protagonista, todas as falas do Benny soam frases completamente aleatórias. Na cena onde vemos um robô tocando violão heu perdi a linha, não me lembro a última vez que ri tanto numa sala de cinema.

Também queria elogiar a trilha sonora. De vez em quando cito trilhas que usam músicas pop conhecidas, outro dia um ouvinte do youtube me criticou porque as músicas conhecidas nos trazem boas memórias e talvez por isso a gente passe a curtir mais o filme, e isso pode ser verdade. Mas aqui não, as músicas são boas, e heu não conhecia nenhuma!

Se tenho uma coisa pra criticar é que achei o roteiro meio forçado em algumas cenas. Por exemplo, não entendi muito a mudança de atitude da personagem June 27. E, na luta final contra o “boss”, aquele “boss” não estaria naquele local, como é que ele chegou lá?

O elenco é bom. Ok, este formato de filme não tem muito espaço pra grandes atuações, mas, para o que filme pede, o elenco está bem. Bill Skarsgård – sim, o Pennywise de It – está ótimo, parece tão forte quanto o irmão Alexander Skarsgård, e ainda faz várias coreografias de cenas de luta (o personagem dele não tem nome). Também no elenco, Famke Janssen, Jessica Rothe, Michelle Dockery, Yayan Ruhian, Sharlto Copley, Brett Gelman, Isaiah Mustafa e Andrew Koji.

Ah, tem cena pós créditos. No finzinho dos créditos tem uma cena, bem besta.

Boa época pra filmes de ação. Em breve falarei aqui de O Dublê e Fúria Primitiva!

Rebel Moon – Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes

Crítica – Rebel Moon – Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes

Sinopse (imdb): Kora e os guerreiros sobreviventes se preparam para defender Veldt, seu novo lar, ao lado de seu povo contra o Realm. Os guerreiros enfrentam seus passados, revelando suas motivações antes que as forças do Realm ataquem.

Em 1991, Pauline Kael, crítica do The New York Times, ao se aposentar, declarou que estava aliviada de não precisar ver mais nenhum filme do Oliver Stone. Quando vi que a Netflix tinha lançado a segunda parte de Rebel Moon, lembrei da Pauline Kael. Porque se não fosse o heuvi, heu não veria o novo Zack Snyder.

Como falei no meu texto anterior Rebel Moon Parte 1 não é exatamente ruim, mas é fraco, parece um fan film escrito por um adolescente que acabou de ver, pela primeira vez, Guerra nas Estrelas e Mercenários das Galáxias. Pelo menos é um filme bonito, mas só isso. Um fan filme vazio e bonito.

Mas, chega, né? Pra que fazer um segundo filme se você não tem história que justifique isso?

Parece que Zack Snyder não conhece esse conceito, e assim temos mais um Rebel Moon. E pior, ele quer mais, no fim do texto volto a esse assunto.

Rebel Moon Parte 2 se resume a duas partes. Primeiro “o vilãozão vai atacar, precisamos nos preparar”, depois tem o “ataque do vilãozão contra os fazendeiros ajudados pelos mercenários recrutados no primeiro filme”. Só. Não tem nada que mereça um destaque. Não tem uma trama cativante, nenhum personagem interessante ou carismático, nenhuma cena memorável, nada. Apenas um filme genérico. Tecnicamente bem feito, mas genérico.

E com MUITA câmera lenta, como era de se esperar. Tem tanta câmera lenta que banalizou o efeito. Se ele queria que a câmera lenta simbolizasse algo, esse símbolo se diluiu, porque todo o filme e em câmera lenta. Mas, vou repetir uma coisa que falei no outro texto: “Reclamar de câmera lenta em filme do Zack Snyder é a mesma coisa que reclamar de lens flare em filme do JJ Abrams, ou de closes nos pés das atrizes em filme do Tarantino, ou de tudo estar simétrico em filme do Wes Anderson. Faz parte do pacote.”

Agora, preciso criticar algumas coisas. Tem uma cena em particular que achei tão ruim que posso criticá-la em três camadas. É quando o Djimon Hounsou fala sobre seu passado e pede pra cada um fazer o mesmo. Em primeiro lugar, é uma cena ruim porque deveria estar no primeiro filme, que era o recrutamento da galera. Este segundo filme já era pra ser a ação, não precisa voltar para motivações. Mas, ok, seguimos, até o segundo problema: um personagem fala “o vilãozão malvadão matou minha família e meus amigos e destruiu o meu mundo”, aí depois outro personagem fala “o vilãozão malvadão matou minha família e meus amigos e destruiu o meu mundo”, aí um terceiro fala “o vilãozão malvadão…” CHEGA! Se as histórias são iguais, pra que repetir? Ou seja, é uma cena sem propósito e desnecessária. Mas, tem uma terceira camada: a cena podia ser sem propósito e desnecessária se fosse boa. Mas a cena é chaaaata. Nessa cena, juro, quase avancei o filme.

Heu ainda queria reclamar de duas coisas. Uma delas é que tem uma das cenas mais sem sentido que vi nos últimos tempos: a heroína organiza o plano, diz pra todos os fazendeiros enfrentarem o vilãozão, mas na hora de executar o plano ela desiste. Oi?!?!?!?

A outra é sobre o duelo de sabres de luz. Sim, tem sabres de luz aqui, falei que é um Star Wars genérico. Sr. Snyder, mocinhos não usam sabres vermelhos! Você errou na cor dos sabres!

Agora, se Rebel Moon Parte 2 fosse apenas uma cópia genérica e despretensiosa de Star Wars, heu até aceitava. Mas não, tem algo bem pior: é um projeto pretensioso. Primeiro, Zack Snyder disse que quer fazer mais vários filmes neste universo – tem um gancho pra Parte 3, apesar de NINGUÉM querer mais um filme. E ainda tem outro problema, tão grave quanto o anterior: Snyder disse que essas versões não são boas, porque ele vai lançar versões estendidas. Cara, na boa, ninguém quer ver um terceiro filme, e ninguém quer ver uma versão estendida!

Espero, sinceramente, que não tenha um terceiro filme. Pelo menos enquanto heu ainda escrever aqui no heuvi.

Mestres do Universo (1987)

Crítica – Mestres do Universo (1987)

Sinopse (imdb): O heroico guerreiro He-Man luta contra o malvado Esqueleto e seu exército.

Há tempos heu tinha curiosidade de rever Mestres do Universo, de 1987. Vi no cinema, na época, nunca tinha revisto. E existe um consenso geral hoje em dia de que é um filme ruim. Resolvi catar o filme para rever. E não é que foi uma boa surpresa? Mestres do Universo não é tão ruim assim!

Ok, o filme dirigido por Gary Goddard (segundo o imdb, seu único longa) não é perfeito, tem seus defeitos, efeitos especiais venceram, etc. Mas é bem melhor do que heu esperava.

Acredito que boa parte do problema das pessoas está no head canon. A maior parte das pessoas foi ao cinema assistir um filme baseado no desenho animado do He-Man. E o filme Mestres do Universo é baseado no boneco He-Man, e não no desenho animado.

Lançado pela Mattel, o boneco veio antes do desenho. Rola um rumor que diz que o boneco foi feito para ser o Conan (que teve um filme lançado em 1982, estrelado pelo Arnold Schwarzenegger), e que teria sido desligado do filme porque a Mattel não queria se associar a um filme repleto de nudez e violência. Mas, segundo a Wikipedia, esse rumor nunca foi confirmado. O fato é: a Mattel criou um boneco, colocou no mercado em 1982, e o desenho só foi lançado em 1983.

Algumas coisas características do desenho não estão aqui. Umas por razão orçamentária, como o Gato Guerreiro e o Gorpo (seria difícil com o cgi existente na época); ou o fato de parte da história se passar na Terra (é mais barato filmar em locações que já existem do que criar um mundo novo). Outras alterações não tenho ideia do motivo – por que diabos não tem o príncipe Adam?

Por outro lado, criaram um personagem novo, o Gwildor, que tem bem a cara de personagem de filme de fantasia da época, uma pegada meio Willow / Labirinto / Cristal Encantado. Ah, preciso dizer, o personagem era pra ser um alívio cômico, mas é um personagem bem tosco.

Algumas partes da trama não fazem muito sentido, mas, a gente precisa se lembrar que eram os anos 80, e quase todos os filmes traziam coisas que não faziam muito sentido. E sim, temos conveniências de roteiro, como o único cara que teve acesso à chave que abre portais interdimensionais ser um músico capaz de reproduzir a melodia, ou termos uma cidade quase vazia. Mais uma vez, anos 80, isso era comum.

Algumas pessoas vão reclamar dos efeitos especiais, feitos por Richard Edlund (ganhador de dois Oscars de efeitos especiais, em 1978 por Guerra nas Estrelas e em 82 por Os Caçadores da Arca Perdida). Claro, os efeitos venceram. Mas, caramba, já se passaram 37 anos! Entendendo o contexto de quando foram feitos, os efeitos são aceitáveis. Já a trilha sonora de Bill Conti (Rocky, Karate Kid) é imponente, mas não curti, porque parece muito o tema de Superman.

Tenho alguns comentários sobre o elenco. O primeiro é que o Dolph Lundgren era o ator ideal para o papel. O He-Man era um cara loiro e muito forte, e Lundgren, com 1,96m, tinha o physique du role perfeito. Arrisco dizer que ele é tão perfeito para o papel quanto a incensada Margot Robbie como Barbie – coincidência ou não, outra boneca da Mattel. Na gringa tinha gente reclamando que ele tinha sotaque sueco, mas essa reclamação não cabe aqui no Brasil, quando a maior parte viu dublado.

Outro comentário é sobre Frank Langella como Esqueleto. O cara está ótimo, ele declarou que ia fazer o papel em homenagem a seu filho, fã do desenho. Ele parece estar se divertindo muito no papel, e disse que chegou a escrever alguns dos seus diálogos.

Também preciso falar de Courteney Cox, então com 23 anos, ainda bem longe do estrondoso sucesso como a Monica Geller de Friends. Na época, acho que ela só era famosa por ser “a garota que dança com o Bruce Springsteen no vídeo de Dancing in the Dark”, gravado três anos antes.

Ainda queria falar de Meg Foster, que faz a Maligna (ou Evil Lyn, o nome em inglês é genial!). Meg tem os olhos naturalmente muito mais claros que o padrão. Sugeriram que ela usasse lentes de contato, mas não precisa, aqueles são os olhos reais dela! Ela fala que recebeu muitos convites pra filmes de terror por causa de seus olhos.

Filme divertido e injustiçado!

Abigail

Crítica – Abigail

Sinopse (imdb): Um grupo de criminosos sequestra uma bailarina de doze anos, filha de um poderoso homem do submundo, para coletar um resgate de US$ 50 milhões. Em uma mansão isolada, os raptores logo descobrem que não estão com uma garota normal.

Antes de falar do filme, queria falar mal da divulgação. Todo o marketing se baseou na “menina vampira”. O trailer já mostra isso! Mas ela só se revela uma vampira no meio do filme, lá pelos 40 ou 45 minutos. Imagina que legal seria se o espectador não soubesse? Ia ser que nem Um Drink Para o Inferno, onde o espectador entrava no cinema sem saber que era um filme de vampiros!

Enfim, vamos ao filme. Abigail (idem, no original) é o novo filme da dupla Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett (que têm uma produtora chamada Radio Silence), que fizeram o bom Casamento Sangrento (filme acima da média que quase ninguém viu porque foi lançado no meio da pandemia), e depois foram fazer “mais do mesmo” com Pânico 5 e Pânico 6 (não são filmes ruins, mas também não são nada de mais).

Abigail lembra bastante Casamento Sangrento: personagens sendo perseguidos em uma mansão antiga e enorme. Os diretores souberam aproveitar bem o clima nos ambientes e cômodos da mansão.

Abigail tem MUITO gore. Algumas mortes, alguns membros decepados, e muito, muito sangue. Mas, o filme tem um pé na comédia, o gore aqui não causa repulsa. Algumas cenas são bem engraçadas, seja pelos diálogos ou pelas situações de humor negro. O filme até faz piadas com os clichês de vampiros no cinema!

A maquiagem também é muito boa. A produção optou por dentes que lembram os grandes predadores, como tubarões, em vez dos tradicionais caninos dos vampiros. E também usaram efeitos práticos, como por exemplo na cena onde Abigail se equilibra no corrimão – ela estava pendurada por cabos de segurança, mas era ela mesma se equilibrando.

Sobre o elenco, o grande nome é Alisha Weir. A menina é ótima, tanto quando passa a impressão de ser uma menininha doce e inocente, quanto quando vira um monstro. E ela atacando enquanto dança balé deu um charme especial à personagem. Agora, sobre o resto, os personagens são unidimensionais, achei todos meio caricatos. Acho que o único que se salva é o Kevin Durand, que faz o “grandalhão burro”, mas pelo menos tem carisma na entrega de alguns bons diálogos. O resto é mais do mesmo: Melissa Barrera, Dan Stevens, William Catlett, Kathryn Newton e Angus Cloud (este último, infelizmente, morreu de overdose, aos 25 anos, antes da estreia do filme). Completam o elenco participações especiais de Giancarlo Esposito (em duas cenas) e Matthew Goode (em uma cena).

Por fim, uma referência que nem todos vão pegar. O personagem do Giancarlo Esposito dá apelidos aos outros personagens, e depois os chama de “pack of rats”. “The Rat Pack” era o apelido dado a um grupo de artistas populares nos anos 50 e 60: Frank Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis Jr., Peter Lawford e Joey Bishop – Don Rickles era considerado um “membro honorário”. É daí que vem os nomes dos personagens Frank, Dean, Sammy, Peter, Joey e Rickles. (Nos anos 80, adaptaram esse nome em outro grupo, o “brat pack”, com Emilio Estevez, Anthony Michael Hall, Rob Lowe, Andrew McCarthy, Demi Moore, Judd Nelson, Molly Ringwald e Ally Sheedy.)

Rivais

Crítica – Rivais

Sinopse (imdb): Tashi, uma treinadora de sucesso, transformou seu marido em um campeão mundial. Mas para superar uma sequência de derrotas, ele precisa enfrentar o ex-melhor amigo e ex-namorado de Tashi.

Filme novo de Luca Guadagnino, que está usando como marketing um suposto “trisal” entre a badalada Zendaya e dois homens. Mas, calma que não é exatamente por aí. Vamulá.

Gostei da estrutura do filme. O roteiro do estreante Justin Kuritzkes (marido da Celine Song, diretora de Vidas Passadas) começa o filme logo na cena final, na “grande batalha”, no jogo de tênis entre os dois protagonistas. E logo depois somos levados a um flashback, 13 anos antes, pra começar a entender o que está acontecendo. Mas, provavelmente para criar um paralelo com um jogo de tênis, a trama fica indo e vindo na linha temporal. Um pedacinho do “grande jogo”, volta no tempo, mais um pedacinho, mais uma volta no tempo. A narrativa ficou bem fluida com essas idas e vindas. Ah, e gostei da maquiagem usada pra diferenciar as idades. Ok, talvez não pareça que se passaram 13 anos, mas dá pra ver que estão bem mais novos / velhos.

(Tem uma cena onde um dos personagens se acidenta. Não sei se é spoiler, já que está no trailer. Enfim, na tela, o acidente é bem gráfico. Mas nada tão forte quanto a melhor cena de Suspiria, do mesmo diretor, onde uma mulher se quebra toda…)

A câmera de Guadagnino explora bem a quadra de tênis, vemos vários ângulos inovadores. Nem todos funcionam, heu por exemplo não curti quando vemos parte do jogo em câmera “pov”, com a visão do jogador. Por outro lado, gostei quando o ponto de vista foi da bola, como se a câmera estivesse sendo rebatida pelas raquetes.

Preciso dizer que não curti a trilha sonora de Trent Reznor e Atticus Ross, que já fizeram trabalhos ótimos (e já ganharam Oscars duas vezes, por A Rede Social e Soul). Se em outros trabalhos a trilha ajudava a entrar no clima do filme, aqui senti o oposto. Em algumas cenas que eram pra ser mais sérias, as batidas eletrônicas eram altas como se estivéssemos em uma rave. Continuo curtindo a dupla, mas não nesta trilha.

O trio principal de atores está muito bem. Preciso dizer que nunca entendi o fã clube da Zendaya, ela é uma boa atriz, mas, imho, nada que justifique o frisson. Bem, pelo menos aqui ela está bem, e tem uma boa química com Mike Faist e Josh O’Connor. Aliás, é interessante notar que existe um clima de tensão sexual entre ela e cada um deles, e também existe um clima de tensão sexual entre os dois. O filme consegue trabalhar bem a química entre o trio, cada um dos personagens é bem construído, e igualmente bem construídas são as relações entre eles.

(Achei ótimo ver a Zendaya fazer uma breve citação a Homem Aranha!)

Apesar de alguns méritos, achei o resultado final de Rivais apenas mediano. Mas reconheço que gostei muito da sequência final. Na verdade não sabemos como o jogo de tênis acaba, mas o crescente até o final do filme é muito empolgante. Como já comentei antes, assim como um final ruim diminui a nota do filme, um bom final aumenta a nota. E digo que terminei o filme com um sorriso no rosto!

Por fim, uma curiosidade: já tivemos três versões do Homem Aranha nos cinemas, e as três protagonistas femininas fizeram filmes de tênis. Kirsten Dunst fez Wimbledon; Emma Stone, A Guerra dos Sexos; e agora Zedaya estrela Rivais.

Aumenta que É Rock’n’roll

Crítica – Aumenta que É Rock’n’roll

Sinopse (imdb): O filme acompanha a história da Rádio Fluminense, primeira rádio rock’n’roll FM do Brasil no início dos anos 1980. Criada por Luis Antonio Mello, a rádio fez história e conquistou muitos ouvintes desde sua criação em 1982.

Vamos a mais um dos filmes da minha lista de expectativas pra 2024!

Antes, uma contextualização pra galera mais nova: a rádio Fluminense foi muito importante para o rock nacional dos anos 80. Era a única rádio rock do Rio de Janeiro, e várias bandas mandavam fitas demo pra lá, antes de terem discos lançados por gravadoras. Bandas então iniciantes, mas que virariam nomes gigantes, como Paralamas do Sucesso e Legião Urbana. A rádio sempre foi alternativa, sempre foi “pequena”, mas foi fundamental para o início daquele que foi um dos maiores movimentos da música brasileira.

Dirigido por Tomas Portella (Isolados, Operações Especiais), Aumenta que é Rock’n’roll conta a história da rádio Fluminense, também chamada de “Maldita”, uma pequena rádio de Niterói que foi muito importante para o rock brasileiro dos anos 80. O filme e baseado no livro “A Onda Maldita”, escrito por Luis Antonio Mello – li o livro na época da faculdade, anos 90, mas não me lembro de quase nada.

Aumenta que é Rock’n’roll é quase uma cinebiografia de Luis Antonio Mello, o criador da rádio. Depois de um prólogo meio desnecessário mostrando o protagonista adolescente, o filme pula pra 1982, época que Luis Antonio criou o projeto de uma rádio com uma proposta diferente e acabou ganhando carta branca em uma antiga rádio caindo aos pedaços. O filme segue até o Rock in Rio, em janeiro de 1985.

Aparecem algumas “participações especiais”. Tem uma cena onde vemos o Cazuza – ele não fala o nome, mas fica claro. Evandro Mesquita é um vulto, de longe, mas reconhecemos a voz (desconfio que a voz seja do próprio Evandro). E temos atores interpretando os Paralamas do Sucesso e a Legião Urbana. Só não entendi por que não citam o Celso Blues Boy, já que sua música aparece duas vezes e dá título ao filme.

Aumenta que é Rock’n’roll é leve e divertido, e tem algumas sequências muito boas, como a promoção das formigas (que realmente aconteceu). A relação entre os dois personagens principais, interpretados por Johnny Massaro e Marina Provenzzano, também é bem construída, assim como a boa reconstituição de época. A trilha sonora, tanto nacional quanto internacional, também é boa. Mas… Quero fazer dois mimimis. Entendo a opção da produção do filme, mas preciso deixar o meu mimimi registrado.

O primeiro é sobre várias liberdades históricas tomadas ao longo do filme, como por exemplo mostrar que já tinha uma fita demo da Legião Urbana na gaveta no dia que ouviram pela primeira vez Você Não Soube me Amar, da Blitz (música que foi lançada num compacto em julho de 1982, enquanto a Legião Urbana começou em agosto); ou a inclusão, na trilha sonora, de músicas lançadas depois do período histórico retratado no filme (como Homem Primata, dos Titãs, que foi lançada em 1986, ou Que que País é Esse, da Legião, lançada em 87, ou uma breve aparição da Plebe Rude, que só lançou disco em 86). Mas, entendo a opção de colocar músicas famosas na trilha, o resultado, apesar de incorreto, ficou empolgante.

(Ainda tem os shows do Rock in Rio na ordem errada. A Blitz não tocou antes do Barão Vermelho em nenhum dos dias!)

O segundo mimimi é mais mimimi que o primeiro, mas esse não perdoo. Vemos a Legião Urbana tocando em um show. Por duas vezes a câmera dá um close no baterista e o que ele está fazendo é completamente diferente do que estamos ouvindo! Entendo alterar algumas datas para o filme fluir melhor, mas, músico tocando fora de sincronia é mais difícil de aceitar.

Mimimis à parte, gostei muito do resultado final. A gente sai do cinema empolgado! Ouvi uma pessoa dizendo que “a gente sai do cinema com vontade de ouvir rock”. Mas, ué, todos os dias tenho vontade de ouvir rock…

Jorge da Capadócia

Crítica – Jorge da Capadócia

Sinopse (Paris Filmes): Em 303 D. C., após ter vencido mais uma grande batalha, Jorge é condecorado como novo capitão do exército, quando o Imperador Diocleciano inicia sua última grande perseguição aos cristãos no império romano. Diante das cruéis ordenações impostas ao povo e a pressão para que se rendam aos deuses cultuados no império, Jorge, um homem acima de tudo, agora se vê diante de seu maior desafio ser fiel à sua fé e as suas convicções ou sucumbir às ordens do imperador Diocleciano.

E vamos para mais um filme nacional de gênero! Um épico bíblico contando a história de Jorge, soldado romano que se insurgiu contra o imperador, e que depois virou um dos santos mais populares – pelo menos aqui no Rio, onde vemos estátuas de São Jorge num cavalo derrotando um dragão em vários lugares.

Pena que, desta vez, infelizmente, a qualidade deixa a desejar.

Jorge da Capadócia foi produzido, dirigido e estrelado por Alexandre Machafer. Na parte da produção, Machafer mandou bem, Jorge da Capadócia tem figurinos bem cuidados e foi filmado em locações na Turquia (onde fica a Capadócia), e ainda tem um imponente dragão em cgi. Mas, as atuações são péssimas!

Nenhum dos atores parece estar atuando. Todos estão declamando textos, passa a impressão de que estamos vendo um teatro de escola. Essas atuações robóticas não me deixaram “entrar” no filme. A princípio achei que poderiam ser atores ruins, mas, como todo o elenco age assim, acredito que foi uma escolha da direção de atores. Na minha humilde opinião, uma escolha errada.

Além disso, rolam alguns defeitos técnicos meio feios. Só pra dar um exemplo: em uma das cenas onde Jorge está sendo torturado, quando mostra seu rosto, a imagem sai de foco e logo volta. Isso é comum em câmeras de foco automático, o foco sai e volta. Em primeiro lugar, uma produção destas não deveria usar foco automático. Mas, se saiu do foco, deveriam refazer a cena. Mas, vamos dizer que não dava pra refilmar, ora, era só consertar na edição: corta o trecho antes da perda do foco, como a tortura tinha acabado, ele poderia “voltar ao foco”.

Sobre o dragão, não é um cgi perfeito, parece um dragão de temporadas antigas de Game Of Thrones. Me parece que esse cgi vai vencer muito em breve. Mas, isso não me incomodou, visualmente, o dragão serve para o seu propósito. O que me incomodou foi outra coisa, mas talvez seja spoiler.

SPOILERS!

Não sou religioso, não conheço detalhes sobre a lenda de São Jorge. O que entendi pelo filme é que o dragão simboliza o Império Romano. Jorge se insurgiu contra o Império, e o dragão mostraria sua luta desigual. Mas, no fim do filme, Jorge se rende e morre. O Império Romano vence. Ora, se o dragão simboliza o Império, na verdade ele deveria ser derrotado por ele…

FIM DOS SPOILERS!

Mesmo com os problemas, mantenho o que sempre digo aqui: o cinema nacional precisa de filmes assim para se desenvolver. Que venham outros! E, de preferência, melhor atuados!

Guerra Civil

Crítica – Guerra Civil

Sinopse (imdb): Em um futuro distópico, um grupo de jornalistas percorre os Estados Unidos durante um intenso conflito que envolve toda a nação.

Bora pra mais um dos filmes que estavam na minha lista de expectativas pra 2024, o grande blockbuster da A24!

Guerra Civil (Civil War, no original) é o novo filme de Alex Garland, que até agora só tinha feito filmes “menores” e mais “herméticos”: Ex Machina, Aniquilação e Men (como roteirista, Garland tem filmes mais pop, como Extermínio, Sunshine e Dredd). Guerra Civil tem os seus momentos contemplativos, mas é um filme bem mais acessível que seus três anteriores. E, na minha humilde opinião é, de longe, seu melhor filme.

Guerra Civil é cinemão. Fotografia caprichada, mostrando um país destruído, em planos abertos, com boas atuações e um perfeito uso do som.

Guerra Civil começa com os EUA devastados por uma guerra, mas não existe uma explicação sobre os detalhes dessa guerra. Algumas cenas são colocadas aqui e ali pra situar o espectador, mas sem muitos detalhes (como a cena no posto de gasolina, quando ela oferece 300 dólares por meio tanque, e o cara só aceita porque são dólares canadenses, é assim que a gente descobre que o dólar americano não vale mais nada). Mas tem um diálogo no filme que explica a postura dos personagens: eles são jornalistas, são fotógrafos de guerra, a sua função é ficarem isolados sem tomar partido.

Talvez parte do público se sinta incomodada com isso. A gente vive num mundo cada dia mais polarizado, e inclusive rolam rumores sobre uma possível guerra civil real nos EUA. Mas aqui a gente não sabe detalhes, no filme não existe uma posição entre Esquerda e Direita. Somos os fotógrafos de guerra, estamos aqui só pra registrar a história.

Se a temática pode dividir o público, a parte técnica não tem o que se discutir. O filme tem vários planos abertos mostrando cidades parcialmente destruídas pela guerra. Claro que boa parte deve ser cgi, mas não dá pra saber o que é cgi e o que estava lá durante as filmagens. Além disso, o filme traz algumas cenas plasticamente muito bonitas, como por exemplo quando passam por árvores pegando fogo e vemos pequenas brasas flutuando no ar.

Adorei a edição de som. Em algumas sequências com muitos tiros e explosões, não ouvimos nada, só a música da trilha sonora. Também temos momentos de silêncio em pontos estratégicos da narrativa. E a sequência final é sensacional. Os protagonistas são fotógrafos de guerra, acompanhando soldados. Toda a sequência é entrecortada por registros fotográficos, “ao vivo”, e isso ajuda a manter a tensão.

Tem um detalhe que me incomodou um pouco, mas não é uma falha do filme. A personagem da Cailee Spaeny usa uma câmera com filme, daqueles que a gente precisa revelar. Heu até entenderia se fosse uma fotografia artística, entenderia a opção da personagem de usar filme. Mas se ela quer ser uma fotógrafa jornalística, é esquisito ter que ficar carregando rolos de filme e tendo que revelar tudo. Mas isso não é uma falha, é uma característica da personagem, ela gosta de fazer assim e explica isso no filme.

O elenco está muito bem. O filme foca mais no quarteto Kirsten Dunst, Wagner Moura, Cailee Spaeny (Priscilla) e Stephen McKinley Henderson (Beau Tem Medo) – lembro do Wagner Moura em Elysium, lá ele parecia “um brasileiro em Hollywood”; aqui ele já está “local”. Jesse Plemons só aparece em uma cena, uma cena bem tensa (que está parcialmente no trailer). Nick Offerman abre o filme, como o presidente dos EUA, mas também aparece pouco.

Filmão. Deve voltar aqui na lista de melhores de 2024.

Uma Família Feliz

Crítica – Uma família feliz

Sinopse (imdb): Em um condomínio fechado no Rio de Janeiro, uma mãe é duramente acusada de machucar as filhas gêmeas e o bebê recém-nascido. No entanto, a verdade por trás das cercas pode revelar uma crueldade inesperada.

Olha que legal, semana passada falei de Evidências do Amor, uma comédia romântica nacional. E hoje é dia de falar de Uma Família Feliz, um suspense nacional. Dois filmes nacionais de gênero!

Escrito por Rafael Montes (Bom Dia Verônica) e dirigido por José Eduardo Belmonte (Carcereiros), Uma Família Feliz começa muito bem, somos jogados no meio de uma sequência tensa, onde não entendemos o que está acontecendo, e depois a linha temporal volta e a história realmente começa.

Conhecemos o casal Vicente e Eva. Vicente tem duas filhas do primeiro casamento, e Eva está grávida. Ricos e bonitos, aparentemente é a perfeita “família de comercial de margarina”. Mas, pouco depois, as crianças e o bebê começam a aparecer com machucados, e não sabemos quem é o responsável por isso. Eva está passando por depressão pós parto, e claro que todos começam a desconfiar dela.

Tem um detalhe que ajuda o clima a ficar esquisito: Eva trabalha fazendo bonecas realistas. São umas bonecas assustadoras!

Uma coisa curiosa e bem atual é que Eva é “julgada e condenada” pelos amigos e vizinhos, e sofre uma espécie de “cancelamento”, mesmo sem a gente saber se ela é culpada ou não.

Tecnicamente falando, o filme é muito bem feito. Os dois atores principais, Reynaldo Gianecchini e Grazi Massafera, estão muito bem – principalmente Grazi, que tem mais tempo de tela. O clima de suspense é bem construído. Mas… Achei o filme longo demais. Tem uma hora que cansa. Ok, já entendemos, podemos seguir em frente?

Não vou entrar em spoilers, mas não gostei do final. A sequência é bem filmada, bem conduzida, mas não entendi a motivação do personagem para agir daquele jeito. Mesmo assim, ainda recomendo o filme. Sempre defendo filme de gênero nacional!

A Primeira Profecia

Crítica – A Primeira Profecia

Sinopse (imdb): Uma jovem americana é enviada a Roma para começar uma vida de serviço à Igreja. Ela acaba desvendando uma aterrorizante conspiração que deseja provocar o nascimento do mal encarnado.

Confesso que heu estava com a expectativa lááá embaixo pra ver mais uma releitura de um clássico do terror. Acho que O Exorcista O Devoto me deixou traumatizado. Mas, não é que A Primeira Profecia não é ruim?

Recapitulando a franquia: dirigido por Richard Donner, A Profecia foi lançado em 1976 e hoje é considerado um dos melhores filmes de “terror religioso” da história do cinema. Teve continuações em 78, 81 e 91, e uma refilmagem em 2006 (pra aproveitar a data 06/06/2006). Há 18 anos ninguém mexia na franquia, até que apareceu este prequel.

Longa metragem de estreia da diretora Arkasha Stevenson, A Primeira Profecia (The First Omen, no original), diferente da maioria das releituras recentes, é um filme extremamente respeitoso com o original de 1976. A Primeira Profecia tem cara de filme feito nos anos 70, não só nos figurinos e cenografias, mas principalmente nos posicionamentos e movimentações de câmera. A galera acostumada com o “terror Blumhouse” deve até estranhar.

Um parágrafo à parte pra falar da trilha sonora de Mark Korven. A trilha é sensacional, usa as cordas e o coro de maneira perfeita. E ainda criou uma nova versão para o tema do original, composto por Jerry Goldsmith (e que lhe deu seu único Oscar em toda a carreira). Essa é daquelas trilhas pra se ouvir quando estivermos no clima de algo assustador!

O elenco também é muito bom. Nell Tiger Free, da série Servant, manda muito bem como protagonista. E Sonia Braga tem um dos papeis principais! Tem dois atores que gosto em papeis menores, Bill Nighy (como um cardeal, bem diferente do que ele costuma fazer), e Ralph Ineson (que tem uma das vozes mais legais da atual Hollywood). Também tem uma ponta de Charles Dance. Também no elenco, Maria Caballero, Nicole Sorace e Ishtar Currie-Wilson (sou o único que achei ela parecida com a Mia Goth?).

A Primeira Profecia é bom, melhor do que a média, mas ainda não é um filme perfeito. Rolam alguns jumpscares meio óbvios – por exemplo, o “peguete” da protagonista, dava pra imaginar exatamente o que iria acontecer. O mesmo posso dizer sobre o plot twist que aparece no terço final. Acredito que a maior parte da audiência já desconfiava daquilo. E claro que, por ser um prequel, a gente já sabe mais ou menos como vai terminar – e tem gancho pra uma continuação.

Mesmo assim, A Primeira Profecia foi uma agradável surpresa. Ah, se todas as releituras de clássicos do terror fossem assim…