Fúria Primitiva

Crítica – Fúria Primitiva

Sinopse (imdb): Um jovem indiano inicia uma jornada de vingança contra os líderes corruptos que assassinaram a sua mãe e continuam a vitimar sistematicamente os mais pobres.

Continuamos com a boa safra de filmes de ação! Depois de Contra o Mundo e O Dublê, vamos para o “John Wick indiano”: Fúria Primitiva!

Escrito, produzido, dirigido e estrelado por Dev Patel, Fúria Primitiva (Monkey Man, no original) é menos galhofa que os dois filmes citados anteriormente. Estreante como diretor, Patel fez uma jornada de vingança séria e muito, muito violenta. E, principalmente, muito bem filmada!

Fúria Primitiva teve problemas antes do lançamento. As filmagens seriam na Índia em 2020, mas as filmagens foram canceladas por causa da Covid. Ele acabou filmando em 2021 na Indonésia. E, durante as filmagens, houve atrasos porque o diretor / protagonista sofreu alguns acidentes, incluindo uma fratura na mão. Mais: Fúria Primitiva seria lançado pela Netflix, mas, segundo o imdb, Jordan Peele viu antes do lançamento e comprou os direitos para um lançamento nos cinemas.

As cenas de ação são muito bem filmadas. Mas Fúria Primitiva não é só violência desenfreada. Acho que podemos dividir o filme em três partes. Temos uma primeira parte com uma escalada louca de violência, depois uma segunda parte mais tranquila, e uma terceira parte insana que é o tal “John Wick indiano”.

Esta parte mais calma trouxe um respiro para o filme. Porque afinal estamos lidando com o mesmo clichê de Contra o Mundo, “um garoto vê um tirano matando sua mãe e resolve se vingar quando mais velho”. Agora, se temos uma parte no meio do filme onde vemos que o protagonista ainda não estava pronto, e ainda precisava praticar, isso tira o filme da “linha reta”. E ainda traz uma das melhores cenas do filme, aquela o personagem está treinando golpes em um saco de areia, acompanhado por um percussionista (não tenho ideia de qual é o nome daquele instrumento).

E o terceiro ato é de tirar o fôlego. Lutas bem coreografadas e bem filmadas, tiro porrada e bomba em quantidade, qualquer fã do gênero vai se refestelar. Heu não sabia que o Dev Patel lutava tão bem!

O roteiro tem umas falhas estranhas. Por exemplo, o personagem Alphonso descobre que está sendo perseguido por ter se associado ao protagonista. Mas, se ele vai continuar vivendo normalmente, pra que aquela cena onde mostra sua ligação com o protagonista? E não entendi a motivação da galera que ajuda o protagonista na segunda parte do filme.

(Tem uma coisa estranha aqui, mas e exatamente a mesma critica a The Raid, outro filme oriental de ação: cadê as armas de fogo? Tem algumas cenas onde os adversários provavelmente usariam armas de fogo contra o protagonista!)

No elenco, só conhecia um nome além de Dev Patel: Sharlto Copley, que, coincidência, também estava em Contra o Mundo.

Mesmo com esses problemas no roteiro, Fúria Primitiva ainda é um grande filme. Dei sorte, três bons filmes de ação seguidos!

Contra o Mundo

Crítica – Contra o Mundo

Sinopse (imdb): Acompanha Boy, um surdo-mudo com uma imaginação vibrante. Quando sua família é assassinada, ele é treinado por um misterioso xamã para reprimir sua imaginação infantil e se tornar um instrumento da morte.

Sabe quando um filme é uma agradável surpresa? Heu nunca tinha ouvido falar de Contra o Mundo, até que veio o convite para a cabine e resolvi arriscar. Gostei tanto que já quero rever! Já comentei aqui em outras ocasiões: gosto muito do slogan da Luis Severiano Ribeiro, “cinema é a maior diversão”. Contra o Mundo é uma ação / comédia, com bons personagens, cenas de ação bem coreografada e bem filmadas e várias sacadas muito muito engraçadas. E, principalmente, muito divertido!

(Só um breve mimimi antes de entrar no filme: “Contra o Mundo” não é um bom nome, porque lembra “Scott Pillgrim Contra o Mundo”. Seria melhor uma tradução literal, “Garoto Mata o Mundo”.)

Contra o Mundo é o longa metragem de estreia de Moritz Mohr, e parece uma mistura de história em quadrinhos com videogame. A trama se passa num local e numa época indeterminados, o que foi uma boa sacada, pro filme se afastar um pouco do realismo. E desde o início a gente vê que não é pra levar o filme a sério. São muitas situações absurdas, além de muito humor negro.

Reconheço que a história é meio clichê: um jovem vê sua família morrendo nas mãos de um tirano e passa anos treinando para se vingar (inclusive é parecida com O Homem do Norte, estrelado pelo irmão do protagonista daqui). Outro clichê: o filme usa o “formato videogame”, onde o personagem passa por diversas “fases” até chegar ao “boss”, o vilão final. Sim, clichês – mas bem utilizados.

Semana passada vi Rebel Moon Parte 2, é um filme tão insosso que acaba o filme e não guardamos nada do que vimos. Já Contra o Mundo é o contrário, o filme tem tantas ideias criativas que a gente sai do cinema com vontade de rever. Só pra dar um exemplo: tem uma cena de luta em uma cozinha. Os oponentes pegam facas para lutar, normal, já vimos diversas boas lutas com facas. Mas o protagonista pega um ralador de metal! Sim, um ralador de queijo! Claro que ele não vão matar ninguém com o ralador, mas pensa só, deve doer pra caramba alguém ralar o seu rosto no meio de uma luta!

Preciso falar que adorei o humor do filme. Algumas cenas são graficamente bem violentas, e mesmo assim causam risos em vez de repulsa. E os momentos mais engraçados do filme estão nas falas do personagem Benny. O protagonista é surdo, ele entende as pessoas usando leitura labial. Mas ele não consegue entender o que o Benny está falando, e como estamos no ponto de vista do protagonista, todas as falas do Benny soam frases completamente aleatórias. Na cena onde vemos um robô tocando violão heu perdi a linha, não me lembro a última vez que ri tanto numa sala de cinema.

Também queria elogiar a trilha sonora. De vez em quando cito trilhas que usam músicas pop conhecidas, outro dia um ouvinte do youtube me criticou porque as músicas conhecidas nos trazem boas memórias e talvez por isso a gente passe a curtir mais o filme, e isso pode ser verdade. Mas aqui não, as músicas são boas, e heu não conhecia nenhuma!

Se tenho uma coisa pra criticar é que achei o roteiro meio forçado em algumas cenas. Por exemplo, não entendi muito a mudança de atitude da personagem June 27. E, na luta final contra o “boss”, aquele “boss” não estaria naquele local, como é que ele chegou lá?

O elenco é bom. Ok, este formato de filme não tem muito espaço pra grandes atuações, mas, para o que filme pede, o elenco está bem. Bill Skarsgård – sim, o Pennywise de It – está ótimo, parece tão forte quanto o irmão Alexander Skarsgård, e ainda faz várias coreografias de cenas de luta (o personagem dele não tem nome). Também no elenco, Famke Janssen, Jessica Rothe, Michelle Dockery, Yayan Ruhian, Sharlto Copley, Brett Gelman, Isaiah Mustafa e Andrew Koji.

Ah, tem cena pós créditos. No finzinho dos créditos tem uma cena, bem besta.

Boa época pra filmes de ação. Em breve falarei aqui de O Dublê e Fúria Primitiva!

Oats Studios

Crítica – Oats Studios

Wikipedia: Oats Studios é um estúdio de cinema independente fundado em 2017 pelo cineasta sul-africano indicado ao Oscar Neill Blomkamp. O estúdio foi criado com o objetivo de distribuir curtas experimentais via YouTube e Steam, a fim de avaliar o interesse da comunidade e feedback sobre quais deles são viáveis para expansão em longas-metragens. Os atores apresentados nos filmes incluem Sigourney Weaver, Carly Pope, Sharlto Copley, Kellan Lutz e Dakota Fanning.

Quando fiz o texto sobre Demonic, pesquisei a página do imdb do Neill Blomkamp e vi que tinham vários curtas feitos nos últimos anos. Foi uma agradável surpresa ver que os curtas estão disponíveis na Netflix, como se fosse uma temporada de série, este Oats Studios.

São dez curtas, entre 4 e 26 minutos de duração. Nove foram dirigidos por Neill Blomkamp: Rakka, Base, Cozinhando com Bill, Deus: Serengeti / Chicago, Zigoto, Adam ep 2, Adam ep 3, Gdansk e Kapture: Gafanhotos. Presidente Ruim é o único que não sei se é dirigido por ele – no imdb não tem créditos de diretor!

De um modo geral, achei que todos têm um ponto positivo e um ponto negativo. O positivo é que o visual, a ambientação e os efeitos especiais são excelentes. Por outro lado, o ponto negativo é que quase todos parecem boas ideias, mas sem nenhum desenvolvimento. É uma introdução, quando parece que a história vai começar, o filme acaba. É meio frustrante, queria ver mais de algumas das histórias.

Na minha humilde opinião, três dos curtas não têm muito a ver com os outros, Deus: Serengeti / Chicago, Cozinhando com Bill e Presidente Ruim – aliás este Presidente Ruim é muito bom, principalmente nos dias de hoje. Curiosamente, os dois últimos têm o mesmo elenco, Alec Gillis e Carly Pope. Esses três fogem um pouco da proposta de futuros distópicos e invasões alienígenas que os outros trazem.

Um breve comentário sobre cada um:

Rakka – A Terra foi invadida e os alienígenas estão transformando o planeta e exterminando humanos. Um grupo de resistência se prepara para reagir.
Base – Vietnã, 1970, a CIA investiga o deus do rio e os eventos sobrenaturais que ele evoca.
Cozinhando com Bill – São 4 historinhas satirizando programas de culinária, mas com receitas e equipamentos bizarros. Engraçado, mas bobinho, e não tem muito a ver com os outros.
Deus: Serengeti / Chicago – Dois curtas onde Deus controla as pessoas em uma maquete. Esse é bem sem graça.
Zigoto – Duas pessoas estão em uma base isolada, com quase tudo destruído em volta, e estão fugindo de um ser assustador.
Adam ep 2 – Animação com robôs. História besta, animação excelente.
Adam ep 3 – Uma mulher procura abrigo num mundo pós apocalíptico
Gdansk – Animação curtinha que mistura idade média com ficção científica.
Kapture: Gafanhotos – Duas animações curtinhas com experiências bélicas.
Presidente Ruim – Um presidente americano caricato, vai agradar muita gente, só achei que não tem a ver com os outros curtas.

Alguns curtas são de alguns anos atrás, lembro de ter visto Zigoto no youtube em 2017.

Não é nenhuma novidade, mas é legal ter isso organizado pela Netflix. E foi legal ter visto algo do Neill Blomkamp depois da catástrofe que foi. Demonic.

Gringo: Vivo ou Morto

GringoCrítica – Gringo: Vivo ou Morto

Sinopse (imdb): Uma comédia sombria misturada com uma ação jocosa e uma intriga dramática, explora a batalha da sobrevivência do empresário Harold Soyinka, quando ele se vê cruzando a linha do cidadão cumpridor da lei para o criminoso procurado.

O elenco chama a atenção. Será que o filme faz jus aos bons atores?

Gringo: Vivo ou Morto (Gringo, no original) é uma daquelas comédias de ação com vários personagens, alguns núcleos diferentes e algumas reviravoltas no roteiro. Isso pode gerar um bom filme – desde que bem escrito e bem conduzido.

O diretor é Nash Edgerton, irmão do protagonista. Não sei se a culpa foi dele, ou do roteiro, ou, mais provável, de ambos, mas o problema é que temos um filme que não engrena.

Gringo: Vivo ou Morto vale pelo elenco. Charlize Theron está ótima como a fria executiva, a gente vê que ela não vale nada, e mesmo assim somos seduzidos por ela. Sharlto Copley também está bem, como sempre, mas seu papel é pequeno. Joel Edgerton e David Oyelowo estão apenas ok. Amanda Seyfried tem um papel meio besta, mas a culpa é do roteiro. Thandie Newton também sofre com um papel muito secundário. Ah, o executivo seduzido pela Charlize é Alan Ruck, o amigo do Ferris Bueller! Ainda no elenco, Harry Treadaway, Paris Jackson, Carlos Corona e Yul Vazquez.

Gringo: Vivo ou Morto não é ruim mas, no fim, fica aquela sensação que podia ter sido bem melhor…

Hardcore: Missão Extrema

Hardcore Henry - posterCrítica – Hardcore: Missão Extrema

Sabe aqueles vídeos de esportes radicais com câmeras GoPro presas em capacetes? Agora, imagine um filme de ação feito inteiramente assim?

Um homem recém ressucitado, com braço e perna mecânicos, deve salvar sua esposa/criadora das garras de um tirano psicótico com poderes telecinéticos e seu exército de mercenários. Ao seu lado, um misterioso homem que aparece em várias diferentes versões.

Hardcore: Missão Extrema (Hardcore Henry, no original) é todo feito em POV (point of view) – a tela são os olhos do protagonista, como se fosse um videogame FPS (First Person Shooter), onde o jogador usa “os olhos” do personagem. Apesar de não ser muito comum, isso não é inédito, lembro de Maniac, um filme de terror de 2012 usando esse recurso. A diferença é que temos uma hora e meia de adrenalina, sem parar, com tiros, explosões, perseguições a pé e de carro, muita porrada, muita violência e muito sangue. É testosterona pura, e com o espectador “dentro” do filme.

Hardcore Henry - câmeraO diretor Ilya Naishuler (estreante em longas!) é músico, e tinha feito um videoclipe para a sua banda Biting Elbows, da música “Bad Motherfucker”, onde um personagem fazia várias cenas de ação, sempre em POV. Já tinha visto o vídeo, mas não sabia que era do mesmo cara. Revendo o clipe, vemos que é o mesmo estilo.

Hardcore: Missão Extrema é muito exagerado. Claro que isso não vai agradar a todos. Mas posso dizer que gostei muito do trabalho de efeitos especiais e de dublês – quando o filme acabou, tive vontade de rever tudo. Este é daqueles filmes pra comprar o blu-ray e rever de vez em quando.

Pra melhorar, Hardcore: Missão Extrema ainda é engraçado. Não, não é uma comédia, mas tem várias cenas hilariantes espalhadas aqui e acolá, pra quebrar todo o excesso de violência.

O roteiro tem várias forçações de barra, claro. A ideia é colocar o máximo de ação insana dentro de uma hora e meia de filme. Claro que tem coisa que não vai fazer sentido, se a gente parar pra pensar. E as sequências nem sempre parecem conectadas, parecem fases do tal videogame FPS. Mas o ritmo do filme é tão frenético que não dá tempo do espectador parar pra pensar…

No elenco, o nome mais conhecido é Sharlto Copley, que mostra versatilidade em vários estilos de personagens diferentes. Ok, Tim Roth é um nome mais forte que Copley, mas Roth só aparece em uma cena, uma ponta de luxo. Haley Bennet e Danila Kozlovski fecham o elenco principal. Ah, o protagonista é a câmera, operada por dez pessoas diferentes, entre dublês e operadores de câmera, incluindo o próprio diretor Naishuler. O espectador vive o papel de Henry!

A trilha sonora também é boa. Até então, a música Don’t Stop me Now, do Queen, sempre me lembrava os zumbis de Todo Mundo Quase Morto. Agora conheço outra cena memorável com a mesma música!

Como disse lá em cima, Hardcore: Missão Extrema não é pra todos. É filme “de menino”, “filme testosterona”, como Clube da Luta, 300 ou os dois The Raid. Mas admito que é um forte candidato ao “meu” top 10 2016.

Chappie

chappieCrítica – Chappie

Filme novo do Neill Blomkamp!

Num futuro próximo, o crime em Johannesburg é controlado por uma força policial composta de robôs. Quando um desses robôs policiais é roubado e reprogramado, ele vira o primeiro robô com a habilidade de pensar e sentir por conta própria.

A princípio, Chappie lembra Eu, Robô. Mas, na verdade, parece mais com Robocop, apesar do personagem título não ser humano – aqui, não só o robô é policial, como ainda temos uma espécie de Ed 209.

Gosto do estilo do Neill Blomkamp, o mesmo de Distrito 9 e Elysium. Sua estética é suja, seu terceiro mundo é mais próximo da nossa realidade do que o que Hollywood costuma mostrar. Esta estética suja combina com a história do robô Chappie, um misto de tecnologia de ponta com favela.

Aliás, diga-se de passagem, a construção do personagem é excelente, tanto pela parte narrativa, quanto pela parte técnica. Chappie é um personagem complexo, tem mais humanidade do que muito personagem interpretado por humanos. Chappie é uma criança que precisa de orientação para se desenvolver!

E pela parte técnica, Chappie é impressionante. O robô está lá, consegue ser mais convincente que o Gollum de Senhor dos Aneis – será que o Sharlto Copley usou aquelas roupas de captura de movimento que nem o Andy Serkis? O fato é: Chappie nunca passa a sensação de ser digital.

Sharlto Copley não aparece, mas brilha como a voz do personagem título. E olha que o elenco conta com o Hugh Wolverine Jackman e a Sigourney Ripley Weaver! É que Jackman e Sigourney são coadjuvantes aqui. O filme é de Copley, Dev Patel (Quem Quer Ser um Milionário) e da dupla Ninja e Yo-Landi Visser (que fazem parte do Die Antwoord, uma banda de rap de Johannesburg).

Chappie tem um bom ritmo, além de uma boa trilha sonora assinada por Hans Zimmer. Não gostei muito do fim, mas nada que estrague o prazer de ter conhecido um dos melhores robôs da história do cinema!

Malévola

Malévola-posterCrítica – Malévola

Mais uma adaptação de conto infantil!

Desta vez, revemos a história da Bela Adormecida, desta vez, sob a ótica da antagonista Malévola, uma bela e ingênua jovem fada que acaba sendo vítima de uma traição, o que transforma seu coração em pedra e a torna numa vilã vingativa.

Diferente de outras adaptações recentes(João e Maria – Caçadores de Bruxas, Branca de Neve e o Caçador), Malévola é bastante fiel à versão mais conhecida – não estou falando da versão original, e sim o desenho animado de 1959 também da Disney.

Malévola (Maleficent, no original) tem seus pontos altos e baixos. Vamos primeiro ao que funciona.

O filme foi dirigido pelo estreante Robert Stromberg. Bem, estreante na cadeira de diretor, mas experiente na área de efeitos especiais – trabalhou nos efeitos de dezenas de filmes, e ganhou dois Oscars de Direção de Arte, por Alice no País das Maravilhas e Avatar. Ou seja, esteticamente, Malévola é um belo filme, e os efeitos especiais enchem os olhos – apesar de alguns personagens da floresta serem meio bobos e lembrarem Muppets mal feitos, alguns efeitos, como a Aurora flutuando, são impressionantes.

Mas o melhor de Malévola é a personagem título. Angelina Jolie e seus olhos brilhantes encarnam uma Malévola perfeita, que lembra a vilã da versão animada (que, convenhamos, era a melhor coisa do desenho). A cena em que ela amaldiçoa a Aurora é bem legal!

Agora vamos ao que “derrubou” o filme pra mim. Mas, antes, avisos de spoilers violentos!

SPOILERS!

SPOILERS!

SPOILERS!

Uma das coisas mais furadas que existe na história clássica é o lance da Aurora ser acordada por um “beijo de amor verdadeiro”. No desenho, um príncipe a vê dormindo e a beija. Na boa, isso não é amor verdadeiro. Digo mais: este príncipe é pervertido e tem um pé na necrofilia – quem se apaixona perdidamente por uma pessoa dormindo?

Malévola conserta isso. O “beijo de amor verdadeiro” aqui é muito mais coerente com o mundo real. Legal. Mas… A gente acabou de ver exatamente isso em Frozen!

FIM DOS SPOILERS!

Além disso, o filme traz algumas coisas que não têm muita lógica, tipo, por que o nome dela é “Malévola” se ela não é má? E por que o rei mandou Aurora passar mais de uma década longe, sob a guarda de três fadas atrapalhadas, se a maldição era só para o dia que ela completasse dezesseis anos? Aliás, o rei se preparou por dezesseis anos e aquilo foi tudo o que ele conseguiu?

Falando das fadas, há tempos não vejo personagens tão irritantes. Nada funciona. E olha que gosto da Imelda Staunton e da Juno Temple (a terceira fada é interpretada por Lesley Manville).

Ah, quase esqueço de falar do resto do elenco. O quase sempre bom Sharlto Copley aqui tem o pior papel de sua carreira (o rei burro e incompetente); Elle Fanning esbanja simpatia com seu belo sorriso; Sam Riley está bem como “escada” para Angelina Jolie.

Resumindo: mais uma boa releitura contemporânea de contos clássicos. Pena que tropeça às vezes.

Oldboy – Dias de Vingança (2013)

0-OldBoy-Dias-de-VingançaCrítica – Oldboy – Dias de Vingança (2013)

Ninguém pediu, mas olha lá… Refilmagem do filme coreano, obra prima dirigida por Chan-wook Park…

Obcecado por vingança, um homem tenta descobrir por que ele foi sequestrado e mantido preso em uma solitária por vinte anos sem nenhuma aparente razão.

O novo Oldboy tem virtudes. Mas sofre de um problema parecido com o novo O Vingador do Futuro: é um bom filme, mas perde na comparação com o original. Não só o Oldboy coreano é um filme muito acima da média, como tem um final devastador. A refilmagem só funcionaria se tivesse outro nome e, principalmente, outro fim.

Sem spoilers aqui – se você não viu o primeiro filme, faça um favor a você mesmo e veja, e antes de ler sobre o fim em qualquer lugar por aí. O fato é que a trama traz um final impressionante, um dos finais mais surpreendentes da história do cinema. E ver a refilmagem perde metade da graça se você já sabe aquilo que vai acontecer no fim.

É uma pena, porque o filme dirigido pelo Spike Lee tem alguns ângulos de câmera bem legais (gostei da câmera presa nas costas do Josh Brolin quando ele está bêbado), e traz algumas excelentes coreografias de lutas.

Parágrafo à parte para falar da “cena do martelo”. Uma das cenas mais marcantes do filme original, claro que a refilmagem teria que ter uma cena-homenagem. Armado incialmente apenas com um martelo, o personagem de Brolin enfrenta uns vinte oponentes durante um plano-sequência que dura quase dois minutos e ocupa dois andares do prédio. Se a cena do martelo do filme original já era muito boa, esta arrisca ser ainda melhor.

Agora falemos do diretor. Spike Lee? Seriously? Gosto do cara desde que vi Faça a Coisa Certa no cinema, na época do lançamento, mas ele não tem nada a ver com o estilo! Bem, pelo menos posso dizer que ele me surpreendeu positivamente. As coreografias de luta estão muito bem filmadas.

O elenco foi bem escalado. Acompanho a carreira do Josh Brolin desde Os Goonies, não sabia que ele lutava tão bem! Sharlto Copley mostra mais uma vez seus dotes “camaleônicos” – é difícil de acreditar que é o mesmo ator de Distrito 9, Elysium e Esquadrão Classe A. Samuel L. Jackson faz o mesmo Samuca de sempre, e consegue um jeito de proferir o seu característico “motherf*ucker”. Ainda no elenco, Elizabeth Olsen e Michael Imperioli.

Pena, porque acredito que o filme não vai funcionar. Porque, se você não viu o filme original, prefira o coreano. E se você já viu, esta refilmagem não tem graça…

Europa Report / Viagem À Lua de Júpiter

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Crítica – Europa Report / Viagem À Lua de Júpiter

Documentário fake mostrando uma suposta missão tripulada até Europa, uma das luas de Júpiter.

Uma tripulação internacional de astronautas leva uma missão até Europa, a quarta maior lua de Júpiter, onde teoricamente existe gelo, para verificar a possibilidade de existir vida.

Dirigido pelo desconhecido equatoriano Sebastián Cordero, Europa Report (que parece que aqui no Brasil vai ganhar o nome Viagem À Lua de Júpiter) tenta inovar no já saturado estilo de filme de câmera encontrada. Vemos um documentário, com imagens da missão e comentaristas falando sobre os desdobramentos da viagem.

Se por um lado temos uma novidade por ser documentário, por outro isso deixa tudo lento demais – a cada acontecimento, corta para explicações. Isso sem falar do spoiler óbvio: se apenas uma tripulante aparece nas filmagens, desde o início do filme a gente sabe que ou ela sobreviveu, ou foi uma das últimas a morrer.

O elenco, que conta com gente como Sharlto Copley, Karolina Wydra, Michael Nyqvist, Embeth Davidtz e Dan Fogler, nem é ruim. Mas o fato de termos personagens sem carisma é outro fator que atrapalha.

O que Europa Report tem de bom é que é uma ficção “cientificamente correta”. É um “hard sci fi”, um filme que se preocupa com os detalhes para parecer o mais próximo possível da realidade. Este estilo de FC tem o seu público.

Enfim, só serve para os hard fãs de hard sci fi.

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Elysium

Crítica – Elysium

Um dos mais esperados filmes do ano!

Em 2154, onde os muito ricos moram numa estação espacial, o Elysium, enquanto os outros, pobres, vivem na Terra, que virou uma gigantesca favela, decadente e superpopulada, um operário tem uma missão que pode trazer igualdade a esse mundo dividido.

Por que citei Elysium como um dos mais esperados do ano? Bem, quase todos os cinéfilos brasileiros estavam curiosos pela estreia hollywoodiana de Wagner Moura, aproveitando o sucesso internacional do seu Capitão Nascimento nos dois Tropa de Elite – Alice Braga também está no elenco, mas ela já fez vários filmes na “gringolândia”. Mas, além de torcer pelo sucesso de Moura, heu também estava curioso por ser o novo filme escrito e dirigido por Neill Blomkamp, o mesmo do excelente Distrito 9, um filme sul-africano que surpreendeu o mundo ao usar a ficção científica como metáfora para o Apartheid. Chegou a concorrer a quatro Oscars em 2010, incluindo melhor roteiro adaptado e melhor filme!

E como foi o resultado do segundo filme de Blomkamp? Bem, o resultado é positivo, mas poderia ser melhor…

O problema aqui é a comparação. Distrito 9 era, ao mesmo tempo, uma eletrizante ficção científica e uma pungente crítica social. Elysium funciona muito bem como FC, mas falha na parte social.

Spoilers leves no próximo parágrafo, ok?

Blomkamp tentou fazer uma crítica à segregação de classes sociais e à situação dos imigrantes ilegais, mas se perdeu na parte final do filme. E olha que não estou citando o maniqueísmo: todos os ricos são maus, muito maus! E ainda são capitalistas burros: se aquela “cama médica” é tão prática e tão comum a ponto de estar presente em todas as residências de Elysium, por que não trazer algumas pra Terra e vender os serviços a “preços módicos”?

Fim dos spoilers!

Provavelmente Blomkamp sofreu influência dos executivos norte-americanos. Diz a lenda que o seu roteiro foi alterado, mas como não temos acesso ao roteiro inicial, não sabemos se é verdade. Felizmente a parte “diversão” funciona muito bem. O ritmo do filme é muito bom, e os efeitos especiais são extremamente bem feitos.

E o Wagner Moura, como se saiu?

Moura é coadjuvante, o filme é de Matt Damon. Mas é um coadjuvante importantíssimo na trama, e está muito bem no seu papel de Spider, uma espécie de chefão do tráfico misturado com hacker. Aliás, tem uma cena engraçada para os brasileiros: certo momento, Spider tem uma explosão de raiva e grita dois palavrões em português…

Alice Braga tem um papel mais fraco, apesar de ser o interesse romântico do protagonista. Mas tudo bem, ela já mostrou seu talento em outras ocasiões em Hollywood – inclusive, em filmes de ação / ficção científica, como PredadoresRepo Men e Eu Sou A Lenda.

Enfim, boa ficção científica em cartaz nos cinemas. Só não podemos comparar com o filme anterior do diretor.

O bom elenco “off-Hollywood” ainda conta com o mexicano Diego Luna e o sul-africano Sharlto Copley (que também estava em Distrito 9). Não sei se foi coincidência, mas achei uma boa escolha usar atores que conhecem de perto a situação de países subdesenvolvidos para viverem os moradores do planeta Terra devastado. Ainda no elenco, os “gringos” Jodie Foster e William Fichtner.

Enfim, boa ficção científica em cartaz nos cinemas. Só não podemos comparar com o currículo prévio do diretor…