A Maldição de Cinderela

Crítica – A Maldição de Cinderela

Sinopse (imdb): Baseado no mesmo conto popular que a Disney atualizou e popularizou para crianças na década de 1950.

Preciso admitir que curto essa onda de fazer filmes de terror baseados em contos de fadas. Mas, depois dos péssimos Ursinho Pooh e Alice no País das Trevas, a expectativa pra este A Maldição de Cinderela (Cinderella’s Curse, no original) estava lááá embaixo. Bem, A Maldição de Cinderela não é bom, mas pelo menos é bem menos ruim do que os dois citados.

A Maldição de Cinderela tem um problema básico: não tem história pra ser contada. O filme tem pouco menos de uma hora e meia, mas dava pra contar tudo em um curta de 15 minutos. A gente conhece a Cinderela, que é maltratada pela madrasta e pelas suas duas filhas. Também maltratam outra funcionária. Aí vai rolar o baile, o príncipe convida a Cinderela. A madrasta não deixa, mas aparece uma “fada madrinha” que permite a ida de Cinderela. Lá ela é esculachada pelo príncipe e é humilhada por todos na festa. Aí ela resolve se vingar e mata todos.

É só isso, toda a história está aqui.

Se isso fosse um curta, daria pra contar tudo de maneira ágil. Mas, se precisamos preencher espaço, o filme precisa enrolar. E acontecem coisas sem sentido, tipo todos os convidados da festa batendo na Cinderela. Por que? Qual foi a motivação pra eles agirem daquele modo?

(Aproveito pra falar que rolou um dos piores erros de continuidade que já vi: arrancam a roupa da Cinderela e a deixam nua. E logo depois ela já está vestida de novo.)

Tem outra coisa que também me parece que foi colocada só pra encher linguiça, que são uns flashes de cenas assustadoras, que rolam durante mais ou menos dois terços do filme. Não só são flashes desnecessários, como ainda são spoilers do que veremos no terço final.

Agora, nem tudo é ruim. Gostei dos cenários, aparentemente usaram um castelo de verdade. E gostei dos efeitos práticos. Na cena onde a “fada madrinha” transforma a Cinderela, ficou clara a diferença. A “fada” é uma pessoa com uma maquiagem meio tosca, mas que funciona perfeitamente; aí, quando a Cinderela ganha o vestido, aparece uma nuvenzinha em cgi que ficou péssima na tela. Sou um dos últimos defensores dos efeitos práticos. Se um efeito prático é tosco, pode funcionar bem na tela. Cgi tosco é tosco e ponto final.

O elenco é ruim, mas isso era algo a se esperar. A atriz que faz a Cinderela faz umas caretas quando ela está em “modo serial killer” que dá vontade de rir. Bem, talvez esse fosse o objetivo.

Por fim, queria falar mal de uma decisão burra de personagem. Já comentei mais de uma vez que o cinema de terror é baseado em decisões burras de personagens, mas algumas dessas são burras demais. A “fada madrinha” diz que a Cinderela tem direito a três desejos. Ela passa o inicio do filme inteiro perguntando cadê seu pai. Por que diabos ela não pediu pra encontrar o pai num lugar longe dali???

A Maldição de Cinderela estreia hoje no circuito. Pode divertir, se o espectador estiver no clima certo.

Os Observadores

Crítica – Os Observadores

Sinopse (imdb): Quando Mina fica perdida em uma floresta na Irlanda ela acaba encontrando três estranhos que são perseguidos por criaturas misteriosas todas as noites.

Estreia na direção da filha do Shyamalan, Ishana Shyamalan. Podemos dizer que ela se parece com pai – no bom e no mau sentido.

Antes de tudo, preciso dizer que a expectativa estava lááá embaixo, porque Os Observadores (The Watchers, no original) não teve sessão de imprensa, e a divulgação estava muito fraca. Normalmente quando isso acontece é porque a distribuidora não acredita no potencial do filme. Aí o filme é mal lançado, fica uma semana em cartaz, em poucas salas, e já sai de cena. Fui checar agora, na segunda semana, são poucas as sessões.

Enfim, sem sessão pra imprensa, não pude ver antes. Atrasado, vamos ao meu texto.

Os Observadores tem alguns problemas comuns em filmes do Shyamalan pai. Um deles é o excesso de explicações, e pior: explicações sem embasamento. Um exemplo de um filme recente dele: em Tempo, os personagens estão em uma praia onde o tempo passa numa velocidade diferente, todos envelhecem muito mais rápido. Isso era o suficiente para o espectador: “o tempo passa mais rápido”. Mas aí resolvem colocar uma cena onde uma personagem dita números exatos sobre a passagem de tempo. Não só isso era desnecessário, como atrapalhou a trama, porque um dos personagens não seguia essa exatidão.

Aqui em Os Observadores, temos muitas explicações. Tem uma personagem que parece que só está ali pra explicar coisas sobre o lugar onde eles estão (e ninguém pergunta como ela sabe de tudo!). E parece que isso não era suficiente, porque determinado momento do filme descobrem gravações que só servem pra explicar tudo ainda mais. Vejam bem, heu não gosto de filmes herméticos onde o espectador precisa procurar textos explicativos depois pra entender o que acabou de ver. Mas, existe um equilíbrio! Não precisa explicar tudo!

E o pior é que essa história é meio sem sentido. Sério, me lembrei de Dama na Água, lembro que o Shyamalan disse na época que ele queria contar histórias de fantasia para os filhos, achei que essa era uma daquelas histórias. Só depois soube que o filme se baseia num livro que já existia, escrito por A. M. Shine – será que no livro a história flui melhor?

Outro problema comum na família Shyamalan é ter personagens que não agem de maneira natural. Assim como em Batem À Porta, último filme do Shyamalan pai, onde os personagens demoram pra verbalizar “o elefante na sala”, aqui a protagonista cai num mundo cheio de regras, mas as pessoas só falam as regras no dia seguinte! Passaram uma noite inteira juntos, e ninguém pensou em explicar a ela como funciona esse local?

A boa notícia é que se Ishana repete alguns defeitos do pai, também repete algumas virtudes. Os Observadores é bem conduzido e o filme mantém um interessante clima de tensão ao longo de quase toda a projeção. Gostei de como o filme começa a desenrolar o mistério (queria falar mais, mas é melhor não, por causa de spoilers).

Falei “quase toda a projeção”, né? Poizé. O final é bem fuén. Talvez pela desnecessária necessidade de criar uma espécie de plot twist, o filme se estica e tem um final que deixa o espectador com gosto amargo na boca ao final da sessão. Caramba, se você não tem um bom plot twist, é melhor terminar o filme antes!

No elenco, Dakota Fanning faz cara de paisagem o filme inteiro, mas, funciona pro que o filme pede. Também no elenco, Georgina Campbell, Olwen Fouéré e Oliver Finnegan. Um comentário que não tenho certeza se foi ou não proposital, mas… A protagonista se chama Mina, e sua irmã é Lucy. Duas personagens do livro Dracula, de Bram Stoker. Coincidência?

Mesmo assim, gostei da estreia da Ishana. Apesar dos problemas, Os Observadores não é um filme ruim. Só poderia ser melhor. Aguardemos seu novo projeto.

A Semente do Mal

Crítica – A Semente do Mal

Sinopse (imdb): Ao lado da namorada, Edward decide desvendar os segredos da família biológica, com quem nunca teve contato. No entanto, o que parecia ser uma jornada de descobertas pelo norte de Portugal rapidamente se transforma em um pesadelo.

Outro dia comentei sobre um terror francês. hoje é dia de um terror português!

(Anos atrás, comentei sobre Coisa Ruim, outro terror português, mas faz tanto tempo que nem me lembro de nada desse outro filme…)

Escrito e dirigido por Gabriel Abrantes, A Semente do Mal (ou Amelia’s Children, título internacional) traz a historia da bruxa Amélia, que não sei se é uma lenda portuguesa ou se foi algo criado para o filme. Mas gostei de como a história foi apresentada. Não digo mais por causa de spoilers!

Um homem, nos EUA, que não sabe quem são seus pais, descobre que tem 99,9% de chance de ser irmão gêmeo de um português, e vai até Portugal conhecer sua família de sangue. E, claro, essa família portuguesa tem seus mistérios.

A mansão portuguesa é um bom cenário e cria um clima interessante. O filme tem vários flashes assustadores, mas achei alguns meio fora de propósito, parece que o diretor só queria colocar algumas cenas aleatórias pra aumentar o ar de suspense e mistério. E preciso dizer que achei a maquiagem da velha Amélia muito exagerada.

O filme é português e tem diálogos em português. Mas, ideia esperta da produção para vender o filme para o mercado internacional: os dois protagonistas são americanos, então a maior parte dos diálogos é em inglês. Foi uma boa saída pra ter um filme falado em inglês sem precisar dublar.

Teve um detalhe na atuação do ator principal, Carloto Cotta, que achei bem legal. Ele interpreta dois irmãos gêmeos, um que foi criado em Portugal, outro nos EUA. Eles conversam em inglês, o segundo não sabe falar português. Mas o ator consegue fazer duas pronúncias de inglês, uma com sotaque e outra sem. Um detalhe, mas valorizo isso.

Agora, um problema que achei no elenco – e que não sei se foi proposital – foi usar atrizes parecidas. A protagonista é muito parecida com a versão nova da velha Amélia! Me questiono se a produção quis fazer algo assim para nos confundir… Ah, sim, não conhecia ninguém do elenco.

A Semente do Mal não é “o melhor terror do ano”. Mas valorizo por ser diferente. Por mais filmes de terror de países “não óbvios”!

Infestação

Crítica – Infestação

Sinopse (imdb): Moradores de um prédio de apartamentos francês em ruínas lutam contra um exército de aranhas mortais que se reproduzem rapidamente.

Um terror francês sobre aranhas. O fato de ser um filme off Hollywood tem vantagens e desvantagens. Vamulá.

Gosto de ver coisas diferentes, então um filme europeu é sempre bem vindo. Longa de estreia do diretor Sébastien Vanicek, Infestação (Vermines, no original) consegue colocar um paralelo subliminar pra fazer uma crítica social: as indesejadas aranhas são invasoras estrangeiras. E as aranhas atacam imigrantes africanos que também podem ser chamados de invasores estrangeiros.

Mas por outro lado, Infestação sofre com personagens antipáticos. O protagonista Kaleb brigou com a irmã, com o amigo, com todo mundo, se der mole ele briga até com o espectador. Caramba, estamos vendo um filme onde pessoas precisam enfrentar aranhas pra sobreviver, heu preciso me importar com essa pessoa. Do jeito que aparece no filme, dane-se o Kaleb, morra.

Tem outro problema, mas é um problema que também acontece sempre em Hollywood. As aranhas preferem o escuro, ok. Se você jogar uma luz forte, elas vão fugir, ok. Mas uma luzinha de celular não deveria fazer elas fugirem daquele jeito! Entendo que o filme precisava dar aos personagens um meio de combater as aranhas, mas achei meio tosco.

Mesmo assim, ainda achei positivo ver um terror com um ritmo diferente dos “Blumhouse” padrão. Agora, tem um problema no fim, mas como é no fim, vou mandar um aviso de spoiler.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

No fim, o imóvel está tomado pelas aranhas, e eles resolvem implodir o prédio. Caramba! Iam sobrar aranhas e ovos de aranhas nos escombros! Eles deveriam ter colocado fogo no prédio!

FIM DOS SPOILERS!

Por fim, uma curiosidade: aquele prédio redondo onde o filme se passa realmente existe. São as “Arenas de Picasso”, em Noisy-le-Grand, perto de Paris, projetadas pelo arquiteto Manuel Núñez Yanowsky nos anos 80.

Os Estranhos – Capítulo 1

Crítica – Os Estranhos – Capítulo 1

Sinopse (imdb): Uma jovem viaja para o campo com seu namorado para começar uma nova vida. Quando seu carro quebra, o casal é forçado a passar a noite em uma isolada casa Airbnb, onde a dupla é aterrorizada até o amanhecer por três estranhos mascarados.

Heu não tenho o hábito de ler informações sobre os filmes que vou ver no cinema. Faço isso para baixar expectativas antes de entrar na sala. Por isso, achei que esse “Capítulo 1” era um prequel daquele Os Estranhos de 2008.

Naquele Os Estranhos, um jovem casal é atacado por estranhos e violentos vizinhos mascarados. que tentam invadir sua casa. Na época chamou a atenção por ser estrelado pela Liv Tyler, mas não é um grande filme. Tem algum clima de tensão bem construído, mas é uma história muito vazia, não tem muita historia pra contar, acaba que é um filme esquecível.

Ainda mais esquecível foi a continuação, Os Estranhos Caçada Noturna, lançada em 2018, que se não fosse o post aqui no heuvi, heu nem me lembrava que tinha visto!

Aí veio esse “Capítulo 1”, que achei que era um prequel, mas na verdade é uma refilmagem do primeiro filme. Exatamente a mesma história, um casal sendo atacado por três estranhos mascarados, que tentam invadir a casa.

Assim como no filme de 2008, tem muito pouca história pra contar, dava pra resumir tudo em uns 30 ou 40 minutos. O filme se estende por cenas de perseguição com zero criatividade. Saí da sessão pensando “puxa, podiam reduzir esse filme e incluir o segundo capítulo, poderia dar um bom filme de uma hora e meia”.

Ai cheguei em casa e fui ver o imdb, e descobri que é bem pior. Não serão dois filmes, e sim três! Já filmaram as duas continuações, uma deve ser lançada no fim do ano e a outra ano que vem!

Vamulá, galera. Se vocês querem ter três filmes, precisam ter um bom primeiro filme, que instigue o espectador a voltar para as continuações. Os Estranhos Capitulo 1 sofre do mesmo problema de Rebel Moon, que é uma franquia forçada, onde ninguém se importa com o que ainda não estreou. E Os Estranhos Capitulo 1 é bem fraco!

Ok, admito que queria ver mais. Queria saber quem são esses mascarados, qual é a história deles, qual é a motivação deles. Vemos algumas pistas que podem (ou não) ser exploradas, como os meninos religiosos, ou o comentário que “eles não querem se misturar com os caipiras”. Se Os Estranhos Capitulo 1 fosse mais curto, e a história se expandisse pra esse caminho, provavelmente seria um filme melhor.

Mas, a previsão não é boa. Se a ideia é fazer três filmes, provavelmente o segundo será só enrolação. Teremos que esperar até o terceiro filme pra saber qual é a desses caras – se é que vão explicar!

Ainda queria falar do diretor, Renny Harlin. Ele nunca foi um grande diretor, nunca foi um nome do primeiro time. Mas ele dirigiu alguns bons filmes nos anos 80 e 90, como Duro de Matar 2, Risco Total e A Ilha da Garganta Cortada. Fico tão triste de ver um cara desses em projetos tão ruins, lembro que alguns anos atrás ele fez um dos piores filmes que vi nos últimos anos, Os Renegados / The Misfits. E agora ele pega um filme fraco e resolve transformar numa franquia. E a chance de dar errado é imensa!

(Um breve parágrafo pra dizer que entendo o mercado. É mais fácil vender ingresso pra um filme de franquia, como Os Estranhos, do que pra um filme desconhecido, como Late Night With the Devil, que deve ser lançado no segundo semestre. O segundo é muito melhor que o primeiro, mas se bobear vai vender menos ingressos. Triste realidade mercadológica.)

Enfim, o texto está ficando grande, e Os Estranhos Capitulo 1 não merece isso. Mas só queria falar que tem uma cena no meio dos créditos que não faz o menor sentido. Se o espectador já estava com gosto ruim na boca, essa cena pós créditos ainda piorou.

Imaculada

Crítica – Imaculada

Sinopse (imdb): Cecilia, uma jovem religiosa, se torna freira em um convento isolado na região rural italiana. Após uma gravidez misteriosa, Cecilia é atormentada por forças perversas, enquanto confronta segredos sombrios e horrores do convento.

Há poucas semanas tivemos A Primeiro Profecia, um filme de terror onde uma jovem americana ia pra Itália para virar freira e acabava ficando grávida numa trama que envolvia uma grande conspiração. E agora a gente tem Imaculada, um filme de terror onde uma jovem americana vai pra Itália para virar freira e acaba ficando grávida numa trama que envolve uma grande conspiração. Sim, mais um caso de “filmes gêmeos”, como Vida de Inseto e Formiguinhaz, Volcano e Inferno de Dante, Armageddon e Impacto Profundo, Matrix e 13º Andar, etc (falei sobre isso num podcrastinadores anos atrás)

Apesar de parecidos, A Primeira Profecia e Imaculada são diferentes na motivação das suas conspirações, e, principalmente, no final. Porque o final de Imaculada é MUITO bom. Volto a ele no fim do texto, pode deixar, sem spoilers.

Imaculada tem uma história curiosa nos bastidores. Sydney Sweeney fez uma audição para este filme em 2014, mas não passou no teste, e acabou que o projeto nunca saiu do papel. Anos mais tarde, Sweeney, agora como produtora, procurou o roteirista, adquiriu os direitos, contratou um diretor (Michael Mohan, que já tinha trabalhado com ela em The Voyeurs), conseguiu investidores, levou o filme para a produtora Neon, e finalmente conseguiu o papel.

E Sydney Sweeney está muito bem aqui. Já ouvi elogios sobre sua atuação na serie Euphoria, mas como não vi a série, minhas referências são filmes onde ela não entrega nada demais, tipo The Voyeurs e Madame Teia. Já em Imaculada ela mostra que tem potencial pra ser do primeiro time. Ainda sobre o elenco, um dos papéis principais é de Álvaro Morte, de La Casa de PapeI. É curioso ver o Professor falando em inglês…

Imaculada é curto, menos de uma hora e meia, o que acho perfeito pra filmes de terror. Gostei muito do clima esquisitão dentro do convento. Aparentemente as pessoas aceitam facilmente as coisas estranhas, mas tudo faz sentido no final. E preciso fazer um elogio aos jump scares aqui em Imaculada. Não é “filme de sustinho” à la James Wan, mas tem um ou outro aqui e ali, e são bem construídos. Preciso admitir que um deles me pegou! Ah, e é bom avisar que Imaculada é graficamente muito violento. Tem umas cenas onde o gore lembra os giallos – os personagens falando em italiano ajudam nessa lembrança.

Sobre o final. Já comentei outras vezes que um bom final eleva a nota do filme, assim como um final ruim abaixa a nota. E achei o final aqui muito bom. Sem spoilers, mas é um final que traz três coisas que admiro no cinema. Primeiro, é um final tecnicamente bem feito, é um take longo, quase três minutos sem corte. Segundo, é uma cena que exige muito da atriz, e a Sydney Sweeney não decepciona e entrega uma cena visceral, é quase um “clipe de Oscar”. Por fim, é um final simbolicamente incômodo. Muita gente não vai gostar, por ser um tema delicado, mas, independente de gostar ou não, acho difícil alguém sair do cinema indiferente depois de uma cena dessas.

Não vou comentar mais porque não quero entrar em spoilers. Mas posso dizer que Imaculada vai dar o que falar, principalmente por causa desse final.

Late Night With the Devil

Crítica – Late Night With the Devil

Sinopse (imdb): Uma transmissão televisiva ao vivo em 1977 dá terrivelmente errado, liberando o mal em todos os lares do país.

Ah, a expectativa… Vi três filmes de ação seguidos, e enquanto estava escrevendo sobre eles, vi que pipocavam críticas sobre um novo “melhor filme de terror do ano”. Claro que seria o meu próximo filme.

Vejam bem, Late Night With the Devil não é ruim, longe disso. Principalmente quando a gente compara com um monte de lixo que chega mensalmente no gênero “terror”. Mas tenho minhas dúvidas sobre essa denominação de “melhor do ano”.

Acho que o pior problema de Late Night With the Devil é que ele é vendido como um found footage. Tem uma introdução onde dizem que aquele é o programa ao vivo, que foi exibido na TV no dia 31 de outubro de 1977, e que “encontraram imagens dos bastidores”. E aqui está o problema: nessas imagens dos bastidores o filme segue normalmente, como se câmeras estivessem acompanhando as pessoas. E vamos combinar: aquilo NÃO é found footage! Inclusive, muda o formato da tela. Pra que querer vender o filme por uma coisa que ele não é?

(E se os bastidores não são found footage, a parte final do filme e menos ainda!)

Agora, por outro lado, a parte que mostra o programa em si é muito boa. Realmente parece que estamos vendo um programa de auditório dos anos 70. Toda a ambientação, cenários, figurinos, efeitos, tudo remete àquele formato. Se heu não conhecesse o ator principal de outros filmes, até poderia acreditar que é um programa real!

(Uma curiosidade: a data escolhida foi 31 de outubro de 1977. Eles queriam um dia de Halloween, e queriam criar um programa numa segunda feira. E a única vez que 31 de outubro caiu numa segunda feira na década de 70 foi em 1977.)

Escrito e dirigido pelos irmãos Cameron Cairnes e Colin Cairnes, Late Night With the Devil é terror, mas o terror em si demora pra começar, só vemos coisas assustadoras lá pelo terço final. Mas pelo menos pra mim isso não foi um problema, porque o show / programa de TV é muito bem conduzido e, na minha humilde opinião, a tensão cresceu no momento certo.

Sem spoilers, mas a parte final do filme abandona de vez o found footage, o que não seria um problema se o filme não se vendesse assim. E a cena final traz um plot twist interessante, gostei de como os roteiristas / diretores amarraram a história.

No elenco, achei legal ver David Dastmalchian – o Bolinha de Esquadrão Suicida – num papel principal. O cara sempre foi coadjuvante, é daqueles que a gente vê e pensa “de onde já vi esse cara?”. E em Late Night With the Devil ele mostra um personagem com camadas, é um cara ao mesmo tempo inseguro e confiante, tem seus problemas pessoais mas os deixa nos bastidores e segue conduzindo o programa. E também queria falar da menina Ingrid Torelli, que mostra timidez e logo depois se transforma. Guardemos esse nome!

No fim, Night With the Devil é um bom filme. Mas se não estivesse sendo vendido como found footage, seria melhor.

Night With the Devil tem previsão de chegar ao circuito em setembro. Por enquanto, só na Shudder.

Abigail

Crítica – Abigail

Sinopse (imdb): Um grupo de criminosos sequestra uma bailarina de doze anos, filha de um poderoso homem do submundo, para coletar um resgate de US$ 50 milhões. Em uma mansão isolada, os raptores logo descobrem que não estão com uma garota normal.

Antes de falar do filme, queria falar mal da divulgação. Todo o marketing se baseou na “menina vampira”. O trailer já mostra isso! Mas ela só se revela uma vampira no meio do filme, lá pelos 40 ou 45 minutos. Imagina que legal seria se o espectador não soubesse? Ia ser que nem Um Drink Para o Inferno, onde o espectador entrava no cinema sem saber que era um filme de vampiros!

Enfim, vamos ao filme. Abigail (idem, no original) é o novo filme da dupla Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett (que têm uma produtora chamada Radio Silence), que fizeram o bom Casamento Sangrento (filme acima da média que quase ninguém viu porque foi lançado no meio da pandemia), e depois foram fazer “mais do mesmo” com Pânico 5 e Pânico 6 (não são filmes ruins, mas também não são nada de mais).

Abigail lembra bastante Casamento Sangrento: personagens sendo perseguidos em uma mansão antiga e enorme. Os diretores souberam aproveitar bem o clima nos ambientes e cômodos da mansão.

Abigail tem MUITO gore. Algumas mortes, alguns membros decepados, e muito, muito sangue. Mas, o filme tem um pé na comédia, o gore aqui não causa repulsa. Algumas cenas são bem engraçadas, seja pelos diálogos ou pelas situações de humor negro. O filme até faz piadas com os clichês de vampiros no cinema!

A maquiagem também é muito boa. A produção optou por dentes que lembram os grandes predadores, como tubarões, em vez dos tradicionais caninos dos vampiros. E também usaram efeitos práticos, como por exemplo na cena onde Abigail se equilibra no corrimão – ela estava pendurada por cabos de segurança, mas era ela mesma se equilibrando.

Sobre o elenco, o grande nome é Alisha Weir. A menina é ótima, tanto quando passa a impressão de ser uma menininha doce e inocente, quanto quando vira um monstro. E ela atacando enquanto dança balé deu um charme especial à personagem. Agora, sobre o resto, os personagens são unidimensionais, achei todos meio caricatos. Acho que o único que se salva é o Kevin Durand, que faz o “grandalhão burro”, mas pelo menos tem carisma na entrega de alguns bons diálogos. O resto é mais do mesmo: Melissa Barrera, Dan Stevens, William Catlett, Kathryn Newton e Angus Cloud (este último, infelizmente, morreu de overdose, aos 25 anos, antes da estreia do filme). Completam o elenco participações especiais de Giancarlo Esposito (em duas cenas) e Matthew Goode (em uma cena).

Por fim, uma referência que nem todos vão pegar. O personagem do Giancarlo Esposito dá apelidos aos outros personagens, e depois os chama de “pack of rats”. “The Rat Pack” era o apelido dado a um grupo de artistas populares nos anos 50 e 60: Frank Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis Jr., Peter Lawford e Joey Bishop – Don Rickles era considerado um “membro honorário”. É daí que vem os nomes dos personagens Frank, Dean, Sammy, Peter, Joey e Rickles. (Nos anos 80, adaptaram esse nome em outro grupo, o “brat pack”, com Emilio Estevez, Anthony Michael Hall, Rob Lowe, Andrew McCarthy, Demi Moore, Judd Nelson, Molly Ringwald e Ally Sheedy.)

A Primeira Profecia

Crítica – A Primeira Profecia

Sinopse (imdb): Uma jovem americana é enviada a Roma para começar uma vida de serviço à Igreja. Ela acaba desvendando uma aterrorizante conspiração que deseja provocar o nascimento do mal encarnado.

Confesso que heu estava com a expectativa lááá embaixo pra ver mais uma releitura de um clássico do terror. Acho que O Exorcista O Devoto me deixou traumatizado. Mas, não é que A Primeira Profecia não é ruim?

Recapitulando a franquia: dirigido por Richard Donner, A Profecia foi lançado em 1976 e hoje é considerado um dos melhores filmes de “terror religioso” da história do cinema. Teve continuações em 78, 81 e 91, e uma refilmagem em 2006 (pra aproveitar a data 06/06/2006). Há 18 anos ninguém mexia na franquia, até que apareceu este prequel.

Longa metragem de estreia da diretora Arkasha Stevenson, A Primeira Profecia (The First Omen, no original), diferente da maioria das releituras recentes, é um filme extremamente respeitoso com o original de 1976. A Primeira Profecia tem cara de filme feito nos anos 70, não só nos figurinos e cenografias, mas principalmente nos posicionamentos e movimentações de câmera. A galera acostumada com o “terror Blumhouse” deve até estranhar.

Um parágrafo à parte pra falar da trilha sonora de Mark Korven. A trilha é sensacional, usa as cordas e o coro de maneira perfeita. E ainda criou uma nova versão para o tema do original, composto por Jerry Goldsmith (e que lhe deu seu único Oscar em toda a carreira). Essa é daquelas trilhas pra se ouvir quando estivermos no clima de algo assustador!

O elenco também é muito bom. Nell Tiger Free, da série Servant, manda muito bem como protagonista. E Sonia Braga tem um dos papeis principais! Tem dois atores que gosto em papeis menores, Bill Nighy (como um cardeal, bem diferente do que ele costuma fazer), e Ralph Ineson (que tem uma das vozes mais legais da atual Hollywood). Também tem uma ponta de Charles Dance. Também no elenco, Maria Caballero, Nicole Sorace e Ishtar Currie-Wilson (sou o único que achei ela parecida com a Mia Goth?).

A Primeira Profecia é bom, melhor do que a média, mas ainda não é um filme perfeito. Rolam alguns jumpscares meio óbvios – por exemplo, o “peguete” da protagonista, dava pra imaginar exatamente o que iria acontecer. O mesmo posso dizer sobre o plot twist que aparece no terço final. Acredito que a maior parte da audiência já desconfiava daquilo. E claro que, por ser um prequel, a gente já sabe mais ou menos como vai terminar – e tem gancho pra uma continuação.

Mesmo assim, A Primeira Profecia foi uma agradável surpresa. Ah, se todas as releituras de clássicos do terror fossem assim…

Alice no País das Trevas

Crítica – Alice no País das Trevas

Sinopse (imdb): Uma adolescente recentemente enlutada vai morar com a avó em uma casa isolada na floresta, sem saber que forças sinistras se escondem lá dentro.

Quando me ofereceram a oportunidade de assistir e produzir conteúdo sobre Alice no País das Trevas (Alice in Terrorland, no original), fui catar o trailer. Parecia ser bem ruim. Mas, filme de terror ruim às vezes é divertido, então fui ver qualé.

Pena, aqui não é divertido, é só ruim.

Alice é uma adolescente que perdeu os pais num incêndio. Aí ela vai pra casa da avó, e começa a ter sonhos muito loucos.

Acho que a ideia era usar os sonhos (ou pesadelos) pra transformar em terror os personagens e situações da história clássica – ideia que até poderia funcionar, a história original da Alice tem muitos elementos loucos que podem ser interpretados como assustadores. Mas o desenvolvimento desses sonhos é péssimo! Não tem absolutamente nenhum momento assustador em todo o filme – e era pra ser um filme de terror!

As caracterizações também são péssimas. Chega ao ponto do Coelho usar uma máscara, mas todo o resto usa maquiagem. De quem foi a ideia estúpida de colocar aquela máscara tosca no Coelho?

Pra piorar, quando ela encontra o Chapeleiro Louco, o filme apresenta um plot twist que já era óbvio desde o início do filme!

O roteiro e a direção são de Richard John Taylor. Vi no imdb que este foi seu sétimo filme como diretor em dois anos (2022 e 2023). Para um ator, é comum ver 3 ou 4 filmes em um ano (às vezes até mais), mas para um diretor, que normalmente se envolve em todas as etapas da produção, é bem mais difícil. A não ser que seja uma produção pequena e preguiçosa como esta.

Alice no País das Trevas é curtinho, uma hora e dezessete minutos (sendo que são sete minutos de créditos, pra que tanto crédito em uma produção tão caseira???). E mesmo assim parece arrastado em alguns momentos.

Pena. Ideia boa, mas muito mal desenvolvida.