Mafia Mamma: De Repente Criminosa

Crítica – Mafia Mamma: De Repente Criminosa

Sinopse (imdb): Uma mãe americana herda o império da máfia de seu avô na Itália. Guiada pelo braço direito do chefe da organização, ela desafia hilariamente as expectativas de todos como a nova líder dos negócios familiares.

Às vezes dá vontade de não fazer um post comentando o filme que acabei de ver. Porque filmes como Mafia Mamma: De Repente Criminosa são tão bobos que bate uma preguiça…

Mas, preciso ser coerente comigo mesmo. Sempre defendo que a gente precisa pensar no objetivo do filme. Mafia Mamma: De Repente Criminosa não queria ser um grande filme, com roteiro de explodir cabeças e várias inovações visuais. Não, a proposta aqui é uma diversão ligeira, daquelas que a gente dá uns risinhos aqui e ali e depois esquece do filme. É, pensando por aí, Mafia Mamma: De Repente Criminosa pode funcionar.

Kristin é uma mulher de quarenta e muitos anos, triste porque seu filho está indo pra faculdade, com problemas no casamento e no trabalho. E se repente ela descobre que precisa ir pra Itália pra receber a herança do avô que ela nem lembrava que existia. O título do filme já é um spoiler sobre o que vai acontecer então: o avô era mafioso, e o filme vira uma paródia de filmes de máfia – inclusive, O Poderoso Chefão é citado algumas vezes.

A ideia de colocar uma dona de casa com crises de meia idade como líder de uma família mafiosa até podia ter funcionado. Mas, preciso falar que o humor usado me atrapalhou. Algumas cenas são bobas demais. Um exemplo: quando o avô gravou a vídeo explicando para Kristin que ela era herdeira, tem uns caras fazendo trapalhadas na lareira ao fundo. Ou, numa cena onde ela vai jantar com o Lorenzo e a mãe dele fica servindo mais comida para os seguranças. Entendo que alguém possa achar isso engraçado. Mas, pra mim, é um balde de água fria.

Junte a isso situações clichê e personagens clichê. Não sei qual é o pior personagem, se é o marido caricato ou a amiga advogada também caricata. E, pra piorar, além dos clichês, tem algumas cenas completamente fora da realidade, como uma cena onde Kristin enfrenta aquele que era pra ser o melhor assassino profissional da família rival. Precisa de muita suspensão de descrença.

(Esta cena em particular traz um gore que me pareceu deslocado do resto do filme. Nada muito gráfico pra quem está acostumado com filmes de terror violentos, mas bastante forte para uma comédia bobinha.)

A direção é de Catherine Hardwicke, famosa por ter feito Crepúsculo. Ok, isso já era um sinal de que heu não deveria esperar nada. E no elenco, só duas atrizes conhecidas, Toni Collette e Monica Bellucci, que estão ok para o que o filme pede, o que é quase nada.

Enfim, Mafia Mamma: De Repente Criminosa não é um filme exatamente ruim, como O Chamado 4. Mas achei bem bobo. Não recomendo.

Renfield – Dando o Sangue Pelo Chefe

Crítica – Renfield – Dando o Sangue Pelo Chefe

Sinopse (imdb): Renfield, o torturado ajudante de Drácula, é forçado a capturar presas para seu mestre e cumprir todas as suas ordens. Mas agora, após séculos de servidão, Renfield está pronto para ver se há uma vida fora da sombra de seu chefe.

Renfield é um personagem secundário do livro Drácula de Bram Stoker – lembro dele interpretado pelo Tom Waits na versão do Coppola de 1992. Por ser secundário, tem vários filmes que nem mencionam o personagem. Mas neste novo filme, ele virou o protagonista, a história é contada sob o seu ponto de vista.

Dirigido por Chris McKay (Lego Batman, A Guerra do Amanhã), Renfield – Dando o Sangue Pelo Chefe (Renfield, no original) começa bem, o Renfield está num grupo de apoio de pessoas que estão em relacionamentos abusivos, e fala do chefe dele. O espectador sabe que é o Drácula, mas os personagens em volta não sabem, e isso cria divertidas situações comparando o Drácula com um chefe abusivo.

Se o filme ficasse só nessa linha, seria bem legal. Mas resolveram criar uma história paralela bem insossa. Temos uma trama clichê de uma família de criminosos que controla a polícia, e uma policial que perdeu o pai assassinado por essa família. Tudo clichê: a matriarca chique, o filho atrapalhado e afobado, a policial incorruptível. Pra piorar, é clichê e mal desenvolvida, tem uma trama paralela da irmã da policial, mas que aparentemente só estava lá para ser sequestrada e trazer a policial ao encontro dos bandidos.

Pena, porque Renfield – Dando o Sangue Pelo Chefe tem um trunfo, que é o Nicolas Cage interpretando o Drácula. De uns anos pra cá, Cage virou um meme ambulante, e sempre faz over acting. Quando o filme tem espaço para over acting (como aconteceu em Mandy), Cage funciona bem. E aqui, como o conde Drácula, Cage está perfeito! É de longe a melhor coisa do filme!

O xará Nicholas Hoult também está bem. Mas não gostei muito do que o roteiro fez com o seu personagem. Renfield ganha super poderes quando come os insetos. Parece o Pateta quando come o superamendoim e vira o Super Pateta. O Renfield ganha uma super força e até voa! Ficou um pouco over.

Por outro lado, Awkwafina ainda não conseguiu me convencer. Não só ela deu azar de pegar um papel totalmente clichê, como ela ainda tem alguns maneirismos que não funcionam pra esse tipo de filme (tipo uma cena onde ela está se afastando da câmera e fica dando umas olhadas pra trás).

Também queria comentar que gostei do gore. Como disse meu amigo Tom Leão, o clima parece Um Drink no Inferno, o gore traz risos em vez de repulsa. E Renfield – Dando o Sangue Pelo Chefe ainda tem umas boas cenas de ação.

Ainda queria falar mal do nome brasileiro do filme. “Dando sangue pelo chefe” e muito sessão da tarde dos anos 80. Achei bem tosco.

Fervura Máxima

Crítica – Fervura Máxima

Sinopse (google): Em Hong Kong, Yuen, um inspetor de polícia que é normalmente conhecido como Tequila, fica transtornado quando seu parceiro morre em um tiroteio com gangsters em uma casa de chá. Tequila então se une a Alan, um assassino profissional, para vingar o amigo e impedir que esta quadrilha mate gente inocente.

Lançado em 1992, Fervura Máxima, (Hard Boiled em inglês ou Lat sau san taam no original) é o último filme chinês de John Woo antes dele ir para os EUA para dirigir O Alvo, com Jean Claude Van Damme. Depois de receber críticas por fazer filmes que glamorizavam bandidos, ele quis entregar um filme onde a polícia é glamorizada. E ele aproveitou pra usar um trilha sonora de jazz, que ele queria fazer em The Killer, mas foi impedido pelo produtor Tsui Hark.

O protagonismo do filme repete uma fórmula usada outras vezes pelo próprio Woo: dois protagonistas, bem parecidos entre eles, mas em posições opostas. Inicialmente são inimigos, mas acaba que se unem por algum objetivo. Aqui tem o policial implacável e o assassino misterioso. Mais uma vez, a fórmula funciona muito bem.

Como já comentei antes, o ritmo do cinema oriental é diferente do que estamos acostumados, e além disso é um filme de 30 anos atrás, precisamos ter isso na cabeça. Vemos muitas atuações exageradas e muita gritaria, e ao mesmo muita câmera lenta. Desta vez não reparei nas pombas, uma das marcas registradas do diretor; mas temos um momento onde os dois principais estão com armas apontadas um para o outro.

Fervura Máxima tem uma sequência bem longa na parte final, a parte do hospital, que pega quase meio filme. Tenho dois comentários, um positivo e um negativo sobre essa sequência. O positivo é o famoso plano sequência. Os dois personagens principais entram por um corredor e enfrentam dezenas de adversários. Determinado momento eles entram no elevador para ir pra outro andar, mas, na verdade, o elevador ficou parado e a galera da produção trocou todo o cenário! Esse plano sequência é uma das melhores coisas do filme.

Por outro lado, achei a sequência longa demais. Ok, é boa, bem filmada, empolgante, muitos tiros, muitas explosões, mas chega um momento que tem gente levando tiro e explodindo e você nem sabe quem é. Por ser tudo meio parecido, a sequência me cansou.

No elenco, dois grandes nomes do cinema chinês, e que já tinham trabalhado com o diretor antes,Chow Yun Fat (The Killer) e Tony Leung (Bala na Cabeça). O primeiro já tinha feito quatro filmes com Woo e, teve uma breve carreira em Hollywood depois do sucesso de O Tigre e o Dragão, com filmes como Assassinos Substitutos,O Corruptor, Anna e o Rei e O Monge À Prova de Balas. O segundo trabalhou pouco fora da China, mas recentemente esteve nas telas do mundo inteiro em Shang Chi.

Por fim, preciso falar de uma implicância minha com o nome brasileiro do filme, porque a Globo tinha uma sessão de filmes chamada “Temperatura Máxima”, então sempre confundo com “Fervura Máxima”.

Guardiões da Galáxia Vol. 3

Crítica – Guardiões da Galáxia Vol. 3

Sinopse (imdb): Ainda se recuperando da perda da Gamora, Peter Quill reúne sua equipe para defender o universo e um deles – uma missão que pode significar o fim dos Guardiões se não for bem-sucedida.

Normalmente evito expectativas, mas com esse Guardiões da Galáxia Vol. 3 era difícil por causa de seu diretor: James Gunn. Aos poucos, Gunn mostrou que ele é “o cara”: começou na Troma, e fez alguns filmes legais mas nada muito relevante. Aí foi pra Marvel e fez o primeiro Guardiões, e a gente tem que lembrar que era um projeto super arriscado: um grupo de alienígenas onde um deles era um guaxinim e outro era uma árvore, e que a gente sabia que no futuro iam se juntar aos Vingadores. E mesmo assim, Guardiões da Galáxia foi um dos melhores filmes do MCU. Mas, depois do segundo filme, rolou aquela parada da Disney fuçar tweets antigos do cara e ele foi demitido. A DC então o contratou pra “consertar” o Esquadrão Suicida, e o seu filme com o Esquadrão foi o melhor do DCEU. Agora, de volta à Marvel, como segurar a ansiedade?

E a boa notícia é que mesmo com expectativa alta, James Gunn nos trouxe o melhor filme da Marvel em um bom tempo. Um filme que te faz rir, te faz chorar, tem personagens muito bem construídos e ainda traz alguns cenários bem diferentes do óbvio. E além disso, um belo fechamento para a saga dos Guardiões.

Claro que o filme é muito engraçado. Guardiões sempre foi galhofa, e continua sendo – são vários os momentos hilários. Mas este terceiro filme traz a história que conta o triste passado do Rocket Racoon. Aqui a gente conhece o passado dele, e consegue entender por que ele não quer falar sobre isso. É um momento que, arrisco dizer, vai arrancar lágrimas dos espectadores. E vai ter muita gente que vai virar fã do Rocket depois do filme.

Aproveito pra falar dos personagens. Temos um rico time de personagens, e, coisa difícil num grupo tão numeroso – conhecemos características de todos eles! Peter Quill, Gamora, Rocket, Groot, Drax, Mantis, Nebula… Tem até espaço pra secundários como Kraglin e Cosmo! Ok, você pode argumentar que já vimos os personagens por alguns filmes, é verdade, tem mais tempo para conhecê-los. Mas, pensa só: já temos mais de dez Velozes e Furiosos, e mesmo assim tem alguns personagens do grupo que a gente não lembra nem do nome, muito menos da personalidade. Aqui não, conhecemos cada um, é como se fossem velhos amigos.

Além dos personagens, Guardiões da Galáxia Vol. 3 também tem um visual bem exótico. O filme aproveita que estamos no espaço e que nada precisa seguir uma lógica terrestre, e temos excentricidades como uma base espacial orgânica – com detalhes como pelos e uma camada de gordura debaixo da pele. E o interior dessa base parece uma mistura de Barbarella com A Fantástica Fábrica de Chocolates.

Falando em visual, preciso falar do plano sequência na cena do corredor. Ok, a gente sabe que é um plano sequência “fake” porque tem muita coisa digital no meio, mas mesmo assim vejo valor em quem consegue conceber uma cena como aquela, onde vemos todos em ação, cada um no seu estilo.

Como acontece nos outros filmes, temos algumas referências aos anos 80, como citações a Dirty Dancing e Robocop – e preciso falar que essa do Robocop estava me incomodando, porque o visual do vilão é muito parecido com o Robocop sem máscara.

(Outra daquelas coisas que “todo mundo fala”: a Gamora não entende o Groot, normal, aí ela fala “vocês estão inventando isso!” Gosto quando um filme se sacaneia!)

Falando das referências, preciso falar da trilha sonora. Antes o Peter Quill tinha um walkman, que foi quebrado. Aí ele ganhou um aparelho com centenas de músicas, e agora não estamos mais presos somente aos anos 80. E uma coisa bem legal que tinha nos filmes anteriores acontece de novo aqui: a letra da música que está tocando “conversa” com o roteiro. Um exemplo simples que é logo a primeira cena do filme: o Rocket sempre se sentiu excluído, e começamos ouvindo Creep, do Radiohead: “I wish I was special, but I’m a creep, I’m a weirdo”. Pena que boa parte do público brasileiro não vai captar essa sutileza.

O elenco é ótimo. Todos os atores dos outros filmes estão de volta: Chris Pratt, Karen Gillan, Zoe Saldana, Pom Klementieff, Dave Bautista, Bradley Cooper, Vin Diesel, Sean Gunn e Maria Bakalova – e ainda tem uma ponta do Michael Rooker. Ah, trabalhar com James Gunn deve ser bom. Vários atores que estavam no Esquadrão Suicida aparecem aqui: Chukwudi Iwuji, Nathan Fillion, Daniela Melchior e Jennifer Holland (Sylvester Stallone também estava em Esquadrão Suicida, mas ele já tinha aparecido numa cena pós créditos do Guardiões 2). Ainda no elenco, Linda Cardellini, Elizabeth Debicki e Will Poulter

O fim do filme traz um encerramento pra trilogia. Claro, sempre pode haver um novo filme, uma nova saga. Mas se acabar por aqui, foi um bom final.

Planeta Fantástico

Crítica – Planeta Fantástico

Sinopse (imdb): Em um planeta distante onde gigantes azuis governam, humanoides oprimidos se rebelam contra seus líderes mecânicos.

Quando a gente pensa em longa de animação, a primeira coisa que a gente pensa é em filme infantil. Bem, nem toda animação é infantil. Ficção científica, Planeta Fantástico é um bom exemplo.

Dirigido por René Laloux em 1973, Planeta Fantástico (La Planète Sauvage no original) foi baseado no livro “Oms en série”, escrito por Stefan Wul apresenta um mundo diferente, onde os habitantes são humanoides azuis, os “draags”, muito maiores que os humanos. Sabemos disso porque eles usam humanos, chamados de “oms”, como animais de estimação.

Apesar de ter sido idealizado na França, Planeta Fantástico foi animado na Checoslováquia, e teve atrasos na produção porque em 1968 a União Soviética invadiu a Checoslováquia. O filme demorou cinco anos para ser finalizado.

Tenho dois comentários quase opostos sobre a técnica de animação. O primeiro é um elogio à riqueza visual do planeta Ygam. Pensa só: era 1973, se fosse um filme, usaria cenários toscos e animatronics igualmente toscos, dificilmente ia ter um visual impressionante. O fato de ser uma animação permitiu algumas excentricidades visuais, tem alguns animais e plantas bem “fora da caixinha”, isso foi muito positivo. E a excelente trilha sonora de rock psicodélico composta por Alain Goraguer ajuda a criar esse clima.

Por outro lado, a qualidade da animação é bem básica. Às vezes parecia aquelas animações de colagens feitas pelo Terry Gilliam nos filmes do Monty Python. Mas, não me pareceu um problema, e sim uma opção estilística. Ok, aceito. Mas, me sinto na obrigação de avisar que a animação é bem simples.

O tema do filme levanta interessantes discussões sobre aspectos sociais e políticos, sobre oprimidos e opressores, cutuca a religião, e ainda levanta questões sobre o modo como cuidamos de nossos animais de estimação. Daqueles filmes que te fazem pensar quando acaba.

Normalmente sou contra refilmagens, mas, taí, seria legal uma nova versão deste filme, desta vez em live action, explorando os efeitos visuais que temos hoje em dia. Será que um dia vão fazer?

Tetris

Crítica – Tetris

Sinopse (imdb): Baseado na história real do vendedor americano de vídeo games, Henk Rogers (Taron Egerton) e sua descoberta do Tetris, em 1988. Quando ele se propõe a levar o jogo para o mundo e se depara com uma perigosa teia de mentiras e corrupção por trás da Cortina de Ferro.

No meio de um monte de adaptações de vídeo game para o cinema, será que fizeram uma adaptação do Tetris? Não, é um filme que conta a história do licenciamento do jogo numa época quando o mundo não era globalizado.

O jogo Tetris foi criado numa União Soviética perto do fim. Algumas empresas negociavam os direitos de distribuição nas diferentes plataformas (computador, console, fliperama). Dirigido por Jon S Baird, o filme Tetris mostra a história dessas negociações.

Parece pouco para um longa metragem, né? Poizé. Então a trama entrou numa de colocar um maniqueísmo de capitalismo vs comunismo. E na minha humilde opinião, o filme perdeu muito nesse ponto, porque começou a usar clichês que não funcionam mais desde os anos 90.

De pontos positivos, gostei da trilha sonora de Lorne Balfe, que usa variações em cima do tema do jogo. Também gostei de alguns efeitos pontuais usando tecnologia 8 bit.

Sobre o elenco, Taron Egerton está bem. Durante os créditos aparecem imagens do Henk Rogers original, eles não são muito parecidos; por outro lado, Nikita Efremov, que faz o criador do Tetris, é bem parecido com o Alexey Pajitnov original. No resto do elenco, heu só conhecia Toby Jones. Roger Allam, que faz o dono da Mirrorsoft, está com uma caracterização estranha, parece excesso de maquiagem, não ficou bem.

Não diria que Tetris é uma perda de tempo, mas tem coisa melhor por aí.

O Chamado 4: Samara Ressurge

Crítica – O Chamado 4: Samara Ressurge

Sinopse (Paris Filmes): Pessoas que assistem a um vídeo amaldiçoado subitamente morrem. Essas mortes ocorrem em todo o Japão. Ayaka Ichijo é uma estudante de pós-graduação extremamente inteligente e com um QI acima de 200. Sua irmã mais nova assiste a um vídeo amaldiçoado por diversão. Ayaka Ichijo tenta revelar o mistério que envolve o tal vídeo.

Tenho muitas coisa pra falar mal aqui. Preciso começar falando da divulgação brasileira. Porque, infelizmente, o nome do filme no Brasil é uma enganação. Este não é o quarto filme da Samara, e sim o oitavo filme da Sadako!

Voltemos um pouco no tempo. Em 2002 foi lançado O Chamado (The Ring), com a Naomi Watts. Era uma refilmagem de um terror japonês, Ringu, de 1998, que chegou no mercado de home vídeo pra aproveitar a onda. Com o sucesso da franquia, tivemos uma continuação americana em 2005, e me lembro que algumas continuações japonesas que chegavam aqui pelas locadoras (se não me engano, também teve um prequel). Passei uns anos sem ouvir falar da franquia, até que em 2017 foi lançado o terceiro filme americano, O Chamado 3. Nessa época vi pela internet que a franquia japonesa continuou lançando filmes, mas não vi nenhum desses. Mas agora com o lançamento deste novo filme, achei um link na wikipedia que fala de toda a franquia. São 13 longas no total: 8 filmes japoneses, 3 americanos, um sul coreano, e um crossover com a franquia Ju-On (que aqui no Brasil foi chamada de O Grito).

Resumindo: O Chamado 4, ou Sadako DX no original, é o oitavo filme da franquia japonesa! Não tem nada a ver com a franquia americana! Não tem Samara, é a Sadako! Chamar de “4” é querer enganar o espectador!

Dito isso, a boa notícia é que a história contada aqui não é continuação direta de nenhum outro filme. É uma história independente, que se passa no mesmo universo dos filmes anteriores. Ou seja, não precisa rever nada antes.

Pena que é a única boa notícia de hoje. Porque O Chamado 4 é bem ruim.

Pra começar, é um filme de terror que não assusta. Acho que eles tentaram criar jump scares com toques de celular! E só me lembro de duas mortes, as duas bem toscas – a vítima dá uma cambalhota e cai morta de olho aberto. Só.

Mas o pior é o roteiro, que é péssimo. Em todos os outros filmes quem vê o vídeo depois recebe uma ligação. Cadê a ligação? Por que não ligam mais? Ninguém se importa.

Em todos os outros filmes quem vê o vídeo morre sete dias depois. Aqui o tempo cai pra 24 horas. Qual é o motivo? Ninguém se importa.

A maioria das pessoas morre exatamente quando batem as 24 horas – nem um minuto a mais, nem a menos. Mas se você correr, a Sadako não te alcança. Como assim? Ninguém se importa!

Calma que piora. As pessoas morrem em 24 horas, a não ser que sejam importantes pro roteiro. Porque se forem importantes, o tempo conta diferente. Ah, ninguém se importa!

O roteiro é um lixo, mas tem uma coisa que poderia ter dado certo. A protagonista, inteligente, que quer ciência no lugar de negacionismo, quer dizer, no lugar de maldição, quer provar que tudo tem uma explicação dentro da ciência, e começa a comparar a disseminação da maldição com a disseminação de um vírus. Ok, poderia ter dado certo, se soubessem desenvolver. Mas não souberam.

Mas calma, que ainda pode ficar pior. A Samara / Sadako aparece como pessoas conhecidas da vítima (mais um ninguém se importa, porque não tem nenhuma lógica). A maquiagem é bem tosca, um camisolão branco e a cara pintada de branco, e tá bom. Mas, claro que pode piorar ainda mais um pouco, aí o cabelo começa a crescer. Céus, acho que nunca vi um efeito digital tão ruim quanto esse cabelo crescendo!

Ainda posso reclamar de uma coisa? Era pra ser um filme de terror. Terror ruim, mas terror. Aí chega nos créditos, o filme continua, e vira uma comédia! Piadinhas rolando junto com os créditos! De onde surgiu essa ideia???

Se heu precisar salvar uma única coisa desse filme, gostei da última cena, pós créditos. Ok, foi uma boa sacada. Mas não vale ver o filme só por causa disso.

Ghosted: Sem Resposta

Crítica – Ghosted: Sem Resposta

Sinopse (imdb): O corretíssimo Cole se apaixona pela enigmática Sadie, mas logo enfrenta a chocante descoberta de que ela é uma agente secreta. Antes que eles possam decidir se terão ou não um segundo encontro, Cole e Sadie são arrastados para uma aventura internacional para salvar o mundo.

Na época que heu tinha videolocadora, existiam os conceitos de “filme de ponta” e “filme de apoio”. O filme de ponta era aquele que passava no cinema, com atores conhecidos, e que, apesar de um pouco mais caro, tinha boa saída. O filme de apoio era quando o cara entrava na locadora e não tinha o filme que ele queria, então ele pega a um genérico qualquer.

Me parece que hoje em dia o filme de apoio virou “direto para o streaming”. Apesar de ter atores conhecidos, temos uma leva de filmes genéricos e esquecíveis que acho que fariam feio nas bilheterias. Filmes como Esquadrão 6 (com Ryan Reynolds), Alerta Vermelho (com Dwayne Johnson, Ryan Reynolds e Gal Gadot), A Guerra do Amanhã (com Chris Pratt), e O Agente Oculto (com Ryan Gosling, Ana de Armas e Chris Evans).

(Não podemos generalizar, afinal alguns grandes filmes vão direto para o streaming, tipo o Pinóquio do Del Toro, melhor filme de 2022 aqui no heuvi. Alguns filmes muito bons são do streaming, como O Irlandês, Roma, Mank, Não Olhe Para Cima, Os 7 de Chicago… Mas, vamulá, esses bons são minoria.)

Voltando… Ghosted: Sem Resposta (Ghosted, no original) me lembrou outros filmes genéricos do streaming, principalmente O Agente Oculto (pelo casal protagonista). Filme raso e genérico, mas com bom elenco, boas locações, “muita correria e muita confusão!”

Aliás, falando em genérico, a trívia do imdb me lembrou de Encontro Explosivo, filme de 2010 com Tom Cruise e Cameron Diaz que tinha basicamente a mesma história, mas invertendo os gêneros (o homem era o agente secreto). Os filmes são tão parecidos que vou copiar um parágrafo do que escrevi sobre aquele filme: “Encontro Explosivo é uma eficiente mistura de comédia com ação exagerada. A ação tem um ritmo frenético, deve ser pra gente não reparar nas várias inconsistências do roteiro – muita coisa lá é absurda! Mas, relevando o lado impossível, dá pra se divertir.

Aliás, falando nessa inversão de gêneros, quero elogiar Ghosted: Sem Resposta. A melhor cena do último 007 foi quando Ana de Armas entrou em ação ao lado do James Bond. Vê-la como protagonista de um filme de ação girl power e muito bom! Aguardo ansiosamente pelo Ballerina, spin off de John Wick que ela vai estrelar.

Mas, vamos ao filme. Genérico sim, esquecível também, mas se a gente relevar isso, Ghosted: Sem Resposta é um filme divertido. A direção e de Dexter Fletcher, que era ator (lembro dele em Jogos Trapaças e Dois Canos Fumegantes), mas que também virou diretor, e dirigiu Rocketman, além de ter terminado Bohemian Rhapsody. O elenco é muito bom, tanto o principal quanto as várias participações especiais. A trilha sonora com músicas pop bem colocadas também é boa.

Claro, nem tudo funciona. Tem uma coisa que me incomodou bastante que rola logo no início do filme (espero que não seja spoiler). O cara conhece a garota, eles se dão bem e passam a noite juntos. Aí depois ele fica obcecado por ela a ponto de descobrir que ela viajou pra Inglaterra e vai atrás dela. Amigo, ela não tem nenhum compromisso com você! Ela pode ter um outro cara, e você não tem nada a ver com isso! Pare de ser stalker!

(Pra piorar, ele vai até a Inglaterra atrás de uma bombinha de asma que não e citada pelo roteiro no resto do filme. Se a bombinha era algo tão sem importância, pra que colocar um gps?)

Algumas sequências de ação são bem filmadas, mas não fazem muito sentido. O personagem de Chris Evans é um fazendeiro, ele não saberia brigar e atirar tão bem como aparece no filme. Ou seja, as cenas são boas, mas precisa desligar o cérebro.

Sobre o elenco: Ana de Armas e Chris Evans têm boa química – já e o terceiro filme onde eles atuam juntos (além de O Agente Oculto, teve Entre Facas e Segredos). Adrien Brody está bem como o vilão caricato. E as participações especiais são ótimas! Anthony Mackie, Sebastian Stan, John Cho e Ryan Reynolds aparecem por poucos segundos, mas cada um tem um bom momento. Tim Blake Nelson e Burn Gorman têm um pouco mais de tempo de tela (pouca coisa), e também são cenas divertidas.

Quem conseguir relevar os problemas vai ter uma boa diversão por quase duas horas. Mas provavelmente vai esquecer do filme depois de alguns dias.

Beau Tem Medo

Crítica – Beau Tem Medo

Sinopse (imdb): Após a morte repentina de sua mãe, um homem gentil e atormentado pela sua ansiedade enfrenta seus medos mais obscuros enquanto embarca em uma jornada épica e Kafkeana de volta para casa.

Escrevo críticas há mais de dez anos. Normalmente, quando acaba uma sessão, já começo a pensar no que vou comentar aqui. Mas, quando acabou Beau Tem Medo, travei. Não tenho ideia do que vou falar.

Beau Tem Medo (Beau is Afraid, no original), é o novo filme escrito e dirigido por Ari Aster, diretor de Hereditário e Midsommar, dois filmes que heu gosto muito – e por isso, estava na minha lista de expectativas para 2023. Terror psicológico, clima tenso, sem jump scares, mas com cenas fortes e extremamente bem filmadas, Ari Aster conquistou meu respeito e minha admiração, claro que quero ver seu(s) novo(s) projeto(s).

Mas, preciso dizer que desta vez não rolou. Não curti Beau Tem Medo. E, diferente dos dois anteriores, não tem nada de terror aqui.

Existem filmes onde tudo é explicado, e existem filmes que deixam lacunas abertas para interpretação do espectador. Um tipo não é melhor nem pior do que o outro, são apenas estilos diferentes. Gosto de Buñuel, gosto de alguns filmes do David Lynch, muitas vezes curto a experiência sem entender o que o filme queria me dizer.

Mas, na minha humilde opinião, o problema de Beau Tem Medo não é ser um filme sem explicações, e sim ser um filme chato. Tem uma parte no meio, onde entra uma animação no meio da peça de teatro, onde quase dormi. Achei chaaaato… Depois olhei no relógio, ainda tinha mais de uma hora de filme!

Pena, porque algumas partes do filme são bem instigantes. Gostei da parte inicial, que mostra a vizinhança maluca onde o Beau mora – camelô vende armas de fogo, tem cadáver apodrecendo no meio da rua, e ao mesmo tempo tem um cara dançando na esquina. Heu veria um filme inteiro nesse cenário!

Sobre a parte técnica, não há o que falar. Aster sabe o que fazer com a câmera, temos algumas boas sacadas, como por exemplo um close no olho onde vemos o que acontece através do reflexo.

No elenco, Joaquin Phoenix mais uma vez manda muito bem, não será surpresa se ganhar outra indicação ao Oscar. Não há destaques no resto do elenco, o filme é só do Joaquin Phoenix. Também no elenco, Patti LuPone, Amy Ryan, Nathan Lane, Kylie Rogers, Denis Ménochet, Parker Posey, Zoe Lister-Jones, Richard Kind e Stephen McKinley Henderson. Ah, temos os jovens Armen Nahapetian e Julia Antonelli, interpretando versões adolescentes do Joaquin Phoenix e da Parker Posey. Se o garoto Armen é parecido com Joaquin, achei a Julia IGUAL à Parker!

Com intermináveis quase 3 horas de duração (são 2 horas e 59 minutos!), acredito que Beau Tem Medo vai desagradar a maior parte do público. Vou torcer para Ari Aster voltar mais inspirado no seu próximo projeto, lembro que não gostei de O Farol, dirigido por Robert Eggers, mas gostei muito do filme seguinte do diretor, O Homem do Norte. Aguardemos.

A Morte do Demônio: A Ascensão

Crítica – A Morte do Demônio: A Ascensão

Sinopse (imdb): Beth visita sua irmã mais velha, Ellie, que está criando 3 filhos em um apartamento apertado em Los Angeles. Sua reunião é curta quando eles encontram um livro demoníaco, The Necronomicon Ex-Mortis.

Antes de falar do filme, posso faltar um pouco sobre o mercado cinematográfico? Evil Dead é uma marca muito forte. O primeiro filme, de 1981, é um clássico incontestável e revolucionário. Foram duas continuações, um remake, e três temporadas de uma série de TV (isso porque não vou entrar em outras mídias). Resumindo: Evil Dead é uma franquia importante.

Fazer parte de uma franquia dessas tem um ponto positivo, que é trazer público. Mas também tem um ponto negativo: A Morte do Demônio: A Ascensão não é exatamente ruim, mas é bem inferior ao outro A Morte do Demônio. E, por fazer parte da franquia, a comparação é inevitável.

Escrito e dirigido por Lee Cronin, A Morte do Demônio: A Ascensão tem seus pontos positivos. Para manter o espírito da franquia, rolam travellings de câmera, muito gore e litros de sangue, e ainda tem uma motosserra e um olho voando (e também tem uma referência a O Iluminado). Além disso, a trilha sonora é boa e a vilã é excelente.

Uma das minhas críticas à versão de 2013 era que tinham feito um filme sério. Se você quer fazer parte de uma franquia, tem que respeitar as características dessa franquia. E a galhofa é uma das características mais marcantes dos três filmes dirigidos por Sam Raimi. Este novo A Morte do Demônio: A Ascensão não é tão galhofa quanto a trilogia original, mas tem uma boa dose de humor negro.

O humor negro ajuda a amenizar a quantidade de gore e de sangue. Neste aspecto, A Morte do Demônio: A Ascensão não decepciona: tem MUITO sangue, principalmente na parte final (segundo o imdb, foram usados 6.500 litros de sangue artificial). Ah, outra coisa: gostei de algumas sacadas criativas sobre o posicionamento da câmera, como por exemplo uma cena mostrada através do olho mágico.

Não conhecia ninguém do elenco, mas diria que todos estão bem. Vou além: gostei muito da Alyssa Sutherland, que faz a mãe. Ela é assustadora! Também no elenco, Lily Sullivan, Gabrielle Echols, Morgan Davies e Nell Fisher.

Falemos sobre o livro. A sinopse do imdb fala que é o Necronomicon, mas acho que não é o mesmo livro. E durante o filme falam que são três livros diferentes. Me parece que este é um livro semelhante, mas não é o mesmo dos outros filmes. Além disso, a gente precisa lembrar que a palavra “Necronomicon” é de autoria do H.P. Lovecraft, e não tenho ideia de como são os direitos autorais sobre isso, talvez tenham mudado por causa dos direitos.

Agora, na minha humilde opinião, o filme seria melhor se tirasse do título a parte “A Morte do Demônio”. Exatamente a mesma história: um garoto encontra um livro e um disco, e isso libera uma entidade que possui as pessoas. Ia vender menos ingressos, sei disso. Mas não ia ser comparado com o filme clássico, então ia ser um produto final melhor. Pena que no mercado de hoje em dia coisas assim são necessárias.