Guerra Sem Regras / The Ministry of Ungentlemanly Warfare

Crítica – Guerra Sem Regras / The Ministry of Ungentlemanly Warfare

Sinopse (imdb): O exército britânico recruta um pequeno grupo de soldados altamente qualificados para atacar as forças nazistas atrás das linhas inimigas durante a Segunda Guerra Mundial.

Pensa num cara que tem trabalhado muito. De 2019 pra cá, Guy Ritchie dirigiu Aladdin, Magnatas do Crime, Infiltrado, Esquema de Risco, O Pacto, os dois primeiros episódios da série Magnatas do Crime, e já tem filme novo dele este ano, este Guerra Sem Regras (The Ministry of Ungentlemanly Warfare, no original).

Heu gosto muito do Guy Ritchie, mesmo sabendo que ele desde o início da carreira parecia ser um “sub Tarantino” – Jogos Trapaças e Dois Canos Fumegantes e Snatch são dois filmes excelentes, mas que trazem muitas semelhanças com a “cartilha tarantinesca”. E parece que agora Ritchie quis fazer o seu Bastardos Inglórios.

Vejam bem, heu aceito filmes que de certa maneira copiam outros. Mas, o filme precisa ser bom. E, infelizmente, Guerra Sem Regras tem seus problemas.

Guerra Sem Regras começa bem. Diria que até a metade o filme é bom. A cena inicial, onde somos apresentados ao grupo dos “bastardos inglórios da segunda divisão”, é muito boa. Conhecemos um grupo de “matadores de nazistas” que realmente existiu na vida real – se as coisas aconteceram como no filme, aí já é outra história, mas essas pessoas realmente existiram. O grupo precisa sabotar um grande navio nazista, numa missão tão secreta que nem a marinha britânica podia saber.

A trama se divide em dois grupos – temos os homens num barco, indo até a costa da África, enquanto uma mulher, em terra, precisa seduzir um oficial nazista. E é com essa personagem que está o pior problema de Guerra Sem Regras. Porque todos vão se lembrar de uma cena icônica em Bastardos Inglórios, onde um infiltrado entre os nazistas é descoberto por um detalhe. Aqui acontece EXATAMENTE a mesma coisa. Caramba, “copia, mas não faz igual!”

Depois disso passei a ter menos tolerância com alguns pequenos problemas que heu relevaria se o filme estivesse fluindo bem, como uma inexplicável troca de roupa da personagem da Eiza Gonzalez no meio da festa. Ou, ainda pior: cortam a energia elétrica do local, mas deixam a festa dos oficiais iluminada por lamparinas pra eles não repararem que a base está sem luz. Mas, a Eiza está cantando no microfone! Como aquele microfone está ligado se não tem energia elétrica??? E, pra piorar, a cena final é confusa, a gente vê muitos tiros e explosões, mas é difícil de entender tudo o que está acontecendo.

Sobre o elenco, Henry Cavill está bem, e preciso reconhecer que gostei do Alan Ritchson, que tinha se mostrado um ator péssimo na série Reacher. Por outro lado não gostei da Eiza González, mas não sei se o problema está na atriz ou na personagem. Ah, preciso citar: Til Schweiger é o oficial nazista. Sim, ele mesmo, que estava em Bastardos Inglórios.

Pena, porque o filme começou bem, a reconstituição de época é muito boa, e temos algumas cenas de ação muito bem coreografadas e bem filmadas. Faltou pouco pra ser um “Bastardos lado B”.

Por fim, uma curiosidade: Ian Fleming, um dos oficiais britânicos, é o criador do James Bond. Rumores dizem que ele criou o seu famoso personagem inspirado em Gus March-Phillips, protagonista aqui (personagem do Henry Cavill).

Guerra Sem Regras será lançado em breve no Prime Vídeo…

Magnatas do Crime (2024)

Crítica – Magnatas do Crime

Sinopse (imdb): Eddie Horniman herda a grande propriedade de seu pai, um aristocrata inglês, e se torna o novo duque de Halstead, apenas para descobrir que ele está na maior fazenda de ervas da Europa, de propriedade do lendário Mickey Pearson.

Magnatas do Crime é um longa dirigido por Guy Ritchie e lançado em 2019. E agora em 2024 veio uma série homônima, dirigida pelo mesmo Guy Ritchie. Como assim?

O filme mostrava um traficante de maconha que tinha plantações escondidas no subsolo de mansões de famílias aristocratas falidas. A série não repete nenhum personagem do filme, mas traz o mesmo conceito: a família de um duque, sem dinheiro, é sustentada pelo tráfico de maconha.

São quatro diretores diferentes – os dois primeiros episódios são dirigidos por Ritchie, e os seguintes, a cada dois, são dirigidos por Nima Nourizadeh (Gangs of London), Eran Creevy e David Caffrey. A boa notícia é que todos mantém o estilo do Guy Ritchie, com personagens marginais mas charmosos, situações bizarras, edição estilosa com uso de elementos gráficos na tela, e muita violência estilizada misturada com humor negro. Ou seja, mudou de diretor, mas continua tudo com a mesma cara.

(Aliás, Ritchie está num frenético ritmo de trabalho, deve ser por isso que delegou episódios pra outros diretores. De 2019 pra cá, ele dirigiu Aladdin, Magnatas do Crime, Infiltrado, Esquema de Risco, O Pacto, os dois primeiros episódios dessa série, e já tem filme novo dele lançado lá fora que ainda não chegou no Brasil, The Ministry of Ungentlemanly Warfare. Pensa num cara que trabalha muito!)

Os dois personagens centrais são muito bons. Theo James e Kaya Scodelario estão ótimos, tanto individualmente quanto juntos – detalhe que rola uma boa química mas eles nunca confirmam se são ou se serão um casal (tem uma cena com imagens de um flashback onde todos estavam alcoolizados que dá a entender alguma intimidade, mas parou aí).

Mas, além dos protagonistas, outra coisa que merece destaque são os personagens secundários. Magnatas do Crime tem uma vasta galeria de personagens esquisitões (começando pelo alucinado irmão do protagonista, Freddie). Outra característica dos filmes do Guy Ritchie: personagens secundários exóticos. No elenco, além dos já citados Theo James e Kaya Scodelario, Magnatas do Crime conta com Giancarlo Esposito, Vinnie Jones, Joely Richardson e Ray Winstone

Respondendo à pergunta óbvia: filme ou série? Na minha humilde opinião, o filme é melhor. Reconheço que na série dá pra desenvolver melhor algumas situações e personagens, mas sempre prefiro um produto final mais enxuto.

São oito episódios que variam entre 41 e 67 minutos. Existe um gancho pra uma segunda temporada. Que mantenham a qualidade!

Magnatas do Crime (2019)

Crítica – Magnatas do Crime (2019)

Sinopse (google): Um talentoso estadunidense graduado em Oxford, usando suas habilidades únicas, audácia e propensão à violência, cria um império da maconha usando as propriedades dos aristocratas ingleses empobrecidos. No entanto, quando ele tenta vender seu negócio a um colega bilionário, uma cadeia de eventos se desenrola, envolvendo chantagem, decepção, caos e assassinato entre bandidos de rua, oligarcas russos, gângsteres e jornalistas.

Definitivamente a pandemia bagunçou com a vida da gente. Outro dia abri a Netflix e vi uma série do Guy Ritchie, “Magnatas do Crime / The Gentlemen”. Ué, o Guy Ritchie não tinha feito um filme com esse exato nome? Pra piorar, no meio de 2020 tive uns problemas pessoais, e passei um tempo sem postar aqui no heuvi. De 2008 até agora, foi a única época que deixei de fazer os meus textos. E Magnatas do Crime veio nessa época. Ou seja, não teve crítica aqui. Teve apenas um parágrafo, no top 10 de 2020:

Gostei de ter visto Guy Ritchie de volta ao submundo do crime cool e moderninho (os dois últimos dele foram Aladdin e Rei Arthur). Violência estilizada, personagens exóticos, bons diálogos, boa edição. Além de ter um elenco ótimo, Matthew McConaughey, Hugh Grant, Charlie Hunnam, Colin Farrell, Jeremy Strong, etc

Sinceramente, lembrava muito pouco do filme. Comecei a ver a série, e me lembrei de alguns detalhes, então, depois de ver o primeiro episódio, decidi que era melhor rever o filme antes de continuar a série.

Vamos ao filme então? Repetindo o que escrevi ali em cima: Magnatas do Crime (The Gentleman, no original) traz Guy Ritchie de volta ao submundo do crime cool. Magnatas do Crime lembra muito o estilo dos seus dois primeiros filmes: Jogos Trapaças e Dois Canos Fumegantes e Snatch, filmes com tramas rocambolescas, vários personagens esquisitos, trilha sonora moderninha e edição ágil. Por causa desses dois primeiros filmes Ritchie foi comparado com Tarantino, e aqui volta ao”estilo tarantinesco”.

A história dá um monte de voltas, é daquele tipo que apresenta um quebra cabeças com vários personagens e várias situações peculiares, e tudo se junta de maneira satisfatória no fim. E Ritchie consegue fazer um bom equilíbrio entre o humor e a violência (outra semelhança com Tarantino).

A comparação com Jogos Trapaças e Dois Canos Fumegantes e Snatch, é inevitável, mas este Magnatas do Crime tem uma diferença: tudo aqui parece mais estiloso. Todos estão muito bem vestidos, tudo é muito elegante. Continuamos com personagens criminosos, mas aqui todos são muito mais elegantes. Inclusive, segundo o imdb, Guy Ritchie levou Charlie Hunnam para comprar roupas para o seu personagem.

O elenco está muito bem. Na minha humilde opinião, o maior destaque é Hugh Grant, malandro que quer dar a volta em todos, e que é justamente o narrador da história – ele passa boa parte do filme contando sua versão dos fatos para o personagem do Charlie Hunnam, e, detalhe importante, nem sempre sua versão é o que realmente aconteceu (o filme faz piada com isso). Outro destaque é Colin Farrell, com um sotaque tão forte que fica difícil de entender o que ele fala. Também no elenco, Matthew McConaughey, Jeremy Strong, Michelle Dockery, Eddie Marsan e Henry Golding.

(Uma curiosidade sobre o elenco. Sting, o cantor, estava em Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes. Sua filha, Eliot Sumner, é Laura, a drogada resgatada pela equipe do Charlie Hunnam.)

Por fim, tem dois “momentos jabá” do próprio diretor. No inicio do filme, o chope servido para o Matthew McConaughey é da “Gritchie Brewery”, cervejaria do diretor. E no fim do filme, quando Hugh Grant está no escritório de um produtor de cinema, vemos o cartaz de O Agente da UNCLE.

Agora, a pergunta que muita gente está se fazendo: qual é a conexão entre o filme e a série? Bem, só vi um episódio, mas, já consigo responder isso. O protagonista aqui, interpretado pelo Matthew McConaughey, tem plantações subterrâneas de maconha espalhadas pela Inglaterra. No filme, conhecemos uma dessas plantações; no primeiro episódio da série, conhecemos outra. Só não sei se terá outra conexão entre filme e série,porque ainda não vi o resto.

Filme revisto, agora vou encarar a série e volto aqui depois pra comentar!

Guy Ritchie’s The Covenant

Crítica – Guy Ritchie’s The Covenant

Sinopse (imdb): Siga o Sargento do Exército dos EUA John Kinley e o intérprete afegão Ahmed em ação

Quando surgiu este novo filme do Guy Ritchie, heu tive a impressão de que ele estava fazendo mais de um filme por ano, porque 4 meses atrás, em janeiro, foi lançado Esquema de Risco – Operação Fortune. Fui checar no imdb, na verdade ele tem trabalhado muito, mas não é mais de um filme por ano. De 2019 pra cá, em 5 anos, ele dirigiu 5 filmes: Aladdin, Magnatas do Crime, Infiltrado, Esquema de Risco e agora este The Covenant.

(Na verdade, a pandemia atrasou o lançamento de Magnatas do Crime, que acabou saindo perto de O Infiltrado, ambos no meio da pandemia. Por isso me confundi.)

Guy Ritchie tem um estilo onde repete algumas características em vários dos seus filmes, como personagens marginais, edição com cortes rápidos e frequentemente usar pitadas de humor (apesar de Infiltrado não ter nada de humor). Mas, desta vez, em The Covenant, o filme não tem “cara de Guy Ritchie”. É um filme de guerra, que se não tivesse o nome dele nos créditos, heu não iria identificar o traço do diretor apenas assistindo ao filme.

Antes de entrar no filme, preciso falar que não curto muito a postura dos personagens em filmes com esse tema. Heu não concordo de jeito nenhum com o Talibã, mas heu também não concordo com um país que se auto intitula a “polícia do mundo” e invade outros países para supostamente colocar ordem. Então, pra mim, é complicado me identificar com um protagonista que está invadindo outro país se achando o dono a verdade, principalmente porque a gente sabe que muitas vezes existem outros objetivos por trás dessa fachada. Mas, como já comentei em outras ocasiões, este site fala de cinema e não de política, então vamos analisar o filme em si.

Segundo filme, depois do atentado de 11/09, em 2001, americanos invadiram o Afeganistão para tentar combater o Talibã. Para isso eles precisavam de intérpretes. Então eles contratavam pessoas locais com a promessa de dar vistos de imigração para que eles pudessem se mudar para os EUA depois. E esse intérprete fica numa situação bem delicada, porque, por um lado, os americanos não sabem se podem confiar nele; por outro lado, o Talibã o considera um traidor, e pode atacá-lo ou atacar sua família.

Heu não vou entrar em detalhes sobre o que acontece ao longo do filme por motivos de spoiler, mas heu diria que o principal foco é a relação entre os dois personagens principais: o oficial americano e o seu intérprete afegão. O personagem que seria o coadjuvante, o intérprete Ahmed, é um personagem excelente, e eles travam alguns diálogos ótimos, como por exemplo quando Ahmed dá uma opinião, e o americano diz “você não está aqui para dar opiniões, e sim para traduzir”, e o outro responde “na verdade estou aqui para interpretar”.

Aproveito pra falar do elenco. Jake Gyllenhaal está bem como sempre, mas, melhor do que ele, é Dar Salim e seu Ahmed. Salim fez um papel em Game of Thrones, mas nem me lembro dele na série. É um dos trunfos de The Covenant.

Ainda queria comentar outros 3 nomes do elenco. Johnny Lee Miller era um cara que, nos anos 90, heu achava que seria um grande nome, depois de filmes como Hackers e Trainspotting. Mas heu errei, hoje ele é tão segundo escalão que só reconheci porque li o nome nos créditos, heu não reconheceria só pelo filme. Outro é Alexander Ludwig, um dos principais da série Vikings. Por fim, na segunda metade do filme aparece o Antony Starr, também conhecido como Homelander ou Capitão Pátria de The Boys. Aqui ele está de barba, mas continua com o mesmo olhar e voz do seu personagem mais famoso.

The Covenant não tem cara de Guy Ritchie, mas a gente precisa reconhecer que tecnicamente é um filme muito bom. O filme é claramente dividido em duas partes, fecha a primeira história e depois começa uma nova, e em ambas histórias temos alguns momentos muito tensos. É bom ter um diretor experiente que sabe manipular a tensão apresentada ao espectador.

Se você for perguntar a minha opinião pessoal, heu ainda prefiro ver Guy Ritchie fazendo filme “com cara de Guy Ritchie”. Mas mesmo assim The Covenant é bem melhor que seu último filme “com cara de Guy Ritchie”, Esquema de Risco. Mais um bom filme de guerra a ser lançado. Pena que não tenho notícias de quando deve chegar ao circuito ou a os streamings.

Esquema de Risco – Operação Fortune

Crítica – Esquema de Risco – Operação Fortune

Sinopse (imdb): O agente especial Orson Fortune e sua equipe de agentes recrutam uma das maiores estrelas de cinema de Hollywood para ajudá-los em uma missão secreta quando a venda de uma nova tecnologia de armas ameaça perturbar a ordem mundial.

Ah, as expectativas. Detesto criar expectativas, mas às vezes é meio inevitável. Foi o que aconteceu com este Esquema de Risco – Operação Fortune, novo filme do Guy Ritchie.

O último Guy Ritchie, Infiltrado, foi muito bom, chegou a estar no meu top 10 de 2021. Aí a gente chega em Esquema de Risco: bom elenco, boas locações, algumas cenas de ação muito bem filmadas, com direito a perseguição de carros e helicópteros… e tem um resultado tão… genérico…

Ok, não é ruim. Tecnicamente bem feito, algumas cenas são divertidas, mas, tudo é tão esquecível… Até a edição e a trilha sonora, que costumam ser destaques em filmes do diretor, soam burocráticas. Esquema de Risco está bem abaixo do “padrão Guy Ritchie”.

Teve uma coisa que não gostei no roteiro cheio de reviravoltas. O personagem JJ parece ser um coringa para o que o roteiro pede. O cara é bom pilotando carro, hackeando computador, atirando como sniper, o cara até amansa cães de guarda! Caramba, se um cara desses consegue fazer tanta coisa, merecia protagonismo na equipe, às vezes parece que ele é mais importante que o personagem principal.

Alguns comentários sobre o elenco. Jason Statham é bom, carismático, sabe brigar. Usá-lo num filme desses é “jogo ganho”. Mas preciso citar outros dois que estão ainda melhores. Aubrey Plaza é simpática, engraçada, irônica, passa quase o filme inteiro com um delicioso ar sarcástico, acaba o filme e a gente queria ver mais dessa personagem. E Hugh Grant está sensacional como o bilionário com ligações criminosas, bem diferente do inglês bobo e simpático que a gente se acostumou a vê-lo fazendo nas comédias românticas. Também no elenco, Josh Hartnett, Cary Elwes, Eddie Marsan e Bugzy Malone.

A previsão era lançar Esquema de Risco ano passado, mas o filme traz vilões ucranianos, então resolveram adiar por causa da guerra. Como a guerra ainda não acabou, mudaram de ideia e lançaram logo.

O fim do filme deixa espaço pra virar uma franquia. Se fosse em outros filmes do diretor, isso me empolgaria. Mas Esquema de Risco não empolga ninguém. Porque no fim, fica a frustração com o nível “sessão da tarde”. Meu top 10 de expectativas 2023 começou mal.

Infiltrado

Crítica – Infiltrado

Filme novo do Guy Ritchie!

Sinopse (imdb): O enredo segue H, um personagem frio e misterioso que trabalha em uma empresa de caminhões de dinheiro responsável por movimentar centenas de milhões de dólares em Los Angeles todas as semanas

Gosto muito do Guy Ritchie. Lembro quando ele apareceu, com Jogos Trapaças e Dois Canos Fumegantes, no fim dos anos 90. Por causa do sucesso de Pulp Fiction (marco na cultura pop, palma de ouro em Cannes, Oscar de roteiro e sucesso de bilheteria), surgiram diversos filmes tentando copiar o “estilo Tarantino”: violência, personagens marginais, diálogos cool, trilha sonora moderninha, edição não convencional e às vezes fora da ordem – filmes como Get Shorty – O Nome do Jogo, Smoking Aces – A Última Cartada, Lucky Number Slevin e Coisas Para Fazer em Denver quando se está Morto. Jogos Trapaças pegou carona nessa moda, mas, com o tempo, Guy Ritchie mostrou que tinha mais conteúdo que a maioria da galera que surfou a mesma onda.

(Momento pra contar uma história pessoal. No fim de 1998, heu viajei pra Europa. Estava em Londres com a minha esposa, e a gente resolveu ir ao cinema pra ver um filme novo, de um cara estreante, que estavam comparando com o Tarantino. Claro, na Inglaterra, seria sem legendas, mas não ia ser a minha primeira vez vendo um filme sem legendas (na mesma viagem vi um filme em Amsterdã, com o som em inglês e legendas em holandês – não tem como não ler as legendas, e isso sempre me confundia!). Fomos ao cinema, mas os sotaques dos personagens são muito difíceis! A gente não estava entendendo nada! Mais pro fim, consegui entender mais ou menos a história, mas precisei rever no Brasil com legendas quando voltei…)

Com o tempo, Guy Ritchie se firmou com um estilo característico (apesar de alguns filmes fora da curva, como Rei Arthur e Aladdin). Mas, aqui, em Infiltrado (Wrath of Man, no original), Ritchie está um pouco diferente do que faz habitualmente. Infiltrado tem menos humor, tem menos personagens e situações engraçadinhas, é um filme de um modo geral mais sério.

Trata-se da refilmagem do francês Le Convoyeur, de 2004. Depois de ver a refilmagem, fui catar o original. É bem parecido, mas a refilmagem me pareceu melhor, mais refinado, mais bem construído.

Infiltrado é um filme sério e tenso, que traz mais de um ângulo pra mesma história, e tem alguns plot twists bem elaborados. E, falei tenso, né? A sequência final, quando tudo se resolve, é muito tensa, e muito bem filmada.

Jason Statham deve ser um velho amigo de Guy Ritchie, afinal Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes foi o primeiro longa metragem de ambos. Pouco depois, ainda fizeram Snatch: Porcos e Diamantes e Revolver, mas depois suas carreiras seguiram caminhos diferentes. Statham volta aqui, e se mostra o cara perfeito pra esse papel – um personagem sério, preciso e de poucas palavras. Também no elenco, Josh Hartnett, Holt McCallany, Scott Eastwood e Jeffrey Donovan, e uma ponta de Andy Garcia.

Nem tudo funciona. Por exemplo, tem uma personagem feminina que achei meio forçada – mas aí vi que no filme francês também tem uma mulher, então a refilmagem deve ter seguido a mesma ideia. Já o personagem do Andy Garcia não está no original francês, e se também não estivesse aqui, não faria falta – um personagem que pouco aparece e que não se explica direito o propósito dele.

Mesmo assim, ainda achei Infiltrado um grande filme de ação, com boas chances de entrar num top 10 aqui no heuvi. Recomendo!

Antes de terminar, só um comentário de uma coisa que achei curiosa. Nestes tempos de pandemia – já tem mais de um ano sem cinema como era antes – muitos grandes lançamentos estão sendo guardados pra depois, pra quando pudermos encher os cinemas novamente. E, olha só, já é o segundo filme do Guy Ritchie lançado durante a quarentena: ano passado tivemos Magnatas do Crime, que nem chegou a ser lançado nos cinemas aqui no Brasil, e agora Infiltrado. Será que conseguiremos ver na telona?

Aladdin (2019)

Crítica – Aladdin

Sinopse (imdb): Um moleque de rua de bom coração e um famigerado Grão-Vizir disputam uma lâmpada mágica que tem o poder de realizar seus mais profundos desejos.

E vamos a mais uma adaptação live action de um desenho clássico da Disney.

Quando surgiram imagens de Will Smith como o gênio, muita gente chiou “pelas internetes”, reclamando da caracterização do novo gênio. Não fiz coro, isso não me incomodou. Na minha humilde opinião, o problema não era a caracterização, e sim, o desafio de se fazer um gênio tão bom quanto o gênio do desenho, que trazia uma interpretação sensacional e muito marcante do Robin Williams. Bem, Will Smith pode não ser tão bom quanto Robin Williams, mas pelo menos seu gênio ficou muito bom.

Aladdin (idem, no original) segue os passos da animação de 1992. Alguns pontos da trama foram atualizados para se encaixarem melhor nos dias de hoje, tipo um Jafar com ambições políticas e uma Jasmine empoderada – mas basicamente, a história é a mesma.

Às vezes a gente nem se dá conta, mas boa parte das animações da Disney são musicais. No live action isso fica mais claro, é um musical assumido. As músicas que todo mundo conhece estão lá, além, claro, de algumas novidades para o Oscar ano que vem (para ser indicada ao Oscar de melhor canção, a música precisa ser composta para o filme – arrisco a dizer que aquela música da Jasmine cantando “ninguém me cala” será a bola da vez no Oscar do ano que vem).

Preciso falar sobre a direção. Não, não vou falar mal, o filme é bem dirigido. Mas… O diretor é Guy Ritchie!!! Sim, o mesmo de Jogos Trapaças e Dois Canos Fumegantes, Snatch, RocknRolla, O Agente da UNCLE – quase toda a sua filmografia tem violência e personagens de moral duvidosa. Por que diabos ele foi escolhido para Aladdin??? Bem, ele está bem, mas não vemos nada do seu estilo neste filme.

Sobre o elenco, o único nome a ser citado é Will Smith, que, como falei lá em cima, está bem. Já Marwan Kenzari, que faz o Jafar, está caricato – no mau sentido. Também no elenco, Mena Massoud, Naomi Scott, Nasim Pedrad e Navid Negahban.

No fim fica aquele mesmo comentário das outras vezes: não precisava de uma versão live action tão parecida com o desenho original. Mas pelo menos o trabalho foi bem feito.

Rei Arthur: A Lenda da Espada

Rei ArthurCrítica – Rei Arthur: A Lenda da Espada

Roubado de seu direito de nascença, Arthur cresce do jeito difícil, nos becos traseiros da cidade. Mas uma vez que ele puxa a espada da pedra, ele é forçado a reconhecer seu verdadeiro legado – quer ele goste ou não.

Vamos direto ao ponto. Existem dois ângulos pra você ver Rei Arthur: A Lenda da Espada (King Arthur: Legend of the Sword, no original). Se você pensar na história clássica do Rei Arthur, você vai detestar o filme. Mas se você se desligar da história, pode se divertir.

Na verdade, Rei Arthur: A Lenda da Espada parece mais um filme de origem de super heróis do que um filme do Rei Arthur. Em vez de Merlin, Lancelot e Guinevere, temos um personagem que aos poucos descobre seu “superpoder” e precisa aprender a controlá-lo…

Parece que quando Guy Ritchie começou a divulgar seu projeto, ele falou que seria algo como uma mistura de Snatch com O Senhor dos Anéis. Assim, temos uma espécie de Rei Arthur malandro que parece saído dos subúrbios londrinos…

Dito isso, preciso dizer que gostei muito do filme. Guy Ritchie (Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes, Sherlock Holmes, O Agente da UNCLE) é um excelente contador de histórias, e mais uma vez ele mostra essa habilidade. Vários trechos do filme têm aquela edição entrecortada, não linear, misturando câmera lenta com imagens aceleradas, tudo com uma pitada de bom humor. Ritchie sabe usar esse estilo como poucos. A cena onde Arthur e seus amigos falam do viking é genial!

Junte a isso efeitos especiais de primeira linha, uma trilha sonora empolgante e algumas boas cenas de ação, e temos uma boa opção pra quem curte filmes pop.

No elenco, sem destaques, nem positivos, nem negativos. Charlie Hunnam (Sons of Anarchy) lidera o elenco, que conta com Jude Law, Eric Bana, Astrid Bergès-Frisbey, Djimon Hounsou e Aidan Gillen. Ah David Beckham faz uma ponta, na cena onde Arthur tira a espada da pedra.

Em lugar nenhum li sobre uma nova franquia. Mas isso parece claro quando ao fim do filme Arthur está montando uma mesa redonda… Acredito que em breve teremos uma continuação…

Enfim, se você curte filmes pop, vá sem medo. Mas se você é fã do Rei Arthur, reveja Excalibur, de 1981.

O Agente da U.N.C.L.E.

Agente da UNCLECrítica – O Agente da U.N.C.L.E.

Se a série dos anos 60/70 Missão Impossível pode render bons filmes de ação / espionagem, por que não a série O Agente da U.N.C.L.E., exibida entre 1964 e 68?

No início dos anos 60, um agente da CIA e outro da KGB precisam se unir em uma missão contra uma misteriosa organização criminal, que trabalha desenvolvendo bombas atômicas.

Antes de tudo, preciso falar que não conheço NADA da série original. Pra ser sincero, só me lembro do nome da série porque a trilha de abertura consta no primeiro CD da coleção Television Greatest Hits, um dos primeiros CDs que comprei na minha vida, lá longe, no fim dos anos 80. Já tinha ouvido o tema (a faixa ficava entre Missão Impossível e Agente 86), mas confesso que nem me lembrava.

Mas isso pouco importa. O Agente da U.N.C.L.E. (The Man From U.N.C.L.E., no original), o novo filme de Guy Ritchie, é muito bom. Sabe quando tudo funciona redondinho? Bom elenco, boa fotografia, edição criativa e bem cuidada, ritmo empolgante, tudo isso embalado por uma excelente reconstituição de época e uma trilha sonora sensacional. Temos um forte candidato a um dos melhores filmes do ano, arrisco dizer!

Guy Ritchie sempre inovou nas edições de seus filmes, desde o início da carreira, época de Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes e Snatch, até recentemente, com os dois Sherlock Holmes (2009 e 2011). Aqui, mais uma vez, a edição chama a atenção. Só pra dar um exemplo: uma cena de invasão por barco, que em qualquer filme seria um dos pontos altos da ação, foi encurtada, parece um videoclipe de apenas alguns segundos, afinal, temos outras cenas mais legais para serem exploradas.

A reconstituição de época também chama a atenção – o filme se passa durante a Guerra Fria, não teria sentido atualizar a trama para os dias de hoje. A fotografia emula filmes de espionagem dos anos 70, as imagens parecem “velhas”. O filme tem um delicioso visual retrô.

O elenco também está ótimo. Armie Hammer e Henry Cavill estiveram no Rio para o lançamento do filme, e mostram boa química na tela. Curiosidade do mundo globalizado: o britânico Cavill interpreta um americano; o americano Hammer interpreta um russo; a sueca Alicia Vikander interpreta uma alemã; a francesa (criada na Austrália) Elizabeth Debicki interpreta uma italiana – verdadeira Torre de Babel! (Ok, o inglês Hugh Grant interpreta um inglês…)

Ah, a trilha sonora! Me lembrei da trilha de Pulp Fiction, cheia de músicas boas e inesperadas – tem até uma música do Tom Zé! Não sei se as pessoas ainda compram CDs, mas se ainda estivéssemos nos anos 90, este CD seria obrigatório em festinhas descoladas.

Li que o filme não foi bem na bilheteria nos EUA, o que é uma pena. O fim do filme traz um gancho para começar uma nova franquia e se mantiver a qualidade, será uma franquia muito bem vinda!

Por fim, só me pergunto por que o título está no singular (tanto em português quanto em inglês). Não é só um agente…

Sherlock Holmes – O Jogo de Sombras

Crítica – Sherlock Holmes – O Jogo de Sombras

Como o primeiro Sherlock Holmes teve uma boa bilheteria, era certo que teríamos em breve uma continuação!

Enquanto Watson está se preparando para casar, Sherlock Holmes aparece com uma teoria conspiratória onde o seu inimigo, o Professor Moriarty, estaria por trás de uma série de assassinatos com o objetivo de causar uma guerra mundial.

Como falei no post sobre o primeiro filme, o único defeito desta nova versão do Sherlock Holmes é que foge um pouco do estamos acostumados a ver referente ao detetive inglês – aqui, a tônica é a ação, diferente dos livros, onde é tudo mais cerebral. O protagonista é o menos importante aqui, podia ser o Tony Stark ou o John McLane no lugar de Holmes que o filme ia funcionar da mesma maneira.

Isso não significa que Sherlock Holmes – O Jogo de Sombras seja um filme ruim. Longe disso, assim como o primeiro filme, esta continuação tem uma produção caprichada, um bom diretor, um elenco acima da média. E o mais importante: é um bom filme de ação.

O diretor é o mesmo Guy Ritchie. Sua marca registrada – muitos cortes rápidos, muita câmera lenta – se encaixa bem na vizualização das deduções de Holmes. E o filme traz pelo menos uma sequência memorável: a fuga pela floresta sob tiroteio.

No elenco, Robert Downey Jr. mais uma vez mostra porque é um dos maiores nomes do cinema atual, liderando simultaneamente duas franquias, esta e Homem de Ferro. O seu Sherlock pode não parecer com o dos livros, mas não deixa de ser um personagem com grande carisma. Ao seu lado, Jude Law repete a boa parceria como o dr. Watson. Uma boa aquisição ao elenco foi Jared Harris no papel do prof. Moriarty. Quem heu achei meio perdida foi Noomi Rapace, o principal nome feminino, mas sem muita função no filme. Ainda no elenco, Kelly Reilly, Rachel McAdams e Stephen Fry como Mycroft Holmes, o irmão mais velho de Sherlock.

Como falei, a produção do filme é bem cuidada. A trilha sonora de Hans Zimmer é muito boa, assim como a reconstituição de época, usando elementos steam punk. E o roteiro escrito por Michele e Kieran Mulroney consegue equilibrar bem os momentos bem humorados do filme.

Se é melhor ou pior que o primeiro? Bem, podemos dizer que o bom nível foi mantido.

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