Gran Turismo – De Jogador a Corredor

Crítica – Gran Turismo – De Jogador a Corredor

Sinopse (imdb): A história real da realização de um sonho de um jogador de Gran Turismo, cujas habilidades no jogo o levaram a vencer uma série de competições da Nissan e a se tornar um piloto profissional de corrida. Baseado em uma história real.

Desconfio que a maior parte do público alvo deste Gran Turismo – De Jogador a Corredor (Gran Turismo, no original) vai ao cinema por causa do videogame. A minha motivação era outra: é o novo filme de Neill Blomkamp. O que diabos o Blomkamp está fazendo em um filme de corridas de carro?

Sou fã do Neill Blomkamp desde Distrito 9 (seu filme de estreia, e também seu melhor filme até hoje). Mas, ok, concordo que a carreira dele é bastante irregular. Depois de Distrito 9, de 2009, ele fez Elysium (2013) e Chappie (2015), e depois sumiu. Segundo o imdb, entre 2016 e 2020 ele só fez curtas – vários deles estão na coletânea Oats Studios. Aí em 2021 ele lançou Demonic, que foi muito abaixo de tudo o que ele já tinha feito até então, mas pelo menos ele se mantinha dentro do cinema fantástico. Será que Blomkamp funcionaria dentro de um esquema de superprodução blockbuster completamente fora do fantástico?

Olha, podemos dizer que sim.

Gran Turismo é cheio de clichês e extremamente previsível. A gente sabe que o cara vai ganhar, se ele perdesse não teria filme. Mais: é um desfile de product placement. Mas, quando a gente vê que um filme assim vai ser lançado, a gente já sabe que o formato vai ser assim. O importante é: dentro dos clichês e da previsibilidade, Blomkamp fez um filme tecnicamente muito eficiente. E posso dizer que as corridas são emocionantes.

Heu não conhecia a história do Jann Mardenborough, que era um jogador de videogame que passou por uma academia e virou piloto profissional. É uma história muito boa, e a produção teve a inteligente escolha de adaptar essa história para o cinema, em vez de criar uma história fictícia baseada no videogame.

As cenas de corrida são muito bem filmadas, com drones passeando por cima da plateia e por entre os carros. Vemos tudo com muita precisão, e com um detalhe curioso que ajuda o espectador a se situar: o carro do Jann sempre tem um número em cima, como se fosse um videogame (os outros carros não têm números porque ninguém se importa com os outros). Ah, o verdadeiro Jann Mardenborough foi dublê de piloto.

Tem uma cena bem legal onde os efeitos especiais mostram a transição da corrida real para o videogame – vemos um carro sendo desmontado peça a peça, ficando só o console do jogo. Provavelmente tem muito cgi, mas é um cgi bem feito e o espectador nem consegue identificar.

Nem tudo funciona dentro dos clichês. Existe uma equipe que foi escolhida para ser antagonista, e o piloto é péssimo! A subtrama da namorada dele também não leva a nada. E as cenas com o criador do videogame poderiam facilmente ser cortadas do filme.

Para plateia brasuca: os brasileiros: nenhum dos personagens principais é brasileiro, mas vemos um poster do Senna no quarto do Jann, e bandeiras brasileiras ao longo do filme. A produção entende que o Brasil tem sua relevância no mundo das corridas de carro.

Sobre o elenco, Archie Madekwe funciona no papel principal, mas é um ator pouco expressivo – fui ver no imdb, já tinha visto vários outros filmes com ele e nunca tinha reparado no ator (Midsommar, Beau Tem Medo, Agente Stone). David Harbour está muito bem (e de vez em quando ele coloca o protetor de ouvidos na testa e lembra o Hellboy). Também no elenco, Orlando Bloom, Djimon Hounsou, Thomas Kretschmann e Geri Halliwell – e preciso admitir que não reconheci a Ginger Spice como mãe do protagonista!

Agente Stone

Crítica – Agente Stone

Sinopse (Netflix): Uma agente especial de uma organização que busca manter a paz no mundo faz de tudo para impedir que uma hacker roube um bem valioso e extremamente perigoso.

E a Netflix continua com a tradição de filmes de ação meia boca. Às vezes a gente consegue alguns bons momentos, como no recente Resgate 2, um filme genérico mas com um plano sequência sensacional. Mas na maioria das vezes o resultado é fraco, que nem a última tentativa de parceria entre Gal Gadot e Netflix, Alerta Vermelho. E que nem este Agente Stone (Heart of Stone, no original).

Agente Stone chegou como promessa de uma nova franquia, seguindo o estilo de Missão Impossível. Mas, precisava copiar a premissa do último Missão Impossível? Ambos os filmes falam sobre uma inteligência artificial capaz de prever o futuro baseada em probabilidades. Lembrei da piada “copia mas não faz igual”.

Um dos roteiristas é Greg Rucka, que também escreveu o bom The Old Guard. Mas aqui ele não foi bem sucedido, o roteiro de Agente Stone é bem fuen. Algumas coisas que são tão tatibitati que dão nervoso. Um exemplo: os personagens falam da Carta, uma agência super secreta que eles nem sabem se existe na realidade ou se é uma lenda urbana. E a chave pra entrar no prédio dessa agência é uma carta de baralho! Gente, isso é um filme pra adultos ou um episódio de Backyardigans?

Tenho reclamações em dois níveis sobre os personagens, um nível básico e um mais avançado. O básico é que os diálogos são muito ruins. São três personagens centrais (estão no poster!): a Gal Gadot é a mocinha, linda, habilidosa, perfeita. Aí tem um vilãozão malvadão e outro personagem que está no meio do caminho – começa do mal mas tem a redenção e vira do bem. Não sei se isso é exatamente um spoiler, porque isso é algo extremamente previsível. Mas, ok, até aí tudo bem, podemos ter filmes razoáveis baseados em clichês. O que não gosto é de diálogos ruins, tipo o vilãozão malvadão mandar a ordem “matem todos!”, e a personagem da redenção ficar numa de “você não disse que era pra matar inocentes!”. Voltamos ao padrão Backyardigans.

Tem outra crítica aos personagens, aqui um pouco mais complexa. O vilãozão malvadão é um personagem péssimo. A gente não sabe quais são as suas motivações, a gente não sabe como ele banca aquela organização. Mas o que mais me incomodou foi que ele liderava uma mega organização, e ao mesmo tempo era agente infiltrado em outra organização.

Sobre o elenco, comentei outro dia sobre estrelas que têm talento e estrelas que têm carisma. Algumas têm ambos, mas muitas estrelas se baseiam só no talento ou só no carisma. Aqui fica muito claro, Gal Gadot tem muito carisma, é agradável vê-la em tela. Mas ela não é uma boa atriz, ela passa o filme inteiro com a mesma cara de super modelo que saiu da passarela e caiu sem querer num set de filmagem. Ok, funciona para o que o filme pede, mas, lembrando do início do texto, quando falei de The Old Guard, a Charlize Theron tem carisma e também talento. Charlize se entrega aos seus papéis de uma forma muito mais intensa que Gal.

Outro comentário sobre o elenco: pra que chamar uma atriz do porte da Glenn Close só pra aquilo? Ainda no elenco, Jamie Dornan, Alia Bhatt e Matthias Schweighöfer.

Gal Gadot precisa repensar suas parcerias com a Netflix. Alerta Vermelho foi fraco; Agente Stone foi pior ainda. Será que acertam na próxima?

 

Besouro Azul

Crítica – Besouro Azul

Sinopse (imdb): Jaime Reyes, um adolescente de origem mexicana, encontra um artefato alienígena que lhe dá um exoesqueleto mecanizado e poderes, tornando-o no Besouro Azul.

A gente sabe que a DC não é organizada no cinema, e a gente sabe que o James Gunn saiu da Marvel e foi pra DC pra organizar o DCEU (o universo cinematográfico da DC). Então a gente não sabe o que vai continuar sendo “canônico” e o que vai ser “filme solo”. Este novo filme da DC, Besouro Azul (Blue Beetle, no original), fez uma coisa inteligente: a gente sabe que o filme se passa dentro do universo da DC, porque vemos um personagem usando uma camisa onde está escrito “Gotham”, ou outro personagem que comenta que o Superman é de Metrópolis; mas não usa nenhum personagem nem cita nenhum evento de algum dos outros filmes da DC. Este pode, no futuro, ser um filme independente, ou pode fazer parte do DCEU.

Preciso reconhecer que não conhecia NADA sobre o personagem. Vou além: confundi com o Besouro Verde, daquele filme fraco do Michel Gondry com o Seth Rogen. Então, preciso avisar que o meu texto será apenas sobre o filme, nunca li nenhuma HQ do herói. Não sei nos quadrinhos, mas aqui, tudo é fortemente ligado à América Latina. O diretor Angel Manuel Soto é porto-riquenho, o ator principal Xolo Maridueña é americano mas tem ascendência mexicana, cubana e equatoriana, a atriz principal Bruna Marquezine é brasileira, e o personagem tem uma família de mexicanos.

E a grande dúvida: o filme presta? Olha, não é digno de estar em listas de melhores do ano, mas é um filme divertido. A DC é tão bagunçada nos cinemas, que é uma boa notícia quando vemos um filme leve e despretensioso como esse Besouro Azul. Afinal, sempre digo que “cinema é a maior diversão”. E Besouro Azul vai divertir o público alvo.

Agora, o espectador precisa de muita boa vontade porque tem vários momentos onde o roteiro força a barra, tipo, logo na parte inicial, onde tem um escaravelho que estava perdido há 15 anos, super raro, que é deixado displicentemente em cima de uma mesa, dentro de um laboratório onde você só precisa apresentar um simples crachá pra abrir a porta. Não tem sistema de segurança, não tem sistema de câmeras… Mas, filme de super herói, a gente acredita em super poderes, tem gente super forte, tem gente que voa, ok, a gente aceita que seja fácil roubar um artefato raro.

Os efeitos especiais são muito bons, o que é algo essencial aqui. O espectador consegue entender como funcionam todas as habilidades que a armadura proporciona. Com efeitos fracos essa parte ficaria muito tosca. E a armadura tem menos cara de Power Rangers do que parecia pelo trailer.

Gostei dos dois personagens principais, tanto o Jaime Reyes do Xolo Maridueña quanto a Jenny Kord da Bruna Marquezine. A família de mexicanos é bem divertida, gostei dos personagens, mas reconheço que é um humor cartunesco e escrachado. A galera vai rir no cinema, mas a gente sabe que é completamente fora da realidade. Já os vilões, não gostei são péssimos. Susan Sarandon está caricata no mau sentido, e o vilãozão malvadão Carapax é ainda pior. E no fim tentaram dar uma redenção pra ele que ficou muito forçada.

(Susan Sarandon estava na cena pós créditos de Jolt, dando a entender que viraria uma franquia. Mas deve ter dado errado…)

Tem uma galera hater reclamando da Bruna Marquezine como protagonista de filme da DC. Em alguns momentos ela abusa das caras e bocas, mas no geral ela manda bem e acho que vai conquistar os haters. Uma coisa curiosa: a personagem é brasileira, mas não tem outro brasileiro, então não tem nenhum diálogo em português – vemos vários diálogos em espanhol, vindos da família mexicana. Mas, em um determinado momento catártico no fim do filme, ela solta uma frase em português – claro que a galera no cinema foi ao delírio. Mas, não sei, não li em nenhum lugar, mas acredito que ela deve ter gravado essa cena duas vezes, uma falando em português e outra em inglês. Porque não tem nenhum sentido a personagem dela falar uma frase em português assim do nada. Será que nas versões gringas também tem essa frase?

No fim, o tradicional de filmes de super: duas cenas pós créditos. Um gancho pra continuação, e uma piadinha lááá no fim dos créditos.

Fale Comigo

Crítica – Fale Comigo

Sinopse (imdb): Um grupo de amigos descobre uma mão embalsamada que lhes permite conjurar espíritos. Viciado na emoção, um deles vai longe demais e abre a porta para o mundo espiritual.

E vamos para o novo “melhor filme de terror de todos os tempos da última semana”!

Dirigido pelos irmãos Danny e Michael Philippou (que trabalharam na produção de O Babadook), Fale Comigo (Talk to Me, no original) está sendo vendido por muitos como o melhor terror do ano. Tem gente exagerando e falando em “melhor dos últimos anos”. Calma, galera. Fale Comigo é bom, é acima da média, mas está longe de ser um filme perfeito. Se você entrar no cinema com expectativas altas, pode se decepcionar.

(O terror é um gênero que tem tantos títulos ruins lançados ano a ano que pode gerar algo assim…)

Vamos ao que funciona. Produção pequena, independente (foi exibido em Sundance no início do ano), Fale Comigo não é “filme de jump scare”, e sim traz a proposta de criar clima de terror – e é bem eficiente neste quesito. Não é uma produção da A24, mas a A24 comprou os direitos pra distribuição.

Depois da sessão ouvi comentários de gente comentando que este seria um filme igual a outros que usam tábuas Ouija. Discordo. Existe uma área cinza em volta da tábua Ouija sobre aquilo ser real ou não. Mas, aqui em Fale Comigo, quando um personagem usa a mão embalsamada, ele imediatamente experimenta o contato com os espíritos. E essas cenas onde eles exploram esses contatos são boas. E os personagens sabem dos riscos de se usar muito, parece até uma comparação com drogas: “sabemos que é perigoso, mas curtimos o barato que nos proporciona.”

Preciso falar da sequência inicial! Uma pessoa entra numa casa onde rola uma festa, e a câmera vai atrás, um monte de coisas acontecem, e tudo em plano sequência! Era no cinema, não tive como voltar pra checar, mas me parece que realmente não teve cortes. Fale Comigo começou bem!

A fotografia tem alguns detalhes discretos aqui e ali que mostram que esse filme teve um cuidado especial, como uma cena noturna onde dois personagens estão conversando iluminados pela luz da rua, através de um vidro com água da chuva. Outro ponto positivo é a maquiagem. Todas as cenas onde usam a mão usam uma maquiagem muito bem feita. E tem uma cena em particular onde um dos personagens se machuca que é uma cena com muita violência gráfica. Assustador!

(Tem uma cena assustadora envolvendo um cachorro. Mas nada acontece com o cachorro, a cena é assustadora no sentido de nojenta.)

Agora, nem tudo merece elogios. Pra começar, o formato da história é exatamente igual a todos os filmes de “terror com maldição”: um personagem entra em contato com a maldição da vez, se vê presa àquilo, e resolve pesquisar para descobrir de onde veio a maldição e como se livrar. Parece receita de bolo.

Mas acho que o que mais me incomodou foram as cenas no hospital. Determinado momento do filme um dos personagens é internado. Temos algumas cenas dentro do quarto do hospital. E os gritos e ruídos que acontecem nessas cenas não são compatíveis com o ambiente hospitalar. Apareceria uma enfermeira ao primeiro grito!

Sobre o elenco, este é o filme de estreia da Sophie Wilde, que esteve em cartaz há pouco com O Portal Secreto (feito depois mas lançado antes). E olha a coincidência: a única atriz famosa daqui, Miranda Otto, também estava em O Portal Secreto.

Por fim, recomendo que baixe as expectativas. Como falei no início, Fale Comigo é bom, é acima da média. Só não é isso tudo que estão vendendo.

A Era de Ouro

Crítica – A Era de Ouro

Sinopse (imdb): Cinebiografia de Neil Bogart, o produtor musical que ajudou a fundar a Casablanca Records e lançou nomes como Donna Summer, Village People e Kiss.

Preciso admitir que heu nunca tinha ouvido falar de Neil Bogart – assim como o próprio personagem comenta em determinado momento do filme, ele nunca foi um nome famoso, sempre viveu nos bastidores. Aparentemente seus filhos querem mudar isso. Timothy Scott Bogart, seu filho mais velho, escreveu, dirigiu e co-produziu; seu irmão Evan Bogart co-produziu e trabalhou na parte musical do filme.

Nos últimos anos a gente tem tido algumas cinebiografias musicais, mas sempre focando no artista. Era de Ouro (Spinning Gold, no original) é diferente, foca no produtor. É uma ideia legal, mas fica no ar a dúvida de até que ponto podemos acreditar em tudo o que vemos na tela, sabendo que foi a família quem produziu, e também sabendo que algumas coisas foram alteradas, como por exemplo a maquiagem dos membros do Kiss. A história do Neil Bogart é realmente muito boa, mas não sabemos se tudo aquilo aconteceu daquele modo.

Verdade ou invenção, o filme traz alguns momentos bem legais, como o modo que Bogart modificou a voz da Donna Summer, puxando pelo lado sexual. As cenas com George Clinton também são bem divertidas.

Um comentário sobre defeitos técnicos: heu entendo que um filme desses precise usar tela verde e chroma key, principalmente nas cenas de shows. Mas alguns chroma keys aqui passaram do limite da tosqueira. Uma cena em particular, com Bogart conversando com seu pai antes de uma corrida de cavalos, me lembrou o chroma key de Olhos Famintos 4.

Dei uma pesquisada no imdb, mas tem poucas informações. A produção passou por vários problemas e demorou anos para ser concluída. Pelo que li, inicialmente Spike Lee seria o diretor e Samuel L. Jackson faria o papel de George Clinton. Mas no fim, ficou só galera menos conhecida.

Pelo que entendi, a produção não conseguiu licenciamento sobre algumas coisas, e é por isso, por exemplo, que a maquiagem do Kiss está alterada. Não sei se por isso ou se foi por uma falha de roteiro, mas o Village People, que era um dos artistas mais famosos da Casablanca Records, pouco aparece no filme. Parece ser apenas um “p.s.” ao fim do filme. Digo mais: segundo a wikipedia, Cher também lançou disco pela Casablanca, e ela foi completamente ignorada pelo filme.

(Não sei se lá fora Bill Withers foi um nome grande, mas acredito que pelo menos aqui no Brasil, Village People foi muito maior.)

O roteiro tem suas falhas – talvez fosse melhor o Bogart filho se unir a um roteirista mais experiente. Não só alguns artistas importantes foram jogados para escanteio, como o filme tem sérios problemas de ritmo, e, com duas horas e dezessete minutos, é um programa cansativo. Talvez fosse melhor contar essas histórias todas em uma minissérie, com cada capítulo focando em um dos artistas.

Heu não gostei das caracterizações de um modo geral. Olhei no imdb, tem várias pessoas reclamando das perucas e figurinos. Não sei se por isso ou por usar atores bem diferentes das personalidades que estavam representando – você olha os atores que fazem Gene Simmons e Paul Stanley, e nada lembram os originais. O ponto é: o elenco não é o ideal.

Roteiro mal estruturado, elenco fraco, o que salva Era de Ouro são os números musicais. Não por serem bem filmados, mas sim pela qualidade das músicas. Os artistas da Casablanca Records tinham muitas músicas boas! E no fim, logo antes dos créditos, tem uma música muito boa que me parece que foi composta para o filme, onde rola um pot-pourri usando trechos de outras músicas. Pelo menos o filme termina com o astral pra cima.

Influencer

Crítica – Influencer

Sinopse (imdb): Durante uma viagem solitária e complicada pela Tailândia, a influenciadora Madison conhece CW, que viaja com facilidade e mostra a ela um estilo de vida mais desinibido. Porém, o interesse de CW por Madison toma um rumo sombrio.

Produção modesta, elenco reduzido, poucas locações, quase nenhum efeito especial, Influencer é uma boa surpresa. Não é um filme “obrigatório”, mas é melhor que boa parte do lixo que é despejado mensalmente nos streamings.

Co-escrito e dirigido por Kurtis David Harder, Influencer tem um que de Black Mirror. Não pelo lado tecnológico (quase todos os episódios de Black Mirror usam inovações tecnológicas), mas pelo lado de vermos problemas sociais causados pelo avanço da tecnologia – no caso aqui, avanço das redes sociais.

Uma coisa boa em Influencer é a imprevisibilidade de certas coisas. Sem spoilers, mas tem um momento que o filme tomou um rumo que heu nunca tinha imaginado. Pena que o fim do filme é um pouco óbvio.

A fotografia do filme usa bem alguns takes aéreos de drones – incluindo a boa cena inicial. Outra coisa legal são belíssimos cenários naturais na Tailândia.

(Uma curiosidade: muitos filmes começam sem nenhum crédito, e os créditos só aparecem ao fim do filme. Outras vezes vemos uma sequência inicial, e só depois temos créditos. Aqui os créditos aparecem aos 26 minutos de projeção!)

Agora, tem algumas coisas forçadas no roteiro. Pra começar, parece que os personagens vivem num mundo sem polícia. Gente, pessoas que desaparecem eventualmente serão investigadas! Além disso, uma personagem faz coisas que parecem meio inacreditáveis pelo computador. Uma coisa é uma pessoa adulterar uma foto e postar no Instagram; outra coisa é ela alterar um diálogo em tempo real.

O elenco tem apenas seis nomes! Gostei da Cassandra Naud, nunca tinha visto nada com ela, ela consegue construir uma personagem mais complexa do que aparenta ser.

No fim, fica aquela sensação de apesar de não ser um filme perfeito, Influencer consegue ficar acima da média.

Megatubarão 2

Crítica – Megatubarão 2

Sinopse (imdb): Segue um piloto de submersível e um grupo de cientistas em águas profundas para explorar uma trincheira desconhecida na Fossa das Marianas. No caminho, eles encontrarão o Megalodon, um gigante tubarão pré-histórico.

Antes de comentar o filme, a gente precisa se lembrar de que se trata de um filme chamado “Megatubarão 2”. Ninguém vai ver um filme chamado “Megatubarão 2” achando que vai encontrar um “filme de Oscar”.

Dito isso, vamulá. Algumas coisas são bem toscas, mas confesso que me diverti em alguns momentos. Então vou comentar primeiro o que não funcionou, depois o que funcionou.

Em primeiro lugar, tenho dúvidas se um animal que vive a 7 mil metros de profundidade consegue viver tranquilamente na superfície da água. Existe a luz e existe a pressão. Mas, como não saco nada de biologia marinha, não vou dizer que isso é uma falha. Além disso, é a premissa do filme. Pode ser algo absurdo, mas, caramba, a premissa de um tubarão pré-histórico nos dias de hoje já é absurda por si só.

Muita gente vai citar outro problema, que são as conveniências de roteiro, mas isso é algo muito comum em filmes assim. São aquelas cenas onde você diz “caramba, forçou a barra!”. E quem vai ao cinema vai ver um filme chamado “Megatubarão 2” não pode reclamar de algo assim. Mesmo assim, queria citar alguns exemplos de coisas sem lógica no roteiro. Vou citar dois: tem um cara no fundo do mar com uma espécie de armadura que o mantém vivo apesar da pressão. A parada aparentemente é pesada, ele anda no fundo do mar com aquilo. Aí ele se segura numa boia pra subir pra superfície. Quando chega na superfície, larga a boia e tá nadando de boa??? Outra: os mocinhos estão num bote, fugindo, aí dizem “precisamos remar, porque o motor vai atrair o tubarão!”. Aí eles começam a ser perseguidos por outro bote, com vilões, que ligam o motor e são atacados pelo tubarão. O que os mocinhos fazem? Ligam o motor pra fugir! Ué, por que o tubarão não atacou???

Queria falar também sobre um erro grave de continuidade. Erros de continuidade acontecem direto nos filmes, mas normalmente são coisas discretas, ao fundo, fora do foco do espectador. Mas aqui é no objeto principal da cena: Jason Statham tem três lanças, para matar três tubarões. Depois de usar duas, vemos que ainda tem duas nas suas costas! E logo depois, apenas uma!

Heu relevo todos os problemas acima. Agora, pra mim, um problema que não consigo deixar pra lá são os vilões do filme. Em primeiro lugar: não sabemos quem são, qual é a relação deles com o rolê. Simplesmente são vilões que foram jogados para o filme ter antagonistas humanos além dos tubarões. Mas, pior que isso é que são vilões extremamente caricatos, daquele tipo que ri enquanto atira no mocinho. Os anos 80 ligaram e pediram esses vilões de volta!

Agora, dito tudo isso, preciso admitir que me diverti bastante na parte final. A primeira parte do filme tenta mostrar uma trama séria, com espionagem, traições, é uma parte chata. Mas em determinado momento o filme abraça a galhofa, e a partir dai melhora muito. Dei uma sincera gargalhada na cena que mostra um tubarão atacando pessoas, com a câmera dentro da boca do tubarão!

A direção é de Ben Wheatley, que a maioria do pessoal conhece por ter feito uma versão ruim de Rebecca para a Netflix em 2020. Mas, os leitores do heuvi talvez se lembrem de Kill List (2011) e Turistas (2012), que foram comentados aqui – e ainda falei de O ABC da Morte, que também contou com o diretor.

No elenco, o único nome que vale a lembrança é Jason Statham, sempre eficiente. De ponto negativo, achei a menina Meiying (a personagem estava no primeiro filme) péssima. Não sei se por culpa da atriz ou da personagem, mas ela não está bem. Só não posso dizer que é a pior coisa do elenco porque o Pedro Pascal genérico é ainda pior.

Enfim, se alguém me perguntar, não, Megatubarão 2 não é bom. Mas quem entrar na onda da galhofa vai se divertir na parte final.

Top 6 pontos ruins de Invasão Secreta

Top 6 pontos ruins de Invasão Secreta

Sinopse (imdb): Nick Fury e Talos estão tentando deter os Skrulls que se infiltraram nas esferas mais altas do universo Marvel.

Quando estreou Invasão Secreta, nova série da Marvel na Disney+, pensei em esperar acabar a série e fazer um texto comentando toda a temporada. Mas, o resultado final foi tão decepcionante que mudei de ideia e vou fazer um top 6 de momentos ruins da série.

Escolhi 6 momentos ruins. Podia ser mais, mas a decepção de Invasão Secreta me lembrou a decepção que tive com Obi Wan, e fiz um post com As 6 tosqueiras mais toscas de Obi Wan Kenobi. Então mantive o número 6. E acho que foi uma boa escolha, Invasão Secreta tem mais coisas ruins, mas deu preguiça de rever a série só pra aumentar a lista.

Antes de entrar na lista, uma crítica e um elogio. A crítica é que tudo é arrastado demais, dava tranquilamente pra se cortar as gorduras e fazer um filme de longa metragem em vez de uma série de seis episódios. Conheço várias pessoas fãs do MCU, e quase todos “se esqueciam” de ver os novos episódios a cada semana – diferente de outras séries onde todos corriam logo pra ver.

Agora, nem tudo é ruim. Olivia Colman está ótima, e sua personagem Sonya Falsworth foi a melhor coisa da série. Ela aparece pouco, mas todas as vezes são cenas boas. Uma boa personagem que espero que continue no MCU.

Vamos à lista? Claro, spoilers liberados a partir de agora!

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

– Não acho ruim quando matam um personagem se isso causar um grande impacto na trama e nos personagens. Aquela morte significou algo! Um exemplo dentro do MCU foi a morte da Viúva Negra, que foi um evento bem trabalhado dentro do filme e que causou um enorme impacto em todo o MCU. Agora, quando matam a Maria Hill e o Talos e isso não causa nenhum impacto, aí é ruim. Principalmente a Maria Hill – se o Gravik queria uma imagem do Fury atirando na Maria Hill, causaria o mesmo impacto se o tiro atingisse algo grave e ela precisasse ir para o hospital. Ok, entendo que nem a Maria Hill nem o Talos são personagens muito importantes, a gente nunca veria um filme solo de nenhum deles, mas, mesmo assim, acho que foi desrespeito com o fã.

– A gente descobre que quando um skrull é ferido, aparece a pele real verde dele. Isso acontece algumas vezes ao longo da série. Pra que todo aquele “mexican standoff” entre o Fury e o Rhodes na frente do presidente? Não era só atirar na mão ou na perna do Rhodes?

– A Emilia Clarke é ruim. Existem atores que têm talento, outros têm carisma, e outros têm talento e carisma. Emilia Clarke não tem nenhum dos dois. Acho que está na hora de Hollywwod repensar a carreira dela. Talvez ela funcione melhor como coadjuvante.
(Pra piorar, no fim dá a entender que ela vai trabalhar com a Olivia Colman, que tem talento e carisma. Essa dupla não vai funcionar!)

– Admito que gostei da batalha final, quando usam poderes de vários heróis misturados. Mas, tem uma coisa que ficou estranha: eles aprenderam a dominar os poderes muito rapidamente. Em um filme com o modelo clássico de “filme de origem de super herói”, sempre tem uma parte do filme que é o personagem aprendendo a usar seus novos poderes. Aqui não, os dois já conseguem dominar tudo, automaticamente.

– O local da batalha final era radioativo. Como é que eles guardavam prisioneiros humanos lá?

– Nick Fury foi o cara que organizou a Iniciativa Vingadores. Ele conhecia todos os heróis. Se nenhum herói aparece na série, isso precisa ser verbalizado, senão é um furo de roteiro. Ok, verbalizaram. Existe a pergunta “por que você não chama os seus amigos?”. O problema é a resposta “porque é algo pessoal”. O mundo está à beira da terceira guerra mundial e essa foi a melhor desculpa que os roteiristas pensaram?

Asteroid City

Crítica – Asteroid City

Sinopse (google): Asteroid City decorre numa cidade ficcional em pleno deserto americano, por volta de 1955. O itinerário de uma convenção de Observadores Cósmicos Jr./Cadetes Espaciais (organizada com o objetivo de juntar estudantes e pais de todo o país para uma competição escolar com oferta de bolsas escolares) é espetacularmente perturbado por eventos que mudarão o mundo.

Filme novo do Wes Anderson!

Já comentei aqui que Wes Anderson é um dos últimos “autores” do cinema atual. Um filme dele tem cara de filme dele. O cara é obcecado por enquadramentos perfeitos, tudo em cena está milimetricamente posicionado – o tempo todo. Cada enquadramento do seu filme é perfeito, cada movimento de câmera é perfeito. Claro que reconheço o valor de um filme assim.

Vou além: o filme traz uma metalinguagem, um “filme dentro do filme”, tem um dramaturgo contando uma história, e essa história é o Asteroid City. E Anderson usa formatos diferentes pra cada momento. O filme alterna entre uma imagem p&b meio quadrada (parece o antigo 4×3) quando está com o dramaturgo e o tradicional letterbox colorido quando conta o filme em si.

O visual é fantástico. Mas, por outro lado, quase não tem história. Tirando um evento lá pelo meio do filme, nada acontece. E assim o filme fica cansativo. Fui até checar a metragem, Asteroid City tem 1h45min, mas parece ser mais longo!

Talvez o problema seja não ter um protagonista com uma história principal. Parece que estamos o tempo todo vendo personagens secundários em tramas paralelas.

O elenco é fantástico. Raras vezes a gente vê tantos atores famosos juntos. Foi assim com Oppenheimer, é assim de novo em Asteroid City: Tom Hanks, Edward Norton, Adrien Brody, Tilda Swinton, Steve Carell, Bryan Cranston, Willem Dafoe, Matt Dillon, Jeff Goldblum, Scarlett Johansson, Margot Robbie, Jason Schwartzman, Maya Hawke, Jeffrey Wright, Hope Davis, Liev Schreiber, Sophia Lillis, Tony Revolori – entre outros. Ainda tem uma participação especial do Seu Jorge, ele está no grupo do cowboy Montana. Mas… Diferente de Oppenheimer, que tem um grande elenco e grandes atuações, aqui todas as atuações parecem propositalmente robóticas – combina com o estilo do diretor, mas torna o filme ainda mais cansativo.

Ok, reconheço que vou soar um pouco incoerente agora, porque sempre defendi que a forma vale mais que o conteúdo, sempre defendi que prefiro filmes com visuais fantásticos mesmo que as histórias fossem fracas. Mas, aqui em Asteroid City isso não funcionou. É um filme indubitavelmente bonito. Mas seria melhor se fosse um curta metragem.

Missão de Sobrevivência

Crítica – Missão de Sobrevivência

Sinopse (imdb): Um agente secreto da CIA e seu tradutor fogem das forças especiais no Afeganistão após um vazamento expor perigosamente sua missão secreta e revelar sua identidade.

(A sinopse lembra o recente The Covenant, do Guy Ritchie, mas são filmes bem diferentes)

Alguns atores ficam estigmatizados com um tipo de papel. Comentei isso sobre os filmes do Liam Neeson, e podemos ver o mesmo com o Gerard Butler: de um tempo pra cá, ele tem feito vários filmes onde ele é um cara eficiente e o único capaz de resolver um grande problema. Foi assim no recente Alerta Máximo, e é assim neste Missão de Sobrevivência (Kandahar, no original).

Dirigido por Ric Roman Waugh (que já trabalhou com Butler outras duas vezes, em Invasão ao Serviço Secreto e Destruição Final O Último Refúgio), Missão de Sobrevivência não é um grande filme, daqueles que entram em listas de melhores do ano, mas é uma diversão honesta. O filme traz alguns detalhes que somaram alguns pontos no resultado final.

Em primeiro lugar, o filme é bastante eficiente dentro do que ele propõe. O protagonista está numa missão, tudo dá errado e ele precisa fugir. Vários grupos diferentes querem capturá-lo. Essa fuga gera algumas bem filmadas cenas de perseguição. E gostei do conceito de não ter um único antagonista.

Ainda nas cenas de perseguição, tem uma sequência que achei “inventiva”. Eles precisam atravessar o deserto de noite, e se acenderem os faróis do carro, vão ser vistos. Então o protagonista usa um óculos de visão noturna, e toda a sequência é filmada usando este artifício. O visual ficou diferente do óbvio.

Heu queria fazer outro elogio, mas é parcial. Quase perto do fim rola um diálogo onde um personagem critica a postura dos EUA nessa guerra. Uma coisa que sempre me incomodou em filmes hollywoodianos é essa mania de transformar soldados americanos em heróis, e a gente sabe que nem sempre são heróis. Gostei quando o filme tomou esse rumo. Mas… no fim do filme parece que se esqueceram disso e o tema “heroísmo” volta com força, a ponto de ter um personagem que entra pra morrer pouco depois – de forma heroica. É, o elogio durou pouco.

Dito isso, a gente precisa reconhecer que o filme é bem previsível, e usa todos os clichês possíveis. O diretor tem boa mão pras sequências de ação, mas no final tudo fica com cara de genérico.

Tem um outro detalhe que me incomodou um pouco. Dentre os antagonistas, o filme foca mais em um deles. Mas não desenvolve o suficiente. Queria ver mais daquele personagem. Por que o roteiro investe tempo em mostrar um personagem mas não o desenvolve da maneira correta?

Sobre o elenco, este é um “filme do Gerard Butler”. Tem mais gente, mas ninguém se importa. O que interessa é que o Gerard Butler é o cara certo pra esse tipo de filme e esse tipo de papel, e ele entrega tudo que é esperado.

No fim, fica um bom filme. Genérico sim, mas bem filmado e bem conduzido.