Noite Passada em Soho

Crítica – Noite Passada em Soho

Sinopse (imdb): Uma jovem apaixonada por design de moda pode entrar misteriosamente nos anos 60, onde conhece uma cantora deslumbrante. Mas a década de 1960 em Londres não é o que parece, e o tempo parece desmoronar com consequências sombrias.

Lembro de um Podcrastinadores onde estávamos falando sobre expectativas sobre filmes a estrear. Não gosto muito de criar expectativas, acho que a chance disso dar errado é grande, então normalmente evito ler muito sobre filmes vindouros. Mas, já que era pra citar um filme, falei de Noite Passada em Soho (Last Night in Soho, no original), porque era o filme novo do Edgar Wright depois de Baby Driver.

Edgar Wright tem um currículo impressionante (e, inexplicavelmente, é um nome muito pouco conhecido). Ele fez a trilogia cornetto – que tem três nomes péssimos aqui no Brasil, Todo Mundo Quase Morto, Chumbo Grosso e Heróis de Ressaca. Ele também fez o genial Scott Pilgrim e a obra prima Baby Driver.

(Adoro Baby Driver, é um musical sem os atores cantando as músicas, tudo no filme está sincronizado com a trilha sonora.)

Para o bem e para o mal, Última Noite em Soho não quer ser um novo Baby Driver. Claro que heu queria ver outro filme com uma edição sonora como aquele, mas não reclamo de ver algo novo. Desta vez não é um filme de ação sincronizado com a parte musical; Wright nos apresenta um suspense com um toque sobrenatural e uma espécie de viagem no tempo. Achei que seria terror, mas acho que só adentra no universo do terror em alguns momentos na parte final. Mas, mesmo quando não é terror, tem um ou dois jump scares bem feitos.

Última Noite em Soho é extremamente bem filmado. O filme é cheio de cenas com espelhos, onde tem uma atriz de um lado e outra do outro lado. Não sei se ele tinha um cenário com um vidro no lugar do espelho, ou se ele filmou dois takes, um com cada atriz, só sei que o resultado ficou impressionante. Tem uma cena de uma dança, onde a câmera acompanha um casal, e a atriz é trocada durante a dança, várias vezes. Segundo o imdb, a dança foi coreografada, as atrizes realmente trocavam de lugar, sem efeitos especiais!

Aliás, preciso falar da atuação das duas atrizes. Thomasin McKenzie (Jojo Rabbit, Tempo) e Anya Taylor-Joy (Fragmentado, A Bruxa) estão ótimas! O roteiro dá espaço para as duas se desenvolverem, e ambas apresentam um resultado excelente. Tembém no elenco, Matt Smith, Terence Stamp e Diana Rigg – foi o último filme dela, antes de começar tem uma dedicatória “para Diana”.

Ah, sim, a reconstituição de época da década de 60 é fantástica. E, claro, depois de Baby Driver a gente precisa falar da trilha sonora. A trilha aqui, repleta de músicas da década de 60, ajuda a entrar no clima. E sempre as músicas são bem colocadas dentro do filme. Acho que só tem uma música que não é dos anos 60, uma música da Siouxsie and the Banshees – que aliás, é usada numa cena onde a edição do áudio ajuda o clima hipnótico vivido pela personagem.

(Descobri que duas músicas que gosto, da década de 80, são covers de músicas dos anos 60! I’ve got my mind set on you, que achava que era do George Harrison, teve uma gravação em 1962 por James Ray. E Always Something There to Remind Me, que achei que era da banda Naked Eyes, foi composta por Burt Bacharach e Hal David, e foi gravada por Sandie Shaw em 1964!)

O fim do filme traz um plot twist bem bolado – algumas pistas são deixadas ao longo do filme, mas posso dizer que não peguei essas pistas e gostei do plot twist.

Não tem cenas pós créditos, mas tem várias paisagens londrinas vazias – esses takes foram feitos durante o lockdown, quando não tinha ninguém nas ruas.

Segundo o imdb, Edgar Wright está trabalhando numa nova versão de O Sobrevivente / The Runing Man. Aguardemos.

Observadores / The Voyeurs

Crítica – Observadores / The Voyeurs

Sinopse (imdb): Pippa e Thomas entram no apartamento de seus sonhos, apenas para notar que suas janelas olham diretamente para o apartamento do outro lado da rua, pondo em movimento uma cadeia de eventos que levarão ao desastre.

Outro dia li uma crítica sobre este Observadores que falava que era um suspense com um bom plot twist no final. Vou dizer que isso foi o que me convenceu a ir até o fim do filme. Porque o filme é bem fraquinho.

A premissa é boa. Um casal jovem se muda para um apartamento com grandes janelas onde podem bisbilhotar os vizinhos. Ok, ninguém espera um novo Janela Indiscreta. Mas esse tema poderia render uma boa história.

Aliás, é bom avisar que Observadores tem uma boa quantidade de nudez e sexo. E aqui faz parte do contexto, não é que nem o top 10 de nudez gratuita que fiz há um tempo aqui no site. A nudez aqui faz parte da história.

O problema é que o roteiro abusa da boa vontade do espectador em aceitar ideias absurdas, tipo um microfone laser pra ouvir o apartamento ao lado. Acrescente a isso uma protagonista que, obcecada, passa a ter várias atitudes pouco inteligentes.

Mas segui, esperando o plot twist, que é razoável. Realmente o filme ganha um upgrade nesse momento – apesar de tudo ser um plano mirabolante demais. Mas, logo depois, se desenvolve pra um final bem ruim.

Sobre o elenco gostei da protagonista Sydney Sweeney. Sua personagem toma atitudes sem sentido, mas, mas a atriz consegue extrair daí uma boa atuação. Por outro lado, não tenho ideia do que aconteceu com a voz do seu companheiro de tela, Justice Smith. Céus, se a voz do cara é assim, ele deveria procurar um fonoaudiólogo antes de aceitar o próximo papel. Também no elenco, Ben Hardy e Natasha Liu Bordizzo funcionam como o casal bonitinho e sem nenhuma profundidade.

No fim, fica aquela sensação de oportunidade perdida. Podia ter sido um filme bom, mas ficou só na intenção.

O Culpado

Crítica – O Culpado

Sinopse (imdb): Um policial rebaixado designado para o escritório de chamadas fica em conflito quando recebe uma ligação telefônica de emergência de uma mulher sequestrada.

Filme novo da Netflix, O Culpado (The Guilty, no original) é uma daquelas produções diminutas, baseadas em um ator e um ou dois cenários – tipo Oxigênio, outro filme Netflix que falei aqui outro dia.

Filmes assim precisam se apoiar em algumas coisas, como um bom roteiro (precisa manter o espectador interessado mostrando o mesmo personagem e o mesmo cenário); uma direção criativa (mais uma vez, pra não cansar o espectador) e um bom ator protagonista.

O Culpado é refilmagem do dinamarquês Culpa, de 2018, que chegou a ser pré selecionado ao Oscar de melhor filme estrangeiro de 2019 (existe uma lista maior antes de divulgarem os cinco candidatos ao prêmio). Não vi o original, não sei o quanto a história se parece. O roteiro desta refilmagem é eficiente ao segurar a atenção do espectador por quase uma hora e meia, guardando alguns segredos sobre o protagonista e um plot twist meio previsível no terço final.

A direção é de Antoine Fuqua, que já fez bons filme em grandes produções, como Dia de Treinamento, O Protetor e Sete Homens e um Destino – mas também nos trouxe o fraco Infinite, lançado este ano. Com poucas opções de cenários, Fuqua procura ângulos diferentes e incomuns pro espectador se aproximar do protagonista e não se cansar.

O grande trunfo de O Culpado é Jake Gyllenhal, que também aparece como produtor. Ele está muito bem, seu personagem tem um dilema moral que só é revelado no fim do filme, e ele fica obcecado tentando resolver o problema do sequestro que guia o filme inteiro.

Alguns coadjuvantes aparecem aqui e ali, mas o filme é quase todo com Jake Gyllenhal aparece em tela, falando ao telefone. E ter um grande diretor e um grande ator ajuda no elenco de apoio. Ethan Hawke, Riley Keough, Peter Sarsgaard e Paul Dano fazem algumas das vozes ao telefone com Gyllenhal.

Não gostei muito do fim do filme, o plot twist já era esperado, e achei que depois de tudo revelado, o filme ainda se estica alguns minutos desnecessariamente. Mesmo assim, achei um resultado positivo.

Oxigênio

Crítica – Oxigênio

Sinopse (imdb): Uma mulher acorda em uma câmara criogênica sem se lembrar de como chegou lá. Como ela está ficando sem oxigênio, ela deve reconstruir sua memória para encontrar uma maneira de sair de seu pesadelo.

Antes de tudo, é importante falar: Oxigênio (Oxygen, no original) é um filme que vale ser visto sem você saber nada. A protagonista acorda sem saber o que está acontecendo, e o espectador vai aos poucos descobrindo junto com ela. E as informações são bem dosadas, proporcionando alguns plot twists bem colocados.

Oxigênio é um filme pequeno. Quase todo o filme tem um cenário diminuto e uma única atriz em tela (interagindo com a voz de uma Inteligência Artificial). Até tem algumas poucas cenas mostrando outros cenários e outros personagens em flashbacks, mas é pouca coisa – quase tudo se passa dentro da câmera criogênica, e em tempo real.

A ideia lembra Enterrado Vivo, aquele onde Ryan Reynolds passa o filme todo dentro de um caixão (um filme ainda mais radical, porque, se não me falha a memória, não tem nenhuma cena fora do caixão).

O diretor é Alexandre Aja – gosto dele, ele dirigiu Alta Tensão, da onda do cinema francês ultra violento; a refilmagem de Viagem Maldita; Piranha, que é galhofa mas divertido. Aja também escreveu os roteiros de P2 Sem Saída e Maníaco, aquele do assassino serial em câmera pov. Ok, reconheço que não tem nenhum filmaço, mas são vários bons filmes, digamos que ele passa na média.

Oxigênio é uma produção bem mais modesta, e mesmo assim tem um resultado melhor que o último do diretor (Predadores Assassinos). Aliás, esse é um filme com a cara da pandemia – mesmo nos poucos flashbacks, não vemos muitas pessoas juntas. Dá pra filmar se aglomerar!

Ok, entendo que a gente precisa de uma suspensão de descrença pra aceitar tudo o que a IA consegue fazer. Mas, se a gente embarcar na premissa que sim, a IA tem aquele poder, Oxigênio flui bem.

O grande lance aqui é a claustrofobia e a tensão – o oxigênio está acabando a cada minuto que passa! Apesar de ser um espaço minúsculo, Aja consegue vários ângulos dentro da câmara criogênica, e o filme nunca cai no marasmo.

Claro que a atuação da Mélanie Laurent (Bastardos Inglórios, Truque de Mestre) ajuda. Com vários closes no seu rosto, Mélanie passa o desespero de quem tem pouco tempo pra descobrir o que está acontecendo. O único outro ator que precisa ser citado é Mathieu Almaric (O Som do Silêncio), que não aparece, mas empresta a sua voz pra IA que conversa com ela durante todo o filme.

Heu poderia falar mais, mas, como falei no início, Oxigênio é daqueles filmes que é bom a gente não saber muito, então, como propus fazer comentários sem spoilers, vou ficando por aqui. Mas confirmo: pra mim foi uma agradável surpresa ver cada pequeno plot twist.

Cidade Invisível

Crítica – Cidade Invisível

Oba! Folclore nacional!

Sinopse da Netflix: Após uma tragédia familiar, um homem descobre criaturas folclóricas vivendo entre os humanos e logo se dá conta de que elas são a resposta para o seu passado misterioso.

Sempre fui fã do folclore nacional. E sempre defendi que isso geraria boas histórias fantásticas pro cinema. Pra provar que falo isso há tempos, vou deixar aqui o link de um curta de metragem de terror que fiz com o Boitatá. O curta não é muito bom não, fiz coisa melhor depois, mas, vale o registro!

(Ainda dentro do tema, recomendo o filme Fábulas Negras, organizado pelo Rodrigo Aragão. São 5 curtas, dirigidos pelo próprio Aragão, além de Zé do Caixão, Joel Caetano e Peter Baiestorf, e mostrando Monstro do Esgoto, Loira do Banheiro, Iara, Saci e Lobisomem. Dá pra fazer uma sessão com o meu curta e depois esse filme! 🙂 )

Vamos à série. Produção Netflix, Cidade Invisível é uma criação do Carlos Saldanha. Pra quem não ligou o nome à pessoa, Carlos Saldanha é um dos brasileiros mais bem sucedidos em Hollywood. Ele dirigiu os três primeiros A Era do Gelo, Touro Ferdinando e os dois Rio – todos, longas de animação da Blue Sky. Ele foi indicado duas vezes ao Oscar, por Touro Ferdinando e por um curta do esquilinho Scratch. E agora ele estampa o nome na abertura de Cidade Invisível – não sei o quanto ele esteve envolvido na produção. São sete episódios, dirigidos por Luis Carone e Julia Jordão. A série é baseada na história desenvolvida pelos roteiristas e autores de best-sellers Raphael Draccon e Carolina Munhóz.

E, olha, como é legal ver uma produção bem feita, usando as nossas lendas!
Várias gerações de brasileiros cresceram lendo livros e vendo adaptações na TV do Sítio do Pica Pau Amarelo. Ok, sei que existe uma polêmica hoje em dia envolvendo o Monteiro Lobato, mas não quero falar do homem, e sim da sua obra. Se hoje a gente fala sobre Saci, Cuca, Boitatá, Caipora e afins, muito se deve ao Monteiro Lobato e aos livros do Sítio. E heu sempre achei que essas lendas poderiam gerar histórias fantásticas pra adultos (tanto que fiz o curta do Boitatá e tinha um projeto pra fazer da Iara). E fiquei muito satisfeito com o resultado de Cidade Invisível. O clima é sério, é uma série de investigação policial, e os efeitos especiais são discretos e funcionam bem (um problema que Fábulas Negras teve foi a caracterização do Saci, ficou tão tosco que provocava risadas em vez de dar medo).

A trama foi adaptada pra se passar nos dias de hoje, em uma cidade grande – no caso, o Rio de Janeiro. Decisão arriscada, mas gostei – o mais fácil seria se passar no interior, em um tempo indeterminado, sempre que alguém fala em Saci ou Iara a gente logo pensa em fazendas e florestas. Colocar essas entidades na Lapa foi uma ótima sacada! Quem frequenta a Lapa sabe que, se tem gente estranha e diferente no Rio, é lá que eles vão se encontrar!

(Causos curiosos: lembro de ter encontrado o Jimmy London, o Tutu, em um show do Canastra, na Lapa. Me senti em casa vendo a série.)

Ouvi críticas com relação a isso, que Cidade Invisível deveria se passar no interior, que o boto é uma lenda da região Norte e não deveria ser encontrado em uma praia no Rio, etc. Ok, entendo as críticas, realmente folclore tem mais cara de interior rústico do que cidade grande cosmopolita. Mas, por outro lado, acho que os realizadores quiseram aproveitar o potencial turístico pra fazer um produto mais fácil de vender. Vamulá, a gente sabe que o Rio é uma das coisas mais famosas do Brasil. Deve ficar mais fácil vender um produto brasileiro se tiver paisagens conhecidas mundialmente, não? E, disse antes, repito: achei a adaptação muito boa.

(Heu mesmo, nos meus curtas, já usei paisagens turísticas. Pô, se moro aqui, por que não usar os cenários que estão disponíveis na minha cidade?)

Agora, gostei da adaptação, mas também tenho um mimimi, cabe aqui? Achei que a Iara tinha que ser uma índia! Adorei a personagem adorei a atriz, mas, pra mim, Iara tinha que ser índia. E queria ver a Cuca em versão “jacaré”!

Aproveitando que falei da Iara, preciso dizer: que cena maravilhosa aquela onde a gente descobre quem ela é, e como ela hipnotiza com seu canto e leva para a água! A cena ficou fantástica!

Aliás, não só a Iara. Uma coisa legal de Cidade Invisível é esse jogo de tentar entender quem é cada entidade. Não sei se gostei de ver a origem de cada uma (prefiro uma entidade que sempre foi aquilo, em vez de uma pessoa que virou entidade), mas isso não chega a atrapalhar.

Já que falei das entidades, vou me aprofundar um pouco. Queria ter visto a Cuca “jacaré”, mas, mesmo assim, achei que todas estão muito bem representadas na tela. Adorei o Curupira! Quero ver um spin-off com esse Curupira! E o Saci ter uma perna mecânica foi uma sacada de gênio!

Vamos aproveitar pra falar do elenco. Acho que heu só conhecia a Alessandra Negrini (e o Jimmy London como músico, nem sabia que ele atuava). Não conhecia o resto, gostei de todos, mas não vou entrar em detalhes aqui, porque não quero falar quem faz cada entidade. Mas, se fosse escolher um pra ganhar o prêmio de melhor atuação, com certeza seria o que faz o Curupira. Vamos aos nomes, sem especificar quem é quem: Marco Pigossi, Alessandra Negrini, Áurea Maranhão, Fábio Lago, Jéssica Córes, Wesley Guimarães, José Dumont, Jimmy London e Victor Sparapane.

A história fecha no fim do último episódio, mas deixa um gancho para continuar. Que venha a segunda temporada!

Run

Crítica – Run

Sinopse (imdb): Uma adolescente que estuda em casa começa a suspeitar que sua mãe está escondendo dela um segredo sombrio.

Quando vi quem era o diretor deste novo filme da Hulu, corri pra ver (sem trocadilhos). Run foi escrito e dirigido por Aneesh Chaganty, o mesmo de Buscando…, uma das melhores surpresas cinematográficas de 2018 – um filme de diretor estreante e orçamento modesto, onde tudo se passa através de uma tela de computador, numa variação do estilo found footage (com navegação pela internet, google, youtube, facebook, twitter, interações com aplicativos de chat com imagens ao vivo, além de noticiários de tv e vídeos de câmeras de segurança). E o melhor de tudo: o resultado ficou excelente!

Agora, em Run, Chaganty, mais uma vez com uma produção modesta, com elenco reduzido e poucas locações, consegue fazer um suspense de fazer o espectador se contorcer na poltrona. A trama pode não ser exatamente algo novo (é até um pouco previsível), mas o modo como Chaganty apresenta a história vale o ingresso.

Chaganty não esconde de ninguém a influência / homenagem a Stephen King. Não só a cidade fictícia Derry é citada (cidade onde várias histórias do Stephen King se passam, como It), como a atendente da farmácia se chama Kathy Bates. Se o clima aqui é parecido com Louca Obsessão, nada mais justo que deixar isso explícito e ter um personagem com o nome da atriz principal do outro filme. Assim ninguém reclama que é plágio!

Precisamos falar das duas atrizes principais. A mãe é a Sarah Paulson, atriz reconhecida por vários filmes e séries – o curioso é que ela sempre me lembra a série Studio 60 on the Sunset Strip, que era uma série bem legal, que só teve uma temporada, que mostrava os bastidores de um programa tipo Saturday Night Live, e que acho que ninguém mais viu. Já a filha é a estreante Kiera Allen, e que, assim como sua personagem, também é cadeirante na vida real. Chaganty quis escalar uma atriz com deficiência, afirmando que Hollywood raramente escolhe atores com deficiência para papéis assim. E ambas, tanto Sarah quanto Kiera, estão ótimas. Ambas dão show.

Como falei antes, se Run tem um problema é que não é uma novidade – li por aí que tem uma série que trata de um tema parecido, mas não vou deixar aqui qual série porque seria um spoiler. Mas, mesmo não sendo novidade, curti muito a viagem que Chaganty proporcionou, uma hora e meia de tensão bem filmada. E adorei a última cena! Sr. Chaganty, aguardamos seu terceiro filme!

Na Pedreira / En El Pozo

Crítica – Na Pedreira / En El Pozo

Sinopse (Cinefantasy): Uma tarde de verão, uma pedreira abandonada, quatro amigos. Um thriller interpelante sobre violência de gênero.

Escrito e dirigido pelos irmãos Bernardo e Rafael Antonaccio, o uruguaio Na Pedreira (En El Pozo no original; In The Quarry em inglês) é um exemplo de que se pode fazer um bom filme com orçamento reduzido. Apenas quatro atores (Rafael Beltrán, Augusto Gordillo, Luis Pazos e Paula Silva), apenas um cenário, toda a trama se passa em um dia. E tudo funciona bem.

A trama é construída em cima da tensão entre os personagens por causa do ciúme de um deles – a namorada dele é amiga de infância dos outros dois. Na minha humilde opinião, seria ainda melhor se algumas coisas ficassem subentendidas no relacionamento do triângulo, mas mesmo assim gostei do desenvolvimento do roteiro. Curtinho, uma hora e vinte e dois minutos onde a gente nem tem vontade de ver o relógio.

Na Pedreira estava na programação do Cinefantasy. Não sei quando será lançado, nem por onde. Mas sugiro ficar de olho pra assistir quando estiver disponível!

Entre Facas e Segredos

Crítica – Entre Facas e Segredos

Sinopse (imdb): Um detetive investiga a morte de um patriarca de uma família excêntrica e combativa.

Uma agradável surpresa pouco antes de fechar o ano!

Entre Facas e Segredos (Knives Out, no original) se parece com um “whodoneit”, aquelas histórias tipo Agatha Christie, onde temos um crime e vários possíveis suspeitos. Mas Entre Facas e Segredos faz ainda melhor, porque altera a forma clássica do whodoneit no meio do caminho.

Entre Facas e Segredos foi escrito e dirigido por Rian Johnson, dois anos depois do Star Wars ep. 8. Interessante ver que ele foi para um estilo bem diferente – e que ele foi bem sucedido nessa nova empreitada. O roteiro é muito bem construído, não só na condução da investigação, como também no equilíbrio entre os muitos personagens.

Ah, o elenco! Que elenco maravilhoso! Não é todo dia que temos Daniel Craig, Chris Evans, Ana de Armas, Jamie Lee Curtis, Michael Shannon, Don Johnson, Toni Collette, LaKeith Stanfield, Christopher Plummer, Katherine Langford, Jaeden Martell, Riki Lindhome, Edi Patterson – e ainda tem o Frank Oz em uma ponta como o advogado! Arrisco a dizer que todos estão bem, mesmo aqueles com menos tempo de tela.

Recomendo!

p.s.: Heu não fui o único a achar o roteiro muito bom. Rian Johnson foi indicado ao Oscar de roteiro original.

O Juízo

Crítica  – O Juízo

Sinopse (google): Em crise no casamento devido ao alcoolismo e por ter perdido o emprego, Augusto Menezes decide se mudar com esposa e o filho para uma fazenda herdada de seu avô. O que ele não imaginava era que a propriedade fosse assombrada por Couraça e Ana, escravos decididos a se vingar dos antepassados de Augusto.

Oba! Mais filme de gênero nacional!

O Juízo é um “suspense sobrenatural”*. Mas, diferente da maior parte dos filmes nacionais fantásticos feitos com poucos recursos, O Juízo tem pedigree, é uma produção da grande Conspiração Filmes. Digo mais: parece ser um projeto da família Torres Waddington – o filme é dirigido por Andrucha Waddington, roteirizado por sua esposa Fernanda Torres, e tem no no elenco Fernanda Montenegro (mãe da Fernanda Torres) e Joaquim Torres Waddington (o filho mais velho do casal). Curioso que uma família tão ligada ao cinema tradicional tenha um projeto com cinema de gênero…

O Juízo não é um grande filme, não é um “novo clássico do cinema nacional”. Mas tem seus méritos. Gosto muito da câmera do Andrucha Waddington. Os cenários no casarão no meio do mato são ótimos – o detalhe de não ter energia elétrica na casa ajuda no clima. A trama ainda tem plot twists, e adorei a cena do acidente de carro.

O elenco é excelente. O casal principal, Felipe Camargo e Carol Castro, está bem; Joaquim Torres Waddington, em seu primeiro filme, também segura a onda. Fernanda Montenegro e Lima Duarte, monstros da atuação brasileira, são sempre ótimos. Mas, pra mim, o destaque é Criolo, que está assustador.

Agora, uma história pessoal. Meu filho estuda no colégio com o filho caçula do Andrucha. Num evento na escola, comentei que estava ansioso pra ver o filme, e ele me disse “vou te chamar pra pré estreia”. Veio o convite, fui feliz ao cinema, acompanhado do meu amigo Sergio Junior, do podcast Frequência Fantasma – ver um filme de graça, com direito a pipoca e refri, já era um bom programa por si só. Mas, encontrei a Fernanda Torres, e a sessão virou um evento inesquecível. Ela me perguntou qual sala que heu estava. “Vem ver o filme com a gente, na nossa sala”, e a assessora me deu dois convitinhos com um “R” escrito no canto. Entramos na sala, nos informaram “o ‘R’ é de reservado, vocês podem sentar ali, junto com a equipe e o elenco”. Sentamos numa fileira meio vazia, e aos poucos vieram sentar em volta. Na poltrona ao meu lado, Lima Duarte. Ao lado dele, Carol Castro, e logo depois, Felipe Camargo. Fernanda Montenegro e Gilberto Gil se sentaram pouco atrás.

É, amigos. Ver um filme com essa galera em volta foi uma grande noite!

*Lima Duarte, ao meu lado, antes do filme, puxou papo, e disse que esse era um “suspense sobrenatural”. Gostei, vou usar!

Não Olhe

Crítica – Não Olhe

Sinopse (imdb): Não Olhe é um thriller psicológico que conta a história de Maria, uma estudante de segundo grau alienada cuja vida é virada de cabeça para baixo quando ela troca de lugar com sua sinistra imagem no espelho.

Chega às telas Não Olhe (Look Away, no original), mais um terror / suspense meia boca.

O pouco conhecido roteirista e diretor Assaf Bernstein até consegue criar um clima interessante, e os efeitos simples de espelho são bem utilizados. Mas, por outro lado, o roteiro tem uns furos horríveis (como um personagem que some da trama depois que é atacado pela protagonista). E achei o final bem fuén.

No elenco, a protagonista India Eisley até funciona bem no papel duplo. Jason Isaacs (o Lucius Malfoy de Harry Potter) não atrapalha, com um personagem bem antipático. A decepção fica com a sumida Mira Sorvino, que deveria ter continuado sumida em vez de aceitar um papel ruim num filme idem.

Talvez seja melhor seguir o conselho dado no título e olhar outro filme…