Magnatas do Crime (2019)

Crítica – Magnatas do Crime (2019)

Sinopse (google): Um talentoso estadunidense graduado em Oxford, usando suas habilidades únicas, audácia e propensão à violência, cria um império da maconha usando as propriedades dos aristocratas ingleses empobrecidos. No entanto, quando ele tenta vender seu negócio a um colega bilionário, uma cadeia de eventos se desenrola, envolvendo chantagem, decepção, caos e assassinato entre bandidos de rua, oligarcas russos, gângsteres e jornalistas.

Definitivamente a pandemia bagunçou com a vida da gente. Outro dia abri a Netflix e vi uma série do Guy Ritchie, “Magnatas do Crime / The Gentlemen”. Ué, o Guy Ritchie não tinha feito um filme com esse exato nome? Pra piorar, no meio de 2020 tive uns problemas pessoais, e passei um tempo sem postar aqui no heuvi. De 2008 até agora, foi a única época que deixei de fazer os meus textos. E Magnatas do Crime veio nessa época. Ou seja, não teve crítica aqui. Teve apenas um parágrafo, no top 10 de 2020:

Gostei de ter visto Guy Ritchie de volta ao submundo do crime cool e moderninho (os dois últimos dele foram Aladdin e Rei Arthur). Violência estilizada, personagens exóticos, bons diálogos, boa edição. Além de ter um elenco ótimo, Matthew McConaughey, Hugh Grant, Charlie Hunnam, Colin Farrell, Jeremy Strong, etc

Sinceramente, lembrava muito pouco do filme. Comecei a ver a série, e me lembrei de alguns detalhes, então, depois de ver o primeiro episódio, decidi que era melhor rever o filme antes de continuar a série.

Vamos ao filme então? Repetindo o que escrevi ali em cima: Magnatas do Crime (The Gentleman, no original) traz Guy Ritchie de volta ao submundo do crime cool. Magnatas do Crime lembra muito o estilo dos seus dois primeiros filmes: Jogos Trapaças e Dois Canos Fumegantes e Snatch, filmes com tramas rocambolescas, vários personagens esquisitos, trilha sonora moderninha e edição ágil. Por causa desses dois primeiros filmes Ritchie foi comparado com Tarantino, e aqui volta ao”estilo tarantinesco”.

A história dá um monte de voltas, é daquele tipo que apresenta um quebra cabeças com vários personagens e várias situações peculiares, e tudo se junta de maneira satisfatória no fim. E Ritchie consegue fazer um bom equilíbrio entre o humor e a violência (outra semelhança com Tarantino).

A comparação com Jogos Trapaças e Dois Canos Fumegantes e Snatch, é inevitável, mas este Magnatas do Crime tem uma diferença: tudo aqui parece mais estiloso. Todos estão muito bem vestidos, tudo é muito elegante. Continuamos com personagens criminosos, mas aqui todos são muito mais elegantes. Inclusive, segundo o imdb, Guy Ritchie levou Charlie Hunnam para comprar roupas para o seu personagem.

O elenco está muito bem. Na minha humilde opinião, o maior destaque é Hugh Grant, malandro que quer dar a volta em todos, e que é justamente o narrador da história – ele passa boa parte do filme contando sua versão dos fatos para o personagem do Charlie Hunnam, e, detalhe importante, nem sempre sua versão é o que realmente aconteceu (o filme faz piada com isso). Outro destaque é Colin Farrell, com um sotaque tão forte que fica difícil de entender o que ele fala. Também no elenco, Matthew McConaughey, Jeremy Strong, Michelle Dockery, Eddie Marsan e Henry Golding.

(Uma curiosidade sobre o elenco. Sting, o cantor, estava em Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes. Sua filha, Eliot Sumner, é Laura, a drogada resgatada pela equipe do Charlie Hunnam.)

Por fim, tem dois “momentos jabá” do próprio diretor. No inicio do filme, o chope servido para o Matthew McConaughey é da “Gritchie Brewery”, cervejaria do diretor. E no fim do filme, quando Hugh Grant está no escritório de um produtor de cinema, vemos o cartaz de O Agente da UNCLE.

Agora, a pergunta que muita gente está se fazendo: qual é a conexão entre o filme e a série? Bem, só vi um episódio, mas, já consigo responder isso. O protagonista aqui, interpretado pelo Matthew McConaughey, tem plantações subterrâneas de maconha espalhadas pela Inglaterra. No filme, conhecemos uma dessas plantações; no primeiro episódio da série, conhecemos outra. Só não sei se terá outra conexão entre filme e série,porque ainda não vi o resto.

Filme revisto, agora vou encarar a série e volto aqui depois pra comentar!

Os Banshees de Inisherin

Crítica – Os Banshees de Inisherin

Sinopse (imdb): Dois amigos de longa data encontram-se em um impasse quando um deles decide abruptamente terminar sua amizade, com consequências alarmantes para ambos.

Saiu a lista dos vencedores do Globo de Ouro. Melhor filme drama ganhou Os Fabelmans, ok até previsível. Melhor filme musical ou comédia foi este Os Banshees de Inisherin, que tinha passado direto pelo meu radar. Opa, bora ver! Mas… comédia???

Vamulá. O Globo de Ouro é dividido em duas categorias: melhor drama e melhor musical ou comédia. Às vezes um estúdio manda um filme que não é comédia para essa categoria, porque teoricamente é mais fácil do que ganhar melhor drama (artifício semelhante é usado de vez em quando no Oscar de melhor ator /ator coadjuvante, quando acham que o candidato tem mais chances na outra categoria). Chequei os ganhadores dos últimos dez anos. Ano passado foi Amor Sublime Amor, musical; ano anterior foi Borat, comédia. Mas, reconheço que tem alguns que não são exatamente comédias, como Era uma vez em Hollywood, que ganhou em 2019; ou Perdido em Marte, que ganhou em 2015.

(Cabia outra discussão sobre esse preconceito com outros estilos. Por que só drama, comédia e musical pode se melhor filme? Senhor dos Anéis O Retorno do Rei, fantasia, ganhou o Oscar de melhor filme em 2004. O Silêncio dos Inocentes, terror, ganhou em 1992. Esses e vários outros estariam “desqualificados” pro Globo de Ouro?)

Voltando ao Os Banshees de Inisherin. Mesmo sabendo que podia não ser exatamente uma comédia, fui ver o filme esperando algo leve e divertido. E Os Banshees de Inisherin pode ser um monte de coisas, mas está bem longe de ser leve e divertido. O filme traz bicho de estimação morrendo porque engasgou com dedos decepados! E olha, isso até podia ser mostrado de forma engraçada, mas não é. O filme te coloca pra baixo.

Segundo o imdb, Colin Farrell resumiu a história como “a desintegração da alegria”. Seu Padraic começa o filme, “Como se ele tivesse acabado de ganhar na loteria; ele está tão feliz, contente e conectado”, mas no final, ele se transforma em “Alguém que acredita que há um lugar para a violência no mundo, e que não nem precisa ser justificado… e ele não consegue encontrar nada da alegria que já teve em sua vida.”

Enfim, só precisei desabafar. Quem ainda não viu, não espere uma comédia!

Depois desta looonga introdução, finalmente vamos ao filme. Os Banshees de Inisherin se passa em 1923, numa ilhazinha pequena na costa da Irlanda, em uma comunidade onde moram pouquíssimas pessoas. Vemos uma amizade se deteriorando: Colm simplesmente não quer mais ser amigo de Padraick porque acha que perde tempo demais batendo papo, e poderia ser mais útil utilizar seu tempo de outras formas.

(Este tema pode levar a uma reflexão sobre perder tempo com inutilidades nos dias de hoje…)

Os Banshees de Inisherin foi escrito e dirigido por Martin McDonagh. Preciso dizer que acho ele um cara superestimado. Seu filme de estreia, Na Mira do Chefe, é um filme super badalado pela crítica, e acho um filme apenas ok. Não é ruim, longe disso. Mas também está longe de ser um grande filme.

Aqui no heuvi tem críticas de dois filmes dele, Na Mira do Chefe e Sete Psicopatas e um Shih-Tzu. Curiosamente, alguns comentários que fiz para esses dois filmes também se encaixam aqui, principalmente quando falo da parte de direção de atores – destaque em ambos os filmes e também destaque aqui em Os Banshees de Inisherin.

O elenco, que é um dos pontos fortes de Os Banshees de Inisherin. Os dois principais, Colin Farrell e Brendan Gleeson, estão ótimos e devem concorrer a vários prêmios. Kerry Condom, o principal papel feminino, também está excelente. Mas, se heu tivesse que escolher um destaque, heu diria que Barry Keoghan, o Druig de Eternos, está ainda melhor do que os outros. Esse garoto vai longe!

Também precisamos falar dos belíssimos cenários. O filme se passa na fictícia ilha Inisherin, foram usadas duas ilhas na costa da Irlanda como locações. O filme é muito bonito.

Os Banshees de Inisherin não é o meu estilo de filme. Reconheço os méritos, não é um filme ruim, mas, não estaria num top 10 meu. Como diria o ditado em inglês, “it’s not my cup of tea”.

Por fim, nome. Inisherin é um lugar, não tem tradução. Banshee é uma palavra de origem irlandesa, seria uma fada do folclore irlandês, que anuncia a morte de um membro da família, geralmente gritando ou lamentando. Ou seja, também não tem uma tradução exata. Este era um filme para usar o título original, “The Banshees of Inisherin”. Pra que traduzir para “Os Banshees de Inisherin”? Pior: se banshee é feminino, por que “os banshees”?

Treze Vidas: O Resgate

Crítica – Treze Vidas: O Resgate

Sinopse (imdb): Uma missão de resgate é organizada na Tailândia, onde um grupo de crianças e seu treinador de futebol ficam presos em um sistema de cavernas subterrâneas que estão inundando.

Algumas histórias reais são tão boas que é só roteirizar e filmar. É o caso aqui em Treze Vidas: O Resgate (Thirteen Lives no original). Em 2018, um time de escolinha de futebol ficou preso em uma caverna na Tailândia. O caso foi explorado extensivamente pela mídia, foi um resgate complicado, demorou vários dias e envolveu pessoas de vários países.

A direção coube a Ron Howard, que já tinha feito um trabalho parecido com Apollo 13 – outra história real que era só filmar. Naquela época, Howard recebeu críticas de que estaria dramatizando demais as famílias, acho que aqui em Treze Vidas ele acertou o ponto.

(Lembrei de outro filme baseado em uma história real dirigido por Ron Howard, Rush No Limite da Emoção. Assim como não me lembrava de detalhes sobre o resgate dos meninos na Tailândia, heu não me lembrava que tinha ganhado o campeonato de F1 de 1976, e pra mim isso foi bom, porque a parte final do filme é eletrizante, e não sei se teria a mesma graça se heu já soubesse o fim da história.)

Preciso admitir que não vi o documentário The Rescue, lançado ano passado, que conta exatamente essa história. Tudo o que sabia era o que me lembrava das notícias da época. Não me lembro de nada diferente do que é mostrado na tela. Li uma crítica dizendo que o filme ignorou certos conflitos políticos que aconteceram, mas achei uma opção acertada – são quase duas horas e meia, não precisava de mais para contar essa emocionante história.

Aliás, os mergulhadores principais, Rick Stanton e John Volanthen, atuaram como colaboradores na produção. Stanton declarou que as filmagens foram precisas, o que estava “errado” é que tinha muito mais lama na água e que eles não enxergavam praticamente nada. Mas Stanton reconheceu que se fosse pra filmar na água barrenta, ninguém ia ver nada.

E falando nisso, imagino como deve ter sido difícil de filmar isso! Construíram um set num prédio do tamanho de um hangar, com tanques do tamanho de piscinas olímpicas, com túneis construídos dentro. O elenco praticava várias horas por dia em cada sessão, para depois filmar, e começar a praticar na sessão seguinte. Cada sessão era mais difícil que a anterior, para que o elenco pegasse cada vez mais experiência. Ao final, todos os atores confessaram que sentiram momentos de pânico durante as filmagens!

Hora de falar do elenco, Não me lembro de Viggo Mortensen e Colin Farrell terem sotaques tão fortes, acredito que isso seja dos personagens e não dos atores. Gostei disso. Ambos estão muito bem como os mergulhadores principais. Também no elenco, Joel Edgerton, Tom Bateman e Paul Gleeson. E já que falei dos sotaques: uma coisa que achei bem legal foi mostrar tailandeses falando em tailandês. Se esse filme fosse feito décadas atrás, certamente todos os personagens falariam em inglês.

Não vou falar do fim do filme porque acredito que boa parte dos espectadores deve se lembrar de como a história terminou. Mas mesmo sabendo, Howard consegue entregar um resultado tenso e emocionante. Treze Vidas está em cartaz no Amazon Prime.

Batman

Crítica – Batman

Sinopse (imdb): Quando o Charada, um serial killer sádico, começa a assassinar figuras políticas importantes em Gotham, Batman é forçado a investigar a corrupção oculta da cidade e questionar o envolvimento de sua família.

Tinha uma galera reclamando “nas internetes’ sobre este novo Batman. As críticas sempre eram quase sempre relacionadas ao novo protagonista, Robert Pattinson, que parece que sempre será lembrado como o “vampiro purpurina” da saga Crepúsculo. Heu não tenho nada contra ele, sei que é um bom ator. Minha dúvida com este filme era “mas será que a gente já precisa de um novo Batman?” Afinal, “anteontem” ainda era o Ben Affleck, que, na minha humilde opinião, fez um bom trabalho como o homem morcego, e ano passado teve filme com ele no papel.

Mas, Hollywood é assim, eles vão fazer novos filmes não importa se é a hora certa ou não. Pelo menos, a boa notícia: este novo Batman é muito bom!

Ok, quase 3 horas, não precisava de tanto, podia cortar algumas gordurinhas aqui e ali e fazer um filme mais enxuto. Mas algumas cenas são tão boas que entrariam facilmente numa lista de momentos mais icônicos de todos os filmes do Batman, como a cena no corredor escuro onde só vemos alguma coisa quando os vilões atiram; ou a cena de cabeça para baixo do Batman vindo até o carro capotado, na chuva e com a explosão ao fundo.

Dirigido por Matt Reeves, que já tinha mostrado competência na franquia Planeta dos Macacos, Batman (The Batman, no original) é um belo espetáculo visual. A fotografia de Greig Fraser (que está concorrendo ao Oscar por Duna) é um espetáculo, muitas cenas escuras, muitas cenas com chuva, muito contra luz. E não é só isso, a cenografia também enche os olhos – Gotham é uma cidade suja e decadente. Também gostei de como os vilões aparecem mais reais – o Pinguim parece mais um líder mafioso do que um freak (como era o Danny De Vito do filme de 1992); e o Charada é um louco com seguidores pela internet.

Vamos ao elenco. Robert Pattinson já mostrou que é um bom ator, e ele está muito bem como o Batman. Mas… Não curti muito ele como Bruce Wayne. Enquanto o novo Batman me convenceu, o Bruce Wayne do Christian Bale vinha à minha cabeça cada vez que aquele jovem emo aparecia na tela. Zoë Kravitz está ótima como a Selina Kyle, e a relação dela com o Batman é perfeita. Paul Dano está impressionante como o Charada, e Colin Farrell, irreconhecível como o Pinguim. Também no elenco, Peter Sarsgaard, John Turturro, Andy Serkis e Jeffrey Wright.

Tem uma perseguição de carro que me causou sensações opostas. Por um lado, é uma cena plasticamente muito bonita. Muitas luzes, muita água, a cena eleva a adrenalina lá no alto. Mas, por outro lado, as imagens são muito entrecortadas. Nem consegui ver a cara do novo Batmóvel. Vão me xingar, mas deu saudade de Velozes e Furiosos

Tenho um comentário negativo sobre a trilha sonora de Michael Giacchino. O tema que fica tocando repetidamente é muito igual à marcha imperial de Guerra nas Estrelas. Ok, boa trilha, mas preferia um tema diferente.

A sessão de imprensa foi na segunda de carnaval, não fui porque estava viajando com a família, e o filme ia estrear no dia seguinte. Fui então terça em uma sessão dublada com meus filhos. Dois comentários, um geral e um pessoal. O primeiro comentário é que não só a dublagem é muito boa, como o filme tem várias coisas escritas na tela, e quase tudo estava em português – conseguiram alterar os textos! O comentário pessoal é que o Charada foi dublado pelo meu amigo Philippe Maia, que fez um trabalho excelente!
Claro que o filme tem espaço para continuações. Que mantenham a qualidade!

Ah, tem uma cena pós créditos com uma piada bem cretina. Ri alto na sala de cinema, não pela piada, e sim pela quantidade de gente que ficou esperando para ver aquilo!

Dumbo (2019)

Crítica – Dumbo (2019)

Sinopse (imdb): Um elefante jovem, cujas orelhas exageradas lhe permitem voar, ajuda a salvar um circo em dificuldades, mas quando o circo planeja um novo empreendimento, Dumbo e seus amigos descobrem segredos obscuros sob sua brilhante fachada.

E continuamos com as versões live action dos clássicos da Disney. Depois de Cinderela, Mogli e A Bela e a Fera, é a hora de Dumbo.

Dumbo (idem no original) foi dirigido por Tim Burton (que já tinha um Disney live action no currículo, Alice). Mas o resultado ficou mais próximo da mais Disney do que do Tim Burton, vemos pouco do tradicional estilo dark do diretor.

Comecemos pelos pontos fracos. O conceito inicial de Dumbo não funciona mais nos dias de hoje. Dumbo é “feio”, e era pra ser ridicularizado por isso. Mas, na boa, hoje em dia quem acharia feio um filhote de elefante? “Ah, mas ele tem orelhas grandes!” Ora, é um FILHOTE DE ELEFANTE!!! Duvido que exista algum cinema no Brasil onde a plateia não faça um “ohhh…” quando aparecer o Dumbo a primeira vez.

Mas aceito esse lance do Dumbo ser “feio” porque isso está na premissa básica do desenho original. Agora, o filme segue com inconsistências. Cito um exemplo: na primeira noite no grande circo, Dumbo voa por cima da plateia, e depois foge. Por que a plateia reclamou? Pagaram pra ver um elefante voando, o elefante voou. Se o dono do circo queria mais, isso é um problema interno, a plateia nunca ficaria sabendo.

Dumbo segue acumulando essas inconsistências, principalmente na parte final – detestei o ataque caricato do vilão na torre. Some a isso o fato que o Dumbo é um coadjuvante no seu próprio filme, o foco principal é a família.

Por outro lado, o cgi do elefante é impressionante. Chegamos a um estágio onde a animação é tão perfeita que se colocarem um animal real ao lado do cgi a gente não vai saber qual é qual. Além disso, Dumbo é um filme para crianças, e estas não vão reparar nas inconsistências citadas acima.

O elenco está ok. Colin Farrell, Eva Green, Michael Keaton, Danny DeVito e Alan Arker, nenhum destaque positivo, nenhum destaque negativo.

Agora aguardemos Aladdin e Rei Leão

Animais Fantásticos e Onde Habitam

animaisfantasticosCrítica – Animais Fantásticos e Onde Habitam

O “novo Harry Potter”?

Nos anos 20, um magizoologista chega a Nova York com uma maleta onde carrega uma coleção de fantásticos animais do mundo da magia. Em meio a comunidade bruxa norte-america que teme muito mais a exposição aos trouxas do que os ingleses, ele precisará usar suas habilidades e conhecimentos para capturar uma variedade de criaturas que acabam saindo da sua maleta.

Na verdade, Animais Fantásticos e Onde Habitam (Fantastic Beasts and Where to Find Them, no original) não tem nada a ver com o personagem Harry Potter. J. K. Rowling, autora dos livros do Harry Potter, escreveu este livro como um prequel – se passa no mesmo universo (Hogwarts e Dumbledore são citados), mas a história é independente dos livros / filmes do famoso bruxinho.

Animais Fantásticos e Onde Habitam tem pedigree. O roteiro é da própria Rowling, e a direção ficou com David Yates, que dirigiu os quatro últimos filmes da franquia. Mas mesmo assim o filme não flui muito bem.

O filme até começa bem. Mas senti problemas de ritmo, o filme não envolve o espectador, não é como nos filmes do Harry Potter, onde o espectador embarca em uma viagem junto com os personagens. Temos bons momentos, mas a irregularidade é grande.

Outro problema é Eddie Redmayne, indiscutivelmente um grande ator, mas que aqui parece preso ao personagem Stephen Hawking que ele interpretou em A Teoria de Tudo. Redmayne falha em nos fazer torcer pelo protagonista. Principalmente porque o seu coadjuvante Dan Fogler funciona muito melhor…

Teve um outro problema, menor, mas que confesso que me incomodou um pouco. Os efeitos especiais que mostram os animais são muito bons – como era de se esperar. Mas em algumas cenas, os animais interagem com o protagonista. E, neste momento, senti falta de um animatronic, um boneco, algo real, onde o ator conseguisse tocar. Todas as cenas onde ele encosta nos animais são muito falsas.

No elenco, além de Dan Fogler, o outro destaque seria para Ezra Miller. E, se Eddie Redmayne fica devendo, Colin Farrell decepciona mais ainda, com um vilão bem fraco. Além deles, o filme conta com Katherine Waterston, Alison Sudol, Samantha Morton, Carmen Ejogo e Jon Voight. Ron Perlman está quase irreconhecível como um duende de dedos tortos; Johnny Depp mal aparece (mas deve voltar nos próximos filmes).

É, você leu direito. Próximos filmes. A ideia do estúdio é fazer cinco filmes. Esperamos que melhore no próximo, senão vai ser difícil de chegar ao fim…

Walt nos Bastidores de Mary Poppins

0-Walt nos Bastidores de Mary Poppins

Crítica – Walt nos Bastidores de Mary Poppins

A escritora P.L. Travers reflete sobre sua infância, enquanto negocia com Walt Disney os direitos para adaptar seu livro Mary Poppins para o cinema.

O título nacional “Walt nos Bastidores de Mary Poppins” é ruim. Não só é grande demais, como é um título mentiroso. Em primeiro lugar, Walt Disney é um personagem secundário, o filme é focado na escritora P.L. Travers, personagem de Emma Thompson. E em segundo lugar, não vemos exatamente os bastidores do filme. Tudo se passa na concepção do roteiro e das músicas, bem antes das filmagens.

Dito isso, Walt nos Bastidores de Mary Poppins (Saving Mr. Banks, no original) é bem interessante. Já faz anos desde a última vez que vi Mary Poppins, e mesmo assim me lembrei de várias músicas. É legal ver como surgiram algumas dessas músicas.

Emma Thompson está ótima como a escritora P. L. Travers. Não sei o quanto Travers era rabugenta na vida real, mas aqui ela virou um personagem que é um prato cheio para uma grande atriz como Thompson. Tom Hanks, como era esperado, também está bem como Walt Disney, mas é Emma Thompson quem rouba a cena. Ainda no elenco, Colin Farrell, Jason Schwartzman, Paul Giamatti, Ruth Wilson e Rachel Griffiths.

O ponto fraco do filme dirigido pelo pouco conhecido John Lee Hancock (diretor de Um Sonho Possível e roteirista de Branca de Neve e o Caçador) são os longos flashbacks mostrando a infância de Travers. Sim, os flashbacks são essenciais para a história. Mas podiam ser beeem mais curtos.

Walt nos Bastidores de Mary Poppins não é um filme essencial. Mas é divertido, principalmente para os fãs de Mary Poppins.

Na Mira do Chefe

Crítica – Na Mira do Chefe

Há tempos ouço boas recomendações sobre este Na Mira do Chefe, filme de estreia do diretor e roteirista Martin McDonagh. Depois de ter visto Sete Psicopatas e um Shih-Tzu, seu segundo filme, fui atrás do primeiro.

Depois de um trabalho que dá errado, dois assassinos profissionais são mandados pelo seu chefe para passar um tempo na pacata cidade de Bruges, esperando novas ordens.

Na Mira do Chefe (In Bruges, no original) é um filme “correto”. Bons atores, bons diálogos, uma bela locação europeia… Mas, sabe quando falta algo? Acaba o filme, e fica aquela sensação de que ainda faltava algo pro filme ser bom.

Vamos ao que funciona. O elenco está muito bem. Colin Farrell, Brendan Gleeson e Ralph Fiennes estão ótimos, assim como os coadjuvantes menos conhecidos Clémence Poésy, Jordan Prentice e Zeljko Ivanek. Os diálogos fluem bem entre o elenco. As locações, em Bruges, na Bélgica, também foram bem escolhidas.

Mas é pouco, pelo menos para um filme tão badalado. Mais: o filme foi vendido como “comédia de humor negro”. Olha, até tem algum humor negro, mas muito pouco para transformar o filme em uma comédia. E, pra piorar, o ritmo da metade inicial é muito lento. Depois, quando aparece o personagem de Ralph Fiennes, o ritmo melhora, mas já é tarde demais, já comprometeu o resultado final do filme.

Muita gente compara este filme ao estilo de Quentin Tarantino. Discordo. Diferente de Sete Psicopatas e um Shih-Tzu, Na Mira do Chefe traz poucos elementos “tarantinescos” – não tem nenhum personagem esquisito, a trilha sonora é careta, a edição é convencional… As únicas coisas que se aproximam do universo Tarantino são algumas citações à cultura pop. Mas é tão próximo aos filmes do Tarantino quanto um Mercenários da vida.

Sinceramente, não consegui entender o hype da crítica – e não só da crítica especializada, o filme tem nota 8,0 no imdb! Na Mira do Chefe está longe de ser ruim, mas, na minha humilde opinião, falta comer muito arroz com feijão antes de ser bom…

Sete Psicopatas e um Shih Tzu

Crítica – Sete Psicopatas e um Shih-Tzu

Um roteirista com bloqueio criativo se envolve com o mundo do crime quando seus amigos sequestram o cachorro de um gangster.

Não vi Na Mira do Chefe (In Bruges, de 2008), o elogiado filme de estreia do escritor e roteirista britânico Martin McDonagh, então não tenho como comparar. Mas pelo que li por aí, este seu segundo filme é mais fraco… Não que Sete Psicopatas e um Shih-Tzu (Seven Psychopaths, no original) seja ruim, longe disso. Mas o roteiro “viaja” demais, e o filme se perde.

Vamos primeiro ao que funciona: Sete Psicopatas e um Shih-Tzu tem algumas coisas boas, como um roteiro que foge do previsível, apesar de, à primeira vista, parecer um pastiche de Tarantino com Guy Ritchie. Os personagens são interessantes, alguns diálogos são geniais e os atores estão todos muito bem.

Mas… O roteiro resolve brincar com metalinguagem. Isso é legal, quando bem feito. O problema é que aqui a metalinguagem é exagerada, e na parte final do filme a gente não sabe se aquilo está acontecendo ou se é imaginação dentro da cabeça do roteirista. E, pra piorar, o roteiro ainda tem umas piadas internas que, na minha humilde opinião, não funcionaram – como, por exemplo, reduzir a importância de todos os personagens femininos.

O elenco todo está fenomenal. Além dos sete que estão no poster – Collin Farrell, Sam Rockwell, Christopher Walken, Woody Harrelson, Tom Waits, Olga Kurilenko e Abbie Cornish (detalhe importante: nem todos esses são psicopatas, como o cartaz dá a entender!) – o filme ainda conta com Harry Dean Stanton, Helena Mattsson, Michael Pitt, Michael Stuhlbarg, Kevin Corrigan e Gabourey Sidibe. Todos inspirados, sem exceção. Que elenco, hein?

No fim, fica aquela impressão de que poderia ter sido melhor. Acho que vou procurar o Na Mira do Chefe

O Vingador do Futuro (2012)

Crítica – O Vingador do Futuro (2012)

Mais uma refilmagem…

Num futuro sombrio, o operário Douglas Quaid vai até a Rekall, uma empresa que providencia implantes de memória aos seus clientes, mas algo dá errado e ele começa a ser perseguido pela polícia.

O Vingador do Futuro (2012) não é apenas uma refilmagem. É uma refilmagem desnecessária. O original é um dos melhores filmes de ficção científica do final do século passado. Não precisava de refilmagem. E se era pra refazer, deveriam ter feito um roteiro novo a partir do conto de Philip K. Dick – como os irmãos Coen fizeram em Bravura Indômita (que não é refilmagem, e sim outro filme baseado no mesmo livro). Ou seja, “fail”.

Pelo perfil do diretor escolhido para a refilmagem, a gente já desconfiava do que viria por aí. O cargo foi entregue a Len Wiseman, de Duro de Matar 4 e da série Anjos da Noite. O filme original era do holandês Paul Verhoeven, que pouco antes fizera Conquista Sangrenta e Robocop, e dois anos depois dirigiria Instinto Selvagem. É só a gente analisar os currículos de ambos pra entender as diferenças entre as versões…

O Vingador do Futuro parece que se inspirou nos novos filmes de super heroi (como a nova trilogia do Batman) para fazer uma história mais “pé no chão”. Nada de Marte, mutantes, alienígenas. Tudo se passa no nosso planeta, que foi quase inteiramente destruído por uma guerra química. Até aí, tudo bem, mas… Onde se encaixa então a cena da prostituta de três seios? 😉

O roteiro do filme original, além de uma fina ironia misturada com sarcasmo (típicos do diretor Paul Verhoeven), tinha uma coisa muito boa: até o fim do filme, não sabíamos se tudo aquilo tinha acontecido ou se era parte do implante colocado na cabeça de Quaid. O roteiro atual, de Kurt Wimmer (diretor do bom Equilibrium) e Mark Bomback (Incontrolável), deixa de lado a ironia e as sutilezas do filme de 1990, e substitui tudo por boas cenas de ação. Ok, as cenas são bem feitas, mas só isso não sustenta um filme…

Outro ponto fraco é Colin Farrell. Coitado de Farrell, ele não está mal, mas é que a comparação é injusta. O Vingador do Futuro original traz Arnold Schwarzenegger em excelente forma (sem dúvida, é um de seus melhores filmes). Qualquer um, ao refazer este papel, ia ter dificuldades. E Farrell não conseguiu construir um Quaid à altura do original, como já era previsível.

Mas nem tudo ficou ruim neste novo filme. Os cenários são um dos destaques, a ambientação deste novo mundo futurístico ficou bem legal; o transporte “A Queda” (que atravessa o planeta) foi uma boa sacada, assim como o uso da gravidade zero. E algumas sequências de ação são muito boas, gostei muito da perseguição nos carros magnéticos e da cena dos elevadores. E se Colin Farrell está muito aquém de Schwarzenegger, as duas atrizes principais estão ótimas – Kate Beckinsale fez uma “versão estendida” do personagem que foi de Sharon Stone (e mostra que está em excelente forma física quase aos quarenta anos de idada); enquanto Jessica Biel mostra que é uma atriz bem superior à sumida Rachel Ticotin (que continua na ativa, mas há tempos não faz nada relevante). (Ainda no elenco, Bryan Cranston, John Cho, Bokeem Woodbine e um Bill Nighy desperdiçado).

No fim, fica aquela sensação estranha pela comparação com o original. Se O Vingador do Futuro de 2012 fosse um filme novo, até seria legal. Mas ao lado do outro, ficou devendo.