O Mundo Depois de Nós

Crítica – O Mundo Depois de Nós

Sinopse (imdb): As férias de uma família numa casa luxuosa sofrem uma reviravolta quando um ciberataque afeta todos os dispositivos e duas pessoas estranhas batem à porta.

Filme novo da Netflix, todo mundo está vendo e comentando, fiquei curioso quando vi que alguns canais de cinema que acompanho falavam do final, fui ver o filme pra saber por que o final está envolto em polêmicas.

Simples: PORQUE O FILME NÃO TEM FINAL! Simplesmente sobem os créditos e acabou.

¬¬

O pior é que heu estava gostando muito do filme. Mas um “final” desses me tirou do sério. Então, vou comentar o filme, depois comento sobre o encerramento.

Escrito e dirigido por Sam Esmail, adaptação do livro homônimo escrito por Rumaan Alan (que também colaborou no roteiro), O Mundo Depois de Nós (Leave the World Behind, no original) mostra uma família que tirou uns dias de férias em uma casa alugada, quando algo acontece no mundo e eles ficam isolados. Os supostos reais donos da casa aparecem e isso só serve pra aumentar a desconfiança geral sobre o que está acontecendo.

O ritmo do filme é muito bom. O espectador é envolvido num clima crescente de tensão, não sabemos o que está acontecendo. A trama te prende, é daquele tipo de filme que é difícil pausar, são pouco mais de duas horas que passam rapidinho.

Gostei muito da câmera do Sam Esmail – sei que ele é um dos nomes por trás da série Mr Robot, mas nunca vi a série, nunca tinha visto nada dele. Em vários momentos a câmera sai do eixo, roda, sobe, mostra muitos ângulos fora do convencional. Um exemplo: tem uma cena numa cabana onde a câmera roda, sobe e sai por uma fresta no telhado, pra mostrar o que está acontecendo fora da cabana.

Algumas sequências são muito bem filmadas, como a sequência do Tesla. Ok, provavelmente é um plano sequência fake, cheio de cgi, mas mesmo assim ficou bem legal.

Ah, e pra quem gosta de mensagens subliminares, reparem que o quadro abstrato na sala muda ao longo do filme. O mesmo acontece com a pintura atrás da cama de casal. E tem uma cena onde tem um quadro atrás da Julia Roberts mostrando uma imagem parecida com o que o Ethan Hawke tinha passado há pouco.

O elenco também manda bem. Julia Roberts, Mahershala Ali e Ethan Hawke estão muito bem nos seus papeis, assim como os outros três mais novos e mais desconhecidos, Charlie Evans, Farrah Mackenzie e Myha’la. E já tinha visto dezenas de filmes com Ethan Hawke e com Kevin Bacon e nunca tinha reparado como são parecidos!

Dá pra ver que heu estava gostando, né? Pois bem, hora de falar do “não final”.

Não tenho problemas com filmes com finais abertos. Usando como exemplo aquele que todos se lembram, Inception, no fim o pião está rodando, e a gente não sabe se aquilo é real ou sonho. A mesma coisa com O Vingador do Futuro do Verhoeven, ao fim do filme a gente não sabe se aquilo aconteceu ou se foi uma memória implantada. A gente nunca soube o que tinha na mala do Marsellus Wallace em Pulp Fiction. E a lista é infinita. O espectador não precisa de tudo mastigado.

Agora, se um filme se propõe a contar uma história, é bom que tenha algum tipo de conclusão. Reclamei aqui no heuvi este ano de dois filmes que terminaram abruptamente para serem concluídos em continuações, Aranhaverso 2 e Velozes e Furiosos 10. Se é pra deixar gancho, tem que fazer como Missão Impossível 7, que fecha a missão que o personagem está fazendo, e deixa pontas soltas a serem resolvidas na continuação. O modo usado em Aranhaverso 2 e Velozes e Furiosos 10 foi péssimo, a narrativa foi muito mal construída.

Mas nada não é tão ruim que não possa piorar. O Mundo Depois de Nós consegue ser ainda mais tosco, porque interrompe o filme do nada. E não li nada sobre uma continuação pra fechar a história. Me parece que os realizadores quiseram trollar o público. “Sabe a personagem frustrada porque não viu o final de Friends? Poizé, agora o espectador vai ficar igualmente frustrado por não ver o final do filme!”

Pena. Heu estava realmente gostando do filme. Mas esse “não final” foi uma ducha de água fria.

Glass Onion: Um Mistério Knives Out

Crítica – Glass Onion: Um Mistério Knives Out

Sinopse (Netflix): O famoso detetive Benoit Blanc vai à Grécia para desvendar um mistério que envolve um bilionário e seu eclético círculo de amizades.

Em 2019, fomos apresentados a Entre Facas e Segredos, um divertido “whodoneit”, com elenco estelar e algumas boas reviravoltas no roteiro. Pra quem curtiu, temos agora outro filme com o mesmo detetive, o Benoit Blanc de Daniel Craig. Não é uma continuação, é apenas outra história com o mesmo personagem.

(Glossário: Whodunit é o estilo de história onde acontece um crime, a trama levanta vários suspeitos e o espectador é instigado a descobrir quem é o culpado.)

Escrito e dirigido pelo mesmo Rian Johnson do primeiro filme, Glass Onion: Um Mistério Knives Out (Glass Onion: A Knives Out Mystery, no original) leva Benoit Blanc para uma festa particular onde deveria acontecer um jogo, mas uma pessoa acaba morrendo e o espectador então precisa descobrir quem é culpado e qual é o motivo. E, assim como acontece no filme anterior, o roteiro (muito bem escrito, precisamos reconhecer) dá um monte de voltas, e nem sempre o que parece que estamos vendo é o que realmente estamos vendo.

(Gostei muito do roteiro de Glass Onion, mas preciso reconhecer que algumas coisas soam meio forçadas. Só vi o filme uma vez, mas desconfio que ao rever a gente deve encontrar algumas inconsistências aqui e ali. Nada grave, felizmente.)

Sim, o espectador vai pensar no jogo Detetive. E isso é citado no filme, vira uma piada no roteiro. Aliás, outra coisa boa a se falar do roteiro é que achei o humor muito bem dosado. Glass Onion não é uma comédia escrachada, mas tem algumas cenas bem engraçadas. E aquele personagem aleatório que está passeando pela ilha cria algumas cenas hilárias!

Ainda queria falar dos cenários. Glass Onion foi filmado num hotel chique na Grécia. O hotel é tão caro que os atores não puderam ficar hospedados lá! E o visual é muito bonito, coerente com uma casa de um bilionário com dinheiro sobrando. Ah, a cebola de vidro no topo da construção é cgi.

Como acontece no primeiro filme, o elenco também é muito bom. Além do já citado Daniel Craig, o elenco conta com Edward Norton, Kate Hudson, Dave Bautista, Janelle Monáe, Kathryn Hahn, Jessica Henwick, Leslie Odom Jor. e Madelyn Cline, e rápidas participações de Ethan Hawke e Hugh Grant. Além deles, vemos Stephen Sondheim, Angela Lansbury, Natasha Lyonne e Kareem Abdul-Jabbar num jogo de Among Us online. E a voz do “relógio” é do Joseph Gordon Levitt.

Por fim, queria falar do nome do filme. O primeiro filme se chama “Knives Out”, e foi traduzido com o nome galhofa “Entre Facas e Segredos”. Ok, estamos acostumados com nomes galhofa, tipo “Loucademia de Polícia” ou “Todo Mundo Quase Morto”, isso é algo comum no cinema aqui no Brasil. Aí lançaram um segundo filme “Glass Onion: A Knives Out Mystery”. Por que? Glass Onion, ok, mas aqui não tem nada de Knives Out – as facas são algo importante no primeiro filme, não são aqui. Mas, ok, fizeram essa lambança no título original. Aí vão traduzir aqui, e deveria ser “Cebola de Vidro: Entre Facas e Segredos 2”, ou algo parecido. Mas não, mantiveram partes do nome em inglês: “Glass Onion: um Mistério Knives Out”. Caramba, por que??? Era pra avisar ao público que esse filme tem a ver com aquele? Mas aqui no Brasil o primeiro filme não se chama “Knives Out”!!!

O Telefone Preto

Crítica – O Telefone Preto

Sinopse (imdb): Após ter sido raptado por um assassino de crianças e trancado num porão à prova de som, um menino de 13 anos começa a receber chamadas num telefone desligado das vítimas anteriores do assassino.

O diretor Scott Derrickson tinha feito alguns bons filmes de terror, aí foi pra Marvel fazer o primeiro Doutor Estranho, que não tem nada de terror. Ele ia dirigir o segundo Doutor Estranho, mas acabou substituído por Sam Raimi – que conseguiu finalmente trazer uma pegada de terror para a Marvel. Derickson voltou ao seu habitat natural, com este O Telefone Preto (The Black Phone, no original).

O Telefone Preto é adaptação do conto homônimo escrito por Joe Hill, filho do Stephen King. E o espectador atento pode achar referências à obra de King aqui e ali, como a cartola que Ethan Hawke usa (como a Rose the Hat em Doutor Sono) ou a capa de chuva amarela (como Georgie em It).

Uma das melhores coisas aqui é a ambientação. Tanto a ambientação de época (o filme se passa no fim dos anos 70) quanto o clima de tensão e desespero vivido pelos personagens – a gente sente a angústia do garoto preso no porão. E gostei dos efeitos dos garotos falando ao telefone. Efeitos simples e eficientes.

O Telefone Preto é uma mistura de “filme de sequestro de criança” com “filme sobrenatural”. Rolam alguns jump scares aqui e ali, mas o forte do filme não é isso, e sim a tensão vivida pelo personagem. E vou te falar que teve um momento onde quase pulei da poltrona!

Ethan Hawke está muito bem, num papel onde ele quase não mostra o rosto. Quase todo o tempo ele está usando máscaras que cobrem partes de seu rosto. E mesmo sem mostrar o rosto, o trabalho de Hawke é impressionante! E as máscaras são outro ponto forte do filme. Assustadoras, foram confeccionadas por ninguém menos que Tom Savini!

Gostei dos garotos. Mason Thames, o principal, aparece sozinho em várias cenas, um papel difícil, mas que ele consegue cativar o espectador – ficaremos de olho nesse rapaz! A menina Madeleine McGraw também está bem, em um papel que poderia facilmente virar a “menininha chata”.

Tenho um comentário sobre o fim, mas antes preciso do aviso de spoilers:

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

O filme tem um final feliz, o garoto é resgatado. Mas, na minha cabeça, acho que um final melhor seria com o garoto saindo da casa e encontrando os outros fantasmas, aí descobriria que estava morto, ao lado deles, e veria o Grabber enterrando o seu corpo.
Mas, é o meu head canon. O fim de O Telefone Preto não é ruim.

Nem tudo é perfeito, achei que o vilão poderia ser melhor desenvolvido. E, quando a gente vê que o filme foi produzido pela Blumhouse, a gente logo pensa em uma possível nova franquia. Será que veremos novamente o “The Grabber”?

O Homem do Norte

Crítica – O Homem do Norte

sinopse (imdb): Depois de testemunhar o assassinato do pai pelas mãos do seu tio Fjölnir, e ver sua mãe e reino tomados pelo assassino, o jovem Príncipe Amleth foge para retornar anos depois, já adulto, determinado a fazer justiça.

Estreou o aguardado épico viking O Homem do Norte (The Northman, no original), novo filme de Robert Eggers.

Como falo sempre, a gente deve seguir o nome do diretor. Este é o terceiro filme dirigido por Eggers, e heu tenho opiniões opostas com relação aos outros dois. Gosto muito de A Bruxa, mas acho O Farol muito ruim. Então, rolava uma expectativa, mas ao mesmo tempo rolava um pé atrás.

A boa notícia é que gostei muito de O Homem do Norte. Gostei mais até do que A Bruxa. Empolgante, violento e muito bem filmado.

O Homem do Norte é o filme mais palatável de Eggers. Sim, tem partes contemplativas e algumas sequências cabeça, mas bem menos que os anteriores. A Bruxa era um terror cabeça, muita gente saiu do cinema com raiva do filme pelos seus momentos “tênis verde”. E O Farol era ainda mais hermético, tipo, “não gostou do meu filme porque é cabeça, vou fazer um ainda mais cabeça”. O Homem do Norte tem seus momentos “tênis verde”, claro, mas por outro lado traz uma clássica história de vingança, num ritmo alucinante, e com muito muito sangue. O cara que for ao multiplex no shopping pode até comentar sobre alguns momentos onde não dá pra entender nada, mas vai curtir a jornada de sangue e violência do protagonista Amleth.

Falei violento? O Homem do Norte é MUITO violento, e tem algumas sequências muito boas. Tem uma (que me pareceu ser um plano sequência) onde um grupo de vikings ataca uma vila e faz um massacre violentíssimo – aliás, é desta sequência que tiraram a imagem do pôster. Vou além: algumas mortes são tão gráficas que vão agradar os fãs de gore.

O visual do filme é um espetáculo. Não li sobre os bastidores, não sei se foi tudo filmado em locações ou se teve algo em estúdio, mas o resultado ficou excelente, vários planos abertos onde dá pra pausar e colocar num quadro. A trilha sonora, que usa muitos sons de instrumentos antigos, também é muito boa.

Queria fazer dois comentários sobre o elenco. O primeiro é sobre o protagonista Alexander Skarsgård. Sou fã do cara desde a época de True Blood. Ele foi o Tarzan, mas flopou. Ele estava num filme do King Kong mas ninguém lembra. Ele aqui está sensacional, ele tem porte físico coerente com o que o personagem pede, e mostra a fúria necessária para o filme. Torço muito por ele, tomara que a partir deste filme sua carreira decole.

O outro comentário não é tão elogioso. Por opção, o filme é falado em inglês, com um sotaque que ficou muito forçado. Grandes atores (Nicole Kidman, Ethan Hawke, Anya Taylor-Joy, Willem Dafoe) , grandes atuações, atrapalhadas por um sotaque artificial.

Segundo o imdb, O Homem do Norte é o filme viking mais correto feito até hoje, historicamente falando. Eggers, junto com historiadores, fez uma pesquisa minuciosa para ter cenários, figurinos e props o mais próximos o possível da realidade.

Filmão!

O Culpado

Crítica – O Culpado

Sinopse (imdb): Um policial rebaixado designado para o escritório de chamadas fica em conflito quando recebe uma ligação telefônica de emergência de uma mulher sequestrada.

Filme novo da Netflix, O Culpado (The Guilty, no original) é uma daquelas produções diminutas, baseadas em um ator e um ou dois cenários – tipo Oxigênio, outro filme Netflix que falei aqui outro dia.

Filmes assim precisam se apoiar em algumas coisas, como um bom roteiro (precisa manter o espectador interessado mostrando o mesmo personagem e o mesmo cenário); uma direção criativa (mais uma vez, pra não cansar o espectador) e um bom ator protagonista.

O Culpado é refilmagem do dinamarquês Culpa, de 2018, que chegou a ser pré selecionado ao Oscar de melhor filme estrangeiro de 2019 (existe uma lista maior antes de divulgarem os cinco candidatos ao prêmio). Não vi o original, não sei o quanto a história se parece. O roteiro desta refilmagem é eficiente ao segurar a atenção do espectador por quase uma hora e meia, guardando alguns segredos sobre o protagonista e um plot twist meio previsível no terço final.

A direção é de Antoine Fuqua, que já fez bons filme em grandes produções, como Dia de Treinamento, O Protetor e Sete Homens e um Destino – mas também nos trouxe o fraco Infinite, lançado este ano. Com poucas opções de cenários, Fuqua procura ângulos diferentes e incomuns pro espectador se aproximar do protagonista e não se cansar.

O grande trunfo de O Culpado é Jake Gyllenhal, que também aparece como produtor. Ele está muito bem, seu personagem tem um dilema moral que só é revelado no fim do filme, e ele fica obcecado tentando resolver o problema do sequestro que guia o filme inteiro.

Alguns coadjuvantes aparecem aqui e ali, mas o filme é quase todo com Jake Gyllenhal aparece em tela, falando ao telefone. E ter um grande diretor e um grande ator ajuda no elenco de apoio. Ethan Hawke, Riley Keough, Peter Sarsgaard e Paul Dano fazem algumas das vozes ao telefone com Gyllenhal.

Não gostei muito do fim do filme, o plot twist já era esperado, e achei que depois de tudo revelado, o filme ainda se estica alguns minutos desnecessariamente. Mesmo assim, achei um resultado positivo.

Um Dia Para Viver

Um dia para viverUm Dia Para Viver

Sinopse (filmeb): Um assassino tem 24 horas para realizar uma missão e se redimir quando ganha uma segunda chance de seu empregador que o traz de volta à vida temporariamente, logo após ter sido morto no trabalho.

Dá pra desconfiar da divulgação de certos filmes. O cartaz de Um Dia Para Viver (24 Hours to Live, no original) fala “dos mesmos produtores de John Wick“. E quem são esses produtores? Isso é garantia de algo?

A direção é do cara de sobrenome impronunciável Brian Smrz. Fui ver o imdb do cara, taí mais uma semelhança com John Wick: Smrz também tem background como dublê. Infelizmente o resultado ficou bem abaixo dos filmes dos colegas ex dublês David Leitch e Chad Stahelski (John Wick, Atômica, Deadpool 2). Um Dia Para Viver é apenas um filme de ação genérico e esquecível. Bem, se podemos dizer uma coisa boa é que temos algumas sequências de ação bem filmadas, pelo menos isso.

Tudo é meio vagabundo, partindo da premissa básica de se trazer uma pessoa de volta à vida só para fazer uma pergunta – e deixar o cara escapar da maneira mais besta possível. E, na boa, ele nunca teria um relógio com contagem regressiva implantado no braço. E, na boa de novo, nenhum procedimento médico conseguiria a precisão de exatas vinte e quatro horas. Posso continuar com mais alguns “e na boa”, mas não precisa, né?

Assim, Um Dia Para Viver segue. Clichê atrás de clichê, tudo muito previsível. Ethan Hawke é um cara maneiro, mas não tem como salvar um filme desses. E Rutger Hauer aparece pouco, não vale ver o filme só por ele.

Resumindo, um filme genérico. Vai distrair apenas quem não for exigente.

Valerian e a Cidade dos Mil Planetas

ValerianCrítica – Valerian e a Cidade dos Mil Planetas

Uma força misteriosa ameaça Alpha, uma vasta metrópole espacial, lar de espécies de mil planetas. Os militares Valerian e Laureline devem correr para identificar a ameaça e salvar não apenas Alpha, mas o futuro do universo.

Sabe O Quinto Elemento? Luc Besson apresentando uma saga espacial com uma boa história, bons personagens e um visual alucinante? Poizé. Besson aqui acertou no visual alucinante. Só.

Valerian e a Cidade dos Mil Planetas (Valerian and the City of a Thousand Planets, no original) é a adaptação dos quadrinhos franceses “Valerian e Laureline”, da década de 60 – diz a lenda que um tal Guerra nas Estrelas usou esta HQ como inspiração. Nunca li os quadrinhos, meus comentários serão só pelo filme em si.

Antes de tudo, preciso falar que sou fã do Luc Besson, desde os anos 80, quando vi Nikita no Estação Botafogo, e minha cabeça explodiu – um bom filme de ação pode ser em outra língua diferente do inglês! Desde aquela época, acompanho tudo o que Besson faz: Subway, Imensidão Azul, O Profissional, O Quinto Elemento, o fraco Joana D’Arc

Boa parte das pessoas não acompanhou sua carreira de diretor depois de Joana D’Arc, quando ele escreveu roteiros pra vários filmes de ação (Carga Explosiva, B13, Busca Implacável, Dupla Implacável…). Mas heu vi tudo. Vi o esquisito Angel-A (2010) no cinema e tenho o dvd (autografado pela atriz principal, Rie Rasmussen). Vi a divertida trilogia Arthur e os Minimoys (06, 09, 10). Vi a boa aventura As Múmias do Faraó (10); o drama Além da Liberdade; a comédia fraquinha A Família (13). E, claro, Lucy (14), a volta do diretor ao cinema de ação / ficção científica.

Claro que a expectativa era alta. Principalmente porque vi o trailer, e já sabia que teríamos mais uma vez imagens de encher os olhos, num visual que lembrava O Quinto Elemento!

Mas assim como Lucy é inferior a Niklita e O Profissional, Valerian não é O Quinto Elemento. Não adianta um visual elaborado se o roteiro (também escrito por Besson) é fraco. O roteiro de Valerian não tem fluidez. A história é previsível, e mesmo assim explicada demais (tem até um “momento Scooby Doo”, quando os mocinhos revelam o plano do vilão). E algumas partes são inúteis à trama – por exemplo, se você tirar toda a participação da Rihanna e do Ethan Hawke, o filme não perde nada.

O que se salva é o visual do filme. Desde as cenas iniciais, quando somos apresentados ao conceito de Alpha, a “cidade dos mil planetas”, passando por todos os mundos e espécies alienígenas. Aliás, gostei tanto de Alpha, que veria uma série inteira baseada nos seus mundos e submundos.

Alguns comentários sobre o elenco. Dane DeHaan nem é um ator ruim, mas o seu personagem é um galã conquistador. Na boa, DeHaan não tem o physique du rôle pra um papel assim! E, pra piorar, ele não tem o carisma necessário ao personagem. Cara Delevigne não está tão mal quanto em Esquadrão Suicida, mas ainda não dá pra elogiá-la como atriz. Mas o ponto é que ninguém vai se importar com os personagens principais.

(Isso porque não estou falando da atual tendência de personagens femininas fortes. Laureline combina bem com o estilo “donzela em perigo”, que era frequente no cinema décadas atrás…)

Ainda no elenco, além dos já citados Rihanna e Hawke, temos Clive Owen, Herbie Hancock, a voz de John Goodman, e uma participação rápida de Rutger Hauer no início do filme.

No fim, depois de mais de duas horas de história vazia, fica a sensação de que valeria mais a pena ter revisto O Quinto Elemento. Ei, seu Luc, ainda tô aguardando a sua volta, hein?

Sete Homens e um Destino

Sete Homens e um DestinoCrítica – Sete Homens e um Destino

No velho oeste, sete pistoleiros se juntam para defender uma vila ameaçada por um cruel milionário, interessado nas terras.

Na verdade, esta é uma refilmagem de uma refilmagem (um inception de refilmagens?). O Sete Homens e um Destino de 1960 é uma refilmagem de Os Sete Samurais, dirigido por Akira Kurosawa em 1954. Nunca vi o original japonês, mas início do ano, vi a versão americana, como preparação para um podcast sobre filmes de faroeste. Na verdade, existem outras releituras, incluindo uma série de tv (há quem diga que Vida de Inseto seria mais uma versão). Agora chegou a vez de mais uma super produção. Vamos a ela?

Sete Homens e um Destino realmente pedia uma refilmagem. Pela época que foi feito, tudo era muito limpo, todos os moradores da cidade usavam roupas brancas para mostrar que eram puros e inocentes. Isso funcionava na década de 60, mas hoje ficou datado demais.

A direção ficou com Antoine Fuqua, que já tinha trabalhado com Denzel Washington e Ethan Hawke em Dia de Treinamento (filme que deu um Oscar para Denzel e uma indicação para Ethan). Fuqua faz um bom trabalho, apresentando um faroeste à moda antiga – diferente do outro grande faroeste do ano, Oito Odiados, que é mais Tarantino do que western. Sete Homens e um Destino é um épico, com uma belíssima fotografia, uma trilha sonora marcante e um monte de clichês do cinema bangue-bangue – da clássica cena no saloon quando um forasteiro chega, a revólveres rodopiando antes de voltarem pro coldre.

Um dos pontos fortes deste Sete Homens e um Destino está no roteiro, que consegue um bom equilíbrio entre os 8 personagens – os 7 mais a “mocinha”. Claro, temos os protagonistas interpretados por Denzel Washington e Chris Pratt, mas todos os outros têm seu espaço e sua importância, ninguém está sobrando. Ethan Hawke (Gattaca), Vincent D’Onofrio (Demolidor), Byung-hun Lee (GI Joe), Manuel Garcia-Rulfo e Martin Sensmeier completam o time; além deles, temos Haley Bennett (Hardcore Henry) e Peter Sarsgaard (A Órfã).

Sobre o elenco, gostei muito do personagem de Pratt, que faz uma versão cowboy do seu Starlord, uma espécie de galã malandro e engraçadinho, cheio de frases de efeito. Ethan Hawke também está muito bem com o seu veterano traumatizado. Mas se alguém merece destaque, é Vincent D’Onofrio, muito diferente do seu recente Rei do Crime na série Demolidor. Até a voz do cara é outra!

Ainda sobre o elenco, é interessante notar uma diversidade muito maior, mais condizente com os dias de hoje. Dos sete, apenas três são brancos – o grupo tem um negro, um índio, um mexicano e um oriental. A protagonista feminina também está atual: uma mulher forte e determinada, como a gente tem visto no cinema contemporâneo.

Sobre a trilha sonora: nem todos sabem, mas o tema do filme de 60 é um dos mais marcantes entre todos os faroestes – foi também usado na propaganda do cigarro Marlboro. Aqui o tema clássico só aparece quando o filme acaba, mas temos citações a ele durante toda a projeção. Claro, a trilha nova não vai substituir a clássica, mas serve como um bom complemento.

Agora, a inevitável comparação. Uma coisa me incomodava muito no primeiro filme: certo momento do filme os sete mocinhos são rendidos e o vilão devolve suas armas e os manda embora, porque aquela luta não é deles. Mas eles voltam e atacam novamente, e então triunfam. Ou seja, sob certo ponto de vista, o vilão foi digno e os mocinhos, traidores. Isso não acontece no filme novo!

Por outro lado, no filme original fica mais clara a motivação dos sete para ajudar a vila a se defender. Eles tinham pouco dinheiro, mas ofereceram tudo o que tinham. O personagem de Yul Brynner comenta: “já me pagaram muito, mas é a primeira vez que oferecem tudo“. Está frase é repetida agora por Denzel Washington, mas, fora de contexto. Quem não viu o filme original não deve ter entendido por que os sete entraram nessa furada…

Enfim, filmão. Pra ser visto no cinema, na tela grande!

O Predestinado

O PredestinadoCrítica – O Predestinado

Sabe aquele filme bom, mas que ninguém conhece porque foi mal lançado?

Um agente temporal encara sua última missão após anos de viagens no tempo. Ele deve capturar um homem que há muito o ludibria através do tempo.

É bom não explicar muita coisa sobre o que acontece em O Predestinado  (Predestination, no original). A trama é cheia de reviravoltas bem boladas, a gente passa os dias seguintes depois de ver o filme pensando nos detalhes. E teve um momento mind blowing onde quase soltei um palavrão de tão estupefato que fiquei!

O filme foi escrito e dirigido pelos irmãos australianos Michael e Peter Spierig, os mesmos de Canibais / Undead e 2019 – O Ano da Extinção. Se o segundo já é pouco conhecido, o primeiro é um daqueles que ninguém viu. Ambos são filmes divertidos, mas nada demais. O Predestinado é de longe o melhor filme da dupla.

O ponto forte de O Predestinado é o roteiro, baseado no conto All You Zombies, de Robert A. Heinlen (o mesmo de Tropas Estelares). O roteiro é cheio de idas e vindas, e não deixa nenhuma ponta solta. Além disso, o filme tem outras qualidades. A ambientação é perfeita, a trama pula por épocas diferentes, e toda a cenografia foi bem cuidada.

No elenco, o nome mais famoso é Ethan Hawke. Mas o destaque sem dúvida é Sarah Snook – se, em vez de um filme alternativo australiano, O Predestinado fosse uma grande produção norte-americana, acredito que Sarah fosse indicada para prêmios importantes. Ainda no elenco, Noah Taylor.

Infelizmente, O Predestinado não passou nos cinemas, e teve lançamento discreto em dvd, ou seja, muita gente nem ouviu falar. Mas, fica a dica para quem quer uma história bem contada!

Boyhood – Da Infância à Juventude

boyhoodCrítica – Boyhood – Da Infância à Juventude

Que tal um filme cujas filmagens demoraram 12 anos?

Boyhood é simples: conta a história de Mason, desde os 5 anos até os 18 anos de idade.

Boyhood – Da Infância à Juventude vai entrar pra história, acho difícil outro diretor repetir tal feito: foram apenas 45 dias de filmagem, mas espalhados ao longo de 12 anos – 3 ou 4 dias por ano! Nunca antes na história do cinema acompanhamos o desenvolvimento de um personagem de maneira tão perfeita!

Claro, existe todo um marketing em torno disso – “o filme que demorou 12 anos para ser completado”. Mas, se não fosse o talento de Richard Linklater (Escola de Rock), Boyhood não chamaria a atenção. Seria apenas um filme experimental, que poucos cinéfilos iam conhecer. Nada disso, Linklater nos apresenta um dos melhores filmes do ano.

Na verdade, não há muita história a ser contada. Linklater sabe fazer filmes simples, baseados em pessoas e em diálogos – vide a trilogia Antes do Amanhecer, Antes do Por do Sol e Antes da Meia Noite, onde apenas acompanhamos Ethan Hawke e Julie Delpy, muitas vezes em diálogos improvisados na hora.

Linklater, também autor do roteiro, deve ter usado um esquema parecido aqui. Não vemos grandes eventos da vida de Mason, e sim situações do cotidiano. Pontuando aqui e ali, temos músicas de cada época e citações à cultura pop, como Harry Potter e Lady Gaga. Simples, não? E apenas isso, filmado com talento, ficou ótimo!

Claro, o filme não é perfeito. São quase três horas, e não precisava de tanto…

Sobre o elenco, Richard Linklater deu sorte com o ator Ellar Coltrane, o protagonista, que se revelou um bom ator. Pena que Lorelei Linklater (a filha do diretor) não é tão talentosa, em algumas cenas ela deixa a desejar (inclusive a menina chegou a desistir do projeto lá pelo terceiro ou quarto ano de filmnagem, e pediu para seu pai matar o seu personagem – mas Linklater a convenceu a ficar). Completam a família Patricia Arquette, e, claro, Ethan Hawke (acho que este é a sexta parceria entre o ator e o diretor).

Por fim, um fato curioso. Lá pelo meio do filme, numa cena filmada em 2008, Mason e seu pai conversam sobre um possível Star Wars 7. E eles acertaram: ano que vem teremos o sétimo Star Wars!

p.s.: Com Boyhood, encerro minha participação no Festival do Rio 2014. Por problemas pessoais, vi pouca coisa, apenas 11 filmes… Ano que vem compenso!