Babygirl

Crítica – Babygirl

Sinopse (imdb): Uma executiva poderosa coloca a carreira e família em risco quando começa um caso tórrido com seu estagiário muito mais jovem.

Novo filme da diretora Halina Reijn (Morte Morte Morte), Babygirl (idem no original) está sendo vendido como um thriller erótico, mas neste aspecto o filme é fraco. Mesmo assim, o filme me deixou pensando, me deixou com reflexões sobre relacionamentos.

Primeiro vamos comentar o filme. Nicole Kidman faz Romy, uma mulher bem sucedida profissionalmente, com um bom casamento, filhos, tem um bom padrão social. Mas, sexualmente falando, é uma mulher infeliz. Até que ela conhece um estagiário na sua empresa e começa com ele um jogo sexual onde o importante não é o sexo em si, e sim o jogo de poder, de saber “quem é o dono da bola”. Romy é uma CEO que tem o controle sobre tudo em volta – e se ela fosse controlada em vez de controlar?

Claro que a divulgação do filme explorou o lado sexual, como se estivéssemos diante de um novo 9 1/2 Semanas de Amor ou Atração Fatal. Pipocaram matérias dizendo que Nicole Kidman estaria cansada de “filmar cenas de orgasmos”. Mas até que o filme é bem comportado neste aspecto. Aliás, quase não tem nudez. O início promete ir por este caminho, mas o resultado final deixa a desejar.

Um dos maiores destaques é o elenco. Gostei das atuações do trio principal. Nicole Kidman está excelente, em cenas difíceis, não à toa ela ganhou prêmio de melhor atriz no Festival de Veneza e está sendo ventilada como uma provável indicada ao Oscar. Antonio Banderas e Harris Dickinson também estão bem.

Babygirl também tem suas “roteirices”, como o amante aparecer no local onde a protagonista estava reclusa – como ele descobriu que ela estava lá? Mesmo assim, o resultado final é bom. É um filme bonito e bem filmado, e reconheço que a cena usando Father Figure, do George Michael, é muito boa.

Agora, queria comentar o comportamento social. Babygirl, enquanto filme, achei apenas ok. Mas o conceito abordado me deixou pensando por vários dias. Logo na cena inicial, vemos Romy transando com seu marido. Aparentemente ela tem uma vida sexual saudável. Mas logo na cena seguinte vemos que ela, sozinha, vê vídeos eróticos para se masturbar.

Por um lado Romy tem uma vida feliz, ao lado do marido; mas por outro lado ela tem necessidades sexuais que não são saciadas pelo mesmo marido. E pra piorar: determinado momento ela confessa que nunca teve um orgasmo com ele, apesar de estarem juntos há 19 anos. E mesmo assim ele não consegue embarcar nas fantasias da sua esposa. Ou seja, ela está errada pela dificuldade em declarar seus fetiches ao marido, e ele está errado por não entrar nos jogos sexuais propostos por sua esposa.

Aí fiquei pensando neste formato de sociedade onde vivemos. Jovens se conhecem, ficam juntos e constituem famílias – antes de se conhecerem plenamente para saberem o que querem do(a) companheiro(a). Quando o casal dá sorte, ok, podem ser felizes pelo resto da vida. Mas, imagina quanta gente deve estar insatisfeita por aí, sexualmente falando.

Infelizmente somos vítimas do formato usado pela sociedade, dificilmente essas regras e convenções sociais vão mudar. Para você que me lê, torço para você encontrar alguém que lhe satisfaça do jeito que você merece. E recomendo: sempre conversem!

Jurado Nº2

Crítica – Jurado Nº 2

Sinopse (imdb): Enquanto atua como jurado em um julgamento por assassinato, um homem se vê em um dilema moral, podendo influenciar o veredito do júri.

Uma coisa que acho muito legal é quando vejo pessoas idosas trabalhando no que gostam, por prazer. Sim, sei que tem muita gente com condições financeiras precárias, que precisa continuar trabalhando, mas alguns trabalham porque gostam do que fazem. Lembro do show do Deep Purple, ano passado, no Rock in Rio. Quatro membros da banda com mais de 75 anos!

Aí a gente vê que chegou no streaming o novo filme dirigido por Clint Eastwood – que está com 94 anos! Quando crescer, quero ser que nem esses caras!

(Antes de entrar no filme, uma coisa que descobri pesquisando sobre o que ia falar aqui: Clint Eastwood tem fama de ser um diretor muito responsável com prazos e orçamentos. Seus filmes sempre custam menos do que o estimado e sempre são entregues antes do prazo. Legal!)

E vamos ao filme. Vi Jurado Nº 2 (Juror # 2, no original) no finzinho do ano passado, lembro que alguns amigos colocaram o filme em suas listas de melhores do ano, queria ver logo pra ver se ia mudar o meu top 10. Reconheço todos os méritos de Jurado Nº 2, é um filmão, mas não mudou minha lista.

A ideia é muito boa. Um cara é convocado pra fazer parte de um júri. Durante o julgamento, ele descobre que pode ter um envolvimento pessoal com o caso. Aí entra o dilema moral: será que ele deve assumir a sua responsabilidade, ou é melhor deixa outra pessoa pagar por um erro seu?

(Nunca entendi esse sistema que acontece nos EUA onde pessoas são convocadas pra participarem de um júri. O que acontece se a pessoa não pode? Se tem um trabalho que não a deixa sair? Se tem algum problema de saúde? Acho que isso não funcionaria no Brasil…)

Um dos destaques de Jurado Nº 2 é o roteiro, que consegue explorar bem vários tons de cinza no meio do julgamento, e consegue equilibrar um elenco com vários bons personagens. Ok, não tem como aprofundar todos os personagens em um filme de uma hora e cinquenta e quatro minutos, são uns vinte personagens participando da trama. Mas conseguimos ver nuances de vários deles.

Outro destaque é o elenco. Nicholas Hoult (segundo filme que comento este ano, segundo filme com o Nicholas Hoult) está excelente com seus dilemas – ele tem uma esposa em gravidez de risco, ele tem um histórico de alcoolismo, e está vendo um homem que pode ser inocente ser condenado. E Toni Collette, como a promotora, também tem seus dilemas, porque está vendo que talvez precise prejudicar terceiros por motivos pessoais. Duas grandes atuações! E ainda tem outros dois grandes atores em papéis bem menores, J.K. Simmons e Kiefer Sutherland. Papéis importantes, mas com pouco tempo de tela. Também no elenco, Zoey Deutch, Chris Messina e Leslie Bibb. Ah, a vítima do assassinato é Francesca Eastwood, filha do Clint.

Jurado Nº 2 foi muito mal lançado. Um filme desses merecia ir pros cinemas. Mas foi direto pro streaming, e sem nenhuma divulgação. Nosso diretor nonagenário merecia um tratamento melhor!

MadS

Crítica – MadS

Sinopse (imdb): Um adolescente para na casa do seu traficante para testar uma nova droga antes de ir para uma festa. No caminho, ele encontra uma mulher machucada e a noite se torna algo surreal.

Quando ouvi falar de um filme francês de zumbi, em plano sequência, lembrei de Coupez!, refilmagem do japonês One Shot of the Dead, que traz um filme trash de zumbi em um divertido plano sequência, e que tem um plot twist no meio que deixa tudo ainda mais interessante. Mas não, MadS tem outra proposta.

Não sei se MadS chega a ser um “filme de zumbi”. Vemos o início de uma infecção, mas parece mais algo na linha do filme Extermínio, onde pessoas são infectadas e passam a agir como zumbis, mas não são mortos vivos. Enfim, a história em si não tem nada demais. O grande lance é ser um filme inteiro sem cortes.

Escrito e dirigido por David Moreau, a proposta é ser um longo plano sequência de 90 minutos. Li uma entrevista do diretor num site português, ele falou que realmente não tem cortes. Ele disse que filmou tudo cinco vezes, em cinco dias seguidos, e que nos dois primeiros dias deu tudo errado, mas que depois acertaram, e que a quinta filmagem é o filme que estamos vendo.

Se é verdade ou não, não sei. Existem vários pontos onde a câmera passa por uma parede, ou pilastra, ou lugar escuro, pontos onde poderiam haver cortes – normalmente usam esses pontos pra fazer os cortes e depois emendar digitalmente. Heu particularmente não acredito que ele tenha conseguido tudo em um único take.

Mas, isso pouco importa. Valorizo mesmo quando o plano sequência tem essas emendas, porque a concepção do story board precisa pensar em um todo. Por isso, bato palmas pro resultado alcançado, tenha emendas ou não.

Digo isso porque acontece MUITA coisa durante este plano sequência. Tem câmera acompanhando carro, moto, bicicleta, tem festa com dezenas de pessoas, tem cenas com policiais, tem brigas, tiros, sangue… E em defesa da declaração do diretor, a trama começa ao entardecer e segue de noite. E filmar nesse horário é complicado por causa da continuidade.

Outra coisa que heu queria destacar são os efeitos de maquiagem “em tempo real”. Talvez tenha tido algo inserido digitalmente na pós produção, mas em alguns momentos provavelmente o ator estava com algum truque de maquiagem para usar na hora, com a câmera rolando. Independente de como foi feito, o resultado ficou bem legal.

MadS é um filme do streaming Shudder, que infelizmente não existe oficialmente no Brasil…

Alice: Subservience

Crítica – Alice: Subservience

Sinopse (prime vídeo): Com sua esposa no hospital (Madeline Zima), um pai em dificuldades (Michael Morrone) compra uma Inteligência Artificial para ajudá-lo em casa. Mas à medida que o robô (Megan Fox) se afeiçoa ao se novo dono, os limites começam a se cruzar. Logo ela está determinada a eliminar o que considera ser a verdadeira ameaça à sua felicidades: sua família.

Nos meus tempos de videolocadora, lembro que dividiam os lançamento em duas categorias: filme de ponta, que era aquele filme com atores famosos, que estava no cinema meses atrás; e o filme de apoio, que eram filmes menos conhecidos, normalmente com menor qualidade, que estavam lá pra quando o cliente não conseguia o filme de ponta e queria levar algo novo pra casa. Anos depois, esses “filmes de apoio” passaram a ir direto pra tv a cabo. Hoje, é o grosso das produções feitas pelos streamings. Com atores fracos e roteiro preguiçoso, este Alice: Subservience tem esse perfil.

Mas antes de tudo, um elogio à escolha da Megan Fox como robô. Megan Fox tem duas características muito marcantes: ela é muito bonita, e não é muito expressiva (sim, é uma atriz ruim). Escalá-la como um robô foi perfeito! Michele Morrone faz o pai que compra a robô, ele é conhecido pelos filmes 365 Dias, que não vi mas ouvi falar que são todos muito ruins, mas aqui posso dizer que ele é tão ruim quanto a Megan Fox. O outro nome importante no elenco é Madeline Zima, que me lembro de Californication, e que aqui não atrapalha, mas o filme é mais focado nos outros dois.

Comentei que parecia um filme de apoio, ou filme de tv a cabo. A produção segura a onda na nudez e violência, coisa típica daquele tipo de produção. Alice: Subservience tinha justificativa pra mostrar nudez e violência, mas segura a mão e não mostra quase nada. Vejam bem, um filme não precisa ter nudez e violência, mas se tivesse aqui, eram grandes as chances do resultado final ser melhor. A gente vê cenas de sexo, com as duas atrizes, mas nada de nudez – não me lembro da Megan Fox nua em nenhum filme, ela sempre faz o papel de mulher sexy, mas nunca mostra nada; Madeline Zima teve cenas de nudez em Californication, mas aqui me pareceu que sua nudez foi borrada digitalmente. Já pela violência, vemos a robô matando pessoas. Mostrar um pouco mais de sangue e gore agregaria valor…

O que sobra é um roteiro previsível e preguiçoso. E se a gente parar pra pensar, tem algumas falhas estranhas. Tipo, estamos em uma sociedade no futuro onde temos robôs super evoluídos, mas onde ninguém pensou em criar um coração artificial?

Ok, vamos dizer que uma tecnologia evoluiu mas a outra não. Mas então a gente pode pensar em várias coisinhas ao longo do filme que não fazem muita lógica. Tipo, trocam funcionários de uma obra por robôs. E por que os robôs precisam “descansar” em vez de trabalhar à noite? Ou ainda quando a Megan Fox quer arrancar o coração da outra mas antes precisa atirá-la longe. Pra que??? Ou um robô que não ouve humanos logo ao lado. Ou uma ala de pediatria no hospital onde não tem nenhum funcionário. Ou…

Alice: Subservience ainda tem outro problema, mas talvez seja uma espécie de head canon, porque é algo que estava na minha cabeça e não no filme. Mas é que o filme não entra na discussão filosófica sobre o uso da IA. Tinha espaço pra levantar questões sobre o quanto a IA pode entrar ou não na nossa vida, e ainda tinha espaço pra questão delicada: sexo com robô seria traição? (Lembrei de Ex Machina, quando levantam a questão de se um humano pode se apaixonar por uma IA.) Mas, nada. Nenhuma discussão. Tudo raso…

No fim, Alice: Subservience nem é ruim. Mas fica a sensação de que estamos vendo só porque o “filme de ponta” estava alugado pra outra pessoa.

Não se Mexa

Crítica – Não se Mexa

Sinopse (imdb): Uma mulher em luto é injetada com uma substância paralisante. Agora, ela precisará escapar de um assassino impiedoso antes de perder completamente os movimentos.

Existem filmes bons, daqueles que dão vontade de recomendar a todos. Existem filmes ruins, que dão vontade de avisar a todos que evitem. E existem algumas categorias no meio do caminho. Não se Mexa (Don’t Move, no original) é um filme apenas “competente”.

Dirigido pela dupla Brian Netto e Adam Schindler, Não se Mexa é um suspense com uma trama básica: uma mulher é sequestrada e drogada por um assassino serial. Sim, previsível e cheio de conveniências de roteiro, mas, quem estiver com expectativa baixa vai se divertir.

(Sam Raimi está na produção, mas deve ser daquele tipo de contrato onde ele recebeu um trocado pra ceder o nome pra ajudar a vender o filme.)

Com poucos personagens, poucas locações, Não se Mexa é um filme curtinho e tem um bom ritmo. Reconheço que comecei a ver com pretensão de pausar e terminar no dia seguinte, mas estava curtindo e fui até o fim.

Agora, a gente precisa meio que deixar o cérebro de lado e não pensar muito, porque tem algumas coisas bem forçadas. Um exemplo simples: a droga paralisa a protagonista. Então tem um momento onde a droga está começando o efeito, então ela está parcialmente paralisada, e, mais pro fim do filme, outro momento onde está perdendo o efeito, e ela começa a recuperar os movimentos. Na primeira vez, ela cai num rio, e mesmo sem conseguir nadar, flutua tranquilamente através de corredeiras. Já na segunda vez, num lago com água parada, ela afunda. Ué, por que ela agora não flutuou?

(Isso porque não vou falar da cena do policial, que parece querer o cargo de policial mais incompetente da história do cinema.)

No elenco, quase o filme todos é em cima dos pouco conhecidos Kelsey Asbille e Finn Wittrock, que servem para o que o filme precisa.

Não se Mexa está em cartaz na Netflix. Veja sem pensar muito.

Pacto de Redenção

Crítica – Pacto de Redenção

Sinopse (imdb): Quando um assassino profissional descobre que tem uma forma de demência que evolui rapidamente, ele tem a oportunidade de se redimir salvando a vida do filho adulto com quem estava afastado.

Pacto de Redenção (Knox Goes Away, no original) parece um thriller à moda antiga: uma boa história, usando um bom elenco. Sem pirotecnias, apenas uma boa história sendo contada por alguns bons atores.

A direção é de Michael Keaton, seu segundo filme como diretor. Não entendi por que ele resolveu dirigir, mas podemos dizer que ele faz um trabalho correto. O roteiro de Gregory Poirier é bem estruturado. A gente vê as peças soltas do quebra cabeças, mas pelo menos heu não consegui descobrir qual era o plano do cara antes do final, achei muito bem bolada a solução.

Sobre o elenco, o marketing está vendendo Pacto de Redenção como um filme estrelado por Michael Keaton e Al Pacino. Como sempre, Pacino está ótimo, mas aparece em poucas cenas. Seu personagem é importante, mas é daquele tipo de papel que provavelmente o ator fez em uma ou duas diárias. Agora, preciso destacar positivamente a atuação de Keaton e também de James Marsden, que faz seu filho, um cara que cometeu um erro grave e isso está afetando todo o seu comportamento. Ambos estão excelentes. Por outro lado, achei bem fraca a personagem da policial interpretada por Suzy Nakamura. Também no elenco, Joanna Kulig, Lela Loren e Marcia Gay Harden.

Não achei o final ruim, mas heu cortaria alguns minutos. Tem uma sequência final mostrando uma conclusão meio óbvia. Nada grave, felizmente. Por outro lado, gostei de como o filme mostra a progressão da doença do protagonista.

Pacto de Redenção não é um grande filme, não estará em listas de melhores do ano. Mas, em meio à mediocridade que é despejada no circuito, é uma boa opção. Dificilmente alguém sairá decepcionado da sala de cinema.

Ligação Sombria

Ligação Sombria

Sinopse (imdb): Um motorista se encontra em um jogo de gato e rato de alto risco depois de ser forçado a dirigir para um homem misterioso conhecido como O Passageiro.

Dirigido por Yuval Adler, Ligação Sombria (Sympathy for the Devil, no original) usa aquele formato de poucos personagens, poucos cenários e muitos diálogos, onde aos poucos vamos montando o quebra cabeças com as peças que o roteiro nos dá. Quase o filme inteiro tem apenas dois personagens, quase o filme inteiro se passa em dois cenários (dentro do carro ou no restaurante). Um homem está indo ao hospital porque sua mulher vai dar à luz, mas outro homem armado entra no carro e o obriga a irem para outro lugar. Inicialmente vemos um sequestrador e um sequestrado, e ao longo do filme precisamos descobrir o que cada um esconde.

Ligação Sombria tem uma coisa muito boa e outra que me desagradou bastante. Vamos ao ponto positivo: Nicolas Cage. De um tempo pra cá, Cage virou um adepto do “over acting”. O cara quase sempre exagera nas suas atuações. E quando o filme sabe usar isso a seu favor, o resultado é muito bom. E isso acontece aqui. Cage está exageradíssimo, em algumas cenas ele parece completamente alucinado. Se existe um bom motivo para se assistir a Ligação Sombria, este motivo é Nicolas Cage.

Agora, conforme vamos descobrindo o que é cada personagem, o filme vai enfraquecendo, porque são personagens que tomam atitudes incompatíveis. Vou fazer um comentário, mas antes, aviso de spoilers.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

No fim do filme descobrimos que o sequestrado matou a mulher e a filha do sequestrador, então isso seria uma jornada de vingança. Mas, se a vingança é contra o sequestrado, por que matar o policial e deixar o sequestrado vivo? Pior ainda: por que fazer aquela “queima de arquivo” no restaurante e matar o cozinheiro – e deixar o sequestrado vivo???

FIM DOS SPOILERS!

Enfim, só vale pra quem curte o Nicolas Cage alucinado.

A Substância

Crítica – A Substância

Sinopse (imdb): Uma celebridade em decadência decide usar uma droga do mercado negro, uma substância que replica células e cria temporariamente uma versão mais jovem e melhor de si mesma.

A ideia aqui era boa: uma estrela de um programa de fitness na TV está ficando velha, então oferecem a ela uma misteriosa substância que criaria uma nova versão dela, mais jovem. Essa substância vem com regras estritas, que claro que não serão seguidas, e claro que coisas vão dar errado. Uma bela crítica à exploração do corpo feminino pela mídia e ao etarismo.

É um filme fantástico, essa tal substância não tem nada ligado à ciência, não existe um laboratório ou uma clínica ou acompanhamento de médicos. Não tem nem uma cobrança financeira pelo tratamento! Aliás, fiquei pensando, se heu recebesse um daqueles kits, heu não saberia fazer aquela auto-aplicação.

A direção e o roteiro são de Coralie Fargeat, que em 2018 fez Vingança, filme que tinha uma premissa simples mas muito bem executada (uma mulher é estuprada e se vinga de seus agressores). Aqui é outra pauta feminista, mais uma vez muito bem executada.

Todo o visual do filme é muito bom. Cores, ângulos de câmera, edição, trilha sonora, efeitos sonoros, tudo carrega a trama num modo hipnotizante – são duas horas e vinte minutos de filme que fluem muito rápido. De quebra o fã de terror ainda vai encontrar várias referências, como a seringa de Re-Animator, o corredor de O Iluminado, os alienígenas de Bad Taste, o monstro de O Enigma de Outro Mundo, o banho de sangue de Carrie a Estranha

A Substância (The Substance, no original) traz diversas cenas visualmente bem desagradáveis, seja mostrando ferimentos, seja quando um personagem simplesmente mastiga a sua refeição (lembro de uma cena parecida em Vingança, Coralie consegue transformar o simples mastigar em algo nojento). A maquiagem é um dos destaques, usando o chamado “body horror”, que é quando vemos imagens que causam repulsa. Talvez isso afaste parte do público, mas, é algo que faz parte da história.

Mas acho que o maior destaque são as duas atuações principais. Tanto Demi Moore quanto Margaret Qualley estão ótimas! Demi Moore estava meio sumida, e heu diria que esse papel tem tudo a ver com ela, que era uma das mulheres mais bonitas da sua geração, e agora, com 61 anos (continua linda, diga-se de passagem), deve estar enfrentando problemas semelhantes aos de sua personagem.

Aliás, foi uma atuação, digamos, corajosa da Demi Moore, que faz várias cenas onde ela está nua – e não é nudez gratuita, se ela estivesse vestida, seriam cenas estranhas (assim como a sequência final de Vingança, onde o ator está completamente nu num longo plano sequência).

O principal papel masculino é de Dennis Quaid, que está caricato, mas todos os personagens masculinos aqui são caricatos. Faz parte da proposta. (Esse papel seria de Ray Liotta, que faleceu antes das filmagens começarem. Seu nome aparece nos créditos como uma homenagem.)

Não gostei da parte final. Vou falar, mas vou colocar aviso de spoilers.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

A protagonista gera uma cópia. No fim do filme, a cópia está se deteriorando e resolve fazer uma cópia da cópia, e isso gera um monstro. E essa versão monstruosa vai para o estúdio de TV e entra no programa ao vivo. Pra mim, essa parte do estúdio enfraqueceu o filme, nunca deixariam ela entrar na transmissão ao vivo daquele jeito. Ok, vira um banho de sangue, isso foi legal de ver, mas, essa sequência destoou do que a gente tinha visto até então. Por mim, era melhor cortar toda a parte do estúdio, e deixar só o finzinho – a cena final é boa.

FIM DOS SPOILERS!

Filmaço. A Substância é daquele tipo de filme que fica na sua cabeça por dias depois de ter visto. Agora quero esperar estrear pra poder rever.

Pisque Duas Vezes

Crítica – Pisque Duas Vezes

Sinopse (imdb): Quando o bilionário da área de tecnologia Slater King conhece a garçonete Frida em sua festa de gala para arrecadar fundos, ele a convida para se juntar a ele e seus amigos em férias de sonho em sua ilha particular.

Pisque Duas Vezes (Blink Twice) é o filme de estreia como diretora da atriz Zoë Kravitz (Batman), filha de Lenny Kravitz e Lisa Bonet (ela também é co-autora do roteiro). E podemos dizer que ela mandou bem em sua estreia.

Pisque Duas Vezes é daquele tipo de filme onde vemos uma situação aparentemente normal acontecendo em primeiro plano, mas tem algo muito estranho escondido em segundo plano, algo que será revelado em um plot twist – ouvi comparações com Corra e Não se Preocupe Querida. Sim, é daquele tipo de filme que precisamos prestar atenção nos detalhes!

Falei que a Zoë Kravitz mandou bem, né? Pisque Duas Vezes é muito bem filmado. Muitos closes, várias imagens subliminares jogadas estrategicamente, cada take parece muito bem pensado e muito bem filmado. A edição é cheia de detalhes, elementos soltos jogados aqui e ali, que vão se juntar num grande quebra cabeças final. A trilha sonora também é boa.

Pisque Duas Vezes traz algumas cenas bem violentas na parte pós plot twist, mas não entrarei em detalhes por causa de spoilers. Aliás, recomendo que vocês fujam de spoilers!

Assim como acontece frequentemente em filmes dirigidos por atores, Pisque Duas Vezes tem um ótimo trabalho com o elenco. O filme é estrelado por Naomi Ackie, não conhecia a atriz, e ela manda muito bem. Channing Tatum esta sensacional, num papel bem diferente do que costuma fazer. Adria Arjona também surpreende, num papel que parecia superficial mas se mostra bem mais complexo. E o filme traz vários atores conhecidos que não são “de primeira linha”, como Christian Slater, Haley Joel Osment, Geena Davis e Kyle MacLachlan. Também no elenco, Alia Shawkat, Simon Rex, Trew Mullen, Liz Caribel e Levon Hawke (sim, irmão da Maya Hawke).

Não gostei do final, do que acontece na cena final. Não estraga o bom trabalho da Zoë Kravitz, quero ver seu próximo filme como diretora, mas, acho que aquela cena final ficou um pouco deslocada.

Armadilha

Crítica – Armadilha

Sinopse (imdb): Um pai e sua filha adolescente assistem a um concerto pop, onde percebem que estão no centro de um evento sinistro.

Antes de tudo, preciso dizer que rolava um pé atrás. M Night Shyamalan esteve no Brasil para divulgar o filme, mas Armadilha (Trap, no original) não teve sessão de imprensa. Quando isso acontece, normalmente é sinal de que não acreditam no sucesso do filme e estão querendo evitar críticas negativas. Mas, preciso dizer que achei um erro da assessoria. Armadilha não é ruim, tem filmes muito piores que ganham sessões de imprensa.

Vamos ao filme. Claro que Armadilha estava no meu radar, vi todos os filmes do Shyamalan quando lançados no cinema, mesmo os ruins, reconheço que gosto do estilo dele. Claro que queria ver seu novo projeto. Shyamalan disse que seu filme seria “e se O Silêncio dos Inocentes acontecesse dentro de um show da Taylor Swift”?

Armadilha parte de uma proposta interessante. É um filme de serial killer, mas pelo ponto de vista do assassino. Acompanhamos o protagonista em um “momento família”, quando ele vai levar a filha adolescente a um concerto de uma artista pop. E, dentro do estádio, ele descobre que caiu numa armadilha e o local está cercado de centenas de policiais atrás de um homem com o perfil igual ao dele.

Armadilha tem pelo menos dois grandes méritos. Um deles é a atuação de Josh Hartnett. É um personagem complexo, porque ele precisa alternar em segundos entre ser um pai dedicado e amoroso, e um assassino frio e calculista. E Hartnett consegue passar todas as nuances que um personagem desses tem.

Outra coisa que achei impressionante foi a parte musical, a cargo de Saleka Shyamalan, filha do diretor. Todas as músicas da Lady Raven foram compostas por ela, e é ela cantando. Não que sejam músicas sensacionais, não é exatamente o meu estilo, mas reconheço que ela fez um excelente trabalho criando essa diva pop fictícia (provavelmente existe um álbum com todas essas músicas que estavam no show dentro do filme). Vendo o filme, dá pra acreditar que a Lady Raven é uma artista real.

É filme do Shyamalan, claro que tem algumas características comuns em seus filmes. Vou citar um ponto positivo e um negativo que quase sempre estão presentes. O positivo é a câmera, gosto do modo como ele posiciona e movimenta a câmera, como aquela cena onde o Cooper vai ao banheiro, a câmera se aproxima lentamente enquanto ele vai até a cabine, e depois o jogo de câmera pra mostrar ao espectador que ele sempre está vendo a mãe. Também rola, mais de uma vez, um close no rosto de Josh Hartnett com a cara pela metade, no canto da tela. Por outro lado, o ponto negativo é ter explicação demais, como a cena onde falam que a mulher do FBI é a chefe da operação, a gente já sabia aquilo tudo. Ou alguns diálogos na parte final que ficaram tão cheios de detalhes que soam artificiais.

E, claro, tem algumas facilitações de roteiro comuns em filmes assim. Tipo, tudo o que o protagonista tenta fazer pra escapar dá certo. A gente até aceita que ele seja um cara meio “sabonete”, mas algumas cenas ficaram meio forçadas. E teve uma coisa que pensei: entendo que é um estádio cheio, mas, centenas de policiais estão procurando um homem de 40 e poucos anos em um show onde a grande maioria é de meninas adolescentes. E quando vemos a plateia, Hartnett é MUITO mais alto do que todos em volta dele. Ok, muita gente, vários outros suspeitos, mas… Ele estava muito exposto…

Mesmo assim, gostei do resultado final. Shyamalan consegue manter a tensão até o fim, quando o filme toma uns rumos que, pelo menos pra mim, foram completamente inesperados, e começa a fechar o cerco em volta do herói / vilão.

Por fim, uma coisa que acredito que não seja spoiler, mas… Assim como seu filme anterior, Batem À Porta, Armadilha não tem nenhum plot twist bombástico. Acredito que tem gente que vai se decepcionar com isso…

Tem uma “cena pós créditos” que na verdade fica no meio dos créditos. É uma cena boa, bem engraçada, o que é curioso, porque não me lembro de ter rido nenhuma vez ao longo do filme, só nessa cena.