Boogeyman – Seu Medo é Real

Crítica – Boogeyman – Seu Medo é Real

Sinopse (imdb): Ainda se recuperando da trágica morte de sua mãe, uma adolescente e sua irmã mais nova se veem atormentados por uma presença sádica em sua casa e lutam para fazer com que seu pai de luto preste atenção antes que seja tarde demais.

Gosto de filmes de terror. Vejo muitos. E por ver muitos, reconheço que tem muito filme ruim. E o pior: tem muito filme de terror que não dá medo. Comentei isso semana passada, com O Exorcista do Papa, filme que traz mais risadas do que medo. Por causa disso, Boogeyman – Seu Medo é Real (The Boogeyman, no original) foi uma agradável surpresa. Não, o filme não é perfeito, tem seus problemas, mas é um filme eficiente na proposta de criar tensão.

Dirigido pelo pouco conhecido Rob Savage (vou guardar o nome desse cara!), Boogeyman – Seu Medo é Real é a adaptação do conto “O Bicho Papão”, de 1973, publicado originalmente na revista Cavalier, e depois no livro coletânea Sombras da Noite, de 1978. Em 1982 virou um média metragem de 28 minutos, The Boogeyman, mas não tenho ideia de onde encontrar esse filme. Existe uma franquia quase homônima, Boogeyman, que aqui no Brasil ganhou o nome O Pesadelo, com três filmes lançados em 2005, 07 e 08, mas essa franquia até onde sei não tem nada a ver com o conto do Stephen King.

O grande mérito de Boogeyman – Seu Medo é Real é criar um clima de medo ao longo de todo o filme. O monstro / entidade / criatura é muito bem apresentado – quase não o vemos, e algo que não sabemos o que é dá mais medo do que algo que estamos vendo na nossa frente. Gosto deste conceito desde o primeiro Alien – um monstro misterioso é muito mais assustador! E, além disso, quando aparece, o design do monstro é bem legal.

Você pode ver Boogeyman – Seu Medo é Real é como apenas um “filme de monstro”, mas também tem espaço para interpretações mais profundas. O monstro pode ser a personificação do luto, afinal a família perdeu uma pessoa, e precisa encarar essa perda, por mais dolorosa que seja.

Como falei, o filme não é perfeito, o roteiro tem lá suas inconsistências, como por exemplo uma menina que tem tanto medo de escuro que dorme abraçada com uma luminária redonda – mas vai jogar videogame num quarto escuro. Mas, nada grave, felizmente.

No elenco, nenhum nome muito conhecido. David Dastmalchian, o Bolinha de O Esquadrão Suicida, tem um papel pequeno mas muito importante. E uma coisa curiosa: as duas irmãs estavam em séries de Star Wars – a mais nova, Vivien Lyra Blair, era a jovem Leia na serie Obi Wan; a mais velha, Sophie Thatcher, teve um papel secundário em The Book Of Boba Fett. Também no elenco, Chris Messina, Marin Ireland e LisaGay Hamilton.

Que venham mais filmes de terror assustadores!

O Exorcista do Papa

O Exorcista do Papa

Sinopse (imdb): Baseado nos arquivos reais do padre Gabriele Amorth, conhecido como o exorcista chefe do Vaticano, que enquanto investigava a possessão de um jovem, descobre que durante séculos no Vaticano tentaram a todo custo manter a verdade escondida.

Às vezes me pergunto se ainda existe espaço para certos subgêneros. A gente vê um monte de filmes de exorcismo sendo lançados a cada ano, mas a gente dificilmente se lembra de um bom filme de exorcismo (acho que o último foi O Exorcismo de Emily Rose, de 2005).

Dirigido por Julius Avery (Operação Overlord, Samaritano), O Exorcista do Papa (The Pope’s Exorcist, no original) é mais um filme genérico e cheio de clichês usando o subgênero “filme de exorcismo”. Não é ruim, mas tá bem longe de ser bom. A gente segue o padre Gabrielle Amorth, que era o exorcista oficial do Vaticano, em uma missão na Espanha. O padre Amorth realmente existiu, mas o Papa que aparece no filme é inventado, era a época do João Paulo II.

(Curiosidades que você só vê aqui no heuvi: existe um documentário filmado pelo William Friedkin (O Exorcista) mostrando o que seria um exorcismo real do padre Amorth: O Diabo e o Padre Amorth. Heu vi no Festival do Rio de 2017, infelizmente o documentário é bem chatinho.)

O Exorcista do Papa tem um problema básico: é um filme de terror que não assusta. Nada. Nenhum jump scare, nenhuma tensão. Durante as cenas de exorcismo, muito barulho e efeitos de luz, mas zero clima de medo. Talvez ele seja mais engraçado do que aterrorizante, não por ser uma comédia, mas sim porque o padre Amorth dizia que o demônio odeia humor, então ele passa o filme inteiro fazendo piadinhas.

Era pra ter uma subtrama por trás envolvendo o passado do Vaticano, mas isso é deixado de lado. Outra coisa que é deixada de lado é o aprofundamento nas personalidades dos personagens, todos rasos. Mas pra não dizer que achei tudo ruim, curti a maquiagem do garoto possuído. Nada de inovador, mas pelo menos é uma maquiagem bem feita.

Acaba que a atuação e o carisma do Russell são a única coisa que faz a gente chegar até o final do filme. O cara é bom, então por causa dele o filme ganha alguns pontos. Do resto do elenco, o único comentário é que o Franco Nero está desperdiçado como um Papa que pouco aparece.

O Exorcista do Papa é fraco, mas o fim deixa espaço para começar uma nova franquia. O que espero que não aconteça.

O Chamado 4: Samara Ressurge

Crítica – O Chamado 4: Samara Ressurge

Sinopse (Paris Filmes): Pessoas que assistem a um vídeo amaldiçoado subitamente morrem. Essas mortes ocorrem em todo o Japão. Ayaka Ichijo é uma estudante de pós-graduação extremamente inteligente e com um QI acima de 200. Sua irmã mais nova assiste a um vídeo amaldiçoado por diversão. Ayaka Ichijo tenta revelar o mistério que envolve o tal vídeo.

Tenho muitas coisa pra falar mal aqui. Preciso começar falando da divulgação brasileira. Porque, infelizmente, o nome do filme no Brasil é uma enganação. Este não é o quarto filme da Samara, e sim o oitavo filme da Sadako!

Voltemos um pouco no tempo. Em 2002 foi lançado O Chamado (The Ring), com a Naomi Watts. Era uma refilmagem de um terror japonês, Ringu, de 1998, que chegou no mercado de home vídeo pra aproveitar a onda. Com o sucesso da franquia, tivemos uma continuação americana em 2005, e me lembro que algumas continuações japonesas que chegavam aqui pelas locadoras (se não me engano, também teve um prequel). Passei uns anos sem ouvir falar da franquia, até que em 2017 foi lançado o terceiro filme americano, O Chamado 3. Nessa época vi pela internet que a franquia japonesa continuou lançando filmes, mas não vi nenhum desses. Mas agora com o lançamento deste novo filme, achei um link na wikipedia que fala de toda a franquia. São 13 longas no total: 8 filmes japoneses, 3 americanos, um sul coreano, e um crossover com a franquia Ju-On (que aqui no Brasil foi chamada de O Grito).

Resumindo: O Chamado 4, ou Sadako DX no original, é o oitavo filme da franquia japonesa! Não tem nada a ver com a franquia americana! Não tem Samara, é a Sadako! Chamar de “4” é querer enganar o espectador!

Dito isso, a boa notícia é que a história contada aqui não é continuação direta de nenhum outro filme. É uma história independente, que se passa no mesmo universo dos filmes anteriores. Ou seja, não precisa rever nada antes.

Pena que é a única boa notícia de hoje. Porque O Chamado 4 é bem ruim.

Pra começar, é um filme de terror que não assusta. Acho que eles tentaram criar jump scares com toques de celular! E só me lembro de duas mortes, as duas bem toscas – a vítima dá uma cambalhota e cai morta de olho aberto. Só.

Mas o pior é o roteiro, que é péssimo. Em todos os outros filmes quem vê o vídeo depois recebe uma ligação. Cadê a ligação? Por que não ligam mais? Ninguém se importa.

Em todos os outros filmes quem vê o vídeo morre sete dias depois. Aqui o tempo cai pra 24 horas. Qual é o motivo? Ninguém se importa.

A maioria das pessoas morre exatamente quando batem as 24 horas – nem um minuto a mais, nem a menos. Mas se você correr, a Sadako não te alcança. Como assim? Ninguém se importa!

Calma que piora. As pessoas morrem em 24 horas, a não ser que sejam importantes pro roteiro. Porque se forem importantes, o tempo conta diferente. Ah, ninguém se importa!

O roteiro é um lixo, mas tem uma coisa que poderia ter dado certo. A protagonista, inteligente, que quer ciência no lugar de negacionismo, quer dizer, no lugar de maldição, quer provar que tudo tem uma explicação dentro da ciência, e começa a comparar a disseminação da maldição com a disseminação de um vírus. Ok, poderia ter dado certo, se soubessem desenvolver. Mas não souberam.

Mas calma, que ainda pode ficar pior. A Samara / Sadako aparece como pessoas conhecidas da vítima (mais um ninguém se importa, porque não tem nenhuma lógica). A maquiagem é bem tosca, um camisolão branco e a cara pintada de branco, e tá bom. Mas, claro que pode piorar ainda mais um pouco, aí o cabelo começa a crescer. Céus, acho que nunca vi um efeito digital tão ruim quanto esse cabelo crescendo!

Ainda posso reclamar de uma coisa? Era pra ser um filme de terror. Terror ruim, mas terror. Aí chega nos créditos, o filme continua, e vira uma comédia! Piadinhas rolando junto com os créditos! De onde surgiu essa ideia???

Se heu precisar salvar uma única coisa desse filme, gostei da última cena, pós créditos. Ok, foi uma boa sacada. Mas não vale ver o filme só por causa disso.

A Morte do Demônio: A Ascensão

Crítica – A Morte do Demônio: A Ascensão

Sinopse (imdb): Beth visita sua irmã mais velha, Ellie, que está criando 3 filhos em um apartamento apertado em Los Angeles. Sua reunião é curta quando eles encontram um livro demoníaco, The Necronomicon Ex-Mortis.

Antes de falar do filme, posso faltar um pouco sobre o mercado cinematográfico? Evil Dead é uma marca muito forte. O primeiro filme, de 1981, é um clássico incontestável e revolucionário. Foram duas continuações, um remake, e três temporadas de uma série de TV (isso porque não vou entrar em outras mídias). Resumindo: Evil Dead é uma franquia importante.

Fazer parte de uma franquia dessas tem um ponto positivo, que é trazer público. Mas também tem um ponto negativo: A Morte do Demônio: A Ascensão não é exatamente ruim, mas é bem inferior ao outro A Morte do Demônio. E, por fazer parte da franquia, a comparação é inevitável.

Escrito e dirigido por Lee Cronin, A Morte do Demônio: A Ascensão tem seus pontos positivos. Para manter o espírito da franquia, rolam travellings de câmera, muito gore e litros de sangue, e ainda tem uma motosserra e um olho voando (e também tem uma referência a O Iluminado). Além disso, a trilha sonora é boa e a vilã é excelente.

Uma das minhas críticas à versão de 2013 era que tinham feito um filme sério. Se você quer fazer parte de uma franquia, tem que respeitar as características dessa franquia. E a galhofa é uma das características mais marcantes dos três filmes dirigidos por Sam Raimi. Este novo A Morte do Demônio: A Ascensão não é tão galhofa quanto a trilogia original, mas tem uma boa dose de humor negro.

O humor negro ajuda a amenizar a quantidade de gore e de sangue. Neste aspecto, A Morte do Demônio: A Ascensão não decepciona: tem MUITO sangue, principalmente na parte final (segundo o imdb, foram usados 6.500 litros de sangue artificial). Ah, outra coisa: gostei de algumas sacadas criativas sobre o posicionamento da câmera, como por exemplo uma cena mostrada através do olho mágico.

Não conhecia ninguém do elenco, mas diria que todos estão bem. Vou além: gostei muito da Alyssa Sutherland, que faz a mãe. Ela é assustadora! Também no elenco, Lily Sullivan, Gabrielle Echols, Morgan Davies e Nell Fisher.

Falemos sobre o livro. A sinopse do imdb fala que é o Necronomicon, mas acho que não é o mesmo livro. E durante o filme falam que são três livros diferentes. Me parece que este é um livro semelhante, mas não é o mesmo dos outros filmes. Além disso, a gente precisa lembrar que a palavra “Necronomicon” é de autoria do H.P. Lovecraft, e não tenho ideia de como são os direitos autorais sobre isso, talvez tenham mudado por causa dos direitos.

Agora, na minha humilde opinião, o filme seria melhor se tirasse do título a parte “A Morte do Demônio”. Exatamente a mesma história: um garoto encontra um livro e um disco, e isso libera uma entidade que possui as pessoas. Ia vender menos ingressos, sei disso. Mas não ia ser comparado com o filme clássico, então ia ser um produto final melhor. Pena que no mercado de hoje em dia coisas assim são necessárias.

A Primeira Comunhão

Crítica – A Primeira Comunhão

Sinopse (imdb): Sara tenta se encaixar com os outros adolescentes na pequena cidade na província de /. Eles saem uma noite para uma boate, a caminho de casa se deparam com uma menina segurando uma boneca, vestida para sua primeira comunhão.

Bora pra outro terror espanhol?

Comentei no texto sobre 13 Exorcismos que curto o cinema fantástico espanhol, que nos trouxe alguns filmes muito bons nas últimas décadas. Dirigido por Víctor Garcia, este A Primeira Comunhão (La niña de la comunión, no original) não entra nessa lista de “muito bons”, mas pelo menos não faz feio como alguns recentes títulos de terror lançados nos cinemas.

O filme se passa nos fim dos anos 80 (não me lembro se isso é dito no filme, peguei a informação no imdb). A ambientação de época é boa, e isso faz diferença no filme (porque se as pessoas tivessem celulares e internet como hoje em dia, não sei se a história funcionaria).

A Primeira Comunhão é cheio de jump scares. Mas, por outro lado, falha na criação da tensão. Um filme de terror precisa causar medo e tensão no espectador, e isso não acontece aqui.

Gostei de uma coisa, que foi o modo como A Primeira Comunhão mostrou o ponto de vista das pessoas atacadas pela entidade – elas ficam paralisadas no “mundo real”, mas dentro de suas cabeças são levadas a um local assustador. Ok, provavelmente isso já foi feito em outros filmes (não me lembro), mas, ideia nova ou não, funcionou aqui.

Por outro lado, algumas coisas do filme ficaram mal desenvolvidas, como por exemplo o padre, que dá a entender que ele já sabia há anos sobre o que estava acontecendo. Mas o padre sai do filme e não volta para concluir seu arco.

O elenco é ok. Carla Campra e Aina Quiñones funcionam bem como as amigas que enfrentam um mal desconhecido.

No finzinho tem um plot twist desnecessário, que me pareceu ser uma porta aberta para continuações, coisa comum no cinema de terror.

No fim, fica um gosto de filme genérico. Não é um grande filme, mas vai agradar os menos exigentes.

Winnie-The-Pooh: Blood and Honey

Crítica – Winnie-The-Pooh: Blood and Honey

Sinopse (imdb): Depois de serem abandonados por Christopher, que foi para a faculdade, Pooh e Leitão matam qualquer um que se atreva a se aventurar na Bosque dos 100 Acres.

Antes de tudo, preciso desabafar um mimimi aqui. Aqui no Brasil, sempre foi “ursinho Puff”, mas de um tempo pra cá resolveram mudar para “Pooh” por razões mercadológicas. Aí o Puff virou Pooh, a Sininho virou Tinkerbell, o Caco virou Kermitt… Mas, me digam, por que o Cebolinha tem que virar Jimmy Five quando sai do Brasil? Se é pra manter o nome original, que seja Cebolinha no mundo todo!

Mas chega de mimimi e vamos ao filme.

Escrito, produzido e dirigido por Rhys Frake-Waterfield, Winnie-The-Pooh: Blood and Honey traz uma boa ideia. Descobriram que os direitos de imagem do Ursinho Pooh caíram em domínio público. Então, por que não fazer um terror slasher com o personagem? Ok, boa ideia, mas, precisava ser um filme tão ruim?

O roteiro é MUITO ruim. Um exemplo: tem um prólogo, primeira coisa do filme, que explica o que aconteceu com Pooh e seus amigos quando Christopher Robin foi embora. Fala que eles são animais da floresta, que passaram fome porque Christopher Robin parou de levar comida pra eles. Sim, animais da floresta passam fome porque uma criança deixa de levar comida. Por isso viram assassinos, e precisam matar o Ió para comê-lo. Por que não procurar outros alimentos na floresta??? Mas calma que o pior ainda está por vir. O prólogo cita Pooh, Leitão, Ió, Corujão e Coelho (onde estão Tigrão, Can e Guru?). Ió morreu. Ok. Onde estão Corujão e Coelho no resto do filme? Pra que apresentar personagens que não vão aparecer?

Voltemos ao filme. Cabe um elogio? Gostei da trilha sonora, e gostei da ambientação, tem umas cenas noturnas com uma névoa iluminada, tem cara de filme slasher dos anos 80. O gore é apenas ok, não tem nenhuma cena que chame a atenção. Por outro lado, as máscaras do Pooh e do Leitão são muito toscas. Tem uma cena onde um personagem fala “não parecem humanos!” Caramba, parecem sim, parecem humanos que compraram máscaras de Halloween no Mercadão de Madureira.

Winnie-The-Pooh: Blood and Honey é curto, tem menos de uma hora e meia, e mesmo assim se arrasta. Os personagens são rasos e ninguém se importa com eles. E os vilões têm zero carisma. Tanto faz ter uma máscara tosca de urso. Terrifier não é um grande filme, mas traz um bom vilão. Não é o caso aqui.

Não tem cena pós créditos, mas no fim dos créditos tem a frase “Winnie the Pooh will be back”, ou seja, o diretor pretende fazer uma continuação. O que determina isso é o sucesso comercial do filme. Então, o melhor é evitar o filme!

O Urso do Pó Branco

Crítica – O Urso do Pó Branco

Sinopse (Filme B): A história real sobre a queda do avião de um traficante de drogas, que estava carregado com um lote de cocaína que acabou sendo consumido por um urso de mais de 220kg. Após consumir a droga, o animal parte para a violência, com uma fúria movida a coca, em busca por novas presas e sede de sangue. Em paralelo, um grupo excêntrico de policiais, criminosos, turistas e adolescentes, estão a caminho ou já no território de uma floresta da Georgia.

Antes de tudo, um breve esclarecimento. O filme se diz “inspirado numa história real”, mas a história real é bem diferente. Em 1985, um traficante jogou vários pacotes de cocaína de um avião e depois pulou de paraquedas com 36 kg presos no seu corpo. O paraquedas não funcionou direito, provavelmente por causa do peso extra, e o traficante morreu. 40 kg da droga caíram numa floresta, e um urso comeu, e morreu logo depois de overdose. Ou seja, a história do urso com cocaína é até real, mas ele não matou ninguém! Fora o traficante e o urso, não houve nenhuma outra casualidade neste evento. Mesmo assim, a história correu o mundo e virou uma lenda urbana. Um shopping center em Kentucky fez uma estátua do “Pablo Escobear”!

Dito isso, vamos ao filme?

Heu queria gostar de O Urso do Pó Branco (Cocaine Bear, no original). Na sexta 14 de abril vamos fazer uma sessão exclusiva dos Podcrastinadores e amigos, será uma grande festa. Pena que o filme é fraco.

Dirigido pela atriz Elisabeth Banks, O Urso do Pó Branco tem pelo menos dois grandes problemas. Um deles é que temos um grande elenco, com vários núcleos de personagens, cada um com seu drama, e sobra pouco tempo para o urso do título. Um filme de uma hora e trinta e cinco minutos precisava de menos gente pra ter mais do urso, que virou coadjuvante no próprio filme.

O outro problema é que o filme não se decide sobre o que quer ser. Às vezes parece ser uma comédia de humor negro; às vezes parece ser um filme de terror de monstro. Às vezes parece até ser um drama! Não tenho nada contra misturar estilos, mas tem que saber fazer, aqui ficou estranho.

Mas, mesmo com esses problemas, O Urso do Pó Branco não é de todo ruim. O gore é bem feito, são algumas cenas com partes de corpos voando pela tela. E tem uma cena de morte com tiro na cabeça que ri alto. E ainda tem a famosa cena da ambulância.

(Tem uma cena corajosa, envolvendo crianças e consumo de cocaína. Sei lá, achei que essa cena cruzou a linha. Mas reconheço a coragem).

Os efeitos especiais são ok. Em algumas poucas cenas o cgi não está muito bom, mas no geral, funciona.

O Urso do Pó Branco é um tipo de filme que não abre espaço pra grandes atuações. Keri Russell e Alden Ehrenreich fazem o feijão com arroz. Já Ray Liotta está mal, caricato demais. Pena, é um de seus últimos papéis. Também no elenco, O’Shea Jackson Jr., Isiah Whitlock Jr., Brooklynn Prince, Christian Convery, Margo Martindale e Jesse Tyler Ferguson.

Mesmo com o resultado final fraco, ainda acredito que a sessão dia 14/04 será divertida. Se você for do Rio, apareça!

Pânico VI

Crítica – Pânico VI

Sinopse (imdb): Os sobreviventes dos assassinatos de Ghostface deixam Woodsboro para trás e iniciam um novo capítulo na cidade de Nova York.

Ok, admito logo que não sou fã de franquias. Minha memória não é boa, frequentemente me esqueço de detalhes do(s) outro(s) filme(s). Mas é inevitável, porque é mais fácil vender uma continuação do que um filme novo. Então, bora pro sexto filme da franquia Pânico.

Mais uma vez dirigido pela dupla Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett (Pânico 5, Casamento Sangrento), Pânico VI (Scream VI, no original) traz os sobreviventes do último filme, que saíram de Woodsboro e agora estão em Nova York para um novo recomeço de vida. E claro que o Ghostface está por perto. E então o filme vira uma espécie de whodoneit para saber quem está debaixo da máscara (pra quem nunca viu Pânico, cada filme troca quem é o assassino).

O problema de ser o sexto filme de uma franquia é que muita coisa é previsível. Tipo a sequência inicial (boa sequência, a propósito), a gente já sabe que são personagens que não vão continuar no resto do filme. E tem outras coisas que são previsíveis pra quem está acostumado com o formato da franquia, tipo quando revelam quem é o assassino – mas não vou entrar em detalhes por causa de spoilers.

O roteiro às vezes parece meio preguiçoso. Tem algumas cenas que poderiam ser melhor escritas. Um exemplo simples: as irmãs Sam e Tara vão pra delegacia, e quando saem são abordadas agressivamente por vários repórteres. Aí aparece a Gale, personagem da Courtney Cox, e todos os outros repórteres desistem de abordá-las! Isso sem contar com algumas “roteirices” que ajudam o Ghostface, como ele entrar numa loja de conveniência, matar algumas pessoas, acontecerem vários tiros, e a polícia chegar logo depois que ele saiu.

Por outro lado, gostei da cena do metrô no halloween e suas inúmeras referências – a franquia Pânico sempre usou muitas referências a outros filmes de terror. Vemos fantasias de Michael Myers, Jason Vorhees, Freddy Krueger, Pinhead, Pennywise, as irmãs de O Iluminado – acho que vi até o coelho de Donnie Darko!

Uma cena bem legal que tinha no Pânico 5 era quando falavam do conceito de requel. Aqui tem uma cena parecida, mas falando sobre clichês de franquias. Pânico sempre brincou com metalinguagem, é bem legal como fazem isso.

Alguns comentários sobre o elenco. A protagonista ainda é Melissa Barrera, mas me parece que Jenna Ortega ganhou um papel maior, provavelmente pelo sucesso de Wandinha (Jasmin Savoy Brown e Mason Gooding completam o quarteto dos “mocinhos” que vieram do filme anterior). Do trio original, só tem a Courtney Cox; Hayden Panettiere, que estava no Pânico 4, volta com o mesmo papel. Samara Weaving e Tony Revolori estão na sequência inicial, e Henry Czerny aparece em uma cena. De novidade, temos Liana Liberato, Devyn Nekoda, Josh Segarra e Jack Champion; e deixei Dermot Mulroney pro fim porque ele está pééésimo! Já vi vários filmes com ele, não me lembrava que ele era tão ruim!

No fim, pelo menos pra mim, Pânico VI foi o que heu esperava: mais um filme. Zero surpresas, mas pelo menos é divertido. E vai agradar o “público do multiplex”

Tem uma cena pós créditos, com uma piadinha bem curta. Heu ri, mas tem gente que vai ficar com raiva.

Infinity Pool

Crítica – Infinity Pool

Sinopse (imdb): James e Em Foster estão desfrutando de umas férias na ilha fictícia de La Tolqa, quando um acidente fatal expõe a subcultura perversa do turismo hedonista, a violência imprudente e os horrores surreais do resort.

Já tinham me recomendado conhecer o trabalho do diretor Brandon Cronenberg, filho do David Cronenberg. Me falaram do filme Possessor, de 2020, mas outros filmes entraram na frente e acabei me esquecendo. Quando surgiu a oportunidade de ver Infinity Pool, não deixei pra depois!

O trabalho do Cronenberg filho traz semelhanças com o do pai – body horror, cenas graficamente fortes, com muita violência, nudez e sexo. Além disso, tem a parte “cabeça”, imagens viajantes que nem sempre têm explicação dentro da trama. Infinity Pool tem cenas fortes, tanto na parte da violência quanto na parte das perversões sexuais. Isso certamente vai afastar boa parte do público.

Falei aqui recentemente de Triângulo da Tristeza, que levanta questionamentos sobre convenções sociais. Infinity Pool traz alguma semelhança. Se em Triângulo da Tristeza vemos pessoas ricas que não aceitam seguir algumas regras, aqui em Infinity Pool a situação é um pouco mais grave: turistas ricos descobrem que podem cometer crimes e sair impunes. Explico: o país fictício onde a história se passa tem uma lei que diz que um estrangeiro pode pagar para criar um clone, e o clone será punido. Ou seja, o turista pode fazer o que quiser, porque quem vai enfrentar a justiça é o seu clone.

Claro que essa impunidade escala no comportamento dos personagens. E claro que isso gera inúmeras questões na cabeça do espectador.

Sobre o elenco, dois nomes precisam ser citados. Pena que as premiações têm preconceito contra o cinema fantástico. Depois de arrebentar em Pearl, aqui Mia Goth mostra mais uma vez que é uma das melhores atrizes em atividade. E depois de escolher alguns papéis ruins, parece que Alexander Skarsgård está se encontrando – ano passado ele mandou bem em O Homem do Norte, e aqui ele está ainda mais intenso. Também no elenco, Cleopatra Coleman, Jalil Lespert e Thomas Kretschmann.

Infinity Pool é um filme diferente, vai desagradar quem está atrás do terror montanha russa. Mas recomendo pra quem estiver atrás de um filme profundo e perturbador.

13 Exorcismos

Crítica – 13 Exorcismos

Sinopse (imdb): Após o estranho comportamento exibido pela adolescente Laura Villegas, sua família chama um exorcista sancionado pelo Vaticano para intervir no caso de possessão demoníaca. A partir daí, uma série de fenômenos estranhos aparecerá.

Confesso que estava com um pé atrás, traumatizado com os recentes A Profecia do Mal e Oferenda ao Demônio. Mas aí vi que era um filme espanhol. Ei, isso ajuda, gosto de terror espanhol, tem muita coisa boa vinda do cinema fantástico de lá, tipo A Espinha do Diabo, do Guillermo del Toro, ou REC, do Jaume Balagueró e do Paco Plaza, ou Abre Los Ojos, do Alejandro Almenábar, ou O Dia da Besta, do Álex de la Iglesia, ou Los Cronocrimenes, do Nacho Vigalondo, ou O Orfanato, do Juan Antonio Bayona… A lista é enorme!

E, realmente, 13 Exorcismos (idem no original) não é tão ruim quanto os dois supracitados. Não é um filme “obrigatório”, mas é um terror ok. Dificilmente o espectador comum vai sair desapontado do cinema.

13 Exorcismos é o longa de estreia do diretor Jacobo Martínez. E, por ser um filme espanhol, foge um pouco dos clichês hollywoodianos – por exemplo, tem uma cena com gore, mas é só uma cena. E, boa notícia: alguns dos jump scares não são muito óbvios.

13 Exorcismos tem algumas saídas criativas. Gostei muito de uma sacada de quando o padre exorcista está no hospital. Por outro lado, algumas tramas ficam pelo meio do caminho e não são concluídas – que fim levou o garoto atacado no banheiro?

Teve outra coisa que me incomodou um pouco. A família é muito religiosa, e passou por alguns traumas com os filhos (um filho morreu, outro é cadeirante, a outra teve anorexia). Católicos, eles acreditam que Deus está os castigando por alguma coisa do seu passado. E por outro lado tem a personagem da psicóloga da escola, que traz o ponto de vista ateu. Na minha humilde opinião, essa dualidade entre a religião e a ciência podia ser melhor explorada, porque parte do filme ignora um dos lados e fica só com o outro.

Ah, achei escura a cópia exibida na sessão de imprensa. Não sei se foi alguma falha técnica ou se foi proposital.

Queria falar mal do nome do filme. Não só o nome brasileiro, mas também o nome original (que é o mesmo). O plot de exorcismo só acontece na segunda metade do filme. Mas, por causa do nome, o espectador entra no cinema já pensando em exorcismos. Fiquei pensando, não seria legal se a gente não soubesse de nada antes?

No elenco, heu não conhecia nenhum nome. Gostei da protagonista María Romanillos. Cristina Castaño, que faz a professora de religião, é um bom personagem, mas foi deixada de lado.

No fim, fica aquela sensação de que poderia ter sido melhor, mas pelo menos foi uma diversão honesta.