Deadstream

Crítica – Deadstream

Sinopse (imdb): Uma celebridade da Internet que foi desmonetizada após uma polêmica envolvendo seus vídeos decide reconquistar os seguidores com um evento exclusivo: uma live transmitida do interior de uma casa assombrada.

Imagina se o Sam Raimi resolvesse fazer uma versão found footage de Evil Dead? Ia sair algo parecido com este Deadstream, produzido, co escrito, co dirigido e estrelado por Joseph Winter.

O filme todo é focado em um personagem, um youtuber que passou por polêmicas e foi desmonetizado, e que agora quer fazer uma live passando uma noite numa casa mal assombrada para reconquistar a audiência. E claro que coisas vão dar errado durante esta live.

Deadstream é sem dúvidas um filme de terror, inclusive rolam alguns jump scares bem bolados. Mas é ao mesmo tempo um filme muito engraçado. Heu diria que o filme me causou mais gargalhadas do que sustos.

Deadstream é nitidamente um filme de orçamento baixíssimo. E Joseph Winter é o nome aqui: além de ser o protagonista, ele está no roteiro, produção, direção, edição e trilha sonora (sim, found footage com trilha sonora, ele leva um gravadorzinho e toca a trilha pra criar um clima). Aliás, tem outro nome a ser citado, fui ver no imdb, Jared Cook aparece em nove funções fora das telas, além de aparecer rapidamente em uma das cenas. Provavelmente são dois amigos que desenvolveram a ideia, e preciso dar meus parabéns pra eles!

O roteiro não é perfeito, tem algumas pontas soltas aqui e ali (tipo quando ele levanta o lance dos direitos autorais e depois deixa isso pra lá). Por outro lado, o roteiro sabe equilibrar bem os momentos tensos / engraçados ao longo do filme.

Falando na parte comédia: o protagonista Shawn Ruddy criado por Joseph Winter é carismático e muito engraçado. Ele não copia o Ash de Evil Dead, ele é mais medroso. Confesso que ri algumas vezes em momentos que ele se assustava.

Um outro trunfo de Deadstream são os efeitos práticos e de maquiagem (outra semelhança com Evil Dead) Determinados momentos do filme trazem um gore bem nojento, e ao mesmo tempo muito engraçado! Aliás, essas citações a Evil Dead são explícitas: reparem na tábua ouija, está escrito “Klaatu Verata Nikto”, frase tirada do filme do Sam Raimi.

Deadstream é de 2022, foi lançado lá fora pela Shudder. Ou seja, ver aqui no Brasil não é uma tarefa muito fácil. Mas recomendo!

A Vingança de Cinderela

Crítica – A Vingança da Cinderela

Sinopse (imdb): Cinderela é levada longe demais por sua madrasta e meio-irmãs malvadas, o que a faz trocar os sapatos de vidro e usar a ajuda de sua Fada Madrinha para buscar uma vingança sangrenta.

Uns 3 meses atrás comentei A Maldição da Cinderela, um filme vagaba que trazia uma versão terror da Cinderela. Este não é o mesmo filme, é outro filme vagaba que traz uma versão terror da Cinderela!

Vamulá. Não que A Vingança da Cinderela seja um bom filme, mas pelo menos é bem menos ruim que A Maldição da Cinderela. Aqui pelo menos tem uma história sendo contada, e ainda tem alguns detalhes interessantes.

Por exemplo, tem uma sacada aqui que achei uma boa ideia. Provavelmente por razões orçamentárias, a fada madrinha viaja no tempo e em vez de carruagem a Cinderela vai para o baile num carro Tesla (isso dentre outras coisas atemporais). Isso serve de desculpas pra algumas incorreções históricas, tipo aquela tatuagem do capanga da madrasta – uma tatuagem daquelas, colorida e cheia de detalhes, não combina com a época da Cinderela.

O filme de três meses atrás quase não tinha história, poderia ser um curta. Aqui, rola a história “clássica” (Cinderela maltratada pela madrasta e pelas filhas dela, fada madrinha, baile, sapatinho de cristal, etc) na primeira metade do filme, e ainda tem uma segunda metade com a tal vingança do título. A partir daí, A Vingança da Cinderela vira um filme de terror de verdade e temos algumas mortes bem filmadas.

Agora, precisamos reconhecer que o filme tem umas tosqueiras bem toscas. O roteiro é preguiçoso, os cenários e figurinos são pobres, e o elenco é péssimo!

No elenco, um nome conhecido: Natasha Henstridge, que chamou a atenção como uma das alienígenas mais belas do cinema em 1995, em A Experiência, e fez alguns filmes na época, como Risco Máximo (com Jean Claude Van Damme) e Adrenalina (com Christopher Lambert), e chegou até a fazer um filme no Brasil, Bela Dona, mas que depois sumiu – o último filme que vi com ela foi Meu Vizinho Mafioso 2, de 2004. (O imdb dela tem vários títulos depois disso, mas não vi nenhum). Natasha faz a fada madrinha, gostei de vê-la aqui. Ela é bem melhor que as atrizes que fazem a madrasta e suas filhas! Lauren Staerck faz o papel título.

Repito o que disse: não é um grande filme, mas pode ser uma boa diversão se você estiver no clima certo.

The Mouse Trap

Critica – The Mouse Trap

Sinopse (imdb): É o aniversário de 21 anos de Alex, mas ela está presa no fliperama em um turno tardio, então seus amigos decidem fazer uma surpresa para ela, mas um assassino mascarado vestido de Mickey Mouse decide jogar um jogo com eles.

O aguardado “filme de terror do Mickey”! Mas… The Mouse Trap é tão ruim que nem sei por onde começar. Porque, como cinema, é um filme péssimo; e pra piorar, não tem nada a ver com o Mickey, o que seria o grande chamariz.

Qual é a história por trás desse filme? Há pouco tempo, tivemos o filme de terror do Ursinho Pooh, que apesar de muito ruim foi um sucesso – como foi um filme muito barato, proporcionalmente ele rendeu muito dinheiro. Ou seja, descobriram que pegar personagens infantis clássicos e transforma-los em terror podia ser algo lucrativo. E aí descobriram que o desenho Steamboat Willie, o primeiro desenho do Mickey Mouse, ia entrar em domínio público. Por que não criar um filme de terror com o Mickey Mouse?

Para começar, se a proposta é fazer um filme de terror com o Mickey Mouse, que tal criar uma trama de alguma maneira ligada ao personagem? Porque o roteiro de The Mouse Trap não tem nada a ver com o Mickey. Um cara coloca uma máscara e ganha super poderes, consegue se teletransportar de um lugar para o outro. Como? Sei lá, mas isso é o de menos, sempre tivemos vilões slasher que desafiavam as leis da física e (quase) nunca reclamamos. O ponto é: o que isso tem a ver com o Mickey? O personagem já se teletransportou em alguma historinha? Por que diabos quando o cara vira um “Mickey assassino”, ele passa a ter o poder de teletransporte? Se você vai fazer uma história de terror com o Mickey, por que não pensar em alguma coisa que tenha a ver com o personagem???

Heu não vou falar das atuações ruins e dos diálogos ruins porque isso era algo meio esperado. Mas sim, todas as atuações aqui são péssimas e todos os diálogos são muito mal escritos. Outra coisa que também acontece são erros de continuidade, tipo, tem uma cena onde uma personagem está suja de sangue, logo depois ela não está mais suja, mas na cena seguinte ela está novamente suja.

Calma que ainda piora. Um filme de terror pode ser ruim, mas ele pode pelo menos ter algum gore e mostrar mortes bem feitas – In a Violent Nature vai desagradar muita gente, mas ninguém vai reclamar das mortes. Mas aqui isso não acontece – não só não tem nenhuma morte graficamente bem feita, como o filme acaba antes de terminar de matar os personagens. Você vê que eles estão numa armadilha, você sabe que eles vão morrer, mas o filme acaba antes e não mostra. Por que??? The Mouse Trap tem cenas longas com diálogos chatos, mas na hora que vai mostrar o que o espectador quer ver, acaba o filme.

Tem outra coisa que também ficou bem esquisita. A história é contada por uma única sobrevivente do massacre, só que a gente vê ao longo do filme que ela teve o pé gravemente ferido pelo vilão. Ela não consegue mais andar, precisa de cuidados médicos, e é resgatada pelos bombeiros. Mas ela dá o depoimento pra dois policiais de dentro de uma cela, ainda com a mesma roupa – ou seja, ela foi presa como suspeita. Mas, será que alguém que alguém com o pé ferido daquele jeito não seria medicada antes de ir pra uma cela? Mais: como é que ela sabe tantos detalhes se ela não estava presente?

Mas eu acho que o pior de tudo é ser um filme de terror que não assusta, que não dá medo – e que é um filme chato. São uma hora e vinte, incluindo os créditos, e mesmo assim o filme é arrastaaado. E tem uma cena pós créditos que aparentemente só está ali pra tentar uma continuação.

Forte candidato a pior do ano.

Demons (segunda crítica)

Crítica – Demons

(Esta é a segunda crítica que faço para este filme, escrevi sobre ele em fevereiro de 2010. Mas esta está mais completa.)

Sinopse (imdb): Um grupo de pessoas é convidado aleatoriamente para a exibição de um filme misterioso, apenas para se encontrarem presos num teatro com demônios vorazes.

Hora de falar de Demons, clássico trash de 1985. Tenho duas histórias pessoais com esse filme, relacionadas a duas vezes que assisti nos cinemas. Vou falar sobre o filme, depois conto as histórias pessoais.

Demons foi dirigido por Lamberto Bava, filho de Mario Bava, diretor, roteirista e diretor de fotografia de vários clássicos de terror italianos – seu filme La ragazza che sapeva troppo, de 1963, é considerado o primeiro filme “giallo”. Lamberto Bava também é um dos roteiristas, ao lado de um tal de Dario Argento.

Pessoas são convidadas para a inauguração de um cinema, e durante a sessão, começam a se transformar em monstros. Sim, é um argumento meio trash. Mesmo assim, o modo como o filme apresenta a metalinguagem é muito bem construído, porque temos duas camadas. A primeira é que estamos assistindo a um filme onde pessoas estão assistindo a um filme. A outra é que, conforme as coisas acontecem no “filme dentro do filme”, coisas semelhantes acontecem no filme que estamos vendo.

Outro destaque em Demons é a maquiagem. Era 1985, não tinha efeitos em cgi, tudo era efeito prático e de maquiagem. E a maquiagem dos monstros é muito muito boa. A cena da primeira pessoa começando a transformação, em frente ao espelho do banheiro, marcou a minha juventude pelo gore apresentado. Digo mais, tem um detalhe ressaltado pelo meu amigo Célio Silva, crítico do G1: este é talvez o único filme que mostra a troca de dentes por presas. Sempre vemos a pessoa transformada, com uma dentição diferente, mas (quase) nunca vemos como essa dentição foi transformada. Aqui tem uma cena mostrando!

A fotografia também é muito boa, Lamberto Bava consegue mostrar o cinema em alguns ângulos bem criativos. E tem algumas cenas muito bem filmadas, como a parte onde o personagem está em uma moto matando demônios com uma katana.

A boa trilha sonora original é de Claudio Simonetti, da banda Goblin, que trabalhou em dezenas de filmes de terror, como Suspiria, Tenebre e Terror na Ópera. Além disso, a trilha usa músicas rock’n’roll, de artistas como Motley Crue, Billy Idol, Accept e Saxon.

Agora, precisamos entender que é um filme trash. Um bom trash, mas não deixa de ser trash. O roteiro tem algumas coisas que não fazem o menor sentido, estão lá só pelo visual, como um demônio que sai das costas de uma personagem.

Além disso, tem uma trama paralela bem chatinha com um grupo fora do cinema. E se estamos falando de um filme de menos de uma hora e meia, fica estranho ter uma parte arrastada. Aquela trama paralela podia ser encurtada – ou mesmo cortada fora do filme.

No elenco, nenhum ator conhecido, e nenhuma boa atuação. Este é daquele formato de filme onde os atores não têm muito espaço para grandes atuações. Só uma curiosidade relativa ao elenco: o homem com a máscara de ferro que distribui os ingressos no início do filme é interpretado por Michele Soavi, que depois viraria diretor de filmes como Dellamorte Dellamore e O Pássaro Sangrento.

Demons teve uma continuação lançada em 1986. Provavelmente vi na época, mas não me lembro de absolutamente nada…

Vamos para as histórias? Segundo o imdb, Demons foi lançado no Brasil em 1988, o que é compatível com a minha primeira história. Vi no Studio Copacabana, uma sala pequena e meio vagabunda que tinha numa galeria na rua Raul Pompeia, Copacabana (se não me falha a memória, mesma galeria que também teve a Bunker, a Mariuzinn e a Le Boy). Vi sozinho, num cinema que ficava no subsolo de uma galeria, igual ao cinema do filme. Confesso que fiquei bolado com a ideia de ficar preso naquele cinema!

A outra história aconteceu este ano. Estava rolando uma maratona noturna no Estação Net Rio, com filmes passando nas cinco salas, a gente podia trocar de sala à vontade. Estava com meus três filhos, e vi que ia ter Demons em uma das salas, fui com eles pra lá. Vimos o filme, e quando acabou, minha filha de 23 anos e meu filho de 15 disseram, quase ao mesmo tempo, “pai, esse é o pior filme que eu já vi na minha vida!”. Bem, o filho de 13 anos não reclamou, acho que ainda tenho esperança de ter um filho que goste de cinema trash…

I Bought a Vampire Motorcycle

Crítica – I Bought a Vampire Motorcycle

Sinopse (imdb): Quando uma gangue de motociclistas mata um ocultista, o espírito maligno que ele invocava habita uma moto danificada. A moto é então comprada e restaurada, mas revela sua verdadeira natureza ao tentar se vingar da gangue e de qualquer outra pessoa que se interponha em seu caminho.

Outro dia mandaram no grupo de apoiadores do Podcrastinadores um short de Instagram com uma cena de uma moto vampira. Claro que fui catar que filme era!

É um filme trash inglês de 1990, dirigido por Dirk Campbell. O nome original é I Bought a Vampire Motorcycle, mas não consegui descobrir qual é o nome brasileiro – pelo Google parece ser “A Moto Vampira”, mas no imdb está “A Motocicleta do Vampiro”. Aliás, me pergunto se esse filme já foi lançado oficialmente aqui no Brasil, desconfio que não.

Enfim, como previsto, I Bought a Vampire Motorcycle é ruim. Mas não é só ruim por ser trash, tem algumas camadas extras de ruindade. Vamulá.

O filme começa com um ritual satânico que dá errado e acaba que a moto fica possuída. Até aí, aceito. Não me incomoda uma moto possuída. O problema são cenas mal escritas, mal filmadas e mal editadas.

Tem uma cena que é tão ruim que vou criticar em dois níveis. Aliás, é uma cena que heu preferia não ter visto: a cena do cocô animado. A gente tem uma cena com uma visita do policial e acaba descobrindo que era um sonho do protagonista. Como é que alguém acha uma boa ideia colocar outro sonho do protagonista na cena seguinte? Será que ninguém se tocou que já tinham acabado de usar esse recurso? E, pra piorar, o segundo sonho – a cena do cocô – é completamente fora de qualquer coisa proposta dentro do filme. Essa cena não se encaixa com nada dentro da narrativa aqui.

Esta é a pior cena do filme, mas tem outras cenas ruins. Tem uma luta num pub que não faz o menor sentido. Pra começar que o dono do pub ia tentar impedir. Mas, independente do dono do pub, a briga é péssima, uma das piores coreografias da história do cinema. E a cereja do bolo é o erro de continuidade nas motos caídas.

Tem outras cenas que apenas são mal filmadas, como a cena onde dois policiais abordam um motorista bêbado e a moto vampira mata um dos policiais. A cena é tão mal filmada que tive que voltar pra entender quem tinha morrido.

Quer mais? Tem uma cena onde o cara entra na garagem e vê que a moto voltou, com um pedaço de perna humana. Chama a polícia? Não, melhor um padre. Ou… Quando policiais veem a moto descendo pela parede do hospital, eles ligam pra delegacia. Mas até o fim do filme não vemos mais nenhum policial, só o investigador que é um dos principais. Detalhe: o padre estava na delegacia, mas logo depois ele está com a galera.

No elenco, vários atores ruins e uma coisa curiosa. O ator principal, Neil Morrissey, fez um seriado na tv britânica, Boon, junto com Michael Elphick e David Daker, que também estão no elenco daqui. Amanda Noar, a principal personagem feminina, era casada com Neil Morrissey. Nunca soube de nenhum outro filme com nenhum deles. Por outro lado, o padre é interpretado por Anthony Daniels, também conhecido como C-3P0. E sim, o padre tem uma moto!

I Bought a Vampire Motorcycle termina com um gancho pra continuação, que até onde pesquisei, nunca foi feita.

Slotherhouse

Crítica – Slotherhouse

Sinopse (imdb): Emily Young, uma veterana, quer ser eleita presidente de sua irmandade. Ela adota um lindo bicho-preguiça, achando que ele pode se tornar o novo mascote e ajudá-la a vencer, até que uma série de fatalidades acontece.

Assim que li o nome desse filme, já deu vontade de ver. Achei genial o trocadilho com “slaughterhouse” (matadouro em inglês)!

Sim, é um filme sobre uma preguiça assassina. Claro que não é um filme sério. A duvida é: é bom? Vamulá.

Logo de cara a gente vê que é uma galhofa. A preguiça é um boneco meio tosco, mas que é capaz de fazer coisas como dirigir um carro ou tirar selfies com o celular. Isso, claro, gera algumas boas piadas. Aliás, gostei da opção da preguiça ser um boneco. Muitas vezes optam por cgi, e quase sempre fica ruim. Aqui ficou toscamente engraçado.

Agora, se por um lado acertaram nas piadas com o boneco da preguiça, por outro lado erraram em segurar a mão nas cenas violentas. Temos um filme de terror com uma preguiça assassina e o filme quase não tem gore!

Tem outro problema: heu aceito uma preguiça que sabe usar computador e dirigir carro. Isso faz parte da premissa absurda. Mas não dá pra aceitar que a preguiça saia matando um monte de gente e ninguém resolva ver o que aconteceu. A premissa absurda é relativa à preguiça, mas teoricamente as pessoas vivem numa sociedade normal, haveria alguma investigação policial.

(Nessa parte de forçadas do roteiro, também aceito “roteirices” como as garras da preguiça, que às vezes rasgam facilmente as costas de um, mas em outras ocasiões, mal conseguem arranhar o pescoço de outra. Ruim? Sim, mas é algo comum em filmes assim.)

No elenco, claro, ninguém conhecido – só reconheci um nome, Sydney Craven, que faz a antagonista Brianna, ela estava no terrível Olhos Famintos 4. Claro, as atuações vão de ruim a péssimo – tem uma amiga da protagonista que é tão caricata que passa de qualquer limite aceitável. Mas, dentro da proposta galhofa, as atuações ruins não chegam a atrapalhar.

No fim do filme, claro, uma cena pós créditos com gancho pra continuação. Que espero que tenha mais gore.

Bad CGI Gator

Crítica – Bad CGI Gator

Sinopse (imdb): Seis universitários alugam uma cabana nos pântanos da Geórgia durante as férias de primavera. Lá, eles decidem jogar seus laptops escolares em um lago no quintal, em um ato de rebeldia juvenil.

Não tem muito o que se falar sobre um filme chamado “Jacaré de CGI ruim”. Mas, vamulá.

Em primeiro lugar, CLARO que o CGI é ruim. Está no nome do filme! Se não tivesse um CGI ruim seria o mesmo que você ver um filme do Homem aranha sem o Homem Aranha, ou o filme da Barbie sem a Barbie! O CGI aqui é propositalmente ruim. Reclamar disso é incoerência.

Seis jovens universitários vão passar um fim de semana em uma casa isolada à beira de um lago. Resolvem jogar os laptops no lago, e a eletricidade faz um jacaré crescer – e voar. Sim, o jacaré flutua no ar. Qual é a lógica? Não tem. Mas também não tem lógica um jacaré crescer porque levou um choque.

Já comentei em outras ocasiões que tenho uma memória bizarra quando o assunto é cinema. Nos créditos iniciais li o nome do produtor Charles Band, lembro dele nos anos 80, quando fazia filmes B, ele dirigiu Trancers O Policial do Futuro e produziu A Visão do Terror, que era um dos meus trash favoritos nos tempos do VHS. Não via nada do Charles Band há anos, fui checar no imdb, o cara continua em atividade, e já soma 424 títulos como produtor!

Bad CGI Gator tem personagens clichês e unidimensionais: dois casais dentro do clichê fútil e descerebrado, um loser e uma descolada. Não sei se os seis atores são ruins, ou se não conseguem desenvolver nada porque são péssimos personagens. Todas as atuações são caricatas. Ah, rola uma breve nudez gratuita que tem tudo a ver com a proposta.

Se o filme é bom? Claro que não! Mas, tem uma coisa muito boa: uma duração de apenas 58 minutos. Como é uma piada curta, não precisa esticar. Conta a piada e acaba logo o filme.

Depois que acabou o filme, descobri que existe um “Bad CGI Sharks”, de 2019; e que existe um “Big Bad CGI Monsters” a ser lançado. Mas, depois deste Bad CGI Gator, acho que não preciso ver outro do mesmo estilo.

O Malvado: Horror no Natal

Crítica – O Malvado: Horror no Natal

Sinopse (imdb): Em uma pacata cidade montanhosa, Cindy tem seus pais assassinados e seu Natal roubado por uma figura verde sedenta de sangue em um traje de Papai Noel. Mas quando a criatura começa a aterrorizar a cidade, Cindy procura matar o monstro.

E se o Grinch fosse uma história de terror?

Dirigido pelo desconhecido Steven LaMorte, O Malvado: Horror no Natal (The Mean One, no original) tem um pé fortemente fincado no trash. Muita coisa não tem muita lógica – como por exemplo a cidade passar 20 anos sem nenhuma visita de forasteiros com espírito natalino. Mas, no clima certo, o espectador pode se divertir.

A proposta aqui é: num flashback, Cindy, a menina da história original, encontra e abraça o Grinch. Sua mãe, assustada, o ataca, mas acaba tropeçando e morrendo na queda. Cindy fica traumatizada e se muda da cidade. Anos depois ela volta decidida e dar um encerramento para essa história e seguir em frente, mas acaba reencontrando o monstro. E, claro, ninguém na cidade dá ouvidos a ela.

Falei que tem um pé no trash porque todo o clima do filme é na galhofa. Nenhuma aparição do Grinch vai causar medo, e as mortes geram mais gargalhadas do que repulsa. É terror, mas vai gerar mais risadas do que assustar.

O Malvado: Horror no Natal mostra muitas mortes, e a maior parte usa efeitos de maquiagem e props. Mas, em pelo menos três momentos, temos sangue em cgi (duas vezes por causa de tiros, uma vez quando uma pessoa é triturada num moedor de carne). Ficou muito claro que um efeito prático tosco funciona muito melhor que um cgi tosco! Ainda nesse assunto, a maquiagem do Grinch é bem feita.

Pra quem não sabe, o Grinch é um personagem criado pelo Dr. Seuss. Ao longo do filme rolam algumas referências, como um cartaz escrito “Horton” ou um personagem que se chama “Zeus”, mas fala que chamam ele de “Doctor”. Outra coisa legal é ter uma narração em off em rimas, como acontece na história original.

O Malvado: Horror no Natal não é bom. Mas, como falei, pode agradar se você estiver com amigos que entrarem no espírito da galhofa.

Corta!

Crítica – Corta!

Sinopse (Festival do Rio): Em um prédio abandonado, um filme de zumbi de baixo orçamento está ruindo durante as gravações. O diretor abusivo já anda testando os limites do elenco e da equipe com seu comportamento desagradável, quando revela seu plano especial para injetar energia e emoção no projeto: liberar uma maldição zumbi de verdade. Em um frenético plano sequência em que pedaços de corpos e fluidos voam, os atores lutam contra os mortos-vivos e contra o diretor pela sobrevivência — antes que o filme chegue a uma conclusão chocante.

A sinopse deste Corta! (Coupez!, no original) me chamou a atenção. Mas me lembrei de um trash japonês que vi uns anos atrás, One Cut of the Dead, que trazia uma sinopse bem parecida.

E era isso mesmo. Corta! é refilmagem do japonês.

Mas o original era divertido, já faz uns anos que vi, e este novo ainda trazia o oscarizado Michel Hazanavicius (O Artista) na direção. Ok, vale checar a refilmagem.

A boa notícia é que Corta! é divertidissimo. Ok, igualzinho ao original. Não revi o filme japonês, mas tudo que me lembro também está presente aqui. Mas, quantas vezes a gente vê refilmagens e não reclama? Então bora.

O filme é claramente dividido em três partes. Tem uma primeira parte que é muito boa, tem uma segunda parte que é meio fraca e tem uma terceira parte que é a melhor coisa do filme. E como eu já falei em outras ocasiões, quando o filme termina bem, ele ganha pontos, porque a gente sai do cinema feliz.

A primeira parte é o plano sequência em si. É um trecho de pouco mais de meia hora com um plano sequência mostrando um set de filmagens de um filme de zumbis, sendo atacado por zumbis. Segundo o imdb, é um take dividido em dois, e demoraram cinco semanas ensaiando e quatro dias filmando.

A segunda parte mostra os bastidores do projeto, começando um mês antes. Ok, faz parte, pra gente conhecer um pouco mais dos personagens. Mas por outro lado é uma parte meio longa onde nada de legal acontece. Só serve pra gente entender alguns detalhes do que acontece depois, tipo o cara do som ter problemas intestinais, ou um dos atores com problemas com álcool.

A terceira parte é o backstage da filmagem do plano sequência em si. Durante a execução deste plano sequência acontecem algumas falhas meio toscas, e quando revemos a mesma cena sob outro ângulo, vemos o que aconteceu nos bastidores pra justificar essas falhas. Acompanhamos os erros técnicos na produção, e então entendemos todos as tosqueiras que aconteceram. Essa terceira parte é muito bem bolada e muito divertida.

Agora, é divertido, mas sinceramente não entendo um diretor ganhador do Oscar em um projeto desses: uma refilmagem de um trash. Não entendi a proposta do Michel Hazanavicius. Mas, ok, a gente aceita. de repente o cara só queria se divertir com um projeto leve.

O elenco traz alguns nomes conhecidos, como Romain Duris (Os Três Mosqueteiros) , Bérénice Bejo (O Artista)  e Matilda Lutz (Vingança). Todos funcionam, esse é um formato de filme que não pede grandes atuações.

Ah, tem uma cena pós créditos, uma piadinha. Não me lembro se tinha no original japonês.

The Amazing Bulk

Crítica – The Amazing Bulk

Sinopse (imdb): Henry ‘Hank’ Howard trabalha como cientista em um laboratório militar, tentando criar uma fórmula sobre-humana, mas com pouco sucesso. Ele também está apaixonado pela filha de seu chefe, um general. Em um esforço para ganhar sua aprovação para se casar com sua filha, Henry testa a fórmula em si mesmo, inadvertidamente se transformando em um monstro roxo e deixando-o à mercê daqueles que desejam explorar seu poder recém-descoberto.

Lembro de um dia, antes da pandemia, que estava conversando com o Otávio Ugá sobre o quadro “Os peores filmes do mundo” no canal dele. Otávio me falou que queria fazer um vídeo sobre este The Amazing Bulk mas que não encontrava o filme. Na época tentei ajudá-lo, mas não consegui, e acabei me esquecendo da existência deste filme.

Até que vi que o Otávio fez o vídeo dele. Aí lembrei, opa, bora ver – mesmo já sabendo que este é um dos piores filmes jamais feitos!

Existem filmes ruins. Existem filmes muito ruins. E existe uma categoria que transcende qualquer padrão de ruindade possível. Uma categoria onde existem títulos como The Room, Cinderela Baiana, Birdemic, Manos The Hands of Fate – e também este The Amazing Bulk.

O filme dirigido e editado por Lewis Schoenbrun é tão tosco que nem sei por onde começar. The Amazing Bulk foi inteiramente filmado em tela verde num chroma key bem mal recortado. E todos os cenários digitais parecem gráficos de videogame dos anos 90.

Os efeitos do monstro roxo pelado, o tal do Bulk, são primários. Qualquer tutorial de efeitos especiais básicos já deve trazer um resultado melhor. Ok, o filme foi feito dez anos atrás, mas não justifica algo tão desleixado.

As atuações, claro, são péssimas. O vilão é tão caricato que seria recusado em um teatrinho infantil de shopping vagabundo. Mas atuações ruins eram esperadas num projeto desses. E os capangas dele, nem sei o que falar, não tem figurino, não tem sentido no roteiro, não tem sentido em nada no mundo. Agora, pior que atuações ruins, são diálogos captados sem o menor cuidado. Em uma mesma cena, num mesmo diálogo, tem áudios com ecos diferentes.

Claro, ninguém conhecido no elenco. Mas, já comentei sobre a minha memória bizarra para guardar nomes ligados ao cinema… A prostituta que morre no início do filme teve um papel pequeno em Californication. Como me lembro disso? Sei lá…

Outra coisa muito tosca é que temos várias cenas com os atores correndo parados. O pano verde do fundo devia ser muito pequeno, ficou muito ruim. E isso porque não estou falando dos bichos desenhados! Caramba, que ideia péssima!

Roteiro: sim é um roteiro ruim, isso já era previsto. Mas tem coisas que não fazem o menor sentido, como por exemplo a relação entre os personagens principais. Ele quer pedir a mão dela em casamento mas tem problemas com isso – mas eles já tiveram um relacionamento e ela fala em ter filhos com ele! Sério que ninguém leu o roteiro antes de filmar?

Ainda no roteiro: é um filme curto, tem uma hora e quinze minutos. E mesmo assim, tem uma sequência looonga, chatíssima, com efeitos que ficam indo e vindo, o que será que deve ter acontecido ao diretor/editor quando fez aquelas sequências de satélites acoplando e desacoplando?

E já que falei da edição, vou copiar um trecho do imdb sobre os cenários digitais: “O diretor encontrou muitos dos planos de fundo em sites de imagens gratuitas, que estão listados nos créditos do filme. Ele fez o filme em torno do que tinha, o que levou a cenas em adegas e campos habitados por duendes.” Parece que na parte final o diretor/editor deve ter pensado “ei, sobraram umas imagens, mas não se encaixam com nada, mas mesmo assim vamos colocar qualquer coisa!” Tem uma longa corrida do monstro roxo pelado por vários cenários aleatórios. Não que o resto do filme faça sentido, mas esse final é surreal.

Por fim, queria entender o uso de um monte de músicas clássicas na trilha sonora. Será que são grátis? A trilha tem vários clássicos famosos. E se eles não gastaram nos cenários digitais, será que gastaram na trilha, ou será que é tudo piratão?

Dava pra falar mais, mas chega. Preciso de um tempo pra limpar o sistema!