Apóstolo

Crítica – Apóstolo

Sinopse (Netflix): Em 1905, durante a perigosa missão de resgate da irmã raptada, um homem se envolve com o sinistro culto religioso de uma ilha isolada.

Sou fã do diretor Gareth Evans, galês que fez carreira na Indonésia, onde dirigiu dois dos melhores filmes de ação dos últimos anos, The Raid (2011) e The Raid 2 Berandal (2014). De volta ao ocidente, Evans agora apresenta seu novo filme, estreando apenas no Netflix.

Apóstolo (Apostle, no original) não tem muito de The Raid, o filme lembra mais o clima de Safe Heaven, filme curto que Evans dirigiu em parceria com os Mo Brothers, uma das melhores coisas da irregular coletânea VHS.

Diferente da adrenalina máxima da franquia The Raid, Apóstolo começa lento. Evans não tem nenhuma pressa pra construir a sinistra e misteriosa ambientação da ilha. Aliás, a reconstituição de época é primorosa. O terror não é “trem fantasma” como os filmes do James Wan. Aqui, o terror está no mistério, na crescente tensão. E a parte final do filme capricha na violência e no gore.

No elenco, o papel principal fica com o pouco expressivo Dan Stevens (que foi a Fera em A Bela e a Fera). Michael Sheen (Passageiros) faz melhor com o seu líder comunitário; Lucy Boynton (Bohemian Rhapsody) também está bem no principal papel feminino. Também no elenco, Kristine Froseth, Catrin Aaron, Richard Elfyn, Paul Higgins e Mark Lewis Jones.

Gostei de não ter muita explicação. Espero que não façam um filme explicando o que ficou no ar. Pena que sei que esta continuação deve acontecer.

(E tomara que Evans volte para a Indonésia para fazer o terceiro The Raid!)

Bohemian Rhapsody

Crítica – Bohemian Rhapsody

Sinopse (imdb): Uma crônica dos anos que antecederam a lendária aparição de Queen no concerto Live Aid (1985).

Sempre reclamei aqui de leitores de HQs que se queixam do filme porque “está diferente do que eu lia”. Um filme é um filme, uma adaptação não precisa copiar fielmente a obra onde se originou. Se o roteirista / diretor usou outro caminho diferente do que está na sua cabeça (o tal “head canon”), é você quem está errado.

Pois bem, agora é a minha vez de fazer o “mimimi nerd baseado em head canon”. Sou fã de Queen desde a minha adolescência, nos anos 80. Ainda tenho toda a discografia em vinil, além de vários cds, dvds, livros, camisas, etc. Ou seja, sei em qual disco está cada música, e sei a ordem que esses discos foram lançados. Bagunçar a linha temporal da banda me incomodou – muito.

Entendo que o filme tenha mudado algumas datas. Queriam mostrar a turnê nos EUA antes da gravação de A Night at the Opera, em 1975, aí usaram a música Fat Bottomed Girls, do Jazz (de 78), mais animada do que Now I’m Here, que estaria na ordem “certa”. Ou então quando queriam mostrar a importância do Rock in Rio de 85 – milhares de pessoas cantando Love of My Life em uníssono é realmente algo marcante – e por isso deslocaram “o show do Rio” pro meio do filme – dando a entender que We Will Rock You (de 77) foi gravada inspirada por aquele momento.

É. Foi a minha vez de provar do mesmo veneno. O meu conhecimento prévio sobre a banda me atrapalhou… O que foi uma pena, porque Bohemian Rhapsody (idem, no original) é muito bom!

O filme teve problemas sérios na produção. Me lembro que Sacha Baron Cohen seria o Freddie Mercury, mas pelo que se diz, ele queria mostrar os lados bizarros da história do cantor (muitos exageros com sexo e drogas), e a produção quis mostrar uma versão mais “família”. Além disso, houve uma troca no comando. Bohemian Rhapsody foi dirigido por Bryan Singer, mas este foi demitido pela produção quando faltavam poucas semanas para terminar as filmagens, e chamaram Dexter Fletcher (que está fazendo o filme do Elton John que estreia ano que vem). Não sei ao certo o quanto cada um dos dois palpitou no resultado final…

A primeira pergunta que todos fazem é: Rami Malek (conhecido pela série Mr Robot) consegue fazer um bom Freddie Mercury? O pior problema de Malek é a semelhança física. Mercury é um rosto muito conhecido na cultura pop, e Malek não se parece com ele. Mas a interpretação dele está ótima! Malek copia todos os trejeitos e, sim, é possível “ver” o Freddie na tela. E vou além: o resto da banda também está excelente, com interpretações de Gwilym Lee (Brian May), Ben Hardy (Roger Taylor) e Joseph Mazzello (John Deacon). Ainda no elenco, Lucy Boynton, Aidan Gillen, Allen Leech, Tom Hollander e Mike Myers, irreconhecível debaixo de maquiagem pesada, mas com uma piada muito boa pra quem se lembra de Quanto Mais Idiota Melhor.

(Diferente do filme The Doors, que usou a voz do Val Kilmer nas músicas do Doors, Bohemian Rhapsody usa gravações originais da banda Queen.)

Toda a reconstituição está perfeita. Ensaios, gravações, reuniões com a gravadora, festas, entrevistas coletivas, e, principalmente, shows, muitos shows. O Live Aid, ponto alto do filme, está quase completo (vemos três músicas e meia!). E se na linha temporal o fã fica chateado, aqui o fã fica feliz: você vê que o filme respeita cada detalhe dos shows do Queen.

Na verdade, esse é o grande mérito de Bohemian Rhapsody. As músicas são muito boas, e estão muito bem representadas na tela. A costura da trilha sonora pode não respeitar a ordem cronológica, mas vai ser muito difícil o espectador não se emocionar e sair cantando junto. E prevejo sessões terminando com palmas, como se o público estivesse saindo de um show.

Claro, o filme podia ser diferente em vários aspectos. Podia ter se aprofundado mais nas extravagâncias do Freddie (parece até um filme Disney, não mostra nada que possa gerar polêmica). Podia ter mostrado casos importantes como a briga com o empresário antes do A Night at the Opera, que gerou a música Death On Two Legs. Podia ter avançado na época que o Freddie descobriu que estava com Aids e a banda parou de excursionar. Podia ter mostrado mais os outros integrantes. Ah, podia ter respeitado a linha temporal da banda – não se se falei aqui, isso me incomodou muito…

Faltou muito pouco para termos uma das melhores cinebiografias da história. Mas, com certeza, vai ficar para sempre na memória e nos corações de todos os fãs. Vou comprar meu blu-ray e guardar junto com os shows do Queen!

Assassinato no Expresso do Oriente

Assassinato no Expresso do OrienteCrítica – Assassinato no Expresso do Oriente

Sinopse (filmeB): Várias pessoas estão fazendo uma viagem longa em um luxuoso trem, porém, um terrível assassinato acontece. A bordo da composição, o detetive Hercule Poirot se voluntaria para iniciar uma varredura no local, ouvindo testemunhas e possíveis suspeitos para descobrir o que de fato aconteceu.

Adaptação do livro de Agatha Christie, que já teve uma versão pro cinema, em 1974, dirigida por Sidney Lumet e estrelada por Albert Finney, Lauren Bacall, Ingrid Bergman, Sean Connery, Jaqueline Bisset e Anthony Perkins, entre outros, Assassinato no Expresso do Oriente (Murder on the Orient Express, no original) sofre de um problema básico: é um “whodunit” que todo mundo já sabe o final.

(Glossário: Whodunit é o estilo de história onde a trama levanta vários suspeitos e o espectador é instigado a descobrir quem é o culpado.)

Já faz muitos anos que vi o filme dos anos 70, mas me lembro justamente da cena que mostra o assassino… Ou seja, sou mais um pra engrossar o coro.

Só não digo que Assassinato no Expresso do Oriente é uma perda de tempo porque a produção é de alto nível, e o elenco é cheio de nomes legais. Afinal, não é todo dia que você reúne Kenneth Branagh, Johnny Depp, Daisy Ridley, Michelle Pfeiffer, Judi Dench, Penélope Cruz, Willem Dafoe, Tom Bateman, Josh Gad, Derek Jacobi e Lucy Boynton. Pena que como o filme gira em torno de um único personagem, o único que tem muito tempo de tela é Branagh. Os outros nem estão mal, mas estão sub aproveitados (nem reconheci a Lucy Boynton, do Sing Street!).

Além disso, outro problema deve afetar a bilheteria: são muitos diálogos, muitas explicações. Uma trama dessas é complexa e cheia de detalhes, e isso ficou um pouco cansativo. Não sei como a audiência de hoje vai receber uma obra assim.

No fim, fica aquela impressão de que era melhor rever o original. Torçamos para que pelo menos isso sirva para apresentar a obra de Agatha Christie para as novas gerações. Porque, claro, existem planos para uma “continuação” – no fim do filme, Hercule Poirot é chamado para ir ao Egito, onde vai se passar Morte sobre o Nilo.

p.s.: No mundo politicamente correto de hoje, será que vão rebatizar “Os Dez Negrinhos”? 😉

Sing Street: Música e Sonho

Sing StreetCrítica – Sing Street: Música e Sonho

Vamos ao meu novo “filme favorito de todos os tempos da última semana”?

Em Dublin, nos Nos 80,um adolescente começa uma banda para impressionar uma garota que ele gosta.

Sing Street: Música e Sonho (Sing Street, no original) é o filme novo do John Carney, o mesmo de Apenas uma Vez e Mesmo se Nada Der Certo. O filme concorreu ao Globo de Ouro de melhor filme comédia ou musical (perdeu pra La La Land), mas foi ignorado pelo Oscar. Mesmo assim, acho que merecia um lançamento nos cinemas brasileiros. Em vez disso, foi lançado direto no Netflix. Menos mal, pelo menos foi lançado…

Sing Street é uma deliciosa viagem musical aos anos 80. Digo mais: é um filme obrigatório para quem foi músico iniciante nos anos 80. Heu comecei a tocar com 15 anos, em 1986 – e “me vi” diversas vezes ao longo do filme. Diferente de um Commitments ou um Quase Famosos, quando vemos músicos profissionais, aqui são moleques aprendendo a rotina de ensaios e gravações. Vivi isso, e na mesma época!

Nos seus outros filmes, Carney já tinha mostrado boas sacadas ligadas à música. Aqui ele mostra mais uma vez esta habilidade. Uma coisa que gostei muito foram os arranjos musicais. Pelo menos em dois momentos do filme os personagens começam tocando uma música num arranjo mais simples e ao longo da música o arranjo começa a ficar sofisticado e termina com cara de cd.

Outro detalhe genial é que uma banda inicial de adolescentes sempre tem problemas de identidade. E isso é mostrado: eles ouvem Duran Duran e fazem uma música com uma pegada Duran Duran; depois ouvem The Cure e acontece o mesmo, idem com Daryl Hall & John Oates. Não é plágio, as citações são explícitas.

Pelo menos duas cenas são antológicas. Em uma delas, vemos, num plano sequência, a criação de um arranjo musical: começa à noite com voz e violão, entra o piano, fica de dia e entra o teclado, depois baixo e bateria, finalmente a guitarra. Na outra cena, vemos uma homenagem ao baile de De Volta Para o Futuro. Cenas para ver e rever!

Claro que um filme desses precisa de um bom elenco. Se, no filme anterior, Carney tinha Keira Knightley e Mark Ruffalo, desta vez voltou a nomes desconhecidos (como em Apenas uma Vez). A dupla Ferdia Walsh-Peelo e Lucy Boynton tem carisma e talento o suficiente pra segurar o filme. E vi vídeos no YouTube dos dois principais da banda (Ferdia e Mark McKenna) tocando e cantando em programas de TV – eles realmente tocam! O único ator conhecido é Aiden Gillen, o Mindinho de Game of Thrones, num papel pequeno.

Pena que Sing Street foi mal lançado, então pouca gente ouviu falar. Mas fica a recomendação. Mesmo pouco conhecido, estamos diante de um dos melhores filmes do ano!