Influencer

Crítica – Influencer

Sinopse (imdb): Durante uma viagem solitária e complicada pela Tailândia, a influenciadora Madison conhece CW, que viaja com facilidade e mostra a ela um estilo de vida mais desinibido. Porém, o interesse de CW por Madison toma um rumo sombrio.

Produção modesta, elenco reduzido, poucas locações, quase nenhum efeito especial, Influencer é uma boa surpresa. Não é um filme “obrigatório”, mas é melhor que boa parte do lixo que é despejado mensalmente nos streamings.

Co-escrito e dirigido por Kurtis David Harder, Influencer tem um que de Black Mirror. Não pelo lado tecnológico (quase todos os episódios de Black Mirror usam inovações tecnológicas), mas pelo lado de vermos problemas sociais causados pelo avanço da tecnologia – no caso aqui, avanço das redes sociais.

Uma coisa boa em Influencer é a imprevisibilidade de certas coisas. Sem spoilers, mas tem um momento que o filme tomou um rumo que heu nunca tinha imaginado. Pena que o fim do filme é um pouco óbvio.

A fotografia do filme usa bem alguns takes aéreos de drones – incluindo a boa cena inicial. Outra coisa legal são belíssimos cenários naturais na Tailândia.

(Uma curiosidade: muitos filmes começam sem nenhum crédito, e os créditos só aparecem ao fim do filme. Outras vezes vemos uma sequência inicial, e só depois temos créditos. Aqui os créditos aparecem aos 26 minutos de projeção!)

Agora, tem algumas coisas forçadas no roteiro. Pra começar, parece que os personagens vivem num mundo sem polícia. Gente, pessoas que desaparecem eventualmente serão investigadas! Além disso, uma personagem faz coisas que parecem meio inacreditáveis pelo computador. Uma coisa é uma pessoa adulterar uma foto e postar no Instagram; outra coisa é ela alterar um diálogo em tempo real.

O elenco tem apenas seis nomes! Gostei da Cassandra Naud, nunca tinha visto nada com ela, ela consegue construir uma personagem mais complexa do que aparenta ser.

No fim, fica aquela sensação de apesar de não ser um filme perfeito, Influencer consegue ficar acima da média.

Sede Assassina

Crítica – Sede Assassina

Sinopse (imdb): Baltimore. Véspera de Ano Novo. Uma policial talentosa, mas problemática, é recrutada pelo investigador-chefe do FBI para ajudar a traçar o perfil e rastrear um indivíduo perturbado que está aterrorizando a cidade.

Em certos casos, não entendo qual é o critério para se decidir se um filme vai ser lançado no circuito ou se vai direto para o streaming. Porque de vez em quando aparece um filme “com cara de cinema” que é lançado direto no streaming. E o contrário também acontece, como é o caso deste Sede Assassina (To Catch a Killer, no original). Sede Assassina não é ruim, mas é tão genérico que às vezes parece que estamos vendo um episódio de série de TV tipo CSI.

A direção é do argentino Damián Szifron, autor do excelente Relatos Selvagens, de 2014. Infelizmente Sede Assassina está muito abaixo do seu filme mais famoso. Me lembrei de uma entrevista de um diretor brasileiro (não me lembro quem) que comentou sobre dificuldades quando filmou em Hollywood, ele disse que queria ensaiar com a atriz, mas ela só aparecia na hora exata das filmagens. Pensei que talvez Damián tenha tido problema semelhante.

Como falei, Sede Assassina não é ruim. A primeira parte, quando vemos os assassinatos acontecendo durante a queima de fogos, é muito boa. E tem uma sequência no meio do filme, quando o assassino mata um monte de gente num shopping, que é muito bem filmada – a gente acompanha a ação até quando ia começar o tiroteio, depois corta para a investigação policial e a partir daí vemos fragmentos do que aconteceu em flashbacks. Mas, fora isso, tudo é convencional demais. Já vimos isso um monte de vezes.

O elenco é ok. Os dois atores principais, Shailene Woodley e Ben Mendelsohn, estão bem. Jovan Adepo (Babilônia) é o terceiro nome do elenco, mas tem um tempo de tela bem menor; Ralph Ineson (A Bruxa, A Lenda do Cavaleiro Verde) tem um papel importante mas aparece pouco.

Pouco, mas pode agradar os que tiverem baixas expectativas.

Hypnotic

Crítica – Hypnotic

Sinopse (imdb): Um detetive investiga um mistério que envolve sua filha desaparecida e um programa secreto do governo.

Fim do ano passado fiz um top 10 de expectativas pra 2023, mas fugindo de filmes óbvios. Citei este Hypnotic, só por ser “o novo filme do Robert Rodriguez”. Bem, o filme está aí, é hora de ver se acertei no meu chute.

Segundo o imdb, Robert Rodriguez tinha esse roteiro desde 2002. Curioso, porque Hypnotic não tem “cara de Robert Rodriguez”. Parece mais um telefilme querendo copiar Christopher Nolan, com toques de Amnésia e Inception.

Aliás, falando no diretor de Inception, Hypnotic tem um defeito comum em filmes do Nolan: tudo é explicado demais. A gente é apresentado a um mundo onde algumas pessoas têm poderes que as transformam quase em super heróis, e o roteiro traz mais diálogos do que o necessário. Um exemplo claro: na parte final, depois que tudo já se resolveu, ainda tem um personagem falando tudo o que a gente já tinha entendido. A trama traz alguns plot twists, mas também tem algumas inconsistências aqui e ali. É, história confusa com diálogos ruins – talvez tivesse sido melhor uma nova revisão nesse roteiro antes de filmarem.

(Robert Rodriguez é um workaholic, ele aqui está creditado como diretor, roteirista, produtor, diretor de fotografia e editor. E três de seus filhos estão trabalhando no filme: Rebel Rodriguez fez a trilha sonora, Racer Rodriguez está na produção e Rhiannon Rodriguez fez os storyboards. Tem um Sid Rodriguez na equipe de efeitos especiais, mas não sei se é parente, deve ser.)

O elenco é bom. Ben Affleck parece que quer continuar fazendo o Bruce Wayne, enquanto Alice Braga junta mais um filme fantástico ao seu currículo. Também no elenco, William Fichtner, Jackie Earle Haley, Jeff Fahey, JD Pardo e Dayo Okeniyi.

Hypnotic tem uma cena pós créditos que pode abrir espaço pra uma continuação. Mas sinceramente espero que essa continuação não venha.

No fim, fica a sensação de é apenas uma cópia barata do Nolan. Pena, queria voltar a ver Robert Rodriguez fazendo grandes filmes.

Desaparecida

Crítica – Desaparecida

Sinopse (imdb): Depois que sua mãe desaparece, uma jovem tenta encontrá-la usando ferramentas online.

Antes de falar de Desaparecida, preciso falar de Buscando…  de 2018, longa de estreia de Aneesh Chaganty, um filme de suspense que se passava todo na tela de um computador, mostrando navegação pela internet, google, youtube, facebook, twitter, interações com aplicativos de chat com imagens ao vivo, além de noticiários de tv e vídeos de câmeras de segurança.

Desaparecida (Missing, no original) não é do mesmo diretor – Chaganty aqui é responsável só pela história. Desaparecida foi escrito e dirigido por Nicholas D. Johnson e Will Merrick, que eram os editores de Buscando… (e também de Fuja, segundo filme de Chaganty, que usa o formato tradicional). Ou seja os caras já manjavam dos paranauês de “filme inteiro na tela do computador”.

Desaparecida é uma “standalone sequel”, que seria uma espécie de “sequência independente” – um filme que segue o mesmo formato do anterior, mesmo universo do anterior, mas que traz uma história independente (outros exemplos de “standalone sequel” seriam o último Mad Max ou o recente Glass Onion). Não tenho certeza, mas acredito que mais uma vez todo o filme se passa na tela do computador, com redes sociais e apps de chat. Um detalhe importante (que também aconteceu em Buscando…): todos os textos na tela foram traduzidos para português, o que dá muita agilidade à narrativa.

(Tem uma parte onde vemos uma narrativa filmada e editada de modo tradicional, mas aí a câmera se afasta e vemos que a personagem está vendo Netflix. Boa sacada!)

Ok, tem coisa forçada. Tipo pegar um número de telefone e descobrir rapidamente quem é o dono, com foto e tudo. Ou ver câmeras de turismo na Colômbia e facilmente acessar o histórico. Mas… Cinema é mentira, gente! O melhor filme do ano passado aqui no heuvi falava de um boneco de madeira que ganhava vida; o melhor filme do ano retrasado tinha uma equipe onde um dos membros era um tubarão que andava e falava. Por que encrencar com alguém que consegue informações pela Internet? E, vamulá, o filme precisava ser ágil. Se ela tivesse que ficar preenchendo formulários, ia ser bem chato.

(Agora, recomendo não ficar pensando muito. Se parar pra ver detalhes, a gente acha pequenos furos no roteiro.)

Falei que o filme é ágil, né? O ritmo é muito bom. Quando li que tinha uma hora e cinquenta e um minutos, pensei “caramba, esse lance da mãe perdida não gera tanta história assim, o filme pode ficar chato”. Nada! A história pega rumos inesperados e tem alguns plot twists que heu ficava sem saber qual rumo aquilo ia tomar. O filme é tenso, e sabe muito bem manter essa tensão.

No elenco, Storm Reid segura bem a onda – o que é algo importante, já que o filme todo é em cima dela. Gostei de ver o português Joaquim de Almeida como o colombiano. Também no elenco, Nia Long, Ken Leung, Amy Landecker e Tim Griffin.

Fica a dica: se você gostou de Buscando…, veja Desaparecida. E se você não viu Buscando…, faça uma sessão dupla!

O Menu

Crítica – O Menu

Sinopse (imdb): Um jovem casal viaja para uma ilha remota para comer em um restaurante exclusivo onde o chef preparou um cardápio farto, com algumas surpresas chocantes.

Parece que este O Menu (The Menu, no original) foi um dos títulos badalados no último Festival do Rio. Mas, como comentei no texto sobre Império da Luz, não dei bola para o Festival do Rio este ano, e quase deixei O Menu passar.

Dirigido pelo pouco conhecido Mark Mylod (que dirigiu episódios de Game of Thrones, Shameless e Succession), O Menu é daquele tipo de filme onde quase tudo acontece no mesmo cenário, com todos os personagens presentes – quase uma peça de teatro filmada.

O roteiro de Seth Reiss e Will Tracy é eficiente ao equilibrar a trama entre vários personagens. Claro, o foco maior fica nos três principais, mas tem espaço para conhecermos um pouco de cada um dos outros convidados do jantar. E o modo como o jantar é apresentado é uma boa crítica à gourmetização extrema. Aliás, vi alguns críticos incomodados, acho que a carapuça serviu e eles entenderam que seria “cinema” no lugar de “comida”.

Mas o melhor está nas atuações, principalmente de Ralph Fiennes e Anya Taylor-Joy. Fiennes tem uma das melhores atuações da sua carreira como o chef obcecado pela perfeição. E Anya mais uma vez mostra que é um nome a ser acompanhado. Nicholas Hoult tem o terceiro papel principal, mas seu personagem é mais besta. Entre os vários nomes menores do resto do elenco, olha lá, tem o John Leguizamo!

Tenho um comentário sobre o fim, mas é um spoiler brabo, então vou colocar o aviso de spoilers.

SPOILERS!

Entendi a ideia do chef, uma espécie de vingança pessoal misturada com suicídio. Mas não consigo entender por que seus funcionários embarcariam nesse suicídio coletivo. Eles já trabalhavam num sistema quase escravo, era a chance de liberdade. Não achei muito lógico.

FIM DOS SPOILERS!

Mesmo não gostando do final, O Menu ainda é uma boa opção de suspense/terror diferente do óbvio.

Não se preocupe, Querida

Crítica – Não se preocupe, Querida

Sinopse (imdb): Uma dona de casa dos anos 1950 que mora com o marido em uma comunidade experimental utópica começa a se preocupar com a possibilidade de sua empresa estar escondendo segredos perturbadores.

Um tempo atrás me falaram de um filme dirigido pela Olivia Wilde que seria numa onda meio Mulheres Perfeitas, uma sociedade perfeitinha mas com algum mistério por trás. Acabei me esquecendo desse filme, até que veio o email com o convite para a sessão de imprensa de Não se preocupe, Querida (Don’t Worry Darling, no original). Era esse o filme!

Fui ver sem saber de mais nada. Só depois que descobri que teve um monte de barracos nos bastidores Florence Pugh teria brigado com a Olivia Wilde, Harry Styles teria cuspido no Chris Pine… Mas, esse é um site de cinema e não de fofocas, vou falar do filme, quem quiser bastidores procure em outro lugar.

O complicado de falar sobre um filme destes é que existe um grande mistério por trás de tudo o que acontece. O desafio é fazer uma crítica sem spoilers. Vou me segurar!
Não se preocupe, Querida é o segundo longa dirigido por Olivia Wilde (ela dirigiu alguns curtas e alguns videoclipes). Ela consegue criar um bom clima de tensão e mistério – o que diabos está acontecendo naquele lugar? E o visual meio artificial daquela cidade criada ajuda nessa estranheza.

O elenco está muito bem. Segundo o imdb, Olivia Wilde pretendia estrelar, mas quando viu Midsommar mudou de ideia e convidou a Florence Pugh, que está ótima no papel principal (Olivia ficou com um papel secundário). Também no elenco, Chris Pine, Harry Styles e Gemma Chan – todos estão bem.

(Se a gente lembrar que a Olivia Wilde fez DC Liga dos Super Pets e o Harry Styles estava na cena pós créditos de Eternos, são 3 Marvel contra 2 DC…)

Adorei a trilha sonora, que parece que usa vozes sussurradas como instrumentos musicais. Se o filme é tenso e esquisito, fica ainda mais tenso e esquisito quando usa uma trilha tensa e esquisita. E tem uma cena que ficou engraçada, principalmente para o público brasileiro, envolvendo a música Desafinado, quando um cara dança de modo completamente sem nexo com a música.

O roteiro de Katie Silberman, Carey Van Dyke e Shane Van Dyke não é perfeito, o filme tem algumas facilitações meio forçadas, tipo o médico esquecer uma pasta com documentos confidenciais. Mesmo assim, gostei do ritmo frenético da parte final, e gostei de como terminou o filme.

O filme é um pouco longo, mas mesmo assim gostei do resultado final. Não se preocupe, Querida estreia dia 22 nos cinemas, e já quero rever!

A Queda

Crítica – A Queda

Sinopse (imdb): As melhores amigas Becky e Hunter arriscam tudo quando sobem ao topo de uma torre de rádio de dois mil pés.

Escrito e dirigido pelo pouco conhecido Scott Mann (Vingança Entre Assassinos), A Queda (Fall, no original) é um eficiente filme “pequeno”.

Ok, precisamos reconhecer que a gente já viu outros filmes com a mesma proposta – 127 Horas, Águas Rasas, Pânico na Neve, etc. E um detalhe no terço final me lembrou Vidas À Deriva.

Mas, vou repetir o que falei semana passada quando falei de Ingresso para o Paraíso. A gente tem que pensar qual é o objetivo do filme. A Queda tem duas amigas que ficam presas no alto de uma torre, o filme é basicamente isso. Acompanhamos a tensão que elas passam e todos os perrengues pra tentar sair vivas dessa situação. Elas estão em uma torre a 2 mil pés, o que dá mais de 600 metros de altura.

E olha, vou te falar. Sou burro velho de cinema, e me vi tenso, na beirada da poltrona, com medo do que podia acontecer com elas! Ou seja, o objetivo foi alcançado!

Essa torre B67 não existe na vida real, ela foi inspirada na KXTV/KOVR radio tower. Não sei como é a torre real, mas essa do filme, velha, enferrujada, realmente assusta. Foi uma ótima escolha!

No elenco, uma coisa curiosa. Tem um nome relativamente grande para chamar a atenção, Jeffrey Dean Morgan. Mas ele quase não aparece. O filme fica quase o tempo todo focado nas duas amigas interpretadas por Grace Caroline Currey e Virginia Gardner, que funcionam bem para o que o filme pede.

(Um amigo comentou que elas são muito magrinhas, mas logo na cena inicial a gente vê que são experientes em escalada, então achei que convencem mesmo sendo magras.)

Falei e repito. A Queda não é um grande filme. Mas gostei tanto que quero rever!

Watcher

Crítica – Watcher

Sinopse (imdb): Uma jovem mulher se muda para um novo apartamento com seu noivo apenas para ser atormentada pela sensação de que um observador invisível a está perseguindo em um prédio adjacente.

Longa de estreia da diretora e roteirista Chloe Okuno, este Watcher é um suspense mediano, com pontos positivos e negativos. Vamulá.

Uma coisa incomum e que achei bem construída é deixar o espectador sentir o isolamento da protagonista, ao não traduzir os diálogos em romeno. Ela se mudou para Bucareste porque seu companheiro conseguiu um emprego, então ela passa os dias sozinha, e não entende nada do que é falado em volta. Normalmente quando vemos um filme onde pessoas falam uma língua diferente, ou temos legendas, ou algum personagem que explica o que está acontecendo. Aqui ficamos sem entender, assim como a personagem. (Será que o filme funciona igual pra quem entende romeno?)

Aproveito para falar da protagonista Maika Monroe, que está bem, o que é essencial, já que o filme se baseia no seu personagem. A gente sente o desconforto que ela vive e a crescente paranoia na sua cabeça. Também no elenco, Karl Glusman, Burn Gorman e Madalina Anea.

Agora, tudo é muito lento. O filme tem pouco mais de uma hora e meia, e mesmo assim quando chega a uma hora, parece que já se passaram duas. E pra piorar o fim é bem fraco e previsível. A parte final é bem frustrante.

Acho difícil alguém ficar fã e recomendar Watcher, tampouco terá haters. Uma boa opção mediana.

 

Águas Profundas

Crítica – Águas Profundas

Sinopse (imdb): Um marido abastado que permite que a sua esposa tenha casos para evitar o divórcio torna-se um suspeito principal no desaparecimento dos seus amantes.

Vejo muitos filmes. Consequentemente vejo muitos filmes ruins, não dá pra gente ver só só os bons. Mas alguns filmes vão um pouco além. É o caso deste Águas Profundas (Deep Water, no original).

Primeiro filme do Adrian Lyne (Flashdance, Atração Fatal, Alucinações do Passado, Proposta Indecente) em 20 anos, com Ben Affleck e Ana de Armas, contando uma história que misturava erotismo e assassinatos. Ok, parecia bom. Estava até na minha lista de expectativas para 2022.

Mas, preciso dizer: que decepção! O filme é bem fraco, e o final é horroroso!

Águas Profundas até começa bem conhecemos o casal Vic e Melinda, e vemos que eles têm uma dinâmica incomum. Eles se tratam mal, ela trai ele na frente de todos, mas quando há o diálogo “você quer o divórcio?” eles mudam de assunto. Ou seja, a gente sabe que existe alguma história por trás disso tudo.

Águas Profundas é bem filmado. Adrian Lyne sabe filmar, a gente precisa admitir isso – um bom exemplo é 9 1/2 Semanas, que é um filme meio raso, mas com imagens belíssimas do casal Kim Basinger e Mickey Rourke. Visualmente, Águas Profundas não chama tanto a atenção, mas é um filme tecnicamente bem feito.

No elenco, o casal principal serve para o proposto. Ben Affleck não é um ator versátil, mas sabe escolher os filmes que se encaixam no seu perfil. Ana de Armas é ótima, linda, simpática, carismática, e está bem ao lado de Affleck. No resto, ninguém conhecido.

Falei que o filme começa bem, né? Mas quando falta mais ou menos meia hora pra acabar tudo começa a sair do eixo. Desde cenas que não fazem sentido – tipo o escritor que aparece no rio no exato momento que o Ben Affleck vai para lá; até mudanças de comportamento de personagens (a Melinda da cena final é incompatível com a Melinda que queria acusar o marido de assassinato).

E o pior de tudo: aquela intrigante relação incomum entre o casal não chega a conclusão nenhuma, e o espectador fica a ver navios. E o fim do filme é confuso e estraga todo o clima construído na primeira metade. Muito frustrante.

A Hora do Desespero

Crítica – A Hora do Desespero

Sinopse (imdb): Uma mãe corre desesperadamente contra o tempo para salvar seu filho enquanto as autoridades fecham sua pequena cidade.

Pouco tempo atrás falei de um filme minimalista, O Culpado, com Jake Gyllenhal. Este A Hora do Desespero tem um formato bem parecido. Basicamente uma única atriz e um único cenário, e quase toda a interação da personagem é através do telefone.

Dirigido por Phillip Noyce, que fez alguns bons thrillers nos anos 90 (Invasão de Privacidade, Jogos Patrióticos, Perigo Real e Imediato, O Colecionador de Ossos), mas que não dirige nada digno de nota há anos, A Hora do Desespero tem seus bons momentos, mas me parece que a premissa não dava pra fazer um longa metragem. O filme tem menos de uma hora e meia, mas mesmo assim parece esticado.

A trama começa bem, com a mãe isolada, só ao celular. E teve uma coisa que achei boa: a dúvida sobre se o filho era vítima ou não. Mas, mais pro fim, começam a ter uma situações bem forçadas – tipo ela conseguir falar com quem nunca a atenderia. Isso enfraqueceu o resultado final.

Teve outra coisa que me incomodou, mas talvez seja implicância minha. É que a floresta onde ela corria pareceu grande demais. Vejam bem: ela sai pra sua corrida matinal, não era pra ser num local muito distante de casa. E de repente ela está perdida, tendo que atravessar um rio enorme, pra chegar numa rua e pegar um Uber. Como ela se afastou tanto? Lembrei de quando li O Senhor dos Anéis e precisava ficar vendo o mapa da Terra Média pra entender onde eles estavam. Faltou um mapa no filme!

A Hora do Desespero estreia nos cinemas esta semana. Sei não, para um filme desses, acho que funcionaria melhor num streaming…