Abraço de Mãe

Crítica – Abraço de Mãe

Sinopse (imdb): Durante uma grande tempestade no Rio de Janeiro em 1996, a bombeira Ana e sua equipe de bombeiros precisam evacuar uma casa de repouso em colapso, mas os misteriosos residentes têm outros planos sinistros.

Ih, olha lá, tem terror nacional novo na Netflix!

Quando li sobre Abraço de Mãe, achei que era um filme argentino, porque o diretor Cristian Ponce é argentino. Mas não, é uma produção brasileira. Legal!

Abraço de Mãe traz a história de Ana. Depois de um prólogo nos anos 70 que explica seu trauma de infância, vemos Ana trabalhando no corpo de bombeiros, na época de uma grande chuva no Rio de Janeiro, em 1996.

(Curioso que pelo filme, o Rio de Janeiro teria tido uma traumática tempestade em 1996. Morei quase minha vida inteira no Rio, já vivi grandes chuvas em diversos anos, não me lembro de 96 ter sido pior…)

Tecnicamente, Abraço de Mãe é muito bom. Bom elenco, bons cenários, boa reconstituição de época, efeitos especiais simples e eficientes. O melhor aqui é o clima de mistério que rola naquele asilo onde boa parte do filme se passa. Excelente uso da locação. Outro ponto a ser elogiado é o elenco. Principalmente a protagonista Marjorie Estiano. Sou fã dela pela série Sob Pressão, e aqui ela dá um show.

Mas… O clima é muito bom, a trama é envolvente e está andando num bom ritmo, mas o final aberto demais me incomodou. Preciso falar do final. Segue um aviso de spoilers:

SPOILERS!

Na minha humilde opinião, o final do filme é decepcionante. Abraço de Mãe levanta algumas coisas legais e instigantes, mas não desenvolve nada. Vemos que existe um monstro ou criatura, vemos garras e tentáculos, mas não sabemos o que é a criatura, se é algo sobrenatural ou alienígena ou sei lá o que poderia ser. Vemos que pessoas estavam esperando uma grande tempestade pra fazer um culto ou algo parecido, mas não sabemos o que seria aquilo. A filha do argentino estava sendo preparada, mas não sabemos para que.

Não acho que um filme precisa explicar todos os detalhes, mas levantar ideias boas e não desenvolvê-las me pareceu um desperdício. Sempre defendo filmes curtos, mas neste caso em particular, acho que seria melhor ver mais 10 minutos mostrando mais cenas sobre esses elementos misteriosos.

FIM DOS SPOILERS!

Mesmo decepcionado com o final, ainda acho que Abraço de Mãe foi uma boa experiência. Que vejamos mais terror nacional na Netflix!

Terrifier 3

Crítica – Terrifier 3

Sinopse (imdb): Art, o Palhaço, está pronto para espalhar o caos sobre os moradores inocentes do Condado de Miles enquanto eles dormem pacificamente na véspera de Natal.

Projeto do diretor e roteirista Damien Leone, Terrifier é uma franquia que não se baseia na qualidade dos filmes, e sim no exagero do gore. Se outros filmes slasher pensam na classificação indicativa e seguram a onda em alguns aspectos, aqui o gore é propositalmente gráfico e explícito. O espectador só tem uma certeza: vai ver muito sangue e gente morrendo das piores maneiras possíveis.

Precisamos tirar o chapéu pra Damien Leone. O cara fez um curta em 2008 com o personagem Art, outro curta em 2011, em 2013 juntou os dois curtas e mais um terceiro em uma antologia (All Hallows’ Eve), até que conseguiu seu primeiro longa em 2016. E este terceiro filme custou apenas 2 milhões e já rendeu mais de 50, ou seja, teremos o quarto filme em breve.

Agora, este Terrifier 3 tem um problema estrutural. Heu explico. O primeiro Terrifier era quase um projeto amador, foi bancado por crowdfunding e pouca gente viu. Mas como rendeu bem mais do que custou, abriu espaço para um segundo filme em 2022, que foi visto por mais gente. Mais um sucesso, e agora temos um terceiro filme, que provavelmente será visto por ainda mais pessoas. Provavelmente vai ter muita gente indo ao cinema sem ter visto nenhum dos outros dois. E não existe um resumo da história pra contextualizar o espectador. Ou seja, vai ter espectador perdido…

Fui um desses espectadores perdidos. Não vi o primeiro filme, só vi o segundo. E fiquei me perguntando – quem é aquela companheira do palhaço Art? Ela estava no primeiro filme…

Enfim, vamos ao filme. Mais uma vez, temos um banho de sangue, desta vez numa produção bem melhor do que os dois filmes anteriores (agora não parece mais um filme amador). O roteiro continua fraco? Sim. Mas a maior parte do público que vai ver Terrifier quer ver o banho de sangue e não vai se importar com o roteiro.

Na minha humilde opinião, o melhor de Terrifier 3 mais uma vez está no palhaço Art, interpretado por David Howard Thornton. Art não fala, ele é um mímico, que faz caras e bocas o filme inteiro. É um personagem genial! E violentíssimo! Tanto que conseguiu algo raro: entrou no “hall da fama de vilões slasher pop”, ao lado de vilões icônicos como Leatherface e Michael Myers (anos 70), Jason Vorhees, Freddy Kruger, Pinhead e Chucky (anos 80), Ghostface e o Pennywise (anos 90) – acho que o último que tinha surgido foi o Jigsaw em 2004, vinte anos atrás.

Alguns amigos acharam este mais violento que o segundo, por causa de uma cena envolvendo ratos. Discordo, pra mim o segundo foi pior, porque tem uma longa cena de tortura, que se estende mais do que o bom senso sugere. Dito isso, o espectador que entrar no cinema querendo ver gore não sairá decepcionado.

Agora, tem um limite que me incomodou: crianças. Me divirto vendo sangue e gore com personagens adultos, mas quando envolve criança, pelo menos pra mim perde a graça. Achei desnecessário.

E preciso comentar sobre o roteiro. Damien Leone conseguiu um grande feito trazendo o seu palhaço Art para o grande público, mas o roteiro mais uma vez não é bom. Terrifier 3 gasta tempo demais com a família no início do filme, e a relação entre Art e sua companheira não é bem desenvolvida – determinado momento do filme parece que ela manda nele. E, pra piorar, o filme é longo demais, tem pouco mais de duas horas, quando uma hora e meia já era mais que o suficiente.

Enfim, isso não deve incomodar o espectador fã do palhaço Art. Porque esse quer ver sangue, e vai sair do cinema satisfeito.

Por fim, só queria deixar registrado que tem uma ponta do Tom Savini. A gente vê que uma franquia tá fazendo sucesso quando tem moral pra chamar um cara desses!

Strange Darling

Crítica – Strange Darling

Sinopse (imdb): Nada é o que parece quando um caso de uma noite se transforma em uma violenta onda de assassinatos cometidos por um serial killer.

Estou com vários filmes do circuito pra comentar, mas quando aparece um filme como Strange Darling, ele fura a fila!

Escrito e dirigido por JT Mollner, Strange Darling está longe de ser um filme convencional. Antes de começar, aparece escrito na tela que é uma história dividida em 6 capítulos. E começa pelo capítulo 3!

Essa ordem não cronológica é uma sacada genial do roteiro, porque nada é o que parece ser. Fui genuinamente surpreendido mais de uma vez ao longo do filme. A gente acha que a história está indo pra uma direção, mas na verdade vai pra outro caminho completamente diferente. Aliás, é bom avisar: evite spoilers sobre Strange Darling. A única coisa que você deve saber é que é um filme de serial killer. Só.

(E por isso o meu texto vai ser enxuto, não quero dar spoilers.)

As atuações estão ótimas. Kyle Gallner está bem, e Willa Fitzgerald está ainda melhor. Pena que Strange Darling não tem o perfil que chama a atenção de grandes premiações, porque ela poderia tranquilamente ser indicada a um prêmio de melhor atriz. O elenco também traz uma curiosidade: o casal de velhinhos hippies é interpretado pelos veteranos Barbara Hershey e Ed Begley Jr.

Ah, falando de um ator, mas que não está atuando, Giovanni Ribisi (O Dom da Premonição) aqui trabalha como diretor de fotografia.

Por fim, antes de começar o filme tem uma cartela avisando que o filme foi filmado em 35mm. Bacana ver que temos uma escolha tradicional e analógica. Mas, achei inútil pra um filme que não será visto nos cinemas aqui no Brasil.

Filmaço. Grandes chances de entrar no top 10 do ano aqui no heuvi.

Sorria 2

Crítica – Sorria 2

Sinopse (imdb): Prestes a embarcar em uma turnê mundial, a cantora pop Skye Riley começa a viver experiências aterrorizantes e inexplicáveis. Tomada pelo horror e pela pressão da fama, Skye é forçada a confrontar seu passado.

A regra em Hollywood é clara: se um filme de terror barato faz sucesso, logo vem a continuação.

Mais uma vez escrito e dirigido por Parker Finn, Sorria 2 (Smile 2, no original) é bem semelhante ao primeiro Sorria, tanto nos pontos positivos quanto nos negativos. De positivo, preciso dizer que gosto da direção de Finn, gosto de como ele posiciona e movimenta sua câmera. Sorria 2 tem alguns planos sequência bem legais, inclusive a sequência inicial é um impressionante take único, que se heu estivesse vendo em casa, certamente ia voltar pra rever. (Ainda tem pelo menos dois bons planos sequência, um com a protagonista arrumando as malas em casa, outro com ela fugindo do hospital).

Agora, o final tem uns elementos que não gostei, como quando aparece uma desnecessária criatura, mas é uma criatura que também estava no primeiro filme. Ou seja, são elementos que têm a ver estarem aqui, mas, na minha humilde opinião, não foi bom da primeira vez, e continua não sendo bom.

Sorria 2 tem outro problema: é longo demais. São duas horas e sete minutos, e nada justificava uma duração tão longa. E aí a gente lembra que tem momentos musicais longos que poderiam facilmente ser reduzidos ou mesmo cortados.

Assim como no filme anterior, Sorria 2 tem vários jump scares. E tem algumas cenas onde o gore é bem explorado. Agora, tem uns momentos que acho que a ideia era fazer algo assustador, mas na verdade me causou gargalhadas, como as alucinações com o corpo de bailarinos perseguindo a protagonista.

No elenco, Naomi Scott (Power Rangers, Aladdin, As Panteras) está muito bem, e consegue trazer a intensidade necessária a uma personagem desesperada porque não consegue controlar suas alucinações. A personagem dela tem um detalhe interessante: ela tem um passado de uso de drogas, então para as pessoas em volta, essas alucinações poderiam ser algo ligado a isso. Ainda no elenco, uma curiosidade: o namorado da protagonista, morto no acidente, é interpretado por Ray Nicholson, filho de um tal de Jack Nicholson.

O fim do filme abre um gancho pra um terceiro filme que tem o potencial de expandir essa proposta da maldição que passa de pessoa pra pessoa. Pode ser legal, mas pode dar muito errado. Aguardemos.

Deadstream

Crítica – Deadstream

Sinopse (imdb): Uma celebridade da Internet que foi desmonetizada após uma polêmica envolvendo seus vídeos decide reconquistar os seguidores com um evento exclusivo: uma live transmitida do interior de uma casa assombrada.

Imagina se o Sam Raimi resolvesse fazer uma versão found footage de Evil Dead? Ia sair algo parecido com este Deadstream, produzido, co escrito, co dirigido e estrelado por Joseph Winter.

O filme todo é focado em um personagem, um youtuber que passou por polêmicas e foi desmonetizado, e que agora quer fazer uma live passando uma noite numa casa mal assombrada para reconquistar a audiência. E claro que coisas vão dar errado durante esta live.

Deadstream é sem dúvidas um filme de terror, inclusive rolam alguns jump scares bem bolados. Mas é ao mesmo tempo um filme muito engraçado. Heu diria que o filme me causou mais gargalhadas do que sustos.

Deadstream é nitidamente um filme de orçamento baixíssimo. E Joseph Winter é o nome aqui: além de ser o protagonista, ele está no roteiro, produção, direção, edição e trilha sonora (sim, found footage com trilha sonora, ele leva um gravadorzinho e toca a trilha pra criar um clima). Aliás, tem outro nome a ser citado, fui ver no imdb, Jared Cook aparece em nove funções fora das telas, além de aparecer rapidamente em uma das cenas. Provavelmente são dois amigos que desenvolveram a ideia, e preciso dar meus parabéns pra eles!

O roteiro não é perfeito, tem algumas pontas soltas aqui e ali (tipo quando ele levanta o lance dos direitos autorais e depois deixa isso pra lá). Por outro lado, o roteiro sabe equilibrar bem os momentos tensos / engraçados ao longo do filme.

Falando na parte comédia: o protagonista Shawn Ruddy criado por Joseph Winter é carismático e muito engraçado. Ele não copia o Ash de Evil Dead, ele é mais medroso. Confesso que ri algumas vezes em momentos que ele se assustava.

Um outro trunfo de Deadstream são os efeitos práticos e de maquiagem (outra semelhança com Evil Dead) Determinados momentos do filme trazem um gore bem nojento, e ao mesmo tempo muito engraçado! Aliás, essas citações a Evil Dead são explícitas: reparem na tábua ouija, está escrito “Klaatu Verata Nikto”, frase tirada do filme do Sam Raimi.

Deadstream é de 2022, foi lançado lá fora pela Shudder. Ou seja, ver aqui no Brasil não é uma tarefa muito fácil. Mas recomendo!

I Saw the TV Glow

Crítica – I Saw the TV Glow

Sinopse (imdb): Dois adolescentes se conectam por causa de seu amor por um programa de TV sobrenatural, mas ele é misteriosamente cancelado.

Um amigo recomendou este novo filme da A24 usando as palavras “Porra, esqueci de te dizer, acho que vi o filme mais doido do car*lho da A24 até hoje. Que porra doida, bicho. Meu Deus. Não sei nem classificar o filme.”

E é isso mesmo. I Saw the TV Glow é uma “porra doida, bicho”.

Dois adolescentes esquisitões se aproximam porque ambos gostam de um programa de TV. Na verdade, ele não consegue acompanhar porque passa de noite e seus pais não deixam ele ficar acordado, então ele precisa passar a noite na casa dela, escondido, e depois ela passa a gravar e entregar fitas de VHS pra ele. Até que um dia ela diz que precisa ir embora, convida ele, mas ele não tem coragem. Ela desaparece, o programa é cancelado e ele fica duplamente sozinho. Ele tem uma vida medíocre, até que anos depois ela reaparece.

Sabe qual é o problema aqui? Heu não tenho nada contra filmes baseados em simbolismos, mas um filme desses precisa ser envolvente. De vez em quando vejo uns filmes onde não entendo nada, mas que o filme me envolve e me carrega na sua viagem. E não senti isso aqui. Achei I Saw the TV Glow apenas confuso. Um filme cabeça, confuso e, desculpe falar, chato.

Pelo que entendi lendo no imdb, o programa fictício Pink Opake é inspirado em Buffy. Talvez uma explicação seja que uma criança quando via Buffy achava um programa assustador, mas depois de adulta, ao rever, acharia a série meio boba.

(A fonte usada nos créditos de Pink Opake é a mesma fonte usada em Buffy. Uma das personagens de Pink Opake é chamada Tara, referencia à Tara Maclay, personagem de Buffy; e a atriz que interpretava Tara Maclay, Amber Benson, tem um papel aqui.)

Acabou o filme, fui catar explicações na internet. Li uma teoria que faz sentido: a diretora e roteirista Jane Schoenbrun é trans, então boa parte do que os personagens sentem está ligada a sentimentos reais que uma pessoa trans passa dentro da nossa sociedade. Ok, pode ser, isso explica algumas coisas. Mas pelo menos pra mim isso não “resolve o filme”, porque sempre defendo que um filme não deveria precisar de “manual de instruções”.

I Saw the TV Glow é estrelado por Justice Smith (Observadores) e Brigette Lundy-Paine (A Semente do Mal), que estão inexpressivos, mas não sei se isso é algo proposital pela proposta do roteiro. Agora, teve uma coisa que me incomodou. Inicialmente conhecemos os personagens adolescentes, pelo que entendi ele estaria no ensino fundamental e ela no ensino médio – heu chutaria que eles deveriam ter por volta de 13 e 15 anos, respectivamente, e nesse momento do filme, são interpretados por dois adolescentes. Aí a história pula dois anos, ou seja, eles teriam por volta de 15 e 17. Mas já vemos os atores adultos, e ambos têm quase 30 anos. Fica muito estranho ver um ator de 30 interpretando um adolescente do ensino médio. Era melhor contratar outros dois atores adolescentes…

Apesar de ser A24, não tenho ideia se I Saw the TV Glow vai estrear oficialmente aqui no Brasil. Mas só é recomendado pra quem curte uma “porra doida, bicho”.

A Substância

Crítica – A Substância

Sinopse (imdb): Uma celebridade em decadência decide usar uma droga do mercado negro, uma substância que replica células e cria temporariamente uma versão mais jovem e melhor de si mesma.

A ideia aqui era boa: uma estrela de um programa de fitness na TV está ficando velha, então oferecem a ela uma misteriosa substância que criaria uma nova versão dela, mais jovem. Essa substância vem com regras estritas, que claro que não serão seguidas, e claro que coisas vão dar errado. Uma bela crítica à exploração do corpo feminino pela mídia e ao etarismo.

É um filme fantástico, essa tal substância não tem nada ligado à ciência, não existe um laboratório ou uma clínica ou acompanhamento de médicos. Não tem nem uma cobrança financeira pelo tratamento! Aliás, fiquei pensando, se heu recebesse um daqueles kits, heu não saberia fazer aquela auto-aplicação.

A direção e o roteiro são de Coralie Fargeat, que em 2018 fez Vingança, filme que tinha uma premissa simples mas muito bem executada (uma mulher é estuprada e se vinga de seus agressores). Aqui é outra pauta feminista, mais uma vez muito bem executada.

Todo o visual do filme é muito bom. Cores, ângulos de câmera, edição, trilha sonora, efeitos sonoros, tudo carrega a trama num modo hipnotizante – são duas horas e vinte minutos de filme que fluem muito rápido. De quebra o fã de terror ainda vai encontrar várias referências, como a seringa de Re-Animator, o corredor de O Iluminado, os alienígenas de Bad Taste, o monstro de O Enigma de Outro Mundo, o banho de sangue de Carrie a Estranha

A Substância (The Substance, no original) traz diversas cenas visualmente bem desagradáveis, seja mostrando ferimentos, seja quando um personagem simplesmente mastiga a sua refeição (lembro de uma cena parecida em Vingança, Coralie consegue transformar o simples mastigar em algo nojento). A maquiagem é um dos destaques, usando o chamado “body horror”, que é quando vemos imagens que causam repulsa. Talvez isso afaste parte do público, mas, é algo que faz parte da história.

Mas acho que o maior destaque são as duas atuações principais. Tanto Demi Moore quanto Margaret Qualley estão ótimas! Demi Moore estava meio sumida, e heu diria que esse papel tem tudo a ver com ela, que era uma das mulheres mais bonitas da sua geração, e agora, com 61 anos (continua linda, diga-se de passagem), deve estar enfrentando problemas semelhantes aos de sua personagem.

Aliás, foi uma atuação, digamos, corajosa da Demi Moore, que faz várias cenas onde ela está nua – e não é nudez gratuita, se ela estivesse vestida, seriam cenas estranhas (assim como a sequência final de Vingança, onde o ator está completamente nu num longo plano sequência).

O principal papel masculino é de Dennis Quaid, que está caricato, mas todos os personagens masculinos aqui são caricatos. Faz parte da proposta. (Esse papel seria de Ray Liotta, que faleceu antes das filmagens começarem. Seu nome aparece nos créditos como uma homenagem.)

Não gostei da parte final. Vou falar, mas vou colocar aviso de spoilers.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

A protagonista gera uma cópia. No fim do filme, a cópia está se deteriorando e resolve fazer uma cópia da cópia, e isso gera um monstro. E essa versão monstruosa vai para o estúdio de TV e entra no programa ao vivo. Pra mim, essa parte do estúdio enfraqueceu o filme, nunca deixariam ela entrar na transmissão ao vivo daquele jeito. Ok, vira um banho de sangue, isso foi legal de ver, mas, essa sequência destoou do que a gente tinha visto até então. Por mim, era melhor cortar toda a parte do estúdio, e deixar só o finzinho – a cena final é boa.

FIM DOS SPOILERS!

Filmaço. A Substância é daquele tipo de filme que fica na sua cabeça por dias depois de ter visto. Agora quero esperar estrear pra poder rever.

Não Fale o Mal

Crítica – Não Fale o Mal

Sinopse (imdb): Uma família é convidada para passar um fim de semana em uma casa de campo tranquila, sem saber que suas férias dos sonhos logo se transformarão em um pesadelo psicológico.

Dois anos atrás, surgiu um filme dinamarquês chamado Speak no Evil, um filme muito bom, tenso e desconfortável, que só não entrou no meu top 10 de 2022 justamente por ser um filme que causava incômodo no espectador. Agora veio o anúncio da versão americana, prática comum quando um filme off-Hollywood chama a atenção, e que quase sempre traz um resultado é fraco.

Mas, olha, preciso dizer que foi uma agradável surpresa. Arrisco dizer que achei Não Fale o Mal melhor que o original dinamarquês!

Existem vários sub gêneros do terror. Pra mim, o pior é esse aqui: não existe um monstro ou algo sobrenatural. O terror está no comportamento humano. Isso é muito mais assustador que qualquer monstro!

Pra quem não viu o filme dinamarquês (acredito que muita gente): um casal com uma filha pré adolescente está de férias, conhece outro casal, também com filho pré adolescente, e acabam aceitando um convite para passar uns dias na casa do outro casal. O problema é que este outro casal tem alguns comportamentos bem estranhos, e tornam a estadia algo muito desconfortável – os hóspedes se sentem incomodados com os anfitriões “sem noção”, mas não sabem como sair de situações constrangedoras.

Dirigido por James Watkins (A Mulher de Preto), Não Fale o Mal (Speak no Evil, em inglês) é bem parecido com o original. Diria que mais ou menos 80% do filme segue quase igual (tirando uma cena aqui, outra ali, como a cena do banheiro na versão dinamarquesa, ou a cena do sexo oral na versão americana). Mas, na reta final da trama, o filme de 2024 se afasta totalmente. Aquele filme tinha um final pessimista, este novo traz uma reação dos personagens. Sim, talvez tenha gente reclamando “por ser mais um final típico hollywoodiano”, mas, nesse caso, pelo menos pra mim, funcionou melhor. Porque uma das coisas que me incomodou naquele filme de dois anos atrás foi justamente a apatia dos personagens – coisa que não acontece aqui.

Sobre o elenco, diferente do filme dinamarquês, a versão americana traz alguns nomes conhecidos. James McAvoy está ótimo, ele é um cara desequilibrado no ponto exato! Mackenzie Davis e Scoot McNairy fazem o casal visitante, e Aisling Franciosi completa o quarteto principal. Todos estão bem.

O final diferente aqui foi uma boa. Primeiro porque se o filme inteiro fosse igual, pra que existir uma nova versão? Além disso, algumas coisas do outro me incomodaram, e esse aqui “consertou” essas coisas, por isso gostei mais da nova versão. Mas mesmo assim ainda acho que vale o programa duplo. Veja as duas versões!

Hellboy e o Homem Torto

Crítica – Hellboy e o Homem Torto

Sinopse (imdb): Hellboy se une a uma agente novata da B.P.D.P. na década de 1950 e são enviados para os Apalaches. Lá, descobrem uma remota e assombrada comunidade, dominada por bruxas e liderada pelo sinistro demônio local, conhecido como o Homem Torto.

Ninguém pediu, mas tem um Hellboy novo em cartaz. O último, de 2019, foi tão irrelevante que nem me lembro de nada dele.

Em vez de um novo recomeço com uma nova história de origem, Hellboy e o Homem Torto (Hellboy: The Crooked Man, no original) traz uma história avulsa, e isso é uma boa coisa, porque não perdemos tempo e o filme já começa na ação. E preciso reconhecer que esse início foi bom, gostei da sequência dentro do vagão do trem.

Só que logo depois daí nada mais funciona. A trama é ao mesmo tempo arrastada e confusa. Um exemplo simples: logo depois da sequencia do trem, os personagens são apresentados a um menino que está sob o efeito de uma bruxa – e essa historia do menino não tem conclusão! Ou, mais pro fim do filme, tem um exemplo ainda pior. O grupo se divide em dois. Metade vai em uma missão que até agora ainda não entendi direito o objetivo. A outra metade resolve fazer outra coisa, mas essa jornada secundária acaba no meio! Os personagens apenas se juntam no final, e o filme deixa pra lá o que o segundo grupo tentou fazer.

Junte a esse roteiro atuações ruins e efeitos especiais pobres (a cobra parece efeito de app de celular), e temos mais um Hellboy esquecível como aquele de cinco anos atrás. Pena, porque gostei da ideia de se fazer um filme de terror (os outros três filmes tinham uma pegada de filmes de super herói).

A direção é de Brian Taylor, que fez Adrenalina e Gamer, que são filmes legais, mas também fez o segundo filme do Motoqueiro Fantasma, que é ruim com força. Hellboy e o Homem Torto está mais próximo de Motoqueiro Fantasma.

Não conhecia ninguém do elenco. Não tem nenhum destaque, mas se posso fazer uma “crítica head canon”, acho que o Hellboy deveria ter a voz mais grave. Senti saudades do Ron Perlman.

No fim, Hellboy e o Homem Torto é apenas mais um filme esquecível. Nem vale o ingresso do cinema.

Deep Web: O Show da Morte

Crítica – Deep Web: O Show da Morte

Sinopse (imdb): Buscando pistas sobre a morte de sua irmã, um podcaster acaba na deep web e descobre o THE MURDERSHOW, um site onde o maior lance em criptomoedas seleciona como a vítima será morta. Se você está observando eles, eles estão observando você.

Escrito e dirigido por Dan Zachary, Deep Web: O Show da Morte (The Deep Web: Murdershow, no original) é daqueles filmes que tem tanta coisa ruim que é difícil saber por onde começar. Ideia mal desenvolvida, atores ruins, efeitos pobres, tudo deu errado.

Um exemplo logo de cara: o filme começa com uma mulher que acorda numa floresta, com uma câmera presa no peito e câmeras presas nas árvores. A narrativa alterna com flashbacks da noite anterior, quando vemos que ela foi sequestrada. Ok, sequestram uma mulher e a jogam numa espécie de reality show, numa floresta. Podemos seguir a partir dessa ideia. Mas… Logo aparecem os sequestradores e a levam para um local fechado. Caramba, pra que serve criar uma ambientação numa floresta, com câmera presa no peito e câmeras nas árvores, se o filme não vai usar isso???

E o roteiro segue com várias coisas sem nenhuma lógica, como uma mulher que é presa numa gaiola, mas ninguém vê que ela tem um canivete no bolso; ou um homem que faz uma anotação de um endereço num papel e guarda no bolso, e é assassinado logo depois, e o amigo quando vê o cara morto, a primeira coisa que faz é pegar o papel no bolso do cadáver. Chega ao ponto de ter um diálogo entre duas amigas, presas em cativeiro, com uma parede entre elas, onde uma não reconhece a voz da outra! Você precisa ouvir o nome do seu amigo pra reconhecer a voz dele?

Deep Web: O Show da Morte podia pegar um “caminho Terrifier“, que é um filme meio vagabundo mas pelo menos tem muito gore. Existe público pra isso. Mas nem no gore funciona, Deep Web: O Show da Morte mostra poucas cenas de violência gráfica, e nessas poucas, é tudo muito mal feito.

Preciso falar das atuações. O ator principal precisa estar triste porque sua irmã morreu, e ele passa algumas cenas forçando um choro, numa atuação que há tempos não vejo algo tão ruim! E infelizmente não é o único ator ruim.

O final do filme é um bom exemplo de incoerência do roteiro: aparentemente pela tentativa de criar um gancho pra continuação, resolvem fazer um dos tais leilões, mas com as pessoas presentes. Caramba, o nome do filme é “DEEP WEB”! Essas pessoas não vão aparecer presencialmente!!!

Pra não dizer que odiei tudo, achei que a sequência onde os “mocinhos” enfrentam os “vilões” é fraca, mas dentro de um limite aceitável. Mas, em um filme onde tudo está muito abaixo da média, ver uma sequência apenas “fraca” não melhora muita coisa.

Por fim, deu pena do diretor e roteirista Dan Zachary. No fim do filme aparece uma homenagem, descobrimos que ele faleceu. Deu pena porque será lembrado por um filme bem tosco.