Feriado Sangrento

Crítica – Feriado Sangrento

Sinopse (imdb): Depois que um tumulto em uma liquidação acaba em tragédia, um assassino misterioso fantasiado de peregrino aterroriza a cidade de Plymouth em Massachusetts, cidade berço do feriado americano de Ação de Graças.

Antes de falar sobre o filme, aquele comentário que infelizmente tem sido mais recorrente do que deveria ser. A crítica está atrasada porque Feriado Sangrento não teve sessão de imprensa. Cheguei a entrar em contato com a assessoria, disseram que ia ser exibido na CCXP, ou seja, quem não foi pra CCXP não viu antes da estreia…

Enfim, vamos ao filme. Feriado Sangrento, ou Thanksgiving, no original, na verdade era um trailer fake do projeto Grindhouse. Pra quem não se lembra, em 2007 Quentin Tarantino e Robert Rodriguez criaram um projeto que emularia sessões de cinemas vagabundos dos anos 70. Tarantino fez À Prova de Morte; Rodriguez, Planeta Terror, e a ideia era exibir uma sessão dupla com alguns trailers de filmes que não existem.

A ideia não deu certo, quase nenhum cinema exibiu a sessão dupla, e os dois filmes acabaram sendo lançados individualmente. Mas os trailers estão por aí, inclusive o trailer de Thanksgiving está no youtube.

(Outros dois trailers fakes também viraram longas metragens, Machete e Hobo With a Shotgun.)

Anos se passaram, e agora Eli Roth, que tinha feito aquele trailer, agora finalmente apresenta o longa!

Algumas das cenas do trailer estão no longa, mas a proposta é um pouco diferente. No trailer tudo tinha cara de anos 70, e Feriado Sangrento não só se passa nos dias de hoje, como lives de redes sociais são parte intrínseca da trama.

Feriado Sangrento não é um grande filme, é apenas um slasher eficiente. Mas, em tempos de lançamentos ruins no circuito como O Jogo da Invocação e A Maldição do Queen Mary, ser “apenas um slasher eficiente” num cenário desses é uma boa notícia. Temos boas mortes, um clima tenso até o fim do filme, e um whodunit que funciona.

Talvez Eli Roth seja mais conhecido por ter sido um dos atores principais de Bastardos Inglórios, mas a gente não pode esquecer que um dos seus primeiros filmes como diretor foi O Albergue. Ou seja, o cara manja dos paranauês de filmar um bom gore. E isso tem aqui em uma quantidade razoável: são algumas mortes bem criativas – apesar de algumas delas estarem no trailer fake.

E preciso falar do whodunit. Assim como Pânico, este é um slasher com whodunit – a gente tem alguns personagens suspeitos, precisamos descobrir qual deles é o assassino e qual foi o motivo. E, admito: não pesquei quem era.

No elenco, pouca gente conhecida. Patrick Dempsey tem um papel importante, mas secundário; Gina Gershon faz quase uma ponta. A final girl da vez é Nell Verlaque, não conhecia, ela funciona pro que o filme pede.

Como falei antes, Feriado Sangrento não é um grande filme, mas é bem feito, divertido, e serve ao seu propósito: um bom slasher que vai agradar o público que for ao cinema.

Agora, dos cinco trailers fakes do Grindhouse, faltam dois. Será que veremos os longas Don’t, do Edgar Wright, ou Werewolf Women of the S.S., do Rob Zombie?

O Malvado: Horror no Natal

Crítica – O Malvado: Horror no Natal

Sinopse (imdb): Em uma pacata cidade montanhosa, Cindy tem seus pais assassinados e seu Natal roubado por uma figura verde sedenta de sangue em um traje de Papai Noel. Mas quando a criatura começa a aterrorizar a cidade, Cindy procura matar o monstro.

E se o Grinch fosse uma história de terror?

Dirigido pelo desconhecido Steven LaMorte, O Malvado: Horror no Natal (The Mean One, no original) tem um pé fortemente fincado no trash. Muita coisa não tem muita lógica – como por exemplo a cidade passar 20 anos sem nenhuma visita de forasteiros com espírito natalino. Mas, no clima certo, o espectador pode se divertir.

A proposta aqui é: num flashback, Cindy, a menina da história original, encontra e abraça o Grinch. Sua mãe, assustada, o ataca, mas acaba tropeçando e morrendo na queda. Cindy fica traumatizada e se muda da cidade. Anos depois ela volta decidida e dar um encerramento para essa história e seguir em frente, mas acaba reencontrando o monstro. E, claro, ninguém na cidade dá ouvidos a ela.

Falei que tem um pé no trash porque todo o clima do filme é na galhofa. Nenhuma aparição do Grinch vai causar medo, e as mortes geram mais gargalhadas do que repulsa. É terror, mas vai gerar mais risadas do que assustar.

O Malvado: Horror no Natal mostra muitas mortes, e a maior parte usa efeitos de maquiagem e props. Mas, em pelo menos três momentos, temos sangue em cgi (duas vezes por causa de tiros, uma vez quando uma pessoa é triturada num moedor de carne). Ficou muito claro que um efeito prático tosco funciona muito melhor que um cgi tosco! Ainda nesse assunto, a maquiagem do Grinch é bem feita.

Pra quem não sabe, o Grinch é um personagem criado pelo Dr. Seuss. Ao longo do filme rolam algumas referências, como um cartaz escrito “Horton” ou um personagem que se chama “Zeus”, mas fala que chamam ele de “Doctor”. Outra coisa legal é ter uma narração em off em rimas, como acontece na história original.

O Malvado: Horror no Natal não é bom. Mas, como falei, pode agradar se você estiver com amigos que entrarem no espírito da galhofa.

Isolamento Mortal / Sick

Crítica – Isolamento Mortal / Sick

Sinopse (imdb): Durante o mês de abril de 2020, no meio da pandemia da COVID, Parker e sua melhor amiga decidem colocar-se em quarentena na casa do lago da família, onde ficarão isoladas do mundo – ou pelo menos é o que elas pensam.

Dois dias atrás falei aqui sobre O Jogo da Invocação, filme bem ruim, mas com distribuição no circuitão. Hoje vou comentar sobre Isolamento Mortal (Sick, no original), filme do ano passado, que não passou nos cinemas e foi mal lançado no streaming.

Isolamento Mortal não é um grande filme. Na verdade, é apenas um slasher simples. Mas, é curto, bem filmado, tem um bom ritmo, e um roteiro com algumas boas sacadas. Ou seja, é aquele feijão com arroz gostoso que vai agradar a qualquer fã de terror.

O diretor John Hyams é desconhecido, mas todo fã de terror vai se lembrar do nome do roteirista Kevin Williamson, o mesmo de Pânico, Prova Final e Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado. Isolamento Mortal traz algumas semelhanças com Pânico, a começar pela cena inicial: uma sequência com um personagem isolado do resto do filme, sequência que a princípio poderia ser extraída do filme, mas que serve para mostrar qual é o modus operandi deste novo vilão slasher.

Não conhecia o diretor John Hyams, não vi nenhum outro filme dele – mas reconheci o sobrenome, ele é filho de Peter Hyams (2010, Timecop, Outland Comando Titanio). Preciso dizer que gostei de como John conduz o filme. Logo na sequência inicial, vemos um plano sequência muito bem construído. Ok, entendo que aquele tipo de plano sequência cheio de emendas, mas de qualquer maneira, heu valorizo mesmo quando é “plano sequência fake”. Outra boa sacada do diretor foi colocar o vilão slasher em várias sequências lá no fundo da tela. O espectador vê, mas os personagens não. Isso ajuda a criar um clima tenso.

Assim como acontece nos filmes da franquia Pânico, aqui também rolam muitas referências, como ter personagens Jason e Pamela, referências a Sexta-Feira 13. E, além de filmes de terror, aqui também tem várias referências à Covid-19. Foi uma boa sacada do roteiro.

Isolamento Mortal foi lançado no ano passado, em 2022, na plataforma Peacock, streaming que não existe aqui no Brasil. Hoje está disponível em alguns streamings por aqui, mas precisa procurar. E dá raiva de saber que você precisa cavar os streamings pra ver Isolamento Mortal, enquanto O Jogo da Invocação está nas salas de cinema…

O Jogo da Invocação

Crítica – O Jogo da Invocação

Sinopse (imdb): Os irmãos Marcus, Billie e Jo são atraídos para um jogo demoníaco em que a única regra é: se você perde, você morre.

É lá vamos nós para mais um terror ruim com espaço no circuito, enquanto a gente sabe que outros bem melhores não têm espaço na grade.

Escrito e dirigido por Eren Celeboglu e Ari Costa, estreantes em longas, O Jogo da Invocação (All Fun and Games, no original) poderia ser mais um slasher besta com roteiro preguiçoso. Já vimos vários, esse seria apenas mais um. Poderia ser um filme fraco normal se não fosse algo que acontece perto do fim e tira vários pontos do resultado final, e faz o filme brigar por uma vaga entre os piores do ano.

E olha que esse filme tem um elenco muito melhor que outros títulos de roteiros igualmente ruins. Os dois nomes principais são bons: Natalia Dyer, badalada por Stranger Things; e Asa Butterfield, de A Invenção de Hugo Cabret e Ender’s Game (dentre vários, o garoto já fez bastante coisa relevante). E ainda tem Annabeth Gish (A Maldição da Residência Hill, Missa da Meia Noite, A Queda da Casa de Usher) num papel menor. Isso porque não falei que conta com os irmãos Russo (Vingadores) na produção!

O filme falha miseravelmente em toda e qualquer possibilidade de tentar assustar, ou pelo menos criar um clima tenso. Tem uma cena onde vemos as fantasminhas cercando os personagens e gritando “read the book!” que é uma cena onde dei uma boa gargalhada. Mas “desconfio” que o objetivo do filme não era ser engraçado…

É terror, né? Basicamente um cara matando os amiguinhos. Tem alguma morte graficamente bem filmada? Não! Parece filme de sessão da tarde!

Mais: o filme tem uma hora e dezessete minutos. Boa duração pra um slasher vagabundo. E mesmo assim, tudo é tão mal conduzido que o filme se arrasta…

Agora, o que mais me deixou com raiva foi uma parte no final onde o filme propõe uma regra e logo depois desrespeita a própria regra. Mas antes de comentar isso, um aviso de spoilers.

SPOILERS!

O garoto fala a maldição, aí o fantasma possui ele. O cara fala a maldição, o fantasma sai do menino e troca de corpo. Ok, é assim que funciona. A menina fala a maldição pra salvar o cara – mas, do nada, ela consegue “recusar” a possessão! Então era só enfiar o dedo no olho do fantasma (!) que tudo bem???

Não achei O Jogo da Invocação tão ruim quanto O Exorcista O Devoto, mas essa cena me deu uma raiva semelhante!

FIM DOS SPOILERS!

A boa notícia é que a história fecha e não precisa de continuação. A má notícia é que tem uma cena extra com o único objetivo de criar uma continuação.

When Evil Lurks / Cuando Acecha la Maldad

When Evil Lurks / Cuando Acecha la Maldad

Sinopse (imdb): Em uma cidade remota, dois irmãos encontram um homem infectado pelo diabo prestes a dar à luz a própria doença. Eles decidem se livrar do homem, mas só conseguem espalhar o caos.

O mercado cinematográfico é injusto. Tivemos um grande lançamento nos cinemas, O Exorcista: O Devoto, que é um filme bem ruim. Pouco depois a gente teve um outro lançamento, mais discreto, Nefarious, que é um filme ok, mas não é nada demais. E agora a gente tem um terceiro filme que usa o tema “possessão demoníaca”, mais uma vez sob um ponto de vista diferente, When Evil Lurks ou Cuando Acecha la Maldad, muito melhor do que os outros dois, mas sem previsão de chegar às salas de cinema.

Filme argentino, When Evil Lurks é uma produção da Shudder, serviço de streaming focado em títulos de terror. O roteiro e a direção são de Demián Rugna, que uns anos atrás fez Aterrorizados, filme que nem sabia que existia e agora preciso ver.

When Evil Lurks fala de possessão demoníaca, mas de um jeito diferente, a possessão aqui se mistura com uma espécie de contágio. O filme se passa num universo diferente do nosso, onde existem possessões e também existem regras para lidar com isso. O filme é tenso, bem filmado, bem atuado, traz gore na quantidade certa, e tem algumas cenas realmente perturbadoras. Não é perfeito, mas é um dos melhores filmes de terror do ano.

Um pequeno parágrafo para falar de jump scares. A tradução literal seria um “susto que te faz dar um pulo”. Isso acontece muito em filmes de terror, mas normalmente são feitos de um modo meio previsível, você já consegue imaginar como é que aquele susto vai aparecer – ou seja, tem o susto, mas não faz pular o espectador experiente. O jump scare bem feito é aquele que você não consegue prever, e isso acontece aqui algumas vezes. Claro, não vou dizer quando acontecem, mas, tem duas cenas envolvendo animais que realmente me fizeram dar um pulo na poltrona.

Tem uma sequência no meio do filme, quando o cara vai encontrar sua ex-mulher, que é uma sequência muito boa com um jump scare sensacional (talvez o melhor jump scare do ano até agora). Mas é uma sequência que acho que fugiu um pouco a regra proposta pelo filme. Como talvez seja spoiler, vamos aos avisos de spoiler.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

O filme deixa claro que este é um mundo onde existem possessões, existem até regras que devem ser seguidas quando se encontra um possuído. Mas quando o protagonista vai até a casa da ex, as pessoas (incluindo policiais) não levam a sério essas regras, agem como se fosse um mundo normal.

FIM DOS SPOILERS!

Não sei se curti muito a parte final, mas mesmo assim recomendo When Evil Lurks para qualquer um que goste de um bom filme de terror diferente do óbvio.

Nefarious

Crítica – Nefarious

Sinopse (imdb): No dia de sua execução, um assassino em série passa por uma avaliação psiquiátrica na qual ele afirma ser um demônio, e ainda alega que antes de seu tempo acabar, o psiquiatra cometerá três assassinatos.

Pouco depois do lançamento do decepcionante O Exorcista: O Devoto, chega um novo filme que usa o tema da possessão demoníaca, mas sob um ponto de vista bem diferente. Sabe quando uma FC é “cientificamente correta”? Então, a proposta aqui é fazer uma possessão “teologicamente correta”.

Dirigido pela dupla Chuck Konzelman e Cary Solomon, Nefarious traz um prisioneiro, no corredor da morte, que precisa ser avaliado psicologicamente para saber se está são ou louco. Se estiver são, será executado; se estiver louco será transferido para outro tipo de presídio. Quase todo o filme se passa em uma sala, onde os dois conversam. Sim, quase todo o filme é um diálogo entre um prisioneiro supostamente possuído e um psiquiatra ateu.

Ou seja, esqueça maquiagens fortes, corpos distorcidos e fluidos corporais coloridos. Aliás, tem gente achando que Nefarious é terror, mas está mais pro suspense. O demônio aqui fica só no papo. E mesmo assim, o filme consegue ser envolvente, mérito de um roteiro bem escrito e de pelo menos um bom ator.

Sean Patrick Flanery é um ator com dezenas de filmes no currículo, mas nenhum grande papel, nunca tinha conseguido chamar a atenção. Mas aqui ele está realmente impressionante, com um vasto repertório de tiques enquanto está possuído, e ainda consegue se mostrar bem diferente quando está “na outra personalidade”. Seu companheiro de tela, Jordan Belfi, não está mal, faz apenas o feijão com arroz.

Nefarious é uma produção assumidamente cristã, então claro que temos mensagens religiosas. Nada contra, mas acho que o filme seria mais rico se tivesse um ponto de vista oposto mais bem elaborado. O psiquiatra se diz ateu mas cai muito fácil no papo religioso.

Não gostei da parte final. Depois de boa parte do filme dentro da cadeia, o filme tem um epílogo, e achei esse epílogo longo demais. Nada que estrague a experiência, mas podia ser bem mais sucinto.

Por fim, um breve comentário sobre a polêmica. Assim como aconteceu com Som da Liberdade, existe uma polêmica em volta de Nefarious. Mas, assim como aconteceu com Som da Liberdade, a polêmica não tem a ver exatamente com o filme, mas com quem o fez. E o meu leitor sabe que prefiro comentar a obra e não o autor da obra. Por isso que não vou comentar. Mas posso dizer que dentro do filme não tem motivo para polêmica.

Five Nights At Freddy’s – O Pesadelo Sem Fim

Crítica – Five Nights At Freddy’s – O Pesadelo Sem Fim

Sinopse (imdb): Mike Schmidt é um jovem contratado para trabalhar como o vigia noturno do antigo restaurante familiar Freddy Fazbear’s Pizza, um lugar famoso por seus característicos robôs animatrônicos que, quando chega a noite, se transformam em assassinos.

Heu tenho um filho de 14 anos que joga Five Nights at Freddy’s, o “FNAF”. Desde o início do ano ele está empolgado com a adaptação para o cinema. Ele tava tão empolgado que o levei ele na sessão de imprensa. E posso dizer que depois da sessão ele, como fã do jogo, gostou do filme. E heu, como fã de cinema, não gostei.

Antes de tudo, preciso falar que eu nunca joguei o jogo, tudo que são informações que o meu filho falou. Mas sempre defendo que qualquer adaptação, não só de jogos, deveria ser algo independente da obra original. Não gosto de filme que precisa de “manual de instruções”.

A ideia era promissora: um guarda-noturno que tem que enfrentar robôs animatrônicos assombrados por almas de crianças. Isso podia dar um bom filme de terror. Mas… O diretor resolveu focar no problema pessoal do protagonista, que teve o irmão foi sequestrado quando ele era criança. Boa parte do filme fica repetindo a história do sequestro do irmão. Essa história até tem a ver com o fim do filme, só que não é algo tão essencial. Se você tirar essa subtrama do irmão sequestrado, o filme não perde nada. Ou seja, a gente perde um tempão para uma história que não era necessária. E, pra piorar: o espectador entra no cinema pra ver um filme de terror, era melhor dedicar mais tempo com os animatrônicos do mal do que com o drama do protagonista.

Existe outro problema básico: os animatrônicos, a princípio, não são criaturas assustadoras. O filme parte do princípio de que as pessoas têm medo dos robôs, mas, você precisa fazer alguma coisa com esse robô pra ele virar assustador. É que nem um palhaço. Um palhaço não é assustador, mas pode virar assustador dependendo de como você apresentá-lo. Aqui em Five Nights At Freddy’s – O Pesadelo Sem Fim as pessoas têm medo dos robôs. Mas não, eles não são assustadores.

Dito isso, preciso elogiar o fato de que tinham robôs animatrônicos no set. O mais fácil seria fazer tudo em cgi, mas chamaram a Jim Henson Company para a confecção dos robôs. Não sei se algum robô é cgi (provavelmente é), mas boa parte eram robôs reais. Boa sacada!

Teve uma coisa que me incomodou na parte final, que é não saber se o vilão é algo sobrenatural ou algo humano. Porque existem os animatrônicos sobrenaturais, mas também existe um vilão humano. Péra aí, ou o seu vilão é algo sobrenatural, ou o seu vilão é um cara maluco, humano. Ter os dois ao mesmo tempo não faz muito sentido. Meu filho falou que o jogo tem uma explicação sobre isso. Se a adaptação fosse bem feita, você teria uma linha no roteiro explicando, mas no filme não tem nada disso, ou seja, ficou tosco.

Outro problema é que o filme é direcionado ao público infanto-juvenil, então eles seguraram a mão nas cenas violentas. Entendo a opção comercial, mas precisamos reconhecer que o filme perdeu com isso.

Ainda preciso falar de furos no roteiro. Sem spoilers, prestem atenção na tia do protagonista. Esqueceram dela no fim do filme!!!

O elenco não está bem. Josh Hutcherson faz o protagonista que só pensa no irmão e não nos animatrônicos do mal. Elizabeth Lail faz a “mocinha”, mas, ou ela é bem fraca, ou ela estava passando por uma fase ruim. A menina Piper Rubio não atrapalha, mas é uma criança sem sal. E o filme tem dois nomes “grandes”: Matthew Lillard e Mary Stuart Masterson, que estão no limite da caricatura.

Dito tudo isso, reconheço que a ambientação na pizzaria abandonada é bem legal. E o filme tem alguns jump scares aqui e ali – nenhum muito bom, mas vão divertir a galera. E repito: gostei de ter animatrônicos de verdade no set. Pena que é muito pouco. Five Nights At Freddy’s tem uma hora e cinquenta onde quase tudo decepciona.

Por fim, depois da sessão me falaram de outro filme, Willy’s Wonderland, de 2021, estrelado pelo Nicolas Cage, que seria uma “versão não oficial” do jogo FNAF. Não vi Willy’s Wonderland, vou catar pra ver se é melhor.

Dezesseis Facadas

Crítica – Dezesseis Facadas

Sinopse (imdb): Quando o infame “Sweet Sixteen Killer” retorna 35 anos após sua primeira onda de assassinatos para fazer outra vítima, Jamie, de 17 anos, acidentalmente viaja de volta no tempo para 1987, determinada a deter o assassino.

Sei que estou atrasado. Segundo o imdb, Dezesseis Facadas (Totally Killer, no original) estreou no Amazon Prime no dia 06 de outubro. Mas heu estava focado no Festival do Rio, então deixei esse filme pra depois.

Acabado o Festival, vi Dezesseis Facadas e posso dizer: achei muito divertido!

É um slasher com viagem no tempo. Parece uma mistura de De Volta Para o Futuro com Pânico (ambos os filmes são citados aqui). Aliás, a gente tem que se lembrar que Pânico é slasher mas também tem um “whodunit” na trama, diferente de slashers como Halloween e Sexta Feira 13, onde todos sabem quem e o assassino. Dezesseis Facadas também é slasher com whodunit.

Sim, o clima lembra A Morte te Dá Parabéns, outro slasher que usa viagem no tempo, a diferença é que aqui a personagem volta para o passado e naquele a personagem cai num loop temporal. E olha que curioso, escrevi algumas frases sobre A Morte te Dá Parabéns que servem para Dezesseis Facadas: “Não tem nada de novidade aqui: um pouco de Feitiço do Tempo, um pouco de Pânico, um pouco de Meninas Malvadas, um monte de clichês. Mas a mistura “deu liga”, e o filme consegue o que se propõe: ser uma boa diversão. A Morte te dá Parabéns pega aquele monte de clichês e coloca tudo num formato bem humorado. Em momento algum o filme se leva a sério, e isso é muito bom.” Tirando a citação a Feitiço do Tempo, tudo se encaixa aqui.

Teve gente comparando Dezesseis Facadas com Terror nos Bastidores. Mas só o pontapé inicial é igual. Dezesseis Facadas é sobre uma adolescente que usa uma máquina do tempo para voltar no tempo e impedir o assassinato de sua mãe, desmascarando o assassino; Terror nos Bastidores é sobre um grupo de amigas que são sugadas para um filme de terror dos anos 1980, estrelado pela mãe de uma delas.

Uma das coisas mais divertidas em Dezesseis Facadas são os choques de comportamento por causa de mudanças na sociedade. Para uma jovem de 17 anos de 2023, muitas coisas de 1987 não são mais aceitáveis, como por exemplo uma camisa com uma piadinha machista (ela fala “essa camisa é completamente inapropriada!”); ou quando ela é colocada no time de queimado na aula de educação física – sim, a educação física era muito mais violenta naquela época.

Ok, a ideia da máquina de viagem no tempo deixa espaço pra forçações no roteiro. Concordo. Não podemos ver Dezesseis Facadas como um filme “cientificamente correto”. Mas, pelo menos precisamos reconhecer que o roteiro consegue deixar a história fluida e sem grandes furos. E gostei de como explicam a viagem no tempo aqui, derrubando a “teoria McFly” de que se seus pais não ficarem juntos você desaparece.

Um parágrafo pra listar algumas referências. A protagonista se chama Jamie Hughes – Jamie é homenagem a Jamie Lee Curtis; Hughes é homenagem a John Hughes, diretor de Gatinhas e Gatões e Clube dos Cinco, ambos estrelados por Molly Ringwald (citada mais de uma vez no filme). Aliás, a escola se chama Vernon High School – Richard Vernon era o professor em Clube dos Cinco. A máscara do assassino é uma mistura de Max Headroom (sem os óculos) e Billy Idol. Jamie usa o sobrenome Lafleur quando volta ao passado; em Lost, Sawyer usou o pseudônimo Jim Lafleur quando voltou no tempo. Por fim, uma referência mais obscura: o grupo das “meninas malvadas” aqui são as “Mollys”. No filme Atração Mortal, de 1988, existe um grupo semelhante, as “Heathers”.

Gostei do elenco. A protagonista é Kiernan Shipka, mais conhecida pela série Sabrina (que heu nunca vi). Julie Bowen, conhecida por Modern Family, faz a mãe dela. O resto do elenco tem vários nomes desconhecidos (pelo menos pra mim), mas uma coisa que preciso reconhecer é que encontraram atores e atrizes bem parecidos pra interpretarem os mesmos personagens nas duas linhas temporais.

“Ah, mas não gosto de filme que recicla ideia repetida”. Ok, passe pro próximo. Já disse aqui antes e repito: se for bem feito, não me incomodo com ideias recicladas.

Não Abra!

Critica – Não Abra!

Sinopse (Festival do Rio): Sam, uma adolescente que lida com os conflitos entre sua origem indiana e a vida nos EUA, acidentalmente liberta uma antiga entidade demoníaca de um jarro que jamais deveria ter sido aberto. À medida que o mal se alimenta dos seus piores medos, Sam precisará desvendar segredos ancestrais para tentar salvar sua vida e a de todos ao seu redor.

Heu espero não soar preconceituoso, mas eu diria que Não Abra! (It Lives Inside, no original) não tem o perfil do Festival do Rio. Por que digo isso? Ao longo dos anos, já vi mais de 150 filmes em diferentes edições do Festival. Normalmente os filmes que passam são filmes que têm perfil de serem lançados depois no circuito Estação. E Não Abra! não tem esse perfil, tem mais o perfil de um terror genérico de multiplex.

Afinal, Não Abra! é mais um “terror de bicho-papão”, como bem definiu meu amigo Cesar Monteiro, do Outcast Ambrosia. A diferença aqui é que é um bicho-papão baseado no folclore indiano.

Escrito e dirigido pelo estreante em longas Bishal Dutta, Não Abra! tem problemas no desenvolvimento desse monstro. Porque, às vezes ele mata, às vezes ele só machuca, às vezes ele sequestra e guarda a vítima – me pareceu que a limitação do poder do monstro é a limitação que o roteiro pede. Meio tosco, né?

Ainda sobre o monstro, durante dois terços do filme ele não aparece direito, vemos sombras, vemos os olhos no escuro, a gente não sabe o que ele é. Legal, é assustador! Mas depois que ele aparece, perde a graça, ele é até meio mal feito. É muito mais assustador enquanto você não sabe o que que é.

(E isso porque vou deixar pra lá outras inconsistências do roteiro, como a professora que está sozinha de noite na escola. Por que não filmaram aquelas cenas num apartamento, pra mostrar que ela tem um lugar pra ir quando a escola fecha?)

Apesar dessas falhas de roteiro, Não Abra! não é de todo ruim – afinal, boa parte dos filmes de terror feitos atualmente têm falhas semelhantes. O uso da cultura indiana foi bem feito, a protagonista Megan Suri funciona para o que o papel pede, e o filme ainda tem alguns jump scares divertidos.

Mas, é aquilo. Uma diversão efêmera, você vai esquecer do filme um mês depois.

O Exorcista: O Devoto

Crítica – O Exorcista: O Devoto

Sinopse (imdb): Sequência do filme de 1973 sobre uma menina de 12 anos que é possuída por uma misteriosa entidade demoníaca, forçando sua mãe a buscar a ajuda de dois padres para salvá-la.

Esse O Exorcista novo é tão ruim que eu nem sei por onde começar. Acho que eu vou começar pelo nome: “O Exorcista: O Devoto”. No primeiro O Exorcista, de 1973, a figura central era a menina Regan e também os padres exorcistas. Aqui não tem nenhum exorcista entre as figuras centrais do filme. O filme não deveria se chamar “O Exorcista”! O exorcista que aparece tem um papel bem secundário. Seguindo: “o devoto”. Quem seria o devoto? Na boa, se alguém souber quem é esse devoto, escreve aqui embaixo e me explica porque eu saí do filme sem saber quem seria.

O Exorcista de 73 é um clássico do cinema, um raro filme de terror que fura a bolha dos críticos – a gente sabe que a galera do tênis verde não curte terror e é difícil encontrar um filme de terror em listas de melhores filmes. Mas O Exorcista está presente nessas listas. Uma continuação dessas é inexplicável, parece que o filme foi feito por haters.

Acredito que boa parte da culpa é do diretor David Gordon Green, que já tinha estragado outra franquia: Halloween. O primeiro Halloween, de 1978, é outro desses filmes que furam a bolha, está em várias listas de melhores filmes de todos os tempos. E David Gordon Green resolveu fazer uma nova trilogia com Halloween. Seu primeiro Halloween, de 2018, é até razoável. Mas o segundo é ruim e o terceiro é péssimo. Ele afundou com o nome da saga Halloween. E parece que ele agora quer fazer a mesma coisa com O Exorcista. Pelo menos dessa vez ele foi direto ao assunto, porque ele pretende fazer uma trilogia, e o primeiro já é um lixo. Tomara que flope e desistam!

Heu tenho medo do seu próximo projeto. Qual será o próximo filme de terror que ele vai querer estragar?

(Tenho uma teoria sobre o David Gordon Green. O primeiro filme dele que vi foi Segurando As Pontas, de 2008, e em 2011 vi Sua Alteza?. Duas comédias bestas. De repente o cara não curte terror, e resolveu fazer esses filmes só pra estragar o prazer de quem curte.)

O Exorcista: O Devoto tem outro problema básico. É um filme de exorcismo que tem pouco exorcismo. Metade do filme é com uma investigação policial atrás de adolescentes desaparecidas! Aí, quando começa a possessão, tudo é muito corrido. A parte da maquiagem das meninas possuídas é mal desenvolvida.

No texto sobre o penúltimo Pânico, comentei sobre o conceito de “requel”, que é uma mistura de reboot com sequel. Seria um filme novo reaproveitando uma ideia antiga para começar uma nova franquia a partir dali, com novos personagens e novas histórias, mas num universo já existente, utilizando elementos do filme original para dar chancela ao projeto. Esse O Exorcista novo está dentro desse conceito de requel porque usa a personagem da Ellen Burstyn, que estava no primeiro filme. Sim, a atriz do primeiro filme, a mãe da Regan, volta neste filme. Segundo o imdb, ela inicialmente recusou o convite, mas quando ofereceram o dobro do cachê, ela decidiu aceitar o papel e doar o dinheiro. Ela chegou a comentar “senti como se o diabo estivesse perguntando o meu preço”.

Só que ela foi muito mal aproveitada. Tem uma sequência onde ela aparece que não faz o menor sentido. Ela vai visitar a família da menina que está possuída – uma menina doente, num quarto no andar de cima da casa. Ela vai sozinha para o quarto e fica um tempão sozinha com a menina, e a menina berrando! Caramba, quando que pais de uma menina doente vão deixar um estranho entrar no quarto da filha e deixá-la berrando, e ninguém vai ver o que está acontecendo? Trouxeram a atriz de volta para desperdiçar o personagem.

O filme tem algumas ideias que poderiam ter dado certo, mas foram mal desenvolvidas. Teve uma ideia que heu achei que podia ter funcionado, que foi a “Liga da Justiça da Fé”, onde eles pegam representantes de várias religiões para juntos lutarem contra o demônio. Todos os filmes de exorcismo que conheço usam a religião católica. Então você usar um sincretismo religioso e colocar um padre ao lado de outras pessoas de outras religiões, talvez funcionasse, talvez fosse uma ideia legal. Só que os caras não desenvolvem e desperdiçam essa ideia. E pior, eles avacalham com o padre. A gente tem que lembrar que O Exorcista original é baseado na religião católica. Você não pode pegar esse padre católico e colocar ele de escanteio logo de cara.

Outra ideia que podia ter funcionado, e que também não foi aproveitada. Determinado momento são sete adultos tentando fazer o exorcismo, em volta das duas crianças que estão possuídas. Então o demônio fala para um dos adultos “você tentou ser freira e não conseguiu porque você teve que fazer um aborto”. Ou seja, ele consegue atingir um dos sete adultos com um segredo que esse adulto escondia. Seria legal se o demônio atirasse para todos os lados e descobrisse um podre escondido de cada um, ele assim desestabilizaria todos. Mas não, ele atinge uma pessoa e deixa o resto para lá. Se você levantou ideia, por que não desenvolvê-la?

Heu poderia continuar, mas chega, né? Vou encerrar com uma citação ao imdb, uma frase de William Friedkin, diretor do filme de 73, dita a um crítico pouco antes de seu falecimento: “William Friedkin once said to me, ‘Ed, the guy who made those new Halloween sequels is about to make one to my movie, the Exorcist. That’s right, my signature film is about to be extended by the man who made Pineapple Express. I don’t want to be around when that happens. But if there’s a spirit world, and I can come back, I plan to possess David Gordon Green and make his life a living hell.'” (“William Friedkin uma vez me disse: ‘Ed, o cara que fez aquelas novas sequências de Halloween está prestes a fazer uma para o meu filme, O Exorcista. É isso mesmo, meu filme assinatura está prestes a ser estendido pelo homem que fez Segurando as Pontas. Não quero estar por perto quando isso acontecer. Mas se houver um mundo espiritual e eu puder voltar, pretendo possuir David Gordon Green e tornar sua vida um inferno.'”)