Stopmotion

Crítica – Stopmotion

Sinopse (imdb): Segue uma animadora de stop-motion que luta para controlar seus demônios após a perda de sua mãe autoritária.

Outro filme da Shudder no Festival do Rio. Bora!

Ella, nossa protagonista, trabalha com a mãe abusiva num filme de stop motion. A mãe foi uma grande cineasta no gênero, e agora está com uma doença onde não pode usar as mãos. Quando a mãe adoece e entra em coma, Ella resolve terminar seu filme, mas, por influência de uma menina vizinha, resolve largar o projeto da mãe e criar outro filme.

Stopmotion é a estreia em longas do diretor Robert Morgan, que já fez alguns curtas fantásticos usando animação em stop motion (mas que infelizmente não vi nenhum). Seu longa tem atores reais, mas o filme traz várias sequências usando a técnica de animação, e são sequências muito boas – talvez seja o melhor do filme. Aliás, não só as sequências em stop motion. Os efeitos especiais são muito bons, tem um onde o rosto da protagonista “vira” massinha de modelar que ficou com um visual impressionante.

(Uma curiosidade: embora possa parecer estranho, usar carne para stop motion é uma técnica real usada pela lenda do stop motion Jan Svankmajer.)

Por outro lado, a história é hermética, aquele estilo de trama cheia de simbolismos, onde o espectador termina o filme sem entender muita coisa. A partir de um momento, a história entra numa espiral crescente de loucura que, quando chega no fim, a gente fica com vontade de catar o “manual de instruções”.

A atriz principal é Aisling Franciosi, que estava recentemente em Não Fale o Mal, e que também fez A Última Viagem do Demeter (temos uma nova scream queen?). Ela está bem, ela convence quando sua personagem pira na batatinha.

Queria falar de teorias sobre o final do filme, mas entraria em spoilers, então não vou por este caminho. Só digo que gostei da parte técnica, mas por outro lado, a trama cheia de simbolismos me cansou.

O Império / L’Empire

Crítica – O Império / L’Empire

Sinopse (imdb): Uma pequena vila no norte da França é o campo de batalha de cavaleiros extraterrestres disfarçados.

Normalmente não vejo trailers. Gosto de entrar na sala de cinema sem saber nada sobre o filme. Mas, Festival do Rio, dezenas de opções em poucos dias, vi alguns trailers pra decidir quais seriam as minhas escolhas. E o trailer deste O Império é muito divertido. Várias coisas malucas! Fiquei curioso e fui ver.

Mas, tudo o que tem de bom no filme estava no trailer…

Escrito e dirigido por Bruno Dumont, O Império tem bons cenários, bons efeitos especiais, e um monte de ideias promissoras. Mas parece que não desenvolveram as ideias, e o resultado final parece incompleto.

Somos apresentados a dois grupos rivais, os 0s e os 1s, que a principio são alienígenas, mas acho que também poderiam ser anjos e demônios, ou ainda poderiam simbolizar uma briga entre a Igreja e o Estado. Personagens estranhos em situações esquisitas e absurdas. Tinha potencial pra entrar numa onda meio Monty Python, meio Guia do Mochileiro das Galáxias.

Mas… Ideias são apresentadas e não são desenvolvidas. Sério, tem alguns momentos que senti que não leram o roteiro antes de filmar. Um exemplo: tem um personagem chave, um bebê que aparentemente será “o escolhido” quando for mais velho. Aí sequestram o bebê, depois devolvem o bebê, depois sequestram de novo, depois devolvem de novo, depois dizem que vão escondê-lo, mas ele estava no mesmo lugar…

Sobre o elenco, são personagens apáticos, então temos atuações apáticas. Quer dizer, alguns estão apáticos, outros estão caricatos. Fabrice Luchini, que já vi em outros filmes, aqui faz um papel tão bobo que causa vergonha alheia.

Pena. Gostei do visual, e os efeitos especiais não parecem ser de uma produção fora de Hollywood. Tem até um “sabre de luz”! Mas fica uma sensação de pastel de vento. Parece que vai ser gostoso, mas não tem nada dentro.

Força Bruta: Condenação

Crítica – Força Bruta: Condenação

Sinopse (imdb): O detetive Ma Seok-do se junta à Equipe de Investigação Cibernética para prender Baek Chang-ki, um ex-mercenário e chefe de uma organização de jogos de azar on-line.

Em fevereiro do ano passado comentei sobre Força Bruta, filme de ação coreano de 2022 que era continuação de um filme de 2017 que heu não tinha visto, Os Fora da Lei. Agora em 2024, na programação do Festival do Rio, aparece esta Força Bruta: Condenação, o quarto filme da série. Sim, não vi o primeiro nem o terceiro (de 2023), mas resolvi encarar o quarto.

A boa notícia é que Força Bruta: Condenação traz uma história fechada. Você pode ver sem ter visto os outros, dá pra entender tudo.

Dirigido por Heo Myeong-haeng, Força Bruta: Condenação parece um filme de ação dos anos 80, época dos filmes de “action heroes” estrelados pelos Stallones e Shwarzenegger da época, onde os protagonistas eram quase super heróis e nunca se machucavam (não tenho certeza, mas me parece que os action heroes começaram a mostrar alguma fragilidade em Duro de Matar, de 1988, quando o protagonista machuca os pés com cacos de vidro). O protagonista aqui, Ma Seok-do, enfrenta, sozinho e desarmado, vários oponentes armados, e sempre consegue bater em todos os adversários. A impressão que passa é que o soco dele tem super poderes.

Neste quarto filme, lançado este ano, Ma Seok-do e sua equipe enfrentam uma organização criminosa que controla cassinos online. O filme aborda temas como traição, mercenários e assassinatos, mostrando que os cassinos são apenas a ponta do iceberg em uma disputa maior por poder.

Assim como no segundo filme, um dos grandes trunfos aqui é o carisma dos personagens principais, tanto o protagonista de Ma Dong-seok (que às vezes é chamado de Don Lee aqui no ocidente), quanto o vilão interpretado por Kim Mu-yeol. Ambos estão muito bem.

Outra coisa boa aqui (e que também lembra os anos 80, tipo filmes como Um Tira da Pesada) é o equilíbrio entre a ação e o humor. Tanto as cenas de ação são bem filmadas, quanto os momentos de comédia são muito engraçados. A trilha sonora também é muito boa.

Aliás, falando das cenas de ação, tem uma cena onde o vilão e seu capanga enfrentam uns 10 ou 15 adversários que é muito bem coreografada e muito bem filmada, incluindo alguns takes longos – não é tudo em plano sequência, mas tem alguns planos que se heu estivesse vendo em casa, teria pausado e voltado a cena.

Força Bruta: Condenação está no Festival do Rio, mas já deve entrar no circuito esta semana. Recomendo pra quem gosta de filme de ação.

Deadstream

Crítica – Deadstream

Sinopse (imdb): Uma celebridade da Internet que foi desmonetizada após uma polêmica envolvendo seus vídeos decide reconquistar os seguidores com um evento exclusivo: uma live transmitida do interior de uma casa assombrada.

Imagina se o Sam Raimi resolvesse fazer uma versão found footage de Evil Dead? Ia sair algo parecido com este Deadstream, produzido, co escrito, co dirigido e estrelado por Joseph Winter.

O filme todo é focado em um personagem, um youtuber que passou por polêmicas e foi desmonetizado, e que agora quer fazer uma live passando uma noite numa casa mal assombrada para reconquistar a audiência. E claro que coisas vão dar errado durante esta live.

Deadstream é sem dúvidas um filme de terror, inclusive rolam alguns jump scares bem bolados. Mas é ao mesmo tempo um filme muito engraçado. Heu diria que o filme me causou mais gargalhadas do que sustos.

Deadstream é nitidamente um filme de orçamento baixíssimo. E Joseph Winter é o nome aqui: além de ser o protagonista, ele está no roteiro, produção, direção, edição e trilha sonora (sim, found footage com trilha sonora, ele leva um gravadorzinho e toca a trilha pra criar um clima). Aliás, tem outro nome a ser citado, fui ver no imdb, Jared Cook aparece em nove funções fora das telas, além de aparecer rapidamente em uma das cenas. Provavelmente são dois amigos que desenvolveram a ideia, e preciso dar meus parabéns pra eles!

O roteiro não é perfeito, tem algumas pontas soltas aqui e ali (tipo quando ele levanta o lance dos direitos autorais e depois deixa isso pra lá). Por outro lado, o roteiro sabe equilibrar bem os momentos tensos / engraçados ao longo do filme.

Falando na parte comédia: o protagonista Shawn Ruddy criado por Joseph Winter é carismático e muito engraçado. Ele não copia o Ash de Evil Dead, ele é mais medroso. Confesso que ri algumas vezes em momentos que ele se assustava.

Um outro trunfo de Deadstream são os efeitos práticos e de maquiagem (outra semelhança com Evil Dead) Determinados momentos do filme trazem um gore bem nojento, e ao mesmo tempo muito engraçado! Aliás, essas citações a Evil Dead são explícitas: reparem na tábua ouija, está escrito “Klaatu Verata Nikto”, frase tirada do filme do Sam Raimi.

Deadstream é de 2022, foi lançado lá fora pela Shudder. Ou seja, ver aqui no Brasil não é uma tarefa muito fácil. Mas recomendo!

Emilia Pérez

Crítica – Emilia Pérez

Sinopse (imdb): No México, uma advogada recebe uma oferta inesperada para ajudar um temido chefe de cartel a se aposentar de seus negócios e desaparecer para sempre, tornando-se a mulher que ele sempre sonhou ser.

Filme de abertura do Festival do Rio, Emilia Pérez traz uma advogada que é levada à presença de um chefe de cartel que deseja se transformar em uma mulher e precisa de ajuda para conseguir o seu objetivo. E, um detalhe importante: é um musical. Sim, mistura a brutalidade do tráfico de drogas com a leveza de um musical.

O filme co-escrito e dirigido por Jacques Audiard ganhou dois prêmios em Cannes: prêmio do júri, e um prêmio conjunto de melhor atriz, dividido entre Zoe Saldaña, Selena Gomez, Karla Sofía Gascón e Adriana Paz. Todas estão bem, mas, na minha humilde opinião, Zoe Saldaña é a que mais se destaca. Ela canta, dança, faz coreografias, interpreta em espanhol, ela realmente está impressionante.

(Aliás, achei curioso ver que o filme é quase todo em espanhol, e duas das três atrizes principais têm ascendência latina, mas nasceram nos EUA. Zoe Saldaña fala espanhol fluente, mas Selena Gomez de vez em quando soltava algumas frases em inglês. Segundo o imdb, Selena disse em entrevistas que não é fluente e que não estava satisfeita com o seu espanhol.)

O melhor de Emilia Pérez é a parte musical. Outro dia falei mal de Coringa Delírio A Dois, onde as músicas não empolgavam; aqui foi o oposto. Não sou fã do estilo das músicas, mas mesmo assim saí do cinema com vontade de procurar a trilha sonora. E as cenas de dança e coreografia são impressionantes e contribuem significativamente para a narrativa visual do filme. Isso sim é um musical de verdade!

Teve um detalhe que não gostei muito: achei que a personagem título muda de personalidade muito rapidamente. Era uma pessoa violenta, de repente vira uma santa, de repente volta a ser violenta… Ok, o filme nos mostra fatos que teriam gerado essas mudanças de comportamento, mas mesmo assim achei as mudanças muito abruptas.

Filmão, saí da sala com vontade de rever. Pena que, como acontece de vez em quando no Festival do Rio, Emilia Pérez vai ser um daqueles filmes que vou falar sozinho por um tempo. Segundo o imdb, só estreia aqui no Brasil em fevereiro de 2025…

Coringa: Delírio a Dois

Crítica – Coringa: Delírio a Dois

Sinopse (imdb): O comediante fracassado Arthur Fleck conhece o amor de sua vida, Harley Quinn, enquanto está encarcerado no Arkham State Hospital. Os dois embarcam em uma desventura romântica condenada.

2019 tivemos Coringa, que parecia uma ideia arriscada: um filme do Coringa mas sem o Batman. Ideia arriscada, mas que deu muito certo: foi um sucesso de público e de crítica, e ainda ganhou dois Oscars entre onze indicações.

Cinco anos depois, o mesmo diretor Todd Phillips apresenta a continuação, Coringa: Delírio a Dois (Joker: Folie à Deux, no original), desta vez um musical, e com a Lady Gaga como Arlequina.

E ver o segundo filme dá vontade de rever o primeiro e esquecer que fizeram uma continuação…

Vamos começar pela parte musical. Não tenho nada contra musicais, sou fã de vários. Mas sempre que lembro de musicais, lembro de músicas e de cenas “pra cima”, sempre alto astral – Pequena Lojas dos Horrores, Rock of Ages, Hairspray, Hair, La La Land, Across The Universe, The Rocky Horror Picture Show, O Rei do Show, heu sempre saio do filme empolgado pelas músicas e coreografias. Mesmo quando o tema do filme é barra pesada, como Rent, a parte musical é empolgante. Os Miseráveis, que não gostei por achar longo e cansativo, tem músicas em momentos tensos, mas mesmo assim são cenas memoráveis. E aqui não, todos os momentos musicais são “pra baixo”, e acabam sendo números chatos. E ainda tem um agravante: as músicas usadas são conhecidas, são standards clássicos, de gente como Frank Sinatra e Burt Bacharach. E mesmo com músicas conhecidas, os arranjos ficaram quase todos ruins.

Provavelmente não foi o primeiro “musical deprê” da história, mas isso pra mim foi um ponto negativo. A ponto de, em determinado momento do filme, quando ia começar uma música, heu pensava “não, de novo não!”

Vamos para outro problema, que é o protagonista. O Coringa é um personagem fascinante porque é desequilibrado e imprevisível. E aqui ele está apático. Joaquin Phoenix está bem, mas o personagem não está. Não vou nem comparar com outras versões, como o Coringa do Heath Ledger, estou falando do próprio Joaquin Phoenix. Depois da sessão de imprensa, ouvi um amigo crítico que falou uma frase que resume isso: “em determinado momento de filme, eu estava vendo o filme do Coringa há duas horas, e estava há duas horas esperando o Coringa aparecer”.

Pra “fechar a tampa”, a Arlequina da Lady Gaga não é boa. Duvido que alguém veja o filme e pense na Arlequina, todos vão ver a Lady Gaga na tela.

Agora, apesar disso tudo, Coringa: Delírio a Dois não é exatamente ruim. Tecnicamente falando, é muito bem feito. A reconstituição de época é perfeita. A fotografia enche os olhos, são várias cenas belíssimas. A trilha sonora da parte “não musical” é muito boa, mais uma vez a cargo de Hildur Guðnadóttir (que ganhou o Oscar pela trilha do primeiro filme). E tem um plano sequência sensacional na parte final do filme.

Mas, repito, é um filme longo demais, e essa proposta cansou. São duas horas e dezoito minutos. Talvez se o filme tivesse meia hora a menos (meia hora de músicas a menos!), acho que a galera ia curtir bem mais.

Por fim, não tem cena pós créditos, mas tem um desenho animado na abertura. O desenho não é engraçado e não se conecta com o filme. Pra que esse desenho? Não sei. Por mim, deveria ser cortado do filme.

I Saw the TV Glow

Crítica – I Saw the TV Glow

Sinopse (imdb): Dois adolescentes se conectam por causa de seu amor por um programa de TV sobrenatural, mas ele é misteriosamente cancelado.

Um amigo recomendou este novo filme da A24 usando as palavras “Porra, esqueci de te dizer, acho que vi o filme mais doido do car*lho da A24 até hoje. Que porra doida, bicho. Meu Deus. Não sei nem classificar o filme.”

E é isso mesmo. I Saw the TV Glow é uma “porra doida, bicho”.

Dois adolescentes esquisitões se aproximam porque ambos gostam de um programa de TV. Na verdade, ele não consegue acompanhar porque passa de noite e seus pais não deixam ele ficar acordado, então ele precisa passar a noite na casa dela, escondido, e depois ela passa a gravar e entregar fitas de VHS pra ele. Até que um dia ela diz que precisa ir embora, convida ele, mas ele não tem coragem. Ela desaparece, o programa é cancelado e ele fica duplamente sozinho. Ele tem uma vida medíocre, até que anos depois ela reaparece.

Sabe qual é o problema aqui? Heu não tenho nada contra filmes baseados em simbolismos, mas um filme desses precisa ser envolvente. De vez em quando vejo uns filmes onde não entendo nada, mas que o filme me envolve e me carrega na sua viagem. E não senti isso aqui. Achei I Saw the TV Glow apenas confuso. Um filme cabeça, confuso e, desculpe falar, chato.

Pelo que entendi lendo no imdb, o programa fictício Pink Opake é inspirado em Buffy. Talvez uma explicação seja que uma criança quando via Buffy achava um programa assustador, mas depois de adulta, ao rever, acharia a série meio boba.

(A fonte usada nos créditos de Pink Opake é a mesma fonte usada em Buffy. Uma das personagens de Pink Opake é chamada Tara, referencia à Tara Maclay, personagem de Buffy; e a atriz que interpretava Tara Maclay, Amber Benson, tem um papel aqui.)

Acabou o filme, fui catar explicações na internet. Li uma teoria que faz sentido: a diretora e roteirista Jane Schoenbrun é trans, então boa parte do que os personagens sentem está ligada a sentimentos reais que uma pessoa trans passa dentro da nossa sociedade. Ok, pode ser, isso explica algumas coisas. Mas pelo menos pra mim isso não “resolve o filme”, porque sempre defendo que um filme não deveria precisar de “manual de instruções”.

I Saw the TV Glow é estrelado por Justice Smith (Observadores) e Brigette Lundy-Paine (A Semente do Mal), que estão inexpressivos, mas não sei se isso é algo proposital pela proposta do roteiro. Agora, teve uma coisa que me incomodou. Inicialmente conhecemos os personagens adolescentes, pelo que entendi ele estaria no ensino fundamental e ela no ensino médio – heu chutaria que eles deveriam ter por volta de 13 e 15 anos, respectivamente, e nesse momento do filme, são interpretados por dois adolescentes. Aí a história pula dois anos, ou seja, eles teriam por volta de 15 e 17. Mas já vemos os atores adultos, e ambos têm quase 30 anos. Fica muito estranho ver um ator de 30 interpretando um adolescente do ensino médio. Era melhor contratar outros dois atores adolescentes…

Apesar de ser A24, não tenho ideia se I Saw the TV Glow vai estrear oficialmente aqui no Brasil. Mas só é recomendado pra quem curte uma “porra doida, bicho”.

Golpe de Sorte em Paris

Crítica – Golpe de Sorte em Paris

Sinopse (imdb): O vínculo de dois jovens leva à infidelidade conjugal e, por fim, ao crime.

Outro dia, quando falava de Tipos de Gentileza, lançado menos de um ano depois de Pobres Criaturas, que parece ter tido uma produção bem complexa (cenários, figurinos, efeitos, etc), lembrei que teve uma época que Woody Allen lançava um filme por ano. Pelo menos olhando de fora, filmes do Woody Allen me parecem ser produções mais simples, então era mais fácil fazer um por ano. Mas mesmo assim, não são filmes ruins, Allen manja dos paranauês e quase sempre entregava filmes acima da média. Como já comentei aqui no heuvi, “um Woody Allen mediano é melhor que muito filme por aí”.

Quando de repente entrou em cartaz o novo filme escrito e dirigido por Allen, Golpe de Sorte em Paris (Coup de chance, no original), seu quinquagésimo filme!

(Falei “de repente” porque não teve sessão de imprensa, teve uma pré estreia e heu nem soube…)

Golpe de Sorte em Paris é semelhante a boa parte da filmografia de Allen: uma boa história, bem filmada, com bons atores e belos cenários, desta vez em Paris. Sim, já vimos tudo isso antes, mas, caramba, o cara tá com quase 89 anos e já fez 50 filmes. Um especialista na sua obra vai dizer “ele está se repetindo”, mas o espectador comum vai entrar no cinema e se divertir.

O roteiro é bem estruturado. Inicialmente vemos uma jovem mulher, casada com um cara muito rico que a usa de “esposa troféu”, e que encontra um antigo flerte da época do colégio. O triângulo amoroso é construído, ela fica entre o rico e o sonhador. Até que um plot twist lá pelo meio do filme muda completamente o rumo da história, e mais não digo porque não vou dar spoilers.

Vou além: já comentei aqui algumas vezes, um bom final melhora um filme médio. Isso acontece aqui. A parte final tem uma sacada que achei genial, e posso afirmar que nunca imaginei que o roteiro iria por aquele caminho. E, pelo menos na sessão onde assisti, numa sala quase lotada, a reação do público foi positiva, rolou uma grande gargalhada generalizada, a maior de todo o filme.

O elenco, liderado por Lou de Laâge, Niels Schneider e Melvil Poupaud, é todo francês. Aliás, foi a primeira vez que Allen dirigiu um filme onde a língua principal não é o inglês. Fiquei na dúvida se ele sabe o suficiente pra acompanhar os diálogos, ou se tinha alguém pra esta função enquanto ele cuidava do resto – uma coisa que Allen faz muito e que acontece aqui são planos longos com diálogos e a câmera passeando entre os atores.

Entrei no cinema sem esperar nada e saí com um sorriso no rosto. Não é um grande filme, mas, repito, “é melhor que muito filme por aí”.

Pacto de Redenção

Crítica – Pacto de Redenção

Sinopse (imdb): Quando um assassino profissional descobre que tem uma forma de demência que evolui rapidamente, ele tem a oportunidade de se redimir salvando a vida do filho adulto com quem estava afastado.

Pacto de Redenção (Knox Goes Away, no original) parece um thriller à moda antiga: uma boa história, usando um bom elenco. Sem pirotecnias, apenas uma boa história sendo contada por alguns bons atores.

A direção é de Michael Keaton, seu segundo filme como diretor. Não entendi por que ele resolveu dirigir, mas podemos dizer que ele faz um trabalho correto. O roteiro de Gregory Poirier é bem estruturado. A gente vê as peças soltas do quebra cabeças, mas pelo menos heu não consegui descobrir qual era o plano do cara antes do final, achei muito bem bolada a solução.

Sobre o elenco, o marketing está vendendo Pacto de Redenção como um filme estrelado por Michael Keaton e Al Pacino. Como sempre, Pacino está ótimo, mas aparece em poucas cenas. Seu personagem é importante, mas é daquele tipo de papel que provavelmente o ator fez em uma ou duas diárias. Agora, preciso destacar positivamente a atuação de Keaton e também de James Marsden, que faz seu filho, um cara que cometeu um erro grave e isso está afetando todo o seu comportamento. Ambos estão excelentes. Por outro lado, achei bem fraca a personagem da policial interpretada por Suzy Nakamura. Também no elenco, Joanna Kulig, Lela Loren e Marcia Gay Harden.

Não achei o final ruim, mas heu cortaria alguns minutos. Tem uma sequência final mostrando uma conclusão meio óbvia. Nada grave, felizmente. Por outro lado, gostei de como o filme mostra a progressão da doença do protagonista.

Pacto de Redenção não é um grande filme, não estará em listas de melhores do ano. Mas, em meio à mediocridade que é despejada no circuito, é uma boa opção. Dificilmente alguém sairá decepcionado da sala de cinema.

20 Curiosidades sobre Os Fantasmas se Divertem

20 Curiosidades sobre Os Fantasmas se Divertem

Seguindo a ideia de fazer posts sobre curiosidades, depois de curiosidades sobre Flash Gordon, hoje é dia de falar de Os Fantasmas se Divertem, de 1988, aproveitando que a continuação está em cartaz nos cinemas!

Lembrando que quase tudo peguei no imdb, que é uma boa fonte, mas nem tudo lá é 100% confiável. Se heu trouxe alguma informação errada, peço que me avise, pra me corrigir!

Vamos à lista?

1- Michael Keaton, interpretando o personagem-título, aparece apenas em 14,5 minutos do filme.

2- Wes Craven foi a primeira escolha para dirigir. Pensando na carreira do Wes Craven (A Hora do Pesadelo, A Maldição de Samantha, Shocker, Pânico), o filme seria bem diferente.

3- Falando em A Hora do Pesadelo, Heather Langenkamp foi considerada para o papel de Lydia depois que Tim Burton a viu o filme, de 1984. Langenkamp recusou o papel porque não queria interpretar uma garota gótica.

4- A ideia do filme surgiu depois que Poltergeist foi um filme de sucesso, mas a ideia de fantasmas ruins foi invertida. As pessoas que se mudassem para a casa seriam as horríveis.

5- Michael Keaton criou ele mesmo grande parte do visual do personagem. Keaton disse ao departamento de maquiagem que queria mofo no rosto e que seu cabelo parecia ter enfiado o dedo na tomada, e solicitou que o departamento de guarda-roupa lhe enviasse roupas de todas as épocas.

6- Michael Keaton baseou sua performance de Beetlejuice em Chop Top de O Massacre da Serra Elétrica 2 (1986). Keaton mais tarde co-estrelaria com o próprio Chop Top, Bill Moseley, no filme da HBO de 2002, Ao Vivo de Bagdá, lançado 14 anos e meio depois.

7-De acordo com Winona Ryder, em uma entrevista para a Harper’s Bazaar no YouTube, logo no início ela foi aos estúdios para conhecer Tim Burton. Um cara entrou que ela pensava ser do departamento de arte e eles conversaram um pouco sobre coisas como Edward Gorey (escritor e artista americano, reconhecido por seus livros ilustrados de tom macabro mas com certo senso de humor) e filmes diferentes. Depois de meia hora, ela perguntou se ele sabia quando Burton iria aparecer, e ele disse “ah, sou eu”, e ela ficou maravilhada. Ela tinha em mente, naquela época, um diretor muito mais velho e tradicional, e ela se sentia muito confortável com ele. No final da conversa, ele disse a ela que queria que ela fizesse isso, e ela ficou muito animada.

8- O orçamento do filme é de US$ 15 milhões. O filme arrecadou mais de US$ 74 milhões de bilheteria.

9- O orçamento de efeitos visuais foi de apenas US$ 1 milhão, um fator importante para Tim Burton decidir fazer os efeitos parecerem o mais cafonas e de filme B possível. A maior parte dos efeitos práticos e visuais foram feitos na câmera. Os vermes da areia e as cenas espaciais foram feitas na pós-produção.

10- Tim Burton tentou filmar a cena em que os camarões saltam dos pratos e atacam o jantar posicionando os ajudantes de palco embaixo da mesa, mas suas mãos tinham dificuldade de encontrar os rostos dos atores. Dick Cavett, um dos atores da cena, sugeriu colocar as “mãos de camarão” em seus rostos, filmá-los enquanto voltavam para os pratos, e depois rodar o filme ao contrário, o que Burton fez.

11- A cena em que Beetlejuice come a mosca é uma homenagem ao filme de terror A Mosca da Cabeça Branca (1958). Geena Davis estrelou a refilmagem A Mosca (1986). O próprio Michael Keaton recebeu a oferta do papel principal em A Mosca e recusou. Quando Betlejuice puxa a mosca para o subsolo, você pode ouvi-la gritar a famosa frase do filme de 1958, “Ajude-me! Ajude-me!” (38:05)

12- Durante a cena no cemitério após a saída dos Maitlands, quando Beetlejuice fica bravo e chuta a árvore, originalmente a árvore não deveria cair. Mas durante essa tomada, Michael Keaton chuta a árvore, e ela cai e ele improvisa a frase: “Cenário de M*!” e aperta a virilha duas vezes, o que é acompanhado por buzinas. Keaton estava dizendo isso para o cenógrafo que errou. O diretor Tim Burton adorou tanto que deixou o erro de gravação no filme.

13- O diretor Tim Burton temia que a sequência do “Day-O” não fosse bem, pois, em sua opinião, não era muito engraçada. Burton estava errado. O público adorou e considera-a uma das cenas mais icônicas do filme. O plano original para o jantar era fazer com que os convidados dançassem “uma música do The Ink Spots”, mas Jeffrey Jones e Catherine O’Hara sugeriram que a música fosse calipso.

14- Todas as pessoas na sala de espera e no consultório estão nas mesmas condições de quando morreram, e a forma como morreram é mostrada claramente. Porém, os Maitlands, que se afogaram, não estão molhados. Tim Burton sentiu que manter os atores molhados o tempo todo seria muito desconfortável.

15- A certa altura, Tim Burton considerou Arnold Schwarzenegger para o papel de Beetlejuice. No entanto, a The Geffen Company sentiu que, devido à reputação de Schwarzenegger como uma estrela de ação na época, as pessoas não levariam isso a sério. Mas Burton abordou Schwarzenegger de qualquer maneira. Ele recusou, pois estava ocupado filmando O Sobrevivente (1987).

16- Sobre o elenco: Juliette Lewis fez o teste para o papel de Lydia. Lori Loughlin, Diane Lane, Sarah Jessica Parker, Brooke Shields, Justine Bateman, Molly Ringwald e Jennifer Connelly recusaram o mesmo papel. Winona Ryder acabou sendo escalada pela força de sua atuação em A Inocência do Primeiro Amor (1986). Anjelica Huston foi originalmente seria Delia, mas ela estava doente e não pôde comparecer às filmagens. Kirstie Alley foi a primeira escolha para o papel de Bárbara, mas os produtores de Cheers (1982) não a deixaram rescindir o contrato para assumir o papel. Sigourney Weaver, Linda Blair, Goldie Hawn, Laura Dern e Linda Hamilton também foram consideradas para o papel. Bill Pullman foi considerado para o papel de Adam Maitland. Dustin Hoffman, Robin Williams, Christopher Lloyd, Jim Carrey, Tim Curry, Jack Nicholson, Bill Murray, Robert De Niro, Dudley Moore e John Cleese foram todos considerados para interpretar Betelgeuse. John Candy, John Goodman, Wayne Knight e Bob Hoskins foram considerados para Otho.

17- O sucesso de bilheteria do filme criou planos para uma sequência: Beetlejuice Goes Hawaiian. Um roteiro foi encomendado e Michael Keaton e Winona Ryder assinaram contrato para reprisar seus respectivos papéis. Tim Burton perdeu o interesse no projeto e foi dirigir Batman (1989) e Batman: O Retorno (1992).

18- Tanto Winona Ryder quanto Alec Baldwin tiveram participações especiais em Friends.

19- A Netflix começou como uma locadora que entregava DVDs. Os Fantasmas se Divertem foi o primeiro DVD enviado pela Netflix, em 1998.

20- Pra encerrar, não é exatamente uma curiosidade. Mas, uma vez, heu falei Beetlejuice Beetlejuice Beetlejuice, e olha quem apareceu! Brincadeira, era a coletiva do Robocop do José Padilha, no Copacabana Palace, e o Michael Keaton estava na coletiva. Quando fui embora, esbarrei com ele no saguão do hotel!