Pacto de Redenção

Crítica – Pacto de Redenção

Sinopse (imdb): Quando um assassino profissional descobre que tem uma forma de demência que evolui rapidamente, ele tem a oportunidade de se redimir salvando a vida do filho adulto com quem estava afastado.

Pacto de Redenção (Knox Goes Away, no original) parece um thriller à moda antiga: uma boa história, usando um bom elenco. Sem pirotecnias, apenas uma boa história sendo contada por alguns bons atores.

A direção é de Michael Keaton, seu segundo filme como diretor. Não entendi por que ele resolveu dirigir, mas podemos dizer que ele faz um trabalho correto. O roteiro de Gregory Poirier é bem estruturado. A gente vê as peças soltas do quebra cabeças, mas pelo menos heu não consegui descobrir qual era o plano do cara antes do final, achei muito bem bolada a solução.

Sobre o elenco, o marketing está vendendo Pacto de Redenção como um filme estrelado por Michael Keaton e Al Pacino. Como sempre, Pacino está ótimo, mas aparece em poucas cenas. Seu personagem é importante, mas é daquele tipo de papel que provavelmente o ator fez em uma ou duas diárias. Agora, preciso destacar positivamente a atuação de Keaton e também de James Marsden, que faz seu filho, um cara que cometeu um erro grave e isso está afetando todo o seu comportamento. Ambos estão excelentes. Por outro lado, achei bem fraca a personagem da policial interpretada por Suzy Nakamura. Também no elenco, Joanna Kulig, Lela Loren e Marcia Gay Harden.

Não achei o final ruim, mas heu cortaria alguns minutos. Tem uma sequência final mostrando uma conclusão meio óbvia. Nada grave, felizmente. Por outro lado, gostei de como o filme mostra a progressão da doença do protagonista.

Pacto de Redenção não é um grande filme, não estará em listas de melhores do ano. Mas, em meio à mediocridade que é despejada no circuito, é uma boa opção. Dificilmente alguém sairá decepcionado da sala de cinema.

Os Fantasmas Ainda se Divertem

Crítica – Os Fantasmas Ainda se Divertem

Sinopse (imdb): Após uma tragédia familiar, três gerações da família Deetz voltam para casa em Winter River. Ainda assombrada por Beetlejuice, a vida de Lydia vira de cabeça para baixo quando sua filha adolescente acidentalmente abre o portal pós a morte.

Finalmente uma continuação do clássico oitentista Os Fantasmas se Divertem!

Lançado em 1988, Os Fantasmas se Divertem é um dos mais icônicos filmes da carreira de Tim Burton (diretor que coleciona títulos icônicos). Trinta e seis anos depois vemos a continuação, e a boa notícia é que quase todo o time principal está de volta.

Os Fantasmas se Divertem marcou toda uma geração com seu visual, personagens, figurinos e cenários característicos, além de muito humor negro (afinal, o filme trazia personagens mortos!). E Os Fantasmas Ainda se Divertem (Beetlejuice Beetlejuice, no original) traz tudo isso de volta.

Décadas se passaram, mas Beetlejuice ainda quer sair do mundo dos mortos e se casar com Lydia Deetz (Winona Ryder), que hoje tem um programa de TV ligado ao mundo sobrenatural e tem problemas de relacionamento com a filha.

Preciso dizer que gostei muito dos efeitos especiais. Alguns efeitos usados no filme de 88 são efeitos práticos que ficaram característicos, mas ao mesmo tempo são efeitos datados – com o cgi de hoje em dia ninguém mais usa efeitos como aqueles. Mas aqui em Os Fantasmas Ainda se Divertem há um bom equilíbrio entre os efeitos práticos e o cgi, e o resultado ficou muito bom. Vou além: adorei ver que aquela cobra da areia continua sendo stop motion!

A trilha sonora de Danny Elfman é tão boa quanto a do primeiro filme. Já os momentos musicais, nem tanto. O primeiro filme tem uma cena musical muito famosa, na mesa de jantar com a música Banana Boat Song. Parece que quiseram recriar algo assim, com a cena da igreja e a música MacArthur Park, mas a cena ficou interminavelmente longa. Foi cansativo chegar ao fim.

Alguns comentários sobre o elenco. Em primeiro lugar, todos os elogios possíveis ao Michael Keaton. Ele está ótimo como Beetlejuice, e como o personagem usa muita maquiagem, nem deu pra reparar que tanto tempo se passou (Alec Baldwin e Geena Davis não tinham como voltar porque os fantasmas não envelhecem mas os atores envelheceram). O humor do Beetlejuice é alucinado, e Keaton parece muito confortável no papel. No mundo dos vivos, o filme se divide entre as três gerações, Catherine O’Hara e Winona Ryder voltam aos seus papéis, e Jenna Ortega aparece como a novidade (possivelmente pensando num terceiro filme).

Danny De Vito só aparece em uma cena, uma ponta de luxo. Agora, não sei se gostei de outras duas participações no elenco. Willem Dafoe está bem, como sempre, mas seu papel é meio descartável. E ainda mais descartável é a Monica Bellucci, que parece que ganhou um papel só porque é a atual namorada de Tim Burton. Willem Dafoe e Monica Bellucci não estão mal, mas parecem desperdiçados. Tire os dois personagens e o filme não perde nada.

Ainda sobre o elenco, o personagem de Jeffrey Jones é importante para a trama, mas o ator esteve envolvido com pedofilia em 2003, então o roteiro criou uma solução para ter o personagem, mas não o ator.

Quem gosta do filme original vai curtir essa continuação!

The Flash

Crítica – The Flash

Sinopse (imdb): Barry Allen usa sua supervelocidade para mudar o passado, mas sua tentativa de salvar sua família cria um mundo sem super-heróis, forçando-o a correr por sua vida para salvar o futuro.

É complicado falar de um filme como este The Flash. O filme é divertido, mas não é nada demais. Mas, assim como aconteceu com o filme do Homem Aranha que trouxe os três Aranhas juntos, The Flash ganha pontos pelas referências e easter eggs. E não vou falar dos easter eggs por causa de spoilers!

Na minha humilde opinião, o quanto menos a gente souber sobre um filme, melhor será a experiência de vê-lo. Lembro de dois exemplos que aconteceram mais ou menos na mesma época, as aparições do Homem Aranha em Guerra Civil e da Mulher Maravilha em Batman vs Superman, duas participações que seriam grandes surpresas, mas estavam nos trailers dos respectivos filmes! E aqui acontece o mesmo: temos o Batman do Michael Keaton de volta. Isso seria uma grande surpresa, mas está em toda a divulgação do filme.

Então, o meu limite de spoiler será o trailer. O que aparece no trailer será comentado aqui. O resto, fica a recomendação: fujam de spoilers e vejam no cinema!

A direção é de Andy Muschietti (Mama, It A Coisa), confirmando uma curiosa predileção da DC por diretores que vieram do terror – Aquaman foi dirigido por James Wan (Sobrenatural, Invocação do Mal); Shazam! foi dirigido por David F. Sandberg (Quando as Luzes se Apagam, Annabelle 2). O filme segue o universo de Liga da Justiça (incluindo o Alfred do Jeremy Irons e o Batman do Ben Affleck) – tem até uma cena copiando o estilo do Mercúrio dos filmes do X-Men – até que o Flash volta no tempo e muda a linha temporal.

Sim, é mais um filme de multiverso, o tema está na moda. Está rolando no MCU, no desenho do Aranhaverso, tem até no filme ganhador do último Oscar, Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo. E o multiverso aqui gerou uma cena bem engraçada usando filmes clássicos dos anos 80 com atores trocados.

Dois comentários sobre este multiverso. Um deles é que a gente aqui tem um novo conceito de viagem no tempo. Ate uns anos atrás, todos os filmes se baseavam apenas em dois conceitos: “Exterminador do Futuro” (o passado e imutável, tudo vai acontecer de novo da mesma forma) ou “De Volta Para o Futuro” (suas ações no passado vão modificar o futuro). Vingadores Ultimato trouxe um novo conceito, com a viagem em universos paralelos. Aqui em The Flash, essa viagem em universos paralelos é adaptada para poder usar um Batman mais velho.

O outro comentário é sobre o timing errado. A gente acabou de ver o Aranhaverso 2 (ainda está em cartaz nos cinemas), e aqui tem uma situação quase igual: “alguns acontecimentos da vida do herói precisam acontecer para a sua formação”. Sei que não era pra parecer uma cópia, mas como foi lançado depois, parece plágio.

Agora, como falei, o filme é divertido, mas metade da graça do filme está no “massaveísmo” dos easter eggs. Tipo, é muito legal rever o Michael Keaton como Batman, e a trilha sonora usada nas suas cenas é a trilha clássica do Danny Elfman (trilha muito mais marcante que a do próprio filme). E as cenas com os easter eggs fizeram a plateia urrar de emoção durante a sessão de imprensa. Mas acredito que esse “massaveísmo” não vai durar para quem for ver o filme uma segunda vez.

Tem outro problema que precisa ser citado. O cgi aqui e tão pobre que é difícil de acreditar que estamos vendo uma super produção de milhões de dólares. As cenas da Supergirl lutando parecem ser feitas com tecnologia de Playstation! E algumas das cenas onde vemos dois Barrys ficaram bem artificiais.

(Um comentário bairrista sobre a Supergirl. Quase que tivemos uma brasileira no papel. E essa informação não foi tirada de um site brasileiro de fofocas, está no imdb: “Bruna Marquezine and Isis Valverde. The two actresses were top choices for the role, but the COVID-19 pandemic prevented them from traveling to London.” Pena. Pelo menos Bruna Marquezine conseguiu um papel importante em outro filme da DC, o Besouro Azul.)

Aproveito pra falar do elenco. Ezra Miller em dose dupla talvez esteja um pouco acima do tom, mas acredito que tenha sido proposital – o segundo Barry e irritantemente bobão. Michael Keaton está ótimo, como sempre; Sasha Calle, que faz a Supergirl, tem um papel bem menor. Também no elenco sem spoilers, Maribel Verdú, Kiersey Clemons, e Ron Livingston. O resto não vou comentar. 😉

No fim, fica a sensação de filme divertido mas que só será lembrado pelos easter eggs. E também pelo cgi ruim.

A Profissional / The Protege

Crítica – A Profissional / The Protege

Sinopse (imdb): Resgatada quando criança pelo lendário assassino Moody, Anna é a assassina de aluguel mais hábil do mundo. Mas quando Moody é brutalmente assassinado, ela jura vingança pelo homem que lhe ensinou tudo o que ela sabe.

Falei no texto sobre Gunpowder Milkshake sobre o atual momento de filmes de ação girl power. São vários filmes de ação estrelados por mulheres, coisa que heu gosto muito. Mas… Infelizmente são poucos os bons filmes no meio destes. A Profissional (The Protege, no original) é um desses.

A Profissional é mais um filme genérico. Algumas boas cenas de ação aqui e ali, mas uma história de vingança besta.

A direção é de Martin Campbell, que tem altos e baixos na carreira. Ele é lembrado por dois 007s de gerações diferentes, Goldeneye (1995) e Cassino Royale (2006). Mas, também é lembrado por Lanterna Verde, aquele com o Ryan Reynolds. Ok, The Protege não é tão ruim quanto Lanterna Verde. Mas está bem abaixo dos filmes do James Bond.

O filme tem um plot twist lá perto do terço final que quase me fez desistir. Não foi um bom caminho…

Três comentários sobre o elenco. Maggie Q não atrapalha, mas lhe falta carisma para carregar o protagonismo de um filme assim. Ela não está ruim, mas também não está bem – coerente com o filme. Samuel L. Jackson tem uma carreira gigante, está na Marvel, estava em Star Wars, em vários filmes do Tarantino. Mas, de uns filmes pra cá, parece que ele está no automático, sempre repetindo o mesmo papel. Continuo gostando dele, mas, queria vê-lo fazendo algo diferente. Já Michael Keaton, esse sim, é a melhor coisa do filme. Assim como no Homem Aranha, seu personagem está longe de ser um vilão caricato, e suas cenas com a Maggie Q são a melhor coisa do filme. Ainda no elenco, mais um nome digno de nota é Michael Bien, num papel menor como o líder dos motociclistas.

Enfim, como falei, A Profissional não é ruim. Vai distrair os menos exigentes. Mas ainda estou esperando um novo Atômica

Dumbo (2019)

Crítica – Dumbo (2019)

Sinopse (imdb): Um elefante jovem, cujas orelhas exageradas lhe permitem voar, ajuda a salvar um circo em dificuldades, mas quando o circo planeja um novo empreendimento, Dumbo e seus amigos descobrem segredos obscuros sob sua brilhante fachada.

E continuamos com as versões live action dos clássicos da Disney. Depois de Cinderela, Mogli e A Bela e a Fera, é a hora de Dumbo.

Dumbo (idem no original) foi dirigido por Tim Burton (que já tinha um Disney live action no currículo, Alice). Mas o resultado ficou mais próximo da mais Disney do que do Tim Burton, vemos pouco do tradicional estilo dark do diretor.

Comecemos pelos pontos fracos. O conceito inicial de Dumbo não funciona mais nos dias de hoje. Dumbo é “feio”, e era pra ser ridicularizado por isso. Mas, na boa, hoje em dia quem acharia feio um filhote de elefante? “Ah, mas ele tem orelhas grandes!” Ora, é um FILHOTE DE ELEFANTE!!! Duvido que exista algum cinema no Brasil onde a plateia não faça um “ohhh…” quando aparecer o Dumbo a primeira vez.

Mas aceito esse lance do Dumbo ser “feio” porque isso está na premissa básica do desenho original. Agora, o filme segue com inconsistências. Cito um exemplo: na primeira noite no grande circo, Dumbo voa por cima da plateia, e depois foge. Por que a plateia reclamou? Pagaram pra ver um elefante voando, o elefante voou. Se o dono do circo queria mais, isso é um problema interno, a plateia nunca ficaria sabendo.

Dumbo segue acumulando essas inconsistências, principalmente na parte final – detestei o ataque caricato do vilão na torre. Some a isso o fato que o Dumbo é um coadjuvante no seu próprio filme, o foco principal é a família.

Por outro lado, o cgi do elefante é impressionante. Chegamos a um estágio onde a animação é tão perfeita que se colocarem um animal real ao lado do cgi a gente não vai saber qual é qual. Além disso, Dumbo é um filme para crianças, e estas não vão reparar nas inconsistências citadas acima.

O elenco está ok. Colin Farrell, Eva Green, Michael Keaton, Danny DeVito e Alan Arker, nenhum destaque positivo, nenhum destaque negativo.

Agora aguardemos Aladdin e Rei Leão

Jackie Brown

Crítica – Jackie Brown

Sinopse (imdb): Uma mulher de meia-idade encontra-se no meio de um enorme conflito que vai lhe dar lucro ou custar sua vida.

Há tempos queria rever e comentar este terceiro filme do Tarantino, tão mal falado na época do lançamento. Vamulá.

Vamos ver o contexto histórico. Quentin Tarantino surgiu para o cinema em 1992, com Cães de Aluguel. Antes de Pulp Fiction, de 94, ele vendera dois roteiros, Amor À Queima RoupaAssassinos por Natureza. E ainda teve o curta de Grande Hotel, de 95, e Um Drink no Inferno, de 96, onde ele escreveu o roteiro e atuou.

Agora, em 97, era anunciado “o terceiro longa dirigido por Quentin Tarantino”. E foi uma grande decepção na época.

Olhando os filmes anteriores, a gente consegue entender facilmente parte da decepção. Pela primeira vez (e até hoje, acho que única) adaptando um material já existente (o livro Rum Punch, de Elmore Leonard), Jackie Brown (idem, no original) tem muito menos violência gráfica que os outros. São poucas mortes e muito pouco sangue. Boa parte do público devia estar esperando mais um banho de sangue, e Tarantino resolveu fazer do jeito dele.

(Tarantino já fez isso várias vezes em sua carreira: faz o espectador acreditar que está indo para uma direção, enquanto ruma seu filme para outra. Kill Bill 1 termina com violência exagerada e muito sangue, enquanto a grande luta final do 2 é rápida e sem sangue; ou toda a participação de Channing Tatum em Oito Odiados.)

Mas, revendo Jackie Brown, inserido no contexto de quase três décadas de filmes, Jackie Brown está longe de ser ruim. Assim como fez em filmes posteriores, aqui ele homenageia uma parte do “lado B” da história do cinema, o Blaxploitation. Os personagens são interessantes (como sempre), os diálogos são ótimos (como sempre), a trilha sonora é mais uma vez um espetáculo à parte (como sempre). E Taratino mostra pleno domínio de câmera e narrativa cinematográfica – a parte final, com o plano sendo posto em prática, com as linhas temporais embaralhadas, é genial. Agora, concordo que a primeira hora e meia do filme é arrastada (são duas horas e trinta e seis minutos de projeção).

A nota curiosa sobre o elenco é que se dizia à época que a carreira de Robert Foster ganharia um gás (como aconteceu com John Travolta no Pulp Fiction). Bem, ele concorreu ao Oscar de melhor ator por este filme e… sumiu de novo. O mesmo podemos dizer sobre a protagonista Pam Grier, “sobrevivente” de filmes de blaxploitation nos anos 70, que nem ganhou a indicação ao Oscar, mas também sumiu. O resto do elenco tem um monte de bons atores em bons papeis: Samuel L. Jackson, Bridget Fonda, Michael Keaton, Robert De Niro e Chris Tucker.

Se vale rever? Claro. Tarantino é Tarantino, sempre vale rever.

Homem-Aranha: De Volta ao Lar

Homem AranhaCrítica – Homem-Aranha: De Volta ao Lar

Depois de dois breves prólogos onde outros filmes do MCU são citados, acompanhamos o dia a dia monótono de Peter Parker, que, apesar de ter super poderes, sofre problemas comuns a todo adolescente: dificuldade de adaptação, bullying, paixão platônica – e, pra piorar, não pode contar pra ninguém quem ele é.

O Homem Aranha é, talvez, o herói mais popular da Marvel – não à toa, teve uma adaptação para o cinema numa época onde filmes de super heróis ainda não eram comuns. Mas o personagem ainda estava preso à Sony por questões contratuais, por isso ele ainda não tinha entrado no MCU (Universo Cinematográfico da Marvel). Ainda…

Não sei os detalhes do acordo para a realização deste Homem-Aranha: De Volta ao Lar (Spider-Man: Homecoming, no original), mas os fãs agradecem. Depois de um reboot chocho (2012 e 14), temos um bom filme do Aranha, e, melhor ainda, inserido no MCU.

Como acontece frequentemente nos blockbusters atuais, o diretor é um nome desconhecido: Jon Watts, que antes não fez nada relevante. A falta de experiência não atrapalhou, e ele fez um bom trabalho. Ah, não sei se foi ideia dele, mas temos algumas referências a um quase xará, o John Hughes. Inclusive passa um trecho de Curtindo A Vida Adoidado. E a personagem Michelle lembra a Ally Sheedy de Clube dos Cinco.

Uma coisa que funcionou muito bem neste novo Homem Aranha é a redução da idade do protagonista (o personagem nos quadrinhos ainda é adolescente). Apesar de já ter 21 anos, Tom Holland* tem cara de garoto, e passa bem a intenção de um moleque deslumbrado com o que está acontecendo (Tobey Maguire tinha 27 quando fez o seu primeiro Aranha; Andrew Garfield, 29). Ah, Holland é inglês, mas trabalhou bem o sotaque, em nenhum momento ele parece estrangeiro.

(* Acho que sou o único incomodado com isso, mas preciso falar. Já temos um Tom Holland na história recente do cinema contemporâneo. Tom Holland é o diretor de A Hora do EspantoBrinquedo Assassino!)

Outro ponto positivo é o vilão. Por um lado, temos um personagem com boas motivações – diferente de vilões “que querem conquistar o mundo”, este é um homem de negócios que viu uma boa oportunidade. Por outro lado, temos um bom ator – Michael Keaton está excelente!

Mais uma coisa: o filme é independente dos outros do MCU, mas algumas cenas fazem conexões diretas. Ver a luta do aeroporto de Guerra Civil por outro ângulo foi muito legal.

O roteiro escrito por muitas mãos foi inteligente ao limitar as participações de Robert Downey Jr – é um filme do Homem Aranha, e não do Homem de Ferro! Jon Favreau e Marisa Tomei voltam aos papéis de Happy Hogan e Tia May, e o filme ainda conta com os jovens Zendaya, Jacob Batalon, Laura Harrier e Tony Revolori. Além disso, temos duas participações pontuais de outros personagens, mas não vou dizer quem por causa dos spoilers (apesar de uma delas ser um dos principais nomes do elenco no imdb).

Por fim, são duas cenas pós créditos. Tenha paciência e espere até o fim!

Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)

birdmanCrítica – Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)

Outro dia falei de como o cgi mudou o plano sequência. E agora estreia talvez o exemplo mais impressionante (até agora) da história do plano sequência no cinema: Birdman!

Um ator que fez sucesso interpretando um super herói caiu no esquecimento quando se recusou a estrelar o quarto filme com o personagem. Em busca da fama perdida e do reconhecimento, ele decide roteirizar, dirigir e estrelar uma adaptação de um texto consagrado para a Broadway.

O diretor Alejandro González Iñárritu conseguiu um resultado impressionante com o seu plano sequência megalomaníaco que mostra os bastidores de uma peça teatral, num interessante exercício de metalinguagem. Birdman tem quase duas horas (119 min) e é basicamente um único plano sequência – no fim do filme, temos alguns planos curtos, e logo depois volta o plano sequência. Mas o filme não é um plano sequência convencional, existem passagens temporais (mesmo sem cortes visíveis na imagem) – o filme todo se passa ao longo de três dias.

Aliado a este impressionante exercício técnico, temos um ótimo elenco, com atores inspirados. Michael Keaton está impressionante e é candidato fortíssimo ao Oscar de melhor ator mês que vem. Talvez ele estivesse inspirado pelo “fantasma do Batman” – durante o filme inteiro, o protagonista dialoga com o seu alter ego. Edward Norton e Naomi Watts também estão excelentes, mas isso não é surpresa, todos sabem que são grandes atores; quem surpreende é Zach Galifianakis, num papel diferente do “gordo bobão” de sempre. Ainda no elenco, Emma Stone, Andrea Riseborough e Amy Ryan.

A trilha sonora também merece destaque. Quase todo o filme é sublinhado por uma nervosa trilha percussiva – praticamente só se ouve bateria. Detalhe: por duas vezes vemos o baterista ao fundo da cena quando a câmera passa (outro genial exemplo de metalinguagem). E a fotografia ficou a cargo de Emmanuel Lubezki, que ganhou o Oscar ano passado por Gravidade (coincidência ou não, dois filmes dirigidos por mexicanos) . Por fim, os efeitos especiais: não só o cgi ajudou na edição do plano sequência de “cortes invisíveis”, como ainda está presente em detalhes fundamentais da trama, ilustrando o conflito interno do protagonista com o seu alter-ego (e, em uma cena em particular, pra parecer que estamos realmente vendo um filme de super-heróis).

Sobre o gênero, é difícil classificar Birdman. Não é exatamente uma comédia, mas alguns trechos são muito engraçados – a sequência onde Rigman passeia pela Times Square porque ficou preso fora do teatro é hilária! Mas quem for ao cinema esperando uma comédia pode se decepcionar.

Birdman está concorrendo a 9 Oscars: filme, direção, roteiro original, ator (Michael Keaton), ator coadjuvante (Edward Norton), atriz coadjuvante (Emma Stone), fotografia, som e edição de som. Não será surpresa se for o grande vencedor da noite no próximo dia 22.

Por fim: o subtítulo nacional é horrível, mas não é culpa dos tradutores. O nome original é “Birdman: or (The Unexpected Virtue of Ignorance)”.

Need For Speed – O Filme

0-Need-for-Speed–O-FilmeCrítica – Need For Speed – O Filme

Estreou o esperado filme baseado no videogame Need For Speed. Mas… em vez de uma crítica convencional, vamos experimentar um formato diferente hoje?

Dez coisas que aprendi vendo Need For Speed:

1- Três carros esporte raros e diferentes fazem um pega por uma estrada cheia de carros comuns, causando inclusive alguns acidentes. Mas se você levar um dos três embora depois do pega, todos vão achar que eram só dois. Não existe nenhuma câmera pela estrada, e nenhuma testemunha verá que são três carros.

2- Quando quiser dar voltas em uma praça com um carro de polícia te seguindo, pode ficar tranquilo que ele não vai chamar reforços.

3- Ande na contramão em alta velocidade e faça manobras arriscadas mesmo que você esteja num carro que vale 3 milhões de dólares.

4- Você pode ter um carro super rápido e fazer manobras arriscadas para ir mais depressa. Ou então, use o trajeto do caminhão que faz o suporte, já que ele está sempre por perto.

5- Mesmo quando não precisar, reabasteça o carro com este em alta velocidade. Você vai arriscar vidas, mas economizar alguns minutos. Só não sei pra que.

6- Você pode estar dirigindo um carro que chega a 370 km/h. Mas se caçadores de recompensas estiverem te seguindo em uma picape e um jipe, vão te alcançar.

7- Tenha amigos bons de lábia. Um deles pode pegar emprestado um helicóptero da tv e outro do exército, se precisar.

8- Você pode dirigir um carro sem vidro traseiro e sem uma das lanternas. Nenhum policial vai te parar.

9- Se colocam uma recompensa pelo seu carro, pode ficar tranquilo depois que se safar da primeira tentativa. Não existe nenhum outro caçador de recompensas.

10- Se você estiver sendo seguido por carros de polícia e um helicóptero, é só deixar os carros para trás, o helicóptero acompanhará os carros e deixará de te seguir.

Se você conseguir desligar todos esses problemas, e também não se incomodar com uma trama previsível e cheia de clichês, nem com um elenco fraaaco, e ainda aguentar mais de duas horas de filme, pode até se divertir. Pelo menos o filme tem algumas boas sequências de corridas de carro, e, para os fãs, ainda tem algumas cenas iguais ao jogo. Aliás, o Aaron Paul disse numa entrevista que não foi usado cgi no filme, legal isso.

Mas não rola. Paul Walker pode descansar tranquilo, Aaron Paul não é uma ameaça ao seu Velozes e Furiosos.

Robocop 2014

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Crítica – Robocop 2014

O Robocop do José Padilha!

Detroit, 2028. Alex Murphy, pai, marido e bom policial, é ferido gravemente num acidente. O conglomerado multinacional OmniCorp, que fabrica policiais robôs, vê a chance de criar um policial meio homem meio máquina.

Admito que tinha sentimentos dúbios antes de ver o novo Robocop. Por um lado, torço muito pela carreira internacional do José Padilha. O cara é bom, merece fazer sucesso e ter reconhecimento mundial. Por outro lado, o Robocop de 1987 é muito bom até hoje e não pedia uma refilmagem.

Bem, a comparação com o original é inevitável. Mas não vou me aprofundar na comparação, outro artigo do abacaxi vai focar nisso. Posso dizer que o filme de 2014 é muito bom, mas infelizmente perde na comparação com o original de 87. Se este é mais sério e mais político, aquele era mais cínico e mais sarcástico, e, principalmente, muito mais violento.

Não sei quem são os donos dos direitos do Robocop, não sei quem escolhe o diretor. Mas achei curioso pegarem dois diretores estrangeiros para as duas versões do filme. Em 1987, era Paul Verhoeven, que tinha uma boa carreira na sua Holanda natal, mas só uma co-produção americana, Conquista Sangrenta. Agora é a vez do “nosso” José Padilha, que conquistou reconhecimento internacional com os dois Tropa de Elite.

Em entrevista concedida aqui no Rio, Padilha falou que já tinha feito documentários produzidos nos EUA, e que por isso esta sua “estreia” não foi traumática como acontece com outros brasileiros em Hollywood. Padilha estava com tanta moral que convenceu o estúdio a levar o fotógrafo Lula Carvalho, o montador Daniel Rezende e o músico Pedro Bromfman, seus colaboradores habituais (os três estavam nos dois Tropa). Padilha declarou, brincando: “galera, é um filme brasileiro!”

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Joel KInnaman, José Padilha e Michael Keaton logo antes da coletiva, no Rio de Janeiro

Não sabemos o quanto o estúdio palpitou na parte criativa de Padilha – segundo o imdb, a cada dez ideias de Padilha, o estúdio recusava nove. Mas pelo menos o resultado final parece “um filme do mesmo diretor de Tropa de Elite“. O novo Robocop tem muito de Tropa de Elite – determinada cena quase que dá pra ver o Robocop gritando para um bandido “TU É MOLEQUE! PEDE PRA SAIR!”. E a cena onde o Robocop descobre quem são os policiais corruptos é a cara do Capitão Nascimento. Afinal, são dois policiais incorruptíveis vestindo preto…

(Me lembrei da cena final de Tropa 2, que mostra Brasília. Um Robocop solto no Congresso ia deixar o lugar vazio…)

O roteiro escrito por Joshua Zetumer foi inteligente em adaptar a história sem copiar cena a cena. Algumas soluções diferentes do outro filme ficaram bem legais. Mas em outros momentos o roteiro ficou mais fraco. Por exemplo, a trajetória do vilão Clarence J. Boddicker do original foi muito mais bem resolvida do que a do seu correspondente Antoine Vallon, da refilmagem.

Os efeitos especiais estão na dose certa. O próprio Robocop teve a cintura reduzida por CGI para parecer mais robô do que gente. E os robôs ED 209 e EM 208 (que parecem cylons!) também são bem “reais”.

A trilha sonora tem alguns momentos geniais. Pra começar, o tema do filme original, de Basil Poledouris, está presente em alguns momentos, como uma homenagem. Durante o primeiro teste do Robocop, colocam, só de provocação, If I Only Had A Heart, tema do Homem de Lata de O Mágico de Oz. E a improvável Hocus Pocus, do grupo progressivo holandês Focus, aparece em outro momento, sublinhando perfeitamente uma sequência de tiroteios.

No elenco, o papel principal ficou com o pouco conhecido Joel Kinnaman (da série The Killing), talvez por ser um nome mais barato para possíveis continuações. Já para os papeis secundários, temos vários nomes conhecidos, como Michael Keaton, Gary Oldman, Samuel L. Jackson e Jackie Earle Haley. Ainda no elenco, Abbie Cornish, Jennifer Ehle, Jay Baruchel e Marianne Jean-Baptiste. Pena, não vi nenhum ator brasileiro…

Enfim, esqueçam o original e pensem neste filme como um Tropa de Elite 3 – Capitão Nascimento versão robô!

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Heu e o Michael Keaton!