Babilônia

Crítica – Babilônia

Sinopse (imdb): Um conto de ambições exageradas e excessos escandalosos, o filme traça a ascensão e queda de múltiplos personagens durante uma era de desenfreada decadência e depravação no início de Hollywood.

Depois de Whiplash e La La Land, claro que fico de olho em cada novo filme do Damien Chazelle (apesar de não ter curtido muito O Primeiro Homem).

Babilônia (Babylon, no original) é um filme do jeito que heu gosto. Tecnicamente impressionante, traz como pano de fundo os bastidores de Hollywood, e ainda tem uma parte musical absurdamente bem trabalhada. Vamos por partes.

Logo no início do filme tem um exemplo do que mais gosto no cinema: um plano sequência que deve ter sido um caos pra filmar! Está rolando uma festa, com álcool, drogas, gente pelada passando, diálogos, tem até uma galinha! O espectador desavisado olha e deve pensar “ora era só o diretor dizer “pirem!” e sair andando com a câmera. Mas não, cada elemento é bem pensado e faz parte de uma complexa coreografia que envolve todos os que estão em cena e também a equipe que está atrás da câmera. Adaptando o meme da Internet, “é pra isso que heu pago o ingresso do cinema!”

Esta cena não é o único momento bem filmado. Todo o filme é cheio de detalhes, são várias sequências muito boas – como aquela onde a equipe está pela primeira vez filmando com som. Mas também preciso falar de outro plano sequência impressionante, quando vemos um estúdio da época do cinema mudo, com várias produções sendo filmadas uma ao lado da outra.

Porque isso me leva ao segundo ponto: bastidores de Hollywood. A gente vê um monte de filmes e séries que mostram sets de filmagem, mas aqui vemos sets da época do cinema mudo, o que não é algo muito comum. Nunca tinha me tocado desse detalhe: como não tinha som, você podia ter um set exatamente ao lado de outro.

O terceiro ponto é o som do filme. Babilônia não é um musical, como La La Land, mas tem muitos momentos envolvendo música. Em vários momentos a câmera está em movimento e se aproxima de um músico, e então ouvimos este instrumento mais alto do que a massa sonora. Além disso, a trilha sonora composta por Justin Hurwitz (o mesmo de La La Land) é muito boa!

Nem tudo é perfeito. Além do filme ser um pouco longo demais, tem duas coisas que achei desnecessárias. Uma é a cena logo no início que envolve fezes de elefante. O filme começou e pensei “caramba, se for nessa pegada, vai ser complicado”. Felizmente a escatologia é pouca.

A outra parte desnecessária é uma viagem com a história do cinema que vemos bem no finzinho, e que acho que deveria ser reduzida. Afinal, estamos nos anos 50 e vemos imagens de filmes como Matrix e Avatar. Na minha humilde opinião, ficaria mais lógico se parassem nos anos 50, não?

Ouvi críticas com relação à sequência perto do fim com a participação do Tobey Maguire. Ok, concordo que é uma sequência que se você tira, o filme não perde nada. Mas… Me diverti na sequência. E sim, é bizarra, mas, se a gente lembrar que o filme começa com fezes de elefante, essa sequência está longe de ser o mais bizarro que vemos na tela.

Sobre o elenco, curioso ler os nomes Brad Pitt e Margot Robbie e sair do filme impressionado com Diego Calva (quem?). Babilônia acompanha a história de quatro personagens, e como essas quatro histórias se misturam – ou seja, não tem um personagem exatamente central. E o Manny do quase desconhecido Diego Calva é o cara que acaba conduzindo o filme. Mas, mesmo assim, ainda podemos dizer que Brad Pitt e Margot Robbie estão excelentes nos seus papéis – um grande astro em decadência e uma aspirante a estrela que funciona no cinema mudo mas não se adapta ao cinema falado. O quarto personagem seria o trompetista vivido por Jovan Adepo (Fiquei na dúvida sobre a importância de outros coadjuvantes, como a repórter de fofocas interpretada por Jean Smart, ou a Lady Fay Zhu interpretada pela Li Jun Li. Mas acho que o trompetista tem um arco melhor desenvolvido). Ainda no elenco, Olivia Wilde, Lukas Haas, Patrick Fugit, Eric Roberts, Samara Weaving, Jeff Garlin, Flea e Katherine Waterston.

É longo? Sim, concordo. É exagerado? Sim, também concordo. Mas curti. Saí do cinema com vontade de rever!

O Primeiro Homem

Crítica – O Primeiro Homem

Sinopse (imdb): Um olhar sobre a vida do astronauta Neil Armstrong e a lendária missão espacial que o levou a ser o primeiro homem a caminhar na Lua em 20 de julho de 1969.

Damien Chazelle, de Whiplash e La La Land, dirigindo a cinebiografia do Armstrong… Ei, péra, como assim não é o músico Louis Armstrong? O filme é sobre o astronauta Neil Armstrong?!?!

Poizé. Na minha humilde opinião, Chazelle escolheu o Armstrong “errado”. E fez um filme correto, mas sem graça.

Ok, admito que achei o filme bobo, mas reconheço que ele cumpre os objetivos. O Primeiro Homem (First Man, no original) é um “filme pra Oscar”. Produção grandiosa, contando a história real de um herói norte americano, com nomes badalados na produção e no elenco. É, visto por esse ângulo, Chazelle mandou bem. E deve conseguir algumas indicações ao prêmio da Academia em 2019.

A reconstituição de época é bem cuidada, e os efeitos especiais são discretos e eficientes. O pouso na lua – momento chave no filme (e na História) – é uma sequência belíssima, com toques de jazz na trilha sonora. O público geral vai curtir.

O problema é que tudo é muito linear e sem graça. Apolo XIII contava uma história semelhante mas era muito mais emocionante. Estrelas Além do Tempo se passa na mesma época e local, e tem personagens muito mais cativantes. E a longa duração (duas horas e vinte e um minutos) torna tudo cansativo.

No elenco, Chazelle repete a parceria com Ryan Gosling, que faz cara de paisagem o tempo todo (como sempre, aliás), mas funciona porque o papel pede – será que vem outra indicação ao Oscar? Claire Foy faz sua esposa, num papel provavelmente adaptado para os dias de hoje – sua Janet Armstrong é uma mulher forte e desafiadora, diferente do que era comum nos anos 60 – mas coerente com a onda de mulheres fortes do cinema atual. Também no elenco, Jason Clarke, Kyle Chandler, Ciarán Hinds, Ethan Embry, Corey Stoll, Shea Whigham, Patrick Fugit e Lukas Haas.

O Primeiro Homem vai agradar muita gente (principalmente nos EUA). Mas ainda acho que que Chazelle faria melhor se escolhesse o outro Armstrong…

p.s.: Aposto como vai ter gente dizendo que é um filme de ficção científica…

La La Land: Cantando Estações

La La LandCrítica – La La Land: Cantando Estações

Em Los Angeles, um pianista de jazz que sonha em ter a sua própria casa noturna se apaixona por uma aspirante a atriz.

La La Land: Cantando Estações (La La Land, no original) chamou atenção quando ganhou sete Globos de Ouro: melhores filme, ator e atriz (comédia ou musical); diretor, roteiro, trilha sonora e canção. Ok, a gente sabe que a premiação do Globo de Ouro separa os filmes musicais dos dramas, é “mais fácil” ganhar um prêmio quando não é drama (onde normalmente estão os principais candidatos). Mas se a gente lembrar que os cinco prêmios mais importantes do Oscar são filme, diretor, roteiro, ator e atriz,  La La Land se saiu MUITO bem no Globo de Ouro.

(Atualizando: saiu a lista dos indicados ao Oscar, La La Land concorre a 14 estatuetas – número recorde, nunca um filme concorreu a 15. As chances de Oscar são bem grandes.)

La La Land foi escrito e dirigido por Damien Chazelle, o mesmo de Whiplash. Seu novo filme é um “musical clássico”, daqueles que as pessoas param de falar, começam a cantar e dançar, e, quando a música acaba, tudo volta ao normal. A boa notícia é que as músicas são muito boas, dá vontade de caçar o cd com a trilha sonora quando saímos do cinema.

Não só o filme é alegre, colorido e empolgante, como a parte técnica também é excelente. Vemos vários planos sequência complexos, cheios de coreografias de dança e sapateado!

Ainda sobre a parte técnica, queria falar sobre o Ryan Gosling tocando piano. Chazelle declarou que tudo o que vemos na tela foi realmente tocado pelo ator. Olha, posso garantir que o que vemos não é resultado de apenas alguns meses de prática. Quem toca aquilo no piano estudou por anos. Ou seja: ou Gosling já tocava piano antes, ou tem um dublê de mãos inserido digitalmente.

Ah, o elenco. Ryan Gosling não é um ator muito versátil, ele costuma ter a mesma “cara de paisagem” em todos os filmes (sempre lembro dele nos filmes Drive e Só Deus Perdoa, onde ele usa a mesma expressão durante todo o filme). Mas aqui ele está bem, ele toca piano, canta, dança sapateia, e, apesar de continuar com cara de paisagem, não incomoda. Emma Stone também está bem. Nenhum dos dois tem um vozeirão, mas os arranjos foram feitos respeitando as suas extensões vocais, então tudo desce redondinho (apesar do grave de Gosling ser bastante fraco). J.K. Simmons, que ganhou um Oscar trabalhando com Chazelle, aparece num pequeno papel; o músico John Legend também tem um papel importante.

Claro que tem gente que não suporta musicais e vai passar longe. Mas quem não tiver preconceito verá o primeiro grande filme de 2017.

Whiplash – Em Busca da Perfeição

WhiplashCrítica – Whiplash – Em Busca da Perfeição

Imagine o que acontece quando um aluno de música obcecado com a perfeição encontra um professor rígido demais, a ponto de agredir física e psicologicamente os seus alunos?

Andrew, um jovem e talentoso baterista, estudante de uma prestigiada universidade de música, entra na banda do professor Fletcher, o mais conceituado da escola, mas que costuma abusar psicologicamente dos seus alunos, sempre forçando os limites de cada um.

Antes de tudo, um comentário vindo de um músico semi-profissional (toco em bandas há quase trinta anos): sou contra os métodos do professor Fletcher, assim como sou contra a obsessão de Andrew. Mas admito que, no filme, a exploração desta relação de amor e ódio funcionou muito bem.

O filme é dos dois, de Andrew versus Fletcher – aliás, o filme é dos atores Miles Teller e J.K. Simmons. Ambos estão impressionantes!

Miles Teller não é um rosto muito conhecido, mas passa a impressão de “já vi esse cara em algum lugar”. Bem, ele estava em Divergente, Projeto X e na nova versão de Footloose, e agora está escalado para o papel de Sr Fantástico no polêmico reboot do Quarteto Fantástico. Já J.K. Simmons é um eterno coadjuvante (quem não se lembra do seu JJ Jameson em Homem Aranha?). Com certeza o star power de ambos vai aumentar depois de Whiplash.

Ainda Teller: o ator toca bateria desde os 15 anos de idade. Para o filme fez 4 horas de aula, 3 vezes por semana. Boa parte do que vemos nas telas era o próprio ator tocando!

Whiplash foi escrito e dirigido pelo pouco conhecido Damien Chazelle. Sem fundos para realizar seu filme, Chazelle fez um curta homônimo (também estrelado por Simmons) e o inscreveu no festival Sundance. O curta acabou ganhando a competição, e assim Chazelle conseguiu seu financiamento.

Não vi o curta, mas pelo longa podemos atestar o talento de Chazelle, que consegue um excelente ritmo no seu duelo entre personalidades fortes, além de usar ótimos ângulos ao filmar os instrumentos da big band em closes.

Ah, tem a música, né? Não sou muito fã de jazz, mas curto big bands, assim como curto compassos compostos (a música Whiplash é em 7/8 – em vez de contar 1, 2, 3, 4, conta-se 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7). E, vamos combinar: é sempre legal ver boa música sendo bem tocada, independente do estilo. E Whiplash está repleto de música boa!

Diz a lenda que todas as sessões de Whiplash no Festival do Rio de 2014 terminaram com a plateia batendo palmas. Bem, o final do filme realmente pede palmas, isso deve acontecer em várias sessões por aí.

p.s.: Determinado momento rola uma alfinetada, onde o filme diz “quem não é bom músico vai tocar rock”. Bem, os 3 melhores bateristas que conheço – Ian Paice, Carl Palmer e Neil Peart – são de bandas de rock…