A Jaula

Crítica – A Jaula

Sinopse (filmeb): É só mais um carro de luxo sendo roubado numa rua de São Paulo… ou não. Um ladrão entra com facilidade no SUV estacionado numa rua pacata, mas, ao tentar sair, descobre que está preso em uma armadilha, incomunicável, sem água ou comida. Recai somente sobre ele a vingança que um famoso médico planejou depois de sofrer inúmeros assaltos. Quem passa em volta não percebe o embate que se arma entre o sádico vingador e o ladrão prisioneiro dentro do carro.

Dirigido por João Wainer, A Jaula é a refilmagem de 4×4, filme argentino de 2019. Não tinha visto o filme original, e recomendo que você também não o faça. Esta versão brasileira é quase igual ao original hermano. A refilmagem pega quase todos os detalhes, até o grilo que estava dentro do carro!

Dois terços do filme se passam dentro do carro, com apenas um ator. Me lembrei de Enterrado Vivo – que é uma experiência ainda mais radical, já que é o filme todo dentro do caixão. Assim como acontece no filme do Ryan Reynolds, A Jaula tem soluções criativas tanto no roteiro quanto em ângulos de câmera para não cansar o espectador. Já o terço final, quando aparece o médico e eles saem do carro, é mais fraco. Fica parecendo uma versão de programa jornalístico sensacionalista, tipo um Datena da vida.

Teve uma coisa que achei uma falha. O carro tem vidros polarizados e é à prova de som. Quem passa ao lado não pode ver se tem alguém dentro ou não. Mas… Por que o assaltante não balançava o carro? Pessoas em volta veriam que o carro estava balançando e iam desconfiar!

Tenho uma crítica relativa ao posicionamento político. Acho que não precisava disso (o filme argentino não vai por este caminho). O filme levanta uma crítica social interessante: ambos os personagens são escrotos, ambos são mau caráter, nenhum dos dois tem razão. O filme poderia desenvolver esse questionamento – até onde um cidadão pode se defender por conta própria, já que o Estado é falho neste aspecto? Mas quando personagens falam frases e expressões ditas pelo atual presidente (“cidadão de bem”, “Deus acima de tudo”) o filme entra na polarização política que vivemos hoje em dia, e a discussão sobre o problema real fica em segundo plano.

No elenco, preciso confessar que como não vejo novelas, não conhecia nenhum dos dois principais, Chay Suede e Alexandre Nero. Mas li que não só são nomes conhecidos, como ambos já interpretaram o mesmo papel em uma novela, em fases diferentes da vida do personagem. Enfim, ambos estão bem. O único outro nome que merece créditos no elenco é Mariana Lima.

A Jaula é curto, segundo o filme B tem uma hora e 41 minutos, mas tive a impressão de ser menos de uma hora e meia. Boa opção para quem quer um filme nacional fora dos clichês de sempre.

10 Filmes de Suspense Psicológico na Netflix

10 Filmes de Suspense Psicológico na Netflix

Hoje não é exatamente um top 10. Não é uma lista dos “melhores filmes de suspense psicológico”, e sim uma lista de boas opções pela Netflix. Ou seja, hoje será uma lista de opções que estão disponíveis na plataforma.

Vanilla Sky (2001)
Vanilla Sky é a refilmagem do espanhol Abre Los Ojos, de Alejandro Almenabar. Rolou uma história na época que não sei se é 100% verídica, mas é uma boa história. Tom Cruise teria visto o filme espanhol, e decidiu fazer uma refilmagem. E, para convencer o Almenabar, o convidou para sua estreia hollywoodiana, Os Outros, onde iria filmar com Nicole Kidman – que na época era esposa de Cruise (que está creditado como produtor executivo). Não sei se é verídica, mas as datas e pessoas se encaixam…
Dirigido por Cameron Crowe, Vanilla Sky conta a história de um cara jovem, bonito e rico, que conhece a mulher de seus sonhos, mas pouco depois se envolve num acidente de carro, fica com o rosto desfigurado e vê sua vida entrar em parafuso, numa trama não linear onde nem tudo é o que parece.

Efeito Borboleta (2004)
Existe uma teoria que diz que algo tão pequeno quanto o vôo de uma borboleta pode causar um tufão do outro lado do mundo. Em Efeito Borboleta, um estudante universitário tem dores de cabeça tão fortes que frequentemente desmaia. Enquanto está inconsciente, ele pode viajar de volta no tempo para alterar momentos de dificuldades de seu passado. É uma boa sacada de viagem no tempo onde nem tudo dá certo. O cara volta pra consertar uma coisa, mas no presente isso causou um problema ainda maior. Aí volta de novo, e as coisas ficam cada vez piores. Filme dirigido pelos pouco conhecidos Eric Bress e J. Mackye Gruber, e estrelado por Ashton Kutcher e Amy Smart.

Ilha do Medo (2010)
Na década de 50, dois agentes federais são mandados a uma ilha onde funciona um hospital psiquiátrico, para investigar o desaparecimento de uma paciente. Uma grande tempestade os impede de sair da ilha, e eles acabam descobrindo que existe algo de estranho com a ilha. Dirigido por Martin Scorsese, Ilha do Medo é um filmão à moda antiga, com bons atores, trama bem elaborada, fotografia bem cuidada e trilha sonora impactante. O roteiro é construído de maneira que o espectador não sabe exatamente o que é mentira e o que é verdade. Estrelado por Leonardo DiCaprio, Mark Ruffalo, Ben Kingsley, Max Von Sydow, Michelle Williams, Emily Mortimer, Patricia Clarkson, Jackie Earle Haley, Elias Koteas, entre outros

Garota Exemplar (2014)
Dirigido por David Fincher, Garota Exemplar conta a história de um homem que vira o principal suspeito quando sua esposa desaparece. Ele precisa provar sua inocência, ao mesmo tempo em que investiga o que realmente aconteceu com a mulher. É um um suspense bem amarrado, com investigações bem construídas e viradas de roteiro nos lugares exatos. Com Ben Affleck, Rosamund Pike e Neil Patrick Harris.

Um Contratempo (2016)
Dirigido por Oriol Paulo, Um Contratempo é um filme espanhol daqueles que você precisa prestar atenção nos detalhes, porque nada é o que parece. Na história, o protagonista desperta em um hotel, e encontra sua amante morta coberta de dinheiro. Ele recorre a melhor advogada de defesa, e eles tentam descobrir o que realmente aconteceu na noite anterior.

Rua Cloverfield 10 (2016)
Uma mulher acorda em um bunker, com um homem que afirma que o mundo exterior foi afetado por um ataque nuclear ou químico. Apesar de ser produzido pelo mesmo JJ Abrams, este não é uma continuação de Cloverfield Monstro, de 2008. O filme foca no suspense em volta do personagem paranoico e seu relacionamento conturbado com os outros personagens. Não gostei do fim, mas não chega a estragar o filme. Estrelado por Mary Elizabeth Winstead e um inspiradíssimo John Goodman.
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Jogo Perigoso (2017)
Dirigido por Mike Flanagan, hoje badalado pelas séries Maldição da Residência Hill, Maldição da Mansão Bly e Missa da Meia Noite, Jogo Perigoso é uma produção modesta: quase todo o filme se passa dentro de um quarto, com apenas dois atores. Na trama, eles querem fazer uma brincadeira para apimentar seu casamento em uma remota casa do lago, mas o marido morre inesperadamente e deixa a esposa algemada na cabeceira da cama. Com Carla Gugino e Bruce Greenwood.

Durante a Tormenta (2018)
Mais um filme de Oriol Paulo, em Durante a Tormenta temos duas histórias, em duas linhas temporais diferentes, separadas por 25 anos. Durante a Tormenta tem um que de Efeito Borboleta, onde atos em uma linha temporal geram consequências na outra. No elenco, Adriana Ugarte, Chino Darín e Álvaro Morte, o Professor de Casa de Papel.

Fuja (2020)
Uma adolescente cadeirante começa a suspeitar que sua mãe está escondendo dela um segredo sombrio. Segundo filme de Aneesh Chaganty, que lançou Buscando… em 2018. Uma produção modesta, com elenco reduzido e poucas locações, consegue fazer um suspense de fazer o espectador se contorcer na poltrona. As referências a Stephen King são explícitas. E as duas atrizes principais estão excelentes, tanto a veterana Sarah Paulson quanto a estreante Kiera Allen.
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A Mulher na Janela (2021)
Amy Adams interpreta uma mulher agorafóbica que mora em Nova Iorque e começa a espiar seus vizinhos pela janela. O clima lembra Hitchcock, e o filme vai muito bem até mais ou menos dois terços, quando tudo se perde e o fim é bem besta. Mas o elenco é muito bom, além da Amy Adams, temos Gary Oldman, Julianne Moore, Jennifer Jason Leigh, Wyatt Russell, Anthony Mackie e Brian Tyree Henry.

Morte no Nilo

Crítica – Morte no Nilo

Sinopse (imdb): Enquanto está de férias no Nilo, Hercule Poirot investiga o assassinato de uma jovem herdeira.

Tecnicamente falando, esta é uma continuação de Assassinato no Expresso Oriente, de 2017. Mas não é exatamente continuação. Este é outro filme também baseado em Agatha Christie, com o mesmo personagem Hercule Poirot, mas um filme não tem nada a ver com o outro.

Antes de entrar no filme, uma coisa pessoal: para mim, este filme teve uma vantagem sobre o outro. No outro, heu me lembrava quem era o assassino. Neste filme, não me lembrava nem quem ia morrer, muito menos o assassino. Não me lembrava do livro, nem do filme de 1978 com Peter Ustinov de Poirot.

Morte no Nilo (Death on the Nile, no original) segue o clássico formato whodoneit, um o estilo de história onde a trama levanta vários suspeitos e o espectador é instigado a descobrir quem é o culpado. Ou seja, a gente já sabe o que vai acontecer: um crime será cometido, todos serão suspeitos, e o Poirot vai fazer uma investigação para descobrir o culpado.

Este formato cabe na clássica fórmula que o escritor Syd Field apresentou no seu livro “Manual do Roteiro” (e que cabe em mais de 90% dos filmes que a gente vê por aí): meia hora de introdução, aí tem um ponto de virada, a trama segue por outro(s) caminho(s), até que, meia hora antes do fim, outro ponto de virada direciona a trama para a conclusão. E por que estou falando sobre Syd Field? Porque, neste filme, achei que a primeira parte demorou tempo demais. Entendo que o espectador precise conhecer os personagens, não dá pra começar direto pela “morte no Nilo”. Mas todo esse setup demora uma hora de filme. Chega a cansar.

(Tem uma breve introdução com um Poirot jovem na primeira Guerra Mundial. Mas é um trecho meio besta, se tirar esse trecho o filme não perde nada.)

Teve uma coisa que achei ruim: diferente de um Sherlock Holmes, que apresenta ao espectador todas as pistas e todo o seu raciocínio, Poirot não explica a sua dedução. Na hora que ele fala de uma pessoa que teria jogado uma pedra em uma tentativa de assassinato, ele não fala como chegou a essa conclusão. Prefiro quando o detetive compartilha o raciocínio com o espectador.

A fotografia é boa, temos várias cenas em paisagens no Egito. Pena que algumas vezes parece tudo artificial – todo aquele cenário deve ser digital, e em alguns takes isso fica claro.

Como aconteceu no outro filme, o elenco é muito bom, afinal não é qualquer dia que a gente tem Kenneth Branagh, Letitia Wright, Sophie Okonedo, Emma Mackey, Armie Hammer, Gal Gadot, Tom Bateman, Annette Bening, Rose Leslie e Russell Brand – este último, irreconhecível.

No fim, temos um filme apenas correto.

O Beco do Pesadelo

Crítica – O Beco do Pesadelo

Sinopse (imdb): Um jovem ambicioso com talento para manipular pessoas com algumas palavras bem escolhidas junta-se a uma psiquiatra que é ainda mais perigosa do que ele.

Apesar de ter uma carreira irregular, Guillermo del Toro sempre vai estar no meu radar. Sim, o cara fez Pacific Rim e A Colina Escarlate, mas ele também fez A Espinha do Diabo e O Labirinto do Fauno (e Blade 2, e os dois Hellboy). E não podemos nos esquecer que seu último filme, A Forma da Água, ganhou o Oscar de melhor filme e melhor diretor (além de ter entrado no top 10 de 2018 aqui no heuvi).

O Beco do Pesadelo (Nightmare Alley, no original) traz tudo o que se espera num filme do del Toro. Elementos fantásticos, monstros (mesmo sem o filme entrar no sobrenatural), um pé no bizarro e outro no grotesco, e tudo isso embalado em um requinte visual extremamente bem cuidado.

Pena que o filme é chato. Vamulá.

O visual do filme é um espetáculo. Cenários, figurinos, props, todos os detalhes mostrados em tela são cuidadosamente escolhidos. A primeira parte do filme mostra aqueles circos dos horrores que existiam décadas atrás, com pessoas “diferentes”. O filme não mostra nada de sobrenatural, mas os elementos fantásticos estão nas atrações do circo.

O Beco do Pesadelo não é exatamente terror, está mais para uma espécie de film noir (principalmente na segunda metade), e todo esse visual ajuda. Como A Forma da Água levou os principais Oscars em 2018, provavelmente a Academia vai ficar de olho em O Beco do Pesadelo e teremos indicações a Oscars nessa área – de fotografia, direção de arte, de repente até melhor cabelo e maquiagem.

Ah, falando da maquiagem, citei lá em cima “um pé no grotesco”. Normalmente quando um filme mostra gore, foca no gore justamente para chocar. Se não é pra chocar, não precisa de gore. Del Toro usa o gore de uma maneira diferente do usual. Um exemplo: em determinado momento um personagem leva um tiro na orelha, e ficam pedaços de orelha pendurados. Se fosse só pra chocar por chocar, del Toro faria closes para aumentar a exposição da orelha despedaçada. Mas não, a orelha está lá, ao fundo…

Agora, o filme é longo demais, e cansa em alguns momentos. São duas horas e meia, e a gente se pergunta se precisava de tudo isso. Existe outra versão desta mesma história, no filme O Beco das Almas Perdidas, de 1947. Este não é uma refilmagem daquele, del Toro usou o mesmo livro original, escrito por William Lindsay Gresham, e fez uma nova adaptação. Não vi o filme anterior, mas sei que ele tem 40 minutos a menos. Se esta nova versão tivesse 40 minutos a menos, provavelmente ia ser menos cansativo.

Pelo menos a parte final é boa. A última meia hora do filme é tensa e tem um ótimo ritmo. Pelo menos a gente sai do cinema empolgado.

O elenco é muito bom. Bradley Cooper está bem, e precisa estar, já que o filme é todo em cima do seu personagem. Cate Blanchett, Toni Collette e Rooney Mara dividem a tela com o protagonista, em fases diferentes do filme. Willem Dafoe está bem, mas aparece pouco. Também no elenco, Richard Jenkins, Ron Perlman, David Strathairn, e breves participações de Mary Steenburgen e Tim Blake Nelson.

Ao fim, me lembrei de A Colina Escarlate. Um belo filme, mas chato.

Noite Passada em Soho

Crítica – Noite Passada em Soho

Sinopse (imdb): Uma jovem apaixonada por design de moda pode entrar misteriosamente nos anos 60, onde conhece uma cantora deslumbrante. Mas a década de 1960 em Londres não é o que parece, e o tempo parece desmoronar com consequências sombrias.

Lembro de um Podcrastinadores onde estávamos falando sobre expectativas sobre filmes a estrear. Não gosto muito de criar expectativas, acho que a chance disso dar errado é grande, então normalmente evito ler muito sobre filmes vindouros. Mas, já que era pra citar um filme, falei de Noite Passada em Soho (Last Night in Soho, no original), porque era o filme novo do Edgar Wright depois de Baby Driver.

Edgar Wright tem um currículo impressionante (e, inexplicavelmente, é um nome muito pouco conhecido). Ele fez a trilogia cornetto – que tem três nomes péssimos aqui no Brasil, Todo Mundo Quase Morto, Chumbo Grosso e Heróis de Ressaca. Ele também fez o genial Scott Pilgrim e a obra prima Baby Driver.

(Adoro Baby Driver, é um musical sem os atores cantando as músicas, tudo no filme está sincronizado com a trilha sonora.)

Para o bem e para o mal, Última Noite em Soho não quer ser um novo Baby Driver. Claro que heu queria ver outro filme com uma edição sonora como aquele, mas não reclamo de ver algo novo. Desta vez não é um filme de ação sincronizado com a parte musical; Wright nos apresenta um suspense com um toque sobrenatural e uma espécie de viagem no tempo. Achei que seria terror, mas acho que só adentra no universo do terror em alguns momentos na parte final. Mas, mesmo quando não é terror, tem um ou dois jump scares bem feitos.

Última Noite em Soho é extremamente bem filmado. O filme é cheio de cenas com espelhos, onde tem uma atriz de um lado e outra do outro lado. Não sei se ele tinha um cenário com um vidro no lugar do espelho, ou se ele filmou dois takes, um com cada atriz, só sei que o resultado ficou impressionante. Tem uma cena de uma dança, onde a câmera acompanha um casal, e a atriz é trocada durante a dança, várias vezes. Segundo o imdb, a dança foi coreografada, as atrizes realmente trocavam de lugar, sem efeitos especiais!

Aliás, preciso falar da atuação das duas atrizes. Thomasin McKenzie (Jojo Rabbit, Tempo) e Anya Taylor-Joy (Fragmentado, A Bruxa) estão ótimas! O roteiro dá espaço para as duas se desenvolverem, e ambas apresentam um resultado excelente. Tembém no elenco, Matt Smith, Terence Stamp e Diana Rigg – foi o último filme dela, antes de começar tem uma dedicatória “para Diana”.

Ah, sim, a reconstituição de época da década de 60 é fantástica. E, claro, depois de Baby Driver a gente precisa falar da trilha sonora. A trilha aqui, repleta de músicas da década de 60, ajuda a entrar no clima. E sempre as músicas são bem colocadas dentro do filme. Acho que só tem uma música que não é dos anos 60, uma música da Siouxsie and the Banshees – que aliás, é usada numa cena onde a edição do áudio ajuda o clima hipnótico vivido pela personagem.

(Descobri que duas músicas que gosto, da década de 80, são covers de músicas dos anos 60! I’ve got my mind set on you, que achava que era do George Harrison, teve uma gravação em 1962 por James Ray. E Always Something There to Remind Me, que achei que era da banda Naked Eyes, foi composta por Burt Bacharach e Hal David, e foi gravada por Sandie Shaw em 1964!)

O fim do filme traz um plot twist bem bolado – algumas pistas são deixadas ao longo do filme, mas posso dizer que não peguei essas pistas e gostei do plot twist.

Não tem cenas pós créditos, mas tem várias paisagens londrinas vazias – esses takes foram feitos durante o lockdown, quando não tinha ninguém nas ruas.

Segundo o imdb, Edgar Wright está trabalhando numa nova versão de O Sobrevivente / The Runing Man. Aguardemos.

Observadores / The Voyeurs

Crítica – Observadores / The Voyeurs

Sinopse (imdb): Pippa e Thomas entram no apartamento de seus sonhos, apenas para notar que suas janelas olham diretamente para o apartamento do outro lado da rua, pondo em movimento uma cadeia de eventos que levarão ao desastre.

Outro dia li uma crítica sobre este Observadores que falava que era um suspense com um bom plot twist no final. Vou dizer que isso foi o que me convenceu a ir até o fim do filme. Porque o filme é bem fraquinho.

A premissa é boa. Um casal jovem se muda para um apartamento com grandes janelas onde podem bisbilhotar os vizinhos. Ok, ninguém espera um novo Janela Indiscreta. Mas esse tema poderia render uma boa história.

Aliás, é bom avisar que Observadores tem uma boa quantidade de nudez e sexo. E aqui faz parte do contexto, não é que nem o top 10 de nudez gratuita que fiz há um tempo aqui no site. A nudez aqui faz parte da história.

O problema é que o roteiro abusa da boa vontade do espectador em aceitar ideias absurdas, tipo um microfone laser pra ouvir o apartamento ao lado. Acrescente a isso uma protagonista que, obcecada, passa a ter várias atitudes pouco inteligentes.

Mas segui, esperando o plot twist, que é razoável. Realmente o filme ganha um upgrade nesse momento – apesar de tudo ser um plano mirabolante demais. Mas, logo depois, se desenvolve pra um final bem ruim.

Sobre o elenco gostei da protagonista Sydney Sweeney. Sua personagem toma atitudes sem sentido, mas, mas a atriz consegue extrair daí uma boa atuação. Por outro lado, não tenho ideia do que aconteceu com a voz do seu companheiro de tela, Justice Smith. Céus, se a voz do cara é assim, ele deveria procurar um fonoaudiólogo antes de aceitar o próximo papel. Também no elenco, Ben Hardy e Natasha Liu Bordizzo funcionam como o casal bonitinho e sem nenhuma profundidade.

No fim, fica aquela sensação de oportunidade perdida. Podia ter sido um filme bom, mas ficou só na intenção.

O Culpado

Crítica – O Culpado

Sinopse (imdb): Um policial rebaixado designado para o escritório de chamadas fica em conflito quando recebe uma ligação telefônica de emergência de uma mulher sequestrada.

Filme novo da Netflix, O Culpado (The Guilty, no original) é uma daquelas produções diminutas, baseadas em um ator e um ou dois cenários – tipo Oxigênio, outro filme Netflix que falei aqui outro dia.

Filmes assim precisam se apoiar em algumas coisas, como um bom roteiro (precisa manter o espectador interessado mostrando o mesmo personagem e o mesmo cenário); uma direção criativa (mais uma vez, pra não cansar o espectador) e um bom ator protagonista.

O Culpado é refilmagem do dinamarquês Culpa, de 2018, que chegou a ser pré selecionado ao Oscar de melhor filme estrangeiro de 2019 (existe uma lista maior antes de divulgarem os cinco candidatos ao prêmio). Não vi o original, não sei o quanto a história se parece. O roteiro desta refilmagem é eficiente ao segurar a atenção do espectador por quase uma hora e meia, guardando alguns segredos sobre o protagonista e um plot twist meio previsível no terço final.

A direção é de Antoine Fuqua, que já fez bons filme em grandes produções, como Dia de Treinamento, O Protetor e Sete Homens e um Destino – mas também nos trouxe o fraco Infinite, lançado este ano. Com poucas opções de cenários, Fuqua procura ângulos diferentes e incomuns pro espectador se aproximar do protagonista e não se cansar.

O grande trunfo de O Culpado é Jake Gyllenhal, que também aparece como produtor. Ele está muito bem, seu personagem tem um dilema moral que só é revelado no fim do filme, e ele fica obcecado tentando resolver o problema do sequestro que guia o filme inteiro.

Alguns coadjuvantes aparecem aqui e ali, mas o filme é quase todo com Jake Gyllenhal aparece em tela, falando ao telefone. E ter um grande diretor e um grande ator ajuda no elenco de apoio. Ethan Hawke, Riley Keough, Peter Sarsgaard e Paul Dano fazem algumas das vozes ao telefone com Gyllenhal.

Não gostei muito do fim do filme, o plot twist já era esperado, e achei que depois de tudo revelado, o filme ainda se estica alguns minutos desnecessariamente. Mesmo assim, achei um resultado positivo.

Oxigênio

Crítica – Oxigênio

Sinopse (imdb): Uma mulher acorda em uma câmara criogênica sem se lembrar de como chegou lá. Como ela está ficando sem oxigênio, ela deve reconstruir sua memória para encontrar uma maneira de sair de seu pesadelo.

Antes de tudo, é importante falar: Oxigênio (Oxygen, no original) é um filme que vale ser visto sem você saber nada. A protagonista acorda sem saber o que está acontecendo, e o espectador vai aos poucos descobrindo junto com ela. E as informações são bem dosadas, proporcionando alguns plot twists bem colocados.

Oxigênio é um filme pequeno. Quase todo o filme tem um cenário diminuto e uma única atriz em tela (interagindo com a voz de uma Inteligência Artificial). Até tem algumas poucas cenas mostrando outros cenários e outros personagens em flashbacks, mas é pouca coisa – quase tudo se passa dentro da câmera criogênica, e em tempo real.

A ideia lembra Enterrado Vivo, aquele onde Ryan Reynolds passa o filme todo dentro de um caixão (um filme ainda mais radical, porque, se não me falha a memória, não tem nenhuma cena fora do caixão).

O diretor é Alexandre Aja – gosto dele, ele dirigiu Alta Tensão, da onda do cinema francês ultra violento; a refilmagem de Viagem Maldita; Piranha, que é galhofa mas divertido. Aja também escreveu os roteiros de P2 Sem Saída e Maníaco, aquele do assassino serial em câmera pov. Ok, reconheço que não tem nenhum filmaço, mas são vários bons filmes, digamos que ele passa na média.

Oxigênio é uma produção bem mais modesta, e mesmo assim tem um resultado melhor que o último do diretor (Predadores Assassinos). Aliás, esse é um filme com a cara da pandemia – mesmo nos poucos flashbacks, não vemos muitas pessoas juntas. Dá pra filmar se aglomerar!

Ok, entendo que a gente precisa de uma suspensão de descrença pra aceitar tudo o que a IA consegue fazer. Mas, se a gente embarcar na premissa que sim, a IA tem aquele poder, Oxigênio flui bem.

O grande lance aqui é a claustrofobia e a tensão – o oxigênio está acabando a cada minuto que passa! Apesar de ser um espaço minúsculo, Aja consegue vários ângulos dentro da câmara criogênica, e o filme nunca cai no marasmo.

Claro que a atuação da Mélanie Laurent (Bastardos Inglórios, Truque de Mestre) ajuda. Com vários closes no seu rosto, Mélanie passa o desespero de quem tem pouco tempo pra descobrir o que está acontecendo. O único outro ator que precisa ser citado é Mathieu Almaric (O Som do Silêncio), que não aparece, mas empresta a sua voz pra IA que conversa com ela durante todo o filme.

Heu poderia falar mais, mas, como falei no início, Oxigênio é daqueles filmes que é bom a gente não saber muito, então, como propus fazer comentários sem spoilers, vou ficando por aqui. Mas confirmo: pra mim foi uma agradável surpresa ver cada pequeno plot twist.

Cidade Invisível

Crítica – Cidade Invisível

Oba! Folclore nacional!

Sinopse da Netflix: Após uma tragédia familiar, um homem descobre criaturas folclóricas vivendo entre os humanos e logo se dá conta de que elas são a resposta para o seu passado misterioso.

Sempre fui fã do folclore nacional. E sempre defendi que isso geraria boas histórias fantásticas pro cinema. Pra provar que falo isso há tempos, vou deixar aqui o link de um curta de metragem de terror que fiz com o Boitatá. O curta não é muito bom não, fiz coisa melhor depois, mas, vale o registro!

(Ainda dentro do tema, recomendo o filme Fábulas Negras, organizado pelo Rodrigo Aragão. São 5 curtas, dirigidos pelo próprio Aragão, além de Zé do Caixão, Joel Caetano e Peter Baiestorf, e mostrando Monstro do Esgoto, Loira do Banheiro, Iara, Saci e Lobisomem. Dá pra fazer uma sessão com o meu curta e depois esse filme! 🙂 )

Vamos à série. Produção Netflix, Cidade Invisível é uma criação do Carlos Saldanha. Pra quem não ligou o nome à pessoa, Carlos Saldanha é um dos brasileiros mais bem sucedidos em Hollywood. Ele dirigiu os três primeiros A Era do Gelo, Touro Ferdinando e os dois Rio – todos, longas de animação da Blue Sky. Ele foi indicado duas vezes ao Oscar, por Touro Ferdinando e por um curta do esquilinho Scratch. E agora ele estampa o nome na abertura de Cidade Invisível – não sei o quanto ele esteve envolvido na produção. São sete episódios, dirigidos por Luis Carone e Julia Jordão. A série é baseada na história desenvolvida pelos roteiristas e autores de best-sellers Raphael Draccon e Carolina Munhóz.

E, olha, como é legal ver uma produção bem feita, usando as nossas lendas!
Várias gerações de brasileiros cresceram lendo livros e vendo adaptações na TV do Sítio do Pica Pau Amarelo. Ok, sei que existe uma polêmica hoje em dia envolvendo o Monteiro Lobato, mas não quero falar do homem, e sim da sua obra. Se hoje a gente fala sobre Saci, Cuca, Boitatá, Caipora e afins, muito se deve ao Monteiro Lobato e aos livros do Sítio. E heu sempre achei que essas lendas poderiam gerar histórias fantásticas pra adultos (tanto que fiz o curta do Boitatá e tinha um projeto pra fazer da Iara). E fiquei muito satisfeito com o resultado de Cidade Invisível. O clima é sério, é uma série de investigação policial, e os efeitos especiais são discretos e funcionam bem (um problema que Fábulas Negras teve foi a caracterização do Saci, ficou tão tosco que provocava risadas em vez de dar medo).

A trama foi adaptada pra se passar nos dias de hoje, em uma cidade grande – no caso, o Rio de Janeiro. Decisão arriscada, mas gostei – o mais fácil seria se passar no interior, em um tempo indeterminado, sempre que alguém fala em Saci ou Iara a gente logo pensa em fazendas e florestas. Colocar essas entidades na Lapa foi uma ótima sacada! Quem frequenta a Lapa sabe que, se tem gente estranha e diferente no Rio, é lá que eles vão se encontrar!

(Causos curiosos: lembro de ter encontrado o Jimmy London, o Tutu, em um show do Canastra, na Lapa. Me senti em casa vendo a série.)

Ouvi críticas com relação a isso, que Cidade Invisível deveria se passar no interior, que o boto é uma lenda da região Norte e não deveria ser encontrado em uma praia no Rio, etc. Ok, entendo as críticas, realmente folclore tem mais cara de interior rústico do que cidade grande cosmopolita. Mas, por outro lado, acho que os realizadores quiseram aproveitar o potencial turístico pra fazer um produto mais fácil de vender. Vamulá, a gente sabe que o Rio é uma das coisas mais famosas do Brasil. Deve ficar mais fácil vender um produto brasileiro se tiver paisagens conhecidas mundialmente, não? E, disse antes, repito: achei a adaptação muito boa.

(Heu mesmo, nos meus curtas, já usei paisagens turísticas. Pô, se moro aqui, por que não usar os cenários que estão disponíveis na minha cidade?)

Agora, gostei da adaptação, mas também tenho um mimimi, cabe aqui? Achei que a Iara tinha que ser uma índia! Adorei a personagem adorei a atriz, mas, pra mim, Iara tinha que ser índia. E queria ver a Cuca em versão “jacaré”!

Aproveitando que falei da Iara, preciso dizer: que cena maravilhosa aquela onde a gente descobre quem ela é, e como ela hipnotiza com seu canto e leva para a água! A cena ficou fantástica!

Aliás, não só a Iara. Uma coisa legal de Cidade Invisível é esse jogo de tentar entender quem é cada entidade. Não sei se gostei de ver a origem de cada uma (prefiro uma entidade que sempre foi aquilo, em vez de uma pessoa que virou entidade), mas isso não chega a atrapalhar.

Já que falei das entidades, vou me aprofundar um pouco. Queria ter visto a Cuca “jacaré”, mas, mesmo assim, achei que todas estão muito bem representadas na tela. Adorei o Curupira! Quero ver um spin-off com esse Curupira! E o Saci ter uma perna mecânica foi uma sacada de gênio!

Vamos aproveitar pra falar do elenco. Acho que heu só conhecia a Alessandra Negrini (e o Jimmy London como músico, nem sabia que ele atuava). Não conhecia o resto, gostei de todos, mas não vou entrar em detalhes aqui, porque não quero falar quem faz cada entidade. Mas, se fosse escolher um pra ganhar o prêmio de melhor atuação, com certeza seria o que faz o Curupira. Vamos aos nomes, sem especificar quem é quem: Marco Pigossi, Alessandra Negrini, Áurea Maranhão, Fábio Lago, Jéssica Córes, Wesley Guimarães, José Dumont, Jimmy London e Victor Sparapane.

A história fecha no fim do último episódio, mas deixa um gancho para continuar. Que venha a segunda temporada!

Run

Crítica – Run

Sinopse (imdb): Uma adolescente que estuda em casa começa a suspeitar que sua mãe está escondendo dela um segredo sombrio.

Quando vi quem era o diretor deste novo filme da Hulu, corri pra ver (sem trocadilhos). Run foi escrito e dirigido por Aneesh Chaganty, o mesmo de Buscando…, uma das melhores surpresas cinematográficas de 2018 – um filme de diretor estreante e orçamento modesto, onde tudo se passa através de uma tela de computador, numa variação do estilo found footage (com navegação pela internet, google, youtube, facebook, twitter, interações com aplicativos de chat com imagens ao vivo, além de noticiários de tv e vídeos de câmeras de segurança). E o melhor de tudo: o resultado ficou excelente!

Agora, em Run, Chaganty, mais uma vez com uma produção modesta, com elenco reduzido e poucas locações, consegue fazer um suspense de fazer o espectador se contorcer na poltrona. A trama pode não ser exatamente algo novo (é até um pouco previsível), mas o modo como Chaganty apresenta a história vale o ingresso.

Chaganty não esconde de ninguém a influência / homenagem a Stephen King. Não só a cidade fictícia Derry é citada (cidade onde várias histórias do Stephen King se passam, como It), como a atendente da farmácia se chama Kathy Bates. Se o clima aqui é parecido com Louca Obsessão, nada mais justo que deixar isso explícito e ter um personagem com o nome da atriz principal do outro filme. Assim ninguém reclama que é plágio!

Precisamos falar das duas atrizes principais. A mãe é a Sarah Paulson, atriz reconhecida por vários filmes e séries – o curioso é que ela sempre me lembra a série Studio 60 on the Sunset Strip, que era uma série bem legal, que só teve uma temporada, que mostrava os bastidores de um programa tipo Saturday Night Live, e que acho que ninguém mais viu. Já a filha é a estreante Kiera Allen, e que, assim como sua personagem, também é cadeirante na vida real. Chaganty quis escalar uma atriz com deficiência, afirmando que Hollywood raramente escolhe atores com deficiência para papéis assim. E ambas, tanto Sarah quanto Kiera, estão ótimas. Ambas dão show.

Como falei antes, se Run tem um problema é que não é uma novidade – li por aí que tem uma série que trata de um tema parecido, mas não vou deixar aqui qual série porque seria um spoiler. Mas, mesmo não sendo novidade, curti muito a viagem que Chaganty proporcionou, uma hora e meia de tensão bem filmada. E adorei a última cena! Sr. Chaganty, aguardamos seu terceiro filme!