Demons (segunda crítica)

Crítica – Demons

(Esta é a segunda crítica que faço para este filme, escrevi sobre ele em fevereiro de 2010. Mas esta está mais completa.)

Sinopse (imdb): Um grupo de pessoas é convidado aleatoriamente para a exibição de um filme misterioso, apenas para se encontrarem presos num teatro com demônios vorazes.

Hora de falar de Demons, clássico trash de 1985. Tenho duas histórias pessoais com esse filme, relacionadas a duas vezes que assisti nos cinemas. Vou falar sobre o filme, depois conto as histórias pessoais.

Demons foi dirigido por Lamberto Bava, filho de Mario Bava, diretor, roteirista e diretor de fotografia de vários clássicos de terror italianos – seu filme La ragazza che sapeva troppo, de 1963, é considerado o primeiro filme “giallo”. Lamberto Bava também é um dos roteiristas, ao lado de um tal de Dario Argento.

Pessoas são convidadas para a inauguração de um cinema, e durante a sessão, começam a se transformar em monstros. Sim, é um argumento meio trash. Mesmo assim, o modo como o filme apresenta a metalinguagem é muito bem construído, porque temos duas camadas. A primeira é que estamos assistindo a um filme onde pessoas estão assistindo a um filme. A outra é que, conforme as coisas acontecem no “filme dentro do filme”, coisas semelhantes acontecem no filme que estamos vendo.

Outro destaque em Demons é a maquiagem. Era 1985, não tinha efeitos em cgi, tudo era efeito prático e de maquiagem. E a maquiagem dos monstros é muito muito boa. A cena da primeira pessoa começando a transformação, em frente ao espelho do banheiro, marcou a minha juventude pelo gore apresentado. Digo mais, tem um detalhe ressaltado pelo meu amigo Célio Silva, crítico do G1: este é talvez o único filme que mostra a troca de dentes por presas. Sempre vemos a pessoa transformada, com uma dentição diferente, mas (quase) nunca vemos como essa dentição foi transformada. Aqui tem uma cena mostrando!

A fotografia também é muito boa, Lamberto Bava consegue mostrar o cinema em alguns ângulos bem criativos. E tem algumas cenas muito bem filmadas, como a parte onde o personagem está em uma moto matando demônios com uma katana.

A boa trilha sonora original é de Claudio Simonetti, da banda Goblin, que trabalhou em dezenas de filmes de terror, como Suspiria, Tenebre e Terror na Ópera. Além disso, a trilha usa músicas rock’n’roll, de artistas como Motley Crue, Billy Idol, Accept e Saxon.

Agora, precisamos entender que é um filme trash. Um bom trash, mas não deixa de ser trash. O roteiro tem algumas coisas que não fazem o menor sentido, estão lá só pelo visual, como um demônio que sai das costas de uma personagem.

Além disso, tem uma trama paralela bem chatinha com um grupo fora do cinema. E se estamos falando de um filme de menos de uma hora e meia, fica estranho ter uma parte arrastada. Aquela trama paralela podia ser encurtada – ou mesmo cortada fora do filme.

No elenco, nenhum ator conhecido, e nenhuma boa atuação. Este é daquele formato de filme onde os atores não têm muito espaço para grandes atuações. Só uma curiosidade relativa ao elenco: o homem com a máscara de ferro que distribui os ingressos no início do filme é interpretado por Michele Soavi, que depois viraria diretor de filmes como Dellamorte Dellamore e O Pássaro Sangrento.

Demons teve uma continuação lançada em 1986. Provavelmente vi na época, mas não me lembro de absolutamente nada…

Vamos para as histórias? Segundo o imdb, Demons foi lançado no Brasil em 1988, o que é compatível com a minha primeira história. Vi no Studio Copacabana, uma sala pequena e meio vagabunda que tinha numa galeria na rua Raul Pompeia, Copacabana (se não me falha a memória, mesma galeria que também teve a Bunker, a Mariuzinn e a Le Boy). Vi sozinho, num cinema que ficava no subsolo de uma galeria, igual ao cinema do filme. Confesso que fiquei bolado com a ideia de ficar preso naquele cinema!

A outra história aconteceu este ano. Estava rolando uma maratona noturna no Estação Net Rio, com filmes passando nas cinco salas, a gente podia trocar de sala à vontade. Estava com meus três filhos, e vi que ia ter Demons em uma das salas, fui com eles pra lá. Vimos o filme, e quando acabou, minha filha de 23 anos e meu filho de 15 disseram, quase ao mesmo tempo, “pai, esse é o pior filme que eu já vi na minha vida!”. Bem, o filho de 13 anos não reclamou, acho que ainda tenho esperança de ter um filho que goste de cinema trash…

Um Lugar Silencioso – Dia Um

Crítica – Um Lugar Silencioso – Dia Um

Sinopse (imdb): Uma mulher vive os aterrorizantes primeiros minutos de uma invasão alienígena na cidade de Nova York.

Hollywood gosta de franquias. Um terceiro filme de Um Lugar Silencioso não chega a ser surpresa. A Paramount disse que seria um prequel, mas pra mim Um Lugar Silencioso – Dia Um é um spin off, já que vemos outros personagens no mesmo universo.

Meu medo era a troca de diretor. John Krasinski deu lugar a Michael Sarnoski (que dirigiu Pig, um dos melhores filmes recentes do Nicolas Cage). Mas podemos dizer que Sarnoski fez um bom trabalho.

Somos apresentados à protagonista, interpretada pela Lupita Nyong’o (não me lembro se ela tem nome), que está numa clínica tratando um câncer terminal. Os pacientes vão até a cidade de Nova York pra assistir a uma peça de teatro, quando chegam os monstros alienígenas e começam a destruir tudo.

Essa parte “filme catástrofe” é muito boa. São sequências tensas, e a parte técnica é perfeita. Lembrei da franquia Alien: no primeiro filme, mal vemos o monstro, mas nas continuações temos uma grande quantidade deles. Aqui e o mesmo, são dezenas de monstros espalhados, destruindo tudo. Tem uma cena em plano sequência, da Lupita andando meio sem destino no meio do caos, que é talvez a melhor sequência do filme.

Mas aí acabam as sequências de catástrofe e o filme muda. Caímos num momento drama que achei meio arrastado. E então algumas conveniências de roteiro começaram a me incomodar. Vou citar duas delas aqui.

A primeira é sobre como funciona a audição dos monstros. Parece que a audição é mais ou menos apurada dependendo do que o roteiro pede. Um exemplo: em uma cena, o som de uma roupa se rasgando é suficiente pra rapidamente atrair o monstro. Mas em outra cena vemos centenas, talvez milhares de pessoas andando, e os monstros demooooram pra aparecer… Tem uma outra cena onde um personagem está quebrando vidros de carros pra disparar alarmes e atrair os monstros, e outro personagem chuta uma latinha – e TODOS os monstros param de seguir os alarmes pra irem na direção da latinha!

(Tem um detalhe que parece que não viram os filmes anteriores. As pessoas andam descalças e pisam de um modo a fazer menos barulho. Aqui o personagem do Joseph Quinn anda de sapato social por mais da metade do filme. Não era melhor alguém ter dito pra ele andar descalço?)

Outra conveniência de roteiro é o gato. Tem um gato que acompanha a Lupita ao longo de todo o filme. Mas tem cenas onde o gato não está. Então a gente combina assim: se der pra aparecer, a gente coloca o gatinho. Mas se for complicado, tipo uma cena debaixo d’água, a gente deixa de lado e depois mostra o gatinho molhado. Ah, detalhe: o gato não mia!!!

Tem um outro probleminha, nada grave, mas, nós, espectadores, sabemos que os monstros são extremamente sensíveis aos sons, então é importantíssimo que se fique em silêncio. Mas, os personagens do filme “ainda” não sabem. Achei que o início foi meio abrupto nesse sentido, podiam ter desenvolvido melhor esse novo perigo desconhecido.

Assim como nos outros filmes, o elenco é pequeno e funciona bem. Quase todo o filme fica em cima da Lupita Nyong’o e do Joseph Quinn, e tem pequenas participações de Alex Wolff e Djimon Hounsou.

Apesar dessas “roteirices”, Um Lugar Silencioso – Dia Um não é de todo ruim. Vai agradar os menos exigentes.

A Maldição de Cinderela

Crítica – A Maldição de Cinderela

Sinopse (imdb): Baseado no mesmo conto popular que a Disney atualizou e popularizou para crianças na década de 1950.

Preciso admitir que curto essa onda de fazer filmes de terror baseados em contos de fadas. Mas, depois dos péssimos Ursinho Pooh e Alice no País das Trevas, a expectativa pra este A Maldição de Cinderela (Cinderella’s Curse, no original) estava lááá embaixo. Bem, A Maldição de Cinderela não é bom, mas pelo menos é bem menos ruim do que os dois citados.

A Maldição de Cinderela tem um problema básico: não tem história pra ser contada. O filme tem pouco menos de uma hora e meia, mas dava pra contar tudo em um curta de 15 minutos. A gente conhece a Cinderela, que é maltratada pela madrasta e pelas suas duas filhas. Também maltratam outra funcionária. Aí vai rolar o baile, o príncipe convida a Cinderela. A madrasta não deixa, mas aparece uma “fada madrinha” que permite a ida de Cinderela. Lá ela é esculachada pelo príncipe e é humilhada por todos na festa. Aí ela resolve se vingar e mata todos.

É só isso, toda a história está aqui.

Se isso fosse um curta, daria pra contar tudo de maneira ágil. Mas, se precisamos preencher espaço, o filme precisa enrolar. E acontecem coisas sem sentido, tipo todos os convidados da festa batendo na Cinderela. Por que? Qual foi a motivação pra eles agirem daquele modo?

(Aproveito pra falar que rolou um dos piores erros de continuidade que já vi: arrancam a roupa da Cinderela e a deixam nua. E logo depois ela já está vestida de novo.)

Tem outra coisa que também me parece que foi colocada só pra encher linguiça, que são uns flashes de cenas assustadoras, que rolam durante mais ou menos dois terços do filme. Não só são flashes desnecessários, como ainda são spoilers do que veremos no terço final.

Agora, nem tudo é ruim. Gostei dos cenários, aparentemente usaram um castelo de verdade. E gostei dos efeitos práticos. Na cena onde a “fada madrinha” transforma a Cinderela, ficou clara a diferença. A “fada” é uma pessoa com uma maquiagem meio tosca, mas que funciona perfeitamente; aí, quando a Cinderela ganha o vestido, aparece uma nuvenzinha em cgi que ficou péssima na tela. Sou um dos últimos defensores dos efeitos práticos. Se um efeito prático é tosco, pode funcionar bem na tela. Cgi tosco é tosco e ponto final.

O elenco é ruim, mas isso era algo a se esperar. A atriz que faz a Cinderela faz umas caretas quando ela está em “modo serial killer” que dá vontade de rir. Bem, talvez esse fosse o objetivo.

Por fim, queria falar mal de uma decisão burra de personagem. Já comentei mais de uma vez que o cinema de terror é baseado em decisões burras de personagens, mas algumas dessas são burras demais. A “fada madrinha” diz que a Cinderela tem direito a três desejos. Ela passa o inicio do filme inteiro perguntando cadê seu pai. Por que diabos ela não pediu pra encontrar o pai num lugar longe dali???

A Maldição de Cinderela estreia hoje no circuito. Pode divertir, se o espectador estiver no clima certo.

Os Observadores

Crítica – Os Observadores

Sinopse (imdb): Quando Mina fica perdida em uma floresta na Irlanda ela acaba encontrando três estranhos que são perseguidos por criaturas misteriosas todas as noites.

Estreia na direção da filha do Shyamalan, Ishana Shyamalan. Podemos dizer que ela se parece com pai – no bom e no mau sentido.

Antes de tudo, preciso dizer que a expectativa estava lááá embaixo, porque Os Observadores (The Watchers, no original) não teve sessão de imprensa, e a divulgação estava muito fraca. Normalmente quando isso acontece é porque a distribuidora não acredita no potencial do filme. Aí o filme é mal lançado, fica uma semana em cartaz, em poucas salas, e já sai de cena. Fui checar agora, na segunda semana, são poucas as sessões.

Enfim, sem sessão pra imprensa, não pude ver antes. Atrasado, vamos ao meu texto.

Os Observadores tem alguns problemas comuns em filmes do Shyamalan pai. Um deles é o excesso de explicações, e pior: explicações sem embasamento. Um exemplo de um filme recente dele: em Tempo, os personagens estão em uma praia onde o tempo passa numa velocidade diferente, todos envelhecem muito mais rápido. Isso era o suficiente para o espectador: “o tempo passa mais rápido”. Mas aí resolvem colocar uma cena onde uma personagem dita números exatos sobre a passagem de tempo. Não só isso era desnecessário, como atrapalhou a trama, porque um dos personagens não seguia essa exatidão.

Aqui em Os Observadores, temos muitas explicações. Tem uma personagem que parece que só está ali pra explicar coisas sobre o lugar onde eles estão (e ninguém pergunta como ela sabe de tudo!). E parece que isso não era suficiente, porque determinado momento do filme descobrem gravações que só servem pra explicar tudo ainda mais. Vejam bem, heu não gosto de filmes herméticos onde o espectador precisa procurar textos explicativos depois pra entender o que acabou de ver. Mas, existe um equilíbrio! Não precisa explicar tudo!

E o pior é que essa história é meio sem sentido. Sério, me lembrei de Dama na Água, lembro que o Shyamalan disse na época que ele queria contar histórias de fantasia para os filhos, achei que essa era uma daquelas histórias. Só depois soube que o filme se baseia num livro que já existia, escrito por A. M. Shine – será que no livro a história flui melhor?

Outro problema comum na família Shyamalan é ter personagens que não agem de maneira natural. Assim como em Batem À Porta, último filme do Shyamalan pai, onde os personagens demoram pra verbalizar “o elefante na sala”, aqui a protagonista cai num mundo cheio de regras, mas as pessoas só falam as regras no dia seguinte! Passaram uma noite inteira juntos, e ninguém pensou em explicar a ela como funciona esse local?

A boa notícia é que se Ishana repete alguns defeitos do pai, também repete algumas virtudes. Os Observadores é bem conduzido e o filme mantém um interessante clima de tensão ao longo de quase toda a projeção. Gostei de como o filme começa a desenrolar o mistério (queria falar mais, mas é melhor não, por causa de spoilers).

Falei “quase toda a projeção”, né? Poizé. O final é bem fuén. Talvez pela desnecessária necessidade de criar uma espécie de plot twist, o filme se estica e tem um final que deixa o espectador com gosto amargo na boca ao final da sessão. Caramba, se você não tem um bom plot twist, é melhor terminar o filme antes!

No elenco, Dakota Fanning faz cara de paisagem o filme inteiro, mas, funciona pro que o filme pede. Também no elenco, Georgina Campbell, Olwen Fouéré e Oliver Finnegan. Um comentário que não tenho certeza se foi ou não proposital, mas… A protagonista se chama Mina, e sua irmã é Lucy. Duas personagens do livro Dracula, de Bram Stoker. Coincidência?

Mesmo assim, gostei da estreia da Ishana. Apesar dos problemas, Os Observadores não é um filme ruim. Só poderia ser melhor. Aguardemos seu novo projeto.

A Semente do Mal

Crítica – A Semente do Mal

Sinopse (imdb): Ao lado da namorada, Edward decide desvendar os segredos da família biológica, com quem nunca teve contato. No entanto, o que parecia ser uma jornada de descobertas pelo norte de Portugal rapidamente se transforma em um pesadelo.

Outro dia comentei sobre um terror francês. hoje é dia de um terror português!

(Anos atrás, comentei sobre Coisa Ruim, outro terror português, mas faz tanto tempo que nem me lembro de nada desse outro filme…)

Escrito e dirigido por Gabriel Abrantes, A Semente do Mal (ou Amelia’s Children, título internacional) traz a historia da bruxa Amélia, que não sei se é uma lenda portuguesa ou se foi algo criado para o filme. Mas gostei de como a história foi apresentada. Não digo mais por causa de spoilers!

Um homem, nos EUA, que não sabe quem são seus pais, descobre que tem 99,9% de chance de ser irmão gêmeo de um português, e vai até Portugal conhecer sua família de sangue. E, claro, essa família portuguesa tem seus mistérios.

A mansão portuguesa é um bom cenário e cria um clima interessante. O filme tem vários flashes assustadores, mas achei alguns meio fora de propósito, parece que o diretor só queria colocar algumas cenas aleatórias pra aumentar o ar de suspense e mistério. E preciso dizer que achei a maquiagem da velha Amélia muito exagerada.

O filme é português e tem diálogos em português. Mas, ideia esperta da produção para vender o filme para o mercado internacional: os dois protagonistas são americanos, então a maior parte dos diálogos é em inglês. Foi uma boa saída pra ter um filme falado em inglês sem precisar dublar.

Teve um detalhe na atuação do ator principal, Carloto Cotta, que achei bem legal. Ele interpreta dois irmãos gêmeos, um que foi criado em Portugal, outro nos EUA. Eles conversam em inglês, o segundo não sabe falar português. Mas o ator consegue fazer duas pronúncias de inglês, uma com sotaque e outra sem. Um detalhe, mas valorizo isso.

Agora, um problema que achei no elenco – e que não sei se foi proposital – foi usar atrizes parecidas. A protagonista é muito parecida com a versão nova da velha Amélia! Me questiono se a produção quis fazer algo assim para nos confundir… Ah, sim, não conhecia ninguém do elenco.

A Semente do Mal não é “o melhor terror do ano”. Mas valorizo por ser diferente. Por mais filmes de terror de países “não óbvios”!

Infestação

Crítica – Infestação

Sinopse (imdb): Moradores de um prédio de apartamentos francês em ruínas lutam contra um exército de aranhas mortais que se reproduzem rapidamente.

Um terror francês sobre aranhas. O fato de ser um filme off Hollywood tem vantagens e desvantagens. Vamulá.

Gosto de ver coisas diferentes, então um filme europeu é sempre bem vindo. Longa de estreia do diretor Sébastien Vanicek, Infestação (Vermines, no original) consegue colocar um paralelo subliminar pra fazer uma crítica social: as indesejadas aranhas são invasoras estrangeiras. E as aranhas atacam imigrantes africanos que também podem ser chamados de invasores estrangeiros.

Mas por outro lado, Infestação sofre com personagens antipáticos. O protagonista Kaleb brigou com a irmã, com o amigo, com todo mundo, se der mole ele briga até com o espectador. Caramba, estamos vendo um filme onde pessoas precisam enfrentar aranhas pra sobreviver, heu preciso me importar com essa pessoa. Do jeito que aparece no filme, dane-se o Kaleb, morra.

Tem outro problema, mas é um problema que também acontece sempre em Hollywood. As aranhas preferem o escuro, ok. Se você jogar uma luz forte, elas vão fugir, ok. Mas uma luzinha de celular não deveria fazer elas fugirem daquele jeito! Entendo que o filme precisava dar aos personagens um meio de combater as aranhas, mas achei meio tosco.

Mesmo assim, ainda achei positivo ver um terror com um ritmo diferente dos “Blumhouse” padrão. Agora, tem um problema no fim, mas como é no fim, vou mandar um aviso de spoiler.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

No fim, o imóvel está tomado pelas aranhas, e eles resolvem implodir o prédio. Caramba! Iam sobrar aranhas e ovos de aranhas nos escombros! Eles deveriam ter colocado fogo no prédio!

FIM DOS SPOILERS!

Por fim, uma curiosidade: aquele prédio redondo onde o filme se passa realmente existe. São as “Arenas de Picasso”, em Noisy-le-Grand, perto de Paris, projetadas pelo arquiteto Manuel Núñez Yanowsky nos anos 80.

Os Estranhos – Capítulo 1

Crítica – Os Estranhos – Capítulo 1

Sinopse (imdb): Uma jovem viaja para o campo com seu namorado para começar uma nova vida. Quando seu carro quebra, o casal é forçado a passar a noite em uma isolada casa Airbnb, onde a dupla é aterrorizada até o amanhecer por três estranhos mascarados.

Heu não tenho o hábito de ler informações sobre os filmes que vou ver no cinema. Faço isso para baixar expectativas antes de entrar na sala. Por isso, achei que esse “Capítulo 1” era um prequel daquele Os Estranhos de 2008.

Naquele Os Estranhos, um jovem casal é atacado por estranhos e violentos vizinhos mascarados. que tentam invadir sua casa. Na época chamou a atenção por ser estrelado pela Liv Tyler, mas não é um grande filme. Tem algum clima de tensão bem construído, mas é uma história muito vazia, não tem muita historia pra contar, acaba que é um filme esquecível.

Ainda mais esquecível foi a continuação, Os Estranhos Caçada Noturna, lançada em 2018, que se não fosse o post aqui no heuvi, heu nem me lembrava que tinha visto!

Aí veio esse “Capítulo 1”, que achei que era um prequel, mas na verdade é uma refilmagem do primeiro filme. Exatamente a mesma história, um casal sendo atacado por três estranhos mascarados, que tentam invadir a casa.

Assim como no filme de 2008, tem muito pouca história pra contar, dava pra resumir tudo em uns 30 ou 40 minutos. O filme se estende por cenas de perseguição com zero criatividade. Saí da sessão pensando “puxa, podiam reduzir esse filme e incluir o segundo capítulo, poderia dar um bom filme de uma hora e meia”.

Ai cheguei em casa e fui ver o imdb, e descobri que é bem pior. Não serão dois filmes, e sim três! Já filmaram as duas continuações, uma deve ser lançada no fim do ano e a outra ano que vem!

Vamulá, galera. Se vocês querem ter três filmes, precisam ter um bom primeiro filme, que instigue o espectador a voltar para as continuações. Os Estranhos Capitulo 1 sofre do mesmo problema de Rebel Moon, que é uma franquia forçada, onde ninguém se importa com o que ainda não estreou. E Os Estranhos Capitulo 1 é bem fraco!

Ok, admito que queria ver mais. Queria saber quem são esses mascarados, qual é a história deles, qual é a motivação deles. Vemos algumas pistas que podem (ou não) ser exploradas, como os meninos religiosos, ou o comentário que “eles não querem se misturar com os caipiras”. Se Os Estranhos Capitulo 1 fosse mais curto, e a história se expandisse pra esse caminho, provavelmente seria um filme melhor.

Mas, a previsão não é boa. Se a ideia é fazer três filmes, provavelmente o segundo será só enrolação. Teremos que esperar até o terceiro filme pra saber qual é a desses caras – se é que vão explicar!

Ainda queria falar do diretor, Renny Harlin. Ele nunca foi um grande diretor, nunca foi um nome do primeiro time. Mas ele dirigiu alguns bons filmes nos anos 80 e 90, como Duro de Matar 2, Risco Total e A Ilha da Garganta Cortada. Fico tão triste de ver um cara desses em projetos tão ruins, lembro que alguns anos atrás ele fez um dos piores filmes que vi nos últimos anos, Os Renegados / The Misfits. E agora ele pega um filme fraco e resolve transformar numa franquia. E a chance de dar errado é imensa!

(Um breve parágrafo pra dizer que entendo o mercado. É mais fácil vender ingresso pra um filme de franquia, como Os Estranhos, do que pra um filme desconhecido, como Late Night With the Devil, que deve ser lançado no segundo semestre. O segundo é muito melhor que o primeiro, mas se bobear vai vender menos ingressos. Triste realidade mercadológica.)

Enfim, o texto está ficando grande, e Os Estranhos Capitulo 1 não merece isso. Mas só queria falar que tem uma cena no meio dos créditos que não faz o menor sentido. Se o espectador já estava com gosto ruim na boca, essa cena pós créditos ainda piorou.

Imaculada

Crítica – Imaculada

Sinopse (imdb): Cecilia, uma jovem religiosa, se torna freira em um convento isolado na região rural italiana. Após uma gravidez misteriosa, Cecilia é atormentada por forças perversas, enquanto confronta segredos sombrios e horrores do convento.

Há poucas semanas tivemos A Primeiro Profecia, um filme de terror onde uma jovem americana ia pra Itália para virar freira e acabava ficando grávida numa trama que envolvia uma grande conspiração. E agora a gente tem Imaculada, um filme de terror onde uma jovem americana vai pra Itália para virar freira e acaba ficando grávida numa trama que envolve uma grande conspiração. Sim, mais um caso de “filmes gêmeos”, como Vida de Inseto e Formiguinhaz, Volcano e Inferno de Dante, Armageddon e Impacto Profundo, Matrix e 13º Andar, etc (falei sobre isso num podcrastinadores anos atrás)

Apesar de parecidos, A Primeira Profecia e Imaculada são diferentes na motivação das suas conspirações, e, principalmente, no final. Porque o final de Imaculada é MUITO bom. Volto a ele no fim do texto, pode deixar, sem spoilers.

Imaculada tem uma história curiosa nos bastidores. Sydney Sweeney fez uma audição para este filme em 2014, mas não passou no teste, e acabou que o projeto nunca saiu do papel. Anos mais tarde, Sweeney, agora como produtora, procurou o roteirista, adquiriu os direitos, contratou um diretor (Michael Mohan, que já tinha trabalhado com ela em The Voyeurs), conseguiu investidores, levou o filme para a produtora Neon, e finalmente conseguiu o papel.

E Sydney Sweeney está muito bem aqui. Já ouvi elogios sobre sua atuação na serie Euphoria, mas como não vi a série, minhas referências são filmes onde ela não entrega nada demais, tipo The Voyeurs e Madame Teia. Já em Imaculada ela mostra que tem potencial pra ser do primeiro time. Ainda sobre o elenco, um dos papéis principais é de Álvaro Morte, de La Casa de PapeI. É curioso ver o Professor falando em inglês…

Imaculada é curto, menos de uma hora e meia, o que acho perfeito pra filmes de terror. Gostei muito do clima esquisitão dentro do convento. Aparentemente as pessoas aceitam facilmente as coisas estranhas, mas tudo faz sentido no final. E preciso fazer um elogio aos jump scares aqui em Imaculada. Não é “filme de sustinho” à la James Wan, mas tem um ou outro aqui e ali, e são bem construídos. Preciso admitir que um deles me pegou! Ah, e é bom avisar que Imaculada é graficamente muito violento. Tem umas cenas onde o gore lembra os giallos – os personagens falando em italiano ajudam nessa lembrança.

Sobre o final. Já comentei outras vezes que um bom final eleva a nota do filme, assim como um final ruim abaixa a nota. E achei o final aqui muito bom. Sem spoilers, mas é um final que traz três coisas que admiro no cinema. Primeiro, é um final tecnicamente bem feito, é um take longo, quase três minutos sem corte. Segundo, é uma cena que exige muito da atriz, e a Sydney Sweeney não decepciona e entrega uma cena visceral, é quase um “clipe de Oscar”. Por fim, é um final simbolicamente incômodo. Muita gente não vai gostar, por ser um tema delicado, mas, independente de gostar ou não, acho difícil alguém sair do cinema indiferente depois de uma cena dessas.

Não vou comentar mais porque não quero entrar em spoilers. Mas posso dizer que Imaculada vai dar o que falar, principalmente por causa desse final.

Late Night With the Devil

Crítica – Late Night With the Devil

Sinopse (imdb): Uma transmissão televisiva ao vivo em 1977 dá terrivelmente errado, liberando o mal em todos os lares do país.

Ah, a expectativa… Vi três filmes de ação seguidos, e enquanto estava escrevendo sobre eles, vi que pipocavam críticas sobre um novo “melhor filme de terror do ano”. Claro que seria o meu próximo filme.

Vejam bem, Late Night With the Devil não é ruim, longe disso. Principalmente quando a gente compara com um monte de lixo que chega mensalmente no gênero “terror”. Mas tenho minhas dúvidas sobre essa denominação de “melhor do ano”.

Acho que o pior problema de Late Night With the Devil é que ele é vendido como um found footage. Tem uma introdução onde dizem que aquele é o programa ao vivo, que foi exibido na TV no dia 31 de outubro de 1977, e que “encontraram imagens dos bastidores”. E aqui está o problema: nessas imagens dos bastidores o filme segue normalmente, como se câmeras estivessem acompanhando as pessoas. E vamos combinar: aquilo NÃO é found footage! Inclusive, muda o formato da tela. Pra que querer vender o filme por uma coisa que ele não é?

(E se os bastidores não são found footage, a parte final do filme e menos ainda!)

Agora, por outro lado, a parte que mostra o programa em si é muito boa. Realmente parece que estamos vendo um programa de auditório dos anos 70. Toda a ambientação, cenários, figurinos, efeitos, tudo remete àquele formato. Se heu não conhecesse o ator principal de outros filmes, até poderia acreditar que é um programa real!

(Uma curiosidade: a data escolhida foi 31 de outubro de 1977. Eles queriam um dia de Halloween, e queriam criar um programa numa segunda feira. E a única vez que 31 de outubro caiu numa segunda feira na década de 70 foi em 1977.)

Escrito e dirigido pelos irmãos Cameron Cairnes e Colin Cairnes, Late Night With the Devil é terror, mas o terror em si demora pra começar, só vemos coisas assustadoras lá pelo terço final. Mas pelo menos pra mim isso não foi um problema, porque o show / programa de TV é muito bem conduzido e, na minha humilde opinião, a tensão cresceu no momento certo.

Sem spoilers, mas a parte final do filme abandona de vez o found footage, o que não seria um problema se o filme não se vendesse assim. E a cena final traz um plot twist interessante, gostei de como os roteiristas / diretores amarraram a história.

No elenco, achei legal ver David Dastmalchian – o Bolinha de Esquadrão Suicida – num papel principal. O cara sempre foi coadjuvante, é daqueles que a gente vê e pensa “de onde já vi esse cara?”. E em Late Night With the Devil ele mostra um personagem com camadas, é um cara ao mesmo tempo inseguro e confiante, tem seus problemas pessoais mas os deixa nos bastidores e segue conduzindo o programa. E também queria falar da menina Ingrid Torelli, que mostra timidez e logo depois se transforma. Guardemos esse nome!

No fim, Night With the Devil é um bom filme. Mas se não estivesse sendo vendido como found footage, seria melhor.

Night With the Devil tem previsão de chegar ao circuito em setembro. Por enquanto, só na Shudder.

Abigail

Crítica – Abigail

Sinopse (imdb): Um grupo de criminosos sequestra uma bailarina de doze anos, filha de um poderoso homem do submundo, para coletar um resgate de US$ 50 milhões. Em uma mansão isolada, os raptores logo descobrem que não estão com uma garota normal.

Antes de falar do filme, queria falar mal da divulgação. Todo o marketing se baseou na “menina vampira”. O trailer já mostra isso! Mas ela só se revela uma vampira no meio do filme, lá pelos 40 ou 45 minutos. Imagina que legal seria se o espectador não soubesse? Ia ser que nem Um Drink Para o Inferno, onde o espectador entrava no cinema sem saber que era um filme de vampiros!

Enfim, vamos ao filme. Abigail (idem, no original) é o novo filme da dupla Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett (que têm uma produtora chamada Radio Silence), que fizeram o bom Casamento Sangrento (filme acima da média que quase ninguém viu porque foi lançado no meio da pandemia), e depois foram fazer “mais do mesmo” com Pânico 5 e Pânico 6 (não são filmes ruins, mas também não são nada de mais).

Abigail lembra bastante Casamento Sangrento: personagens sendo perseguidos em uma mansão antiga e enorme. Os diretores souberam aproveitar bem o clima nos ambientes e cômodos da mansão.

Abigail tem MUITO gore. Algumas mortes, alguns membros decepados, e muito, muito sangue. Mas, o filme tem um pé na comédia, o gore aqui não causa repulsa. Algumas cenas são bem engraçadas, seja pelos diálogos ou pelas situações de humor negro. O filme até faz piadas com os clichês de vampiros no cinema!

A maquiagem também é muito boa. A produção optou por dentes que lembram os grandes predadores, como tubarões, em vez dos tradicionais caninos dos vampiros. E também usaram efeitos práticos, como por exemplo na cena onde Abigail se equilibra no corrimão – ela estava pendurada por cabos de segurança, mas era ela mesma se equilibrando.

Sobre o elenco, o grande nome é Alisha Weir. A menina é ótima, tanto quando passa a impressão de ser uma menininha doce e inocente, quanto quando vira um monstro. E ela atacando enquanto dança balé deu um charme especial à personagem. Agora, sobre o resto, os personagens são unidimensionais, achei todos meio caricatos. Acho que o único que se salva é o Kevin Durand, que faz o “grandalhão burro”, mas pelo menos tem carisma na entrega de alguns bons diálogos. O resto é mais do mesmo: Melissa Barrera, Dan Stevens, William Catlett, Kathryn Newton e Angus Cloud (este último, infelizmente, morreu de overdose, aos 25 anos, antes da estreia do filme). Completam o elenco participações especiais de Giancarlo Esposito (em duas cenas) e Matthew Goode (em uma cena).

Por fim, uma referência que nem todos vão pegar. O personagem do Giancarlo Esposito dá apelidos aos outros personagens, e depois os chama de “pack of rats”. “The Rat Pack” era o apelido dado a um grupo de artistas populares nos anos 50 e 60: Frank Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis Jr., Peter Lawford e Joey Bishop – Don Rickles era considerado um “membro honorário”. É daí que vem os nomes dos personagens Frank, Dean, Sammy, Peter, Joey e Rickles. (Nos anos 80, adaptaram esse nome em outro grupo, o “brat pack”, com Emilio Estevez, Anthony Michael Hall, Rob Lowe, Andrew McCarthy, Demi Moore, Judd Nelson, Molly Ringwald e Ally Sheedy.)