Oferenda ao Demônio

Oferenda Ao Demônio

Sinopse (FilmeB): O filho do dono de uma funerária volta para casa com sua esposa grávida. Mas, eles nem imaginam que um mal antigo com planos sinistros está os esperando.

E vamos para mais um filme genérico de terror…

Dirigido pelo pouco conhecido Oliver Park, Oferenda ao Demônio (The Offering, no original) traz um terror baseado em mitologia judaica. Tivemos algo parecido naquele Possessão de 2012, estrelado pelo Jeffrey Dean Morgan e pela Kyra Sedwick. A ideia era boa, mas aqui não souberam desenvolver direito. Em vez de desenvolver a mitologia, o roteiro se apoia nos clichês de sempre, e ainda traz algumas coisas que não fazem o menor sentido.

Vou dar um exemplo simples. Às vezes parece que não revisaram o roteiro antes de filmar. O filme começa com o cara voltando para a casa do pai, depois de sei lá quantos anos fora. O pai trabalha preparando cadáveres para funerais. Aí na cena seguinte o cara tá lá preparando um cadáver ao lado do pai. Deve ser normal você preparar um cadáver no meio de uma visita social, quem nunca?

Parte do filme lembra A Autópsia de Jane Doe, onde existe um cadáver sendo preparado, e tem algo “diferente” com esse cadáver. Mas Oferenda ao Demônio sai do necrotério para brincar de jump scares pela casa…

Pra piorar, Oferenda ao Demônio é cheio de jump scares, mas não tem nenhum bem construído – todos são previsíveis. Pior é que alguns podiam ter funcionado, tipo um vulto que surge na chapeleira quando visto através da câmera fotográfica. A criatura em cgi também é bem tosca. Saudade dos filmes de terror com efeitos práticos. Pelo menos a ambientação na casa velha é boa

Vou fazer um elogio, assim como fiz no texto sobre A Profecia do Mal. Tem uma cena onde a personagem olha no espelho e tudo está normal, aí quando se vira todos estão parados, “brincando de estátua”. Ok, não faz o menor sentido, mas o visual ficou legal.

No fim, fica a mesma sensação que tive uma semana atrás com A Profecia do Mal: mais um filme genérico ganhando espaço no circuito, enquanto outros melhores não têm previsão de lançamento. Ok, vi que Pearl tem previsão de lançamento esta semana, mas cadê filmes como X ou Speak no Evil?

A Profecia do Mal

Crítica – A Profecia do Mal

Sinopse (imdb): Um culto rouba o Sudário de Turim para propósitos perversos.

Ok, reconheço que um filme com esse nome e esse cartaz não prometia ter muita qualidade. Mas, admito que gosto do tema, então fui ao cinema conferir.

O problema de A Profecia do Mal (The Devil Conspiracy, no original) é que tudo é tão bagunçado que nem sei por onde começar. Ok, começo com um filme de terror onde não existe absolutamente nada assustador.

Mas acho que o pior é o roteiro, que traz duas tramas diferentes e aparentemente desconexas. Temos um cientista louco que quer clonar grandes gênios da humanidade (ele mostra uma criança clone do Vivaldi), e que quer o santo sudário para clonar Jesus Cristo. Paralelo a isso, temos um culto de adoradores de Lúcifer. Nada contra um filme abordar dois plots diferentes, mas, devo ter cochilado e não entendi onde eles se conectam. Por que diabos um grupo de adoradores de Lúcifer ia querer Jesus de volta?

Só sei que em determinado momento apareceu um “boitatá”, e desisti de tentar entender a lógica do filme. Aquela cena da gaiola pendurada com os caras em volta e a cobrinha passeando pelas mulheres não faz o menor sentido. Ok, entendo que a cobra de fogo simbolizava Lúcifer, mas, caramba, pra mim, cobra de fogo é um boitatá!

Se a gente pensar sobre o plot, o filme vai dar um bug e vai travar. Porque eles precisavam de uma mulher para gerar o bebê que seria possuído. Por que não pegar uma voluntária dentro do culto? Precisava sequestrar mulheres aleatórias? Pega uma voluntária que vai concordar com essa loucura toda. Mas, não, vamos sequestrar mulheres que não querem, só pra complicar.

(Isso porque não estou falando de querer trazer Lúcifer dentro de um clone de Jesus. Deixa quieto.)

O elenco caricato não ajuda. A protagonista Alice Orr-Ewing é a única aceitável entre os quatro principais nomes. O padre possuído pelo arcanjo Miguel é péssimo! E os dois líderes da seita / clonadores de dna seguem a mesma linha.

Talvez se o filme se assumisse um trash, aí, talvez, ficasse divertido. Porque nem isso o filme é. Tinha que ser mais escrachado e abraçar o absurdo com vontade. Mas manteve o ar sisudo, o que só piora.

Ok, vou fazer um elogio. Tem uma cena onde o personagem vai ser atacado, aí a câmera acompanha e dá uma cambalhota junto com os personagens. Um único take “inventivo”. Acho que tá bom de elogio.

Enfim, este é mais um exemplo de como as distribuidoras no Brasil não estão fazendo um bom trabalho. Enquanto X, Pearl ou Speak No Evil ainda não têm distribuição aqui, A Profecia do Mal estreia hoje no circuito.

M3gan

Crítica – M3gan

Sinopse (imdb): Uma engenheira de robótica de uma empresa de brinquedos constrói uma boneca realista que começa a ganhar vida própria.

Novo filme de terror, com produção de James Wan e Jason Blum, trazendo uma boneca assassina. Podia dar certo. Mas não deu…

Vamulá. A ideia de uma Inteligência Artificial que se torna algo do mal não é exatamente novidade, mas podia gerar um bom filme. O problema aqui é que tudo está muito bagunçado. O filme originalmente seria censura “R”, mas a produção mudou de ideia e cortou várias cenas violentas pra virar um filme “PG13”. Ou seja, é um filme de terror onde temos poucas mortes e zero gore. Desconfio que M3gan seria bem melhor com essas cenas…

Digo mais: o design da boneca é legal. Mas ela não é assustadora. Como podemos ter um filme de terror onde o vilão não assusta?

Com pouco terror, M3gan entra no drama. Parte do filme tenta desenvolver o problema de pais que não têm muito tempo para se dedicar aos seus filhos, mas não achei o assunto muito bem desenvolvido. E não sei se foi por causa disso, mas a parte “terror” demora pra começar. A primeira morte só acontece depois da metade do filme.

O nome do James Wan está nos cartazes, e tem gente achando que o filme é dele. Mais ou menos, ele produziu e é um dos roteiristas. Mas a direção é do pouco conhecido Gerard Johnstone, que fez o cult neozelandês Housebound em 2014.

Curioso o nome do James Wan estar no roteiro, porque este é bem fraco. Você precisa de uma grande suspensão de descrença pra relevar vários problemas, como por exemplo um grande (e caro) lançamento de uma grande empresa estar nas mãos de uma equipe tão pequena, e que pretendem lançar o produto sem testar antes. Isso fora  alguns outros probleminhas…

O roteiro é cheio de furos. Um me incomodou bastante, que é quando vemos que um personagem está roubando os planos da boneca. Só que isso não leva a nada! Pra que somos apresentados a um sub plot que não vai ser desenvolvido?

Algumas coisas ficaram bem ruins, como a “dancinha tik tok”. Ok, a gente sabe que aquela cena foi incluída pra viralizar, e deu certo, viralizou. Mas a cena não tem nada a ver com o resto do filme! Se o filme fosse assumidamente trash, essa dancinha seria sensacional. Mas ficou muito tosco.

No elenco, só dois papéis têm algum desenvolvimento: Allison Williams (Corra!) e a menina Violet McGraw. Todos os outros personagens são rasos. Já a boneca M3gan é interpretada por Amie Donald, mas ela usou uma máscara de boneca e foi substituída por cgi em parte do filme, não sei quais cenas tem a atriz e quais não tem. A voz da boneca é da Jenna Davis, o que, confesso, me criou uma confusão mental, porque me falaram o nome e pensei na Geena Davis, de Thelma e Louise e A Mosca.

M3gan pode até divertir o povo que vai ao multiplex aos domingos, mas termina com um gostinho de que podia ter sido bem melhor.

The Last of Us – E01S01

Crítica – The Last of Us – E01S01

Sinopse (imdb): Joel e Ellie, uma dupla conectada pela dureza do mundo em que vivem, são forçados a suportar circunstâncias brutais e assassinos implacáveis em uma jornada pela América pós-pandemia.

Estreou no domingo passado uma série na HBO baseada no famoso videogame The Last Of Us. Como nunca joguei o game – nem sei do que se trata – nem me interessei pela série. Mas, ouvi elogios em mais de um grupo, e reparei que alguns dos youtubers que acompanho estão comentando, então resolvi ver qualé.

E preciso dizer que rolou uma certa decepção. A série não é exatamente ruim, mas… falta muito pra ser tão boa quanto estão falando por aí. Vamos por partes.

Antes de tudo, queria falar que gosto do formato de um episódio por semana. Alguns streamings liberam de uma vez toda a temporada de uma série, e os espectadores mais afoitos fazem binge watching. Acho isso ruim, prefiro ver um episódio de cada vez, dá tempo de digerir o que a gente acabou de ver.

Vamos primeiro ao que deu certo. O criador do videogame, Neil Druckmann, é roteirista aqui. Isso já coloca The Last Of Us num patamar acima de muitas adaptações ruins – lembro de uma recente adaptação de Resident Evil que conseguiu a façanha de desagradar tanto quem jogou o game quanto quem apenas gosta de um bom filme ou série. Outro acerto foi trazer Gustavo Santaolalla, que fez a trilha sonora do videogame, para fazer a trilha sonora aqui.

Uma curiosidade: o diretor Craig Mazin não dirigia nada desde 2008, quando fez a comédia nonsense Super Herói: O Filme (e antes ele tinha escrito o roteiro de duas sequências de Todo Mundo em Pânico!). Mas, boa notícia: Mazin faz um bom trabalho aqui. E hoje ele é mais conhecido por ser o criador da série Chernobyl do que pelo seu passado no besteirol.

Algumas sequências são muito bem filmadas. Gostei muito da sequência do carro, onde o ponto de vista está sempre dentro do veículo enquanto o caos acontece lá fora, inclusive com alguns planos sequência no meio (me lembrei de Filhos da Esperança, que também tem um plano sequência sensacional envolvendo um carro e o caos em volta). E não é só isso, alguns detalhes são boas sacadas como a cena onde vemos uma personagem que está virando zumbi, mas em segundo plano, fora de foco.

Dito isso, precisamos reconhecer que a gente já viu tudo isso. Estou meio saturado com o tema “apocalipse zumbi”. E o episódio traz um “plot twist” com a Ellie, mas no primeiro diálogo onde ela aparece a gente já saca qual é o segredo dela.

Tem outro problema: tudo é muito lento. O episódio tem uma hora e vinte minutos, que se arrastam…

No elenco, Pedro Pascal mais uma vez mostra que é um nome em ascensão. O seu Joel é um cara complexo, tem seus problemas, seus traumas, trabalha com coisas dentro e fora da lei, é um personagem muito bem construído. Bella Ramsey, o outro nome principal, por enquanto não é um bom personagem, ela só faz uma adolescente chata. Isso pode ser do roteiro, ou pode ser um problema com a atriz, aguardemos os próximos. Anna Torv, de Fringe, tem um papel importante, mas também ainda não mostrou a que veio.

Bem, fiz essa análise vendo apenas um episódio. Ainda faltam oito. Ou seja, admito que é cedo pra tirar conclusões. Espero que a série traga algo de novo e seja realmente isso tudo o que prometeram.

Corra, Querida, Corra

Crítica – Corra, Querida, Corra

Sinopse (imdb): Uma mulher tenta chegar em casa viva depois que seu encontro às cegas se torna violento.

Recentemente surgiu um filme polêmico na Amazon Prime, mas que sei lá por que não entrou no meu radar na época do lançamento. Como tem polêmica envolvida, cabe um comentário levemente atrasado sobre o filme?

Em 2017, a gente teve Corra!, que era um filme de terror que trazia uma inteligente abordagem sobre o racismo. Agora este Corra, Querida, Corra (Run Sweetheart Run, no original) parece que quer algo semelhante, mas fazendo uma crítica ao machismo. Mas, se aquele era um bom filme e a crítica social era bem inserida, este novo filme falha nos dois aspectos.

Antes de tudo, preciso avisar que este é um daqueles filmes onde o melhor é você não saber muita coisa. A história toma rumos inesperados. Vou dividir meu texto, e vou comentar alguns spoilers leves mais à frente. Nada grave do tipo “final explicado”, mas, se você não viu e quiser a experiência completa, é melhor não ler.

Co-escrito e dirigido por Shana Feste, Corra, Querida, Corra começa bem. Somos apresentados à protagonista Cherie, que sofre por viver no meio de um mundo machista – vemos isso no seu trabalho, no ônibus, etc. Aí ela precisa ir a um jantar de negócios que acaba que vira um encontro romântico, e esse encontro dá errado e ela agora precisa correr pela sua vida.

A estrutura do filme a partir daí é com ela tentando ajuda, e ele aparecendo e matando quem tenta ajudar. Ok, repetitivo, mas funciona dentro do formato proposto. Além disso, a fotografia à noite é boa, e curti a trilha sonora com synth pop.

Teve uma coisa que achei uma boa sacada. O Ethan, em dois momentos, quebra a quarta parede e vira a câmera, pra gente não ver cenas de violência. Achei uma boa ideia, só achei que isso deveria ter acontecido pelo menos mais uma vez. Só duas vezes ficou estranho.

Claro que o filme se baseia nos dois atores principais. Ella Balinska, que estava no recente As Panteras e na série ruim Resident Evil, está ok para o que o filme pede; Pilou Asbæk (famoso como Euron Greyjoy de Game of Thrones, e que estava no recente Samaritano) é caricato mas caiu bem no papel de machista. A dinâmica entre os dois funciona bem. Também no elenco, Clark Gregg e Shohreh Aghdashloo.

Agora, vamos aos problemas? Preciso falar que aquele “jantar de negócios” do início do filme é um furo de roteiro que me incomodou profundamente. Cherie errou na agenda, e marcou um jantar de negócios na mesma noite que o chefe tinha aniversário de casamento. Isso não foi armado pelo chefe, foi um erro da Cherie. Ou seja, era pro chefe dela estar naquele jantar! Toda a trama do filme não deveria ter acontecido! E isso era muito fácil de corrigir, uma simples linha de diálogo do chefe dizendo “marquei dois compromissos pra hoje, preciso que você me represente em um deles.”

E o roteiro ainda tem alguns pontos aqui e ali que são bem forçados. Tipo quando a Cherie é presa, e a outra mulher que está na cela ao lado dela conhece até o tipo de bebida que o Ethan prepara. Ou o cachorro que salva a Cherie! De onde veio aquele cachorro???

Outra coisa: a crítica ao machismo estrutural é bem vinda, mas às vezes o filme precisava de um pouco mais de sutileza. Mais pra perto do fim, tem um diálogo completamente desnecessário onde a First Lady fala sobre o Ethan, e que a função dele era “manter os homens no poder, e agora que a balnça de poder virou, ele está ficando desesperado”. Sério?

Tenho mais um comentário, mas vamos ao aviso de spoilers.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

Lá pelo meio do filme a gente descobre que o Ethan não é apenas um machista, ele é um monstro. O filme não deixa claro o que ele é – não o vemos na forma monstro – mas desconfio que seja um vampiro, porque ele fareja sangue e precisa voltar pra casa antes do sol nascer. Heu achei essa ideia muito boa, o cara se revela um monstro de verdade. E aí a gente entende por que o filme não pode mostrar os atos de violência, porque a gente descobriria que ele é um monstro logo nos primeiros vinte minutos de filme.

FIM DOS SPOILERS!

Mas mesmo com alguns pontos positivos, o resultado final fica devendo. Pena, a ideia poderia ter dado certo.

Gemini: O Planeta Sombrio

Crítica – Gemini: O Planeta Sombrio

Sinopse (imdb): Um thriller de ficção-científica sobre uma missão espacial enviada para terraformar um planeta distante. No entanto, a missão encontra algo desconhecido que tem o seu próprio plano para o planeta.

Este Gemini: O Planeta Sombrio estava com nota 3,4 no imdb. Tudo indicava que seria ruim. Mas, gosto da mistura terror + ficção científica (cheguei a fazer um top 10!), então resolvi arriscar.

Como previsto, Gemini: O Planeta Sombrio (Project Gemini em inglês, Zvyozdniy razum no original russo) não é bom. O roteiro é péssimo. Tem várias coisas que não fazem sentido. Sem entrar em spoilers, uma coisa que acontece logo no início: eles constroem uma grande espaçonave usando tecnologia alienígena. Quando a nave chega ao destino, chegou no lugar errado. Aí resolvem culpar um dos tripulantes. Vem cá, um projeto deste porte, todos os cálculos de trajetória estão nas mãos de uma única pessoa?

O elenco também é bem ruim. Os atores são péssimos, alguns diálogos chegam a ser constrangedores de tão ruins. E pra piorar, o filme é dublado em inglês. Lembro de ser um problema recorrente, quando vi A Noiva, outro filme russo também dublado em inglês, comentei que a dublagem ruim piorava as atuações. Isso acontece de novo aqui.

Nem tudo é ruim. Gostei do visual, tanto da nave quanto do local da escavação. E outra coisa que gostei foi ter mostrado pouco da criatura. Lembro sempre do primeiro Alien: um monstro que você não sabe como é é mais assustador do que um monstro que aparece muito.

Mas é pouco. Vale mais rever algum filme daquela lista que citei acima. Gemini: O Planeta Sombrio estreia nos cinemas esta semana.

Fome de Viver

Crítica – Fome de Viver

Sinopse (imdb): Um triângulo amoroso se desenvolve entre uma vampira bonita, mas perigosa, seu companheiro violoncelista e uma gerontologista.

Hoje é dia de revisitar um dos melhores filmes do Tony Scott e um dos maiores cults de vampiros dos anos 80: Fome de Viver.

Mas antes do filme, posso falar do diretor? Lembro de uma piadinha maldosa que rolava nos anos 80 se referindo a Tony Scott como “o irmão menos talentoso do Ridley Scott”. Isso é porque enquanto Ridley era famoso por Alien, Blade Runner e A Lenda, Tony fazia filmes como Top Gun, Um Tira da Pesada 2 e Dias de Trovão. Mas acho isso maldade, Tony simplesmente usou um caminho mais pop.

Tem uma história boa envolvendo um tal de Quentin Tarantino. Tarantino escreveu e dirigiu Cães de Aluguel em 1992, e depois teve dois roteiros oferecidos para outros diretores. Um foi Assassinos por Natureza, dirigido por Oliver Stone. Na época rolaram boatos de que Stone e Tarantino teriam brigado, e Tarantino teria pedido pra tirar o nome dos créditos. Hoje Tarantino é um nome gigante, mas, na época, parecia muita audácia de um jovem quase estreante que estava comprando briga com um veterano que já tinha 3 Oscars (roteiro por Expresso da Meia Noite e direção por Platoon e Nascido em 4 de Julho). Mas o tempo passou e vimos que aquele jovem quase estreante tinha boas cartas na mão.

O outro roteiro era Amor À Queima Roupa, que foi dirigido por Tony Scott. Não ouvi falar de nenhum problema entre os dois. Pelo contrário, o que se falou na época é que ficaram amigos. Tanto que o filme seguinte de Scott, Maré Vermelha, teve colaboração do Tarantino. O roteiro estaria sério demais, então Tarantino teria sido chamado escrever algumas cenas para quebrar a sisudez. Sendo assim, temos algumas cenas um pouco “diferentes”, como aquela onde tem uma citação a Star Trek, ou outra onde rola uma discussão sobre o Surfista Prateado.

Infelizmente Tony Scott faleceu em 2012, aos 68 anos de idade.

Vamos ao filme? Baseado no livro homônimo de Whitley Strieber, Fome de Viver (The Hunger, no original) é um filme de vampiros um pouco diferente. A palavra “vampiro” não é dita em nenhum momento do filme, os vampiros não têm dentes caninos pontiagudos, e eles andam de dia (me lembrei de Quando Chega a Escuridão (1987), da Kathryn Bigelow, outro filme que traz vampiros “diferentes”).

Mesmo revendo hoje, quase quarenta anos depois, o visual do filme ainda é bem legal. A fotografia abusa do contra-luz,várias cenas têm cara de videoclipes – e, coincidência ou não, o filme abre com uma participação da banda Bauhaus com a música Bela Lugosi’s Dead. Achei boa a maquiagem do envelhecimento. Uma coisa que não gostei são os takes em câmera lenta, mas não sei se isso é falha ou se foi estilo do diretor.

(Assim como o irmão Ridley, Tony Scott veio da propaganda, então seus filmes sempre foram estilosos.)

Os vampiros aqui não têm presas, eles usam um colar com um pingente com o símbolo egípcio Ankh, e dentro do pingente tem uma lâmina.

Duas coisas que reparei durante o filme, e confirmei depois lendo a sessão de trívia do imdb. A primeira é um comentário “de músico”. Tem uma cena onde vemos um número musical, Bowie está no violoncelo, Deneuve está ao piano e temos uma outra personagem no violino. Bowie aparece tocando, vemos os seus dedos, ele realmente está tocando – talvez até o som que ouvimos não seja tocado por ele, mas ele, que é músico, aprendeu a tocar violoncelo para o filme. Já Deneuve ao piano finge bem mal…

O outro comentário é sobre as cenas de nudez. Susan Sarandon aparece nua, mas tive a impressão de que Catherine Deneuve tinha usado dublê de corpo – e isso foi confirmado no imdb.

No elenco, o filme fica basicamente em cima dos três principais: Catherine Deneuve, David Bowie e Susan Sarandon. Tem uma breve participação de um ainda desconhecido Willem Dafoe em uma cena.

Por imposição do estúdio, o fim tem espaço para continuações (algo comum em filmes de terror), mas nunca fizeram um segundo filme. Foi feita uma série homônima em 1997, mas não tem nenhuma conexão com a história deste filme (apesar de usar David Bowie como apresentador).

Fome de Viver não foi bem sucedido nas bilheterias, então Tony Scott desistiu de fazer cinema e voltou a fazer comerciais. Até que dois anos depois Jerry Bruckheimer e Don Simpson o convenceram a fazer Top Gun, que viria a ser o maior sucesso comercial de 1986. A partir daí, Scott não largou mais o cinema.

O Menu

Crítica – O Menu

Sinopse (imdb): Um jovem casal viaja para uma ilha remota para comer em um restaurante exclusivo onde o chef preparou um cardápio farto, com algumas surpresas chocantes.

Parece que este O Menu (The Menu, no original) foi um dos títulos badalados no último Festival do Rio. Mas, como comentei no texto sobre Império da Luz, não dei bola para o Festival do Rio este ano, e quase deixei O Menu passar.

Dirigido pelo pouco conhecido Mark Mylod (que dirigiu episódios de Game of Thrones, Shameless e Succession), O Menu é daquele tipo de filme onde quase tudo acontece no mesmo cenário, com todos os personagens presentes – quase uma peça de teatro filmada.

O roteiro de Seth Reiss e Will Tracy é eficiente ao equilibrar a trama entre vários personagens. Claro, o foco maior fica nos três principais, mas tem espaço para conhecermos um pouco de cada um dos outros convidados do jantar. E o modo como o jantar é apresentado é uma boa crítica à gourmetização extrema. Aliás, vi alguns críticos incomodados, acho que a carapuça serviu e eles entenderam que seria “cinema” no lugar de “comida”.

Mas o melhor está nas atuações, principalmente de Ralph Fiennes e Anya Taylor-Joy. Fiennes tem uma das melhores atuações da sua carreira como o chef obcecado pela perfeição. E Anya mais uma vez mostra que é um nome a ser acompanhado. Nicholas Hoult tem o terceiro papel principal, mas seu personagem é mais besta. Entre os vários nomes menores do resto do elenco, olha lá, tem o John Leguizamo!

Tenho um comentário sobre o fim, mas é um spoiler brabo, então vou colocar o aviso de spoilers.

SPOILERS!

Entendi a ideia do chef, uma espécie de vingança pessoal misturada com suicídio. Mas não consigo entender por que seus funcionários embarcariam nesse suicídio coletivo. Eles já trabalhavam num sistema quase escravo, era a chance de liberdade. Não achei muito lógico.

FIM DOS SPOILERS!

Mesmo não gostando do final, O Menu ainda é uma boa opção de suspense/terror diferente do óbvio.

Olhos Famintos: Renascimento

Crítica – Olhos Famintos: Renascimento

Sinopse (imdb): Forçada a viajar com o seu namorado, Laine começa a experimentar premonições associadas com o mito urbano de The Creeper. Laine acredita que algo de sobrenatural foi convocado, e que ela está no centro de tudo isto.

Sei que nos últimos dias falei aqui de dois filmes de terror muito ruins. Mas este Olhos Famintos: Renascimento (Jeepers Creepers Reborn, no original) supera os dois anteriores.

Heu achei Skinamarink muito muito ruim. Mas entendo que existe uma proposta ali. Não curto a proposta, mas entendo o objetivo. E Tubarão Mar de Sangue é cheio de clichês e tem um cgi muito tosco, mas são cenas rápidas, pra talvez tentar esconder a tosqueira. Já Olhos Famintos: Renascimento tem tanta coisa errada que tive que rever pra anotar tudo e fazer um vídeo pro youtube.

Antes de tudo, falemos sobre a franquia. Lembro de quando lançaram o primeiro Olhos Famintos em 2001 – não me lembro se passou no cinema, acho que foi direto pro mercado de home vídeo. Não era um grande filme, mas me lembro que era uma boa diversão, assim como me lembro que o monstro era bem legal. Devo ter visto o segundo (de 2003), mas não lembro de nada; provavelmente não vi o terceiro (de 2017) porque na época já existia o heuvi, heu teria escrito sobre o filme. Mesmo assim me lembro de comentários esculachando o terceiro filme como um dos piores de todos os tempos. Mal sabiam eles que ainda podia piorar…

Heu não sabia do passado criminoso de Victor Salva, diretor dos três primeiros Olhos Famintos. Ele foi preso por pedofilia no fim dos anos 80. Por causa disso, rola uma teoria de que este quarto filme (dirigido por Timo Vuorensola) seria uma espécie de vingança contra Salva e por isso é ruim de propósito. Será?

Sobre o filme, nada se salva, nem direção, nem produção, nem elenco, nem parte técnica. São tantos erros que fica até difícil de contar. Vou deixar o link para o meu vídeo no youtube. E se você preferir ver o filme, boa sorte!

Skinamarink

Crítica – Skinamarink

Sinopse (imdb): Duas crianças acordam no meio da noite e descobrem que seu pai desapareceu e que todas as janelas e portas de sua casa sumiram.

Apareceu um novo “filme de terror mais assustador de todos os tempos da última semana”. Claro que quero ver. Mas, agora existe um grande mistério na minha cabeça: como alguém pode achar esse Skinamarink assustador???

Skinamarink é um filme onde NADA acontece. Simplesmente isso. Quando o filme começou, mostrando imagens aleatórias, fiquei me perguntado “ok, quando é que a história vai começar?”. Passaram-se dez minutos. Vinte minutos. Meia hora. O filme inteiro é assim!!!

Pra quem não viu (pessoas de bom senso), explico o que são essas imagens. O diretor Kyle Edward Ball coloca a câmera em ângulos “errados”, mostra parte da parede, parte do teto, deixa a câmera parada por uns 10, 15 segundos, depois coloca a câmera em outro ângulo “errado”. Pra piorar, as imagens são cheias de ruídos, e o som também é cheio de ruídos, com apenas fragmentos de diálogos. E o filme fica assim por intermináveis uma hora e quarenta minutos!

“Ah, mas eu levei um susto!”. Ok, sustos podem acontecer. Se uma câmera fica 15 segundos parada mostrando uma parede em silêncio, e de repente tem um barulho alto, o espectador pode levar um susto. Mas isso está longe de transformar Skinamarink em um filme assustador.

Li em algum lugar um comentário que dizia que o diretor deveria fazer um curta em vez de um longa, mas o curta não lhe daria visibilidade (porque, tirando raros casos como Mama ou Lights Out ninguém se importa com curtas). Mas, pergunto: pra que uma hora e quarenta? Por que não uma hora e quinze? Não ia melhorar, mas pelo menos a tortura acabaria mais cedo.

Se heu posso tirar algo de útil é que aprendi um novo termo: “terror analógico” – vejo filmes de terror há mais de trinta anos e não conhecia isso. Segundo a wikipédia, “Esse gênero é comumente caracterizado pela baixa resolução das gravações, mensagens enigmáticas e estilos visuais que lembram a televisão do século XX”. Boa, conheci um subgênero de terror a ser evitado.

O pior de tudo é que como esse Skinamarink está sendo falado por aí, provavelmente farão filmes parecidos nos próximos anos. Corram para as montanhas!

Preciso pensar na minha lista de dez piores filmes de 2022. Faltam nove filmes.