Kill – O Massacre no Trem

Crítica – Kill – O Massacre no Trem

Sinopse (imdb): Durante uma viagem de trem por Nova Deli, capital da Índia, uma dupla de soldados enfrenta um exército de bandidos invasores.

Pouco mais de um ano atrás vi o indiano RRR, que explodiu minha cabeça, e pensei “preciso ver mais filmes indianos!” Mas, muitos outros filmes apareceram na frente, e deixei de lado a tarefa de procurar outros títulos feitos na Índia. Até que me apareceu este Kill, que me lembrou: preciso conhecer melhor o cinema indiano!

Kill – O Massacre no Trem parece um “The Raid” no trem. E, filme indiano, tem um lado melodramático muito forte, coisa que não rola no filme indonésio. (Só não tem o momento musical com dança coreografada!)

(Breve parênteses pra falar de The Raid: são dois filmes, feitos na Indonésia, lançados em 2011 e 2014, e que podem tranquilamente figurar em qualquer lista de melhores filmes de ação deste século. Aqui no Brasil ganharam o nome de Operação Invasão. Se você não conhece, recomendo fortemente!)

Dirigido por Nikhil Nagesh Bhat, Kill – O Massacre no Trem (Kill, no original) é um filme que vai direto ao assunto. Depois de uma breve introdução onde conhecemos o casal apaixonado (sim, é melodramático!), o filme embarca no trem e a partir daí, é basicamente só violência até o final.

Tem um detalhe que achei bem legal, e que Hollywood não costuma fazer: o protagonista é muito “mocinho”, o cara tem que ser bonito, forte, apaixonado, e, principalmente, um cara “do bem” – ele enfrenta adversários, mas acho que não mata ninguém. Mas, lá pelo meio do filme, acontece uma reviravolta que muda uma chave e o cara vira uma máquina de matar. E o filme é bem claro nessa virada de chave, aparece um “KILL” escrito no meio da tela!

Outra diferença para o cinema hollywoodiano está no uso da trilha sonora, que realça o melodrama. Tem uma cena logo no início, primeira sequência do filme, que exemplifica bem isso, quando mostra quem é o mocinho. Ele está de costas, de capacete, e quando vira e tira o capacete, a trilha sobe!

Claro, alguns vão dizer que falta história. É verdade, a história é meio rasa. Até agora não entendi bem o plano dos bandidos, era tudo aquilo por um simples assalto? Mas por outro lado, as cenas de ação compensam. São MUITAS sequências de luta, luta no mano a mano, luta com armas brancas, todas bem coreografadas, e com um grau de violência muito maior do que a média que costuma ser exibida nos cinemas – às vezes o gore lembra filmes de terror. E a ideia de ser num trem é boa, porque limita os confrontos.

(Um detalhe que esqueci de comentar: aparentemente todos os bandidos são parentes, o que amplia o sentimento de vingança quando um mocinho começa a matar geral.)

Sobre o elenco, achei estranho ver quando o filme acaba, no início dos créditos, a frase “introducing Lakshya”, o ator principal. Antes desse filme o cara não era ator? Tentei descobrir pela internet de onde ele veio, para estar como “introduction”. Segundo o que entendi pelo imdb e wikipedia, ele veio da TV, este filme seria sua estreia no cinema. Enfim, o cara é bom, tem carisma, luta bem, e tem uma cena sem camisa que deve lhe gerar alguns fã clubes.

Mesmo entendendo que falta uma profundidade na história e que os personagens são unidimensionais, gostei muito de Kill – O Massacre no Trem. Grandes chances de entrar no meu top 10 2024!

Os Fantasmas Ainda se Divertem

Crítica – Os Fantasmas Ainda se Divertem

Sinopse (imdb): Após uma tragédia familiar, três gerações da família Deetz voltam para casa em Winter River. Ainda assombrada por Beetlejuice, a vida de Lydia vira de cabeça para baixo quando sua filha adolescente acidentalmente abre o portal pós a morte.

Finalmente uma continuação do clássico oitentista Os Fantasmas se Divertem!

Lançado em 1988, Os Fantasmas se Divertem é um dos mais icônicos filmes da carreira de Tim Burton (diretor que coleciona títulos icônicos). Trinta e seis anos depois vemos a continuação, e a boa notícia é que quase todo o time principal está de volta.

Os Fantasmas se Divertem marcou toda uma geração com seu visual, personagens, figurinos e cenários característicos, além de muito humor negro (afinal, o filme trazia personagens mortos!). E Os Fantasmas Ainda se Divertem (Beetlejuice Beetlejuice, no original) traz tudo isso de volta.

Décadas se passaram, mas Beetlejuice ainda quer sair do mundo dos mortos e se casar com Lydia Deetz (Winona Ryder), que hoje tem um programa de TV ligado ao mundo sobrenatural e tem problemas de relacionamento com a filha.

Preciso dizer que gostei muito dos efeitos especiais. Alguns efeitos usados no filme de 88 são efeitos práticos que ficaram característicos, mas ao mesmo tempo são efeitos datados – com o cgi de hoje em dia ninguém mais usa efeitos como aqueles. Mas aqui em Os Fantasmas Ainda se Divertem há um bom equilíbrio entre os efeitos práticos e o cgi, e o resultado ficou muito bom. Vou além: adorei ver que aquela cobra da areia continua sendo stop motion!

A trilha sonora de Danny Elfman é tão boa quanto a do primeiro filme. Já os momentos musicais, nem tanto. O primeiro filme tem uma cena musical muito famosa, na mesa de jantar com a música Banana Boat Song. Parece que quiseram recriar algo assim, com a cena da igreja e a música MacArthur Park, mas a cena ficou interminavelmente longa. Foi cansativo chegar ao fim.

Alguns comentários sobre o elenco. Em primeiro lugar, todos os elogios possíveis ao Michael Keaton. Ele está ótimo como Beetlejuice, e como o personagem usa muita maquiagem, nem deu pra reparar que tanto tempo se passou (Alec Baldwin e Geena Davis não tinham como voltar porque os fantasmas não envelhecem mas os atores envelheceram). O humor do Beetlejuice é alucinado, e Keaton parece muito confortável no papel. No mundo dos vivos, o filme se divide entre as três gerações, Catherine O’Hara e Winona Ryder voltam aos seus papéis, e Jenna Ortega aparece como a novidade (possivelmente pensando num terceiro filme).

Danny De Vito só aparece em uma cena, uma ponta de luxo. Agora, não sei se gostei de outras duas participações no elenco. Willem Dafoe está bem, como sempre, mas seu papel é meio descartável. E ainda mais descartável é a Monica Bellucci, que parece que ganhou um papel só porque é a atual namorada de Tim Burton. Willem Dafoe e Monica Bellucci não estão mal, mas parecem desperdiçados. Tire os dois personagens e o filme não perde nada.

Ainda sobre o elenco, o personagem de Jeffrey Jones é importante para a trama, mas o ator esteve envolvido com pedofilia em 2003, então o roteiro criou uma solução para ter o personagem, mas não o ator.

Quem gosta do filme original vai curtir essa continuação!

A Vingança de Cinderela

Crítica – A Vingança da Cinderela

Sinopse (imdb): Cinderela é levada longe demais por sua madrasta e meio-irmãs malvadas, o que a faz trocar os sapatos de vidro e usar a ajuda de sua Fada Madrinha para buscar uma vingança sangrenta.

Uns 3 meses atrás comentei A Maldição da Cinderela, um filme vagaba que trazia uma versão terror da Cinderela. Este não é o mesmo filme, é outro filme vagaba que traz uma versão terror da Cinderela!

Vamulá. Não que A Vingança da Cinderela seja um bom filme, mas pelo menos é bem menos ruim que A Maldição da Cinderela. Aqui pelo menos tem uma história sendo contada, e ainda tem alguns detalhes interessantes.

Por exemplo, tem uma sacada aqui que achei uma boa ideia. Provavelmente por razões orçamentárias, a fada madrinha viaja no tempo e em vez de carruagem a Cinderela vai para o baile num carro Tesla (isso dentre outras coisas atemporais). Isso serve de desculpas pra algumas incorreções históricas, tipo aquela tatuagem do capanga da madrasta – uma tatuagem daquelas, colorida e cheia de detalhes, não combina com a época da Cinderela.

O filme de três meses atrás quase não tinha história, poderia ser um curta. Aqui, rola a história “clássica” (Cinderela maltratada pela madrasta e pelas filhas dela, fada madrinha, baile, sapatinho de cristal, etc) na primeira metade do filme, e ainda tem uma segunda metade com a tal vingança do título. A partir daí, A Vingança da Cinderela vira um filme de terror de verdade e temos algumas mortes bem filmadas.

Agora, precisamos reconhecer que o filme tem umas tosqueiras bem toscas. O roteiro é preguiçoso, os cenários e figurinos são pobres, e o elenco é péssimo!

No elenco, um nome conhecido: Natasha Henstridge, que chamou a atenção como uma das alienígenas mais belas do cinema em 1995, em A Experiência, e fez alguns filmes na época, como Risco Máximo (com Jean Claude Van Damme) e Adrenalina (com Christopher Lambert), e chegou até a fazer um filme no Brasil, Bela Dona, mas que depois sumiu – o último filme que vi com ela foi Meu Vizinho Mafioso 2, de 2004. (O imdb dela tem vários títulos depois disso, mas não vi nenhum). Natasha faz a fada madrinha, gostei de vê-la aqui. Ela é bem melhor que as atrizes que fazem a madrasta e suas filhas! Lauren Staerck faz o papel título.

Repito o que disse: não é um grande filme, mas pode ser uma boa diversão se você estiver no clima certo.

Hellboy e o Homem Torto

Crítica – Hellboy e o Homem Torto

Sinopse (imdb): Hellboy se une a uma agente novata da B.P.D.P. na década de 1950 e são enviados para os Apalaches. Lá, descobrem uma remota e assombrada comunidade, dominada por bruxas e liderada pelo sinistro demônio local, conhecido como o Homem Torto.

Ninguém pediu, mas tem um Hellboy novo em cartaz. O último, de 2019, foi tão irrelevante que nem me lembro de nada dele.

Em vez de um novo recomeço com uma nova história de origem, Hellboy e o Homem Torto (Hellboy: The Crooked Man, no original) traz uma história avulsa, e isso é uma boa coisa, porque não perdemos tempo e o filme já começa na ação. E preciso reconhecer que esse início foi bom, gostei da sequência dentro do vagão do trem.

Só que logo depois daí nada mais funciona. A trama é ao mesmo tempo arrastada e confusa. Um exemplo simples: logo depois da sequencia do trem, os personagens são apresentados a um menino que está sob o efeito de uma bruxa – e essa historia do menino não tem conclusão! Ou, mais pro fim do filme, tem um exemplo ainda pior. O grupo se divide em dois. Metade vai em uma missão que até agora ainda não entendi direito o objetivo. A outra metade resolve fazer outra coisa, mas essa jornada secundária acaba no meio! Os personagens apenas se juntam no final, e o filme deixa pra lá o que o segundo grupo tentou fazer.

Junte a esse roteiro atuações ruins e efeitos especiais pobres (a cobra parece efeito de app de celular), e temos mais um Hellboy esquecível como aquele de cinco anos atrás. Pena, porque gostei da ideia de se fazer um filme de terror (os outros três filmes tinham uma pegada de filmes de super herói).

A direção é de Brian Taylor, que fez Adrenalina e Gamer, que são filmes legais, mas também fez o segundo filme do Motoqueiro Fantasma, que é ruim com força. Hellboy e o Homem Torto está mais próximo de Motoqueiro Fantasma.

Não conhecia ninguém do elenco. Não tem nenhum destaque, mas se posso fazer uma “crítica head canon”, acho que o Hellboy deveria ter a voz mais grave. Senti saudades do Ron Perlman.

No fim, Hellboy e o Homem Torto é apenas mais um filme esquecível. Nem vale o ingresso do cinema.

O Corvo

Crítica – O Corvo

Sinopse (imdb): Eric Draven e Shelly Webster são almas gêmeas conectadas por um passado sombrio. Após o brutal assassinato do casal, é concedido a Eric uma chance de salvar seu verdadeiro amor. Ele, então, embarca em uma jornada implacável por vingança.

Antes de tudo, peço desculpas pelo atraso. Tinham duas sessões de imprensa no mesmo dia, O Corvo e Longlegs. Escolhi o segundo, e vi O Corvo depois, no circuito.

Rolava um certo receio. A sessão de imprensa foi no dia da estreia. Já comentei em outras ocasiões, quando a assessoria “esconde” o filme, normalmente é porque não é bom. Entrei na sala de cinema com a expectativa lá embaixo. Mas, olha, não é que me surpreendeu positivamente? Não que O Corvo (The Crow, no original) seja um grande filme, mas não é a catástrofe anunciada.

A HQ O Corvo teve uma adaptação em 1994, muito cultuada. Trazia um visual de videoclipe e causou uma grande comoção porque Brandon Lee, o ator principal, morreu no set, quando faltavam poucos dias para encerrarem as filmagens. Mas heu não gosto muito daquele filme, porque acho que o personagem principal ganha super poderes meio que do nada. O cara é assassinado logo no início do filme e já volta com a habilidade do Batman e poder de regeneração do Wolverine.

No novo filme, dirigido por Rupert Sanders (Ghost in the Shell, Branca de Neve e o Caçador, a gente conhece mais a fundo o relacionamento do casal, e quando ele volta dos mortos não está exatamente pronto para enfrentar os inimigos, ele apanha muito antes de conseguir seus objetivos. Outra coisa importante: o grande vilão tem uma conexão sobrenatural, o que justifica um personagem voltar dos mortos para enfrentá-lo. Nessa parte o filme novo é melhor.

Por outro lado, preciso dizer: se no filme de 94 tudo foi muito abrupto, neste filme achei que a parte do relacionamento do casal se estendeu demais. Ok, a gente já entendeu, bora seguir com a história!

(Os dois filmes são bem diferentes. Não li a HQ, não sei qual dos dois filmes é mais fiel.)

O Corvo ainda tem uma outra coisa melhor que o filme dos anos 90. A parte final, onde o protagonista enfrenta vários adversários num teatro onde está acontecendo uma ópera, é muito boa. Boas coreografias de luta – coreografias que conversam com as coreografias da ópera. Muita violência, muito sangue, várias partes de corpos decepadas, é uma sequência longa e muito boa.

No elenco, o nome a ser citado é Bill Skarsgård, mais uma vez mandando muito bem. O cara é bom ator e ainda tem porte físico compatível com o personagem. FKA twigs, cantora em seu primeiro filme (e que heu nunca tinha ouvido falar), faz o principal papel feminino, e funciona pro que o filme pede. O outro nome famoso é Danny Huston, que faz mais uma vez um vilão, igual a vários outros que ele já fez.

Achei o resultado final ok. Vejo muita gente em volta odiando esta nova versão, mas não achei motivo pra tanto ódio, me parece que são fãs do filme de 94 que não aceitam uma nova versão. Mas, como falei, é apenas ok. Porque no sub gênero “filme de vingança”, achei Contra o Mundo, estrelado pelo mesmo Bill Skarsgård, muito melhor que esse O Corvo.

Deep Web: O Show da Morte

Crítica – Deep Web: O Show da Morte

Sinopse (imdb): Buscando pistas sobre a morte de sua irmã, um podcaster acaba na deep web e descobre o THE MURDERSHOW, um site onde o maior lance em criptomoedas seleciona como a vítima será morta. Se você está observando eles, eles estão observando você.

Escrito e dirigido por Dan Zachary, Deep Web: O Show da Morte (The Deep Web: Murdershow, no original) é daqueles filmes que tem tanta coisa ruim que é difícil saber por onde começar. Ideia mal desenvolvida, atores ruins, efeitos pobres, tudo deu errado.

Um exemplo logo de cara: o filme começa com uma mulher que acorda numa floresta, com uma câmera presa no peito e câmeras presas nas árvores. A narrativa alterna com flashbacks da noite anterior, quando vemos que ela foi sequestrada. Ok, sequestram uma mulher e a jogam numa espécie de reality show, numa floresta. Podemos seguir a partir dessa ideia. Mas… Logo aparecem os sequestradores e a levam para um local fechado. Caramba, pra que serve criar uma ambientação numa floresta, com câmera presa no peito e câmeras nas árvores, se o filme não vai usar isso???

E o roteiro segue com várias coisas sem nenhuma lógica, como uma mulher que é presa numa gaiola, mas ninguém vê que ela tem um canivete no bolso; ou um homem que faz uma anotação de um endereço num papel e guarda no bolso, e é assassinado logo depois, e o amigo quando vê o cara morto, a primeira coisa que faz é pegar o papel no bolso do cadáver. Chega ao ponto de ter um diálogo entre duas amigas, presas em cativeiro, com uma parede entre elas, onde uma não reconhece a voz da outra! Você precisa ouvir o nome do seu amigo pra reconhecer a voz dele?

Deep Web: O Show da Morte podia pegar um “caminho Terrifier“, que é um filme meio vagabundo mas pelo menos tem muito gore. Existe público pra isso. Mas nem no gore funciona, Deep Web: O Show da Morte mostra poucas cenas de violência gráfica, e nessas poucas, é tudo muito mal feito.

Preciso falar das atuações. O ator principal precisa estar triste porque sua irmã morreu, e ele passa algumas cenas forçando um choro, numa atuação que há tempos não vejo algo tão ruim! E infelizmente não é o único ator ruim.

O final do filme é um bom exemplo de incoerência do roteiro: aparentemente pela tentativa de criar um gancho pra continuação, resolvem fazer um dos tais leilões, mas com as pessoas presentes. Caramba, o nome do filme é “DEEP WEB”! Essas pessoas não vão aparecer presencialmente!!!

Pra não dizer que odiei tudo, achei que a sequência onde os “mocinhos” enfrentam os “vilões” é fraca, mas dentro de um limite aceitável. Mas, em um filme onde tudo está muito abaixo da média, ver uma sequência apenas “fraca” não melhora muita coisa.

Por fim, deu pena do diretor e roteirista Dan Zachary. No fim do filme aparece uma homenagem, descobrimos que ele faleceu. Deu pena porque será lembrado por um filme bem tosco.

Longlegs: Vínculo Mortal

Crítica – Longlegs: Vínculo Mortal

Sinopse (imdb): Uma agente do FBI é designada para um caso envolvendo um assassino em série impiedoso. Conforme desvenda pistas, ela se vê confrontada com uma conexão pessoal inesperada com o assassino, lançando-a em uma corrida contra o tempo.

Longlegs é o novo projeto da produtora Neon, que tem alguns grandes títulos no catálogo, como Parasita e Anatomia de uma Queda, mas que também tem vários títulos bem alternativos, como Pig, Titane, Infinity Pool e Triângulo da Tristeza. Longlegs se encaixa mais nesse segundo grupo, um filme esquisitão, que vai dividir a opinião de boa parte do público.

A direção e o roteiro são de Oz Perkins, filho de Anthony Perkins, aquele mesmo, de Psicose. Lembro de Maria e João, do mesmo diretor, filme com um visual ótimo, mas com um resultado final bem chato. Oz Perkins mandou melhor em Longlegs.

Longlegs parece uma mistura de Silêncio dos Inocentes com Zodíaco, mas em versão terror. Um filme lento e tenso, onde acompanhamos uma agente do FBI envolvida em uma série de crimes que aconteceram nas últimas décadas, crimes misteriosos onde o suspeito nunca estava presente, mas sempre deixava no local uma carta em código.

Longlegs é assumidamente esquisitão. É daquele tipo de filme que não explica muita coisa, e que guarda elementos pra serem expostos nos momentos certos. Heu me senti envolvido pelo mistério de um suposto assassino que nunca aparece até o local do crime – e não falo mais por causa de spoilers.

Um parágrafo à parte pra falar da atuação do Nicolas Cage. Achei estranho quando vi o trailer e reparei que Cage não aparece – como assim você tem um nome importante no seu elenco e escolhe não mostrá-lo no trailer? Mas foi um acerto. Cage aparece pouco, mas é uma atuação muito intensa. Me lembrei de Mandy – Cage é exagerado, ele é conhecido pelo over acting, e Mandy soube usar isso, criando um personagem propositalmente acima do tom. Longlegs faz algo semelhante, Cage aqui está muito exagerado, e isso combina perfeitamente com a proposta do personagem.

Maika Monroe, protagonista, também está bem, mas quem se destaca é Cage, mesmo com muito menos tempo de tela. Ainda no elenco, Alicia Witt, aquela mesma de Duna (84) e Lenda Urbana (98).

Como comentei no início, Longlegs não é pra qualquer público, quem prefere o “terror parque de diversões” à la James Wan vai reclamar. Mas é uma boa opção pra quem curte um filme fora da curva.

Pisque Duas Vezes

Crítica – Pisque Duas Vezes

Sinopse (imdb): Quando o bilionário da área de tecnologia Slater King conhece a garçonete Frida em sua festa de gala para arrecadar fundos, ele a convida para se juntar a ele e seus amigos em férias de sonho em sua ilha particular.

Pisque Duas Vezes (Blink Twice) é o filme de estreia como diretora da atriz Zoë Kravitz (Batman), filha de Lenny Kravitz e Lisa Bonet (ela também é co-autora do roteiro). E podemos dizer que ela mandou bem em sua estreia.

Pisque Duas Vezes é daquele tipo de filme onde vemos uma situação aparentemente normal acontecendo em primeiro plano, mas tem algo muito estranho escondido em segundo plano, algo que será revelado em um plot twist – ouvi comparações com Corra e Não se Preocupe Querida. Sim, é daquele tipo de filme que precisamos prestar atenção nos detalhes!

Falei que a Zoë Kravitz mandou bem, né? Pisque Duas Vezes é muito bem filmado. Muitos closes, várias imagens subliminares jogadas estrategicamente, cada take parece muito bem pensado e muito bem filmado. A edição é cheia de detalhes, elementos soltos jogados aqui e ali, que vão se juntar num grande quebra cabeças final. A trilha sonora também é boa.

Pisque Duas Vezes traz algumas cenas bem violentas na parte pós plot twist, mas não entrarei em detalhes por causa de spoilers. Aliás, recomendo que vocês fujam de spoilers!

Assim como acontece frequentemente em filmes dirigidos por atores, Pisque Duas Vezes tem um ótimo trabalho com o elenco. O filme é estrelado por Naomi Ackie, não conhecia a atriz, e ela manda muito bem. Channing Tatum esta sensacional, num papel bem diferente do que costuma fazer. Adria Arjona também surpreende, num papel que parecia superficial mas se mostra bem mais complexo. E o filme traz vários atores conhecidos que não são “de primeira linha”, como Christian Slater, Haley Joel Osment, Geena Davis e Kyle MacLachlan. Também no elenco, Alia Shawkat, Simon Rex, Trew Mullen, Liz Caribel e Levon Hawke (sim, irmão da Maya Hawke).

Não gostei do final, do que acontece na cena final. Não estraga o bom trabalho da Zoë Kravitz, quero ver seu próximo filme como diretora, mas, acho que aquela cena final ficou um pouco deslocada.

Harold e o Lápis Mágico

Crítica – Harold e o Lápis Mágico

Sinopse (imdb): Dentro do seu livro, o aventureiro Harold consegue dar vida a qualquer coisa ao desenhá-la. Depois de crescer e se desenhar fora das páginas do livro e dentro do mundo real, Harold descobre que tem muito o que aprender sobre a vida real.

Filme live action dirigido por Carlos Saldanha!

Sou fã do Carlos Saldanha, um carioca que deu certo em Hollywood – o cara dirigiu A Era do Gelo, Rio e Touro Ferdinando, e chegou a ser indicado ao Oscar duas vezes (por Touro Ferdinando e por um curta do esquilo Scratch), e ainda foi um dos criadores de Cidade Invisível!

Harold e o Lápis Mágico (Harold and the Purple Crayon, no original) é baseado em um livro que heu nunca tinha ouvido falar, e traz uma história meio bobinha sobre um personagem de um livro infantil que vai para o mundo real para tentar encontrar o seu criador. Sim, o filme é meio bobinho, mas, a gente precisa lembrar de quem é o público alvo. E entrando na sala de cinema com isso em mente, é um filme bem gostoso de se acompanhar.

Harold e o Lápis Mágico tem uma introdução em animação, mas é quase todo live action. E preciso dizer que gostei dos efeitos especiais de quando o tal lápis mágico é usado no mundo real – vemos o personagem desenhando no ar e sua criação ganhando forma. Esses efeitos ficaram muito bons!

(Agora, como falei, é filme direcionado para a garotada, então tem algumas coisas que é melhor a gente não ficar pensando, tipo, que fim levou aquele avião que estava no ar sem ninguém pra pilotá-lo?)

No elenco, ouvi críticas sobre a escolha de Zachary Levi, porque ele está meio bobão no personagem, e lembra o papel que ele fez em Shazam. Mas, será que ele não foi chamado justamente pra fazer algo parecido com o que ele fez em Shazam? Uma criança em corpo de adulto? Heu particularmente não achei a escolha ruim. E gostei dos dois coadjuvantes que eram bichos no desenho mas viraram humanos no mundo real, o alce de Lil Rel Howery e a porco espinho de Tanya Reynolds. Também no elenco, Zooey Deschanel, Benjamin Bottani e Jemaine Clement.

(Quantos filmes a gente conhece onde os dois principais nomes começam com “Z”, Zachary Levi e Zooey Deschanel?)

No fim do filme, fiquem, no meio dos créditos tem uma cena bem divertida!

Harold e o Lápis Mágico teve uma pré estreia aqui no Rio com a presença do próprio Carlos Saldanha, e entra em cartaz esta semana. Recomendo para quem tiver filhos pequenos!

Sob as Águas do Sena

Crítica – Sob as Águas do Sena

Sinopse (imdb): Um tubarão gigante apareceu no rio Sena, em Paris. Para evitar a catástrofe, uma cientista vai ter que encarar as tragédias do próprio passado.

Olimpíadas em Paris rolando, fui catar um filme relacionado. Que tal Sob as Águas do Sena (Sous la Seine, no original), filme francês de tubarão que se passa em Paris às vésperas dos jogos?

Dirigido por Xavier Gens, diretor do ultra violento Frontière(s), de 2007, e que recentemente dirigiu alguns episódios da série Gangs of London, Sob as Águas do Sena traz um tubarão no Rio Sena. É uma ideia aparentemente absurda, mas, na verdade um tubarão já foi avistado no rio Tâmisa, em Londres. Claro que o filme exagera essa ideia, e o tubarão aqui é mutante, muito maior que o normal, e se reproduz muito mais rápido.

Para tentar se diferenciar um pouco dos clichês de filme de tubarão, Sob as Águas do Sena tem um grupo de personagens ecologistas radicais, daqueles que querem salvar o tubarão, mesmo que pra isso humanos precisem morrer. Mas, não sei se foi proposital ou não, mas esse grupo de ecochatos é muito irritante. Tanto que – pequeno spoiler – quando o tubarão ataca a líder do grupo, comemorei!

De resto, Sob as Águas do Sena é mais do mesmo. Um tubarão de cgi que às vezes funciona, outras vezes não, algumas boas cenas de ataques de tubarão, e outras cenas onde a gente se questiona qual é a lógica – tipo aquela cena nas catacumbas onde metade das pessoas, do nada, começa a se desequilibrar e cair na água; ou uma cena onde vemos dezenas de tubarões adultos e se pergunta como eles se alimentam (até aquele momento só o tubarão principal tinha aparecido para o público).

No elenco, achei uma agradável surpresa ver Bérénice Bejo, de O Artista, no papel principal. Não que seja um papel que exija muito talento, mas pelo menos ela manda bem.

Agora, preciso comentar uma coisa, mas é sobre o fim do filme, então vamos aos avisos de spoilers

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

Queria comentar duas coisas que acontecem no fim do filme. Uma delas é bem forçada, mas está dentro da lógica proposta pelo filme. A outra, sinceramente não entendi de onde veio.

Vamos para a primeira. No início do filme, vemos duas pessoas com detectores de metais procurando coisas no fundo do rio Sena, que acham uma bomba. O filme então explica que existem bombas no fundo do rio. Pelo que entendi, essas bombas estão lá desde a Segunda Guerra Mundial, ou seja, há quase 80 anos. Até aí, ok. No fim do filme, vemos pessoas atirando, para tentar matar o tubarão, e um desses tiros atinge uma bomba e causa uma explosão. De novo, até aí, ok. O problema é que essa explosão de bomba causa uma reação em cadeia e várias outras bombas em volta também explodem. O filme mostra dezenas de explosões ao longo do rio, destruindo várias pontes. Não vou reclamar disso, afinal o filme menciona a existência dessas bombas. Mas é esquisito pensar que tem bombas no fundo do rio há quase 80 anos e que, de repente, todas vão explodir em uma reação em cadeia.

Já o segundo comentário é sobre uma coisa que heu sinceramente não entendi de onde veio. De repente aparece um tsunami vindo pelo rio. E as cenas finais do filme mostram Paris debaixo da água. Sabe as imagens que a gente viu do Rio Grande do Sul esse ano, com cidades submersas? Pois é, Paris está daquele jeito. Não entendo muito da geografia de Paris, da geografia da França, mas, pelo que heu lembro, não tem como represar aquela água toda. De onde veio toda aquela água que inundou Paris, e por que a água não escoou?

Sério, se alguém souber a resposta, me avise!

FIM DOS SPOILERS!

Mesmo com esse fim completamente aleatório, Sob as Águas do Sena serve para o proposto. Porque afinal, ninguém vai esperar muito de um filme de tubarão no rio Sena.