Projeto Extração

Crítica – Projeto Extração

Sinopse (imdb): Uma refinaria de petróleo chinesa no Iraque é atacada e Chan é encarregado de tirar os trabalhadores de lá. Porém, ele descobre um grande plano de roubo de petróleo e precisa unir forças com um ex-Fuzileiro Naval.

Bora pra mais um filme genérico da Netflix. Mas, diferente do recente Agente Stone, esse Projeto Extração (Hidden Strike, no original) até que é divertido. Principalmente por causa do carisma de seus dois protagonistas. É sempre legal ver Jackie Chan e John Cena em tela. Eles não são atores versáteis, parece que eles sempre interpretam o mesmo papel – um é o bonzinho atrapalhado e bom de briga; o outro é o fortão que gosta de piadas de tiozão. Colocá-los juntos foi uma boa ideia.

Dirigido por Scott Waugh (Need For Speed e que em breve estará nas telas com Mercenários 4), Projeto Extração não é exatamente um bom filme. O roteiro tem falhas, o vilão é péssimo, o cgi é preguiçoso… Mas, quando um dos dois protagonistas está em tela, tudo fica mais aceitável. E quando os dois estão juntos, fica ainda melhor.

Agora, precisamos reconhecer as falhas. O roteiro não é bom. Um exemplo simples: Chan e Cena começam o filme como antagonistas, e do nada viram bffs. Achei que faltou alguma coisa no roteiro pra aproximá-los.

Isso porque não estou citando coisas sem lógica como a cena das bolhas de sabão. Por que diabos aquele local teria tantas bolhas de sabão? A coreografia da luta é legal, com os atores presos por elásticos, mas pra que as bolhas de sabão?

O cgi também é bem tosco. Tem uma cena onde mostra por dentro dos encanamentos e o petróleo jorrando no navio – e que petróleo mal desenhado… Ou então a briga dentro do ônibus. Achei legal como a câmera roda, sobe, desce, etc, mas aí a gente olha em volta o cenário, e é tão tosco que parece videogame dos anos 90.

Elogiei os dois protagonistas, mas preciso criticar o vilãozão malvadão feito por Pilou Asbæk. Ok, elogiei Chan e Cena porque estão sempre repetindo os personagens, e Asbæk também repete o que faz sempre. A diferença é que ele sempre faz o mesmo vilão ruim.

Mas, dito tudo isso, reconheço que ainda me diverti. O carisma da dupla principal é muito bom. Quem estiver atrás de uma diversão descartável pode curtir. Mas, só vale pelo Jackie Chan e pelo John Cena.

Corra, Querida, Corra

Crítica – Corra, Querida, Corra

Sinopse (imdb): Uma mulher tenta chegar em casa viva depois que seu encontro às cegas se torna violento.

Recentemente surgiu um filme polêmico na Amazon Prime, mas que sei lá por que não entrou no meu radar na época do lançamento. Como tem polêmica envolvida, cabe um comentário levemente atrasado sobre o filme?

Em 2017, a gente teve Corra!, que era um filme de terror que trazia uma inteligente abordagem sobre o racismo. Agora este Corra, Querida, Corra (Run Sweetheart Run, no original) parece que quer algo semelhante, mas fazendo uma crítica ao machismo. Mas, se aquele era um bom filme e a crítica social era bem inserida, este novo filme falha nos dois aspectos.

Antes de tudo, preciso avisar que este é um daqueles filmes onde o melhor é você não saber muita coisa. A história toma rumos inesperados. Vou dividir meu texto, e vou comentar alguns spoilers leves mais à frente. Nada grave do tipo “final explicado”, mas, se você não viu e quiser a experiência completa, é melhor não ler.

Co-escrito e dirigido por Shana Feste, Corra, Querida, Corra começa bem. Somos apresentados à protagonista Cherie, que sofre por viver no meio de um mundo machista – vemos isso no seu trabalho, no ônibus, etc. Aí ela precisa ir a um jantar de negócios que acaba que vira um encontro romântico, e esse encontro dá errado e ela agora precisa correr pela sua vida.

A estrutura do filme a partir daí é com ela tentando ajuda, e ele aparecendo e matando quem tenta ajudar. Ok, repetitivo, mas funciona dentro do formato proposto. Além disso, a fotografia à noite é boa, e curti a trilha sonora com synth pop.

Teve uma coisa que achei uma boa sacada. O Ethan, em dois momentos, quebra a quarta parede e vira a câmera, pra gente não ver cenas de violência. Achei uma boa ideia, só achei que isso deveria ter acontecido pelo menos mais uma vez. Só duas vezes ficou estranho.

Claro que o filme se baseia nos dois atores principais. Ella Balinska, que estava no recente As Panteras e na série ruim Resident Evil, está ok para o que o filme pede; Pilou Asbæk (famoso como Euron Greyjoy de Game of Thrones, e que estava no recente Samaritano) é caricato mas caiu bem no papel de machista. A dinâmica entre os dois funciona bem. Também no elenco, Clark Gregg e Shohreh Aghdashloo.

Agora, vamos aos problemas? Preciso falar que aquele “jantar de negócios” do início do filme é um furo de roteiro que me incomodou profundamente. Cherie errou na agenda, e marcou um jantar de negócios na mesma noite que o chefe tinha aniversário de casamento. Isso não foi armado pelo chefe, foi um erro da Cherie. Ou seja, era pro chefe dela estar naquele jantar! Toda a trama do filme não deveria ter acontecido! E isso era muito fácil de corrigir, uma simples linha de diálogo do chefe dizendo “marquei dois compromissos pra hoje, preciso que você me represente em um deles.”

E o roteiro ainda tem alguns pontos aqui e ali que são bem forçados. Tipo quando a Cherie é presa, e a outra mulher que está na cela ao lado dela conhece até o tipo de bebida que o Ethan prepara. Ou o cachorro que salva a Cherie! De onde veio aquele cachorro???

Outra coisa: a crítica ao machismo estrutural é bem vinda, mas às vezes o filme precisava de um pouco mais de sutileza. Mais pra perto do fim, tem um diálogo completamente desnecessário onde a First Lady fala sobre o Ethan, e que a função dele era “manter os homens no poder, e agora que a balnça de poder virou, ele está ficando desesperado”. Sério?

Tenho mais um comentário, mas vamos ao aviso de spoilers.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

Lá pelo meio do filme a gente descobre que o Ethan não é apenas um machista, ele é um monstro. O filme não deixa claro o que ele é – não o vemos na forma monstro – mas desconfio que seja um vampiro, porque ele fareja sangue e precisa voltar pra casa antes do sol nascer. Heu achei essa ideia muito boa, o cara se revela um monstro de verdade. E aí a gente entende por que o filme não pode mostrar os atos de violência, porque a gente descobriria que ele é um monstro logo nos primeiros vinte minutos de filme.

FIM DOS SPOILERS!

Mas mesmo com alguns pontos positivos, o resultado final fica devendo. Pena, a ideia poderia ter dado certo.

Samaritano

Crítica – Samaritano

Sinopse (imdb): Um menino descobre que um super-herói que se pensava estar desaparecido pode ainda estar por aí.

A ideia era boa. Um ex super-herói aposentado, interpretado por um Stallone septuagenário – casting perfeito, um super herói velho teria um porte físico desses. Mas Samaritano (Samaritan, no original), dirigido por Julius Avery (Operação Overlord), tem problemas. Vou primeiro falar deles, depois falo sobre o que funcionou.

Pra começar, essa história é batida. Todo mundo já viu outros filmes sobre um cara que foi importante, aí aconteceu um problema e ele passou a viver uma vida reclusa, até que um jovem vizinho descobre quem ele é, e aí o filme mostra a relação entre os dois, até que fatores externos forçam a volta do aposentado à ação.

Mas até aí, por mim ok, não me incomodo de ver histórias recicladas. Já o roteiro…

O roteiro tem umas coisas que me incomodaram. Por exemplo, vou falar do vilão interpretado por Pilou Asbæk (o Euron Greyjoy de Game of Thrones). Ele ser caricato e unidimensional é de menos. O problema é que ele é um cara normal que encontra uma arma super poderosa. Mas ele enfrenta um cara com super poderes! A super arma lhe daria pontos extras numa luta, mas, no mano a mano, não tem como encarar um super. Além disso, a ascensão dele foi muito rápida, de repente o cara tem um exército à disposição?

São várias cenas de ação, mas nenhuma chama muito a atenção. Acho que fiquei mal acostumado pelos filmes da 87Eleven. Pelo menos não são cenas ruins. Como Stallone passa quase o filme todo de capuz, facilita a troca por um dublê.

E os efeitos especiais? Já comentei antes, costumo relevar efeitos ruins, mas tem alguns aqui onde o cgi simplesmente não desce. Tem uma cena onde uma metralhadora atirando parece efeito de aplicativo de celular!

Agora, por outro lado, Samaritano tem acertos. Como falei no início, Sylvester Stallone é o cara certo para um filme desses. Depois de uma ponta em Guardiões da Galáxia e um papel onde só usa a voz em Esquadrão Suicida, Stallone ganha o seu super herói protagonista, e ele tem carisma e também porte físico para trazer audiência. Quem curtiu o último Rambo deve gostar de Samaritano: mais uma vez, um coroa badass fazendo “badassices”.

Outra coisa boa é um plot twist que tem na parte final, que inclusive explica certas inconsistências no roteiro. E o final passa longe do politicamente correto, coerente com o que o público de um filme do “velho Rambo” espera.

Ah, gostei da sequência inicial, parece uma animação em rotoscopia com cores fortes, que traz um flashback explicando a história dos personagens. Ficou bonito, mas é curtinho.

Enfim, Samaritano não é um grande filme, mas deve agradar os fãs do Stallone.

Operação Overlord

Crítica – Operação Overlord

Sinopse (catálogo do Festival do Rio): Com apenas algumas horas até o Dia D, uma equipe de paraquedistas americanos invadiu a França ocupada pelos nazistas para realizar uma missão crucial. Com a tarefa de destruir um transmissor de rádio no alto de uma igreja fortificada, os soldados desesperados juntam forças com um jovem aldeão francês para penetrar nas muralhas e derrubar a torre. Mas, em um misterioso laboratório nazista sob a igreja, alguns soldados estão frente a frente com inimigos nunca antes vistos.

Dirigido pelo pouco conhecido Julius Avery, Operação Overlord (Overlord, no original) é uma interessante mistura entre filme de guerra e de terror. Se o diretor é desconhecido, o filme tem um produtor badalado: JJ Abrams – o que criou um boato de que este seria parte do universo Cloverfield (felizmente, boato infundado, o último, Cloverfield Paradox, é tão fraquinho…). Foi curioso ver um videozinho curto com a dupla apresentando o filme antes da sessão, eles pareciam estar meio desconfortáveis…

Operação Overlord não perde tempo com introduções – estamos num avião, no dia D, indo para a Normandia. O filme sabe muito bem construir essa tensão, essa primeira parte é um bom filme de guerra. As cenas iniciais são são estilo Resgate do Soldado Ryan, vemos uma enorme quantidade de navios e aviões no meio da batalha.

Foi uma boa sacada relacionar a “parte terror” às experiências genéticas praticadas por cientistas nazistas. Todos sabemos que essas experiências realmente aconteceram, então, não a mudança de estilo não foi gratuita.

O roteiro dá algumas escorregadas (tipo nenhum nazista ouvir tiros no sótão da asa), mas nada muito grave. Operação Overlord tem boas cenas de ação e alguns bons efeitos de maquiagem (gostei do vilãozão). No elenco, ninguém conhecido, mas ninguém compromete: Jovan Adepo, Wyatt Russell, Mathilde Ollivier, Pilou Asbæk e John Magaro.

Operação Overlord não é um “novo clássico”, mas vai divertir quem estiver na pilha. E em breve entra em circuito.

p.s.: Devem ter gostado do diretor Julius Avery, ele já foi anunciado como o diretor da refilmagem de Flash Gordon, o clássico incompreendido da ficção científica oitentista.

A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell

A Vigilante do AmanhãCrítica – A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell

Num futuro próximo (2029), Major é a primeira da sua espécie: um cérebro humano dentro de um robô, um soldado perfeito para parar os criminosos mais perigosos do mundo.

Imagine uma mistura de Matrix, Blade Runner, Robocop e Johnny Mnemonic, com uma Scarlett Johansson “chutando traseiros”? A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell (Ghost in the Shell, no original) é mais ou menos isso.

Trata-se da adaptação do mangá “Ghost in the Shell”, que depois virou o anime homônimo de 95 (que aqui ganhou o título de “O Fantasma do Amanhã”). Não li o mangá, nem vi o anime, então não posso comparar. Mas conheço duas pessoas que viram e disseram que a animação é muito sonolenta. Ok, talvez seja melhor continuar sem ver…

O nome original é explicado logo no início do filme: é um espírito (ghost) numa casca vazia (shell). Só que o estúdio resolveu mudar o nome, com medo do público achar que era um filme de terror. Foi daí que surgiu “O Fantasma do Amanhã”.

A história contada no filme dirigido por Rupert Sanders (que até agora, só tinha feito um longa, Branca de Neve e o Caçador) não é muito original, a gente já viu isso antes. O que é legal aqui é o visual. Desde a concepção da própria Major até as coreografias das lutas, passando por todos os cenários, temos um filme onde cada cena enche os olhos.

Existe um mimimi na internet sobre o “white washing”, que seria a mania americana de colocar um ator branco num papel que deveria ser oriental (rolou o mesmo papo sobre o Matt Damon em A Grande Muralha). Neste caso em particular, acho que as reclamações não têm fundamento por dois motivos: 1- O personagem é um robô, não precisa parecer uma pessoa oriental; 2- Boa parte do marketing do filme é em cima da Scarlett Johansson. Se fosse uma atriz oriental menos conhecida, o filme certamente teria menos público!

Aliás, o filme não deixa claro onde a história se passa, mas existem referências ao Japão em todos os cantos. Inclusive, alguns personagens falam japonês! Taí, uma crítica que posso fazer é que certos diálogos poderiam ser inteiramente em japonês – em vez disso, um personagem fala em japonês e o outro responde em inglês.

No elenco, claro que o nome mais importante é a Scarlett Johansson – que consegue construir outro personagem que sabe brigar, diferente da Viúva Negra. Outros dois nomes que merecem ser citados são Juliette Binoche (musa cult dos anos 80) e Takeshi Kitano, que tem uma carreira paralela como diretor. Também no elenco, Pilou Asbæk e Michael Pitt.

Agora resta ver a bilheteria pra sabermos se será uma nova franquia…

Ben-Hur (2016)

Ben-Hur-posterCrítica – Ben-Hur

A história épica de Judah Ben-Hur, um príncipe falsamente acusado de traição por seu irmão adotivo, que se tornou um oficial do exército romano. Depois de anos no mar, Judah retorna à sua terra natal em busca de vingança, mas encontra redenção.

Antes de tudo, preciso falar que faz tanto tempo que vi a versão estrelada por Charlton Heston em 1959 que não me lembro de quase nada, então este texto não pretende fazer uma comparação. Tampouco li o livro onde os filmes se basearam. Vou fazer de conta que é um filme original…

Ben-Hur (idem, no original) conta uma boa história de inseparáveis irmãos de criação que viraram inimigos. A narrativa é bem construída, o filme começa logo na cena mais icônica, a da corrida de bigas, para voltar no tempo e mostrar como eles chegaram lá. As transições temporais são criativas, e as motivações dos personagens são críveis.

(Parênteses para falar que, até onde sei, “biga” é com dois cavalos. O que vemos neste filme (e no de 59) são “quadrigas”…)

A direção é de Timur Bekmambetov, famoso por filmes mais, digamos, fantásticos (Guardiões da Noite, Guardiões do Dia, O Procurado, Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros). Quando li seu nome nos créditos, fiquei com receio de termos muita pirotecnia. Mas não, sua direção é mais discreta, temos um filme com mais cara de épico do que de fantasia.

O fato de ter Jesus Cristo na trama atrapalha um pouco, porque o roteiro fica previsível em certos pontos – não tem como ter a presença do próprio Jesus e não pensarmos na sua vida. Por outro lado, podemos dizer que Rodrigo Santoro está bem no papel.

Aliás, tirando Morgan Freeman, o elenco não tem ninguém muito famoso. A gente conhece o Rodrigo Santoro porque ele é brasileiro, mas ele (ainda) não é um grande nome em Hollywood. O mesmo podemos dizer de Jack Huston, Toby Kebbel, Nazanin Boniadi, Ayelet Zurer e Pilou Asbæk.

Ben-Hur é um filme correto, não vai desagradar ninguém. Mas duvido que se torne um clássico como a versão de 59.