Aquaman 2: O Reino Perdido

Crítica – Aquaman 2: O Reino Perdido

Sinopse (imdb): Arthur precisa contar com a ajuda de seu meio-irmão Orm para proteger Atlantis contra Black Manta, que liberou uma arma devastadora em sua busca obsessiva para vingar a morte de seu pai.

Este Aquaman 2: O Reino Perdido é o décimo quinto filme do DCEU – e também o último. A partir do ano que vem, a DC já avisou que vai recomeçar seu universo expandido.

Se Aquaman 2: O Reino Perdido fosse “apenas mais um filme de super heróis, seria algo mais aceitável. Mas existe todo um legado por trás, e é o filme que vai encerrar um universo cinematográfico, e justamente por isso é complicado de analisar o filme isoladamente.

E qual é o resultado? A gente tem um filme bagunçado nas telas. Não é um filme ruim, mas está bem longe de ser bom. Vamulá.

Mais uma vez dirigido por James Wan (achei um desperdício, este é um “filme de produtor”, Wan, volte pro terror!), Aquaman 2: O Reino Perdido (Aquaman and the Lost Kingdom, no original) tem alguns erros básicos. Um deles é que existe um “reino perdido” no título do filme, mas esse tal reino é quase irrelevante pra trama. A ideia de existir um reino perdido não é ruim, mas se está no título do filme, acredito que deveria ser algo mais presente na trama.

Mas acho que ainda pior é trazer um antagonista que estava no primeiro filme e que tinha uma rivalidade real contra o Aquaman, mas esse cara é “possuído” por um vilãozão meio sobrenatural, e meio que tanto faz as motivações anteriores do personagem. Caramba, se é pra ter alguém possuído, podia ser qualquer um! Jogaram fora as reais motivações do antagonista…

Outra coisa que ficou estranha é a colagem de cenas que parecem extraídas de outros filmes. O antagonista usa um óculos que solta um raio vermelho igual ao Cíclope em X-Men. O vilãozão é quase igual ao Sauron de O Senhor dos Anéis, só que em vez de usar o Um Anel ele usa um tridente. Tem uma cena que é uma mistura de Cantina de Mos Eisley em Guerra nas Estrelas com palácio do Jabba no Retorno do Jedi – incluindo um personagem igual ao Jabba! E por aí vai…

O filme tem muitas piadinhas, mas isso nunca me incomodou. Agora, o que incomoda são sequências inteiras que não fazem o menor sentido, como uma cena numa floresta com insetos gigantes. Gente, se existem animais gigantes na ilha, por que só naquele trecho? Ou uma sequência no meio do deserto, onde falam “está no meio do deserto pro povo da água não ir”, e na cena seguinte a gente vê um polvo rolando na areia. E isso porque não vou falar no assistente do vilão, que literalmente o traiu, mas continua tendo o cargo de maior importância!

Preciso comentar os efeitos especiais das cenas de batalhas sub aquáticas quando vemos os personagens nadando rápido. Ok, funcionam, mas acho que vão perder a validade cedo.

Tem uma coisa que heu não entendi. A gente sabe que a Amber Heard está “cancelada” por causa da polêmica com o Johnny Depp, e disseram que este filme teria a participação dela reduzida. Mas, não só ela está presente em quase todo o filme, como ainda salva o Aquaman em uma ou duas soluções deus ex machina. Ou seja, não só a personagem está presente, como ela é necessária para a sobrevivência do protagonista! Que tipo de cancelamento foi esse?

Aproveito pra falar do elenco. Jason Momoa é um Aquaman ótimo, um cara grande, forte, carismático e que faz piadinhas o tempo todo. Patrick Wilson também está bem como o irmão, e está presente quase todo o filme. Já Yahya Abdul-Mateen II faz o vilão ruim e não está bem. Também no elenco, Nicole Kidman, Dolph Lundgren e Temuera Morrison. Willem Dafoe não pôde participar por conflito de agenda. E Ben Affleck está creditado como Batman, mas não aparece no filme, seja lá qual foi sua participação, foi cortada.

Agora, Aquaman 2: O Reino Perdido é bagunçado mas pelo menos é divertido. Tem cena que beiram a falta de lógica, mas não tem nenhum momento chato. E não canso de repetir: o carisma de Jason Momoa vale o ingresso, ele parece estar se divertindo muito.

(Tem uma coisa que achei curiosa, uma capanga do vilão é vivida pela atriz portuguesa Jani Zhao. Por duas vezes no filme ela grita ordens em português!)

Por fim, a sessão de imprensa foi em 3D. Completamente desnecessário, não tem nenhuma cena que justifique o efeito.

Ah, tem uma cena no meio dos créditos com uma piadinha, e lá no fim não tem nada. Como acabou o DCEU, não tem gancho pra continuação.

Feriado Sangrento

Crítica – Feriado Sangrento

Sinopse (imdb): Depois que um tumulto em uma liquidação acaba em tragédia, um assassino misterioso fantasiado de peregrino aterroriza a cidade de Plymouth em Massachusetts, cidade berço do feriado americano de Ação de Graças.

Antes de falar sobre o filme, aquele comentário que infelizmente tem sido mais recorrente do que deveria ser. A crítica está atrasada porque Feriado Sangrento não teve sessão de imprensa. Cheguei a entrar em contato com a assessoria, disseram que ia ser exibido na CCXP, ou seja, quem não foi pra CCXP não viu antes da estreia…

Enfim, vamos ao filme. Feriado Sangrento, ou Thanksgiving, no original, na verdade era um trailer fake do projeto Grindhouse. Pra quem não se lembra, em 2007 Quentin Tarantino e Robert Rodriguez criaram um projeto que emularia sessões de cinemas vagabundos dos anos 70. Tarantino fez À Prova de Morte; Rodriguez, Planeta Terror, e a ideia era exibir uma sessão dupla com alguns trailers de filmes que não existem.

A ideia não deu certo, quase nenhum cinema exibiu a sessão dupla, e os dois filmes acabaram sendo lançados individualmente. Mas os trailers estão por aí, inclusive o trailer de Thanksgiving está no youtube.

(Outros dois trailers fakes também viraram longas metragens, Machete e Hobo With a Shotgun.)

Anos se passaram, e agora Eli Roth, que tinha feito aquele trailer, agora finalmente apresenta o longa!

Algumas das cenas do trailer estão no longa, mas a proposta é um pouco diferente. No trailer tudo tinha cara de anos 70, e Feriado Sangrento não só se passa nos dias de hoje, como lives de redes sociais são parte intrínseca da trama.

Feriado Sangrento não é um grande filme, é apenas um slasher eficiente. Mas, em tempos de lançamentos ruins no circuito como O Jogo da Invocação e A Maldição do Queen Mary, ser “apenas um slasher eficiente” num cenário desses é uma boa notícia. Temos boas mortes, um clima tenso até o fim do filme, e um whodunit que funciona.

Talvez Eli Roth seja mais conhecido por ter sido um dos atores principais de Bastardos Inglórios, mas a gente não pode esquecer que um dos seus primeiros filmes como diretor foi O Albergue. Ou seja, o cara manja dos paranauês de filmar um bom gore. E isso tem aqui em uma quantidade razoável: são algumas mortes bem criativas – apesar de algumas delas estarem no trailer fake.

E preciso falar do whodunit. Assim como Pânico, este é um slasher com whodunit – a gente tem alguns personagens suspeitos, precisamos descobrir qual deles é o assassino e qual foi o motivo. E, admito: não pesquei quem era.

No elenco, pouca gente conhecida. Patrick Dempsey tem um papel importante, mas secundário; Gina Gershon faz quase uma ponta. A final girl da vez é Nell Verlaque, não conhecia, ela funciona pro que o filme pede.

Como falei antes, Feriado Sangrento não é um grande filme, mas é bem feito, divertido, e serve ao seu propósito: um bom slasher que vai agradar o público que for ao cinema.

Agora, dos cinco trailers fakes do Grindhouse, faltam dois. Será que veremos os longas Don’t, do Edgar Wright, ou Werewolf Women of the S.S., do Rob Zombie?

O Mundo Depois de Nós

Crítica – O Mundo Depois de Nós

Sinopse (imdb): As férias de uma família numa casa luxuosa sofrem uma reviravolta quando um ciberataque afeta todos os dispositivos e duas pessoas estranhas batem à porta.

Filme novo da Netflix, todo mundo está vendo e comentando, fiquei curioso quando vi que alguns canais de cinema que acompanho falavam do final, fui ver o filme pra saber por que o final está envolto em polêmicas.

Simples: PORQUE O FILME NÃO TEM FINAL! Simplesmente sobem os créditos e acabou.

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O pior é que heu estava gostando muito do filme. Mas um “final” desses me tirou do sério. Então, vou comentar o filme, depois comento sobre o encerramento.

Escrito e dirigido por Sam Esmail, adaptação do livro homônimo escrito por Rumaan Alan (que também colaborou no roteiro), O Mundo Depois de Nós (Leave the World Behind, no original) mostra uma família que tirou uns dias de férias em uma casa alugada, quando algo acontece no mundo e eles ficam isolados. Os supostos reais donos da casa aparecem e isso só serve pra aumentar a desconfiança geral sobre o que está acontecendo.

O ritmo do filme é muito bom. O espectador é envolvido num clima crescente de tensão, não sabemos o que está acontecendo. A trama te prende, é daquele tipo de filme que é difícil pausar, são pouco mais de duas horas que passam rapidinho.

Gostei muito da câmera do Sam Esmail – sei que ele é um dos nomes por trás da série Mr Robot, mas nunca vi a série, nunca tinha visto nada dele. Em vários momentos a câmera sai do eixo, roda, sobe, mostra muitos ângulos fora do convencional. Um exemplo: tem uma cena numa cabana onde a câmera roda, sobe e sai por uma fresta no telhado, pra mostrar o que está acontecendo fora da cabana.

Algumas sequências são muito bem filmadas, como a sequência do Tesla. Ok, provavelmente é um plano sequência fake, cheio de cgi, mas mesmo assim ficou bem legal.

Ah, e pra quem gosta de mensagens subliminares, reparem que o quadro abstrato na sala muda ao longo do filme. O mesmo acontece com a pintura atrás da cama de casal. E tem uma cena onde tem um quadro atrás da Julia Roberts mostrando uma imagem parecida com o que o Ethan Hawke tinha passado há pouco.

O elenco também manda bem. Julia Roberts, Mahershala Ali e Ethan Hawke estão muito bem nos seus papeis, assim como os outros três mais novos e mais desconhecidos, Charlie Evans, Farrah Mackenzie e Myha’la. E já tinha visto dezenas de filmes com Ethan Hawke e com Kevin Bacon e nunca tinha reparado como são parecidos!

Dá pra ver que heu estava gostando, né? Pois bem, hora de falar do “não final”.

Não tenho problemas com filmes com finais abertos. Usando como exemplo aquele que todos se lembram, Inception, no fim o pião está rodando, e a gente não sabe se aquilo é real ou sonho. A mesma coisa com O Vingador do Futuro do Verhoeven, ao fim do filme a gente não sabe se aquilo aconteceu ou se foi uma memória implantada. A gente nunca soube o que tinha na mala do Marsellus Wallace em Pulp Fiction. E a lista é infinita. O espectador não precisa de tudo mastigado.

Agora, se um filme se propõe a contar uma história, é bom que tenha algum tipo de conclusão. Reclamei aqui no heuvi este ano de dois filmes que terminaram abruptamente para serem concluídos em continuações, Aranhaverso 2 e Velozes e Furiosos 10. Se é pra deixar gancho, tem que fazer como Missão Impossível 7, que fecha a missão que o personagem está fazendo, e deixa pontas soltas a serem resolvidas na continuação. O modo usado em Aranhaverso 2 e Velozes e Furiosos 10 foi péssimo, a narrativa foi muito mal construída.

Mas nada não é tão ruim que não possa piorar. O Mundo Depois de Nós consegue ser ainda mais tosco, porque interrompe o filme do nada. E não li nada sobre uma continuação pra fechar a história. Me parece que os realizadores quiseram trollar o público. “Sabe a personagem frustrada porque não viu o final de Friends? Poizé, agora o espectador vai ficar igualmente frustrado por não ver o final do filme!”

Pena. Heu estava realmente gostando do filme. Mas esse “não final” foi uma ducha de água fria.

O Malvado: Horror no Natal

Crítica – O Malvado: Horror no Natal

Sinopse (imdb): Em uma pacata cidade montanhosa, Cindy tem seus pais assassinados e seu Natal roubado por uma figura verde sedenta de sangue em um traje de Papai Noel. Mas quando a criatura começa a aterrorizar a cidade, Cindy procura matar o monstro.

E se o Grinch fosse uma história de terror?

Dirigido pelo desconhecido Steven LaMorte, O Malvado: Horror no Natal (The Mean One, no original) tem um pé fortemente fincado no trash. Muita coisa não tem muita lógica – como por exemplo a cidade passar 20 anos sem nenhuma visita de forasteiros com espírito natalino. Mas, no clima certo, o espectador pode se divertir.

A proposta aqui é: num flashback, Cindy, a menina da história original, encontra e abraça o Grinch. Sua mãe, assustada, o ataca, mas acaba tropeçando e morrendo na queda. Cindy fica traumatizada e se muda da cidade. Anos depois ela volta decidida e dar um encerramento para essa história e seguir em frente, mas acaba reencontrando o monstro. E, claro, ninguém na cidade dá ouvidos a ela.

Falei que tem um pé no trash porque todo o clima do filme é na galhofa. Nenhuma aparição do Grinch vai causar medo, e as mortes geram mais gargalhadas do que repulsa. É terror, mas vai gerar mais risadas do que assustar.

O Malvado: Horror no Natal mostra muitas mortes, e a maior parte usa efeitos de maquiagem e props. Mas, em pelo menos três momentos, temos sangue em cgi (duas vezes por causa de tiros, uma vez quando uma pessoa é triturada num moedor de carne). Ficou muito claro que um efeito prático tosco funciona muito melhor que um cgi tosco! Ainda nesse assunto, a maquiagem do Grinch é bem feita.

Pra quem não sabe, o Grinch é um personagem criado pelo Dr. Seuss. Ao longo do filme rolam algumas referências, como um cartaz escrito “Horton” ou um personagem que se chama “Zeus”, mas fala que chamam ele de “Doctor”. Outra coisa legal é ter uma narração em off em rimas, como acontece na história original.

O Malvado: Horror no Natal não é bom. Mas, como falei, pode agradar se você estiver com amigos que entrarem no espírito da galhofa.

O Silêncio da Vingança

Crítica – O Silêncio da Vingança

Sinopse (imdb): Um pai enlutado realiza sua tão esperada vingança contra uma gangue implacável na véspera de Natal.

Filme novo do John Woo!

Lembro de quando estava procurando possíveis títulos para a minha lista de expectativas não óbvias pra 2023, mencionei este O Silêncio da Vingança (Silent Night, no original) mesmo sem ter a certeza se ele ia estrear. Foi uma boa surpresa ver que entrou em cartaz no circuito (apesar da outra surpresa, negativa, de não ter tido sessão de imprensa).

A proposta era ousada: um longa metragem de ação sem diálogos. Não é um filme mudo, tem efeitos sonoros, trilha sonora, uma frase dita aqui e outra ali, mas, zero diálogos.

A princípio a gente acha que vai ser o formato clichê de sempre: o cara sofre uma perda, passa por uma fase de treinamento e vai enfrentar os adversários. Mas o roteiro espertamente coloca falhas no plano do protagonista. Ele treinou meses para o confronto, mas está enfrentando oponentes que estão nessa vida há muito mais tempo. Ou seja, nem tudo funciona e ele descobre que é bem mais difícil do que esperava. Prefiro assim do que filmes onde o protagonista quase ganha super poderes.

A proposta de não ter diálogos trouxe um problema: algumas partes ficaram meio lentas. A parte do meio, quando acontece o treinamento, é arrastada e dura tempo demais. Por outro lado, as cenas de ação são excelentes. Woo ainda manja dos paranauês quando o assunto é filmar cenas de ação. Tiroteios, perseguições de carro, uso de armas brancas, o repertório é farto.

(Aliás, tem uma cena numa escada, “plano sequência fake”, que fiquei imaginando onde estava o cameraman.)

Tem uma característica que talvez incomode parte do público. O protagonista carrega uma caixinha de música que toca sempre a mesma melodia, e isso acontece em todas as cenas onde ele se lembra do filho. Isso acontece muitas vezes! Mas, se a gente analisar a carreira do diretor, vai lembrar que acontece algo semelhante em Bala na Cabeça – uma melodia insistente que permeia todo o filme. Ou seja, goste ou não, é coerente com o diretor.

Aliás, falando nas características de Woo, reclamação por um head canon meu: em um momento cabia a clássica cena dos dois oponentes um com a arma no pescoço do outro. Além disso, não tem pombas voando em câmera lenta! Woo, é você mesmo?

Um filme nesse formato precisa de um ator inspirado pra funcionar, e Joel Kinnaman (Robocop, Esquadrão Suicida) não decepciona nessa tarefa. Que bom que ele tem muito mais tempo de tela do que qualquer outro personagem, porque o vilãozão malvadão é caricato ao extremo.

Por fim, um comentário aleatório: em inglês, faz sentido ser um “filme de natal” pelo trocadilho com “Silent Night”. Em português o trocadilho se perdeu. E pro filme, tanto faz ser no Natal ou em qualquer outra época do ano.

Tiozões

Crítica – Tiozões

Sinopse (imdb): Um pai ranzinza de meia-idade e seus dois melhores amigos se sentem ultrapassados em um mundo repleto de CEOs bem mais jovens e diretoras de escola poderosas.

Vamos de comédia politicamente incorreta?

Tiozões tem uma polêmica extra filme em volta. Vou comentar isso, mas antes vamos falar do filme.

Tiozões (Old Dads, no original) foi escrito, dirigido e estrelado por Bill Burr, comediante famoso por fazer stand ups politicamente incorretos, mas que heu não conhecia ainda. Em sua estreia na direção, ele traz uma comédia que até tem suas falhas, mas que tem êxito na proposta básica de “ser uma comédia engraçada”. Porque em tempos de comédias bobas como Mafia Mamma e Meu Pai É Um Perigo, ser engraçado é um mérito!

Mas, tecnicamente falando, o filme tem suas falhas. Provavelmente Bill Burr pegou piadas de stand up e trouxe para o roteiro, mas são formatos diferentes, e existe um problema de ritmo, às vezes algumas cenas parecem deslocadas.

Os personagens são caricatos, mas acho que essa a proposta. Mesmo assim, muitas vezes ficou forçado. O personagem do Bobby Cannavale está completamente fora do tom, e a diretora da escola, Rachael Harris, parece vilã de desenho animado vagabundo dos anos 80. Acredito que a proposta deste tipo de filme não tem muito espaço para grandes atuações, mas, podia ser menos ruim.

No elenco, o trio principal é formado por Bill Burr, Bobby Cannavale e Bokeem Woodbine – só lembro de outros filmes do Bobby Cannavale, como Homem Formiga, Jolt e Blue Jasmine. Tem dois nomes “médios” em papéis secundários: C. Thomas Howell (ET, Vidas sem Rumo, A Morte Pede Carona) faz o ermitão; Bruce Dern (pai da Laura Dern, e que estava em Oito Odiados e mais dezenas de filmes desde o início dos anos 60) faz o motorista de taxi. Também no elenco, Katie Aselton, Rachael Harris, Jackie Tohn, Reign Edwards e Miles Robbins.

Sobre o humor: algumas piadas são muito boas, como uma que está até no trailer, onde um cara reclama que “dois homens brancos estão dominando a discussão”, mas quem está reclamando também é um homem branco! Ou outra piada satirizando uma mãe que não educa o seu filho da maneira correta. São várias piadas com exageros do comportamento atual de certa parte da sociedade. Ok, algumas são bobas (tipo um cara ser demitido porque canta um rap racista quando está sozinho em casa), mas outras são muito boas.

(Essa galera que foi criticada no filme aparentemente não gosta de críticas, e por isso o filme está sendo banido de certos grupos sociais, mas no estilo de “não vi e não gostei”…)

Agora vou dar a minha opinião, mesmo sabendo que talvez heu perca leitores com isso. Já comentei outras vezes, nossa sociedade tem evoluído nas últimas décadas. Ainda existe desequilíbrio, mas hoje o machismo é menor, e racismo e homofobia são crimes. Acredito em um futuro onde todos seremos iguais, todos teremos as mesmas chances e os mesmos direitos e deveres. Dito isso, acho que vivemos numa época onde os militantes são muito chatos. Alguns assuntos que deveriam ser discutidos são deixados de lado porque os militantes monopolizam o tema. Aceito pessoas que pensam diferente de mim e querem me mostrar outros ângulos de assuntos onde discordamos, mas não aceito militantes que só querem ser chatos e querem disseminar a infelicidade dentre aqueles que pensam diferente deles.

Vendo sob esse ângulo, é legal vermos uma comédia que cutuca certos assuntos “proibidos” – lembrando que a maior parte das piadas do filme satiriza os progressistas, mas também sobram piadas pros conservadores. Neste aspecto, fico feliz que Tiozões teve um grande alcance de público, e torço pra que abra espaço pra outras comédias com temas delicados. Porque pra mim, o limite do humor é ele ser engraçado. Se uma piada ofensiva for engraçada, heu apoio!

Wonka

Crítica – Wonka

Sinopse (imdb): Um jovem Willy Wonka cheio de ideias está determinado a mudar o mundo a cada deliciosa mordida de seu chocolate, uma atrás da outra, provando que as melhores coisas da vida sempre começam com um sonho.

Hollywood gosta de se repetir, então um novo Fantástica Fábrica de Chocolates era algo até previsível.

Mas antes, um breve recap. O primeiro é de 1971, dirigido por Mel Stuart e eternizado por Gene Wilder no papel principal. A minha geração conhece bem, vi e revi diversas vezes – e, curiosamente, quando era criança não reparava na psicopatia do Willy Wonka, hoje vejo como o personagem era bem desequilibrado. Em 2005 veio a refilmagem / releitura do Tim Burton, estrelada por Johnny Depp, que trazia outra abordagem para o Willy Wonka, diferente, mas também desequilibrado.

Dirigido por Paul King, Wonka (idem, no original) não é uma refilmagem. É uma história que se passa antes, conhecemos o Willy Wonka ainda jovem, ele ainda não tem a fábrica. Isso é uma boa notícia, porque enfraquece a inevitável comparação que o filme de 2005 sofreu. Podemos comparar os Willys, mas não os filmes. Além disso, não precisa (re)ver os filmes antigos.

Wonka tem seus problemas, mas é um bom “filme família para o fim de ano”. Famílias podem tranquilamente ir ao cinema, é um filme alegre e colorido, vai agradar a maioria.

Nos últimos anos a gente se acostumou com histórias mais “pé no chão”. Wonka é o oposto desta tendência: é uma história mágica, de fantasia, não dá pra entrar no cinema querendo ver coisas reais. E todo o visual do filme ajudam nesse clima lúdico: cenários, props, figurinos…

É um filme musical, o que sei que vai repelir parte do público. Mas, caramba, os outros também tinham números musicais! Tenho dois comentários sobre essa parte musical. O primeiro é que não tem nenhuma musica marcante, lembro de outros musicais recentes como La La Land, O Rei do Show ou Tick Tick Boom, onde terminei o filme empolgado com as músicas, e aqui não tem nenhuma causando este efeito (a não ser as músicas “velhas”).

O outro comentário é justamente sobre essas músicas velhas. Lembro que fiquei frustrado com a versão de 2005 quando não teve a clássica música do Oompa Loompa. Aqui tem, e também tem a igualmente clássica Pure Imagination. As músicas compostas para o filme não empolgam, mas essas duas trazem um “quentinho no coração”.

Outro problema é sobre o tema central do filme: chocolate. Os chocolates criados pelo Willy Wonka não parecem chocolates, parecem aqueles doces de açúcar colorido que enfeitam mesas de festas – e não parecem ser gostosos. Ou seja, o espectador não vai sair do cinema com vontade de comer chocolate.

Sobre o elenco: Timothée Chalamet é um bom ator, tem star power, vai trazer público, mas, head canon meu, queria ver um Willy Wonka mais psicopata. Ele é muito bonzinho, e até agora só tivemos Wonkas desequilibrados. Por outro lado, adorei o Oompa Loompa do Hugh Grant, ele ficou perfeito como o pequenininho mal humorado (apesar de saber que ele deu entrevistas falando mal do papel). Também queria citar, dentre os personagens secundários, a dupla Olivia Colman e Matt Lucas, que estão ótimos e têm uma química muito boa. Também no elenco, Sally Hawkins, Paterson Joseph, Keegan-Michael Key e Rowan Atkinson.

Apesar dos problemas, acho que Wonka vai agradar.

Godzilla Minus One

Crítica – Godzilla Minus One

Sinopse (imdb): Em um Japão social e economicamente devastado após o término da Segunda Guerra Mundial, a situação chega a um nível ainda mais crítico quando uma gigantesca e misteriosa criatura surge do mar para assolar o país.

Heu preciso confessar que eu não sou muito fã de “filme de monstro gigante”. Vejo porque gosto de filmes de ação e de blockbusters. Mas nem sabia que ia ter um filme novo do Godzilla. Só depois é que fui descobrir que essa é uma versão japonesa. E posso dizer que gostei bastante do resultado final, gostei mais deste Godzilla Minus One do que dos últimos hollywoodianos do “monsterverse”, lançados em 2014 (Godzilla), 2019 (Godzilla Rei dos Monstros) e 2021 (Godzilla vs Kong).

Fui catar na internet, segundo a wikipedia já são 40 títulos desde 1954. Segundo o que me disseram, este Godzilla Minus One seria para comemorar os 70 anos do Godzilla, mas como ano que vem tem filme novo do “monsterverse”, lançaram este em 2023 pra não confundir.

Diferente dos últimos filmes do Godzilla, esse se passa no Japão, logo depois da Segunda Guerra Mundial. Boa sacada, o país acabara de sair arrasado de uma guerra. Aliás, o nome do filme é relativo a isso: com a devastação causada pela guerra, o Japão foi reduzido a zero. Um monstro gigante reduziria ainda mais, por isso virou “menos um”.

Ainda aproveitando a ambientação da Segunda Guerra Mundial, o filme traz um piloto kamikaze como protagonista. Ele não era para estar lá, era para ter morrido durante a guerra, mas ele teve questionamentos e carrega esses questionamentos ao longo do filme inteiro. Foi uma ideia legal, não costumamos ver esse tipo de personagem sob este ângulo.

A direção é de Takashi Yamazaki, não vi nenhum outro filme dele. Mas achei curioso o nome bem parecido com a brasileira Tizuka Yamasaki, que fez alguns títulos “sérios” nos anos 80, como Gaijin Os Caminhos da Liberdade (1980) ou Parahyba Mulher Macho (1983) e depois fez vários filmes com a Xuxa. Cheguei a achar que podiam ser parentes, mas vi que a grafia é diferente, não devem ser parentes.

É uma produção japonesa, até onde entendi não tem a grana de um grande estúdio hollywoodiano. Não sei qual foi o orçamento, tampouco sei quais são os recursos que o estúdio japonês tem. Mas preciso dizer que existe uma cena de destruição de cidade aqui que é sensacional, é uma das melhores cenas de destruição de cidade que heu já vi no cinema! Essa cena da destruição da cidade só tem um problema: o ponto alto do filme acontece na primeira metade. Claro que existe uma batalha final, que é até boa, mas inferior à sequência da destruição.

Aliás é bom dizer que os efeitos do monstro são excelentes. É cgi, mas foi feito pra parecer uma pessoa dentro de uma fantasia, como os Godzillas clássicos. E o bichão é assustador!

Nem tudo funciona. Achei os momentos dramáticos um pouco acima do tom. O cinema oriental tem essa característica de ter atuações muito exageradas, isso acontece aqui, e, na minha humilde opinião o filme dedica tempo demais aos momentos dramáticos.

Felizmente isso não atrapalha o bom resultado final. Godzilla Minus One é um filme empolgante, e a plateia não vai sair decepcionada das salas de cinema. E a boa trilha sonora que lembra batalhas épicas vai ajudar na empolgação da plateia.

Não tem exatamente uma cena pós créditos, mas vale ficar até o final, fica a dica!

A Queda da Casa de Usher

Crítica – A Queda da Casa de Usher

Sinopse (Netflix): Para proteger a fortuna e o futuro, um casal de irmãos constrói uma dinastia familiar que começa a ruir quando cada um dos herdeiros morre misteriosamente.

E vamos para a quinta minissérie de terror do Mike Flanagan!

Já comentei em outros posts, heu sempre curti o trabalho do Mike Flanagan (desde Absentia, seu primeiro filme!), mas ele no cinema não era um cara do “primeiro time”. Cheguei a falar que era um aluno que sempre tirava 7 ou 8, mas nunca tirava 10. Gosto de Jogo Perigoso, O Espelho e Hush A Morte Ouve, mas reconheço que não são grandes filmes.

Mas aí o cara começou a fazer séries, e, pelo menos na minha humilde opinião, leva 10 em duas delas: A Maldição da Resistência Hill e Missa da Meia Noite (Mansão Bly e Clube da Meia Noite são boas, mas estão um degrau abaixo).

Agora temos sua quinta série, A Queda da Casa de Usher, baseada em Edgar Allan Poe, onde ele volta a qualidade das suas duas melhores séries!

Existe um conto “A Queda da Casa de Usher”, mas a série não se baseia apenas no conto. Várias outras histórias de Poe são jogadas no liquidificador e aparecem aqui, seja na trama ou nos nomes dos personagens. Infelizmente, não sou um grande entendedor da obra de Edgar Allan Poe, então não vou poder citar aqui as várias referências.

O que posso dizer é que Flanagan consegue contar uma história assustadora e envolvente, em diferentes linhas temporais. Enquanto a trama no passado mostra Roderick e Madeline Usher ainda jovens e sem grana, a trama nos dias atuais se divide pra mostrar cada um dos filhos do agora milionário Roderick, como cada um vive, e como cada um morre.

Um parágrafo para falar sobre jump scares. Flanagan tem alguns dos melhores jump scares do audiovisual recente (Clube da Meia Noite chegou a bater o recorde de maior número de jump scares em um episódio). Aqui tem alguns muito bem sacados, principalmente nas longas conversas entre Roderick e Dupin.

Preciso falar do elenco! Mike Flanagan é um grande diretor de atores, seu elenco sempre está muito bem, e isso também acontece aqui. E tem uma característica curios: Flanagan costuma repetir vários atores que já trabalharam com ele. Catei pela internet quantos filmes ou séries cada um já tinha feito com o diretor: Kate Siegel, 7 (O Espelho, Hush, Ouija A Origem do Mal, Jogo Perigoso, Maldição da Residência Hill, Maldição da Mansão Bly, Missa da Meia Noite); Henry Thomas, 7 (Ouija, Jogo Perigoso, Residência Hill, Doutor Sono, Mansão Bly, Missa da Meia Noite, Clube da Meia Noite); Carla Gugino, 5 (Jogo Perigoso, Residência Hill, Mansão Bly, Missa da Meia Noite, Clube da Meia Noite); Katie Parker, 5 (Absentia, Residência Hill, Doutor Sono, Mansão Bly, Clube da Meia Noite); Samantha Sloyan, 4 (Hush, Residência Hill, Mansão Bly, Missa da Meia Noite), Michael Trucco, 3 (Hush, Missa da Meia Noite, Clube da Meia Noite); Rahul Kohli, 3 (Mansão Bly, Missa da Meia Noite, Clube da Meia Noite); Alex Essoe, 4 (Doutor Sono, Mansão Bly, Missa da Meia Noite, Clube da Meia Noite); Bruce Greenwood, 2 (Jogo Perigoso, Doutor Sono); Zach Gilford, 2 (Missa da Meia Noite, Clube da Meia Noite); Lulu Wilson, 2 (Ouija, Residência Hill); T’Nia Miller, 1 (Mansão Bly); Annabeth Gish, 3 (O Sono da Morte, Residência Hill, Missa da Meia Noite); Robert Longstreet, 4 (Residência Hill, Doutor Sono, Missa da Meia Noite, Clube da Meia Noite); Kyliegh Curran, 1 (Doutor Sono); Matt Biedel, 2 (Missa da Meia Noite, Clube da Meia Noite); Carl Lumbly, 1 (Doutor Sono); Ruth Codd (Clube da Meia Noite); Crystal Balint, 2 (Missa da Meia Noite, Clube da Meia Noite); Sauriyan Sapkota, 1 (Clube da Meia Noite); Igby Rigney, 2 (Missa da Meia Noite, Clube da Meia Noite); Aya Furukawa, 1 (Clube da Meia Noite). De novidade no “flanaganverso” temos Mark Hamill, Mary McDonnell e Willa Fitzgerald. Detalhe: Mark Hamill está no próximo projeto de Flanagan, The Life of Chuck, ao lado de pelo menos outros nove nomes que já trabalharam com o diretor.

Queria fazer um comentário sobre o final. Seguem avisos de spoilers.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

Achei genial a atualização da maldição “vender a alma ao diabo”, não sei se isso estava no conto original de Poe ou se é criação da série. Mas, é muito mais cruel você negociar com o diabo e ele cobrar seus filhos e netos em vez da sua alma. É algo muito mais real, muito mais palpável.

FIM DOS SPOILERS!

São 8 episódios de uma hora cada, heu poderia ficar aqui falando mais um monte de coisas. Em vez disso, recomendo: veja A Queda da Casa de Usher, e depois, se tiver tempo, (re)veja A Maldição da Resistência Hill e Missa da Meia Noite!

Isolamento Mortal / Sick

Crítica – Isolamento Mortal / Sick

Sinopse (imdb): Durante o mês de abril de 2020, no meio da pandemia da COVID, Parker e sua melhor amiga decidem colocar-se em quarentena na casa do lago da família, onde ficarão isoladas do mundo – ou pelo menos é o que elas pensam.

Dois dias atrás falei aqui sobre O Jogo da Invocação, filme bem ruim, mas com distribuição no circuitão. Hoje vou comentar sobre Isolamento Mortal (Sick, no original), filme do ano passado, que não passou nos cinemas e foi mal lançado no streaming.

Isolamento Mortal não é um grande filme. Na verdade, é apenas um slasher simples. Mas, é curto, bem filmado, tem um bom ritmo, e um roteiro com algumas boas sacadas. Ou seja, é aquele feijão com arroz gostoso que vai agradar a qualquer fã de terror.

O diretor John Hyams é desconhecido, mas todo fã de terror vai se lembrar do nome do roteirista Kevin Williamson, o mesmo de Pânico, Prova Final e Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado. Isolamento Mortal traz algumas semelhanças com Pânico, a começar pela cena inicial: uma sequência com um personagem isolado do resto do filme, sequência que a princípio poderia ser extraída do filme, mas que serve para mostrar qual é o modus operandi deste novo vilão slasher.

Não conhecia o diretor John Hyams, não vi nenhum outro filme dele – mas reconheci o sobrenome, ele é filho de Peter Hyams (2010, Timecop, Outland Comando Titanio). Preciso dizer que gostei de como John conduz o filme. Logo na sequência inicial, vemos um plano sequência muito bem construído. Ok, entendo que aquele tipo de plano sequência cheio de emendas, mas de qualquer maneira, heu valorizo mesmo quando é “plano sequência fake”. Outra boa sacada do diretor foi colocar o vilão slasher em várias sequências lá no fundo da tela. O espectador vê, mas os personagens não. Isso ajuda a criar um clima tenso.

Assim como acontece nos filmes da franquia Pânico, aqui também rolam muitas referências, como ter personagens Jason e Pamela, referências a Sexta-Feira 13. E, além de filmes de terror, aqui também tem várias referências à Covid-19. Foi uma boa sacada do roteiro.

Isolamento Mortal foi lançado no ano passado, em 2022, na plataforma Peacock, streaming que não existe aqui no Brasil. Hoje está disponível em alguns streamings por aqui, mas precisa procurar. E dá raiva de saber que você precisa cavar os streamings pra ver Isolamento Mortal, enquanto O Jogo da Invocação está nas salas de cinema…