Alice: Subservience

Crítica – Alice: Subservience

Sinopse (prime vídeo): Com sua esposa no hospital (Madeline Zima), um pai em dificuldades (Michael Morrone) compra uma Inteligência Artificial para ajudá-lo em casa. Mas à medida que o robô (Megan Fox) se afeiçoa ao se novo dono, os limites começam a se cruzar. Logo ela está determinada a eliminar o que considera ser a verdadeira ameaça à sua felicidades: sua família.

Nos meus tempos de videolocadora, lembro que dividiam os lançamento em duas categorias: filme de ponta, que era aquele filme com atores famosos, que estava no cinema meses atrás; e o filme de apoio, que eram filmes menos conhecidos, normalmente com menor qualidade, que estavam lá pra quando o cliente não conseguia o filme de ponta e queria levar algo novo pra casa. Anos depois, esses “filmes de apoio” passaram a ir direto pra tv a cabo. Hoje, é o grosso das produções feitas pelos streamings. Com atores fracos e roteiro preguiçoso, este Alice: Subservience tem esse perfil.

Mas antes de tudo, um elogio à escolha da Megan Fox como robô. Megan Fox tem duas características muito marcantes: ela é muito bonita, e não é muito expressiva (sim, é uma atriz ruim). Escalá-la como um robô foi perfeito! Michele Morrone faz o pai que compra a robô, ele é conhecido pelos filmes 365 Dias, que não vi mas ouvi falar que são todos muito ruins, mas aqui posso dizer que ele é tão ruim quanto a Megan Fox. O outro nome importante no elenco é Madeline Zima, que me lembro de Californication, e que aqui não atrapalha, mas o filme é mais focado nos outros dois.

Comentei que parecia um filme de apoio, ou filme de tv a cabo. A produção segura a onda na nudez e violência, coisa típica daquele tipo de produção. Alice: Subservience tinha justificativa pra mostrar nudez e violência, mas segura a mão e não mostra quase nada. Vejam bem, um filme não precisa ter nudez e violência, mas se tivesse aqui, eram grandes as chances do resultado final ser melhor. A gente vê cenas de sexo, com as duas atrizes, mas nada de nudez – não me lembro da Megan Fox nua em nenhum filme, ela sempre faz o papel de mulher sexy, mas nunca mostra nada; Madeline Zima teve cenas de nudez em Californication, mas aqui me pareceu que sua nudez foi borrada digitalmente. Já pela violência, vemos a robô matando pessoas. Mostrar um pouco mais de sangue e gore agregaria valor…

O que sobra é um roteiro previsível e preguiçoso. E se a gente parar pra pensar, tem algumas falhas estranhas. Tipo, estamos em uma sociedade no futuro onde temos robôs super evoluídos, mas onde ninguém pensou em criar um coração artificial?

Ok, vamos dizer que uma tecnologia evoluiu mas a outra não. Mas então a gente pode pensar em várias coisinhas ao longo do filme que não fazem muita lógica. Tipo, trocam funcionários de uma obra por robôs. E por que os robôs precisam “descansar” em vez de trabalhar à noite? Ou ainda quando a Megan Fox quer arrancar o coração da outra mas antes precisa atirá-la longe. Pra que??? Ou um robô que não ouve humanos logo ao lado. Ou uma ala de pediatria no hospital onde não tem nenhum funcionário. Ou…

Alice: Subservience ainda tem outro problema, mas talvez seja uma espécie de head canon, porque é algo que estava na minha cabeça e não no filme. Mas é que o filme não entra na discussão filosófica sobre o uso da IA. Tinha espaço pra levantar questões sobre o quanto a IA pode entrar ou não na nossa vida, e ainda tinha espaço pra questão delicada: sexo com robô seria traição? (Lembrei de Ex Machina, quando levantam a questão de se um humano pode se apaixonar por uma IA.) Mas, nada. Nenhuma discussão. Tudo raso…

No fim, Alice: Subservience nem é ruim. Mas fica a sensação de que estamos vendo só porque o “filme de ponta” estava alugado pra outra pessoa.

O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim

Crítica – O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim

Sinopse (imdb): Em Rohan, um ataque surpresa de Wulf, um senhor Dunlendino astuto e implacável em busca de vingança pela morte de seu pai, força o rei Helm Mão-de-Martelo e seu povo a fazerem uma última resistência ousada na antiga fortaleza de Hornburg.

Depois de décadas, O Senhor dos Anéis volta para a animação!

(Pra quem não sabe ou não se lembra, em 1978, muito antes da famosa e premiada trilogia do Peter Jackson, Ralph Bahshi dirigiu uma versão animada dos livros de Tolkien!)

A novidade agora é que a animação, dirigida por Kenji Kamiyama, é em estilo anime. O visual da animação é muito bonito. É curioso ver nos cinemas uma animação “old school”, comentei aqui outro dia sobre Moana 2 e sua animação perfeita. O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim está longe dessa proposta, mas mesmo assim traz um belo visual.

O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim conta uma história que se passa 200 anos antes dos acontecimentos principais dos livros. Acompanhamos Hera, a filha do rei Helm Mão de Martelo. Li os três livros, mas não me considero um grande conhecedor de Tolkien. Me disseram que nos livros é citado que Helm tem uma filha, mas ela nem tem nome. Resolveram desenvolver então esta personagem, que ganhou o nome de Hera e virou a protagonista aqui.

Pra quem não gostou da série Anéis de Poder, a boa notícia é que aqui existe uma justificativa pra personagem feminina forte, não pareceu lacração. Afinal, ela é uma antepassada da Éowyn, que era uma personagem feminina forte nos livros e filmes. Gostei da Hera.

Aproveitando que falei dela, Miranda Otto, a Éowyn dos filmes, tem um papel aqui, narrando a história. Billy Boyd e Dominic Monaghan, Merry e Pippin nos filmes, também estão aqui, mas em outros papéis. Tem mais uma participação, numa cena curta no final, cena que parece ter sido inserida apenas por fan service.

O roteiro traz um problema. O nome do filme é “A Guerra dos Rohirrim”, e a gente lembra que no filme As Duas Torres tem uma batalha grandiosa no mesmo cenário, o Abismo de Helm. Aí a gente pensa no nome, e espera uma guerra ainda mais grandiosa. E a tal batalha do desenho é boa, mas bem inferior à do filme de 2002.

Como falei, no fim do filme rolam uns fan services. Nada importante pra trama, mas quem é fã vai curtir. Mas, talvez fosse melhor se colocassem como cenas pós créditos…

Wicked

Crítica – Wicked

Sinopse (imdb): Elphaba, uma jovem incompreendida por causa da pele verde, e Glinda, uma jovem popular, se tornam amigas na Universidade de Shiz, na Terra de Oz. Após um encontro com o Maravilhoso Mágico de Oz, a amizade delas chega a uma encruzilhada.

Sim, estou atrasado. A sessão de imprensa de Wicked foi num dia complicado pra mim, então abri mão. E pra falar a verdade, não estava empolgado, vi o trailer e parecia ser meio trash. Mas vários amigos viram e elogiaram, então resolvi ver no circuito.

Mas, preciso dizer que não gostei. Reconheço algumas coisas boas, mas no geral achei um filme excessivamente longo e cansativo.

Antes de tudo, preciso falar que nunca vi a versão teatral do musical. Até gosto de musicais, gosto de A Pequena Loja dos Horrores, Hairspray, Rent, La La Land, O Rei do Show, Hair, gosto de vários. Ou seja, meus comentários negativos não são pelo usual preconceito que pessoas têm com musicais.

Comecemos pelos pontos positivos. Achei que o visual seria trash, mas, ledo engano, o visual aqui é elaboradíssimo. Wicked é muito colorido e tem várias cenas exuberantes. Alguns dos números musicais também são muito bons, gostei do número na biblioteca – mas achei que aquela parte que roda podia ser mais explorada. Também gostei do número quando as duas chegam na cidade das esmeraldas.

É difícil comentar sobre o elenco, porque uma das principais, Ariana Grande, faz uma personagem insuportável. Mas não sei o quanto era do roteiro, pra gente odiar a personagem, ou o quanto é da atriz que não fez um bom papel. Volto a falar dela daqui a pouco. A protagonista é interpretada por Cynthia Erivo, e está bem apesar do papel clichê. Pelo menos as duas cantam bem. Também no elenco, Michelle Yeoh, Jeff Goldblum e Peter Dinklage como a voz do bode professor. Tem ainda uma participação especial da Idina Menzel e da Kristin Chenoweth, que fizeram Elphaba e Glinda no teatro.

Agora, vamos aos problemas? Em primeiro lugar, acho uma grande falta de respeito vender ingresso pra “Wicked” e quando começa o filme a gente ver que é “Wicked parte 1”. Por que diabos não avisam que a história estará incompleta? Fiz a mesma crítica com o primeiro Duna. Essas informações precisam estar na divulgação do filme!

E aí vamos para o principal problema de Wicked: são duas horas e quarenta! E só a primeira parte! (Quando passava no teatro, era quanto tempo? Mais de 5 horas?) O filme é cansativo. Tipo, ok, chega. Se tivesse uma hora a menos, seria muito melhor. A Pequena Loja dos Horrores, o meu musical favorito, tem uma hora e trinta e cinco. Fica a dica!

Duas horas e quarenta aturando uma personagem chata. G(a)linda é uma patricinha rica e mimada, sua personagem é insuportável. Ok, acredito que seja proposital, afinal o filme propõe inverter o que a gente viu no Magico de Oz, quem era do mal virou do bem e vice versa. Mas, isso precisa ser dosado. Focar meio filme numa personagem ruim enfraquece o resultado final.

Outra coisa que me incomodou foi a forçação de barra pras pessoas odiarem quem é verde. Ok, entendi o simbolismo, mas, num mundo onde tem um monte de coisas bem diferentes – como um bode professor universitário – uma pessoa de cor diferente não deveria ser algo tão estranho assim.

Enfim, acho que a produção partiu de uma boa ideia, mas se perdeu. Galera fã do musical deve curtir essa “versão estendida”, mas o público “normal” vai se cansar. E ainda vai ter uma segunda parte. Socorro!

Robô Selvagem

Crítica – Robô Selvagem

Sinopse (imdb): Após um naufrágio, um robô inteligente chamado Roz fica preso em uma ilha desabitada. Para sobreviver ao ambiente hostil, Roz se une aos animais da ilha e cuida de um ganso bebê órfão.

Um pouco atrasado, vamos comentar Robô Selvagem (The Wild Robot, no original), novo longa de animação da Dreamworks.

Escrito e dirigido por Chris Sanders (Lilo & Stitch, Como Treinar seu Dragão, Os Croods), Robô Selvagem é adaptação do livro homônimo escrito por Peter Brown, informação que só soube depois de ver o filme, e que, na minha humilde opinião, enfraquece o resultado final, porque seria um filme excelente se a história terminasse aqui. Mais tarde comento mais, na área de spoilers.

A ideia é muito boa: um robô programado pra ajudar humanos cai acidentalmente numa ilha onde não tem nenhum humano. O robô passa um bom tempo estudando toda a natureza que a cerca, e acaba mudando sua programação para ajudar os animais. Literalmente uma inteligência artificial aprendendo a se adaptar a um mundo completamente diferente do que consta em sua programação. No meio do processo, causa um acidente e vira mãe adotiva de um ovo de ganso. Ou seja, temos um início meio Wall-E, pra depois virar uma emocionante história de um robô que aprende a maternidade.

Lendo o parágrafo anterior, a gente pode pensar que Robô Selvagem pode ser um filme mais sério. Nada disso! O longa traz vários personagens carismáticos e bem divertidos, e traz várias cenas muito engraçadas. E ainda tem umas piadas de humor negro no início do filme, quando vemos bichos maiores comendo bichos menores.

(Comentário sobre os nomes em português. A robô se chama “Rozzum 7134”. Na dublagem, heu só ouvia “Roz 171″…)

Comentei aqui outro dia sobre a quebra de paradigma criada por Homem Aranha no Aranhaverso, onde, em vez da busca pela imagem perfeita, as animações passaram a focar nas pequenas imperfeições. Robô Selvagem tem isso. Os cenários não são perfeitos, parecem pinturas feitas em tinta guache, ou aquarela (não entendo de pintura, desculpa), o cenário fica meio borrado. Mais uma vez, a Dreamworks explora o “diferente” em vez do “perfeito”. Preciso dizer que deu muito certo: o resultado final é lindo!

Aliás, uma informação que peguei no imdb: o processador que os robôs usam se chama Alpha – 113. Quem acompanha easter eggs em animação da Pixar, sabe que sempre tem um “A113” escondido, que é uma referência à sala de aula de animação do Instituto de Artes da Califórnia (CalArts) onde vários animadores hoje consagrados estudaram. O grande lance é que é a primeira vez que este easter egg é usado num filme da Dreamworks!

O final do filme é bom, mas poderia ser melhor. Vou comentar isso, mas antes, os avisos de spoilers.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

No fim do filme, a robô se separa do ganso, e o filme ruma para um final triste. Triste, mas bonito. Mas, é Dreamworks, então inventaram um vilão e uma saída mágica (a robô que tinha sido apagada, ganha vida “através do amor”). Ok, filme pra criançada, vai vender mais se tiver um vilão e um final “mágico”. Mas, na minha humilde opinião, essa parte final enfraqueceu o filme. Seria um filme melhor se continuasse sem vilão e sem saídas mágicas.

FIM DOS SPOILERS!

Mesmo com o final “menos bom”, Robô Selvagem ainda é um programa belíssimo. Não me espantará se estiver entre os cinco do Oscar ano que vem.

O Conde de Monte Cristo

Crítica – O Conde de Monte Cristo

Sinopse (imdb): Alvo de uma armadilha, Edmond Dantès é preso no dia do casamento por um crime que não cometeu. Após quatorze anos na prisão, ele consegue fugir. Agora rico, ele assume a identidade do Conde de Monte Cristo e se vinga de seus traidores.

Nunca li o livro O Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas (o mesmo de Os Três Mosqueteiros), lançado originalmente como folhetim entre agosto de 1844 e janeiro de 1846. Vi duas das versões cinematográficas, a de 1975, estrelada por Richard Chamberlain; e a de 2002, estrelada por Jim Caviezel e Guy Pierce. Também teve uma minissérie em 1998, estrelada por Gérard Depardieu e Ornella Muti, e acabei de ver no imdb que mês que vem estreia uma nova série, com Sam Claflin – não vi nenhuma dessas duas versões.

Mas, preciso confessar que me lembrava de pouca coisa. O que não foi ruim, entrei no cinema para ver uma “nova história”.

Escrito e dirigido por Matthieu Delaporte e Alexandre de La Patellière (mesmos roteiristas dos dois recentes filmes d’Os Três Mosqueteiros), O Conde de Monte Cristo (Le Comte de Monte-Cristo, no original) é o filme mais caro feito na França em 2024 (custou 42,9 milhões de euros). E a gente vê isso na tela: O Conde de Monte Cristo é uma superprodução que não deixa nada a dever para o milionário cinema hollywoodiano.

(O filme francês mais caro da história é Valerian e a Cidade dos Mil Planetas, de Luc Besson, com um custo de produção de 197,47 milhões de euros. Mas, diferente de O Conde de Monte Cristo, é um filme com “cara de Hollywood”.)

O Conde de Monte Cristo é um “filmão”. Acompanhamos a saga de Edmond Dantès, preso injustamente, e que quando consegue sair da prisão tem um elaborado plano de vingança. Tudo isso em uma reconstituição de época impecável, com figurinos e cenários que enchem os olhos. A fotografia ainda usa várias vezes takes aéreos (provavelmente usando drones) e consegue captar imagens belíssimas!

O Conde de Monte Cristo é longo, são quase três horas de projeção. Mas a história é envolvente e bem contada, em nenhum momento o filme é cansativo. A trilha sonora épica de Jérôme Rebotier também é muito boa. E não posso deixar de mencionar a perfeita maquiagem usada pra envelhecer os personagens, afinal, passam-se 20 anos ao longo do filme.

Se tem uma coisa que não gostei muito foram as máscaras usadas pelo protagonista. Ele não pode ser reconhecido, então usa algumas máscaras para interagir com as pessoas. Mas, numa história que se passa no início do século 19, fiquei me questionando se aquelas máscaras seriam tão perfeitas, ou se em algum momento alguém ia desconfiar de alguma falha na sua maquiagem. Felizmente nada que atrapalhe o filme.

O elenco é bom, mas preciso reconhecer que não conhecia quase ninguém, só reconheci Anamaria Vartolomei, de O Império. Pierre Niney manda bem como Edmond Dantès, um papel complexo, tanto na parte física (ele emagrece muito na época da prisão) quanto na parte de interpretação (quando ele usa máscaras e desenvolve outras personalidades).

Por fim, uma coisa que achei curiosa: o filme quase todo é em francês, mas me parece que alguns dos diálogos entre Edmond e Haydée são em outra língua. Não sei se era outra língua, porque a personagem vem de outro país, ou se é algum sotaque forte, porque a atriz nasceu na Romênia.

Filmão.

O Clube das Mulheres de Negócios

Crítica – O Clube das Mulheres de Negócios

Sinopse (Filme B): Jongo, um fotógrafo renomado, e Candinho, um jovem e inexperiente jornalista, chegam em um clube de campo decadente da alta sociedade de São Paulo comandado por mulheres de negócios envolvidas com a Justiça.

Escrito e dirigido por Anna Muylaert, O Clube das Mulheres de Negócios claramente quer mostrar uma inversão de papéis numa crítica ao patriarcado. O filme mostra uma sociedade distópica onde todas as mulheres são ricas e poderosas, e todos os homens são objetificados e diminuídos. Ok, essa ideia pode gerar um bom filme. Mas… Aqui tudo é superficial. Quase todos os personagens são caricatos, quase todas as situações apresentadas soam forçadas. Algumas das mulheres estão tão exageradas que algumas cenas chegam a ficar toscas.

Podemos fazer uma comparação com A Substância, filme que aborda o tema de maneira inteligente. Por exemplo, o personagem do Dennis Quaid é o estereótipo do “macho escroto”. Ele é caricato, mas a gente consegue ver um cara desses num cargo de executivo de uma grande empresa. Agora vamos ao O Clube das Mulheres de Negócios. A personagem da Katiuscia Canoro, que passa o filme todo gritando e falando palavrão, é só tosca. Pode existir alguém assim? Certamente. Mas seria uma caricatura.

Façam um exercício de imaginação: pensem neste filme, exatamente como ele é, mas com os gêneros trocados. Os homens ricos e poderosos e as mulheres frágeis e objetificadas. E pense neste filme hoje, em 2024. Alguém levaria este filme a sério?

(Provavelmente vai ter alguém pensando que “fiquei incomodado porque sou homem branco hétero”. Nada a ver. Não tenho nada contra críticas sociais, desde que bem feitas. Fiquei incomodado por ser uma ideia rasa mal desenvolvida.)

O roteiro ainda traz alguns outros problemas que não tem nada a ver com isso. São muitos personagens, e alguns são muito mal desenvolvidos – fiquei imaginando pra que ter o André Abujamra num papel onde acho que ele só tem um diálogo (provavelmente ele só estava lá porque é o autor da trilha sonora). Além disso, alguns pontos são levantados e esquecidos depois, tipo uma cena onde mostra umas pessoas saindo de onde ficam as onças. A gente não precisa saber se alguém soltou as onças ou por que alguém soltou as onças. Mas se o filme mostra pessoas por lá, não seria melhor desenvolver quem são essas pessoas e quais os seus objetivos?

(E isso porque não estou falando de cenas que se estendem demais e ficam chatas, como aquele momento musical pouco antes da dupla principal visitar o “onçário”.)

Ainda preciso falar dos efeitos especiais de computador que mostram as onças. Mas aqui vou enxergar um “copo meio cheio”. Sim, as onças ficaram muito artificiais. Filmes hollywoodianos de 20 anos atrás apresentam efeitos melhores. Mas, a gente lembra que é Brasil, e que aqui não existe essa tradição de cgi pra criar animais, então aceito as onças, apesar de reconhecer que não ficaram muito boas.

O filme já não estava bem, mas a cena final é péssima. É a diretora dizendo que seu público é burro. Preciso comentar isso, então vamos aos avisos de spoilers.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

Todo mundo entendeu a inversão de papéis. Os dois homens principais, um usa saia, o outro usa uma blusa curta pra deixar o umbigo de fora. O filme é bem explícito com relação a isso. Mas a diretora deve achar que seu público é burro, então resolveu trocar os atores por atrizes na cena final. No fim, três homens conseguem fugir, de bicicleta. Mas aí rola um movimento de câmera onde trocam os três atores por três atrizes, com as mesmas características físicas. Se já estava ruim antes, conseguiu piorar com essa cena final.

FIM DOS SPOILERS!

Enfim, infelizmente O Clube das Mulheres de Negócios falha como comédia e também falha como crítica social. A ideia era boa, mas precisava de um desenvolvimento melhor.

Moana 2

Crítica – Moana 2

Sinopse (imdb): Após receber um chamado de seus ancestrais, Moana parte em uma jornada nos mares distantes da Oceania, desbravando águas perigosas, rumo a uma aventura diferente de todas as que já viveu.

Pelo menos pra mim foi uma surpresa saber que estava para estrear um segundo Moana em desenho animado, porque recentemente têm circulado imagens dos bastidores do live action, com o Dwayne Johnson repetindo o papel que ele dublou na animação. Não entendo de marketing de grandes estúdios, mas diria que não foi a melhor época pra se lançar Moana 2. Principalmente porque o filme é fraco.

Antes de tudo, farei o elogio óbvio: a parte técnica enche os olhos. A gente vê os poros das peles dos personagens, a gente vê os grãos de areia na praia. É tudo muito perfeito. Mas… Perfeição era o mínimo que se esperava de um estúdio do porte da Disney. Acho que ninguém vai se espantar ao ver uma animação onde a parte técnica é perfeita.

(Um breve parênteses pra falar da evolução da qualidade das animações. Os grandes estúdios chegaram a um estágio de excelência onde fica difícil de imaginar para onde poderia evoluir. Até que veio Homem Aranha no Aranhaverso e mudou o paradigma: agora o legal não é mais buscar a perfeição, e sim as pequenas imperfeições. A graça era explorar supostas falhas. Isso funcionou tão bem que criou uma nova tendência, seguida por títulos como Tartarugas Ninja, Gato de Botas 2 e Robô Selvagem. Mas a Disney se manteve no tradicional.)

Agora, se o visual é bem cuidado, o mesmo não podemos dizer sobre o roteiro. Só pra dar um exemplo: são muitos personagens secundários inúteis. A Moana sai numa jornada onde poderia estar acompanhada apenas do frango, do porco e de um coquinho pirata (todos estavam no primeiro filme). Mas resolveram criar uma “entourage” e colocaram mais três pessoas no barco. Resultado? Piadas repetidas e personagens que ninguém se importa.

Mas teve outra coisa que me incomodou ainda mais. Existe uma personagem, aparentemente uma vilã, aquela dos morcegos, que sequestra o Maui, que parecia ser uma boa personagem, daquelas que não sabemos exatamente se é do bem ou do mal. E no meio do filme a personagem some! A princípio achei que era uma falha gigante no roteiro, mas Moana 2 tem uma cena pós créditos onde ela volta. Ou seja, plantaram uma personagem, deixaram sua história incompleta, só pra criar um gancho pra um terceiro filme. Achei isso péssimo!

Existe outro problema, que é sobre as músicas. O primeiro Moana tem músicas muito boas, pelo menos duas delas podem constar em qualquer coletânea de melhores músicas da Disney. Este segundo é bem mais fraco neste aspecto. Gostei da música da vilã dos morcegos, mas já tinha esquecido da música ao fim do filme.

No fim, Moana 2 nem é tão ruim. Mas é tão inferior ao primeiro que fica a sensação de que deveria ter ido direto pro Disney+. Ou, ainda, pro Disney Channel.

Não se Mexa

Crítica – Não se Mexa

Sinopse (imdb): Uma mulher em luto é injetada com uma substância paralisante. Agora, ela precisará escapar de um assassino impiedoso antes de perder completamente os movimentos.

Existem filmes bons, daqueles que dão vontade de recomendar a todos. Existem filmes ruins, que dão vontade de avisar a todos que evitem. E existem algumas categorias no meio do caminho. Não se Mexa (Don’t Move, no original) é um filme apenas “competente”.

Dirigido pela dupla Brian Netto e Adam Schindler, Não se Mexa é um suspense com uma trama básica: uma mulher é sequestrada e drogada por um assassino serial. Sim, previsível e cheio de conveniências de roteiro, mas, quem estiver com expectativa baixa vai se divertir.

(Sam Raimi está na produção, mas deve ser daquele tipo de contrato onde ele recebeu um trocado pra ceder o nome pra ajudar a vender o filme.)

Com poucos personagens, poucas locações, Não se Mexa é um filme curtinho e tem um bom ritmo. Reconheço que comecei a ver com pretensão de pausar e terminar no dia seguinte, mas estava curtindo e fui até o fim.

Agora, a gente precisa meio que deixar o cérebro de lado e não pensar muito, porque tem algumas coisas bem forçadas. Um exemplo simples: a droga paralisa a protagonista. Então tem um momento onde a droga está começando o efeito, então ela está parcialmente paralisada, e, mais pro fim do filme, outro momento onde está perdendo o efeito, e ela começa a recuperar os movimentos. Na primeira vez, ela cai num rio, e mesmo sem conseguir nadar, flutua tranquilamente através de corredeiras. Já na segunda vez, num lago com água parada, ela afunda. Ué, por que ela agora não flutuou?

(Isso porque não vou falar da cena do policial, que parece querer o cargo de policial mais incompetente da história do cinema.)

No elenco, quase o filme todos é em cima dos pouco conhecidos Kelsey Asbille e Finn Wittrock, que servem para o que o filme precisa.

Não se Mexa está em cartaz na Netflix. Veja sem pensar muito.

La Mesita del Comedor / The Coffee Table

Crítica – La Mesita del Comedor

Sinopse (imdb): Jesus e Maria, um casal em dificuldades, tornam-se pais e decidem comprar uma mesa de centro, alterando suas vidas.

E vamos ao provável filme mais desconfortável do ano.

No halloween, rolou um especial do canal Super 8, onde quatro youtubers que acompanho falavam sobre os melhores filmes de terror do ano. Otavio Ugá, Nerd Rabugento, Getro e Lucas Maia comentaram durante 4 horas sobre 19 filmes de terror. Já tinha visto 13. Ok, vamos procurar os outros 6.

O primeiro da minha lista era o espanhol La Mesita del Comedor (ou The Coffee Table, em inglês), dirigido por Caye Casas. Um filme que vejo seus méritos, mas ao mesmo tempo me deixou tão desconfortável que quase desisti de comentar aqui. Reconheço a qualidade do filme, mas não tenho coragem de recomendá-lo pra ninguém.

Jesus e Maria são um casal onde ambos já têm uma certa idade, mas que só tiveram um filho agora. E acontece uma coisa – que não vou falar o que é – que abala totalmente a estrutura emocional de Jesus. O desconforto ainda piora pelas circunstâncias: a visita de seu irmão e a namorada muito mais nova, e uma vizinha adolescente obcecada por ele. A interpretação do ator David Pareja é impressionante!

(Os nomes “Jesus” e “Maria” me fizeram achar que teria algo ligado à Bíblia, mas não interpretei nada religioso na história.)

A cena inicial, quando o casal está comprando a tal mesinha de centro que dá título ao filme, dá a entender que veremos uma comédia. Mas não se deixe enganar: La Mesita del Comedor traz uma história pesada e traumatizante. Acho difícil alguém rir num filme desses.

A cena final é tão desconfortável que é daquelas que gruda na memória por dias depois do filme. Lembrei de Speak no Evil, outro filme que deixa uma sensação igualmente desconfortável. Speak no Evil teve uma refilmagem hollywoodiana com final mais palatável, será que um dia existirá uma versão deste com um final melhor?

La Mesita del Comedor ganhou prêmios de melhor roteiro e melhor ator no Fantaspoa do ano passado. Mais uma vez, reconheço os méritos. Mas não recomendo. Veja por sua conta e risco!

Lobos

Crítica – Lobos

Sinopse (imbd): Dois solucionadores rivais se cruzam quando ambos são chamados para encobrir o erro de uma importante figura pública de Nova York. Durante uma noite conturbada, eles terão que deixar de lado suas diferenças e egos para concluir o serviço.

Pulp Fiction é um filme genial em vários aspectos. Um dos vários méritos do filme é sua rica galeria de personagens. Harvey Keitel faz um papel pequeno: o mr. Wolf, uma pessoa para chamada para “resolver problemas”.

Agora, 30 anos depois, aparece um filme onde os dois personagens principais têm a mesma profissão do personagem de Pulp Fiction. E se alguém tiver dúvida se foi coincidência ou não, é só ver as placas dos carros, o carro do Harvey Keitel tem a placa 3ABM581; o do George Clooney, 3ABM582.

A melhor coisa de Lobos (Wolfs, no original) é a química entre seus dois protagonistas, Brad Pitt e George Clooney, que além de amigos na vida real, já trabalharam juntos em cinco outros filmes (a trilogia Onze Homens e um Segredo, Queime Depois de Ler, e uma breve aparição de Pitt em Confissões de uma Mente Perigosa, dirigido por Clooney). Tanto Pitt quanto Clooney estão ótimos individualmente, como um está perfeito ao lado do outro. Comentei recentemente sobre Operação Natal, um filme onde a dupla principal, Dwayne Johnson e Chris Evans, não está bem; aqui em Lobos é o oposto. A gente sente a química em cada troca de olhares entre os dois protagonistas

O roteiro e a direção são de Jon Watts, mais famoso por ter dirigido os três filmes recentes do Homem Aranha, De Volta ao Lar, Longe de Casa e Sem Volta para Casa (expulso de casa, fique em casa, etc). Gostei de como Watts conduz seu filme, vou procurar filmes anteriores dele. Alguns detalhes são muito bem sacados, como por exemplo a cena onde os dois protagonistas descobrem ao mesmo tempo que precisam de óculos pra ler o menu. E tem uma cena de atropelamento que é genial, uma cena que poderia constar em listas de melhores cenas do ano! Além disso, gostei da trilha sonora.

Depois de publicar meu texto sobre Anora, li algumas críticas comparando com Depois de Horas. Discordo. Na verdade, achei que Lobos lembra mais Depois de Horas: o filme todo se passa em uma noite, e os personagens vão se metendo em uma escalada de problemas que vai ficando pior a cada novo passo.

No elenco, claro que o destaque é da dupla principal. Mas Austin Abrams, o terceiro nome do elenco, também está bem. Ah, a voz ao telefone é de Frances McDormand, que também estava em Queime Depois de Ler com os dois protagonistas.

Talvez tenha gente reclamando que Lobos tem muitos clichês. Verdade, tem sim. Mas achei todos muito bem utilizados. Achei o filme divertidíssimo!